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Caracteristicas das Aguas Naturais [..] Come os ios ndo dormem. Oro ndo quer re nenhuma part, ele ‘quer &chegar a ser mai grosso, mais fund. [..] Rebebe o encharcar os brejos, verde a verde, veredes, marimbts, @ sombre separado dos buritizais, el. Recolhe e semele arlas. Gulmardes Rosa ~ Grande Serté: Veredas (1956) ‘série de processos que ocorrem no corpo hidrico e na bacia hidrogrfica, como consequéncia das mencionadas capacidades de dissolugao de ampla gama de substincias e de transporte pelo escoamento superficial e subterrinco, Nas caracteristicas fisicas, quimicas e biologicas listadas nos t6picos a seguir, far-se-4 mengo aos padres de potabilidade nacional (Ministério da Saiide, 2004), americano (AWWA - American Water Works Association, 2006) e da Organizag20 Mundial de Saide (OMS) (World Health Organization, 2004). A s caracteristcas fisicas, quimicas, biologicas e radiologicas das aguas naturais raduzem uma Caracteristicas fisicas AS caracteristicas fisicas das aguas de abastecimento encerram comumente © impacto de imediato ao consumidor, podendo, com alguma frequéncia, concorrer para recusa da égua distribuida pela concessionéria. Quando tal se sucede, a opedo de abastecimento recai para fonte altemativa, no necessariamente segura. Esta percepgiio imediata abarca os sentidos da visio (turbidez c cor), paladar e olfato (sabor e odor). ‘Temperatura ‘A temperatura da igua e dos fluidos em geral, indiea a magnitude da energia cinstica do movimento aleatério das moléculase sintetiza o fendmeno de transferéncia de calor & massa liquda. AAs forgas de coestio intermolecular sto de natureza eletrostitica e, em principio, independentes da temperatura, Caso seja fornecida energia em forma de ealor aquecimento) & massa lquida, atingir _-se- estado no qual as foreas inerciais das moléculas em movimento serlo de mesma magnitude és de 26 aE coesio intermolecular. O novo aumento da temperatura fara com que ocorra a expansio e mudanga de estado para gas ou vapor. ‘A temperatura € diretamente proporcional (i) @ velocidade das reagdes quimicas ~ que praticamente dobra para clevagaode 10°C na temperatura das Aguas (i) &solubilidade das substincias, Gi) & concentragao do oxigénio dissolvido, (iv) a0 metabolismo dos organismos presentes no ambiente aquitico, (v) & formagio de subprodutos da desinfecg8o, (vi) a0 recrudescimento mierobioldgico (vii) a taxa de corrosio nas tubulagdes integrantes dos sistemas de abastecimento (Demuane, 1997) A alteragio da temperatura das aguas naturais decorre em especial da insolagdo, esta influen- ciada significativamente pelo clima ¢ latitude, e, quando de origem antrépica, do langamento de one ono, — opts Conc de pure en) Coen epee Figura 26, Relagdo entre a trbidez © volume medio de parculas para as iguas bruta (2) ftrada () A diferenga significativa entre os dois coeficientes de determinagdo apontam para dois cents. primeiro evidencia a menor relevancia do emprego dos contadores de particulas nto monitoramento de {gua brut, pois, a determinagao da turbidez formece informacto expedita e fidedigna acerca da concentraglo de sélidos suspensos. Por outro lado, para os efluentes das estagdes de tratamento a contagem de particulas guarda maior especificidade, pois éguas de turbidez de mesina magnitude podem apresentar predomindncia de tamanhos de particulas que tornem a desinfecgo mais ov menos eficiente Tal se deve 20 mencfonado efeito-escudo que protege os microrganismos da agdo do desinfetante. Para valores praticamente equainimes de turbidez, a predomingncia de particulas eujas dimensdes superam 8 dos microrganismos patogenicos tenders a tornar a desinfeogio por agente quimico menos efetiva, E intrinseea a correlagdo entre a turbidez ¢ a concentragio de sélidos suspensos, como parcela os sélidos totais cuja dstribuigdo 6 apresentada na figura 2.7. Sedimonavele Em sspensso Nao sediments Sd tis ose Dissoidos Fics Figura 2.7. Distibuigdo generica dos sélidos presentes nas dguas naturas, As fiagdes de sélidos podem ser assim definidas (Piveli; Kato, 2006): + s6lidos totais constituem nos residuos apés evapora¢o em banhio-maria e posterior secagem a 103-105°C; + sélidos suspensos constituem-se a poredo em massa com dimensdes superior a 1,2 4m, retida apés filtragao; + s6lidos voléteis é a poredo dos sélidos totais, dissolvidos ou suspensos que se volatiliza apés caleinago a 350-600 °C, por 15 min para sélidos suspensos ou 60 min para sélidos totais ¢ dissolvidos; sélidos fixos, analogamente, constituem-sea pore dos sidos totais, dissolvidos ou suspensos ge resia apts caleinapio a 550-600 °C, por 15 min para sélidos suspensos ou 60 min para sends totais edissolvidos, Sélidos sedimentiveis & a porgto de sotidos suspensos que se sedimenta quando mantida em repouso em cone Imhoff de um litro durante unta hora A parcela dissolvida ds s6lidos haveri de conferir em especial cor verdadeira is fguas naturaise ‘opacirio de potabildade estabelecdo pela Portria $18 reports-s & concentrago mxima de 1000 mg/L (como sélidos dissolvidos totais). A correlagao entre a turbidez e a concentracio de sélidos suspensos pode ser demonstrada valendo-se do monitoramento da égua bruta afiuente a uma unidade-piloto de Sltragao lenta, conforme mostra a figura 2.8, gseeas Séldos suspensos (mg) o o Turbdex (7) Figura 2.8. Correlagdo entre séidos suspensos e turbidez em agua sintética A correlago entre solidos suspensos para com a turbidez € «cor aparente foi objeto de uma ‘valiagio mais abrangente contemplando 18 anos de dados operacionais (1980-97) de duas estagies 4 tratamento responséveis pelo abastecimento de Vit6ria e Cariacica (ES) com base no mesmo curso Agua. A amostra constou de 312 determinagées de s6lidos totais ¢ a andlise balizou-se em quatro ccenirios: considerando todos os dados, e separando-os em dias de chuva, sem chuva e por faixas de concenirago de sblidos suspensos. Os resultados para os ts primeiros cenérios estio apresentados na tabela 2.1, destacando-se os valores mais elevados do coeficiente de determinagdo para cada cendrio em fungZo do tipo de modelo de regressdo empregado (Piccolo; Pinto; Teixeira, 1999). ‘Tabela 21. Valores de R’ valendo-se dos diferentes tipos de regresso e irs cenios de anilis, ‘Todos 05 dados Dados com chuva Dados sem chuva SSCA. SSxTurb, © SSXCA—SSKTWb. SSCA SSKTurb. tinear 0,7837 0.7970 0.8669 0.8859 0.3576 4041 Potencia 0.6531 0.7464 ost38 0.8627 0.4035 05231 Exponencial 0,579 05819 0.5996 0.5348 0.4363 0.5329 (bs: SS sds em suspensto (agi); C.A cor ape (UC; Ta, trie) Como seria de esperar, os coeficientes de determinagio para regressio linear foram significativos tanto para cor aparente quanto para turbidez, ¢ de mesma magnitude, para a totalidade dos dados e para ( coletados em dias com chuva. Ao analisar os dados gerados em dias sem chuva, a correlago para com a cor aparente foi mais pronunciadamente inferior & da turbidez, pois, a parceta dos s6lidos dissolvidos ~ no contemplada na idos suspensos — contribuiu mais significativamente para aquele parimetro. As baixas 35 | Ceracteristicas das Aguas Naturals ay correlagses também para a turbidez podem ser explicadas pelo emprego de apenas uma estagio pluvio- métrica, podendo chuvas niio detectadas por esta estagao terem contribuido para a maior dispersio dos resultados, s resultados da correlagdo por faixa de de concentragao de sélidos suspensos sto apresentados na tabela 2.2, ‘Tabela 2.2. Vilores de R° por faa de valores de s6lidos suspensos ‘ $5<30 magi. 31 mgt 2S5<69mgh 70 mg/l < $S-< 285 molt Reoressso sxc A SSMU SSCA | SSxT SSKGAL SSX Tub Linear 05372 08194 0227201664 0.880368 Poténcia 05725 08374 0.1664 0,135 0.7905 gait Exponencial _0,3517 9.6520 0.1921 0,165 08955 0.9675 s resultados da tabela 2.2 confirmam a estreita correlagdo entre os parimetros avaliados para 08 valores mais elevados de sélidos suspensos, correspondendo aos perfodos de preeipitagao o maior carreamento de particulas ao corpo digua. E, como nao podia deixar de ser, sempre que a correlagio ‘mostrou.se mais significativa, o coeficiente de determinagio foi superior para turbidez. A determinagio da concentragio de sélidos, nos seus diversos matizes, nfo & comumente realizada nas estagdes de tratamento em virtude da morosidade das andlises, aos equipamentos necessérios ¢ & menor preciso pra menores concentragdes, sendo substituidas pelas andlises de cor, aparente e verdadeira, e turbidez, Por fim, outro parimetro diretamente associado a turbidez & ransparéncia, utilizada sobretudo no caso de lagos e represas, parimetro obtido mergulhando-se na égua um disco de 20 a 30 em de didmetro’ e anotando-se a profundidade de desaparecimento, Lagos turvos apresentam transparéncias reduzidas, da ordem de poucos centimetros até um metro, a0 passo que em lagos eristalinos, a trans- paréncia pode atingir algumas dezenas de metros. Acstimativa da profundidade atingida pela luz, denominada zona fotica e de erucial importancia para o desenvolvimento da comunidade fitoplanctGnica, déi-se considerando aproximadamente o triplo da profundidade de desaparecimento do disco. Sabor e odor A conceituagao de sabor envolve uma interacao de gosto — salgado, doce, azedo e amargo — com 0 odor, sendo portanto imensurdveis. Apesar de sensayoes distinas, usualmente sto referenciadas conjuntamente, Embora possam existr odores agradiveis, de ervas ou de terra, frequentemente associa-se 0 odor nas diguas de consumo sob ponto de vista negativo, Sua origem esti associada tanto & presenga de diversas substancias quimicas ou gases dissolvidos™, algunas das quais utilizadas no préprio tratamento como o loro e, mais raramente, o ozinio. _ Asimanifestagdes de odore sabor apresentam causas distintaspara éguas superfciais esubterréneas. Para as primeiras, compostos organicos