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~> 7 sinopses (/—urtorcas Direito de Familia ‘Dtreito lem Mara y Carlos Roberto i Goncalves SINOPSES JURIDICAS Apresentar, numa abordagem conelsa e objetiva. os inatitutes que compéem os varios ramos do diveito, abrangendo, em volumes eapecificos para cada disciplina, o conteside necessdirio a uma efiiente revisdo do programa dos principais coneursos na drea Juridica, ou mesmo uma intreduedo as matérias curieulares, E este, pois, o objetivo desta Colepée: constituir-se em berramenta habil ao Juridieas, eomo fonte de consulta rapida coeea, de fdeil asstmilagao e com farto eontetido, Ao estudante, em seus pri contatos com a matéria, as Sinepses se fazer, Igualmente, de indiseutive utilidade, proporcionando uma visdo gerat apta a norted-lo em seus estudos Juturos . ao mesmo tempo, especitica o subiclente para propieiar @ compreensdo imediata dos tépicos tratades, Para manter seu cardiersintétieo, sem abrir mdo da necesscria qualidade doutrindria, « Cotepae foi organizada no sentido de allar 0 méximo de contetido ao maximo de pratiidade, Assim. poram selecionades autores com vasta experiéncia ne magiatério superior @ em cursos preparatérics para ingresso nas careiras juridions, além de large vivéncia no cotidiane forense e familiaridade com 0 trabatho aeadémico de pesquisa e Aesenvolvimento clentitico do direto, irae ee Saraivajur.com.br SINOPSES JURIDICAS Carlos Roberto Gongalves Desembargador no Tribunal de Justica de Sao Paulo. Mestre em Direito Civil pela PUCSP. Professor no Complexo Juridico Damasio de Jesus. Dtreito de Familia 14 edicdo reformulada 2010 Volume 2 Editora Saraiva SRILA dain eee SETESSORNIE ene? TB Saraiva nn, 27 Cie st — Salo — Dele ica Cob br Henig ncn, 0 — Sto — ni lt ie 1) 3818300 ‘CAR 8055 7688 Be 80 des 850851830, savinix@odtonsekaonke eas: wo sarc. btm cil Bst 2 hae de fates 3. a sscarigeriatabae ABREVIATURAS Fa (VD SSSGATAT Fr 10 36534762 — Moos 0 = tome nana eaten kote nan ne. ; EES as ADCT — Ato dat Diponigdet Coniionsis Tania ccna a een aor Fe hose ecb S07 be Ap. — Apelagio ee litigioso (© procedimento adotado seré 0 previo nos aris. 1.120 0 1.124 do CPC, obser. ‘odes sindo outros normas especiicadas no af. 40, § 2, la, da Lei do Divércio. divércio pode ser concedido sem que hoje prévia partilho de bens (CC, or. 1.581) Seguiré 0 procedimento ordinério (LD, crt. 40, § 38), Nao hd necessidade de tentative de reconciliogio, nem se oplica ‘0 :egra do art. 447 do CPC. Arevelia do réu no dispensa o autor da prova do nico requisito exigido pela lei: 0 decur s0 do prazo de mais de 2 nos de sepa: ragdo de fato. Suariruto It DAS RELACOES DE PARENTESCO Carituto | DISPOSICOES GERAIS @ intropucho |As pessoas unem-se em uma familia em tazdo de vinculo conjugal ‘ou unio estivel, de parentesco por consanguinidade ou outra origem e da afinidade. Em sentido estrito,a palavra “parentesco” abrange somen- te 0 consanguineo, definido como a relagio que vincula entre si pessoas que descendem umas das outras, ou de um mesmo tronco, Em sentido amplo, no entanto, inclui o parentesco por afinidade e o decorrente da adogio ou de outra origem, como algumas modalidades de técnicas de reprodugdo medicamente assstida, Denominow-se, em outros tempos, de agnasio 0 parentesco que se estabelece pelo lado masculino, ¢ de cognago,o que se firma pelo lado ferninino. Afinidade é o vinculo que se estabelece entre um dos cénjuges ou companheito e os parentes do outro. Parentesco civil € 0 resultante da adogio ou outra origem (Ct art. 1.593). Recebe esse nome por tratar-se de uma criagao da lei. © VINCULO DE PARENTESCO: LINHAS E GRAUS vinculo de parentesco estabelece-se por linhas:reta e colateral, a contagem faz-se por graus. Parentes em linha reta sio as pessoas que descendem umas das outras: bisav6, av}, pai, filho, neto e bisneto. A linha reta ascendente quando se sobe de determinada pessoa para os seus antepassados (do pai para 0 avd etc.). £ descendente quando se desce dessa pessoa para os seus descendents. ‘io parentes em linha colateral, transversal ou obliqua as pessoas que provém de um tronco comum, sem descendetem uma da outra (CC, —___ Dero be Fait art. 1.592). E © caso de irmios, tios, sobrinhos e primos. Na linha reta no hé limite de parentesco; na colateral, este estende-se somente até quarto grau. Grau 6 a distancia, em geragdes, que vai de um a outro parente. Na linha reta, contam-se os graus pelo nmero de gerayOes. Asin, pai ¢ filho sio parentes em linha reta em primeito grau. Jé avé e neto sio parentes em segundo grau, porque entre eles ha duas geracdes. Na li- nha colateral, a contagem faz-se também pelo niimero de geragdes. Parte-se de um parente situado em uma das linhas, subindo-se, con tando as geragSes, até 0 tronco comum, e descendo pela outra linha, continuando a contagem das geracdes, até encontrar 0 outro parente (Cart. tindo-se de um deles, até chegar a0 tronco comum conta-se uma geragdo. Descendo pela outra linha, logo depois de uma geragio jé se encontra 0 outro irmio. Tios ¢ sobrinhos sio colaterais em terceiro ‘grav; primos, em quarto. O parentesco mais préximo na linha colate~ ral €0 de segundo grau, existente entre irmios. Nao hid parentesco em primeiro grau na linha colateral, porque quando contamos uma gera¢io ainda estamos na linha reta 594). Assim, irmios si0 colaterais em segundo grav. Par- A linha colateral pode ser igual (como no caso de itmios, porque a distncia que os separa do tronco comum, em néimero de geragées, a mesma) ou desigual (como no caso de tio ¢ sobrinho, porque este se encontra separado do tronco comum por duas geragdes ¢ aquele por apenas uma). Pode ser também duplicada, como no caso de dois irmios que se casam com dus irmis, Neste caso, 0s filhos que nasce- rem dos dois casais serio parentes colaterais em linha duplicada. @ _ESPECIES DE PARENTESCO Dispunha o art. 332 do Cédigo Civil de 1916 que o parentesco cra legitimo ou ilegitimo, segundo procedesse ou nio de casamento, € natural ou civil, conforme resultasse de consanguinidade ou adogio. Se, por exemplo, os pais fossem casados, os irmaos seriam legitimos; se rio, seriam ilegitimos. Tal dispositivo foi expressamente revogado pela Lei n. 8.560, de 29 de dezembro de 1992. intengao do legislador foi adaptar 0 referido diploma ao art. 227, § 6°, da Constituigo, que pro Sinorses Junioicas lama terem os filhos, havides ou nio da relagao do casamento, ou por adogio, os mesmos direitos e qualificagdes, proibidas quaisquer desig nagdes discriminat6rias relativas 4 filiagio. Essa regra foi reproduzida ipsis litters no art. 1.596 do novo Cédigo Civil. Nao mais podem, portanto, os filhos ser chamados, discriminatoriamente, de legitimos, itegitinios ou adotivos, a nao set em doutrina. Preceitua 0 art. 1.593 do Cédigo Civil que o parentesco “é na~ tural ou civil, conforme resulte de consinguinidade ou outra ori- gem”. Esta pode scr, exemplificativamente, a adogao ou inseminacio artificial heteréloga. Sob o prisma legal, nio pode haver diferenga centre parentesco natural e civil, especialmente quanto & igualdade de direitos e proibigio de discriminagio. Devem todos ser chamados apenas de parentes (© casamento e a unio estivel dio origem ao parentesco por afinidade. Cada conjuge ou companheiro torna-se parente por afini- dade dos parentes do outro, Se um dos cénjuges ou companheiros tem parentes em linha teta (pais, ilhos), estes se tornam parentes por afinidade em linka reta do outro cénjuge ou companheiro. Essa afini- dade em linha reta pode ser ascendente (sogro, sogra, padrasto e ma- rasta, que sio afins em 1° grau) descendente (genro, nora, enteado centeada, no mesmo grau de filho ou filha, portanto afins em 1* grau). Cunhados (irmios de um e de outro cénjuge ou companheiro) sio afins na linha colatral em segundo grau. A afinidade & um vinculo de ordem juridica e decorre somente da lei. Como a afinidade é relagio de natureza estritamente pessoal, cujos limites sio tracados na lei, ela io se estabelece entre os parentes dos cOnjuges ou companheiros, sendo que os afins de cada um nao o sio entre si (concunhados nio io afins entre si). E,no caso de novo casamento ou unio estavel, 0s afins da primeira comunhio de vidas nio se tornam afins do cdnjuge ‘ou companheiro da segunda."Na linha reta, a afinidade no se extin- gue com a dissolugio do casamento ou da unio estavel”” (CC, art. 1.595, § 28). Assim, falecendo a esposa ou companheira, o marido ou companheiro continua ligado 4 sogra pelo vinculo da afinidade. Se se ‘casar novamente, ter duas sogras. Na linha colateral, contudo, a mor- te de um dos cénjuges ou companheiros faz desaparecer a afinidade. ; Nada impede, assim, 0 casamento do vidivo com a cunhada. Se a dis- - Ditiro De Falun solugao da sociedade conjugal se der pela separago judicial, que nfo rompe o vinculo, subsiste a afinidade entre 0 cOnjuge separado e os parentes do consorte. Com o divércio ¢ consequente rompimento do vinculo, nio mais persiste a afinidade. Nos casos de nulidade ou de anulabilidade, somente persistra a afinidade se reconhecida a pu- tatividade do casamento. QuanRO SINOTICO ~ DAS RELAGOES DE PARENTESCO ‘A palavia “porentesco” abrange somen- te © consanguineo, definido como a re ago que vincula entre si pessoas que descendem umos das outras, ou de um Tnelvi 0 parentesco por afinidade @ o de- ccorrente da adocdo ou de outra origem, como olgumas modalidades de técnicas de reprodugéo medicamente ossistido. Afinidade € © vinculo que se estabelece enire um dos cénjuges ov companheiro 08 parentes do oulto, Parentesco civil é 0 resultante da edacdo ou outa oxigem (CC, art. 1.593). # Estobelece-se por linhas: reto e colateral, e © contoger fo2-s0 por graus. 9. linha reta 6 ascendente quendo se sobe de determinada pessoa para os seus antepassados (do poi pora 0 av8 etc). E descendente quando se desce dessa pessoa pora os seus descendentes (CC, ort. 1.591}. ‘Séo parentes em linha colateral, ransversal ov oblique os pesso0s que provém de um tronco comum, sem descende- tem uma da outro (CC, ar. 1.592). € 0 caso de irméos, tios, sobrinhos e primes. Na linha rete ndo hé limite de parentesco; na colateral, este estende-se somente até o Snorses JuNDIcAs 5. Contagem ‘em graus 6. Espécies de parentesco ours Grav 60 distancia, em geracées, que vai de parente, — Na linho rote, contom-se os graus pelo nimero de ge- ragées (poi filho s80 parentes em primeiro grou; avd & roto, em segundo grav}. —Ne linha colatecal, a contagem faz-se também pslo ni mero de garacées, Parte-se de um parente sityado em umo ds linhas, subindo-se, contando as geragdes, até o lronco comum, e descendo pele outra linha, confinuando @ con: tagem das geragées, até encontrar © outro parenie (CC, art. 1,594). Assim, irméos séo colaterais em segundo grav. €@) natural: resulta de consanguinidade; b) civil: resulta de outa origem, como, p. ex., a adogio ov inseminagée atfical heteréloga (CC, an. 1.593) ©) por afinidade: origina-se do casamento e da unio est vel (CC, ort. 1.595). Carituto II DA FILIACAO ® INTRODUGAO, Filiagao & a relagio de parentesco consanguineo, em primeiro grau e em linha reta, que liga uma pessoa aquelas que a geraram ou a receberam como se a tivessem gerado, Todas as regras sobre parentesco