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CONFERENCIA sane ILHA DA TRINDADE Pror. Bruno Loso ILHA DA TRINDADE " Conferencia feita na Bibliotheca Nacional pelo Prof, Bruno Lobo no dia 18 de julho de 1918 E' com profunda emogao e altamente honrado que assumimos momen- taneamente esta cathedra, valiosa ¢ utilissima creagio da Directoria da Bibliotheca Nacional, para referir generalidadessobre a Nha da Trindade © procurando resumir o estudo que, de algum tempo, vem sendo feito em collaboracao com Hugo Braga. 0 presente trabalho ¢ fruto—nio sé de observagdes pessoaes— como tambem se fundamenta em valiosa bibliographia, que seré citada progres- ivamente e om estudlos ineditos de Miranda Ribeiro, Cesar Diogo, Hermann von Ihering, Carlos Moreira, Bourguy de Mendonca, Betim Paes Leme, Lauro ‘Travassos, Campos Porto, Frederico Heehne, Pedro Martins, ¢ outros scientistas. Informacées valiosas foram tambem prestadas por Pedro Peixoto Velho e José Domingues dos Santos, preparadores do Museu, que, pelo espaco de seis mezes, com uma dedicacdo acimade qualquer elogio, isolados do mundo, permaneceram nesse aspero territorio do Brasil, colhendo material para esiudo © registando factos de real interesse para a sciencia. Essa longinqua parte do Paiz, —cuja importancia estrategica no es- capou ao Governo Brasileiro, quer na Monarchia, quer na Republica, ¢ neste, ao espirito patriotico do Almirante Alexandrino de Alencar, digno ministro da Marinha, promotor da occupagao militar que, de maio de 1916, dura até a presente época, — deve ser estudada e tornada conhecida. Gragas & nobreza e & concepedo progressista deste benemerito chefe da Marinha Brasileira —é que tem sido possivel aos scientistas brasileiros viajando nos nayios da nossa Marinha de Guerra, chegar até essa afastada (W) As gravuras incluidas no toxto, 0s mappase phototypias reunidos no inal do prosento trabalho foram projectaios na conferencia feita na Bibliotheca Nacional. (2) Durante a oceupacio portugueza de 1752 a 1795 0s documentos pubicos eram datados da liha da Santissina Trindade, como & possvel vorificar om um grande numero de eartas e olficios da &poea ¢ ditigidos ao Viee-Rei do Brasil D. Laiz de Vasconcallos © Souza, Ey Se Cee ee ee eee 408 ARCITVOS DO MUSEU NACIONAL — VOL, XXIL ilha, perdida no Atlantico Sul, afim de estudal-a conyenientemente. Nunca esqueceremos os encantadores momentos passados em companhia da bri- Ihante ¢ competente officialidade da Marinha. Sempre teremos em mente a fidalga hospedagem do almirante Lamenha Lins, que, em 1916, a bordo do Barroso, confirmaya mais uma yeza allianca hoje indissoluvel entre os que servem a Patria—no mar—e os que trabalham nos laboratorios de pesquizas scientificas. O Museu Nacional de Historia Natural n&o poderd esquecer 0 carinho e dedicagiio com que os nossos marinheiros trataram os seus funccionarios. "Em vigilias de bordo, varias vezes invocamos o vulto, que até hoje nos enthusiasma,e impressiona, de Saldanha da Gama, cuja memoria deve Sempre pairar sobre 0 espirito dos marinheiros e scientistas, pois reunia os predicados de almirante competentissimo e Naturalista de grande saber, representando assim a sua excepeional personalidade, a alludida allianca, entre marinheiros e scientistas que deverd sempre existir para a garantia do progresso do Brasil. Historia e coordenadas geographicas da Iha da Trindade A historia e a geographia da Iha da Trindade sao cambiantes como 0s ventos que a varrem e que mudam de direceio de momento a mo- mento. Entre os nossos e os modernos historiadores portuguezes, ¢ pacifico quea Tha da Trindade foi descoberta por Joaioda Nova, que partira de Lishda a as, enconirara essa montanha, 5 de margo de 1501 e, de caminho para as Indi denominando-a Concepefto on Conceicdo. Mesmo nos documentos do nosso Ministerio das Relacdes Exteriores, que serviram de hase para a reivindicacdo da Iha, quando a Inglaterra a occupou em 1895, se falla positivamente nessa data —1501—e nesse nome Joao da Nova. Entretanto os velhos chronistas da epopéa maritima portugueza vergem dessa opinido. Barros e Casianheda, para nio citar outros, asse- guram que de facto Jofio da Nova descobriu uma Iha da Conceicito, mas a 8 Sul. Dahi a confundir a Conceigdo (a Ascensio africana) com a Trindade vae muito. Com a velha chroniea portugueza esti uma série de opinides. A identidade do nome do descobridor eda data parece fazer erer, diz Duperrey, que o piloto portuguez se enganou collocando nas paragens da Trindade—a ilha descoberta por Jofio da Nova, que é evidentemente a da Ascensiio que estd a 7°—55, da latitude Sul, a 220 leguas ao N. 0. de Santa-Helena. » 109 COMMENORATIVO DO CENTENARIO DO MUSE Jodo de Barros (Decada I, livro V, Cap. X) 6 explicito quando trata da viagem de Nova: —«... na qual viagem passados vile graus além da linha equinocial contra o Su! acharam uma ilha que puzeram o nome de Concepgio: © a Tde julho foi fagir da aguada de S. Braz, além do Cabo da Boa Esperanca ».—Bittencourt, escriptor moderno e exeepgao entre elles, esclarece o texto de Joto de Barros (Descobrimentos, guerra e conquistas dos porluguezes em terras do ullramar nos seculos XVe XVI —Lishda 1881 — 1882, pg. 151): — Joo da Nova... descobriu, aos 8 graus de latitude austral, a Mha da Concepefio, que parece ser a mesma que depois se denominou Ilha da Ascensio, segiriu pela costa do Brasil até o eabo de Santo Agostinko, como se achava determinado no regimento que levava, ... ete.» Ora, nao pode essa ilha ser a ‘Trindade, que fica muito ao Sul desse cabo.—Vejam-se ainda, subsidiariamente, Bouillet e Alonnier, palavra ‘Ascenso : —tratam da ilha ingleza da costa d’Africa, descoberta em 1501 por Joao da Nova, no dia da Ascen: Donde viria, pois, a prioridade dada a Joao da Nova, quanto ao des- cobrimento da Trindade? Proyavelmente, do facto de terem os navegadores da época, que eram tantos e que tanto se afastavam da costa africana (anteriormente— para evitar calmarias entaio—para tambem refrescar no Brasil) tocado a ilha novamente achada da Ascencto brazileira, cuidando que tocavam a As- cengio de Joao Nova. Esti patente a importagio do nome. Depois que os navegadores puderam assegurar que o rochedo da costa do Brasil nao se identificaya com a ilha de Joao da Nova houve confusio; e da baralhada este facto— comegarem a apparecer nas cartas do tempo a Trindade ea Ascengio muito approximadas uma da outra, facto observado em dezenas de cartas geopraphicas $6 desaparecendo nas cartas posteriores a 1820 apezar de jé ser conhecido o equivoco desde 1757. Isso deu logar a que Aleixo da Motta (ap. Duperrey) no seu « Roteiro da Navegagao das Indias Orientaes » (1659) mareasse para a Trindade a po- sictio de 20° Sul. Esté bem visto como se operou a confustio:—o facto 6 que de 8? a nossa ilha saltou para 20° ao meio dia da linha equinocial. Via- jantes tocam a ilha ¢ toman-the coordenadas geographicas que se corrigem. E dessa época em deante os historiadores comecaram a reincidir no erro. Um delles (Os « Portugueses em Africa, Asin, Amerien ¢ Oceania» —Lishda, 1849, 2 ed. vol I, pg. 59) lendo os geographos modernos sem abrir os chro- nistas antigos, diz:—«... Jodo da Nova, mandado i India por Capita de 4 néos,.. descobriu a Iha da Ascensio 20° ¢ 1/2 austr., ete. » Baixou mais mneio grau. Ea historia do Brasil caminhou nesse terreno. ca, a 110 ARCHIVOS DO MUSEU NACIONAL — You. xxi Em falta doutros documentos, ficava o reconhecimento de 1503, pelo Capitdo-mér Affonso d’Albnquerque que partio de Lishda a 6 de abril. «Elle diz. (Jofio de Empoli, da armada de Affonso de Albuquerque) que do Cabo Verde engolpharam de 758 leguas e navegando nesta volta 28 dias ayistaram terra que por outros tinha sido descoberta «ainda que mais por conjecturas do que por terem abordado nella e sechamavaa Ilha da Ascen- iio, junto « qual estiveram toda a noite, quasi a ponto de se perderem com um grande temporal e vento de travessia. Observou Jodo de Empoli«ue ailha que avistaram nao tinha nenhum valor, 0 que nos leva. a erer que foi'a nossa Ascengio, ou Trindade, a que foi observada»...(Kduardo M. Peixoto, Rev. do Inst”. Hist. ¢ Geogr., vol 74, I, pg. 225). A asseveragio de que a terra ja tinha sido descoberta parece provir da mesma nogio errada da As- cengao de Joao da Nova. Affonso d’Albuquerque seria talvez. 0 descobridor inco: itha, E’necessario, porém, citar a opinitio do erudito Mestre Capistrano de Abreu, que assegura ter sido a ilha descoberta a 18 de maio de 1502 por Es- tevam da Gama, companheiro de Vasco da Gama, na sua segunda viegem 4s Indias. A «Collecgio de Noticias Uliramarinas (vol. Il, n. V, paz. 159) publica a « Navegagiio ds Indias Orientaes », de Thomé Lopes que veiu na terecira divisio da esquadra de Vasco da Gama, a qual sahiu atrazada de LishOa (1° de abril de 1502) sob o commando de Estevam da Gama. Lé-se ahi, logo na primeira pagina, o seguinte: —«.....€a08 desouto de Maio vimos huma Iha ainda niio descoberta, alta, bella segundo nos pareceo, chéa de bosques, ¢ potico mais ou menos dotamanhoda Madeira. esi4 em hum elima muito tem- perado por ficar ainda distante do Equinocial, ¢ jaz de Noroeste a Sue: te com a ha dos Papagaios Vermellios, contando-se de huma a outra tre- zentas Iegoas. Fica tambem na distancia de setecentos setenta e cinco Jegoas da Iha da Boa Vista, ¢ assim quem a quizer procurar ponha-se trinta legoas della entre Poente e Levante, depois tome o rumo do Sul eachal-a-ha. Demora tambem com o cabo da Boa Esperanca de Levante a Poente, ¢ enfia de Noroeste 4 Sueste; assim quem deste cabo a quizer de- mandar, deveré ir trinta legoas ao largo, e contaré delle 4 tal ilha outocentas sincoenta legoas de travessa ». Oe prestemos atiengio a esse texto: 1°— Tha... alta bella segundo nos pareceo, chéa de bosques .. f extranho, pois a Trindade 8 um rochedo aspero, horrivel & primeira iente da nossa. CONNEMORATIVO BO CENTENARIO DO MUSEU ut ‘ vista, negro, escarpado, quasi nti de yegetagio, dando a impressio de alli tudo se reduzir a cinzas pelas escarpas aleantiladas, 2—...e pouco mais ou menos do tamanko da Madeira... ‘Mas, a Ilha da Madeira tem mais de 1.000 kilometros quadrados de - superficie, emquanto que a superficie da ‘Trindade niio passaré de 7" (Xavier de Brito, Rev. Inst. Hist. e Geog. Bras., vol 40, 2). Mesmo 4 primeira vista, ¢ inconfundivel 0 tamanho das ilhas para olhos leigos; com mais razo para os de um piloto dessa época. 3°.. ..ejazdle Noroeste a Sueste coma Wha dos Papagaios Vermelhos, contando-se de huma a outra trexentas legoas... Wha dos Papagaios, nfo; menos ainda Itha dos Papagaios Vermethos. nome — Terra dos Papagnios —esse sim, 6 vepetido no primeiro periodo da nossa historia. Vejam-se, por exemplo:— Carta de Pietro Pasqualigo do Senado de Veneza, em 18 de outubro de 1501 (F. da Fonseca, A Descoberta do Brazil, Lisbéa, 1900, pag. 61, e Pinheiro Chagas, Descobrimentos Portue guezes, Lisbba, 1892, pag. 222 ¢ notas de Capistrano de Abreu a pags. 38 €39 do Livro do Centenario, Rio de Janeiro, 1900). As trexentas legoas sio evidentemente em caleulo approximado: — ha erro de 500 kl. pelo menos, mesmo feito 0 caleulo pela legoa da z época. 4e—... Fica tambem na distancia de setecentos selenta e cinco legoas da Mha da Boa Vista... Ora, 0 stidio romano media 185 metros; ea milha contava oito stadios ou 1.480 metros. Cada legoa-padrao tinha nesse tempo 4 milhas romanas, ou sejam 5.920 metros. Para os primitives navegadores portuguezes, o grau tinha 17 a 17 1/2 leguas. S6 mais tarde adoptaram a medida de 18 ao grau. (Zelerino Candido—0 Brasil, Rio, 1900, pg. 156, nota). Quanto 4 Bella-Vista do archipelago do Cabo-Verde, a Trindade esté sensivelmente acaminho Sul, de facto. A primeira ilha estd talvez.a 16° Norteea Trindade a mais de 21° Sul, donde a somma de 37 graus que dio 666 leguas de dis- tancia. Ora,o erro do documento 6 grande, mesmo com essas posigbes approximadas. 5°—0 proprio commentador do roteiro de Thomé Lopes diz, no final de sua nota:—«... emultimo lugar segundo os rumos, e 0 numero de legoas que o autor aponta, nao existe ilha nenhuma naquellas paragens ». Essa rapida analyse mostra quanto é nebuloso o texto de Thomé Lopes ¢ como se pode ainda p6r em duvida, por elle, que a nossa Trindade foi achada por Estevam da Gama, aos 18 de maio de 1502, Na nossa opinidio, texto por texto a primeira referencia positivamente applicavel 4 ‘Trindade 6 a de Jovio Empoli, companheiro de Affonso de Albuquerque, sendo portanto este o descobridor da Trindade, em maio de 1503. : ' ; 112 ARCIIYOS DO-MUSEU NACIONAL — You, xXIL Vejamos a desordem a que foram levadas as cartas geographicas. No mappa de Nicolas Desliens de 1543 j4 figura a ilha, Um atlas hespanhol entre tantos outros de 1582 assignala uma serie de ilhas com os nomes de Ieozeda, Aternidad e Santa Maria da Costa a que Duperrey chama Santa Maria d'Agosta. O mappa-mundi de Mercator aponta a ilha com os nomes mais appro- ximados; é tragado em 1587. Outros planispherios, como o de Thevet (1575), Ortelius (1603) etc., pingam um ponto arbitrario na costa leste da America do Sul. Essa mesma desordem geographica vem subsistindo, edade adeant Veja-se 0 tracado da viagem de La Perouse :—estdo apontadas as ilhas da Trindade e da Ascenso. Isso foi em 1785. Veja-se ainda a carta da ota da Néo Princeza da Beira, em 1785 (Rev. Inst. Hist. vol. 40, II parte, 275 e segs. mappas). Ahi se figuram as mesmas ilhas. A memoria Historica ¢ Geographica da ha, de Xavier de Brito (cit vol. 40) resume a controversia geographica a respeito. Mencionam as duas ilhas : — Pimentel, Bélin na carta do oceano Atlan- tico que acompanha a Historia Geral das Viagens, de Prévost; Diogo Bar- boza Machado, em atlas manuseripto, etc., etc. Cita-se um Dupensel, comma dante da fragata La Renomée, que em 1760 passou pela Trindade e pela As- consio, «Distante 120 leguas de Caho-Frio»; e descreve a ‘Trindade, Ale- xandre Dabrymple, numa colleegio de viagens no Atlantico Sul (Londres, 1775) «apresenta os perfis das ilhas da Trindade eda Ascensdo, segundo Edmond Halley ». Em 1784 um official da Armada, mandado pelo vice do Brasil, foi averiguar a existencia de tal territorio, nada encontrando. como propuzesse a eliminacio do nome de Ascensdo das cartas, 0 Sr. D'Aprés de Mannevillete oppoz-se a isso : —era «perigoso aos progressos da navegagiio e funesto aos navegantes». La Perouse foi decidir pessoa mente 0 caso em 178%; e, como nado encontrasse nenhuma Ascensio e 0 di sesse, foi vivamente contraditado por Millet de Mureau quechegaa affirmar, ter um Sr. Lepine tocado nos dois rochedos e fixado as coordenadas geo- graphicas de ambos. Afinal, em 1802, José Fernandes Portugal deixou de marcar a As- censio na sua carta reduzida da parte meridional do oceano Atlantico. ‘A controversia, porém, s6 ficou desfeita de um modo positivo com a viagem de Duperrey, em 1822. O que se soube de positive, nesse primeiro periodo da historia do es- tranho rochedo, é que o Sr. D. Joo Ill, de Portugal, doou a ilha da Trin- dade a um Belchior Camacho. Dessa doacao, ha documento na Torre do ‘Tombo. COMMENONATIVO NO CHNTENARIO nO MUSEU 113 Uma serie de reconheciinentos, occupagdes, viajantes brasileiros estrangeiros yem fazendo a historia c a geographia da Trindade, Podem ser citados varios nomes ¢ factos. j —Edmundo Halley, em nome da Inglaterra, julgando fazer_uma des. coberta, occupou-a em abril de 1700. ~ —Pela carta regia de 22 do fevereiro de 1724, dirigida por D. Joao a Ayres de Saldanha de Albuquerque, governador e eapitéio da Capitania do de Janeiro, se soube que, na época, os inglezes tinham desemhareado na ‘Trindade eserayos que pretendiam vender na Mha Grande, sendo o mais empenhado no negocio o Duque de Xambre, da Companhia de Guiné, —A orden junho de 1756 mando que se procedesse & sondagem da ilha, sendo encarregado dessa missio 0 piloto José Alvares que sahiu do Rio de Janeiro, com um hiate ¢ 30 homens, em 27 de setembro do mesmo anno (Vide documento no Arehiyo Publico Nacional (i, —Cook tocou-a em 28 de maio de 1775. —Nova occupacao ingleza em 1781. Os inglezes agora pensaram em ficar. Desembarcaram no Porto do Principe, (Memoria de X. de Brito, Rev. 1. Hist. Vol. 40, Il)eahi fundaram um forte a que, segundo Xavier de Brito, deram o nome de Forte da Rainha, nas que provavelmente foi baptisado com esse nome pelos poriuguezes, em 1783eem honra a D. Maria de Por- tugal, tendo tambem construido varias casas pequenas, de cal e tijolo, e um deposito de material. Naturalmente 0 governo portuguez soube dessa occupacio de 1781 por uma carta dirigida ao Marquez de Valenga, em 30 de janeiro de 1782, Esta carta partiu da Bahia ¢ a copia foi encontrada recen- (1) Mimo. ¢ Exmo. Sr.