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ney Hass asa) ESCOLA DE DIREITO DO PORTO DA UNIVERSIDADE CATOLICA PORTUGUESA o Dissio do Tabulho + Cis = Cite do Die do Tetlho? Aus AAW. | Bdigso Margo 2011 tise Burcusso Grif ‘tes Kluwer Portas a ate Coiba Era DIREITO DO TRABALHO + CRISE “Tats d Liskea = CRISE DO DIREITO DO TRABALHO? Foon Tome da Fonseca Jee ee 1600-209 Libor ACTAS DO CONGRESSO DE DIREITO DO TRABALHO ‘Coimbra: r Edificio Coimbra Edxors . Ladeita €3 Fao, n° 10 Aasanhol — 3040-574 Coimbea vevonceimbeacdioc pt atc sow 32.326 cedicrial@cimnbracditora pt Catarina DE OLivEtta CARVALHO: JsLi9 Visina Gomes Dirigo: Coimbra Edicor, SA. Ladeits da Paula. n2 10 ‘Ancaehol — 3040:574 Coimbra “le. 239 852 650 — Fax 239 852 651 eared todo dive por Were Kher Pr e oie. snare magn 0 qualuer ermaseneneats de lvoe sm de npencio mo aaa ore Wales Kluwer Portal sev rssrea2s9173 ®.coimbra Editora grupo Wolters Kiuwer Depo Leal a2 52480612011 DELIMITACAO DO CONTRATO DE TRABALHO. E PRESUNGAO DE LABORALIDADE NO NOVO CODIGO DO TRABALHO — BREVES NOTAS " Magia 20 ROSARIO PALMA Ramatiio Sumario: 1. Apresentagio do tema ¢ sequencia. 2. linportncia geral edlfieu- lades de delimitacio do contrato de trabalho. 3. As presungdes de laboralidade 4. A delimitagio do conuato de trabalho e a presungio de lboralidade no Cédigo do “Tababo de 2009. 4.1. A nova nopio legal de comtato de wabalbo, 42. A cedefnigao 4a presungio de laborlidade. J. APRESENTACAO DO TEMA E SEQUENCIA, 1. 0 tema da delimitagao do contrato de trabalho & um tema ‘candy es diversas tentativas de instituigto de presunedes de laboralidade. Para mais fesenvolvimentos sobre esta ligagda ene a evolugzo do nosso sistema jstaboral em ‘matéria de eessagio do caniato de wabalho, de trabalho 2 fermo © dos falos inde- pendentes, vd M. R PALMA RAMALNO, Insegurangar ox dlminuigdo do emprego? 1 rigdes do sistema juridico portugeés em maiéria de cessopdo da convengdo colee- iva de trabalho e de irabatho auiptc, in Estudos de Direito do Trabalho t, Coimbra, 2003, 95-106 285 Maria do Rosévio Palma Raonaito Na primeira versio, coeva da redacgio origindria do Cédigo “®, este presungo assentava 2 qualificagio do negécio como contrato de trabalho num conjunto de indicios muito diversificado: a insergao do tmabalhador na estrutura organizativa do credor com sujei¢ho @ orien- tagbes deste; o local e © tempo de trabalho (@ local deveria correspon- der & empresa beneficidria da prestacéo ou ser por esta controlado, e © trabalhador devia sujeitar-se ¢ um horétio de trabalho); o modo de célculo da retribuigo em Fangio do tempo de trabalho; os instrumes tos de trabalho, que deveriam ser fornecidos pelo credor, ¢ a duragio do contrato, que deveria ser superior a um perfodo ininterrupto de noventa dias, ‘Nesta versio origindria, a presuncdo de laboralidade sujeitava-se, ‘contudo, a critieas, que se podem sintetizar em trés pontos essenciais. Por um iado, os indicios referidos tinham um valor muito desequilibrado entre sie alguns deles nfo tinham mesino qualquer justificagdo material (© caso mais evidente era o da duragao minima do contrato fixada em hoventa dias, que constituia uma exigéncia desadequeda, tendo em conta que um contrato de trabalho pode ser conchuido por qualquer petfodo sem se descaracterizar). Por ou'ro lado, estes indicios eram estabeleci- dos expressamente em moldes cumulativos (art. 12°, corpo, do CT de 2003), pelo que se tornava, na pritica, mais dificil de chegat & qualifi- cago do negécio como contrato de trabalho através da presungio do que pelo método indiciério aplicado em termos gerais — ora, tendo em conta que a fungo das presungées legais € facilitar a demonstragao de tum facto € nfo dificultar a prova, este resultado era contraproducente. Por fim, tal como estava concebida, esta