consanguineo estruturam-se a partir da nogio de filia¢ao. A Consti- tuigio de 1988 (art. 227, § 6) estabeleceu absoluta igualdade entre todos 0s fills, no admitindo mais a retrégrada distingio entre fi- HiacZo legitima ou ilegitima, segundo os pais fossem casados ou no, ¢ adotiva, que existia no Cédigo Civil de 1916. Hoje, todos sio apenas filhos, uns havidos fora do casamento, outros em sua constincia, mas com iguais direitos ¢ qualificagé ® PRESUNCAO LEGAL DE PATERNIDADE © Cédigo Civil, no capitulo referente 3 filiago, enumera as hip6- teses em que se presume terem os fillhos sido concebidos na constincia do casamento, Embora tal nogio nao tenha mais interesse para a confi- guracio da filiacio legitima, continua sendo importante para a incidén- cia da presungio legal de paternidade. Fssa presuncio, que vigora quan- do o filho & concebido na constincia do casamento, é conhecida pelo adigio romano pater is est quem justae nuptiae demonstrant, segundo © qual é presumida a paternidade do marido no caso de filho gerado por mulher casada, Comumente, no entanto, é referida de modo abreviado: presungio pater is est, Destina-se a preservar 2 paz familiar. Dispée o art. 1.597 do Cédigo Civil que se presumem concebi- dos na constincia do casamento 05 filhos:“I — nascidos cento e oi- tenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivéncia conjugal; TI — nascidos nos trezentos dias subsequentes & dissolugo da socie~ dade conjugal, por morte, separacio judicial, nulidade e anulagio do Sinorses JunibICAs casamento; III — havidos por fecundacio artificial homéloga, mesmo que falecido 0 marido; IV — havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embrides excedentirios, decorrentes de concepgio artificial homéloga;V — havidos por inseminacio artificial heterdloga, desde ‘que tenha prévia autorizagio do marido”. Baseiam-se 0s dois primei- 10s incisos do aludido dispositivo nos periodos mfnimo ¢ miximo de gestacio vivel. O prazo de cento € oitenta dias comega a fluir no da data da celebragio do casamento, mas do momento em que se estabe lece a convivéncia conjugal (caS0 de pessoas que se casam por procura {0).No inciso Il, como as separagdes judiciais, divércios ¢ anulagdes ni se resolvem em um dia, é evidente que o prazo deve iniciar-se da separagio de fato, devidamente comprovada Se o filho nascer depois dos trezentos dias, a contar da morte do marido, nio o socorrera a presuncao de legitimidade, e, neste caso, a0s herdeiros caberi o direito de propor acio impugnativa da filiagio. Preceitua, a propésito, o art, 1.598 do Cédigo Civil:“Salvo prova em contratio, e, antes de decorrido 0 prazo previsto no inciso II do art. 1.523, a mulher contrair novas mipcias e Ihe nascer algum filho, este se presume do primeiro marido, se nascido dentro dos trezentos dias a contar da data do falecimento deste ¢, do segundo, se 0 nascimento ocorrer apés esse periodo e jf decorrido 0 prazo a que se refere 0 inciso I do art. 1.597”. Em regra, a presungio de paternidade do art. 1.597 do Cédigo Civil é juris tantun, admitindo prova em contritio. Pode, pois, ser ili- dida pelo marido, mediante agio negatéria de paternidade, que & prescritivel (art. 1.601). Nao incidira se o filho nascer antes de a con- vivéncia conjugal completar cento e oitenta dias. O Cédigo Civil de 1916, todavia, considerava absoluta tal presuncio, inadmitindo contes- taco quando o filho nascia antes do referido prazo, ¢ o marido, antes de casar,tivera ciéncia da gravidez da mulher ou assstira a lavrar-se 0 termo de nascimento sem contestar a paternidade (art. 339, [¢ Il). novo Cédigo Civil optou pelo critério biolégico, suprimindo as limi- tages i contestagao.A justificativa para a supressio do dispositivo que, no Projeto, reproduzia o mencionado art. 339 foi a seguinte:"“Corre- to, porém, 0 entendimento de mio mais coadunar-se 0, dispositive com a atual evolugio do Direito de Familia, a substituir a verdade Dieero 0 Falun ficta pela verdade real, amparado pelo acesso 20s modernos meios de produgio de prova. Hao de prevalecer 0s legitimos interesses do me- nor quanto a sua verdade real biolégica...” (Relatério Geral da Comissio Especial do Cédigo Civil, 69). Compreensivel, desse modo, no bastar a confissio matetna para excluir a paternidade (art. 1.602), nem © adultério da mulher, ainda que confessado (art. 1.600). No entanto, a “prova da impoténcia do cénjuge pata gerar, i época da concepgio, ilide a presungio da paternidade” (art. 1.599). Exigia 0 Cédigo de 1916 que a impoténcia fosse absoluta, ito é, total, insuscetivel de ser sanada por intervengio médica. © novo diploma, todavia, no consi- dera mais necessério que seja absoluta, o que reflete 0 avanco das provas técnicas existentes para a demonstra¢io da filiagio, dentre as uais se destaca 0 exame de DNA. Sé a impoténcia generandi (no a coeundi ou instrumental) pode ser arguida pelo marido, provando 2 auséncia total de espermatozoides em seu liquido seminal (azoosper- mia).A mutilagio, que poderia ser uma espécie de impoténcia instru mental, inviabiliza a fecundacao natural pela impossibilidade de ejact lagio, mas ndo a inseminagao artificial. Somente incide a presungio pater is est se houver convivéncia do casal. Com 0 desenvolvimento da ciéncia e a possibilidade de se realizarem exames que apurem a pater~ nidade com certeza cientifica, especialmente por meio de DNA, cuja molécula contém o c6digo genético pela heranga cromossémica de cada individuo, prevaleceri a verdade biolégica, @ AGAo NEGATORIA DE PATERNIDADE No sistema do Cédigo Civil de 1916 a presungio pater is est mos- trava-se rigorosa, pois, se 0 casal vivia