resultantes do metabolismo de alguns microrganismos — em especial algas, cianobactrias eaetinomicetos"-, decomposigSo de folhas e planta aguitcas, igamento 9. Disco de Secci, denominaedo em homenagem a seu inventor, naturalists italiano 10. Gis carbénico, oxigénio, nitrogénio, ambnia, sulfelo de hidrogénio e, em menor frequéncia, metano onsttuem-se os gases mais usualmente encontrados nas éguas naturais, alguns dos quais passiveis de conferir odor e sabor. Os trés primeiros perfizem a quase totalidade da composigio do ar atmosfério 0s ‘eedestrisis lixiviag2o de solos agriculturaveis habitualmente constituem-se nas principais © odor nas Aguas superfciais. _Deterentemente, para as Aguas subterrdneas odor e sabor advém usualmente de fendmenos __saturais, ainda que as agdes antrdpicas possam agudizar tais caracteristicas. Em primeira instancia, destaca-se a agZo bacteriana na decomposicio anaerébia de enxofte organico, sulfates e sulfites ss-rando dcido sulfidrico ~ produzindo odor caracteristico de ovo podre e na redugo de compostos & ferro © manganés (@ ser detalhado em item subsequente). Inserem-se também nesta vertente, a Gissoluydo de sais e minerais na percolagdo da dgua através de solos e rochas, a intrusto de gua ‘do mar — usual nas regides costeiras, especialmente onde se aduz vaziio superior a capacidade do ssquifero, elevando a concentragio de cloretos — e, mais recentemente de caracteristica eminentemente ‘antropica, a percolago do lixiviado de aterros sanitirios (Montgomery, 2005). Diversos compostos podem conferir sabor e ador ds Aguas ¢ mesmo nio causando dano & side fazem com que estas 4guas sejam prontamente rejeitadas pela populagao, situago que se no ‘manifesta quando da presenga de metais pesados, com maior frequéncia mais deletérios & saiide ‘humana. Adicionalmente, sabor e odor podem estar também associados: + a compostos orginicos arométicos, majoritariamente presentes em efiuentes industriais, ‘como fendis e nitrofensis; a0 crescimento microbiano, ¢ subsequente subprodutos do metabolismo, nas redes de distribuigao; aconcentragdes significativas de cloro residual e resultante reasiio com compostos organicos e/ou microrganismos na rede de distribuigao. A importincia do sabor e odor testifca-se na significativa possibilidade da mencionada rejeigto pela populacdo abastecida conduzir a0 consumo © uso de outra fonte de qualidade duvidose, mas insipida e inodora. No famoso surto de célera ocorrido em Londres em meados do século XIX~que se constituiu em um marco para epidemiologia pela confirmagao da célera como doenga de transmissio hidrica -, a populagio abastecia-se da 4gua contaminada do pogo no distrito de Broad Street devido 20 seu gosto agradvel. Mesmo moradores residentes préximos a outras fontes de abastecimento optavam pelo pogo contaminado (Okun, 1996). Denire os compostos orgénicos naturais responsiveis por conferir odor e sabor as éguas de consumo, destacam-se MIB (2-metilisobomeol) ¢ geosmina ~ compostos produzidos por algas, cianobactétias € actinomicetos -, nio associados a efeitos deletérios & satide e passfveis de serem percebidos a concentragdes inferiores a 5 ng/L. Além de naturalmente produzidos no ambiente, estes ‘compostos apresentam patio varidvel de ocomréncia e difeil remediagio com as teenologias usuais de tratamento, recaindo quase que via de regra para adsorgo com carvlo ativado, tomando-se @ principal causa de reclamagdes de odor e sabor na América do Norte (AWWA - American Water Works Association, 2002), No Brasil, a quase totaidade das estagOes de tratamento de gua encontra-se impossiilitada de realizar anélises de MIB e geosmina, com o controle centrado nos microrganismos responsdveis Dor sua geragdo, Tal fato deve-se ao elevado custo das técnicas analiticas para sua identificagio e quantificagaio (cromatografia gasosa acoplada a espectrofotdmetto de massa) que requerem corpo técnico treinado e altamente especializado. Como consequéncia da contaminarao dos aquiferos freéticos por postos de gasolina, recen- temente 0 composto MTBE (metil terciério butil éter) inseriu-se no rol dos causadores de odor as Aguas. Trata-se de um aditivo misturado a gasotina objetivando reduzira geragaio de gases nos motores ‘a combustdo. Assim como MIB e geosmina, o composto MTBE néo ¢ adequadamente removido pelas ae | Caracteristicas das Aguas Naturals teenologiasusuais de potabilizagao, caja soluedo também normalmente conduz.a apicago de carvio ativado, Para consumo humano e usos mais nobres 0s padrBes de potabilidade exigem que a égua sea inspida e completamente inodora. Todavia, mesmo em nivel internacional ndo hi metodologia «stabelecida bem como padrbes de qualidade apts a se insrirnarotina operacional das estagSes de tratamento para deteceio de odor e sabor nas guas de abastecimento, Desta forma, o controle de odor « sabor nas estagdes de tratamento brasileiras, © em sigaifcativa maioria dos paises, realiza-se de fornia absolutamente empirca calcado na “suposta" sensibilidade dos responsive pela operagdo em Deteeberalterapdes de sabore odor na gua de consumo, lusta esta afirmativa,estagdo de tratamento de médio porte no estado de Minas Gerais, vazio média afluente da ordem de 400 L’s, dotada de ‘operagdo altamente qualificada na qual a dosagem de carbono ativado em po era alterada com base no odor percebido pelo responsive pela operagio, A concentagao algal ¢ a pré-cloragio na unidade de eaptagdo favoreciam a presenga de compostos orsnicos,cuja remogo era otimizada por meio de aplicagdio de carvao ativado em pé, aplicado em dosagens de 5 a 10 mg/L na entrada da estagdio de tratamento, Akém da mencionada dificuldade de monitoramento destes compostos oruanicos, a intan- sibilidade da aferigao de sabor e odor tem motivado o desenvolvimento de técnica alternatives, tis como Painel Sensorial e Nimero Limiar de Odor". O ultimo fundamenta-se em sucessivas diluigdes da amostra de agua de consumo, Desta forma, &s amostras cujo odor somente & pereeptvel sem a diluigdo da amosiraatibui-se nimero 1, ao passo que aquelas cujos odores continuam a se manifestar ps cinco diluigdes tecebem valor 5. Enquanto # maiora dos parémetrs de qualidade de égua enconta-se com os valores méximos petmissveis estabelecidos, as anilises de sabor e odor apresentam dificuldade intrinsecarelacionada a variedade de compostos quimicos que nfo eausam maleficios& sade, mas que se constituem, junto com as earaterstcas concementes ao aspecto visual da agua (core turbidez), nas reclamagGes mais recorrentes dos consumidores. Esta relevincia das caracterstcus da égua que agugam os sentidos da visdo (core turbidez) e do paladar ¢ lfato (sabor e odor) manifestou-se elaramente em amplo levantamento realizado em 2000 contemplando 160 sistemas de abastecimento de égua americanos « canadenses, Neste levantamento foram lstada as reclamagdes mais frequentes dos consumidores, cutjos resultados estio apresentados na figura 2.9, Outros 8% $9%- Clo Resual Core Tuber 43% Anise Bacaridgica oe Figura 2.9. Principaisreclamagdes dos consumidores em sistomas americanos ¢ eanadenses, Evidencia-se pela figura 2,9 que 87 % das reclamagdes advieram do aspecto visual (43 %), ¢ gustativo e olfativo (44 %), e as préprias reclamaydes acerca de cloro residual poderiam ser inseridas também como problemas de odor e sabor. 12, Técnicas desenvolvidas nos EUA denominadas, respectivamente, Flavor Profile Analysis ¢ Threshold Odor Number: 38 os ae Min Levantamento mais amplo realizado em 1989, contemplando 377 sistemas de estados am canos e da provincia de Alberta (Canada), com vazao variando de 308 L/s a 66 m’/s (média de 530 Lis) populaglo média abastecida de 220 mil pessoas, apontou que os problemas de odor ¢ sabot so ‘mais pronunciados nos sistemas que utilizam ‘gua superficial. Estimou-se o dispéndio recursos para © controle de sabor e oder como da ordem de 4,5 % do orcamento dos sistemas de abastecimento (Suffet eta, 1996). Dos sistemas cujos responsiveis que responderam o questionério,"" 16 % avaliaram como, sérios os problemas de sabor e odor, de ocorréncia sazonal e significativamente relacionados a rede de distribuigio ¢ & concentragio do cloro residual. Como seria de se esperar, as causas provaiveis dos eventos de odor e sabor eram de distintos matizes e intrinsecamente relacionados ao tipo de manancial, conforme denota a figura 2.10, Ivars erica Decalment d vegecio ne 0 Respostas () Figura 2.10, Principais causas proviveis dos eventos de sabore odor nos 377 sistemas amostrados em fung0 do ‘ipo de manancial, ‘Apesar de algumas respostas algo imprecisas ~ por exemplo, & pouco crivel como a inversio térmica! em um reservat6rio possa afetar significativamente a qualidade da gua subterranea —, analise da figura 2.10 evidencia o menor niimero de causas proviveis dos eventos de sabor ¢ odor para os ‘mananeiais subterraneos, pois 91 % das respostas referem-se a Wio somente trés causas mencionadas pelos responsiveis. Em contrapartida, a inequivoca maior susceptibilidade dos mananciais superfciais 4 poluigio, tanto pontual como difusa, traduziu-se por distribuieZ0 mais uniforme das respostas com ppelo menos seis causas mais significativas. Dos sistemas que ulilizavam somente agua superficial — perfazendo 45 % da amostra ~ 54 % reportaram-se a problemas de odor ¢ sabor de intensidade semelhante a verificada em 25 % dos sistemas que utiizavam somente duas subterrineas (20 % do universo amostral"), conforme mostra figura 2.11. 13, O question foi enviado aos responsiveis pola operago de $26 sistemas, dos quais 426 de grande porte © 200 de pequeno e médio porte, 14, Nas regies de cima temperado, o degelo da camada superficial do lago ou reservat6rio no inicio da primavera favorece a elevasio da temperatura e ao ating 4°C, condig3o de maxima densidade (ou massa especifica), «sta parcela de dua torna-se mais pesada edesce em diregto ao fundo revolvendo as camadas mais profundas, Justfieando a denominago spring turnaver. Nas tegidestropicais, em algumas épocas do ano, o resfiamento, ‘da camada superficial no final do dia pode resultar em semelhante fenémeno. 