— Em earta de 18 de jusho do anto proximo passado so me ordena pela Secrotaria de Estado desta reparti¢io mande huma Sumaca, ou Hyate dos quo sto do Real servico ‘com trinla homens que se poderao tirar «a Guarnigio da Néo N. Senhora da Alampadoza © que o mesmo Se. ers servido nomear o primeito Piloto da dita néo Joseph. Alz, para ir demandar a8 ilhas da Aseensio, Trindade e Martin Vas, ena lha da Ascensio, fazer exame das sondas de toda lla, dos portos que tem, eventos quo reinam nacosta de toda Ilia, Longitndo, Latitude dos dis portns, fe avareagho da agalhs Bm exocucdo de dita ordem mandel sahir o dito Piloto em 27.ée setambro do dito anno na firma do aviso qno jt fiz por essa soeretaria em carta de 22 de solembro o anno passado; ¢ voltando 0 dito piloto esta cidado em 16 de dezembro, © nio trazendo mais notiela do que o quo consta do iario que remetio-Ihe ordenei yoltasse no dia 42 do janeiro ver so encontraya as ditas Tihas. Hontem a noite entron nesto porto e ordenando lho fizesse a sua dorrota © 0 mappa de uma sh Iiha que acho da primoira © segunda vor que foi a esta diligencia, mo respondeu Ihe nio cabia no tempo, a vista do quo the mandet fizaso ¢ o diario que a V. Ex. rometo, Fiea tirando © mappa © por prompto os documentos quo mais Iho s4o precizos, os quaes remetterei na frota a V. Ex. quo Deus 4d. muitos, aninos. Rio do Jausiro, a 28 de abril de 1757. —Illm’. e Exm®, Se. ‘Thomé Josquim da Costa. Corte Real. —Josoph Antonio Freire de Andrade. 9-918 6 ARCHIVOS DO MUSEU NACIONAL — Yous XXL temente no Archivo Publico do Estado, em 1896. Falla de um combate entre havios inglezes ¢ francezes, a 180 leguas a este da Trindade. Venceram os inglezes, trazendo os prisioneiros doentes de escorbuto para.a Bahia, Diz textu- almente «que os Inglezes tem desembareado nella cincoenta homens, € quea ficavam fortificando, tendo jé levantado huma Bataria ». O governo portuguez, pediu esclarecimentos a Luiz Pinto de Souza, representante de Portugal em Londres, que promptamente respondeu confirmando a noticia de que o commandante inglez Johnstone deixara na Iha da Trindade 0 capitao Daubergne, que commandava a chalupa Sharék e mais quarenta pessoas na stia maioria franeezes feitos prisioneiros , () Bis o quo ioformou Luiz Pinto de Souza representante junto a cdste da Inglaterra so Govern de Portugal : N, 83 — Ilo e Exmo, Sr. 4 — Apenas reosbi em 17 do passado a carta de Y. Ex. relativa aos rumores que se tinbam espalhado nessa Cri, de se haver apoderado 0 Commandante Johnstone de uma ltha nas Costas do Brasil; nto perdi tompo algum em examinar a verdade do facto, empregando nessa dligensia todas os molos que s0.poderam descobrir. AS primciras tentativas no produziram mais effeito do. que Induepies provaveisfandadas nos mesmos ramores, que ahi so tinham espalhado ; © nesta. inecrtera, Julguei conventente de nao regoitar os mais quo me vieram sugaridos, procirando uma coaversagio, algumas clarozas daste ministario, 2—Mr. Fox mo respondow unicamento que sabia cm goral alguma cousa a respaito do dviato do Commandante Johnstone, mas som conhecimente ingividuaes, em o8 quaes me pudesso respon. Os termos desta resposta mo confirmaram eaia voz mais, do que slguma cousa exist so. bem me persuadli, que me ora a intencto deste ministorio o sustental-o. 3 —Rodupliquei finaimente as minhas diigencias, ¢ alcaneei por infarmagses, pastivas, a ncticid seguinta: — Quo o Commandanto Jobnstone deisara na tha da Trindade o Capitao Dau Dergne que commandaya a chalupa Shark, © mals $9 pessoas de Guarnigio; fora algumas mulheres, sgados 0 outros provontos; Que a referida tha so achava desorta, e sem vestigo algam do ter sido habitada ; © — Que a sua posigfo era 21° 30° do latitude do Sul, e 28° 48° do longitude Oosto do Noridiano de Londres. 4 — Seguro da yerdade dos fuclos quiz ouvir © quo disa © Commandante Johnstone, a respsito 4a sua viagem, tendo a opportana oeeasiio do jantar em sua casa, e ligando eom ello uma con versagio (como de simples euriosidade) este offlclal me respondeu com grande ar do franquons. 0 sogalnts : Que olle nto tocéra em Fernando de Noronha ; mas tio sémente 0 capitdo Pasley, o que fizsra hnaquella altura duas precas; porem que destjava fazer um grande servigo a Portugal dando-me parte do Descobrimento de uma nova lia reconhecida polo dito official, a qual jaia entre Fernando o Noronha e a Terra firme de Pernambuco, com © nome de Tamandaré ; Que esta Ilha era raza, «© arouosa, port capaz de prover de sal todo o Brasil; e que se & minha Chcte adquirisse 0 segredo Aesoobert> pelo Capitto Cook, de salgar earnes, nos paizes quentas, em a mesma perleigto que nas do Norto, Posto. que nos toria mais nocesidado, do trar carnes atlgaas de Roi mas Bstrangeiros Uromettew-me finalmente a Planta da mesma Uha ; mas disse-me que nto podia entrogar antes Je a ‘mostrar a0 ministorio. 3—Daqui passou oxpoutancamente a fallarsme na ha da Teindade, que 0 Noteiev Portugues «ie Pimentel colloeou om 20° 30' do Sule a 410 legoas da Costa do lrasil; © puxando polo Piloto da India, quiz mostrar-mo a sua posisto assontando nos principins seguintas Quo todas as thas, que jagiam naquellas paragons, oram donominadas pelos Geograyiios 1modernos debaixo do titnlo collectivo do has de Martim-Vas as quaes se subdividem em duas a COMMEMORATIVO DO CENTENARIO DO MUSEU 45 Moveu-se o Governo de Portugual, tendo o Ministro Martinho de Mello c Castro, expedido ordens positivas ao Vice-Rei do Brasil. « Nesta inteligencia tem Sua Magestade determinado fazer sair dela aos Inglezes que ali se achio; ordenando que imediatamente se expedisse a V.Ex. este Aviso, para 0 prevenir sobre 0 modo de se praticar a dita diligencia, o qual deve ser 0 seguinte: Toda a accio deve ser feita por ordens imediatas de V. Ex., como Vice-Rei do Brasil, a quem Sua Magestade confiou a defesa, © preservaciio dos seus Dominios; mostrando V. Ex. nas suas determinacoens quando este negocio se fizer publico que nem teve, nem precisaya ordens da Cérte, para nfo consentir o dito estabele- saber : Asgensto e Trindade : Quo muitos dayam tambem & primeira o nome de Trindade, suppondo {que fosce huma 38; 0 que ello nfo podia decidir, palo nfo ter visitado ; porém quo para evitar de rnomas, denominardo a que fica mais a Oasto; Asconsam, ou Trindade A; a que ficava mais a Leste Trindade B; mas que nam huma nem oatra sobreditas correspondiam na deseripgio que dava Pimentel com a Tiha que este tinha descoberto naquollas paragens, supposto jazesse com pouea differenga na mesma latitude ; porém a respeito da Longitude observada, tove toia & precaugao de a io referir.—Entrando, porém, na deseripgdo physica da mesma Miha, disso-me ; que era_um rochedo sem prestimo e sem mais oxtensto do que a de # milhas em cireuito ; que nao tinha acolhi~ mento ou surgidouro proprio, sondo toda a costa hum fando de recife que eortava em pouco tempo todas as amarras, © que yor isso perdora. alli huma chalupa, ¢ estivera em risco de’ perder toda a Espont Finglmente que tinha sido obrigado a demorar-se alli algum tempo para fazer aguada, © para ‘desembarcar a eguuipagem de huma Proza Francea, quo vinha perdida de Escorburto, porém que ‘venvdo-se obrigado a partit, deixara alli aquolla gente para sor transportada a Europa em huma Embaveagam, da qdal p20 havia ath o presente o menor aviso ; © por isso tinha 6 representado @ este ministerio a neces idado do mandar-se informar da sua sorte. 6 —Ohservei ao commandante Jonhstone que a sua pretendida Iiha, podia bem ser a mesma que os Portnguozes denominaram de Martin Vaz, ou $. Maria de Agosto ; peis que o nome collestivo ‘que os Mappas Inetezes davam (Jebalxo da referida denominacto) is ilhas da Ascensam, ¢ da Tein dade nada signiicaya; © que a verdadeira consequoncia quo daqui se podia tirar era: que na roalidade oxistiam tres (3) Uhas, com os nomes de Asoancio, Trindade e Martin Vaz, visto que a ‘deseripgio individual que Pimentel dava das duas primairas, nfo combinaya com a da terecira que cle visitara : Ao que Me. Jonhstone responde quo talvez teria eu razo na minha coujectura. Podi-lne pois para melhor me orientar nella, que me emprestasse por um dia o Livro de Arto de Navegor de-Pimentel, 0 que ell fez; ¢ examinando-o attentamente achet nelle a0 pé das Taboadas, ho titalo das Iihas do mar Brasileiro hua nota em Lapis, defronte da Columna da tiha da Trindade ‘ m | t—# oe | at we xaminando com particular attongio esta nota, vim a descobrir som diMleuldade a slugio 0s 7-48! sto a diferenga entro 0 Neridiano de Londres, o 0 primeiro da Ilha do Ferro, (0s §° 24" so os grios da vosdadsira Longitude da ilha descoborta comtados deste ultimo, © por onmequoncia 0 sou complomento em lougitude oocidental, a respeta do Meriiano do Londres, ne 0 estado da somma dos 35°. Pelo que toca a latitude achel igualmente em Lapis outra nota de 20° — 30 71 Continaando este doseobrimento om os mappas mais corrects, achel que o Piloto Fogler da India calocara a lina da Trindade, na longitude de 26 ao Ofte de Landes, o presente na mesma 116 ARCILYOS UO MUSEU NACIONAL — YoU. xxit cimento em huma Ilha a que esta Coroa tem um direito que até agora ninguem Ihe disputou. » D. Luiz de Vasconcellos.e Souza, apoiado nas ordens recebidas, em 7 de dezembro de 1782, investiu o Capitéo de mar ¢ guerra Jos¢ de Mello Brayner de poderes para liquidar a questtio, Brayner sahiu logo, commandando a nau N. S. dos Prazeres, a fragata N.S. da Gragae 3 transportes e levando 150 homens de desembarque sob o com- mando do Marechal de Campo José Raymundo Chichorro. (Rev. Inst. Hist. Bahia, vol. III, n. 7, pg. 40 ¢ segs.) Seguiam ainda dois religiosos francis- canos e, pois que 0 Governo queria occupar a terra, sementes, plantas, ani- maes, ete. Por uma carta de 7 de fevereiro de 1783 (lambem achada no Av- chivo Publico da Bahia) si vé que Brayner,em 23de janeiro desse anno esti em frente da Enseada do Principe. E tinha ordens dec piar s:—«prine Latitude; ~0 Hydrograplio Frances de Mr. de Beling em 8 gros da ha de Ferro, e em 20 de lati- tude meridional ; d= onde vim a eoneluir, que se nfo potia maior para determinar a verdadeira situagdo da fa da ‘Trindade, §—Resta pordm para observar a disparidade que se encontra entre a nota de Mr. Johnstone e 4 longitude que aleancoi pelas minhas avoriguagtes. § 3", a raspeito da la denomidada Trindade aonde aquolle olielal, ou 0 eapitto Pasley dosem- Dareou a gente; porque eonforme as mesmas, a longitude daquella Una he de 26°. #5 do meridiano de Londres, e nto se pido conjecturar do crro t2o geande de diferonga om to poquena distancia, para sedever suppor que seja 4 mesma Ilha ; © n4o das. A identidade dos noms nto causa embarago; porque Jé observei a V. Ex. quo o commandante Jonhstone appalida duas ilhas com 0 mosmo nome de Trindade A 0 Trindade B; © ho mais quo peo- sayol nto ser a ha mais oriental Trindado B, quo 0 mesmo Joahstone descobriu, a mesma em que se dosombarcou a gente, mas que saja esta a itha mais oveidental, Trindade A ; © quo a explleagao que 0 roferido eommandante me fex no § 5° nfo fossa esse rospeito a mais sincora, 9—Para domonstrar osia conjostura basta reels, que os mapas, Inglezes @ Krancoaes collcam a ilha. mais occidental, quo commumente denominam Ascongdo outros Trindade ; na Longitude occidental de 11 grios da tlha de Ferro, © ua Latitude de 20° 30° ¢ que eorsespondo exa- tamente com a noticia da minha informagae, pols 17°68 dif do moridiano de Loudses a0 primeico; com {10 que he a vordadeira Longitude Geographica di 28°43’ complamenta que se protendia achar. De tudo 0 deduzilo se dove, pols, concluir que o commandante @ Joutstons, ¢ o eaplito Pastey, vsilaram duas ithas no mar Brasileiro; a primeira (0 mais oriental) na longitude do 8-28 a0 ovsidente da ilha de Ferro; ¢ a segunda em 11° gréos do mesmo movidano fazendo amas debatxo 40 mesmo parallolo do 20°30" ao sil da Linha. Que a pfimeira he que Jontstone denomina ‘Trindade B © quo protende haver descoberto; e que a segunda (appelliade ‘Trindade A ou Ascens2o) lie a propria que deixou guarnecida, © por consequencia.a mats immadiata 4s costas do Drasi Tendo porém verieado bum 0 facto a resp da oecupacio do dia ilha ; pareceasme conven niente nao perder tompo em folhear simente a este ministerio a respeito da sua evacuagho apresei- tando-he sobre iso uma nota da qual remotieria oipla a Y. Ex, polo corvelo successive, Deus sguardao V. Ex. Pinto. de Sow 23 Oat. 4004). Londres, 4 de junho de 4782, —Mlim. Exm, Sr. Ayres de Si Mello.