sob o mesmo teto € © marido rio se achava fisicamente impossibilitado de manter relagio sexual com a mulher, no teria como ilidi-la, mesmo provando o adultério por ela praticado. © marido s6 podia contestar a paternidade do filho nascido de sua mulher provando que, no perfodo em que esta engra- vidou (de 6 2 10 meses antes do nascimento), encontrava-se fisica~ mente impossibilitado de coabitar com ela ou que jé estavam legal~ mente separados. Dentre as hipéteses de impossibilidade fisica de co- abitacio a jurisprudéncia incluia a impoténcia generandi (esterilidade), desde que absoluta, ¢ a separagio de fato. Sinorses JURIDICAS © novo Cédigo Civil, contudo, suprimix todas as limitagSes & contestagio da paternidade e declarou imprescritivel a a¢do negatéria, evando em conta o desenvolvimento da ciéncia e a possibilidade de se aputar 0 “pai bioldgico” com a desejada certeza cientifica, em razio da evolugio dos exames hematolégicos. Conhecida também come agio de contestagio de paternidade, a aco negatéria destina-se a ex- cuir a presuncio legal de paternidade. A legitimidade ativa € privativa do marido (att. 1.601). S ele tem a titularidade, a iniciativa da acio, ‘mas, uma vez iniciada, passa a seus herdeiros (art. 1.601, pardgrafo {inico), se vier a falecer durante o seu curso. Assim, nem mesmo 0 curador do marido interdito poderia ajuizar tal ago. Corrente mais consentinea com a realidade, & qual se filia Pontes de Miranda, susten- ta que a iniciativa do curador deve ser acolhida quando as circunstin- cias evidenciam de forma ostensiva que 0 marido nao é 0 pai Legitimado passivamente para esta ago € 0 filho, mas, por ter sido efetuado 0 registro pela mae — e porque objetiva-se desconsti- tuir um ato juridico, retirando do registro civil o nome que figura como 0 do pai —, deve ela também integrar a lide, na posigao de ré. Se 0 filho é falecido, a ago deve ser movida contra seus herdeiros (normalmente a mie é a herdeira). Mesmo que 0 marido nio tenha ajuizado 2 negatéria de pater- nidade, tem sido reconhecido 20 filho o direito de impugnar a pater- nidade, com base no art. 348 do Cédigo Civil de 1916, correspon- dente a0 art. 1.604 do novo diploma, provando o erro ow a falsidade do registro, Mais se evidenciou essa possibilidade com 0 advento da Lei n. 8.560/92, elaborada com o intuito de conferir maior prote¢io os filhos, por permitir que a investigagio da paternidade, mesmo adulterina, seja proposta contra 0 homem casado, ou pelo filho da mulher casada contra 0 seu verdadeiro pais por permitir, também, no art. 8,a retificagio, por decisio judicial, ouvido © Ministério Pablico, dos “registros de nascimento anteriores 3 data da presente lei”. Es- tatuto da Crianga e do Adolescente (Lei n. 8.069/90) também contri- buiu para que a rigidez da presungio legal de paternidade existente no Cédigo Civil de 1916 fosse afastada, ao dispor, no art. 27:0 re- conhecimento do estado de filiagio é direito personalisimo, indispo- nivel ¢ imprescritivel, podendo ser exercitado contra os pais ott seus herdeiros, sem qualquer restrigio”, Dizero oe Fala Como reflexo dessa evolugio, a Quarta Cimara do Superior Tribunal de Justiga, no julgamento do Recurso Especial n. 4.987, de- feriu a produgio de prova pericial (exame de DNA) em agio negaté- ria de paternidade movida por marido que vivia com a mulher ¢ nao estava impossibilitado de manter relagoes sexuais com ela. Havia so- mente a prova do adultério da mulher, que o referido estatuto tam- bém considerava insuficiente. Frisou 0 acérdio:“Na fase atual da evo~ lugio do Direito de Familia, é injustificivel o fetichismo de normas ultrapassadas em detrimento da verdade real, sobretudo quando em prejuizo de legitimos interesses de menor. Deve-se ensejar a produgio de provas sempre que ela se apresentar imprescindivel 3 boa realizacio da justiga”. © mesmo Superior Tribunal de Justica jé decidira: “Nada obsta que se prove a falsidade do registro no Ambito da ago investi- gat6ria de paternidade, a teor da parte final do artigo 348 do CC (de 1916, correspondente ao art. 1.604 do atu). cancelamento do regis- tro, em tais circunstincias, sera consectirio légico e juridico da even- tual procedéncia do pedido de investigacio, nfo se fazendo mister, pois, cumulagio expressa” (STJ, 3*T., REsp 40.690-0-SP, Rel. Min. Costa Leite, j. 21-2-1995, van). Por sua vez, decidiu o Tribunal de Justica de So Paulo: “Investigagio de paternidade. Filho adulterino a ‘matre. Propositura de a¢io contra o verdladeiro pai, sem contestagio do pai presumido, Admissibilidade, Presungio de legitimidade revogada pela Lei 8.560/92. Mae adtiltera que mantém a vida marital, Hipéte- se que nio configura impediment, Alteracao dos registros de nasci- mento permitida pelo artigo 8* da citada lei. Recurso nio provido” (TJSP, 18 Cam. Ap. 238.397- 2a, 9-5-1995, vt). Campinas, Rel. Des. Guimaraes ¢ Sou- Capituto I DO RECONHECIMENTO DOS FILHOS @ _FILIACAO HAVIDA FORA DO CASAMENTO filhos de pais casados no precisam ser reconhecidos, pois a paternidade, pelo sistema do Cédigo Civil, decorre do casamento dos pais. O filho havido fora do casamento, porém, nio é beneficiado pela presuncio legal de paternidade que favorece aqueles. Embora entre ele parentesco, que s6 surge com 0 reconhecimento. Antes da atual Cons~ tituigao, os filhos de pais nfo casados entre si eram chamados de ileg/- seu: pai exista 0 vinculo bioldgico, falta 0 vinculo juridico de timos e podiam ser naturais ou espéirios. Naturais, quando entre os pais nio havia impedimento para 0 casamento. Espiirios, quando nio era ‘permitida a uniio conjugal dos pais. Estes podiam ser