15. O restante do wniverso amostral compunka-se de sistemas de abastecimento que adquiriam égua valendo-se ‘de outros ou que utlizavam concomitantemente manancias superticiis esubterrincos, cee = 39 SCE (eran) 2 3 4” Sigave) Severdade dos eventos de odor sor Figura 2.1L. Grau severidade dos eventos de odor e sabor em fungi do tipo de manancial Na mesma vertente, a duragdo dos episédios de distribuigio de gua com odor sabor, quando do uso de mananciais superficias, foi significativamente superior (figura 2.12). . . 1 vores =o i Warercal stereo 0 Ls 2 0 2 10 0 <1 1292 Figura 2.12. Duragio dos episdios de odor e sabor em fungd0 do tipo de manancia Por fim, o levantamento contemplou avaliagio da sizonalidade dos episédios de geracao de ‘odor e sabor. Como seria de esperar, para os sistemas abastecidos por mananeiais de superficie, 75 % dos episédios ocorreram durante a estapio chuvosa, primavera e verfo, na qual o earreamento de substincias passiveis de conferir odor ¢ sabor as dguas de consumo toma-se mais significative e 0 florescimento algal mais proeminente pela elevagio da temperatura e da insolagao, Esta supremacia foi menos pronunciada para os mananciaissubterrdneos (55 % dos epis6dios), menos susceptiveis as variagdes sazonais de qualidade de gua ‘A mencionads técnica do Painel Sensorial foi aplicada em estudo realizado em dois dos sistemas de abastecimento da Regido Metropolitana de $20 Paulo, Guarapiranga ¢ Alto Tieté, que atendem populagio da ordem de seis milhdes de pessoas a vazo méiia em tomo de 14 ¢ 10 m'ls, respectivamente, Em ambos sistemas, cujas captagdes realizam-se por meio de reservatérios de acumulagdo, havia registros de ocasionais problemas de sabor e odor causados pela presenga de MIB ¢ geosmina na agua tratads. O painel fol composto por grupos de quatro ou cinco técnicos da concessionériae utilizou-se a Roda de Sabor e Odor" desenvolvida no final dos anos 80 pela American Water Works Association para avaliagio das anslises sensoriais. A intensidade de sabor e odor foi avaliada numericamente por meio de escala contendo sete niveis de percepeio: isento (0), limiar (2), firaco (4), fraco a moderado (6), moderado (8), moderado a forte (10) ¢ forte (12). O estudo visou a correlacionar as concentragdes de MIB e geosmina na fgua tratada, & percepedo dos painelistas es reclamagbes dos usuarios. 16, Técnica de anise sensorial na qual se litam em uma crea circular 13 ditntaspercepsSes de sabre oor, a de terraimof sera cl, pasando por elorad, pee, salgado © amargo ho — EEE Apesquisa apontou, valendo-se do histbrico de reclamagiies dos consumidores, maior tolerancia 8 concentrages de MIB, que no sistema Guarapiranga atingiram de 300 a $00 ng/L. Segundo os ‘autores, tal constatagdo pode estar relacionada ao longo tempo (15 anos) que a populagio ¢ abastecida ‘com gua com concentragdes varidveis deste composto organico — acostumando-se aos odores caracteristicos mais facilmente assimiliveis -, e pela sua presenga em concentragdes ainda mais elevadas em ampla gama de alimentos, como batata, beterraba e cenoura, De forma geral, recomenda- -se a anélise sensorial como altemativa viavel, sobretudo aps se efetuar a descloragio da amostra, na previsto de odores relacionados a MIB e geosmina, cujas manifestagdes foram posteriormente ‘confirmadas pela determinagio das concentragdes destes composto (Ferreira Filho; Alves, 2006). Condutividade elétrica A condutividade elétrica ou condutincia especifica indica a capacidade da Agua natural de ‘ransmitir a corrente elétrica em funcdo da presenga de substincias dissolidas que se dissociam em 4nions e edtions — usualmente ions de ferro e manganés, além de K*, CI, Na", Ca”, Mg -, sendo, por consequéncia, diretamente proporcional & concentragao iOnica, Solugdes nas quais se faz presente a ‘maioria dos compostos inorginicos apresentam condutividade elevada e, em contrapartida, compostos corginicos que nio se dissociam em solugdes aquosas, quando presentes reduzem a transmissdo da corrente elétrica A condutividade elétrica da dgua relaciona a resistencia elétrica a0 comprimento e ¢ expressa ‘comumente em j:S/em (microSiemens) ~ j4 0 foi em mholcm". A correlagio entre esta caracteristica fisica e a concentragio de cétions e énions comprova-se pela figura 2.13. Nesta figura, apresenta-se 8 correlagao entre as médias da condutividade elétrica e do somatério das concentragdes dos cinco mencionados cétions e anions" registrada no monitoramento de cinco corpos d’égua da Regiao Amazénica. As médias apresentadas na figura 2,13 referem-se a aproximadamente 25 determinagdes para cada parémetro (Tundisi; Tundisi, 2008), a & Concentragéo de ition (malt) 12 ‘Condutvidade etic uSlem) Figura 2.13. Correlagio entre condutividadeeléticae o somatdrio da concentragdo dos eétions mais comumente presentes nas éguas natura ‘Como consequéncia da intrinseca relagao exemplificada na figura 2.13, a condutividade elétrica vincula-se ao teor de salinidade, caracteristica relevante para muitos mananciais subterraneos e éguas superficiais proximas ao litoral passiveis de intrustio de gua salgada. Este parimetro também se mostra relevante em regides susceptiveis a clevadas taxas de evaporagio e baixa intensidade pluviométrica, Por vezes apresentando balango hidrico negativo, como alguns paises e estados da Regio Nordeste. 17, Como medidas da condutividade, 1,0 1S/em 1,0 mhofem e 1 mS/em = 10 jmmho‘em, 18, As concentragdes de ferro e manganés nos cinco compos dYigua (dois ia ers reservatrios) eram despreziveis ‘comparadas a dos mencionados énions ecétions. es eseey Aguas naturais apresentam usualmente condutividade elétrica inferior a 100 S/em, podendo atingir 1000 j:S/em em corpos d’égua reveptores de clevadas cargas de efluentes doméstcos ¢ industrais -Embora néo seja um pardmetro integrante do paulo de potabilidade brasileiro, e também por isto, somente monitorado nas estagBes de maior porte, constitui-se importante indicador de eventual langamento de efluentes por relacionar-se & concentragao de sOlidos totais dissolvidos (STD). A correlagio entre estes parimetros manifesta-se diferentemente para cada corpo d’égua. Em certo contexto, para lagos e represas, ap6s estabelecida esta correlagdo, o monitoramento da concentragio de sélidos dissolvidos ~ euja determinago € muito mais morosa ~ efetua-se por meio da determina- iio da condutividade elétrica, Em solugdes mais diluidas esta relagSo aproxima-se de algo como STD = 0,5 CE . Todavia, em solugGes mais concentradas (STD > 1000 mg/L. e CE > 2000 Siem) 1 proximidade entre os fons presentes reduz a capacidade do meio de transmitir a corrente elétic. Para solugtes ainda mais concentradas a relago aproxima-se de STD = 0,9 CE. Desta forma, tais vaiagdes no coeficiente de correlacio linear recomendam manter a individualidade de cada corpo 4 gua ou, em outras palavras, determinar o coeficiente de correlaglo entre a condutividade elétrica € a concentragdo de sélidos totais dissolvidos especificamente para cada corpo d’égua, seja aquifer, Iago, rio ou reservatério, Caracteristicas quimicas pH potencial hidrogeninico (pH) consiste na concentragdo dos fons H” nas éguas e representa, f intensidade das condigdes dcidas ou alcalinas do ambiente aquético. No valor do pH, aliada dissociag2o da molécula de agua, incorpora-se o hidrogénio resultante da dissociag@o de dcidos organicos naturais ou inorganicos presentes em efluentes industria (Piveli; Kato, 2006). © pH talvez se constitua no parimetro de maior frequéncia de monitoramento na rotina ‘operacional das estagdes de tratamento de agua pela interferéncia em diversos processos operagSes unitérias inerentes & potabilizagio, da aplicagiio dos coagulantes ao processo de desinfecgao quimica, Este monitoramento sucede-se por meio potenciométrico em equipamento denominado potencidmetro ou, mais vulgarmente, pHmetro, em unidades de bancada ou de escoamento continuo, ‘A dissociagdo da molécula de gua di-se por meio da equago 2.1. 10. 6H’ +01 en A constante de equilibrio desta dissociagiio & (1) (0H) #0) (22) ‘Como o valor da concentrago molar da gua é 55,6 mol/L” e a nova constante de equiliorio (Kw) a 25 °C vale 10°, Desta forma, tem-se: Kw= [1] 0H] 3) ‘As concentragdes dos ions H* em solugBes aquosas fazem com que tenha que se lidar com valores muito baixos que, paradoxalmente, correspondem a intervalos muito significativos de diferenga 19, Massa de 1,0 L de dgua (1000 g) dividido pelo respectivo peso molecular (18 g). 