— Is (Memoria Historien — Eduardo M, Peixoto — Doo. n. 26 B — Diarfo Oficial — COMMEMORATIVO 10 CENTENARIO DO MUSEU aaa um estabelecimento » ; si 0 cay prompto e acertado\. Mas, quando os portuguezes chegaram, jé os inglezes, por ordem do Ale mnirantado que reconhecéra o direito de Portugal sobre o territorio, o tinham abandonado. Foi nomeado por D. Luiz de Vasconcelos e Souza, primeiro com- mandante da Ilha da Trindade, ocapitio Manoel Rod ‘Ivano, quelevou ‘io inglez no obedecer, «dar um golpe iguez (4) Tendo ehoxado & Real Prozenca de Sua Magestade a noticia do Estaboleclmento que 08 In- sslezes tom feito na Tiha da, Trindade, pertenconte a estes Dominios, tomou a mesma Senhora a reso- Tuga do ngociar eom a Corte de Landes, com que a d> Portugal se conserva-na mais perfeita paz, ‘camizade, a pronta evacuacao da refecida Tha, na qual Ne indisputavel o dominio que tem a Coroa de Portugal desie 0 seu deseobrimento. Em consonencia do que se Herige do Alimirantado da Grande Brotanha ao official que intruza- monts eomanda o dito estabelecimento a Orem junta, que com esta entrexo a Vossa Senhoria, om ‘que se Ihe determina a evacuacto que immediatamente deve fazer da mesma Mia. Togo qua V. S.chegar a0 porto della remetter’ por hum dos seus ofielaes a referida Orde ‘ao Comandante Inglaz solicitando a sua execucto pelo modo determinado por Sua Magestado, a arta que Iho ontrogucl da Secretaria de Estado desta Repartigao, com a data ce dezoscis do Se tembro do presente anno. Nao duvidando 0 dito Comandante Inglez, como so dove supor, dar logo xooucdo a sua Ondom to positiva, deve dezembarcar a tropa, que Vosta Senhoria, de accordo com fo Marechal do Catpo José Raimundo Chichorso achar proporeionada, para ficar destncada na rete~ ida Tihia, debaixo das Ordens do Sargent Mor Manoel Rodrigues Silvano, que tonto nomeadlo eom- mandante della, coma attilheria, munisoens, petvechos, viveres, e mais provisoens necossari endo Vossa seuhoria a seu bordo, © das mais Embareacoons o dito Commandante Inslez, ¢ ms ‘Vassalos da Grane Beetanha que ali s© acharem com tudo 0 que thes pertence, © quisrem trans- portar, para serem conduzidos @ este Porto com o melhor tratamento que Vossa Seuhoria Ihes puder fazer, Como pode, porém acontecer qne o dito Commandante tnglez por alguns mot ocultos duvide com prontidto, ¢ boa fé evacuar a referida ha, para este eazo vai proven dente Expedisto na forma das Ordens de Sua Nagestade que tenho comunicado a Voss Souhoria, 4 vista das quaes se deve coneluit com a forza, © que no puder persuadir a razao, e a justca "Ter Vossa Senhoria entendido quo he o chef da mesma Expattigto composta na mio do sou ‘comando Nossa Senliora dos Prazeres, da Pragata Nossa Senhora da Graga, © mals tres transportes, para com bola a authoridade, 0 juristiogi> que compete a ham chefedo Esquadra a devisir a0 seu esting com o acerto'quo Iv proprio da sua inteligencia, e nslo do sorvigo de Sua Magestade para 0 ‘que formar o Regimento que devem seguir a Fragata e mais Embareagoons quo os re shancdantesexecutarao com a mator exaesto distribuindo as suas Ordens com? entend Mieiaes para o comando nos ceferidos transportes quaes, @ quando Ihes parecer eony Ni mesma Expodieto vat a Tropa regolar de Infuntaria, © Artiharia com os oficiaes necesstrios, f@ por seu General 0 Maree'al de Campo Jox6 Raymundo Chichorro, com a Artitharia, munigoans, @ provimentos necessaris para qualquer aesio, © para fear prineplado o novo estabelecimento, quando Yossa Sonboria cucontre no ofcial ingler a dvi « peomeditada antes da ultima inti~ tmasio, como sua Magestade Ihe tem ordenado na sobredita carta de doseseis de Setembro ters tudo ‘Tosposto, © prevenido de acdrdo com o dito General das Tropas para se dar hum golpe pronto © acer tado. Nada tenho que dizer no cazo de encontro naquele Porto com alguas embareagoons Inglezas {gut s¢ oponham a0 nosso intento ; porque este eazo <0 acta premelitado, ¢ reralvido por Sta Na~ gestade na dita carta de desesois do Sotembro. Nas duas Fmbarcacoens de Transporte de Suk Magestade yao por Gapolaens dons _feligiosos os com o destino de flearem ocupades no roferido estabelacimento, 08 1 jas Vossa Francis 418 ARCHIVOS DO. MUSEU. NACIONAL — VoLu xxH1 instruecdes minuciosas entre estas ade colher e fazer remetter material de Historia Natural. « Sendo um dos objectos da particular recommendacao de Sua Magestade a remessa de tudo o que pertence a Historia Natural, Vossa Merce me remetterd tudo o que alli se encontrar de raridade ». Quem niio vé nestas palavras o alto discortino de D. Luiz de Vasconcellos, © fundador da Casa de Historia Natural ou dos Passaros que mais tarde deu origem ao Museu Naci ional ‘. Eo destacamento abi deixado, de cento @ Seaoria para iso far dezombarear,soprindo a sua fala com os da Nau, Fragata que the paceeee somone, Se for maior domora de Vossa Senhora ua. refrida Ilha, para Alspr 0 que for nocessario pata o embaryue dos Ingles, eda Tropa, que devo walla, os» padeder ao mesmo ten alga das Embarcagoens de Transparte, ella me fara Vesa Senhora Igo Aviso do. tuo, commun cain ao dito Marocal esta sua determinagio para tamiom mo partodpar pola sia parte @ que se the ofareer, Mas semper exparo que Vous Senoria tome hum pera couhesimonto do etado da Una, do estabolecimento qu pre adr, tal, qua m possa dav grants, luzos para. acotar servigo de sun Magestade a oso rexpeito, bom oslo de quanto Vasin Souhiora nele so tom des sido, oha de dstingnie nesta ocaato. Deos goande a Vosa Seuloria, Rlo—seto de dezenibro de 1182—-Luie de Vasconcelos Sona —Senhor Job do Nello Braver. (4) Tendo nomeado o Capito Nanost Rodeguoe Silvano para secvir do commandante da ha da ‘Trindade foam dadas palo Vice-Rei D. Lulz de Vasooneala as segintes instruc «tvaguada pelos Ingres aha da Trindade, pelonvonte a estos Dominios do Sua Magostado 6 entragues della os doos Chefs da presente Fxpedigso, 0 Marechal José Maymundo Chichoro 0 Ca- pltio do Mar eGuorra José do Mello, o dito Marechal ia do faz publeae a Yosta Moree Comandante Ja mesa tha, © ostabelocimento que nella se pretonde formar, om conformidado da Porta Nomeagto que yara ese fin Io entreguni com a data do ino do prezont, 0 anno, naa elato Sargento mor graduado,o comandantodolli.Da dita Nonoacto fear Vosta eves entendendo, or contiar muito do ano, prestimo, e atividade vom que se ten destinguldo no Real Serign, tenho enearegado do Gorerno Militar, © Fooaomic deste novo tstababcimonta, pata iit 6 spliae a Tropa que fleas goaruecindo es imporiante Sit, egualmente por Lodo 0 soe forgo enidado na particular dieses, « economia do tuto quanto for eonoernente © propt aumento 0 conservasto do mesmo Bstabelesimento. 0s refriios dois Chetes tem a seu cargo regularem & vista do tarrono 0 numero de. ‘Trop Infantatia, © Avtharia quo aki deve Rone destacada, com as compeontas owas, munsons, pox trae, votes, © mas proviznensproporconadas ao Srvig della, para a0 depots de tern posto tudo na dovida regolaniade, ee entragarom a. particular insposto de Yoon, Moco tao 0 que entre si eoncordarem quo abi davo fea, ss transportarm para esta Capital com a demas Tivps;» sente do sou comand, feando Voss Moree desde ent4o incunbido de talo uamto Ihe for eneat vegado a bem do Real Servigo. A primeira, principal baz om qu Vosts Mores dove fandar' felicilade ¢ augmento des ova Povongd, consists om fase respeitar a Relig, sano com o.seu exemple. as methones In. teasoins para todos 0 Soo subdiioesoguirem, © obstrvarem, como dovem os inviolareh prov a Santa Nao Igreja; com ests Gm, tenho destinado para carom nossa ha on dou Telia Francisanos, que espero exaritom os briganons do sex minissro com zlo. da honra dn DEOS, do servigo de Sua Magestade cidando om tudo quaito pertonee a doutsna, bons extumes,¢ bet spiritual doses habitantes E como nlo'ha por ors, nest ilha lugar rosrvado parm nelle se eo. lobraro Saericio da Misa, Vossa Meron oom a amistoncia dos mesmo) Religions esaiers 0. quo for mais deonte para nolo 50 coloearo Altar porta, que The dora sor entroguo com on neces po escuzar COMMEMORATIVO DO CENTENARIO DO MUSEU. 419 Paramentos, emqoanto 59 culda da Igeyj, que “prontamento se dove olifoar no logar mals a roporita. io porea Vossa Merce, porém, de vista a viglancia que dove tor nto 5 uo procedinento, vida, © costumes deste dous Relisiozs, mas tambom a formalidads doucteian quo ensinarem para me dar tndo ha conta bem individual. Anda que mo consta que 03 Ingles construirio hia expocie de Fortifcagto om que tom mon~ ‘ada alga actiluaria conto, emo ignoro 30 eas qualidade do obra, tom aigia utlidade, ou pros timo, Voss Morea eximinara gom o maior cuidado,ecircunspesio os trabalhos que olle ahi aera para uo caso de sor atl essa mesma Fortlfoagio a fisar guaruccendo a nossa Tropa, e #0 for abso. Jamente desnecssariae de pouco ou nenhum prestino, sompre conve quo nos npoveltamos, ¢ sirvamos dela emquanto Vossa Merce aplica as maioras deligoncias para 20 levantar interinamoute 4 faxina, trea, pans apique a om que so deve montar a Artiheria,o fazer 0 Quartel para a ‘Tropa waquelle lugar que for mais defensavel, rametendo-me ogo a Planta do. que ahi aca cons. ‘ull, @ dos projeetos de todas as obras que se deve edicar. Igualmente deve Vosin Mere fazer constrir os Armazois, que hlo‘de. sorvie de Deposits para 8 assecaagto das munisoens de guerra o boca postencontes a0‘Trom do Sua Magestade, ¢ sua case «ue sova de Hospital, as quaes Obras poderdo. sor feitas intorinamente de pao & pique cobertas de alba e des materiaes quo abi honverom ¢ forem mais comodos, ainda quo vad sian. de metor Aluragio, Dove tam: ansilar ¢ animar os cazaes, © mais individuos particnaros, quo para ahi se forem remetendo, para debaixo lo aia mesma planta e rogulardado formarem as suas habitagoens fazendo-thesdelinear @ mode cs terrenos.proporcionados a cada hum com a rozorva do algumas Sagas nas marinas, que dovem fear livres e derma Notre os oflcaes inferiores desta Guarnigto, escolieré Youn Moreo 0 que the parecer mais ‘erdadelro fel ¢ desembaragado, para sovvir iterinamente de Almoxavife, feando enearregad do articular eudado, ¢ arrecadacao das munigies de guerra, e boca, abarracamento, @ mais porton, Cente a Sua Magestade, para dar conta de tudo quanto ihe for ordenado apontando.me Voss Mervs cm este prestine, ou dos que ai fearem ou dos quo servem nesta Capital, o nomeare logo, Yencendo com rds por da, além do Sokto que the competi. Reseravos com a mais escrupulsa arveradagto o8 mantimentos quo so dessarrogarem das Ei Yareagoens de Guerra, e de Transporte, asim com os que se confinuarem a remetor dota Capital Para a subsistoncia da Tropa © mais habitants, hid Vossa Moroo munielando a ead individuo indistintamenta que 4 sua Razdo de Carne ou Peite, Sal ou Farina, ¢ mals que for necesari, faseno-se esta dstibuigto com igualdade,o som exeaso oa desperico. Keomo todas aquelas Pessons qe mo forem compreenidas no numero a Tropa, so socorridos pela Real Fazenda, 6 emquenta pela sua industria, e trabalho nQo adquicirom mains para a soa subsistoncia; tard Vosen Mero 6 ‘maior euidado om que nao vireo entregues a0 ocio a preguisa, esforsando-so a animadas ao trabalho 4a tavoura, oude outra qualquer industria util, « nocesaria, para qua por este. modo so posto dleminuie para o futuro aquelas despezas & proporsto queso for atmentando a Povoagdo, 6 Inus- tia, que faz estavelse independentas tarrenos ainda do muito poqueno circuit, o extonsto, Paroco dessecessario reeomendar& sua oicacia a boa. dsciplina com que deve eontar a Tropa na mais exacts obedigncia ¢ subordinagto; a exemplar doutvina quo actualmento vejopratioada vo seo lagimento me tem asispersuadilo, 0 goafiemado neste mosmo conceit. Somelhaae alsilina, @ rogulardade deve Vossa Mores f'zor praticar com a Tropa do sou Comando, exoreltando-a nny diversostrabalios de Infontaria, Arihasia © Fortieagao que forem necessaries, Confrmo as eit stancins ocurrntes. Deito, orm, a0 prudonto arbitri do Voss Merce 0 melo termo que deve soguir neta materia para rogular, eescalier os Soldados quo pudor dspensae mais aptos, 6 robustos para sorem mpre ‘ados no trabalho da Lasoira que dove fazar hum dos prinipaes ohjetos desto estabelocmest, visto nfo haver logo no seu principio o numero proporcionado de eazaes, ede individuns que podem ‘ocupar-se em semelhantes trabalhos. Gomo 2 Tropa, que actualmenta fiea goarnagendo esa lha, hia de ser madada por outro novo’ 120 ANGIIYOS DO MUSEU NACIONAL. — VoL, XxIt Destacamonto, quando me parecer convenient servindo talver esta nesessariaalloragio de protoxto para so nfo enpregarem 0s Soldados na lavoira, de que recearéo nko colher 8 frutos com tanta oficacia; nese eas, quorendo alguns deles permanccae nos tha, princnalments os que tiverem familia com que nela so se quero extabeloce, rio teei davis do os comservas,e atender, partici pando-me Vossa Mores asim para diminuir 0 mumero dales no Dastacamento que se seguir. Tgualmente dove Vossa Merce pr o maior euidado o vigitaneia em quo enter fads os habita dost nova Povoasho, so extablesa a mais pecfeita armonia,e nuit procurando Vossa Meres dirgilos ‘© encamihalos desde o principio a hia vida regular, e laboroza, dspida do moter, © froxidto que toniuzom avs mores vcios, mistarando o respite com a brandara, e 0 rigor com a pradoncis, 0 Tara preronir om huns, eohibir om em outros, as diseordias,disonsoons, © inimizaes, sendo bom arto quo do hia boa creasto doponda toda a wtilitadedosto Estabeleeimento. Por iso dove Vosse Merce ser mito pronto om eastiar todo aquele que fomentar parts, © inteigas, 6 portarbasoans, © om advertic logo os mais poquenos desis, « omisions, porquo este 1s o meio de evtae doltas maiozes, dos quaes Voss Mereo me dar pacto, para Ihe poder dar « providencia necessaria, quando 0 ea%0 a adic, prsuadindo-as Vossa Moree que com estos exompio com aquoles enidados do ndo consintir 08 habitantas ociozos entceguos & preguiga, mas sim ceupados ¢ entretides com o trabalho, o coonomia necersirla para a sas subsistencia: Né que so onsogue a tranquildade publica ainda particular do qualquer Povoagto,feando os mosmos habi- tantos uteis ao Estado, ¢8 si mesos. Nesta ocasio se remetom as forramontas nooosarias para a construsdo, © para a Tavoira, quo Yossi Moree hit deseibaindo plas psoas propras pra hum eoutro trabalho que edo no Desiaea- mmonto eseolhidas do propoxto; tambem v0 sementos do que lembron mais necessaria, © hiriao mitas mais se so nto iuorase a qualidade o fertiidado do terreno, e & abwadancia, on extorlidado das suas agoas, para com a experiencia das rodusoons que ali hi, se poder formar eonceito do quo ode sor mais proprio pata ese Pais, nde Vosia Merce procrar.conhooer, « alstinguir os terrenos ‘0 son diferent prostimo,¢ quaes ato as Fsiacoens mais proprias para of aliferentes trabathos a Agricaltaa, Esto examo nfo sori tio demorado eomo parece, porque das plantasoens que ahi teom fuito 05 Inglezes, e do moto, e tempo em que as fizerio, o pode tirar hum grane, ¢ pronto eanhoe- rmonto, endo para refetie que hi muita qualidads do plantas quo tem tal semelnande, ou analogin, fue aonde hua prodiz tom, pordazem as outtas quo sio como diversas especies, compretiondilas dabaixo de hum sb genero. ‘Hosta materia, com soias as mais perteneentes «esto Estabel Jogo tomar tal conhecimento, que posa informar-se com a maior individ para s0 nio retasiarem as prosidancias que dover dar a oso respeit cipiaté Vossa Merce. por hia dscristo desa Ilha com os se08 portes, @ Easeados com distinsio das que sto mais abrigadas, e saguras, no se0 estado natural, com a sua Planta, que dle tudo bom a eonoca:, continiando-a cam hia individaalexpiasto do estado a que a reiusitio os Ingozes, © om quo fea, para de tudo fazer hum juizo claro, @ dar a Sua Magestaco ha. exactsima informagao, ealeulando sobre tudo o nuinero de habitantes que poie admetir a mesma tha, © entar para o factaro, das suas proprias produsoons, © as terras que se The podem repartir pari ta, mento, procurar’ Vossa Marco {10 e possivel brevidado por aqui se podar regalar 0 numero do Cazaes que s2 davon transportar par Tgualmente se deve considerar se sar convenionte mandar algum ao, ¢ de que quali para se nio penier tempo nesta doligencia. Para se poder pescar junto ao porto desa Iiha, vio duas eandas proprias com todo os preparos nocossarios, e Yossa Merce me informaré da utilidade que pode resultar desta. deligencia, ou dos inconveniontes