presungdo tinha um efeito perverso, dado que uma tal exigéncia quanto aos factores essenciais & presungdo poderia conduzir os tribunais a desqualificar 0 contrato como contrato de trabalho (na operacio normal de subsune#o dos factos nogdo legal deste contrato, constante do art. 10 do CT de 2003), sem- pre que nfo estivessem presentes todos os indicios do art. 12° do CT de 2003 1 Esta gorma nfo constave do Arteprojecto mas fo inreduzids por ocsiao dia dizeussio da Proposia de Lei as Asscmbleia da RepODiica, Delinivoso do contrato de trabatho « presuneio de laboralidade 281 Em suma, nesta primeira versio, @ presuneio de laboralidade do Cédigo do Trabalho era no s6 inatil como perigosa, pelos efeitos con- traproducentes que podia ter Na primeira alteragii introduzida 20 Cédigo do Trabalho de 2003 (pela L. m2 9/2006, de 20 de Margo), a aorma sobre @ presungio de laboralidade foi modificada, simplificando-se o sistema. Assit, de acordo com a nova redaegao dada ao art. 12.° do CT, petmitiriam pre- sumit a existéncia de um conirato de trabalho os seguintes factos: 0 facto de o trabalhador se encontrar na dependéncia do credor ¢ inserido nna sua estrutura organizativa ©; a sujeigdo do trabathador a ordens, direcgao e fiscalizagdo do credor da prestavao: €, por dltimo, o facto de a actividade prestada ser retribuida. Quando comparada com a versio anterior, esta presungdo apresen- tava a vantagem de se terem eliminado os indicios mais inadequados (com destaque para 8 duragio do contrato por mais de noventa dias), € de chamar a atengo para as situagdes de dependéncia econémica do trabathador, ‘Contudo, nesta formulago, a norma continuava a sujeitar-se a duas criticas essenciats: por um lado, 05 indicios de subordinagdo eram for ‘mulados em moldes muito mais vagos (assim, por exemplo, deixou de se refer 0 local ¢ 0 tempo de trabalho para se indicar apenas a inserg2o do trabalhador na organizacao do credor) e de um mado que se confun- dia com a descrigio dos elementos essenciais do contrato (assim, por exemplo, no se referia 0 modo de célculo da retribuicdo mas simples- mente a existéncia de retribuigao), © que diminuia a sua operacionali- 0 Para uma extea sais aprofundada da presongio nesta verso oviginita, wt ROSAHO PALMA RasaLio, Direito do Trabotho If, 3 el, cit, 30s. Tambim cons erando a presungao intl e periciesa, nesta verso origingvia, J. Lear Awabo, Con rato de Trabatho & luz do novo Céskigo do Trabalho, Coimbrs, 2009, 72. Ex sentido verso, considerando a presungdo stile adequada, A, MexDss Barnsra, Qualifica;do contatual e precwirde de loboralidade, in Estudos sobre © Cio do Trabalto, Cim- bra, 2004, 537-549, "29 "Da letra da lei neste poto nko se retrava que tipo de dependéncia era aqui visada pela norms, mae parcca traterze de dependBncia ecchdmic © ao jusidic, uma vee que se tata de indicios de subordinagao, 288 Maria do Rosirio Palma Ramatho dade; por outro lado, 0s indicios continuavam a ser apresentados em moldes cumulativos, 0 que dificultava a prova em vez de a facilitar. Em suma, também nesta versio, a presunedo de laboratidade tinha uma eficdeia reduzida até porque resultava numa certa sobreposigo com a nogao legal de contrato de trabalho, constante do art, 10.* do CT de 2003 ©. TIL Chegados a este ponto, estamos aptos a avaliar as alterapses introduzidas nesta matéria pelo novo Cédigo do Trabalho. Estas alte- ages respeitam tanto & nogo de contrato de trabalho (agora constante do art, 112 do CT), como & formulagio da presunca0 de laboratidade fart. 12%) E 9 que faremos no ponto seguinte do nosso estudo, 4. A DELIMITACAO DO CONTRATO DE TRABALHO E A. PRESUNCAO DE LABORALIDADE NO CODIGO DO TRA- BALHO DE 2009 4.1. A nova nogio legal de contrato de trabalho As primeiras alteragdes introduzidas nesta matéria pelo Cédigo do Trabalho de 2009 referem-se & nogao de contrato de trabalho, agora constante do art. 1.