42 — de concentragdes, © problema foi contornado extraindo-se o logaritmo na base 10 ¢ empregando posteriormente escala anti-logaritmica™: pH =- log [#"] 24) pH +pOH= 14 es) Desta forma, a temperatura de 25 °C, valores de pH inferiores a 7 indicam condigdes dcidas ¢ superiores condigées alcalinas da dgua natural. Vale mencionar que valor de Kw vincula-se a ‘emperatura, alterando 0 ponto de neutralidade da Agua natural, elevando-o.para tetmperaturas mais alas e teduzindo-o para mais baixas. (OpH influ no grau de solubilidade de diversas substincias, e como consequéncia na intensidade a cor, na distribuigdo das formas livre ¢ ionizada de diversos compostos quimicos! definindo também 6 potencial de toxicidade de varios elementos. As fguas naturais de superficie apresentam pH variando de 6,0 a 85, intervalo adequado a manutengo da vida aquética, embora a prevaléncia de concentracao significativa de matéria orgnica, ‘manifestada na intensidade da cor verdadeira, concorra para valores abaixo de cinco, como do mencionado Rio Negro uilizado no abastecimento de Manaus (AM). AlteragGes podem ser decorrentes a atividade algal — fotossintese e respiragdo —, da dissolugdo de rochas e do langamento de despejos domésticos e industriais. Mais raramente, em regides industrializadas, pode ocorrer abaixamento do ‘pH motivado por chuva écida devido complexagio de poluentes gasosos ao vapor d'égua presente na atmostfera, Arelevincia do pH manifesta-se em diversas vertentes na potabilizagio das éguas de consumo umano: nna desinfecgdo com compostos de cloro, pois a formagao do fcido hipocloroso (HOC), significativamente mais eficiente na inativago dos mierorganismos, é governada pelo pH; nna congulagdo com sais de feo ¢ aluminio que se vincula a uma faixa de variagdo do pina ‘qual o processo consubstancia-se, usualmente mais ampla para os primeiros e mais restrita para os segundos; no controle da corrosfo nas adutoras e redes de distribuigo; na formagao de subprodutos de trihalometanos, mais pronunciada a valores mais elevados de pH; + no abrandamento de aguas de dureza mais significativa, (© valor do pH da égua de consumo nao apresenta efeito digno de nota sobre a saide humana e diversas bebidas e frutas” com valores significativamente mais baixos de pH sZo usualmente ingeridas, Desta forma, os padrdes de potablidade nacional e da OMS estabelecem amplo intervalo para pH¥ da gua tratada (6,0 a 9,5) objetivando minimizar as perspectivas de corrosio (para os valores muito baixos) ou inerustacio (para os elevados) nas redes de distribuigao, 20, Escala antilogaritmiea para @ determinaeao do pH foi proposta em 1909 pelo quimico dinamarqués Séren Peter Sorensen (1868). ‘A recomendago da Portaria 518 de realizar a desinfecyao com compostos de cloro em pH inferior a 80 fia-se nesta premissa, Exemplfica assertiva anterior a faixa de valores de pH para reftigerantes (2,0 - 4,0) © magas (2.9 - 3.3), além do fato da urina (4,8 a 8,4) indicar a toleréneia do organismo humano a expressivas variagdes de pH. Sean = 43 Alcalinidade LC ‘A alcalinidade das éguas naturais traduz a capacidade de neutralizar écidos (os fons H') ou a ceapacidade de minimizar variagbes significativas de pH (tamponamento), constituindo-se especialmente debicarbonatos HCO, ), carbonatos (CO;”) ehidréxidos (OF). Na potabilizagdo das éguas para consumo hhumano, a alealinidade adquire funglo primordial no éxito do processo de coagulacdo minimizando a redugdo muito significativa do pH apés a dispersdo do coagulante. ‘As trés formas da alcalinidade manifestam-se em funglo do pH. Para guas com pHI entre 44 © 8,3 a alealinidade seré em virtude apenas de bicarbonatos, pH entre 8,3 ¢ 9,4 a carbonatos € bicarbonatos, e para pH maior que 9,4 a hidréxidos e carbonatos. Desta forma, para @ maioria das ‘guas naturais de superficie, a alcalinidade decorre apenas de bicarbonatos, em especial, de célcio & magnésio. ‘A prevaléncia dos bicarbonatos justifica-se pela reagdo do gés carbOnico presente nas éguas superficiais ~ resultante da incorporagio da atmosfera e/ou oxidagio da matéria orgéinica — com os rminerais do solo, de acordo com a equagiio 2.6: CO, + CaCO, + H,0 > Ca(HHCO,) 26) Aalcalinidade 6 determinada por titulagiio com dcido sulfitrico ou outro deido forte expressa fem termos de mg/L de CaCO,, no apresentando significado sanitério e, desta forma, ndo sendo contemplada pelo padrio de potabilidade. Aguas naturais de origem superficial no Brasil apresentam alcatinidade comumente inferior a 100 mg/L de CaCO, Valores mais elevados de alcalinidade ‘nos corpos d'agua estio associados a processos de decomposigdo da matéria orgénica, & atividade respiratéria de microrganismos, com liberagio e dissoluglo do gis carbénico (CO,) na ‘igua, e a0 langamento de efluentes industriais. Os valores de alcalinidade, pouco pronunciados nos mananciais superficiais brasileiros, torna-se comum no processo de potabilizagiio o emprego de alcalinizante, visando a evitar redugo muito significativa do pH na coagulagiio e recebendo vulgarmente a denominago de cal priméria. A aplicagio ao final do tratamento, usualmente apés a desinfecgao, com a denominagao de cal secundiria, objetiva desenvolver uma pelicula nas adutoras e redes de distribuigao reduzindo os problemas de corrosao. Acidez, Em contraposigto a alcalinidade, a acidez ¢ a caracteristica quimica de neutralizar bases e também evitar alteragdcs bruscas no pH, gragas, especialmente, a concentragao de gases dissolvidos como CO; ¢ H,S ou de dcidos himicos, fillvicos e himatomelinicos. Pode ter origem natural pela absorgio da atmosfera e decomposi¢ao da matéria organica ~ ou antrépica, pelo langamento de despejos industriais e lixiviagdo do solo de areas de mineragdo. Similarmente em relagao 8 alcalinidade, a distribui¢ao das formas de acidez efetua-se em fungao do pH. Para aguas com pH inferior a 4,5 a acidez decorre de acidos minerais fortes ~ geralmente resultantes de despejos industriais -, pH entre 4,5 ¢ 8,2 indica acidez devido ao CO, ¢ para pH maior que 8,2 indica auséneia de CO; livre. A acidez.¢ expressa da mesma forma que a alcalinidade (mg/L de CaCO.) e também nao tem significado sanitério, podendo fomentar a rejei¢a0 da populagZo abastecida quando a acidez mineral for mais pronunciada, Sua significdncia prende-se a perspectiva de corrosao das adutoras e das redes, de distribuigao. Dureza” A dureza indica a concentrago de cétions multivalentes em solugdo na dgua, sobretudo de calcio (Ca) e magnésio (Mg”), e em menor magnitude aluminio (AI), ferro (Fe"), mangangs (Mir) estrdncio (Sr), e se manifesta pela resisténcia a reagdio de saponificagdo. Esta caracteristica quimica ‘acaba por refletir a natureza geologica da bacia hidrogrifica, sendo mais evidente nas regides de formagdo calcérea e menos significativa em zonas de terrenos arenosos ou argilosos. A éigua dé chuva ‘em contato com o solo tem sua concentraeao de gis carbénico elevada e por conseguinte seu poder de issolugto das formagies calcéreas A dureza pode ser classificada como dureza carbonato ou dureza nd carbonétd, dependendo 0 Anion com o qual esti associada. A primeira é sensivel ao Calor, precipitando o carbonato ao aumento ‘ignificativo de temperatura ~ usual de ocorrer quando a gua atravessa, por exemplo, a resisténcia dos chuveiros domicitiares ~ e por esta razio recebe a denominagdo de dureza nda permanente. Semelhante mecanismo verifica-se no abrandamento de aguas duras por meio do emprego de cal visando a favorecer a precipitagio do carbonato de calcio, conforme enunciam as equagBes 2.7 ¢ 2.8 Ca” +2 HCO; + Ca(OH), > 2 CaCO, + COst + #0 en Ca + 2HCOy + Ca(OH), 4+ 2 CaCO) +2 1,0 (28) A dureza carbonato corresponde & alcalinidade, estando portanto em condigdes de indicar a capacidade de tamponamento a igua natural. Em contrapartida, a dureza nfo carbonato, também denominada permanente, nto pode ser reduzida por ebulicdo resulta da presenga de ions metilicos divalentes ligados a sulfatos, cloretos ou nitratos, podendo ser determinada pela diferenga entre a 300 mg/L de CaCO), Em relagio & classificago anterior, convém ressaltar que os padrdes de potabilidade brasileiro, americano € da OMS estabelecem o limite de 500 mg/L CaCO, idéntieo ao adotado no Canada (Summary of Guidelines for Canadian Drinking Water Quality, 2004). Em relagio ao diltimo, ha ‘menedes de que, embora dureza até 200 mg/L CaCO, possa ser tolerada, intervalo de 80 a 100 mg/L. CaCO, apresenta maior aceitabilidade pela populagdo abastecida, De fato, no Brasil verifica-se ‘maior consumo de égua mineral pela parcela mais abastada da populagfo abastecida quando a dgua distribufda apresenta dureza superior a 100 mg/L. Diversas cidades do interior do estado de Sao Paulo, abastecidas por éguas subterrneas, confirmam esta assertiva. Contudo, a aceitabilidade e a perceptibilidade do consumidor para com aguas de dureza mais significativa apresentam significativo grau de subjetividade. Avaliagdo realizada com 0 corpo de funcionérios de uma companhia estadual de saneamento avaliou a aceitabilidade da gua com distintos valores de dureza. Em primeira instincia a popula¢o amostrada (188 pessoas) foi orientada a escolher 4 gua que melhor the apetecesse. Os resultados desta avalingo so apresentados na figura 2.14 (Von Sperling, 2004). caviruio.e2 45 46 ) ‘Acatabldae | Soi” 150200” 250800 Dureza (mail. cac0,) Figura 2:14, Percentual de acetabilidade de distintosteores de dureza para populagdo amostrada, Evidencia-se pela figura 2.14 que de fato mais de 40 % dos integrantes do universo amostral prefeririam a égua com menor dureza, mas ocorreu distribuigio relativamente uniforme para o restante zo que tange a aceitabilidade mesmo para valores elevados, Posteriormente, avaliou-se a perceptibilidade da populagdo amostrada a distintos valores de dureza. Nesta etapa, 08 participantes foram instados a identificar a gua com maior teor de dureza ¢ os resultados esto apresentados na figura 2.15, = es js | jr : er) 100, 150, 200 250 300 oun 0) Figura 2.15. Percentual de pervepibilidade da dureza na populasio amostrada Da mesma forma, a égua com menor dureza foi facilmente identificada pela quase totalidade da populagio, Contudo, dureza superior « 100 mg/L CaCO; pareceu conferir a mesma sensagtio de gosto pela distribuigio aproximadamente uniforme das respostas, Conforme mencionado, frequentemente a dureza tem origem natural pela dissolugao de rochas calcdreas, ricas em céleio e magnésio ¢, em menor monta, decorrente do langamento de efluentes industriais. No Brasil, salvo algumas excegBes como a Regio Norte do estado de Minas Gerais, as aguas superficiais sao brandas ou moderadamente duras (valores comumente inferiores a 100 mg/L CaCO), ‘com teores significativos de dureza ocorrendo mais usualmente para 4guas subterraneas. Objetivando rovamente comparar os valores mééios mensais de dureza de dois mananciais superficiais, no Brasil (Minas Gerais) ¢ Canadé (Alberta), foi elaborada a figura 2.16, na qual se evidencia significativa diferenga para os valores da dureza da Agua bruta afluente as respectivas estagdes de tratamento durante 0 ano de 2004. ‘A dureza nao apresenta significado sanitario e seu inconveniente é de natureza econémica por reduzir a formago de espuma, elevando o consumo de sabes ¢ xampus, ¢ a salientada perspectiva de poder provocar inerustagdes nas tubulagdes de gua quente, caldeiras e aquecedores, em virtude da precipitagtio do carbonato a temperaturas mais elevadas, Nao ha ainda comprovagao cientifica ‘que relacione o consumo de gua com maior teor de dureza a0 aparecimento de pedras nos rins na populagdo abastecida, Em contrapartida, hi indicios de que as doengas cardiovasculares manifestam- == com menor intensidade em regides nas quais a populagdo abastece-se com Aguas de dureza mais sccatuada, DAGae _-m ETABaa] Dureza (gi. c30,) 0 Jan" Fev” Mar”Abr “Mal” Jun” Ju Ago” Set" Ot” Nov” Dez Moses Figura 2.16, Médias mensais da dureza da égua brutaafluente a estes no Brasil ¢ Canad, Oxigénio Dissolvido Ainds que uma afirmativa peremptéria possa ndo se aplicar em alguma situagdo particular, concentragio de oxigénio dissolvido (OD) ¢ reconhecidamente o parémetro mais importante para ‘=xpressar a qualidade de um ambiente aquitico. Na rotina operacional das estagdes de tratamento, o OD ‘sfo se constitui pardmetro usual de controle, pois, a prépria escolha do manancial para abastecimento, Semumente recaindo para ambientes menos impactados, 4 subliminarmente o considerou como Parimetto relevante Usualmente refere-se a concentragtio de OD como percentual da concentragio de saturaga0, pis 0s valores absolutos podem nfo necessariamente traduzir as condigées do corpo d°égua. A. songentragao de OD 4 saturagio é diretamente proporcional & pressao atmosférica — ov inversamente & 6 CO; +6 HO + Energia 29) ‘Outra forma de redugiio do OD nos corpos dégua refere-se as perdas para atmosfera ¢ oxidago, de ons, Nesta tiltima premissa, lagos e reservat6rios por vezes apresentam variagSes significativas nas cconcentragéies de OD no periodo notwrno, gracas a0 inverso do processo da fotossintese (equagdo 2.10) realizado pelas algas e plantas aquiticas que, na respiragdo, consomem 0 oxigénio ¢ liberam 0 gis carbénico (CO;). 6c 6 HO + Energia —> CyHh.0, + 6 0. 2.10) (© aumento da concentragto de CO; pode causar também a redugto mais signficativa do pH © favoreeer a ressolubilizag de diversos compostos deposiados no fundo do corpo dégua, Conforme mencionado, a elevaglo das concentragSes de ferro © manganés solivel em éguas captadas em reservatrios de acumulaso contiuem consequéneia da redus0 do pH [As variagdes nos teres de OD esto associadas aos processos fisicos,quimicos ebioléyicos aque ovorrem nos corpos "gua, Para a manutengdo da vida aquticaaerdbin sf necessrios totes minimos de oxigniodissolvido de 225 mg/L, de aordo com ograu de exigénca de cada organism. A concentraslo de oxigénio dsponivel minima necesséria para sobrevivéncia das espéces de gua doce 6 de 4 mg/L para a maioria dos peixes ede 5 mg/L para trata e sales, o que explia a prevaléncia destasespvies em dguas de baixa temperatura principalmente no norte dos EUA ¢ Canad, Em condigdes de anaerobiose (auséncia de oxigénio dissolvido) os composts quimioos s80 ‘encontrados na sua forma reduzida (nao oxidada), geralmente solivel no meio liquido, disponibilizando, Portanio, as substinias para assimiago pelos organisinos que sobrevivem nests condigSes no ambiente aquitico, A media que se cleva a concentagao de oxignio dissolvid os composts vBo se preciptando, feando armazenados no fundo dos corpos dua, Salinidade AA salinidade das iguas naturais vincula-se & presenga de sais minerais dissolvidos formados por énions como cloreto,sulfato e bicarbonato e eétions como calcio, magnésio, potissio sédio, A difculdade inerente determinagdo da concentragdo de cada sal — cujo somatGrio seria a mais precisa indicagdo da magnitude da salinidade — culminou com o usual emprego da concentragio de cloretos como estimativa desta caracteristica quimica. A concentragHo de cloretos como indicador da salinidade insere-se também, guardadas as especiticidades de cada compo d'égua, a condutividade elétrica ou 1 concentragio de sélidos totais dissolvidos. Como consequeéncia, a determinagao da condutividade clétrica constitui-se indicador confiével da salinidade do corpo d’égua, Asalinidade dos corpos dSgua resulta sobretudo dos seguintes fatores (Esteves, 1988): j) intrusto de agua do mar no aquifero fretico, por vezes maximizada pela magnitude da -vazio recaleada ¢ consequente rebaixamento do nivel do lengol; {i) gra do intemperismo e composigao das rochas e solos da bacia de drenagem; j) balango hidrico referent & precipitagdo ¢ & evaporagio; 48 a iv) influéncia e caracteristicas das 4guas subterraneas; 'y) langamento de éguas residudrias domésticas ¢ industriais.® Exemplifica 0 fator (ii) o aumento progressive da concentragao de cloretos em acudes da Regido Nordeste do Pais, em razao da significativa evaporagiio e da curta duraydo da estagio chuvosa, ssualmente compreendida entre abril e julho. Apesar de nfo apresentar significado sanitirio, maiores concentragdes de cloretos conferem sabor & dgua de consumo e maior indice de rejeigao por parte da populaeao abastecida, A afirmativa anterior e a intrinseca relagio entre salinidade ¢ a concentragio de sélidos issolvidos confirmam-se pelas premissas estabelecidas pelos padrées de potabilidade nacional, ‘americano, canadense e da OMS, que convergem para os mesmos valores maximos recomendveis ppara concentrasdo de cloretos e sélidos totais dissolvidos de 250 mg/L e 1000 mg/L, respectivamente. A Resolugao 357 do Conama estabelece para Aguas doces salinidade inferior a 0,5 %o (500 mg/L), quas salobras até 30 %e e diguas salinas valores superiores a 30 %e. A perspectiva de reducio da salinidade usualmente restringe-se ao emprego de unidades trocadoras de fons, osmose inversa (tipo de filtragdo em membrana) ou, para vazOes muito baixas, estilagio solar, Demandas Quimica e Bioquimica de Oxigénio s pardmetros Demanda Bioquimica de Oxigénio (DBO) e Demanda Quimica de Oxigénio (QO) expressam a presenga de matéria ongénica, consttuindo-se em importante indicador de {qualidade das dguas naturais. O primeiro parimetro indica a intensidade do consumo de oxigénio (em mg/L) necessirio as bactérias na estabilizago da matéria orgénica carbondcea, acabando por também Jndicar a concentragdo do carbono biodegradvel. A determinagio da DBO realiza-se com base na diferenga na concentragao de OD em amostra de gua no periodo de cinco dias e temperatura de 20°C. Desta forma, se amostra de agua natural apresentar DBO de 5 mg/L. serio necessirias 5 mg de ‘oxigénio dissolvido para estabilizar, no periodo de cinco dias e & temperatura de 20 °C, a quantidade de matéria orgdnica biodegradivel contida em 1,0 L da amostra J a DQO € determinada por titulag20 quimica com dicromato de potissio (K,Cr,0,) ¢ abarca ‘oda matéria orgénica ~ passivel ou no de degradacdo pela ago bacteriana ~ ¢ o resultado € obtido fem menos de 3 h, sendo uilizada no monitoramento mais estrito da performance de estagies de ‘ratamento de esgotos. Desta forma, a DBO refere-se & matéria orginiea passivel de ser estabilizada biologicamente, enquanto a DQO engloba a parcelaestabilizada quimicamente, tendo, portant valor sempre superior. Da mesma forma que para o oxigénio dissolvido, ambos parimetros no so monitorados nas stages de tratamento de agua, pois, a prépria definigao do manancial de abastecimento ha de recair para éguas naturais com DBO comumente inferior a 5 mg/L. Valores mais elevados sucedem-se em corpos d°agua receptores de efluentes domésticos (estes com DBO da ordem de 200 @ 400 mg/L) © industriis ou de aguas lixiviadas de criat6rios de animais (currais ou pocilgas). Carbono Organico total ‘Como.um dos indicadores da concentragao de matéria orgénica nas diguas naturais, 0 carbono ‘organico total (COT) divide-se em fragdes referentes as parcelas dissolvida ou particulada. A medida 23, Estima-se que uma pessoa climine diariamente algo como 6 g de cloretos, resutando em concentragdes superiores a 15 mg/L nos esgotos domésticos. Em contexto similar, efluentes de refinarias, indistrias farmacéutias e curtumes, comumente apresentam significativas concentragSes de cloretos 49 a — do COT dise valendo-se da determinagio do CO; liberado, devendo ser removidas_as formas inorginicas, como, além do préprio CO,, carbonates e bicarbonatos, pasiveis de atficialmente elevar co resultado Determina-se a fragdo dissolvida (carbono orginico dissolvido ~ COD) ao filtrar a amostra de {agua em membrana 0,45 um, com a parcelaretda constituindo o carbono orginico particulado (COP). A maior ou menor prevaléncia da parcela referente a0 COD é resultante da origem da gua natural. Por motivos ébvios, éguas subterréneas usualmente apresentam parcelainfima de COP, ao passo que rmananciais susceptiveis a receber despejos ou Aguas originérias do escoamento superficial sobre freas urbanas tenderfo a apresentar percentuais mais significativos de matéra orginica particulada, corroborados também pela maior turbidez. Também neste caso, a perspectiva de floraySes algais haveré de contribuir para ineremento desta parcela na matéria orgdnica presente nas éguas, Em dguas superfcias 0 tor de COT varia de 1a 20 mg/L, elevando-se para até 1000 mg/L nas aguas residudias, Desta forma, alteragéo significativa deste pardmetro constitui-se em indicativo de novas fontespoluidoras ebelizador das anlises a serem realizadas,tais como cor verdadeir,clorofila 4a, fSsforo total ete, Na figura 2.18 s8o apresentados os intervalos usuais para a concentragio de COT em fguas naturas ¢residuras. Fees emt cn