que advertir na pratica dela, Dovendo abrit-so lua communieacso frequente desta Capital para essa liha por meio do poqnenas Enbarvagoens, no sb pars sor soeorrio ese nova estabelocimonto eom os prorimentos necessarios para a sua subsistoncia, © seguransa mas tambom para me serom participadas a tempo as infor- ‘magoes de todos os acontecimentos ocurrentes, e dar as providencias necassarias, tori Vossa Moree. © culdado do logo que chogar qualquor dosas Embareasoens, mandar descarrogar dolla a carga que te COMMEMORATIVO DO. CENTENARIO. DO -NUSEU 421 cincoenta pragas e pouco depois reduzido, a 88 individuos incluindo seis cazaes viyeu miserayelmente até 1795, quando 0 Conde de Rezende, novo vice-rei, de famosa memoria, mandou buseai-o. Fa Trindade entrou outra vez na sua solid%o, possuindo a mais alguns tumulos, alli deixados ¢ entre elles 0 do soldado Antonio Miz, que fallecou no dia 2% de setembro de 1783. teansportar, fazenito-a rocolter nos Armazens que iver destinado para sor rezorvada, © goardada, ‘oxaminando primeito os despachos que daqul levar o Mestre, ¢ as Holasoens da carga para a con- ferir no acto da descarga, dapois daqual se devo pasar o conhecimento, on recibo da entroga, para com elle ser dezobrigado 0 roferido Mestre nesta Provedoria. Do mesmo modo, logo quo for possivel, ‘expodiré 0 dito Mestre eom 0 despacho nocessario em que declare 0 Porto donde ste a Embareacio, equal he 0 do seu destino. Como 6 inevitavel que a0 Porto dessa ilha arribom alguas Embarcacoons Estrangsiras, obrigadas ‘da nocesidade, Yossa Merce, neste caso, praticari com os que nela 0 transportarom as Leis da Hospitatidade debaixo dos termos mais civis, procarando insinuar-Ihe as Leis, ¢ Ordens le Sua Magestade neste Estado, praticadas som alterasio nesta Capital, ¢ se alguns dos offciaes das mesmas Embareagoens yondo as poucas forgas da liha, tiver dezacordo de se quorer izontar do costame cstabelecido om semelnantes arribadas, Vossa Merco, porsuadindo-os com toda a civilidade, modo, © Atensto, som romper com elles, procuraré raduailos & devida observancia, das Lais do Porto em que ‘So recsbidos, dando-me logo conta de tudo, com os Antos originaes que se fizarem das mesma arvibadas. Para sempre estar certo do ostado actual dora Hlha, fara Vossa Merce extrair de tres em tres mezas hum mapa, ou Molasio goral, que comprecnda 0 Estado da Tropa, dos efeitos, Munisoons, Provizoens de guerra e boca ; com a distingdo das que se gastardo ¢ das que ficam em sor. ‘Tambom mo dav’. hiia Relagto exacta, ¢ bem circunstanciada dos progressos, ¢ diantamontos da Lavoira em geral, © das plantascens que melhor forem produzido em particular, ajuntando sempre as suas roflexoens sobre os meios quo Tlie forem parecendo mais proprio para. a conservagao © angmonto do mesmo estabelecimento. ‘Sendo hum dos objectos da particular recomendagio de Sua Magestate : a remesa de tuto 0 que pertence a Historia Natural, Voswa Merce me remsterd tudo 0 que alt xe encontrar de raridade, (O sgripho 6 nosso.) Finalmente, depois de entregar ao cultado de Vossa Meree 0 comando dessa ha, ¢ esparar do ‘seu zelo ¢ intoligencia quo sabord desomponhar as sas obrigagoens debaixo das regras da Justica, prudencia, © moderacto, muito necessarias em ham noyo estabelecimento em que apenas so principiou a langar os primoites fundamantos, no Real Nome ds Sua Magestade, posiivamonto the ‘recomendo a conservacio desse importante posto, para delle senio septrar antes e defender, como ae espara’da sua honra, DEUS goarie a Vossa Merce. Tio 6 de dezembro do (782, Luix do Vasconcelos ¢ Souza —Senhior Sargento mor Commandante, Manoel Rodrigues Silvano. (Vide Memoria historia — Eduardo M. Poixoto —~ Diario Oficial — 490% — Doo, 64). (1) «A 49 do julho de 1703 0 Conde de Rozoude propor ao Principe Regents de Porlugal a retiraia do destacamento do tropa que guarnacia a Mha da Trindade, por sor wn Rochedo infu ctifero, sem ancoradoiro, nem enseada, nem se podendo abordar, senllo em unas pequenas canoas, ‘que sempre vido expostas ao impeto das ondas muito elevadas em semelhante altura E mestas circwn- tancias sendo do pouea ou de nenkwma witidade,..» (0 Governo Portuguez a 6 de fevoroiro de 1795 ordenou ao Coade de Mevondo a retirada do estacamento militar que occupava a Ilha. De fuoto, em julho de 1795 seguio para a Trindade a fragata Princesa da Beira e uma curvota para de uma vez se fazer « eondugio da gents, « de tudo mais, que existe na mesma Itha, ‘A expadigto voltou a 2 de outubro trazendo um incontayel material de guerra, pertences de ros ra 3 428 ANCITYOS DO MUSEU NACIONAL — You. XXL —La Perouse, em outubro de 1785, esteve bordejando em torno da Ilha, onde desembarcaram alguns da expedigao. A relugao de Viagem, por Milet de Mureau, conta que a gente de hordo vira uma bandeira portugueza igada ao meio de um pequeno forte. Os tripolantes de um escaler que fora a terra ahi encontraram uma guarnigao «em fraldas de camisa». Os portuguezes, temendo nova occupagdo, exaggeraram as informacdes e computaram a guarni¢do da ilha em 400 homens, com 20 pecas de artilheria. A visita franceza foi impedida «nao sendo permittido aos Srs. de la Martinidre ¢ 0 recebedor que se afastassem da praia para estudarem a flora da Ilha e fa- zerem um estudo botanico »—(Vide,— Xavier de Brito, Revista do Instituto Historico— Vol—XL). —Nada se apurou da visita de Amaro Delano que aportou 4 'T em 1803. —A 10 de agosto de 1817, 0 bergantim Jeune Sophie, com foyo a hordo, perdeu-se nos rochedos da ilha. Salvaram-se 27 naufragos. O capitao Devaux, 0 Conde de Ameryal ¢ 5 marinheiros, num pequeno hareo, yieram buscar soevorros ao Rio de Janeiro, onde ehegaram depois de peripecias tragicas. D. Joao VI mandou seguir a escuna Maria Emilia. Mas, quando ella chegou (e 6 esta uma das dezenas de historias anedocticas da Trindade) «ss en- controu pendurada a um tronco uma garrafa, contendo a declaragio —que, tendo se approximado da itha wn navio, os havia levado para a India, que era o seu destino, persuadides que os seus companheiros néio voltassem com a lancha da Jeune Sophie. » (Xavier de Brito). —Owen, em 1882, tambem por ella passou. —No mesmo anno, Berard, official da canhonheira franceza La Co- quille, for. o levantamento hydrographico da ilha, E referiremos tambem a expedigiio Duperrey que a tocou em 6 de outubro e que, como dissemos, desfez a lenda de Ascensio e Trindade, Ainda em 1822, foi visitada pelo commandante Jorge Diogo de Brito, com a corveta Hapariea, nio tendo sido o seu relatorio divulgado. Estudou-a em 1826 (31 de julho) Dumont D'Arville, capitio do Astrolabio e em 1844 esteve nos seus arredores 0 navio Growles. Dois anos depois (1846) nayegou em torno da ilha a corveta Sele de Abril sob 0 commando de Manoel Maria de Bulhdes Ribeiro. Desereveu-a indade, Igreja (dedicada a Santissima Teindade), substancias © material da bolica © hospital, objectos do oposite de nayesayto, objects de pescaria, etc., etc. Pla lista do material que veio da Trindade sard facil avaliar o grande desenvolvimento que teve nessa epocha a occupacto portugueza eo modo de yida dos que a habitaram. Para maiores explicagbes consulta a memoria historica de Eduardo M, Pelxoto. (Docs. N. §3, St, 85, 86, 87, 88.— Diario Oficial — 490% n, 282). ‘COMNENORATIVO DO CENTENARIO. DO MUSEU 423 Jance o eapitio Lobato que, em 1849, viajava no brigue Sociedade, do Rio para o Recife. Ein 1856, 6 feita a exploragio do seu territorio pelos officiaes da corveta D. Isabel; 0 relatorio do 1° tenente Caio de Vasconcellos, seu commandante, 6 um dos mais conscienciosos trabalhos que se fizeram sobre a Trindade, ‘Tem-se ainda relatorio da viagem da corveta Nitheroy, em 1871, sob o commando do capitéo de mar ¢ guerra Silveira da Motta. Nao foi possivel o desembargue, tal o estado do mar. Dois annos depois (1878) cita-se a visita da corveta Bahiana, commandada pelo capitio Joio Antonio Alves Nogueira. Em 188% (29 de novembro) D. Pedro Il concedeu permisstio a Joao Al- yares Guerra para explorar mineraes ¢ estabelecer salinas na ilha. Mas, quando 0 navio inglez Ruby passou ahi em 1889, 0 territorio estava completamente abandonado. Jé sob o regimen republicano, ha uma tentativa que necessario citar, titulo de curiosidade, 0 Bardo Harden Hickey, americano, distribuia de 1892 em diante, na America do Norte, prospectos com o fim de engajar yoluntarios, afim de seguirem para o nosso rochedo e ahi fundarem um principado. 0 Governo da Republica fez notar que se opporia a qualquer movimento nesse sentido. : Em 1894, esteve nessas paragens o transporte de guerra Penedo, sob o commando do 1° tenente Joaquim Sarmanho. E pela ultima vez, em 1895, a Inglaterra oceupou a Trindade. Foi em janeiro, o navio era 0 Barracoula, que procedeu com 0 maior sigillo, Como teve 0 Governo conhecimento do facto? Diz-se que a 18 de junho, A noite, por uma transcripedio que o Rio News fizera do Financial News, de Londres. : Convem, talvez, registrar um episodio pouco conhecido. Quando esti- yomos recentemente em Bucnos-Ayres, Luiz Agote, professor da Facul- daile de Medicina dessa cidade, nos referin que, em 1895, sendo director da Savide Publica, teve de examinar os papeis de um navio que chegdra a essa cidade, tendo antes tocado em Montevidéo. Pesquizando sobre 0 porto de origem, yerificou que viéra da ‘Trindade, com documentos passados por autoridades inglezas, (H) Extranhando o facto, denunciowo 4 Legacao Bra- (4) Contirmando até certo ponte, 0 que disse o professor Luiz Agote, pole ser lido no Bt Diario, «do 26 de julio do 1805, do Buenos Aires, a seguinte noticia sobre a occupagio da Uha da Trindade pola Inglaterra. ‘«Uina esquadrilha ingleza, a 24 de dezombro de 4898, por ordem do Almirantado offectuou ‘dosembarque no ancouradouro da praia da Chapada e, acto continuo, com o ceremonial do costume, fo commandanto do cruzador Barracowla, acompanhado de um tenenta, dows guarda-marinhas, um ‘medico ¢ doze marinhiros, tomou pose da liha, em nome de Sua Magestade Britannica, e assim ; 124 ARCHIVOS DO MUSEU NACIONAL — VOL: xm sileira na Argentina, a qual, acto continuo, telegraphou nesse sentido ao Governo da Republica. Assegura o professor Agote ter sido essa a primeira ia dada ao Brasil sobre a occupagio ingleza. ‘que realizaram ese acto arvoraram na Mha win masiro apropriado, no qual igaram o pavilhto Inglez, firmando todos uma acta de posse, Depois, commandante nomoou autoridados inglozas, modico e o Sr. Fishbuen para commandante do porto, onde icon uma pequena guarnicto armada ¢ equipada, © cruzdor, afm do transmittir a communisag’o ao Ministorio da Marinha, seguio para Montovidéo, onde ehagow nos primeitos dias de jancivo, época em que estavam interdictas as provadaiicias do Brasil para o Rio da Prata, 0 crusador Barracouta foi posto em livre pratiea, porgue tr ‘autoridades inglesas do porto da Wha da Trindade, Esse documento so acha em Montovidéo, assignado, afi do porto. Esta navrativa fol feta por um tripulante da esquadeilha que so acha em Buonos Aires.» Por outro Jado, fa Razon ainila de Buenos Ayres, publicon no dia 8 deagosto do mesmo anno a seguinte noticia, sobre actos do Ministerio Argentino, <0 Ministorio da Guerra e da Macinha enviow ao das Relasies Exterfores cépia anthonticada da patente samitaria apresoniada 4 Capitania do Porto pelo cruzador inglez Bariacouta. Foi remettida 4 Lagacio do Brasil de Montavidéo, que a remettou immediatamente ao Rio da Janeiro. Assignava 0 oenmento om questo, como autoridade maritima da dha, ¢ mosmo modie do navio acima, o que estava a bordo quando 0 navio chegou a Nontovidéo, precedente do porto indicado.» 0 deputao Bolisario do Souza, na sossto da Camara Fedoral, 22 do julho do 180% assim fallon «ssa oecupagio data do janoiro © 0 nosso Ministro em Londres #6 della fave conhecimento quando reeebeu o teteyramma da nossa Secretaria das Relagdes Exteriores, AUG esso momento o Ministerio do Brasil junto & cbrte de Sua Graciosa Magestaile Raina Victoria tudo ignoraya.. © facto bam merece a meditagio dos Nonrados deputados, que com tanto afan defendem a nnocossidade o os diplomatas de earroira. (Muito hem.) ‘0 Sr, Sousa Correa, alids dos ma's roputados dos nossos diplomatas, tem uma longa earveira, ‘quasi toda passada na Inglaterra ; tom as melhores relagoos na ebri2 ena sociodade ingleza, © 0 emtanto de nada sabia, tudo ignorava ! ‘Nem mesmo, Sr. Presidente, quando imprensa londting, o especialmente o Financial News tao systematicamento hostil ao Brazil, noticlon o facto da oceupacdo, 8. Ex. so sontin na obrigacao do tolegeaphar a0 Governo. ‘A Camara, porim, apreciari bem 0 procedimento do nosso Ministvo em Londres, quando receber af informagies quo agora solicit. Polas informaghos mandadas fornecer polo Governo da Republica em resposta ao requorimento {do depatado Belisario de Sovza, fea demonstrado que a nossa Legagto de Londres 6 teve conhect~ ‘mento de ocoupagio da Tha da Trindade pelo tologramma do Ministro das Relagdes Exterionos ppdindo informagies © eoncebido nos seguintes tormos: ««Legacao Brasileira — Londres: Financial Nowe noticia occupacao Wha Trindade nome Goyerno Ingles, Informe som demora, — Minisiro do Bxterior. Esto telegramma esclaroco perfeitamento como o Governo do Brasil tovo conhectonto do ‘ccoupagto da ftha da Trindade pola Gran-Bretanha. Evidentemente foi pela noticta do « Financial News» transeripta no Rio Neiee. Mas, as trans cripgbes anteriores contidas nesta nota mostram 0 papel que teye a carta de saide ao Barracouta, communicada ofilalmente a0 Goyerno Brasileiro pelo da Argentina, carta a que alludio o Prot, Laie Agote. ‘carla de saude assignada por HL Diaxio, poe Fishburn, eapitao CONMENORATIVO DO. CBNTENARIO. 10 MUSEU 126 O facto-é que, em resposta ao pedido de informagies, 0 nosso Ministro em Londres den a conhecer a0 Ministerio das Relacgses Exteriores «que! a ilha cstava occupada em nome do Governo Britannico, para o estabeleci- mento do cabo submarino que dalli se dirigiria a Argentina (0. Aberta a questi, iniciou-se a discussfio do assumpto, tendo 0 Governo Inglez proposto arbitramento, em 16 de dezembro, 0 que foi recusado pelo Brasil, Foi quando Portugal offerecou os sous bons officios para resolver amigavelmente a pendencia, tendo sido acceita por ambos 0s paizes a sua mediagao. Revolvidos archivos e documentos, posto 0 caso em termos, apre- (4) 0s positivistas inglezes protestaram janto ao Govorno Tnglex por oceasito da oecupacto de 1895 com a sogulnte representacto A'S. Ex. 0 marquoa de Salisbury, principal secretario de Estado do Sua Magestade para os negocios estrangoiros. xm. Sr.