adulterinos, se 0 impedimento resultasse do fato de um deles ou de ambos serem casa os, ¢ incestuosos, se decorzesse do parentesco préximo, como entre pai ¢ filha ou entre irmio ¢ irma resultassem de adultério praticado pelo pai, ou a matre, se de adultério praticado pela mie. Podiam ser, a0 mesmo tempo, adulterinos a patre © a matre, em geral quando pai ¢ mie, embora vivessem juntos, fossem. casados Com outros, mas estivessem apenas separados de fato. Essa classificagio s6 pode ser lembrada, agora, na doutrina, pois 0 art. 227, § 6%, da Constituigio profbe qualquer distingao entre os filhos, havidos ou nio do casamento, inclusive no tocante as desig- nagdes. A expressio “filho ilegitimo” foi substituida por “filho havi- do fora do casamento” (art. 18 da Lei n. 8.560/92; CC, arts. 1.607, 1.609 e 1.611). Este pode ser reconhecido pelos pais, conjunta ou sepatadamente (CC, art. 1.607).Se a mie, nio sendo casada, compa- rece ao registro civil para registrar o filho, no pode exigir o langa- Ds adulterinos podiam ser a pate, se mento do nome do pai, salvo se este estiver presente ¢ consentir, ou se aquela exibir procuragio, com poderes especificos para tal decla~ Disco oe Falta ragio (art. 59 da LRP). Nao ha igual restrigZo para o langamento do nome da mae, visto que se considera a maternidade sempre certa (imater semper certa est) (O reconhecimento voluntirio constitui espécie de ato juridico em sentido estrito que exige tpucidade do ay necessitio discernimento (CC, att. 3%, II) nio esti autorizados a seconhecer, estejam ou nao interditados, bem como os menores de dezesseis anos. Aos relativamente incapazes permite-se 0 reconheci- mento. Hi alguma diivida sobre a necessidade ou nfo de estarem ue. Os privades do assistidos. Se 0 reconhecimento for feito pela via testamentiria, nio se exigiri a assisténcia, porque o testamento pode ser feito por me- nor piibere, independentemente de assistincia de seu representante Tegal (CC, art. 1.860, parigrafo ico), mas produzira efeitos somen- te apés a sua morte, Podem, também, declarar a paternidade perante 6 oficial do registro civil, para lavratura do termo, sem assistencia, porque se trata de declaracio de um fato, Para a lavratura de escri- tura pablica, como ato auténtico, seri exigida a assisténcia de seu representante. ® MODOS DE RECONHECIMENTO DOS FILHOS reconhecimento pode ser voluntério (perfilhagio) ou judicial (também chamado de “coativo” ou “forgado”), por meio de agio de investigagio de paternidade. O reconhecimento voluntirio seri fei- to, segundo 0 art. 1.609 do Cédigo Civil: “I — no registro do nasci- mento; II — por escritura piblica ou escrito particular, a ser arquiva- do em cart6rio; III — por testamento, ainda que incidentalmente manifestado; [V — por manifestagio direta e expressa perante 0 juiz, ainda que o reconhecimento nio haja sido 0 objeto tinico ¢ principal do ato que 0 contém”. Sio cinco, pois, atualmente, os modos de te- conhecimento dos filhos. Qualquer que seja a forma, sera sempre ire- vogével (CC, art, 1.610). Embora o testamento seja essencialmente revogivel, no poder sé-Io na parte em que o testador reconheceu 0 filho havido de relago extramatrimonial. Nao se deve confuundir ir- revogibilidade do reconhecimento com invalidade. Se 0 reconheci- mento decorrer de vicio do consentimento (coa¢io, p.ex.), poder’ ser objeto de acdo anulat6ria, Sinorses JuRIoICas 33.1, RECONHECIMENTO VOLUNTARIO O reconhecimento voluntirio, ou perfilhagio, pode ser feito no registro de nascimento, no proprio termo, mediante declaragio por um ou por ambos os pais. Se 0 filho jé estiver registrado em nome de um deles, © outro também poder’ fazer o reconhecimento no proprio termo, mediante averbacio judicial ou a pedido da parte, como pres- creve 0 art. 1.609, 1, do Cédigo Civil. Assim preleciona Mério Aguiar Moura (Tiatado pritico da fliagao,2. ed., Aide, v. 1, p. 232). Poderd, se 0 preferir, efetuar nesse caso 0 reconhecimento por escriturt priblica ou escrito particular, que também sero averbados. A escritura pode ser la- ‘vrada especificamente para o reconhecimento, ou este pode fazer-se incidentemente em escritura que tenha outros objetivos imediatos. Embora seja recomendivel a anuéncia da mie, para evitar futura impugnacio, a lei nfo exige a sua oitiva, nem consta tal exigéncia do Provimento n. 494/93, do Conselho Superior da Magistratura do ‘Tribunal de Justiga de Sao Paulo, que tragou diretrizes para o registro de fithos havidos fora do matriménio apés a vigéncia da Lei n. 8.560/92. Sendo beneficiada a crianga, nenhum obsticulo deve ser colocado & averbacio do reconhecimento em seu registro de nasci- mento, prevalecendo 0 ato até que, por meio de aco prépria, seja declarada a sua ineficécia. O recomhecimento voluntirio de filho pode ser feito, também, por escrito particular, a ser arquivado em cartério (CC, at. 1.609, Il), 0 Cédigo Civil de 1916 s6 0 admitia como comeso de prova para a aco de investigacio de paternidade. No atual diploma, vale por si 6, como reconhecimento, desde que expresso. Depois da averbacio por determinagio judicial, o documento permanecers arquivado em Car t6rio. Pode-se agora, entio, reconhecer um filho por codicilo, jé que este é um escrito particular, datado e assinado pelo de cjus (at. 1.881). E proibido reconhecer o filho na ata do casamento (Lei n. 8.560/92, art. 3°), para evitar referéncia a sua origem extramatrimonial. Com ssa finalidade, também nio se fara, nos registros de nascimento, qual- quer referéncia 4 natureza da filiagio, A sua ordem em relagio a outros irmios do mesmo prenome, exceto gémeos, a0 lugar e cartério do casamento dos