Prefect Ja a | —} 01 o2 05 1 #2 8 1 20 50 100 200 soo 1000 ‘carbone Orgénico Total mg Cl Figura 2.18. Amplitude de variago da concentragao do COT em éguas naturis. te: Cob Coxe Bers (995). ‘A amplitude da concentragdo de COT nas éguas superficiais guarda relagdo com @ regio na qual se insere 0 corpo d’égus, Monitoramento realizado em cito corpos d'gua (ios, lagos € reservatorios) da Regiio Amaz6nica apresentou concentracdes significativamente superiores 4 média da figura 2.18. As concentragSes médias registradas com base em 20 a 28 observagies variaram de 8,7 mg/l 162 mel. (© COT, sobretudo na forma dissolvide, assume papel preponderante no desenvolvimento da comunidade algal no ecossistema aquético. Além de se inserir na cadeia tréfica de bacéras ¢ alga — como agente preciptador de nutrentes na camada benténica para produgio prima -, 0 COT tua também no processo de fotossintese, por intermédio da interferéneia na penetragdo das radiagBes solares no corpo d'égua. Arelevancia do monitoramento do COT consolidou-se na perspectiva de minimizara formaga0 dios THM e outros subprodutos da desinfeosto. Neste contexto, pesquis realizada com éguas sintticas, objetivou avalar 0s riscos de céncer decorrents da formagio de tihalometanos, a razio de nimero de casos anuais por milhfo de pessoas. Inicialment, afriu-se a formagao individual das espécies ‘em fungio da concentrago de COT. Os ensaios ~ cujos principais resultados estio apresentados na 50 oe figura 2.19 — foram realizados & temperatura de 25 °C, tempo de contato de 3 horas e dosagens de cloro de 0,5 a 1,5 mg/L (Black; Harrington; Singer 1996). 80 o 2» 2» um 0 2 CCarbono Orginico Tots (malt) Figura 2.19. Concentragdes das espécies de THM resultantes da cloracto de éguas sintéticas. Da analise dos resultados expressos na figura 2.19 depreende-se que a concentragao total de THM ~ somatério das quatro espécies — supera os limites maximos permissiveis no Brasil (100 ug/L) para teor de COT superior a 3 mg/L. Embora as éguas naturais usualmente apresentem baixas concentragSes de fon brometo — concentragdes mais elevadas sucedem-se em 4reas costeiras em ‘irtude da intrusto salina -, que favorece a significativa formaeao de compostos bromados, o limite de 3,0 mg/L de COT pode ser superado para outras éguas sem ocasionar concentragoes elevadas de THM. Diversos pesquisadores demonstraram significativas correlagdes entre FPTHM (Formagao Potencial de THM) ¢ COT para aguas naturais potabilizaveis. Como exemplos, estudo realizado por meio da andlise das 59 sequéncias de amosiras de gua bruta afluente a 12 estagdes de tratamento, cterminou-se nitida correlag2o (R? = 0,828) entre tais variéveis obtidas conforme mostrado na Sigura 2.20 (Singer; Chang, 1989). Posteriormente, significdncia ainda maior foi obtida (R’ = 0,936) para 133 amostras de éguas drenadas de solos agriculturéveis, eoriundas de mananciais superficiais — Jagos,riose reservatérios —e subterrineos (Chapra; Canale; Amy, 1997). Carbone Orginico Total (git) Figura 2.20, Correlagio entre as concentragdes de FPTHM © COT referentes as anilises do afluente de 12 ‘stages de tratamento localizadas em seis estados americanos. 5a cairuto 02 52 mn - Embora a Portaria S18 nao faga mengo ao COT ~ como também nio o faz o padrio de potabilidade americano ¢ canadense —, 0 uso extensivo dos compostos de cloro como desingetantes passou a conferir maior importincia a esse parimetto, pois os écidos filvicos, assim como a biomassa de algas e cianobactérias, constituem-se importantes precursores da formagdo dos THM. Todavia, 0 elevado custo dos equipamentos de determinae4o do COT toma rarissimo no Brasil o monitoramento deste pardmetro. ‘Um dos raros empregos de equipamentos para medigdo de COT em escala real no Pais ocorre ‘em uma estagdo de tratamento de médio porte (Q = 400 L/s) em Minas Gerais. A amostragem efetua- se em escoamento continuo alternadamente por periodo de 12 horas entre a agua bruta e tratada, a primeira captada diretamente sem qualquer estrutura de acumulagao, Na figura 2.21 sfo apresentadas as distrbuigées de frequéncia e frequéncia acumulada do monitoramento das concentrages de COT Verificadas no afluente no periodo de estiagem (agosto 1998). Tais concentragdes foram determinadas ‘com base nas médias aritméticas dos valores instantineos durante cada periodo didrio de 12 horas. ws se wo a 1 a E100. 800 % an Bee on : Pa ae Fs 93 20 fs Sh Pah gO 5 stg? PAO AN AE AP ab NP AP AP FP PPP PP PH PY PP PP? Percanual Acumulado (1) ‘Concentragio de COT (malt) Figura 2.21. Histograma da concentragao de COT e curva dos percentusis acumulados para a gua brut Posteriormente, realizou-se idéntico monitoramento durante o més de janeiro de 1999 e nto se verificou elevacdo significativa na concentragao de COT. Em ambas situagoes, a correlaglo entre a concentragao de COT e a turbidez da agua bruta foi insignificante e, como seria de se esperar gracas 40s baixos valores de COT, poueo superior para o period de estiagem (© = 0,163) quando a turbidez rmédia foi da ordem de 24 uf elevando para 170 uT no periodo chuvoso. [Em ambos periodos, observam-se mais de 80 % dos valores amostrados iguais ou inferiores 41,0 mg/L de COT. No periodo chuvoso, verifica-se uma clevagio deste percentual para 90% das amostras. Tais resultados provavelmente apontam menor capacidade das arglas predominantes na bacia hidrogtifica de’ adsorver compostos orgénicos. Valendo-se dos resultados do monitoramento constata-se 0 baixo teor de COT nesta agua bruta, quando comparados aos observados nos mananciais americanos, ea possibilidade de acréscimos significativos no afluente @estacao de tratamento pode ser consequéncia de alguma atividade antrépica na bacia hidrogrfica. Os teores de COT na dgua tratada ~ também aferidos diariamente durante 12 horas — mantiveram-se consistentemente abaixo de 0,8 mg/L (ibinio et al, 2000), Compostos organicos Relacionada ao COT, pois todos compostos ou contaminantes orginicos tm © carbono associado a um ou mais elementos, a concentrago de diversos contaminantes orgénicos na quase ‘etalidade reflete as consequéncias das atividades antropicas para com a qualidade dos corpos d’dgua. Grupo de compostos orgénicos denominado hidrocarbonetos contém apenas étomos de carbono e Sidroztnio, ao passo que virios outros incorporam também o oxigénio. Destacam-se pela presenca nas ‘Sgu2s naturais 0 benzeno (C,H), tolueno (C3H,),xileno (CyB) @ metano (CH,) Além dos subprodutos da desinfecga0 e dos agrotéxicos, destaca-se variedade de compostos ‘xzinicos sintéticos resultado do langamento de efuentes industiais,lixiviagdo de solos agriculturéveis 6e vias urbanas,e percolagio de solos contaminadas. Estes compostos,além do carbono hidrogénio, podem conter halogénios, tais como fiior e cloro, e metais inorgénicos, e a quase totalidade causa efeitos adversos a satde humana. Parcela destes compostes, utilizada na fabricagdo de solventes, é ‘passivel de volatlizagio recebendo a Gbvia denominagio de compostos orgénicos voldtes. Embora ‘alguns destes possam causar danos a saiide humana, a principal dificuldade de monitoramento reside ‘= scurécia necessiria & determinagao de concentrages muito baixas na dgua de consumo. ‘Na Portaria $18, no grupo de substincias quimicas passiveis de risco A sade, listam-se 12 ‘Sompostos orginicos sintéticos ¢ estabelecem-se limites que variam de 0,50 ig/L para a acrilamida ~ ‘Sompostointegrante dos polimeros orgnicos sintticos por vezes utilizados no tratamento de égua— a 79 ug/L para o tricloroeteno, tilizado como solvente na indistria quimica. No padrio de potabilidade smericano 08 contaminantes orgénices incluem os agrot6xicos em listagem que integra 53 dos 87 ‘parimetros de qualidade de agua que compdem a lista (AWWA - American Water Works Association, 2006). Na tabela 2.3 apresentam-se as concentragdes méximas dos 12 compostos orgdnicos integrantes, des padres de potabilidade nacional americano, Vale ressaltar a significativa convengéncia, para a ‘guase fotalidade dos compostos orgénicos listados, entre os limites estabelecidos pela Portaria S18 e pels OMS, na qual recebem a denominagao de valores-guia. ‘Tabela 2.3. Concentragdes méximas dos compostos organicos inseridos na Portaria S18 ¢ no padi de potabilidade americano Padiiio de Potabilidade Padrio de Potabilidade Composte Organico rio tebe ‘Actilamida 05 enzeno 5 Benzolalpireno o7 Cloreta de vrila 5 41.2 Dicloroetano 10 1.1 Dicloroetena 20 Diclorometano 20 5 Estireno 20 100 Tetracoreto de carbono 2 5 Tetracoroeteno 40 5 Ticlorobenzenos 20 70 Ticloroeteno 70 5 +0 ado enero eport-sa mg/L ale objetvoufsinaconparso ene ambes eis ‘A comparacdo entre as concentragdes méximas dos 12 compostos orginicos comuns as duas Jegislagdes remete aos distintos estigios de desenvolvimento industrial entre os EUAe o Brasil. Apenas. para trés compostos orginicos, a concentrago maxima no padrio americano supera do nacional, provavelmente gragas « maior susceptibilidade das iguas nos EUA a esse tipo de contaminagto e aos equipamentos necessirios as andlises. A USEPA (United States Environmental Protection Agency) estabelece interessante distingo para os contaminantes onginicos, dividindo-os em trés categorias (AWWA, 2003). A. primeira (Categoria 1) congrega os compostos sobre os quais hé forte evidéncia acerca das suas propriedades 3 CcaPfruto o2 54 carcinogénicas ea recomendagto é de se atingir como objetivo concentragdo nula nas dguas de consumo (Maximum Contaminant Level Goal. Todavia, ba limitagies em termos da detecgio destes compostos por meio de téenieas laboratoriais confidveis ¢ da propria remogdo na estagio de tratamento. Para os integrantes da Categoria Il as evidéncias acerca das propriedades carcinogéncias ndo so definitivas, mas outros efeitos nocivos a saide jé foram confirmados. Para os demais, Categoria