* da Cédigo. Nos termos desta norma, «contrato de trabalho & aquele pelo qual uma pessoa singular se obriga, mediante retribuigdio, a prestar @ sua actividade a outra ou outras pessoas, no mbito de organizagao e sob a autoridade destas». 09 Sobre esta versdo da presungio, sinda © nosso Direto do Trabatho H, 30 eda, eit, 50s. Tambim eniticando 0 eatdcter vago dos inicios e a sobreposigao fenite ste presungdo e a nogie legal de contrate de trabalho, em moldes que reir. lidade & pedpria resunglo, P. ROMANO MAKDNEZ / L. M. Mowrsiao /J. Vascot= ‘ceuos /P. MADEIRA DE BRITO / G. DRAY /L, GONCALHS B4 SUVA. Cdigo do Trabalho ‘Anotado, 7+ <2, 2009, 127 s, (anotagao de ROMANO MasceZ). Desia sobreposieto fenie indios de subordinagio e elementos essenciis do coatrato de tabalo Fetira 0 itor que na estamos, em rigor, perane um presungio, No mesmo sentido 9 pro- nuncio ainda Lent AMt00, Contra de Trabalho... et, 73 8 Delimitagaa do contata de trabalho e preswigo elaborate 289 Desta nova nosio de contrato de trabalho iessaltam trés diferengas fundamentais em relagao 4 noglo anterior: a referencia ao trabalhador ‘como pessoa singular, a incluso de um aparente novo elemento nesta ogo, que decorre da referéncia ao «imbito de organizagio» do empre- sgador, ¢ a supressio da reforéncia tradicional & componente da direcvéo do empregador no contrat. Vale a pena aprofundar um pouco 0 sentido de cada uma destas ahteragées, para podermos alicergar uma opinizo global sobre esta deli- rmitago do contrat. TI. A exigéncia legal de que o trabalhador seja uina pessoa sin~ gular no causa surpresa, Ela vem por fim & querela sobre a possibili- dade de celebragdo de contratos de trabalho coma pessoas colectivas, que dividia a doutrina ®®, tendo o legislador optado por tomar posigo neste debate ‘A nosso ver, a solugéo agora consagrada é a mais adequada, uma vez que a possibilidade de o trabalhador sor uma pessoa colectiva no se coaduna, efectivamente, com o elemento de pessoalidade incrente a0 conttato de trabalho. Este elemento, que decorre com clareza da inse- parabilidade entre a actividade faboral ¢ a pessoa do trabalbador © do relevo que as qualidades pessoais do trabalhador tém para o empregador (fazendo do contrato de trabatho um contrato necessariamente inauitu personae) © que se evidencia na posicao (subjectiva) de subordinagio ‘que 0 trabalhador ocupa no vinculo © aponts efectivamente para un trabalhador que seja ume pessoa fisica, Por outro lado, a natureza sin- gular do trabalhador é também 0 pressuposto de grande parte dos regi- ‘mes laborais, que procuram conciliar os interesses pessoais do trabalha- © Entre n6s,@ possbilidade de os tabathadores serem pessoas colectvas fo aventada por Menezes Conntina, Meme! de Direito do Trabalho, cit, 108, contra 4 tntendimento tational nesta mati 230 Maria do Resirio Palma Ranalha dor com as exigéncias de gestio (por exemplo, os regimes relativos 20 focal de trabalho, as férias e as faltas, aos dircitos de personalidade, ou mesmo a0 poder disciplinar, entre muitos outros) e que nao fazem sen- {ido para pessoas colectivas. Em suma, a natureza do contrato de trabelho pressupSe ui traba lhador que seja uma pessoa singular e a nogo de contrato de trabalho agora acolhida pelo Cédigo do Trabalho apenas vem confirmar esse trago genético do vincutlo laboral ™. TIL No que se refere as duas outras alteragSes introduzidas na nocdo legal de contrato de trabalho (e., 0 «novo» elemento da insereHo do trabalhador na organizagao do eredor € a supressio das referencias 20 elemento da direopio do empregador), © seu aleance pode suscitar mais dividas, como, aliés, € comprovado pelas vivas mas também dis- pares reaceSes que @ norma provocou em alguns