pais ¢ a0 estado civil destes (art. 59). Igualmente, das certiddes de nascimento nio constario indicios de a concepgio haver Digero o¢ Faun sido decorrente de relagio extraconjugal, ndo devendo constar, em qualquer caso, 0 estado civil dos pais ¢ a navureza da filiago, bem como o lugar e cartério do casamento, proibida referéncia 3 apontada Lei n. 8.560/92, salvo autorizagdes ou requisicdes judiciais de certi- does de inteito teor (art. 6°) © reconhecimento pode preveder 0 nascimento do filho j con cebido (CC, art. 1.609, parigrafo Gnico), mas o filo que haja faleido s6 poderi ser reconhecido se tiver deixado descendentes (para evitar reconhecimentos por interesse, pois, se nio deixou descendente al- gum, 0s seus bens iro para o ascendente que 0 reconheceu). O art. 27 do Estatuto da Crianga e do Adolescente preceitua que o reconheci- mento do estado de filiacio pode ser exercitado, hoje, sem qualquer restrigio, observado apenas 0 segredo de justica. E 0 art. 1.596 do Cédigo Civil, reproduzindo o texto constitucional, proclama que os filhos,"*havidos ou nao da relacio de casamento, ou por adogio, terio ‘os mesmos direitos e qualificagdes, proibidas quaisquer designagdes discriminat6rias relativas & filiagio”. Filhos adulterinos e incestuosos podem, assim, ser reconhecidos, ainda que os seus pais estejam casados. ‘Mesmo 0 adulterino a matre pode ajuizar a qualquer tempo ago de investigacio de paternidade contra o verdadeiro pai, afastando desse modo os efeitos da presun¢io pater is es. O filho havido fora do casamento, “reconhecido por um sé dos cénjuges, no podera residir no lar conjugal sem consentimento do outro” (CC, art. 1.611), mas o art. 15 do Decreto-Lei n. 3.20/41 determina que, nesse caso, caber4 a0 pai ou 3 mie prestar ao filho re- conhecido, fora do lar, idéntico tratamento a0 que dispensa ao filho havido no casamento, se 0 tiver, correspondente a condigao social em gue viva. O filho reconbecido, enquanto menor, ficari sob a guarda do genitor que 0 reconheceu, ¢, “se ambos o reconheceram ¢ nio houver acordo, sob a de quem melhor atender aos interesses do me nor” (CC, art, 1.612). O reconhecimento é incondicional: ndo se pode subordind-lo a condigio, ou a termo (art. 1.613). O filho maior no pode ser reconhecido sem o seu consentimento, ¢ 0 menor pode im- pugnar o reconhecimento, nos quatro anos que se seguirem a maiori~ dade, ou & emancipagio (art. 1.614). Nao vale, assim, 0 reconhecimen- to do filho maior sem a sua anuéncia, mas esta pode set dada poste~ Sinorses Junioicas riormente, sanando-se a omissio. Independe de forma especial. Se menor de idade, poder impugnar 0 reconhecimento no quatriénio que se seguir 3 aquisigao da capacidade civil, por meio da apo de con- testagio ow impugnagao de reconhecimento, Nada impede que ingresse antes com a ago, enquanto menor, se devidamente representado ou assistido, Na referida ago, poder alegar a incapacidade do reconhe cente ow inveracidade ou filsidade da afirmagio da paternidade ou maternidade. © reconhecimento produz todos 0s efeitos a partir do momen- to de sua realizagio e € retroativo (¢* tune), on seja, rettoage & data do nascimento, sendo de natureza declarat6ria. Seré admitida a ago anu- latéria de reconhecimento semnpze que se verificar a sua desconformidade com a verdadeira filiagio biolégica, Preceitua 0 art. 113 da Lei dos Registros Pablicos:"“As questdes de filiagio legitima ou ilegitima se~ io decididas em processo contencioso para anulagio ou reforma de assento”. Tem legitimidade para anular o assento € desconstituir reco- mhecimento voluntitio de paternidade no presumida todo aquele {que tenha justo intetesse em contestar agio investigatoria, ot seja, todas as pessoas afetadas, direta ou indiretamente, como 0 filho reco- nnhecido,a mic, os filhos ¢ pretensos irmios, bem como aquele que se diz verdadeiro pai ¢ mesmo outros herdeiros. O Ministério Pablico figura entre os que tém legitimidade, por tratar-se de questio que diz respeito a0 estado da pessoa. Por essa razio, a a¢io € imprescritivel. Assim, provando-se a falsidade ideolégica do registro de reconheci~ ‘mento de paternidade no presumida, podera ser-Ihe altetado e reti- ficado 0 contetido, como se extrai do disposto no art. 1.604 do Cédi- go Civil. 33.2. RECONHECIMENTO JUDICIAL (INVESTIGACAO DE PATERNIDADE E MATERNIDADE) © filho nio reconhecido voluntariamente pode obter 0 reco: nhecimento forcado ou coative, por meio da agio de investigagio de paternidade, de natureza declaratiria e impresoitiel (ago de estado). Trata-se de direito personalissimo e indisponivel (ECA, art. 27). Os efei- tos da sentenga que declara a paternidade, como se viu, sio os mesmos, do reconhecimento voluntirio ¢ também ex tne: retroagem & data do Direro 0¢ Falun nascimento (CC, art, 1.616). Embora a a¢io seja imprescritivel, os efeitos patrimoniais do estado da pessoa prescrevem. Por essa razio, preceitua a Samula 149 do Supremo Tribunal Federal: “E imprescri- tivel a agdo de investigagio de paternidade, mas nfo o é a de pet de heranga”. Bsta prescreve em dez anos (art. 205), a contat nio da morte do suposto pai, mas do momento em que foi reconhecida a paternidade. E que 0 prazo de prescrigio somente se inicia quando surge 0 direito a agio, ¢ este s6 nasce com o reconhecimento. A agio de investigacio de paternidade é, assim, um inafastivel pressuposto para o ajuizamento da acio de petigio de heranga. Nao corre contra o filho nio reconhecido a preseri¢ao da acio de peti- Gio de heranga, Geralmente, essa ago é cumulada com a de inves- tigagio de paternidade, estando implicita a anulagio da partilha, se {jf inventariados 0s bens. O pedido, no entanto, devers ser expresso nesse sentido. Trata-se de agio que interessa a0 espélio, devendo set citados 0 herdeiros. Se o filho foi reconhecido e j completou dezesseis anos, 0 prazo prescricional comega a fluir da data da aber- tura da sucessio, pois nao se pode litigar a respeito de heranga de pessoa viva. Se ainda nio alcangou essa idade, comega a correr s0- mente na data em que a atingir (art. 198, 1). 