— Ousamos ditigienos respeltosamente a V. Ex. acerca da eontestarto levantada. entre ‘4 Gran-Dretanha eo Brasil a proposito da poquena ilha da Trindade, afastada da costa da Amovica do Sul, ilha que o Brasil reclama como parte do torritorio. Dirigimo-nos a V. Ex. como inglezes intoressados om saber si o nosso palz procede bem ou mal em relacZo a outro Estado indopendente. ‘A roferida ila fol oveupacda, com a de Nartim Vaz, em janeiro ultimo, sob a administragio ‘de Lord Rosebery, por uma companhia telegraphica ingleza, No mez de julto, Governo do Brasil, tendo sabido da cecupagdo, protestou immediatamente © apresanou ao enviado inglez no Rio de Janeiro 03 fundamentos do seu protasta, Julgamos quo essas allogagbes no foram satisfatoriamente respondidas. ‘Na resposta dada o nosso diraito sabre a itha 6 baseado em uma ephemera occupacio que so reeonhece no ter doixado de si nonhom yestigio. Entretanto, ¢ ahi considerada como uma tomada do posse da ilha, allagando se que nenhum protesto foi feito por Portugal. ‘Sob o fundamento dessa passageira oooupagio, 0 ministro inglex reecbeu instruoches do V. Ex. para declavar que, como a itha é& precisa para estacao de um cabo telegraphico, © governo do Sua Magestade nilo péde abrir mio do seu direito. ‘0 governo brasileiro opp5e © sustenta com documentos: 4%, que em 1726 o lei de Portugal ‘exerela soberania sobre a ilha som nenhuma duyida sobre a validade dos seus titulos (0 que om si Imesino constitue um protesto contra as protensies da Gran-tirelanha) ; 2%, que no anno de 1782 0 governo do entio da Inglaterra ordenoa a evaciacKo da ilha pelos inglezes que a e389 tempo estavam dle posse della, reeanhecendo assim 0 direito dos portoguezes; 3°, que quando a colonia se soparou dde Portugal em 1822, ailha passou para o dominio do Brasit; 4", que de entao para cé a ilha tem. sido do tompos a tempos visitada por navios brasileiros, em 1928, 1831, 1850, 1871, 1884.0 1898, ‘como uma possessio indisputada do Estado novamente constituido ; 8%, quo nunca foi abandonada ; 6°, que, finalmente, os viajantes estrangeiros ¢ as autoridades geographices mals eminentas teom reconhecido que a referida tha & propriodade do Brasil. A estas autoridades citaias na nota do stto brasileiro do Rio poderiamos ajuntar o testemunho de uma obra geographica allem’ do valor, que alfirma expressamonte ser a Trindado uma dependencia brasileira, ‘Nem Portugal entio, nem o Brasil depois tiveram dayidas robre a validade dos sous direitos; nem parece quo tivessem qualquar suspeita da existencia do uma pretengio em contrario por parte da A-Brotauha. [A vista destas eonsideragées instamos com V. Ex. para que reveja & decisto common ada 30 sgoveruo do Brasil, docisdo que, segundo cremos, fol mada precipitadamiente pelo vosio predecessor, vm havor suficicntomente inquivide a quem pertencia a soberania da referida ia, Julgamos que rio basta dizor que provisamos da ilba e que por isso havemos do. ficar com olla. Pedimos que se rite a alleracdo das relacdos amistosas entre a Inglaterra o 0 Brasil, que seri a eonsequencia si tal reselugio for mantida. Que isto nao poderé deixar de dase, sabemol-o, por termos recebido 126 ARCHIVOS D0. MUSEU NACIONAL — VoL. XXIt sontado 0 laudo portuguez, 0 Governo da Gra-Bretanha reconheceu 0 nosso direito. Em 6 de agosto de 1896, teve 0 Brasil conhecimento de que a sua soberania sobre a Trindade era um facto, golpe habil do Con- selheiro Soveral e de S. A. D. Carlos I, que tanta repereussio teve no Brasil, contribuindo de algum modo para apagar os resentimentos na cionalistas que surgiram com os atiritos que se deram durante a revolia antilorianista. Partiu entéo para a ilha 0 Benjamim Constant, levando um marco- padrao de granito (janeiro de 1897) que nio poude desembarcar. Os expedi- cionarios conseguiram apenas levantar no local do «Forte da Rainha» um signal de posse:— uma bandeira de cobre com a inscripcao—Brasil—, tendo 1,50 de comprimento e 0,355 de largura, fixa a um mastro do mesmo metal, com 2,90 de altura. Sob essa haste, como base, foi collocada uma caixa impermeavel com uma copia do termo de posse, jornaes do Rio, moedas eo retrato do Presidente da Republica, Dr. Prudente de Moraes. Mais tarde, na praia junto ao morro das Tartarugas, foi consiruido o mareo de granito trazido pela divisio composta do Republica e do Andrada. (Vide Can- tuaria Guimaraes, Relatorio— 1914.) A 8de abril de 1913 0 naturalista Roberto Murphy, em viagem para a Georgia do Sul tocou a Trindade ¢ col- Apesar de tao visitada, durante dois seculos, a ha da ‘Trindade continuou a.ser deslocada pelas differengas nos levantamentos ile suas coordenadas deve principalmente & imprecisto dos instru- Marco dt da Tendade xeographicas, 0 que mentos. vigorosa manifestagto de opinito, oriunda de uma poreto influenta e altamente inteigente da soviodade do Rio de Janeiro. Pedimos que 3° poupe ao nosso paiz a deshoura de reter em sas mios, sobre fuudamentos ingonsistentas, aquillo que é reclamado por outro poder eujos direitos nao foram refutados. Seme- Thante acto do nosso governo seria, ao nosso ver, uma simples affirmacto da superioridade de nossa forga com indebito monosprezo das mutuas obrigaghes dos palzes independentes.—Ricuano Coxoxzvr. 35, Palace Gardens Terraca.— Hxxny Cnoxrtox. 42, Mecklomburgh Square. Pee 7 Lr COMMEMORATIVO DO CENTENARIO DO MUSEU 127 Aqui esto algumas observagoes: Latitude Sul Duarte Pacheco (Esmoraldo. 1308) Aleixo da Motta. Rapper é Duporrey (4822) Ponta >» Ponta 0. Dumont D'Aeville (1826). Moreira Cantoaria imaraes (1916) Ora, entre as observagses modernas, o maior erro vae a dois minutos. Afinal, a Superintendencia da Navegagio, em janeiro deste anno, fixa a latitude da ilha, no Pico,em 20° 30'-3"S Longitude: Para nfo citar uma grande serie de observagdes feitas pelos nave- gantes que a tocaram, basta assignalar as duas distancias seguintes, a O. de Greenwich: Cantiavia Guimacios (1910)... : iy ae ae Superitendencia da Navegacto (1918) Pico oe 2040" 3r" Estas ultimas observagses foram feitas com 0 mais rigoroso euidado, conseguindo afinal a Trindade fixar-se no Oceano (). ; A distancia que existe da costa do Estado do Espirito Santo a Ilha da Trindade tem variado com os autores, o que nao ¢ deadmirar dadas as llagdes por que tem passado a longitude. (1) — Bis o Aviso aoe Naveganter mandado publicar a 22 do janoiro do 1918 pelo Ministerio dda Mavinha. ; ‘A POSIGAO GEOGRAPHIGA DA ILIA DA TRINDADE Sto as soguintes as coordenadas encontradas do Posto A. G. A. @ do Peo, @ que annuliam os valores publicalos nos ayisos numeros 98, de 48 do agosto do 1916; 44, de 48 de maio, e 68, de 31 do agosto de 1917, © de que o se. contra-almirante Brazil Silvado, superintendente de Navegacto, di F ‘conhecitento aos navegantes, por annexo & ordem do dia de hiontem, do sr. almirante Adelino Martins, chefe do estado maior da Armada : Coordenadas do poste A. G. A” Latitude - 20", 20, 30°, 5 S. . 3 Longitude — 20, 18°, 26”, 8 W. Coordenadas do Pico :”” Latitude — 20°, 20', 30°, 0 S. Longitade — 2°, 40°, 37", 0 W. Diretoria de Hyarographis, Rio de Janeiro, 22 de janciro de 4918, ~ (Assignado) Franciaco José Pereira das Neves, capitio de corveta, director ino.” 128 ARGITIVOS DO ‘MUSEU NACIONAL— VOL. XXIT Vejamos com : Rappor (The pratio of nayogation). . . e 1305, 052 Kuignt Pw £206,600 Cantuaria Guimaraes. racic ations 41197, 128, Antonio L, Costa Almoida (Rotoiro 1. Garal, 1840). 5 6. ss 972,300 Manoel Francisco Correa (Rey. Ins. Hist.,39, Ul)... . . . 105,046 Xavier do Brito ¢ 8. Carvalho Daemon. je 00,720 Millet de Saint-Adolphe (Diccionario Historieo e Geographico) dt como io admira, pois 6 0 mesmo Saint-Adolphe quem faz a Iha da Ascensio ser descoberta por ‘Tristio da Cunha, em distancia da costa —18 legoas. 1770... A superficie da Ilha da ‘Trindade tem sido av, Extonsio oN. NO.aS.B ew 4 ciple ve a Largprace sie scies sao 7 psi et o/s a Beparfihaitrn ike Vegeigel Us) ala dha ie Ss 6 Tonento C. Valladaros (1886) . aa tes loguas quadradas, | maior extensio — 3 mithas. a ee | eireumteranela — 6 mitha J Extensio 6 000 meted. Cantuatia Guimaries (1894) { iisuestneneee As lendas ea Itha da Trindade Nao ficaré completa a historia da Ilha da Trindade sem um resumo das lendas que pairam sobre esse cone vuleanico perdido no oceano, mais ; lendario por mais affastado, como uma ilha de Monte-Christo. ¢anhas pela edade contemporanea. De 1885 a 1916, doze expedicées pelo menos procuraram fantasticas ¢ voltaram desilludidas. Ora, a terra friavel, escorr agulha magnetica (8° por anno nessas paragens) haralhéra as recifes emersos os bateis que tentaram atracar 4 terra, Eram as desulpase justificativas: — 0 facto 6 ¢ no foi colhido nem descoberto. As Iendas vém de duas fontes. 0 thesouro liada do seguinte modo: De 1880em diante comecaram a correr as noticias de que a ilha fra 0 esconderijo de fabulosos thesouros, cuidadosamente occultos nalgum sopé de montanha, por piratas, rouliers de la mer, que continuaram as suas fa- s riquezas ndo das vertentes, impossibilitdira ainda mais as exeavaedes; ora, a declinagio da coordenadas geographicas fornecidas pelos piratas, ora ainda, 0 mar, especie de cio de fila a defender montdesde ouro, impeiiira os desembarques ¢ langara para os ust] 824] een agi FRAP Ped LOY eps we SePLOy MM QEZ00E-WILINIV WE OL IENITIIE cook seve IST ny aang WaUnlblayONN QOINOLNY TININEL sf 0134 0e/2IM/ ONTV REAL 0 OCNUL ITH 0P saiceg ap osmjugy) 04 d/apy oueireig 94362 if e124 eeu iTixay SORA) OP BLL] peqiMuy yurussf OTFd WAWLNVAFTT YLNYTS AQdVONIWL ¥¢ VHT ViuvuooudiN 3 yiNolaMid ae 35 VIONZGNILNIM adn NIGYWYCOIUu a. LSINIW ope 4 31,68 8 = — wo — sagbvewasag cvo wig 9 Youve int sa exes 11594) ” vanzoay = + 8562 COMMENORATIYO DO CBNTENARIO DO MUSEU 129 A primeira, conta-a E, Knight, (‘The cruiser of the Alerte, Londres— 1904) depois de ouvila de um membro da expedicetio do Aurea,” que es tivera na Trindade em 1885. — O Capitio de um navio que fazia o com- mereio do opio da. China para a India, de 1848 a 1850, tomara para seu quartel-mestre um typo extranho de russo, educado, frio e calado, mas ex- cellente homem do mar. Estimava-o pela exactidtio do seu trabalho e dis- tinguia-o, apezar da mé vontade do pessoal de hordo. Esse homem adoeceu na travessia da China para o mar de Oman, sendo afinal internado em um hospital de Bombay. Sentindo-se morrer, mandou chamar 0 Capito do sett navio e, em homenagem a distinegio-.com que fora tratado, entregow-lhe um velho pergaminho onde estava tragada a carta da Itha da Trindade dizendo-lhe que alli, no sopé do Pao de Assuenr, estava enterrada uma riqueza immensa. Procurasse-a. E contou esta historia que 08 documentos posteriormente achados confirmaram ¢ augmentaram,— Quando foi da libertag&o do Perd, os hespanhoes, para maior seguranga, guardaram os seus thezouros, bem como 0 ouro ea prataria da cathedral de Lima (@ excusado accentuar a riqueza peruana, celebre desde os Incas ¢ das minas de prata que a Hespanha tanto explorou) nas fortalezas que defen- diam a cidade. Lord Dundonald, que viera como Commandante da Es- quadra Chilena para auxiliar os libertadores do Pert, quiz pagar sua gente com essa riqueza, calculada entao em 6 milhoes. San Martin, porém, nao sem um bom resgate, permittiu que os Hespanhoes carregassem parte de suas riquezas. Na fuga em navios patrios, foram pilhados pelos piratas que roubaram todo esse resto de thezouro, Destes, alguns foram apanhados por navios hespanhoes e decapitades em Havana:— mas jé haviam enterrado a riqueza na Trindade, isso em 1821. 0 unico que fugiu, o guarda do segredlo, era esse russo que morreu em Bombay. O Capittio senhor do segredo no poude porém armar uma expedicao. Envelhecido, retirou-se da vida do mar para uma vivenda nas imme- diagdes de Newcastle, —e ahi transmittiu a historia a outro, que vem a ilha em 1885, com 0“ Aurea”, tendo ahi permanecido vinte e tres dias e perdido dois homens. S6, ento, soube, Knight do facto earmou a viagem infruetifera do “Alerte”. Infructifera apezar de ter preparado uma expedigao com- pleta, com um esplendido material de desembarque ; e ter_permanecido muito tempo na ilha excavando, com as indicagdes em mio, todos os pontos onde poderiam ter sido enterradas as preciosidades peruanas. ‘A segunda fonte 6 esta: Viajando em 1889 pelo Brasil o Sr. Edward Young, passou por Curytiba onde teve noticia da existencia, em arredores da cidade, de um velho inglez, cuja vida era um mysterio. Visitou-oa titulo de curiosidade e repetiu as_vi- sitas. Estabelecida a intimidade o velho contou a historia de sua existencia. ross a 130 ARCHIVOS 0 SIUSEU NACIONAL — VOL. XXIL Chamava-se Zulmiro, ¢ era official da marinha inglez. Certa vez, nas Bermudas, num accesso de raiva matéra um companheiro e fugit para a Florida, onde embareou em navio qne fazia o trafico de es cravos. Logo depois, revoltou a guarnicio, assassinou o commandante e, de par com os novos amigos, foi pactuar com piratas do Atlantico cujo centro de deposito dos roubos era Tha da ‘Trindade. Amontoavam riquezas, quando um dos chefes corsarios,: José Sancho, para nao ser aprisionado, fez saltar o seu nayio e morreu com todos os seus comparsas, Isso se deu em 1829. Depois, foi a vez de Zulmivo. —Tinha depositado na Hha, havia quinze dias, 0 seu ultimo roubo, quando Keppel, capitio de uma néu ingleza, 0 aprisionou tambem, Posto a ferros, quiz um dia fallar 20 Capito; e, oh! caso de Fomance, Keppel era um seu antigo camarada da marina britannica. Perdoou.a Zulmiro, isto é, soltou-o na America do Sul, digao de nunca mais voltar ao, mar. Cumpriu a promessa e vivia, morto para o mundo ha 50 annos, vegetando pelo Parané, onde o Sr. Edward Young o eneontriira Velho, Zulmiro quiz revelar o segredo por inteiro ¢ entregou a Young uma edigéo do livro «The Tatler » de 1754, em cujas ontrelinhas estavam escriptas em inglez todas as indicagdes necessarias para ser encontrado 0 6 thezouro enterrado. Youngmorreu sem ter encontrado quem arcasse com as despezas de uma expedicio 4 Trindade, O documento passou entdo 4s mios de seu irmio— o Sr. Alivedo Young, machinista da Estrada de Ferro Central do Brasil, que o ceden ao Sr. Pharmaceutico José Martiniano Barbosa, de Guaratingueté. Este, que j4 tinha estado nas eereanias da Iha sem ter podido desembarear seguiu na expedi¢io do Barroso e contou-nos alenda. E exeusado dizer que apezar de ter alli permanecido seis longos mezes nio foi mais feliz nas suas exeayagbes. Seguese agora um ramo dessa segunda lenda. Basta ser lido o fim de uma noticia publicada no «Correio da Manhiy, de 14 de junho de 1916, ¢ treinseripta do «Diario da Tarde», de Curytiba: «A morata de Zulmiro fora nas bandas (transcrevemos textualmente) da colonia Santa Felicidade, pouco além do Lazareto de S. Roque. Ali alojou-se o pirata e com certeza ali morren, ficando a sua pro- priedade ao aba Mais tarde outros ee estabeloceram no mesmo local, ¢ por ultimo foi ali a chacara do fallecido Manoel Cunha. Succedeu-lhe como proprietario desse immoyel, entio aprazivel e cheio de bemleitorias, um senhor residente no districto da Palmeira. Nao the conyinha mudar de residencia, e yendeu a propriedaie ao Dr. Joto Hertley Gutierrez, que para ali se mudou. com a con- ndono. COMMEMONATIVO DO CENTENARIO DO MUSEU 131 A herdade passou entaio por muitas reformas. Os campos abandonados, cobriram-se de exuberantes plantagbes; es- tabulos se levantaram Foi ao proceder a essas reformas, que se verificou a entrada de uma galeria subterranca, O ponto inicial fica proximo a vivenda alli existente, pouco além do primeiro quintal, junto a tres poderosos carvalhos, signaes estes que coincidem com os deixados pelo historico do primitivo senhorio. Penetrando-se no interior dessa gruta, apresentam-se varios corredores © salas, n&o permittindo sua completa exploragio, as