III, nfo hé evidénecia de efeitos carcinogénicos, mas outros efeitos & saide jd se confirmaram, tais como, danos a0 figado e aos sistemas cardiovascular e nervoso central. Com base nestas categorias estabelece-se valor numérico para cada contaminant. Recentes pesquisas t8m-se reportado a produtos da indiistria farmacéutica utilizados em tratamentos de reposig2o hormonal, constituintes de pilulas anticoncepcionais e de cosméticos presentes nos efiuentes de estagSes de tratamento de esgotos. Estes compostos recebem denominaydes Vitias de perturbadores endécrinos a agentes hormonalmente ativos, esta mais abrangente por abarcar também alguns metais pesados, agrotéxicos e outros compostos orgénicos passiveis de atuar no sistema hormonal dos seres vivos (Bianchetti, 2008). Ha indicios que tais compostos nas éguas naturais possam afetar a biota aquética por meio da feminiizagdo da fauna ictiolégica reduzindo sua capacidade de reprodusio. Em segunda instincia, podem fomentar 0 desenvolvimento de diversos tipos de tumores e mesmo redugo da fertiidade humana. Ferro ¢ Manganés Ambos metais otiginam-se da dissolugdo de compostos de rochas e solos. Por ser um dos clementos mais abundantes, © ferro é habitualmente encontrado nas éguas naturais, superficiais € subterrdneas, apresentando-se nas formas insolivel (Fe”) e dissolvida (Fe), como dxidos, silicatos, carbonatos, cloretos, sulfatos ¢ sulfitos. A segunda forma é frequente em guas subterrdneas de pogos artesianos, e no fundo de lagos e reservatorios ce acumulagao onde se verificam baixas concentragBes de oxigénio dissolvido. A equagdo 2.11 ilustra a forma usual do ferro em dguas subterrineas. FeCO; +O, +H,0 > Fe +2 HCO; Qa Embora bem menos abundante e quando presente frequentemente associado ao ferro, 0 manganés também se apresenta na forma dissolvida (Mn™) e insolfivel (Mn‘* e Mn™) em menores ceoncentragdes quando comparado ao ferro. Por se apresentar mais estivel na forma reduzida do que 0 ferro, a oxidagiio do manganés torna-se mais dificil e a simples aerag&o geralmente nao ¢ suficiente para sua remogdo. Em contrapartida, como usualmente apresenta-se nas formas de éxidos, carbonatos ou hidrdxidos pouco soliiveis, as concentragdes de manganés em éguas superficiais raramente excedem 1,0 mg/L, a excegéo das mesmas citcunstincias verificadas para o ferro em relagio a éguas subterrineas de pogos profundos com baixas concentragdes de oxigénio dissolvido. Para aguas superficiais, a condigao de anaerobiose nas camadas mais profundas dos reservatérios seme sae orelis eee eG chen eee een cies aera oe de ferro e manganés anteriormente precipitados. Conforme meneionado, tas metas apresentam-se na {rma de hidroxidos (Fe(OH); ¢ Mn(OH),), bicarbonatos (Fe(HHCO:); e Ma(HCO.),), sulfatos (FeSO, ¢ MnSO)), entre outras. Adicionalmente, estes metais podem se apresentar complexados & matéria ‘orginica, perspectiva que, embora ndo afete substancialmente os mecanismos de remogio, pode favorecer a formagao de subprodutos quando se efetua a pré-desinfecedo com compostos de cloro. Caso ocorra inversio térmica, compostos solveis de ferro e manganés atingem as camadas superficiais do corpo d'égua e, com alguma frequéneia, o ponto de eaptago da gua bruta. A acrago superficial em razio da ago do vento fecha o ciclo por meio da nova oxidagdo destes compostos e posterior sedimentaglo, Assim, estruturas de captago que permitem afluéncia da Agua bruta a distntas Cee profundidades, denominadas torres de tomada, devem ser operadas pouco abaixo da superficie nos reservatdrios nos quais se verifica maior perspectiva de floragio algal e pouco acima da camada na qual a concentragio de oxigénio dissolvido é mula Na estagio de tratamento, a oxidagio do ferro comumente conduz a formar do precipitado de hidréxido de fero, de facil sedimentabilidade on retengo no meio filtrante. Por outro lado, as formas de didxido de manganés decorrentes da oxidagdo deste metal apresentam-se como flocos ‘nuito pequenos de menor sedimentabilidade e passiveis de mais facilmente nfo serem retidos no meio filtrante, Atenua esta caracteristica, a possibilidade dos flocos de hidréxido de ferro envolverem os flocos de didxido de manganés, favorecendo sua remogio. Todavia, nas éguas superficiais, com alguma frequéncia o ferro apresenta-se complexado a ‘matéria orgénica. Nestas circunstincias, a matéria orgénica pode envolver 0 metal, minimizando 2 oxidago © subsequente precipitagao na forma de hidréxido. Diversas pesquisas evidenciaram 4 capacidade de alguns deidos orginicos, como tinico ¢ hiimico, de formar complexos com ferro ferroso (Fe"), praticamente inviabilizando a oxidag2o com oxigénio. Como estes deidos resultam da decomposigdo da matéria orgénica de origem vegetal, reduz-se significativamente a remogao do ferro (Sommerfeld, 1999), Neste contexto, a oxidagdo pode ser realizada com maior eficiéncia com ppermanganato de potdssi, cloro e seus compostos. Mais rapida forma de oxidacdo dos compostos de ferro e manganés ocorre por meio de grupo especifico de bactérias aptas a converter o ferro solivvel (Fe) em insolivvel (Fe"), sobretudo dos sséneros Crenotrix, Leptothrix, Sphaerotilus e Gallionella e, no sem rizRo, recebem @ denominago de ferrobactérias. Estes microrganismos fazem-se presentes em Aguas subterrineas em praticamente todas as partes do Globo e, em condigdes favordveis, mesmo em reservatérios de acumulagdo e lagos. Alm da presenga de ferro € manganés, fatores como temperatura, insolago, pH, matéria orginica ¢ potencial redox” hao de influenciar no desenvolvimento das ferrobactérias Especificamente nos sistemas de abastecimento de Agua, 0 desenvolvimento destes :icrorganismos, habitualmente como consequéncia da desinfec¢do inadequada e remogio insatisfat6ria de ferro e de manganés, conduz.a severas incrustagBes nas paredes das tubulagdes causadas pela propria bbiomassa e pelas formas insoliveis destes metais. Quando tal se sucede, reduz-se expressivamente a capacidade de escoamento nas adutoras € redes de distribuigio ¢ confere-se cor, odor e sabor & dua de consumo, Sob condigdes favoraveis o biofilme ja estabilizado formado por ferrobactérias torna-se praticamente imune as dosagens de cloro residual comumente verificadas nas redes de distribuigao. Embora por si 6 nio causem danos sate humana, as ferrobactérias podem mascarar a presenga de ‘eventuais patogénicos ¢ elevar as dosagens (demanda) de desinfetant, Concentragao mais significatva destes compostos na agua bruta e remogo insatisfatsria, prineipalmente do manganés, culminaram no final da década de 1980 com a altera¢o do sentido do escoamento dos fitros (de ascendente para descendente) de estacio de filtragio direta de grande porte (vazio da ordem de 1,7 m/s) que abastece a Regio Metropolitana de Belo Horizonte. Ainda que as condigées de coagulagao paregam ter sido determinantes para resolugio do problema, é igualmente possivel que as caracteristicas do novo meio filtrante tenham favorecido a retengio de flocos de ‘menores dimensées ¢ methorado a qualidade do efluente da estagao. Situagdo semethante foi vivenciada pelos profissionais responsdveis pela operagio da estagao de tratamento de Agua da cidade canadense de Muskoka (va7io affuente da ordem de 350 Lis), na provincia de Ontério, em setembro de 2001. A gua bruta afluia a estagdo com concentragio de 24, Potencial redox constitui a medida (em volts) da prevaléncia entre as forgas redutoras ou oxidantes, Desta forma, valores negativos indicam ambiente propico & reduglo, no caso de Fe™ para Fe e Mn pura Ma, formas mais facilmente assimiléveispelasferrobactérias. = ae 55 manganés de 0,44 mg/L. predominantemente na forma solivel - ea edugo era pouco significativa no tratamento (0,38 mg/L), com efluente significativamente superior ao padrlo de potabilidade da Provincia (0,05 mg/L). A dgua bruta captada no Lago Stewart apresentava elevada concentragio de carbono orginico total, da ordem de 5,3 mg/L, tomando temeriria a pré-desinfeegio com cloro pela perspectiva de formacao de THM ¢ praticamente ineficaz a aeragao. A solugto reeaiu para o ‘emprego da pré-oxidayao com permanganato de potissio (KMnO,), com dosagens de 1,5 a 2,0 mgiL. Dosagens superiores de KMnO, conferiam cor & 4gua tratada e elevavam o residual de manganés (awwa, 2003), 0 ferro ndo apresenta inconveniente sanitrio, mas de carter econémico por produzi manchas em roupas © aparelhos sanitirios em concentragdes superiores& 0,3 maiL, © em maiores concentragées conferr sabor é agua de consumo. A Portaria 518 ea OMS estabelecem concentrayio mxima de ferro total de 0,3 mg/L, idéntico valor adotado pelo padrdo americano e canadense. A remogio de ferro pode se ealizar por aerag20— para favorecer a oxidago a forma insolivel -, coagulagao ou pré-desinfecgd0 com compostos de cloro, Como o ferro, o manganés nas concentrapBes comumente encontradas nas iguas naturis ndo presenta significado sanitiio e os inconvenientes sio de natureza estéica c, em concentrages superiores a 0,01 mg/L, de saboradstringente. Concentragdes superiores 0,05 mg/L podem favorecer ‘© aparecimento de manchas em vestes e aparethos sanitarios. O padrio de potabilidade brasileiro cstabelece concentragdo maxima de 0,1 mg/L, ao passo que o americano e eanadense limitam em 0,05 mg/L. Interessante salientar que a OMS estabelece valor signifcativamente mais elevado (0,4 mg/L), ressaltando a possbilidade de eclamagdes dos usuarios acerca da aparénea, saborc odor. Por fim, ambos meiais, apés a oxidac20 por vezes na prépria residéncia, atingindo a forma insoldivel podem conferir cor marrom ou avermelhada & 4gua de consumo e fomentar a rejeigio pela populagdo abastecida. Nitrogénio nitrogénio, gis mais abundante na atmosfera terrestre (78 9), pode ser encontrado nos compos «agua em fumgao do seu estado de oxidaco (que varia de -3 a +5) sob