33.2.1. LEGITIMIDADE PARA A ACAO A legitimidade ativa é do filho. O reconhecimento do estado de filiagio € direito personalfssimo, por isso, a ago é privativa dele. Se menor, sera representado pela mie ou tutor. Nio correto a mie ajuizar a aco. Esta deve ser proposta pelo menor, representado pela mie. Se o filho morrer antes de inicié-Ia, seus herdeiros e sucessores fica tio inibidos para 0 ajuizamento, salvo se “ele morrer menor ¢ inca~ paz” (CC, art. 1.606). Se jé tiver sido iniciada, tém eles legitimagao para continui-la, salvo se julgado extinto 0 processo (art. 1.606, pa~ rigrafo tinico). Hoje, a a¢io pode ser ajuizada sem qualquer restrigio (ECA, art, 27), isto &, por filhos adulterinos ¢ incestuosos, mesmo duran- te 0 casamento dos pais. J4 reconheceu 0 Superior Tribunal de Justiga, no entanto, valida a pretensio dos filhos, substituindo 0 pai, em investigar a filiagZo deste, junto ao avé (relagao avoenga), dirigin Sinowses Junivicas do a lide contra os referidos herdeiros, especialmente em face da Constituiggo ¢ da inexisténcia de qualquer limitago no Cédigo Civil (ST), REsp 269-RS, Rel. Min, Waldemar Zveiter, DJU, 7 jun. 1990). Também a Lei n. 8.560/92 permite que a referida aco seja ajuizada pelo Ministerio Pablico, na qualidade de parte, havendo elementos suficientes, quando o oficial do registro civil encaminhar a0 juiz os dados sobre o suposto pai, fornecidos pela mie ao registrar 0 filho (art. 28, § 48), ainda que o registro de nascimento tenha sido lavrado anteriormente & sua promulgacio (STJ, REsp 169.728-MG, DJU, 21 set, 1998) ‘A legitimidade passiva recai no suposto pai, Se jé for falecido, a ago deverd ser dirigida contra os seus hereiros, Havendo descenden- tes ou ascendentes, a mulher do falecido nio participara da agio, se no concorrer com estes 4 heranga, salvo como representante de filho menor. Nio é correto mover a a¢30 contra 0 espélio do falecido pai espélio nao tem personalidade juridica, nZo passando de um acervo de bens. O art.27 do Estatuto da Crianga ¢ do Adolescente menciona cexpressamente “os herdeiros” do suposto pai, mas referida agio pode ser contestada por qualquer pessoa que justo interesse tenha (CC, att. 1.615).A defesa pode, assim, ser apresentada pela mulher do réu, pelos filhos havidos no casamento ou filhos reconhecidos anteriormente, jo houver herdeiros suces- bem como outros parentes sucessiveis, Se siveis conhecidos, a acio deveri ser movida contra eventuais herdei~ 105, incertos e desconhecidos, citados por editais. O municipio, que tecolhe os bens nao existindo herdeiros sucessiveis, estando na posse dos bens, sera citado, em razo dos interesses patrimoniais em conflito, envolvendo a petigio de heranga (CC, art, 1.824), 33.2.2. FATOS QUE ADMITEM A INVESTIGACAO DE PATERNIDADE ‘A acio de investigagio de paternidade pode ser ajuizada sem restrigdo, por qualquer filho havido fora do casamento. © art. 363 do Cédigo Civil de 1916 exigia a prova de um dos seguintes fatos: a) que a0 tempo da concepgio sua mie estava concubinada com 0 pretendido pai;b) que a concep¢io coincidiu com o mapto de sua mie pelo suposto pai, ou de suas relagses sexuais com ela; c) que existe esri= fo daquele a quem se atribui a paternidade, reconhecendo-a expressa- Direro De Fania mente. Bastava a prova, pelo menor, de uma dessas hipéteses. A defesa apresentada pelo réu, em geral, era a negativa do fato. Se este, no en~ tanto, estivesse provado, costuma-se opor a exceptio plurium concuben~ tin (excecio do concubinato plirimo), que consiste na alegacio de gue a mulher, época da concepgio, manteve relagSes sexuais com outro homem. Se tal alegago fosse comprovada, estaria langada a di vida sobre a paternidade, ¢ esta seria suficiente para a improcedéncia da acto, O exame de sangue, quando o resultado era positivo, signifi- cava apenas a possbilidade de o réu ser o pai, mas nio afirmava a pa~ ternidade com certeza absoluta. Somente quando o resultado era ne~ gativo € que a paternidade era exclufda, de forma incontestivel. Hoje,no entanto, com 0 exame de DNA, é possivel afirmar-se a paternidade com um grau praticamente absoluto de certeza.A incer- tera trazida aos autos pela excecio oposta pelo réu jé no conduz, necessariamente, 4 improcedéncia da ago. Por essa razi0, 0 novo Cé- digo Civil nao especifica os casos em que cabe a investigagio da pa~ ternidade. Poderi ser requerido, assim, como tinico meio de prova, o exame hematolégico. E necessério frisar que ninguém pode ser cons- trangido a fornecer amostras do seu sangue para a realizago da prova pericial. No entanto, a negativa do réu pode levar o juiz, a quem 2 prova é enderecada, a interpreti-la de forma desfavoravel a este, mé- xime havendo outros elementos indicifrios. A propésito, preceitua 0 art, 231 do novo Cédigo Civil:““Aquele que se nega a submeter-se 2 exame médico necessirio nio poder aproveitar-se de sua recusa”, Complementa o art. 232:““A recusa 3 pericia médica ordenada pelo Juiz poderi suprir a prova que se pretendia obter com 0 exame”. Por seu turno, proclama a Stimula 301 do Superior Tribunal de Justiga: “Em aco investigat6ria, a recusa do suposto pai a submeter-se a0 exame de DNA induz presuncio juris tantum