sectores. "Assim, numa certa perspectiva, poderia considerar-se que a dispense do elemento adirecedo» na nopao legal de contrato de trabalho permiti- ria estender 0 objecto deste contrato a situagBes de trabalho auténomo, desde que o trabalhador se inserisse na estrutura organizativa do credor, ‘© que, no minimo, suscitaria davidas na jé complicada operagio de deli- ‘itagao do contrato em relagéo a figuras préximas ©, Numa perspectiva diferente, a referéncia & insergao do trabalhador na organizag2o do credor da actividade poderia ser considerada como win argumento em favor de (24 Bi especial sobre este ponte, Rosinuo PaLasn Rania, Dieto do Traba- tho J et, 320 ss, Nio deixamos, no cman, de adver para os efeitos perveroos desta referéncia do Cédigo do Trabalho na qualifcagzo de algumas situagSes, pela maior faciidade em operat a dessaracterizeio do vincalolaboral através do expediente da onsiuigao de uma pesson colectiva (nomeadamente uma socieade unipessoal) com |atosfraudulentos. com a qual € outorgado formalmente um contato de presggao de serigo que encobre uma efesiva prestagto de wabalho em regime de subordinaezo. estes casos, pensamos que se devertrecorrer ao prineiplo geval do abuso do direio, na projecsto da desconsiderara da personalidad jurdicacolectiva para se deseoriat 0 coma efectvamentecelbrado com 0 tabalhudor-pesoe singular que est por decds da pessoa ooletiva, "Nest sentido, expressamene,P. ROMANO MARTINEZ I Ly M, MONTERO! Vas cconcrzos/ ®. Mapeita DE BRI / G. Dkay / L. GoxcaLwes DA SiWva, Cédige do Trabatho Anotado, cic, 123s. (anotagdo de Rowan MARTINEZ), 2st uma construglo institucionalista do vineulo laboral, ao passo que a refe- réncia & insereo do trabathador na organizagao do empregador poderia ser interpretada como limitadora do ambito do contrato de trabalho, por ixar de fore os contratos de trabalho ndo empresariais ‘A nosso ver, a critica da nogdo de contrato de trabalho vertida no art. 11. do CT, por qualquer das perspectivas apontadas, no fem raziio de ser e esta nova nogio deve, bem pelo contrario, ser aplaudida, porque coesponde, de uma forma mais clara, a substancialidade do vinculo labora, tal como 0 concebemos, mas nao altera o ambito de aplicagio a norma ®, ‘Assim, no que se refere & supressio das referéneias tradicionais a0 elemento da direoedo do empregador, tal supressdo néo significa, quanto a nds, a dispensa do elemento da subordinagio juridica como elemento essencial do contrato de trabalho, com a3 inerentes dividas sobre a cextensdo do regime laboral ao trabaiho auténomo, que, como decorre da norma, mantém-se expressamente a referéncia & «autoridaden do empregador na delimitacdo do negécio laboral. Ora, como ja tivemos casio de demonstrar noutra sede , a posig#o de autoridade do empregador no contrato de trabalho inclui no apenas uma componente de direogio (que no carece assim de ser expressamente relerida) como também uma componente disciplinar; e, com frequencia, nao € a com- ponente directiva da autoridade do empregador que permite resolver davidas de qualificagao do contrato, porque 0 poder ditective pode estar diluido, no ser exercido ou mesmo ser attibuido a terceizos sem que © contrato se descaracterize ©, ¢ ainda porque tal poder também existe (29 Aina neste sentido, P Romano Maasiver J L. M, Moxreino / J, Vascox- cceros /B. Mapsins 0 Baro / G. Dray JL. Goxcaivus 84 Siva, Céligo do Trabatho Anetaso, ct, 123 5 (anotagio de Rowaxo MaRxe2) {Em sentico ideation, observa Lica. AvsxDo, Cantrao de Trebalha.. i, 53 que os erexoques dados a nogto de contrat de trabalho pelo nova Cakigo do’ Trabalho do determinam a descaacterizagao de qualquer conrato que antes fosse qualilicade como um contrato de trabalho, tem permitsm qualiicar como conisto de Wabalho ut contro que antes no merecesse tal