as formas: {) nitrogénio orgénico na forma dissolvida (compostos orginicos nitrogenados como ueia e ‘aminodcidos™) e particulada integrando a biomassa dos organismos do meio aquético; ii) nitrogénio molecular (N:), sujeto a constantes perdas na atmosfera; i) nitrogénio amoniacal, gis amdnia (NH) e fon aménio (NH,’, formas reduzidas presentes em condigbes anaersbias™; iv) nitrto (NO;), forma intermediéria encontrada em concentragdes insignificant sob condigies aerdbias em virtude da quase instantinea oxidago a nitrato; ¥) nitrato (NO,), forma oxidada e nutriente essencial para a maioria ds organismos do corpo hidtico. © nitrogénio constitui, junto com o fésforo, nutriente essencial ao crescimento de algas, ccianobactérias ¢ plantas aquiticas, facilmente assimilavel nas formas de amOnio e nitrato. Em relagao 4 forma molecular, fator relevante a floragiio de algumas espécies de algas e de cianobactérias em 25, Concentragdes elevades podem provocar distirbios de naturezapsicoldgica e neurolégics 26, Molécula orginiea usual componente das proteinas que apresenta pelo menos um grupo amina ligado um grupo carboxila 27, A aménia apresenta-s na forma nfo jonizads (NH) e/ou como fon amdnio (NH,") 56 lagos e reservatérios de acumulagao, refere-se & capacidade de fixagdo do nitrogénio atmostirico ~ & ‘conversa a nitrato~, permitindo 0 seu creseimento mesmo quando as outras formas de nitrogénio no esto disponiveis na massa liquida ‘As principais fontes naturais da parcela dissolvida do nitrogénio constituem a decomposigao ¢ excregdo do fitoplincton (sobretudo cianobactérias) € das imacrOfitas, a lise celular decorrente da senescéniia ou herbivoria, proteinas, clorofilae outros compostos orgénicos. Estima-se que 10 % do nitrogénio assimilado pelo fitoplancton retomne ao meio aquitico como nitrogénio orgénico dissolvido, De modo geral, o aporte externo de matéria orgénica e inorgénica, as precipitagdes ¢ a mencionada capacidade de fixaga0 do nitrogénio atmosférico por algumas algas, bactériase cianobactérias retratam ‘outras fontes naturais de nitrognio para os corpos d’égua (Esteves, 1988). ‘Além da origem natural, a presenga do nitrogénio nas éguas pode denotar também significativa corigem antrépica, graas ao langamento de despejos domésticos — a quase totalidade nas formas de nitrogénio orginico (40%) e amdnia (60 %)~, industriaise de eriatérios de animais, assim como dos fertilizantes (na forma de nitrato) utilizados em solos agriculturiveis passiveis de serem lixiviados pelas chuvas. 0 ciclo do nitrogénio, de forma simplificada, realiza-se por meio de bactérias nos processos denominados niticagdo e desnitrificacao. O primeiro consiste da sucessiva oxidacao do gis aménia (NHL) anitrto e posteriormente a nitrato, realizado sob condigdes aerdbias pelas bactérias nitrficantes do género Nitrosomonas, a0 pass0 que 0 segundo refere-se a redudo do nitrato a nitrogénio gas0s0 realizado pelas bactérias do género Nirbacter sob condigdes andxicas (auséncia de oxigénio livre). Desta maneira, as formas do nitrogénio traduzem o esto da poluigao do corpo d’agua. Concentragbes de nitratoe nitro c as formas oxidadas indicam poluigao remota, ao passo que nitrogénio orgénico ou amoniacal poluigio recente.* ~ _Adicionalmente, concentragées significativas do fon aménio resultam em reducao do oxigénio dissotvido despendido na nitrficagio e, em éguas de pH clevado, ocorre a conversio no gis aménia”, nocivo a algumas espécies de peixes mesmo em concentrages da ordem de 0,5 mg/L. O efeito nocivo dda aménia e sua relago com o pH das éguas explica os distintos limites estabelecidos pela Resolugio 357 do Conama™ para éguas de Classe 3, na qual se estabelecem concentragdes méximas de nitrogénio amoniacal total de 1,0 mg/L (para pH> 8,5) 13,3 mg/l-(para pH <7,5). Em termos de potabilidade, a Porfaria 518 limita em 1,5 mg/L concentracao mixima de aménia (como NH,), valor eoincidente com © revomendado pela OMS visando a atenuar os problemas relacionados a odor da 4gua de consumo, “A forma de nitrato esti associada & doenga metahemoglobinemia, responsdvel por acometer bebés 20 dificultar 0 transporte de oxigénio na corrente sanguinea podendo levar & morte. A denominagao genérica de doenga do bebé azul decorre da redugao do nitrato a nitrto na saliva ou no trato intestinal e ao atingir a corrente sanguinea confere esta cor a pele da crianga. Esta forma do nitrogénio oxida a hemoglobina (proteina responsivel pelo transporte de oxigénio) do sangue a metahemoglobina, levando & anoxia. Aredugao é mais significativa, atingindo até 100%, nos primeiros tr8s meses de vida da crianga, ao passo que nos adultos somente 10 % do nitrato ingerido € passivel 2s, E comum na caracterizaglo de aluentes, a estagdo de tratamento de esgotos reportar-se ao Nitrogénio Total Kjeldahl (NTK) como o somatério do nitrogénio orgnico e amoniacal Esta conversio di-se por meio da equaglo NH, ~ H’ «> NH". Assim, para valores de pH inferiores a 8, praticamente toda aménia presente encontra-se na forma ionizada (NH,"), pH igual a 9,5 as formas ionizads no ionizada equivalem-se e pH superior 11 toda aménia apresenta-se como NH, ‘Tanto a Resolugio 357 como a Portaria 518 reportam-se & concentragio de nitrogenio em termos de amOa‘a, nitrite ou ntrato ou N-NHb, N-NO;e N- NOs: Desta forma, 1,0 mg/L de nitrito (como N) equivale a 1,0 mg/L de strato (como N), pois ambas formas apresentam apenas um tome de ntrogénio. Similarmente, 443 mg/L de nittato 6 igual 21,0 ml. de nitrato (como N), raz entre o peso molecular do nitrato e do nitrogenio (62/14) 57 SE de ser reduzido a nitrto. Aguas de consumo com concentragio inferiores a 10 mg/L nfo resultam em desenvolvimento da metahemoglobinemia e somente 2,3 % dos casos parecem se relacionar a concentragdes entre 10 € 20 ma/L de nitrato, Por esta razio, a Portia $18 e o padiio de potabilidade americano estabelocem idénticos limites para nitrato (10 mg/L) entrto (1,0 mg/L). OMS recomenda para ntrato concentragdo de 50 mg/L (aproximadamente 11,3 mg/L como nitrogénio) e para nitito 3 mail. (aproximadamente 0,70 mg/L como nitrogénio) ‘A assimilagdo do nitrato pelas plantas —a ago fotossintética converte- a nitrogénio orginico como integrante celular ~ concorre para que as concentragies sejam baixas nas iguas superfcias, usualmente inferiores a 2 mg/L. Em contrapartda, aquifeos fredticos em regides de vegetagio mais cescassa passiveis de contaminaglo por esgotos ou fertilizantes podem apresentar concentragdes superiores a 20 mg/L (Dezuane, 1997. Fésforo Por ser menos abundante que 0 nitrogénio, 0 fdsforo — quase sempre na forma de fosfato derivado do dcido fosférico ~ acaba por se constituir com muita frequéneia no principal fatorlimitante a0 desenvolvimento de algas e plantas no meio aqustico, Em termos mais generalistas, 0 fosfato” apresenta-se nos compos d'agua na forma orgdnica ou inorganica ¢ partculada ou dissolvida, com 0 osfato total consttuindo-se no somatério destas quatro fragées, ‘A parcela organica do fosfato, particulada ou dissolvida, apresenta-se complexada & matéria forginica dos organismos integrantes do ecossistema agustico. 14 0 fosfato inorginico de origem ‘natural usualmente origina-se da lixivingo das rockas fosfatadas, predominantemente constituidas de apatita’, ou da agregagao a compostos inorganicos como hidréxido de ferro. Em areas menos afetadas pela ago antrépica, gragasa percolagao earmazenamento nos intersticios do solo, as éguas sbtertineas apresentam concentra¢des mais significativas de fosfato comparadas is 4guas superfciais, As formas ‘mais comuns nos corpos d'4gua, ortofosfatos ¢ polifosfatos, resultam também do langamento de despejos domésticos* ¢ industrais, fertilizantes e lixiviagdo de eriatérios de animais. Os polifosfatos, todavia, apresentam baixa relevineia em virtude da hidr6lise e imediata conversio a ortofosfatos. ‘As formas de ortofosfatos, sendo HPO," a mais comum para as faixas de pH das éiguas naturais, silo as mais facilmente assimilaveis por algas e macrofitas incorporando-o & biomassa, Em éiguas nfo poluidas, esta capacidade do fitoplincton e das plantas aqusticas resulta em concentragdes de fosfato dissolvido comumente inferiores a 0,02 mg/L proximo a superficie do corpo d’égua, O fésforo no presenta inconveniente de ordem econmica ou significado sanitério para iguas de consumo humano, nto integrando os padrdes de potabilidade nacional, americano e da OMS. "i Fluoretos Menos frequentes em dguas superficiais que os cloretos, concentragdes de fluoretos (F>) sto relativamente comuns em éguas subterrdneas decorrentes da decomposigo de solos erochas, Eventuais, langamentos de despejos industriais concorrem para elevar as concentragdes nas dguas superficiais. Em coneentragdes superiores a 2,0 mg/L podem favorecer o desenvolvimento da fluorose — progressive escurecimento e deterioragiio dos dentes. Nao hi comprovagao de nenhum tipo de carcinose ou outros efeitos adversos a salide decorrente da ingestio de fluoretos. Tedavia, ingestio 31. Mineral de fosfato de ileio constitute das rochas fosfatadas c empregad na fabricagao de fetilizantes edo Acido fosfrieo, 432. Os esgotos doméstcos concorrem para significative aporte de fosfatos aos compos dégua, cansequéncia da eee ‘materia orginicae, em especial para as populagdes mais abastadas, do extensivo empregado de detengentes. 58 MAE Gerante periodo prolongado de égua com concentragdes superiores @ 4,0 mg/L pode favorecer 0 desenvolvimento de ostevesclerose™ assintomitica. O padrio de potabilidade brasileiro e da OMS volume diario ingerido. Metais pesados AA genética denominagio de metais pesados inserem-se amplo rol de elementos como cromo, cobre, meredirio, magnésio, chumbo, cédmio, zinco, cobalto, niquel, molibdénio ¢ prata passiveis de

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