difficuldades que apresentam — aleapoes e outros obstaculos. Dizse que devem ser extensos esses compartimentos subterraneos, que outras passagens existem, fechadas com pedras perfeitamente collocadas. Ouvimos dizer tambem que, o Dr. Teixeira de Carvalho tem tomado parte na exploragiio dese enrioso achado, que alli esti. como uma esphynge, cheia de mysterios. © proprietario da velha herdade do rico pirata Zulmiro, Dr. Joao Gutierrez, dalli se mudou ha mezes fixando sua residencia, nesta Capital, a rua do Rosario. nd?» Estard ali a parte do thezouro que pirata Zulmiro deixou no Pari © com esta interrogagao coneluia o citado jornal. Sio essas as lendas conhecidas, Ellas perturbaram muitas vias e ser viram ainda mais para envolyer n’um veo de mysterio a extranhae lon- ginqua Iha da Trindade. © desembarque na Tha da Trindade ‘Todos os que tém ido a ‘Trindade insistem sobre a difficuldade do de: embarque, pois, 4 grande variabilidade dos ventos que provocam a agitagio do mar e a mudanga subita de situagdes momentaneamente favoraveis, junta-se a falta de um porto. De modo geral, todas as praias sio expostas, numerosos os rochedos submersos mas quasi a flor dagua, todos elles coberios de coraes e molluscos, que nao s6 dio causa a multiplos aceidentes, como tambem impedem que sobre taes rochedos se refugie sem soffrer numerosas escoriagdes 0 naufrago da jangada ow hote, fugindo aos tubardes. FE, unanime a opini&o dos viajantes a esse respeito. Alguns no poderam chegar a terra, como Dumont d'Urville, em 1826, e a expedicio do comman dante Silveira da Motta em 1871. Outros se referem aos riseos, como La ILHA DA TRINDADE Geiser Eee! ih fame Bi Bae Coin Sc : i : i i : E i Le t at 3 : : i 3 ; i | COMMEMORATIVO DO CENTENAMIO DO MUSEU 133 Perouse (1785), Duperrey (1822), Findley (Roteiro Inglez), Caio de Vaseon- cellos (relatorio de 1856), Knight, quer trate da expedigao do Falcon, quer do Alerte insiste sobre os serios perigos dessa aventura. Cantuaria Guimaries diz que «o desembarque na itha & funcedo do lempo» e pensa «que sempre seré possivel a solavento ». Para este distincto official da nossa. Marinha de guerra, os melhores lugares siio:— para jangada as Praias dos Portuguezes, do Mareo (de pre- ferencia em maré cheia), Vermelha e Principe; para escaler o Porto da canda ea Praia da Cachoeira (W) Na expedicao do Barroso (1916), depois de multiplas tentativas e de iermos contornado a ilha diversas vezes, conseguimos, em companhia do capitiio-tenente Moraes Rego, le nente Olavo Araujo, de um signa- Ieiro ¢ um marinheiro, apés mul- tiplas peripecias, descer a t pé enxuto, no dia 26 de maio, em um pequeno rochedo da Praia da Cachoeira (S. 0.), 0 qual foi Ii gado a terra por planchdes que nos deram passagem, a nds e a nossa _pequena hagagem: Logo apés 0 nosso desem= barque, foi impossivel a outras pessoas conseguirem fazeko dada a agitagao do mar, acontecendo © mesmo nos dois dias subse- quentes. Permanecemosna parte 8. O. da ilha por tres dias. A principio, quizemos galgar 0 primeiro pico na di- regio de leste, afim de estudar de conjuncto o territorio e atravessar para, olevante. Venceu-nos 0 cangago e uma serie de difficuldades. Procuramos o caminho do N. E.,afim de furar pelo valle entre 0s picos Desejado ¢ da Trindade. —Depois de certa altura, 0 perigo era grande, dado o facto de mentos de lava desaggregada, impedindo que seguissemos 0 ria ser vietimado. E du- a0 Barroso cortadas, bes climate- ociodo da Pealn da Cachoire ode fol Clio o prinsio Aasembaryoo om 1918 rolarem fray mesmo caminho, pois quem fieava para traz. pod dias com todas a rante esses tr ‘a0 relento, sujeitos a situacoes as mais criticas, dadas as con munieagdes pai ricas, fomos castigados alternativamente pelo vento, chuva ou sol abrasador. Um fogo feito 4 noite, como garantia contra os caranguefjos @ ratos, degenerou em incendio dos de! acho, que subiu violento e ere: pitou no silencio, entre o grasnar ¢ os pios agudos dos milhares de aves ietos de ve 136 'VOS D0. NUSEU NACIONAL — VoL, xxIt marinhas despertadas por esse espectaculo insolito e os uivos da se Barroso que nos acreditava em perigo e nos langava a luz photes. Lutamos para isolar-nos das cham os vegetaes visinhos 4 nossa barraca. No terceiro dia, tendo melhorado o tempo e sendo as difficuldades insu peraveis resolvemos voltar ao navio, para tentar o aportamento na parte leste da ilha Reembareamos em condicdes di gosas, ia do dos seus holo- nas, arrancando rapidamente Mevis, mas relativamente pouco p No dia 31 de maio, conseguimos desembarcar na Praia das Tartarugas em jangada, construida de madeira especial do Norte do Brasil, A primeira ieva saliou mais ou menos hem; mas na segunda viagem, devido a uma Tangada improritada 4 bord do Borat, Yaga um pouco maior, a jangada chocou-se com uma pedra, sendo todos nés atirados a grande distancia, ganhando a terra a nado, 0 que foi feito sem difficuldades maiores. Durante alguns dias, funccionou com aliernativas boas ou mas este sys- toma de desembarque na Praia das Tartarugas. No fim de algum tempo, a Jangada foi projectada 4 terra e um escaler do Barroso, subindo 4 crista do uma grande vaga, 6 poude ser detido em plena praia, Dahi em diante, 0 aportamento se tornou impossivel sendo completo o isolamento dos que estavam em terra, Mudada a posicio do Barroso, abordada a Praia dos Portuguez construida pacientemente uma nova jangada com harris vasios ¢ taboas, como péde ser apreci jada na photogravura junto, realisaram-se nos di COMEMORATIVO DO CENTENARIO. DO MUSEU 135 immediatos neste ponto, embarques ¢ desembarque presididos pela incomparavel calma e c Alcino de Affonseca. Pouco a pouco, porém, o mar se foi tornando agitado e durante dias a fio foram feitas tentativas infructiferas para o desembarque do nosso cok lega Pedro Martins medico do destacamento militar ¢ embarque do natu- valista Lauro Travassos, lo praticante do Museu Armando Santos Beleza € marinheiros desnecessarios & guarnicio da ilha. Nunea 6 demais insistir sobre as mudangas bruscas que soffre 0 mar que cérea a Trindade. Relativamente calmo transforma-se subitamente em violento, impetuoso ¢ as communicagdes com a terra se tornam impossiveis. As ultimas pessoas que reembarcaram no Burraso na Praia dos Por- tuguezes consoguiram fazelo amarradas a uma plancha que era puxada rapidamente do esealer, por meio de uma conta, sendo obrigado 0 passa seiro a atravessar as linhas de arrebentagio, Sob a vaga, O embarque, pode-sedizer, portanto, que foi feito por baixo dos vagalhées de arreben. tacdo, com grande perigo de vida. Conseguimos tambem, por ocvasido de uma pescaria, saltar de um es- caler em uma pequena enseada junto ao Monumento, tendo 0 cuidado de voltar logo para, bordo afim de evitar surprozas. Os preparadores do Museu Nacional, que fiearam durante varios mezes na Trindade, colhendo material e fazendo observagées, referem que durante todo 0 tempo nunca o mar se mostrou completamente calmo, isto de maio a outubro de 1916. Quem se aventurar a essas paragens deve contar, com a difficuldade do desembarque (o que vem sendo repetido por todos os viajantes, de ha dois seculos para c4) hem como com maiores lutas ainda por oceasiiio do embarque. successivos sempre mpetencia do capitio-tenente Algumas impressdes sobre a geologia da Tha da Trindade De longe,a vinte milhas,jé a ilha é visivel. Em pouco comecaa emergir como uma massa cinzento escura, mancha destacada num fundo azul, Depois, apparecem os picos e os despenhadeiros, como uma dentadura falha © prehistorica voltada para o espago. De perto, 6 como um bloco se- vero, agreste, inhospito © estorricado, batido pelos ventos e acoitado pelas ondas, A sua constituicto geologica 6 in! formada por uma un serie de picos e mor ficie de sete kilumet aceidentado. vessantissima. Ilha evidentemente < montanha de 606 metros de altura, apresenta uma. s, possuindo uma forma irregularissima e uma super- s quadvados, desdobrada pelo facto de ser o terreno Pete 3 136 ARCHIVOS DO MUSEU NAGIONAL — VOL, XXII Incontestavelmente, 0 aspecto geval deve mudar periodicamente em suas minucias, devido aos constantes desmoronamentos provocados pelas +0 Pie do Aenscae > witndo ante s Peas das Teetscug Trindade, com 959 ast de al do Pease, saloon da (0 « Pico da Trindade», ato de 005 metre, chuvas e ventos, favorecidos ainda pela friabilidade que o sélo revolvido C I i polos caranguoijos apresenta em multiplos pontos. a Trindade, COMMIENORATIVO DO CENTENARIO YO MUSEU ‘Todos os geologos que fuzem referencias 4 Trindade julgam-na de origem vuleanica. B’ esta a impressio que logo se impde a quem nella desembarea.. Caminhando pelas praias, galgando os morros ou percorrende 0 chapadio que nella exisie, de distancia em distancia encontram-se grandes blocos de lava, que nos diio a impressio de terem passado por uma grande fornalha. O material colhido na Trindade por Williams, do Servigo Geologico.do Brasil, constitue assumpto de uma memoria aincla inedita. O que foi col- leceionado pela Commissiio do Museu esti entrezued competencia de Alberto Betim Paes Leme, o ifosso illustrado especialista, que fez os necessarios estudos tendo identificado ¢ analysado as diversas amostra: Passaremos rapidamente sobre 0 assumpto, pois vae elle constituir uma memoria que seré ineluida nos « Archivos do Museu Nacional Para que tenhaes uma idéa do sélo desta illta examinae estas seis amostras que lembram, em toda a sua simplicidade, o complexo phenomeno vuleanieo que deu origem 4 Trindade ¢, vepresentando fragmentos do seu proprio silo, mostram como elle ¢ constituido. Vede a primeira amostra, um syenilo nephelinico porphyroide, que testemunha uma consolidagio em grande profundidade do magma eruptivo. Jé 0 segundo espetimen de tinguaifo apresenta-o-mestno magia crystal lisando mais rapidamente, indicande queelle se deslocou entre as paredes de uma fractura da crosta terrestre onde terminou a sua solidificacto. Eo testemunho innegavel” da primeira phase da manifestagio vuleanica. A amostra n. 3 é um phonolito constituido pelo mesmo magma cuja consolidagio completa se fez na fractura que precede a chaminé yuleanica. Quanto 4 amostra n. 4, lava cordea, representa uma manifestacio effusiva en de tujfa, agglomerato de elementos provenientes da manifestagio vulea- nica taes eomo cinzas, lama, etc. Vede, ainda a amosiva de areia da Praia das Tariarugas euja complexidade notavel Examinae esas amostras ¢ tereis perfeitamente uma idéa, nao s6 de como se formou'a Trindade, como tambem da constituigAo-do seu sélo. Aqui 6 a fujfa, ali ¢0 lava cordea, além 6 umn outro elemento, sendo digno de nota que muitas veres elles se mant?m inteiramente isolados, constituindo nu- cleos, grandes hlocos; outras vezes se acham-em mistura mais ou menos intima (Vide phototypias no final deste traballio). Indo de Sudeste para Norie, percorrendo a-ilha na sua maior extensio, vemos uma extensa faleja chamada_por diversos autores antigos « Morro do Furado»,e pelos modernes «Morro do Tunnel, constituida por uma grande massa de lava que cobre a rocha perfurada por um tunnel, que Korsbourgh assim descreve:—... uma especie de arco natural, em rocha escalvada e eseabrosa com oitocentos pés de altura, tendo 0 arco 40 pés a8 " do magma durante 0 paroxismo vulcanico. Reparae por ultimo no espeei 138 ARCHIVOS DO MUSEU_NACIONAL— VoL. xu de largo ¢ cineoenta de altura, e comprimento ou profundidade de 420 pés; 0 mar alli rebenta pelo arco a.dentro com grande ruido». 3 i P Visitamos esta immensa areada natural pela parte leste ¢ referiremos , que muito nos impressionou 0 formidavel ruido provocado pelo arrebentar i dos vagalhées no seu interior ¢ a sua belleza (Vide phototypia no final deste trabalho). Em certas occasides, pela maré baixa, é possivel visitalo tambem pela parte oeste. Junto a este morro ha uma praia onde o Dr. Pedro Martins diz ter encontrado « dois blocos de parafina de Petroleo, acre- ditando representarem residuo de petroleo evaporado e@ existente nas visinhangas ». Aosul, vé-se uma montanha de 360 metros de altura e que se assemelha ao nosso Pa de Asswear, tendo mesmo esse nome que Ihe foi dado pelos Inglezes. Na parte centro-oeste ergue-se 0 pico mais alto—o da Trindade, com 606 metros de altura e ao lado do Desejado que rivalisa com © primeiro. Ao Norte fica o Crista de Gallo, com a sua forma cara- cteristica, Além do Pico da Grazina (418 m.),dezenas de outros agueam as suas pontas para o espaco. E digno de referencia ainda o Monumento, com 280 metros de altura, situado ao oeste da ilha logo na visinhanga do mar. Outros accidentes physicos tambem interessantes podem ser verificados no mappada ilha que acompanha este trabalho. Quem percorre a ‘Trindade tem a impressio de que ella esté se des. fazendo. A escalada da montanha é perigosa, pois a um pequeno esforgo 0 pedrougos desequilibrados rolam para os despenhadeiros esmagando sua passagem quem encontrar pelo caminho. A lava decomposta forma atoleiros, augmentados pelos milhares de tocas feitas pelos caranguejos. A laya vermelha-escura, friabilissima, desmorona e, na opinido de um pes- quizador de thesouros, foi essa terra que cobriu a grande riqueza occulta ao lado do Pao de Assucar. ‘A vogetacio, fracae primitiva, éencontrada pelos valles, prineipalmente na parte oeste. As arvores maiores, segundo: pudemos observar, foram ar rancadas violentamente por algum furacio e esto atiradas pelo sélo, mortas, restando sé o cerne. O tenente Caio de Vasconcellos, em 1856, ja notéra o facto sendo mesmo possivel dizer que taes arvores devem ter sido arrancadas pelo vendaval que yarreu a ilha em 1793, referido pelo capi Manoel J. P. Vellasco em documento datado de junho desse anno e dirigido aD. Luiz de Vasconcellos e Souza (Memoria Historica — Eduardo M. EE Diario Official, 190%) Os naufragos da Jeune Sophie, «assim que chegaram 4 praia, levan- taram barracas encostadas 4s montanhas, que esboroavam de instante a instante, enchendo-os de terror »— Knight (Cruise of Alerte, London, 1913, pag. 151) nota que essa instabilidade do terreno causa uma perpetua sen- sagdo de inseguranca. Nunca esquecerei a emogio que sentimos quando, subindo a encosta este, a mais de 400 inctros de altura, nao encontravamos apoio seguro para os pés e as miios que durasse mais de alguns segundos. Verdadeira machina de cangago humano, pois a pressio por nds exercida deslocava o fragmento ARCHIVOS DO MUSED NACIONAL — VOR. XxIE do plano inelinado em que nos encontravamos, forgando rapida mudanca, com a certeza de que no passo seguinte tinhamos de repetir a mesma lueta. E pobre de quem ficava para traz. Que o diga o illustrado commandante Moraes Rego, cuja bondade e gentileza permittiram que fosse sempre o director do Museu Nacional o primeiro a galgar a montanha pelas escarpas fortemente inclinadas. Nao 6 tudo: —« Além disso (diz 0 vice-rei Luiz de Vasconcelos e Souza ao conde de Rezende, em officio de 20 de agosto de 1789), esta mesma terra 6 de tal qualidade que se inflamma porsi mesma... .. como se veioa conhecer uo dia 9 de fevereiro de 1783, em que, vendo a terra lancando fumo, averi- guada a causa, nio se poude descobrir outra sendio que o fogo sahia bastante protundo, levantando chammas, ¢ por onde passava veduzia a terra a um cinzeiro eshranquicado e brando, que atolava....» Contra a opinido dos que aportaram ahi as fontes d'agua da ‘Trindade sio, em maioria perennes. A da Praia dos Portuguozes, segundo Cantuaria Guimaraes, dé 230 tonoladas em 2% horas. Na enseada do Principe, ao Sul, existem as fontesdo Postocom tres toneladas, do Barrileoin 43.