de paternidade”. E 0 pardgrafo nico do art. 2°-A, acrescentado 3 Lei n. 8.560/92 pela Lei n, 12,004, de 29 de julho de 2009, preceitua: “A recusa do réu em submeter-se ao exame de cédigo genético-DNA geraré a presungio da paternidade, a ser apreciada em conjunto com o contexto probatério”, Sea mulher se submeter 3 inseminasio artifical e engravidar, mal- grado a inexisténcia de legislagio especifica no Pais, nio se poder negar a0 filho o direito de investigar a paternidade (ECA, art. 27). Se a mulher for casada e a inseminagio feita sem a permissio do marido, pode este negar a paternidade. Sinoeses Junioicas 33.2.3. ACAO DE INVESTIGAGAO DE MATERNIDADE Referida a¢do, embora rara, € reconhecida a0 fill, que pode cenderegé-la contra a mie ou seus herdeiros, pois 0s arts, 1.606 e 1.616 do Cédigo Civil nao fazem nenhuma distingao ou imitagio 4 inves tigacio da filiagio. O art. 364 do Cédigo Civil de 1916 impedia 0 seu ajuizamento quando tivesse por fim atribuir prole ilegitima a mulher casada ow incestuosa & solteira. Tis restrigdes no mais subsistem, em, face da atual Constituigio, do citado art. 27 do Estatuto da Crianga do Adolescente ¢ dos mencionados dispositivos do novo Cédigo Ci- vil Assim, pode hoje o filho, mesmo incestuoso, mover ago de inves- tigagdo de maternidade sem qualquer restricio, seja sua mie solteira ou casada. Quanro sINOTICO ~ Da FILACAO. TRETI Fliagdo & @ relagbo de parentesco consanguineo, em pri meito gray ¢ em linha rete, que liga uma pessoa aquelas {que a geraram ov a receberam como se aivessem gerado A.CF/B8 (an. 227, § 68) estabelecey cbsolua igualdade entre todos o§filhos. 1, Coneeito: Presumem-se concebidos na consténcia do casomento os filhos: a) nascides 180 dias, pelo menos, de. pois de extabelecida a convivéncia con: ivaal; b) nascidos not 300 dios subsequentes 8 dissolugée do sociedade conjugal, por merle, separacéo judicial, nulidode ‘onulagdo do casomento, ¢) havides por fecundacao arificial ho- | Hipoteses (CC, ont. 1.597) mélogo, mesmo que falecido o morido; 4) havidos, © quolquer tempo, quando se tnatar de embries excedentéios, decor reates de concepsée arial homéloga; €@) havides por inseminagée erica! he- terdloga, desde que tenho prévio autor zogi0 do marido. Dinero 0¢ Fawiua Em regro, « presungéo de pateridade do oft 1.597 do CC & juris tantum, od mitindo prova em contrério. Pode, pois, ser ilidida pelo marido, mediante aco negatéria de paternidade, que é impres crv (CC, att. 1.601). N&o inciird se © filho nascer antes de @ convivéncia conjugal completor 180 dies. 7 — Conhecida também como acdo de contestagéo de po: + ternidode, destina-se a exclur a presungéo legal de poter — A legiimidade ative 6 prvativa do marido (CC, on = 1.601). $6 ele ema titlaridade, © iniciativa da agéo, mos, ma ver iniciada, posta a seus herdeiros, se vier 6 falecer durante o sev curso. | —Legitimado passivamente pore esta aco 6 0 fiho, mos, > por ter sido eletuado 0 registro pelo mée, deve ela tombém + integror lide, na posto der ‘Mesmo que 0 marido néo tenho ojvizado o negotérie de paternidade, tem sido reconhecido ao filho © dirito de im- = puonar 0 paierridade, com base no at. 1.604 do CC, provando 0 erro ov a fasidade do registro. Consitui espécie de oto juridico em sentido estrito, pelo qual se declora o {ilioga0, estobelecendo juridicomente 0 porentasco entre o pai, ou a me, € seu filho. T= no registro do nos cimento; 1 — por eseritura pbli ca ov escrito particule, {© ser orquivado em cor. 16ri0; M — por testomento, tiinda que incdentolmen +e manilestado; (0) Volontério (pedithacéo) Shioeses Junioicas Dierro be Falun Modos Efeitos Anulagao ‘4. Reconheci- mento dos filhos Investigagéo de paternidade V — por manifestocéo direta © expresso peran- te 0 juiz, inda que o reconhecimento no ho- |e sido 0 objeto anico © principal do ato que © contém (CC, art. 1.609} 0) Voluntério (perlhacéo 'b) Judicial (coatvo ov forgado): por meio de aco de invesigacto de paternidade, (O reconhecimento produz todos os efe- tos @ porlr do momento de sua recliza- 60 € 6 retroativo {ex fund, ov seja, re- troage & dota do nascimento, sendo de natureza declaraisria Serd admitide 6 a¢d0 anulotéria de reco: inhecimento sempre que se verilicar a sua desconformidade com @ verdadeira filio- 60 biologica (LRR. ort 113), Tem notureza declarals- fia © & imprescritvel (odo de estado). Tato -sede direito personalis- simo © _indisponivel (ECA, a1. 27). £ prossu- posto para 0 ojvize- mento da agéo de pet- go de herange, que prescreve em 10 anos (CC, ert. 208}, por con- cemir aos efeitos patri- moniais do estado da pessoa. Naturezo iuridica — A legitimidode ative 6 do fitho (CC, at 1.606}. Se menor, seré representodo pela mae ou tutor Hoie, © aco Legitimidode pare a gio 4, Reconheei- Investigacéo de paternidede Investigacéo de maternidade pode ser ojuizada sem ‘qualquer restric (ECA, ‘ant 27), iso &, por filhos dulterinos © incestuo- 508, mesmo durante o ‘casomento dos pois. —Allegitimidade passi- va recai no supasto pai. Se j6 for falecido, a ‘oc60 deverd ser dirigida contra os seus herdei- 10s. Referido aco pode ser contestoda por qual= ‘quer pessoa que justo interesse tenha (CC, ot 1.615). Referide ago 6 reconhecide oo filho, que pode enderecé-la contra @ mae ov seus herdeiros. Os aris. 1.606 1.616 do CC nao impéem nenhuma limitagio Legiimidade para 0 acto {8 investigagdo do filiagéo, como 0 fazio © art. 364 do CC/1916, Assim, pode hoje 0 filho, mesmo incestuoso, mover ‘océo de investigagtio de matemidade sem qualquer restrigéo, seja sua mae solteira ou casoda (ECA, art. 27}

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