¢ Excondida com oito. Contam-se ainda a Cachoeira dos Portiguezes e um fio dagua que escorre de montanhas centraes ¢ desapparece n’algum furo subterraneo e a | principal fonte, a Grande Cachoeira que fica na encosta oeste. Essa agua 6 perfeitamente potavel, como tivemos opportunidade de verificar, apezar de ligeiramente opalescente. Veja-se a respeito, 0 relatorio do Dr. Pedro Martins que fez parte da expedicao do Barroso: —« A agua do corrego, que abastece a guarnigao da ilha @ limpida, em arejada, con- tendo nao raramente larvasde insectos, e provém de mais de uma nascente, tolas vindas do alto do Morro Desejado ¢ que se reunem a certa altura, formando corrego até desaguar no mar ». Durante a época da secea, o pessoal do Musen ahi viveu e poude asse- gurar que a agua apenas diminuia quando faltaya durante muito tempo a chuva. Duperrey em 1822, assignalava uma ba fonte a Nordeste. Ia inesmna assignalada por Caio de Vasconeellos, em 1856 ¢ classifieada, por elle como «excelente ». Péde assim considerar-se perene a agua da ‘Trindade, ficando desfeitas a esse respeito as duvidas de varios viajantes, repetidas por Moreira de Aze- vedo (Rev. do Inst. Hist. de S. Paulo, vol. 111). Algumas impressdes sobre a flora da Tha da Trindade ‘A flora da Ilha da Trindade 6 relativamente pobre. Na parte oeste, a vegetagiio 6 rara, sendo a que existe rasteira, notando- se porém algum desenvolvimento nas visinhangas da Grande Cachoeira. “ COMMEMORATIVO DO CENTENARIO. DO. MUSED 1 Quanto a encosta leste, contintia o mesmo aspecto, a nao ser no chapadao, onde se encontram arbustos de 4 metros de altura ¢ alguns fetos arbores- centes Colhemos 0 maior numero possivel de plantas, as quaes foram muito prejudicadas nio s6 pela humidade, como pela falta de meios para bem preparal-as pois o nosso material ficon muito prejudicado com 0 banho de agua salgada por occasidio do desembarque. Os funecionarios do Museu alli destacados Inctaram com as maiores difficuldades, tendo comtutlo colhido alguns especimens. Nas praias e zonas baixas sobretudo na parte nordeste é abundan- tissima uma convolvulacea a Ipomea pes-caprae, Sweet., que existe no \Yegetasdo rast da regio delete constitu em sua mala peta Canaria obtaifolia, D.C: littoral arenoso de quasi todo o mundo e um outro vegetal, uma leguminosa a Canavalia oblusifolia, D. C., que péde ser observada nas phototypias juntas a este trabalho, que é muito abundante e produz uma fava cuja se- mente foi aproyeitada na ilha, segundo alguns autores, como alimento. Br .o Heehne diz ser muito provavel que esta especie nao seja mais do que uma variedade da Canavalia gladiate, Essa leguminosa jé fora as ‘analada em 1856, como «tendo sido semeada recentemente» (Caio de Vasconcellos— Rel. de 1856). Nas encosias comecam a apparecer outras plantas, sendo a fidra mais riea a proporedio que nos approximamos do Chapadio. Notamos apenas uma arvore fructifera— uma. figueira muito velha e rachitiea que, apezar 12 ARCHIVOS DO. MUSEU NACIONAL — You. XXII disso, tinha dois fructos maduros. Outras fig. viormente pelos preparadores do Museu. As plantas colliidas ¢ entregues & Seegdo de Botanica do Mnseu Nacional foram classifieadas por Cesar Diogo, o illustrado substituto da referida especialidade, tendo encontrado: foram encontradas poste- ANGIOSPERMA Fam. Composta — Achyroeline sp. Fam, Rubiacer — Diodia dasyeephala, Cham. et Schl. Fam. Verbenacew — Lippia sp. © Fam. Convoloulacese — Ipomea pes- enprae, Sweet. Fam. Macourtiacew — Banara sp Fam. Leguminoswe — Cwsalpinia bonducella, Roxb. Canavalia obstusifolia, D.C. Fam . Owvilidacew — Ovalis corniculata, Linn. Fam. Papaveracee — Argemone mexicana, Linn. + Fam. Nyctaginacew — Pisonia obtusata, Sw. Fam. Amaranthacew — Alternanthera polygonoides, Moq. var. radicans. f. pubescens, C. Diogo. € PTERIDEPHY'TA, Fam. Polypodiace — Asplenium praemorsum, Swar' Doryopleris pedala, L Polypodium lepdopleris, Kze, Polydium Pectinatim, | Colheram-se quatro especies de Lichens, provavelmente do genero Usnea e Parmelia, Campos Porto, naturalista viajante do Jardim Botanico, yisitou recen- temente a Iha da ‘Trindade. Era natural, pois, que ouvissimos a opiniao do jovem botanico sobre a fldra desse territor Colheu apenas vinte e seis especies vegetaes, quasi todas bem conhecidas, «o que attesta a pobreza de yegetagdo da ilha, diz Campos Porto »: «Quem se approxima da ilha avista nas encostas da montanha uma yegelagdo ras: teira, semelhante a um grande tapete verde que sobresae da cOr escura das pedras, vegetaciio essa formada por duas leguminosas:— Canavalia obtusi- folia, D. C. © Cesalpinia bonducella, Roxb., ¢ uma convolvutacea— Ipomea pes-caprae Sweet., utilisada para fixagio das dunas, todas especies muito communs em todo o nosso littoral ». CONMENORATIYO DO CENTENARIO D0 MUSEU 443 Ao S. eaS. 0. encontrou ainda Campos Porto uma graminen do genero Sporobulus e uma Cyperacea que nao determinon, Fetosarborescentese outa plantas constiuindo a vepetagio mals exhube- ante da Iie da Trindade — Regito Oeste —Vese um troncn de leguinosa iateramente reduido a0 lesho fun vegeta rastera uit podre 1 ARCHIVOS DO MUSEU NACIONAL — ou. xxi. A partir de 100 metros de altitude, encontrou ainda nas grotas seis especies de Pleridophylas: Dryopterus ornithopus, J. Gui. > oppasitus, Urbm. Ceropleris tartarea, Link. Polyportinn lepidopleris, Kze. > recurvatum, Kit. Asplenium euneatum, Li «A parte W. e quasi toda coberta de samambaias—Cyathen vestita, Mart., continda Campos Porto, assim como as nascentes dos pequenos corregos. No alto, encontrei innumeras arvores, attingindo no maximo 5 metros de altura, da familia das myrsinaceas, genero Rapanea, em cujos troncos colheo uma unica Orchidacex, commum em. todo o Brasil.— Polystachya estrellensys, R. f.¢ umlichen, do genera Parmelia. Em local, antes quei por fogo langado por marinheiros, colhi um unico exemplar de uma sero- phulariacea —Verbascum Dlaltarivides, Bam. Nas margens dos corregos ¢ em todos os lugares humidos ¢ vulgar 0 Oxalis corniculata, Lin. ; no alto, entre pedras 6 tambem vulgar uma Piperacea do genero Piperonia. Na Praia das Tartarugas, colhi uma Papaveracer — Argemone mexicana, Lin. e nas margens do corrego duas Amaxanthaceas ¢ uma Compost, tolas sem elementos, para detarminagio. » Assegura Campos Porto que colheu todas as especies vivazes da ilha, tendo ainda trazido pedagos de troncos de velhas Leguminosas arrancaidos provavelmente por, um vendayal. Tambem trouxemos exemplares desses troncos de Leguminosas dos quaes“ndio-se spoude ainda fazer a determi- nagdo e dos. quaes apresentamos um fragmento. E” possivel que se trate de uma Gisalpinia. A este respeito, taes sto as palavras de Murphy (The Auk: — A Quagierly Journal of Ornithology — Vol XXXI, pag. 335, 1915) :— «But the most striking element in the vegetation of Trinidad is its great groves of dead trees of the yrans Cvsalpinia ». Apezar de todo 0 cuidado com que Campos Porto colheo o material botanico, podemos garantir que na ‘Trindade oxistem outros vegetaes, além das 26 especies por elle colleccionadas. Basta dizer que conseguimos reunir sete especies que nao foram col- ligidas por esse nosso collega ¢ foram estudadas por Cesar Diogo. E nao falemos das abundantes algas e outros yegetaes inferiores Algumas impressées sobre a fauna da Tha da Trindade, A fauna da Iha da Trindade ¢ interessante ¢ o seu estudo seduz a todos os que nella aportam. Imaginae uma ilha que em 1916, quando alli che- CONMEMORATIVO DO CENTENARIO DO MU 145 gamos, se apresentava inteiramente deserta de homens ¢ entregue sémente 4 sua fauna selvagem, refugio de numerosas aves e outros animaes que se encontravam em completa liberdade ¢ em plena luta pela vida, Nao poderemos, em um trabalho desta natureza, passar em revista toda a fauna desse local, principalmente porque nem todas as especies foram col- leccionadas ¢ outras collectadas ainda nao foram estudadas. Resumiremos o mais possivel, nfio nos furtando porém ao prazer de fornecer all sobre 0 modo pelo qual se equilibram na vida os interessantes habitantes da Ilha da Trindade ms dados Os animaes inferiores sio.em grande numero, sem que seja possivel referir, ao menos approximadamente, todas as especies alli existentes, de tal modo sio numerosas. Conseguimos colher alguns coraes ¢ algumas esponjas que podem’ ser admiradas nas preparagdes que ora vos apresentamos. Colhemos tambem um lindo exemplar de um cwlenterio, a Hymenogorgia entre os quaes 0 Cidaris: tribu- quereifolia, Val., & varios echinoderme. loidles, 0 Ophiura rubicunda & um outro do enero Linckia. ‘oliant brew, Ve Wocing (aug? de gusto ver, Os vermes foram estudados por Lauro Travassos, assistente de Os- waldo Cruz, nosso companheiro de excursio em 1916, tendo sido auxiliado na collecta pelo praticante do Museu — Armando dos Santos Beleza Jé recehemos desse distincto helmintologo o relatorio deserevendo as ia devendo esse trabalho especies algumas das quaes novas para a scien fazer parte dos Archivos do Museu Nacional. Os molluseos sio muito numerosos. Ao illustrado professor Hermann von Ihering, especialista no assumpio, foi enviado pela Directoria do Museu, todo 0 rico material colhido pessoalmente e pelos preparadores do nosso Instituto. Esse estudo foi feito, mas $6 foi publicado, no Nautilus, uma nota sobre uma nova especie por elle denominada Loboa brunoi. Este mollusco foi examinado na America do Norte, para onde foi levado por Carlos Mo- se “¢ possivel dizer que alguns d'elles pertencem as seg 116 ARCHIVOS DO U NACIONAL — VOL, XxIL reira; Paul Bartseh, do Museu de Washington, concordou em que fosse uma especie nova, mas nao um novo genero, podendo o mollusco ser deno- minado — Butimulus brunoi, y. Thering A collecgao da Trindade, recolhida 4 Seegiio de Zoologia de Museu Na- cional, esté sendo estudada pelo illustre professor Bourguy de Mendonca que ja determinou as seguintes: Lucina fibula, Reeve. Pisania auritula, Beal. Strombus accipitrinus, Lam. Cyprea vxamthema, L Nerita tinenta, Chem. Calear olfersi, Phil Purpura delteidoa, Kien Spirula per Area, sp. Capulus, sp. Aemaea, sp. Sealaria, sp. Pisania, sp. Bula, sp. Fissurella Nassa, sp. Vimos na ilha numerosos pélvos, dos quaes colhemos entrada na Sec ni, Lam. alguns que deram ‘ode Zoologia, mas ainda nio foram classificados. Os insectos nao sio muito numerosos. Logo ao desembarcar, notamos muitas moscas formigas, e um numero elevado de baratas, alguns forficuli- deos, raros gafanhotos, libellulas ¢ outros em menor numero. Parasitando as fregatas, encontramos um Hippoboscideo, genero Olfersia, qu es abandonam aquellas aves ¢ procuravam picar o homem sendo muito insistentes nos ataques e sé abandonando a_pré quando violentamente repellidos, Convem referir que existem parasitas em quasi todas as ave: Os insectos colhidos na Trindade der: Entomologia Geral e fis v a m entrada no Lahoratorio de em oceasiio opportuna sero classificados. De prompto ntes familias: Fam. Forfiewlidae. Fam, Blattidae Fm. Muscoidea. Fam. Chrysopidae e outras. GOAMENORATIVO DO CENTENARIO DO MUSIE 187 Os erustaceos da ha da ‘Trindade chamam immediatanente a attencio (0.86 no que respeita as especies como tambem no que se refere 4 quan- tidade.' Consoguimos verificar dez especies; mais tarde, com o material trazido pelos preparadores do Museu, esse numero augmentow Todo o material foi entregue ao Laboratorio de Entomole para os necessarios estudos e constituirdio assumpto para publicagao, em numero dos Archivos do Museu Nacional. Dentre as especies colligidas, sobreleva notar em importancia o (o- * niopsis cruentatus, Latr., que existe em grande numero pelas praias ¢ sobre as pedras, nas visinhancas d'agua,e sobretudo 0 Gecareinus lagostoma, Garardinuslagatona, M. Baw., 0 erusaoss wale abasdaaie da tiha da Trindade, M. Ediw., que vive em toda a ilha cm numero assombroso, tendo sido o contrado pelas encostas até 600 metros de altura, Este ultimo crustaceo ¢ 0 verdadeiro dono da ilha. 1 temido pelos filhotes de aves marinhas ¢ causa uma grande destruigio entre as tarta- rugas, quando saem do ovo. Si curiosos, insistentes, ousados, nada receiando, o que em nds provocava encia, a ponto de, compe- tentemente armados, de tempos a tempos, termos de correl-os a pau. Nao se davam por achados:— momentos depois, as caixas, as roupas, pacotes de alimentos, tudo emfim, era novamente invadido por tio enervante animal. ‘Tudo querem yer e possu ‘and impaci . Aqui, 6 um eartucho ou relogio que vae 448 ARCHIVOS DO. MUSEU NACIONAL — VOL. XXIt sendo conduzido para a t6ca, alli sio os restos de uma ave mar arrasta, além uma pequena tartaruga que carrega. ‘Tendo aprisionado uma fregata viva, amarramos a aye por um pé, junto 4 nossa barraca. No dia seguinte, sé existiam os ossos : —fora du- rante a noite atacada e destruida por elles. Langando fogo involuntariamente na falda ooste, verificamos no dia seguinte que cada carangueijo carregava um companheiro morto durante & queima.O aspecto era o de um verdadeiro enterro.... Mas, o fim nao era caritativo, pois logo adiante o animal que conduzia devorava avidamente 0 morto. De passagem, 6 necessario referir que constituem uma excellente igua- ria, de que varias vezes lancamos mao, utilizando de preferencia as tenazes. Reparae nas dimensdes destes carangueijos e comparae-as com as de uma fregata, Pois hem, em luta, esta nio leva vanitagem sobre elle. Nas manhas illuminadas da ‘Trindade, praia afora, era commum verem-se estes crustaceos, muito amarellos, carregando numa das tenazes uma tar- taruguinha negra, & semelhanga de uma bandeirola e coma outra tenaz livre a de- fenderem-se das aves marinas que dispu- tavam a preza. As fregatas, apezar de toda‘a sua avidez, nao, ousam atacalos de frente. Para dominalos, seguram-nos por detra: ¢ os deixam eahir de tres a quatro metro: de altura sobre pedras, provocando assim LE aes ‘a sua morte. Sé nestas condigdes podia a iptetngee ee ave apossarse da pequena preza, evitando que 0 bieo fosse agarrado pela forte e temivel tenaz ainda livre. Assim, morto, servia de hanquete para os companheiro: ‘Trouxemos da Trindade alguns destes crustaceos que foram conser vados vivos durante varios mezes no Museu e no quintal de nossa residencia na praia de Ipanema. Recordamo-nos desses animaes, com um sentimento de anciedade, de tal modo s&o incommodos ¢ irritantes. Todos os que visitaram a Trindade lembrar-se-h&o por toda a vida desses verdadeiros donos da terra, que pro- yooam referencias pouco amistosas. Os viajantes em geral se referem a elles ¢ Knight chama-os—horriveis. De facto, presidem a toda a existencia de quem salta na ilha. Querem saber dos nossos menores actos, mettem-se na nossa vida intima. E” quasi uma tor- tura lembrar aquellas largas pincas, aquelle andar torto e cauteloso, aquelles movimentos lentos e preguigosos ¢, principalmente, aquelles olhos estrabicos, esbugalhados, fixos, como a se esforgarem para comprehender as cousas. ha que COMMENOKATIVO 00 GENTENATIO DO. MUSEU 149 Foram colhidos alguns arachnideos que podeis apreciar nas prepara- oes juntas e que estiio sendo estudados—pertencendo a cinco generos diversos. Entre os replis, encontrimos na Trindade um verdadeiramente interes sante, uma tartaruga —a Chelonia mydas. No dia 31 de maio, deparamos um verdadeiro enxame de recemnatos deste animal. Elles, que se contavam por centenas, ao sahirem do ovo que até entio estava cuidadosamente enterrado em um grande fosso cavado na areia, encaminhavam-se rapida- mente para a agua, com o fim dese refugiarem nos intersticios das fo magées coralinicas. 0 instincto desses animaes:¢ notavel, Collocados em situagio de cami- nharem distanciando-se da agua, mesmo que o plano fosse inclinado mudavam logo de direceao e procuravam o meio liquido. E tinham rasio, pois as fregatas em grande numero, pela amanhecer, como tivemos op- portunidade de verifiear faziam uma caga impiedosa, A rapidez com que uma fregata‘engole uma pequena tartaruga 6 verdadeiramente surpre- hendente, Uma manha, 0 preparador Pedro Peixoto Velho arvorou-se em pro tector das tar mnatas, procurando fayorecer-lhes a fuga para a agua. As fregatas, quenada temem, cram de tal modo ousadas que investiam rugas para tirar de nossas mios os pequenos animaes e fizeram a esse prepa- rador do Museu um ataque em regra. Defendeu-se a pau; mas vendo que ntinuava a ser seriamente roubado pelas espertasaves marinhas, appellou para a espingarda e abateu algumas dellas, ¢ entre estas uma que, com grande avidlez, engolia as tartarugas. Langando mao d'uma faca, abriu-a rapidamente ¢ teve o prazer de retirar trez tartaru, nagua, desappareceram com rapidez, Os milhares destes pequenos chelonios que conseguem eseapar ds fre- gatas ¢ ao carangueljo—o Gecarcinus lagostoma, M. Edw. um outro grande inimigo —se atiram n'aguae nao sio mais vis ne Nunca consegui- mos ver na Trindade, apezar de paciente e minuciosa investigagdo, um destes pequenos animaes dentro dagua, nas numerosissimas anfractuosi- dades dos baneos de coral. Nao éde admirar que assim se escondam, pois ao cahirem no elemento liquido um outro inimigo as espera. Sto as garoupas, Cerna adscencionis, sh, com a sia enorme bocea, as quaes, ao serem sacrificadas, enc no minimo dois ou tres exemplares. inhas vivas que, postas a ee oe 150 ARCHIVOS DO MUSEU NACIONAL — VOL, XxIr Na noite de 31 de maio para 1 de junho, fizemos uma batida pela Praia dos Portu: arugas, com o fin de cagar os grandes exemplares cujos rastos, em multiplos pontos, eram hem visiveis. Infelizmente, néio foi ‘ 0 ownltds 2 uma gona fits do toes, 2 Hah possivel nessa noite aprisionar nenhum exemplar. Mas, na noite de 1 para \ 2de junho, um marinheire do Barroso, sosinho v com extraordinaria habi- lidade, conseguiu virar um grande especimen que, offerecido a0 Museu, foi (Gyps ate Sgarm., no aiaho, vendoae tambon om soceinnsto por nés de hoje em ii trazido ¢ viveu algum t mpo no lago da Quinta da Boa-Vista iquecendo as nossas collecgses. (CONMBMORATIVO DO CENTENAIIO DO MUSEU 134 Os exemplares adultos da Chelonia mydas, uma vex surprehendido: correm para a agua com extraordinaria ligeireza, devendo quem quizer aprisional-os agir rapidamente e evitar ser ferido pelas patas, procurando por meio de uma alavanea virar 0 animal sobre o dorso. Uma vez postos nessa’ posicio nada mais podem, apezar de ingentes esforcos. Ellas yém & praia fazer a postura que se compde de varias centenas de ovos. Cavam a areia, fazem a postura ¢ cobrem os ov Na Trindade, pelo espaco de cinco mezes, de maio a outubro nao mais appareceu nenhum adulto, conforme observagao de Pedro Peixoto Velho. De Bordo do Barroso, tivemos o prazer de ver passar alguns exemplaves de grandes dimens6e- Pacientemente, trouxemos uma centena destas pequenas tartarugas vivas, das quaes algumas morreram, senilo outras offerecidas ao aquario da Profeitura existente no Passeio Publico, Conservamos alguns em nosso poder. Estas ultimas, collocadas em um pequeno aquario em Ipanema, alimentayam-se facilmente de camarées ou outro crustaceo ou ainda com pequenos peixes, dlemonstrando grande docilidade e ao mesmo tempo cessiva avidez pelo alimento. Tendo verificado porém que os exemplares do Passeio Publico estavain mais desenyolvidos, alli depositamos os nossos. No dia em que completaram um anno de existencia, foram competentemente medidos e photographados. Tendo cuidado de fazer 0 mesmo neste anno, verificamos que elles apre- sentam 23 eentimetros de largura por 28 centinetros de comprimento, quando tinham apenas 4'/s por 5 centimetros, quando recemnatos. Sendo este o crescimento em aquario (onde é sabido que se faz mais morosamente), no meio proprio as tartarugas devem attingir em pouco tempo ds grandes dimensdes com que sio encontradas, o que de algum modo vem reformar o preconceito de serem necessa annos para que tal se verifique. rias varias dezenas de Os peiwes da longinqua ilha, que ora nos interessa, serviram a um estudo de Miranda Ribeiro, tendo este distincto zoologo verificado tres especies novas que podem ser observadas nas preparagdes que vos apre- sentamos. Segundo as conclusdes de Miranda Ri lucraram em dezeseis especies que nao poss 0, as collecedes do Museu m, a fauna brasileira ficou acerescida de nove ¢ a sciencia ganhou tres novas especies por elle des criptas em trabalho que faré parte dos Archivos do Museu Nacional as 152 ARCHIVOS DO MUSEU NACIONAL, — VoL XXL quaes deu as seguintes denominagoes:— Murvena trinitatis, Kyphosus palpebrosus © Ophioblennius trinitatis. Ao todo, Miranda Ribeiro classificou quarenta especies de pei encontradas, das quaes podeis ver aqui expostas algumas que pertencem es alli ‘is nossas collecgées. Destas especies, as mais numerosas so —o peixe poreo (Melicthys piceus, Poey.), a8 garoupas (Cerna adscencionis, Osh,)eo peixe camiseta (Chaetodon striatus, L.) O peixe porco, animal yenenoso e improprio para a alimentagao, existe em numero assombroso, Minutos apés 0 langamento do ferro, 0 Barroso foi cereado por milhares, 0 mesmo acontecendo com os botes, durante as = Gyn othe, Sparm., oxoaplaces jovens, numerosas excursdes feitas na visinhanga da ilha, ora para tentar 0 de- sembarque ora para pescarias. Raro era o anzol iscado que conseguia atravessar a poreo existente logo abaixo da superficie da agua, Sé com essa denominagio 6 possivel dar uma idéa do numero elevadissimo de tantos animaes, nos camada de peixe- arredores da ilha. Ferido um, os outros o destroem immediatamente co- mendo-o. Mais na visinhanga da costa, encontram-se tambem bandos de um pequeno peixe, 0 camiseta (Chaelodon. striatus, L..), denominagio dada pelos nossos marinheiros pelo seu aspecto listado As garoupas (Cerna adscencionis, Osb.) existem tambem al numero, algumas de dimensies exags em grande das. Nada mais emocionante do que a pescaria de garoupas no mar om fundo de pedra nas visinhangas do eR COMMEMORATIVO DO CENTENARIO DO MUSEU 183 Monumento, perto de um pequeno rochedo. Langadoo anzol, iseado com um peixe camiseta ou fragmento de peixe porco, si escapa este 4 voraci- dade dos peixes pequenos, minutos depois é quasi certo o arranco pelo fisgamento da garoupa. K de sentir a emogio ao ser puxado um peixe que chega a pesar mais de 40 kilos, verificando-se muitas vezes 0 facto de os numerosos tubardes, que nao abandonam as praias, mas nunca atravessam a arrebentagio, despedacarem o pescado quasi 4 flor d'agua, deixando ao pescador a cabeca do peixe ou uma linha sem anzol. Das praias tambem 6 possivel fazer grandes pesearias. Logo nas pequenas anfractuosidades, as moréas sio em grande numero e fogem com rapidez. E’ digno de referencia ainda um pequeno peixe azul-saphyra o Expomocentus caudalis, Poey., cuja belleza 6 inexcedivel. Nasanfractuosidades maiores, as garoupas ficam aprisionadas e podem ser mortas a pau, existindo ainda nestes pontos outras especies. Quando a vaga se forma e se adelgaca, ao precipitar-se nas praias, ¢ de ver como fis yezes os peixes so numerosos. Vistos atraver. da transparen da agua, tem-se a idéa perfeita de um trabalho de crystal Gallé ou Daum, com 0s seus caprichosos desenhos e releves colorides representados na agua pelos peixes. As aves da Trindade sio em grande numero e pertencem a diversas especies. O material colhide, quer o que trouxemos, quer 0 que veiuposte- riormente, foi preparado por Pedro Peixoto Velho e entregue ao professor Miranda Ribeiro que o estudon minuciosamente, tendo chegado as seguintes conclusdes : a) —As collecgses do Museu lucraram as seguintes especies que ainda niio possuiam : 1 — Abstrellata arminjoniana, Gigl. ¢ Salv. — Astrellata trinitatis, Gigl. e Saly. — Parasula dactylathra, Less. 4—Piscatria sula, L. 5—Fregata minor nichelli, Mat. G— >» ariel trinitatis Total 5 especies ¢ 1 subespecie. 4)—A fauna brasileira fiea accrescida das segnintes formas: 1—Parasula dactylathra, Less 2—Piscatriar sula, 1. — Fregata ariel, Gm. o}—A zoologia adquiriu: 1 —Piscatria: sula automnalis. rma » oe eo ee ee ee eT ee ee ee ee ar 156 ARCHIVOS DO MUSEU NACIONAL — VOL. XXiL 2— Fregata minor januaria. 3—Fregata ariel trinitatis. Estas aves sio_nnmerdsis- simas e completamente selvagens jo temem o homem e sobre nds investiam em bandos quando des- embaredmos. Nao s6 as fregatas como as grazinas nos acompa- nhayam por toda a parte. Os ovos de todas essas aves representam optimo alimento. Produzem um ruido ensur- decesdor, sobretulo a Asfrellata trinilatis © as Fregatas ¢ princi- palmente 4 noite. Nao desejamos adiantar mai sobre as aves da ‘Trindade, Precis ty completamente ‘aiiiceion » apyoxinacts 0 trabalho de Miranda Ribeiro bones diré tudo a respeito, e de vista r examinando os especi entes, muito podeis Iu Os unicos mammiferos existentes na ilha e encontrados pela Commissio } do Museu Nacional sao as cabras e uma especie de rato. 156 ARCILYOS DO MUSEU NAGIONAL— VoL, XxIL Em 1783, D. Luiz de Vasconcellos e Souza informaya ao Governo de Portugal que:«Do milho, que deixardo os Inglezes, se tem colhido trinta até quarenta alqueires, que pretendo mandar moer para se municiar a ‘Tropa misturado com farinha de mandioea ». Sabe-se que, por decreto 9.334, de 20 de novembro de 1884,—foi concedida licenga a Alves Guerra para explorar mineraes ¢ extrahir pro- ductos da ilha. E’ certo ainda que o entao eapitao-tenente Collatino Marques de Souza (1895) requereu ao Senado a ilha por aforamento perpetuo, par 1 peoparador do Mayon Nasional Paico Peitste Valo, unto a um niaho de fret flo Justament sobre vation ahi estabelecer a-—grande pesca e caca ds baleias, inburdes, lartarugas, eaplorar salinas © phosphato de calcio. Mas, a pesca, que fornece alimento abundante 4 guarnicdo, actualmente nao péde ser feita com vantagem industrial. Além da grande distancia da Trindade, ha logares na costa brasileira tio piscosos como as aguas da itha. D. Luiz de Vasconcelos e Souza, o benemerito Vice-Rei do Brasil, em documento datado de 20 de agosto de 1789 ¢ dirigido ao conde de Rezende CONMENORATIVO DO CENTHNARIO DO MUSH 187 seu successor, naturalmente irritado com o tr da Trindade, emitiin a seguinte opiniao: «cE me persuado que se tiraria maior interesed'ella, emprogando-se toda adiligencia em ar , de modo que ficase de huma vez inteiramente inutil, sem o minimo receio de poder servir para coisa alguma, pois a situasom, em que se acha, ¢ 0 estado, a que pode ficar reduzida, removem toda e qualquer desconfianca, que possa ainda aparentemente necessaria a balho que Ihe dera a Iha zit sua conservasam. » (Memoria Historica, Eduardo M. Peixoto— Diario Official — 1904 —Doe. n°. 71). Quanto ds riquezas mineraes a sua existencia ainda no foi demons- la. Nem mesmo se conhece ao certo si nella existe petroleo, como tam alguns. O Governo da Republica, em 1801 quiz aproveitala para um presidio peniteneiario. 0 futuro da Trindade, no emlanto, deve ser ene ob 0 ponto de vista militar. A prova de que é uma base maritima de primeira ordem esté no facto de ter sido apropriada por tres vezes pela Inglaterra, euja pri oceupacdo no que respeita a organizagio de bases navaes 6 notavel e de todos conhecida. Para os brasileiros a maior vantagem esté exactamente no facto de se encontrar em distancia de mais de 600 milhas 4 leste da costa do Espirito nto. E’ uma atalaia, um posto de vigia em zona do Atlantico, batida pelas correntes e ventos constantes que norteiam para as suas paragens os navios a vela, curioso phenomeno que ¢ obrimenio da mesma desde os primeiros momentos do conhecimento do Brasil. No futuro, caso a humanidade nao tire o ios desta terrivel guerra, que sirvam de sustentaculo para uma organizagio que evite os desastrosos choques entre as massas humanas, seré um posto de carvio, uma base de submarinos, um refugio de hydro-avides, representando im- portante papel na defesa de larga parte da nossa costa, podendo ainda, caso nos convenha, perturbar enormemente a navegacio do Atlantico Sul. E certo que as despezas de adaptac %o innumeras, que teremos de fazer um porto de difficillima construceao, fortificar definitivamente as partes accessiveis da ilha e providenciar pelo fornecimento de viveres ¢ munig6es para a guarnigio local. Conver, porém, nao esquecer como Heligoland, simples rochedo, que a Inglaterra cedeu a Allemanha em 1895, foi transformada em uma fortaleza inexpugnavel, ¢ quaes os servigos que presta actualmente na presente luta. No momento tudo deve ser feito para que seja mantida a nossa sobera- nia, sendo possivel entiio para o futuro a « Mia da Trindade » representar um papel importante na defesa da integridade de nossa Patria, no s6 dire- susp 158 ANGILIVOS DO MUSEU NACIONAL —YoL: xxit clamente, como base de ope rectamente, pelo 0. O yalor da Iha da Trindade esta sob e: tamento da costa, Demais faz parte int do — Brasil — (0), prasileiras, como tambem indi- acto de nao ser utilisada para identico fim por outra je ponto de vista, no seu afas- rante do nosso Paiz, é um pedago 4) As photographias que doeumentam o presente trabalhé foram exeeutadas em sua maioria palo praticante do Musou Nacional José Domingues dos Santos, devendo eomtudo algumas 4 do commandante Moraes Reg. nex 10a — TWNOIOWN orISAW 04 SOAIHONY gaVaNRIL Va VIET ~ 007 ONnaE “owe Mili ‘aaVGNnAL Ya VHAI — o807 NMG “sous nx “TOA — TWNOIOYN. ASA OG SOAIHONY. pee heer ee secmatmoe 20 mn oroag ¥ 28401 oY — soIUaeD sep eI ISAW OG SOALIDRY xx “TOA — TWNOIDVN AaSAW OG SOAIIORY aavaNpis Va VirIt— 0807 ONNE “dONd eee ein * a i tala AqVONRIL Va VHT — Ogo7 ONAL “sOMd san al Se ee ‘Eisen ie ee " . “ . iy Amcntv0s Do MUSE NAeIONAL — YoL. xx IRANDA RIBEIRO Fi 3 Pie Fig. 1 , ; (ig. — OPHIOALENNIUS. TRINITATIS (Mie. Riv); (Fe. 2) ~ KYPHOSUS PALPEBROSUS (Mir. Riv) (Fig 3 — MURAENA TRINITATIS (Mir. Rib) ; (Pig. 4) — ENCHELYCORE NIGRICANS (Bonnat) (ig. 9) ~ HALOCYPSELUS EVOLANS (L.) ARCHIVOS DO MUSEU NACIONAL ~ VOL. xxIt MIRANDA RIBEIRO PREGATA MINOR (Oa) Var, mot, Math, a, Se a] * ARCHIVOS DO MUSEU NACIONAL — VOL. xxi MIRANDA RIBEIRO FREGATA ARIEL, Gray ——— | ARCHIVOS DO MUSEU NACIONAL ~ VOL. xxi

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