qualiicagz. Do Pundemento.. cit, 108 ss. 1 Assim, se 0 trabathador nko reccber, de Face, instugdes au erdens do cempregador pore cle esté fora, ou siplesmente, porque o empregador nele cons 2 Maria do Rosirio Palme Remalho noutros contraios envolveado a prestacao de um trabalho ou de um ser- vigo ©, dependendo assim a sua aptidio quatificativa do acompanha- mento pelo poder disciplinar Em suma, a refeténcia & autoridade do cempregador na nogdo de contrato dé trabalho é referéncia bastante para identificar 0 bindmio subjectivo subordinagao do trabalhador/dominio do empregador, que verdadeiramente diferencia o contrato de trabalho de figuras prOximas, como acima recordémos, pelo que @ auséncia de mengio expresse a direceo do cmpregador nao significa a abertura do regime laboral ao trabatho auténomo ©, Por outro lado, no que respeita 4 referéncia legal a insergdo do ‘tabalhador «no ambito de organizagio [do eredorl» nao colhem as interpretagdes que véem cm tal referéncia 0 ressurgimento de uma con- epee institucionalista do vinculo laboral, nem aquelas que entendem aque tal referéneia afasta do universo laboral os contratos de trabalho lo empresarias. ‘Assim, no deve confundir-se a organizagao do eredor da activi- dade com uma instiuiclo, uma vez que falta & empresa a ideia de Dlcnaments, ou ainda porque ¢ un vabalhador com uma vinceda autonomis ties ou tim Lrabalhador dirgeats, 0 poder de direegan & menos inienso ou mesino visual © @ ‘conto alo se descaraciesiza por esse efit; c, bem assim, em algumas situagdes Taborais espocitis (como o trabalho temporito, © trabalho portuérie ou a cedsacia Deasional de vabalhadoces),¢ poder directivo ¢, por determinagio legs, aribuigo a ‘igus que nfo & 0 emprsgador © o conto tabi nfo se doscaracteriza, im suma, 1 poder divectivo & um poser prescndivel, pelo que a sux atenuagto ou mesmo a sua falta no iimpedem x qualificagio do vincul jurtico como um contraio de trabalho. ava mais desenvolvimeatos sobre ests pontos, Rosato Pasta Rawastio, Do Funda rt. city 252 5, 268 38, © 279 93, ¢ ainda Dieito do Trabalho Hl, 32 ei, ily BB sec 539 ‘8 Assim, por exemplo, no contrate de mandala. © mandaste tem 0 poder de emits instragdes (0e. 1161. al. «), do CC). 13" Na verdad, em alguns sstomas a delinjtago do eontato de trabatho & mesmo tralicionalnente feta apemts com apelo& idea do autridade do erapregador (€ 0 gue sicee no sisema juridi helga. ve define o cantato de trabalho como aguele cate teat pelo qual uma pessoa esta a sua actvidade «sous I'auorité d'un empioyew0 = ait 1? da foi ey 3 pulee 1975 relave aux contra de travail. ao passo que neuttas assoniadiesiac exelivamcate ma rferEnei & posi corelativa de dependéncis do ‘abalhador (€ 9 caso da sistema gsrmnico — §§ 617 € 68 éo BCD), obra comum ou de comunhao de objectives aos membros, que é essencial ao conceito de instituigio . Bem pelo contrério, a empresa é uma organizacao cujo titular ¢ 0 empresirio, que, através dela, prossegue os seus préptios objectives e no seio da qual coexis- tem interesses muito diversos, que entram, aliés, com frequéncia em conflito, Neste quadro, a referéncia & organizagio do empregador, no contexto da nogao de contrato de trabalho, nao permite inferir ‘que tal organizaco cortesponda a uma instituigdo, pelo que nio sig- nifica © ressurgimento de uma concepeao institucionalista do vinculo Jaboral Mas, esta mesma referéncia legal também nao resulta no afasts- mento do ambito do contrato de trabalho daqueles vinculos taborais que néo tenkam um escopo empresarial, por duas razdes essenciais: desde logo, porque n0 nosso ordenamento juridico o contrato de traba- tho € uma figura unitévia, que quadra tanto a contratos de trabalho empresariais como a contratos de trabalho ndo empresatiais; ¢ depois porque a organizagao do credor, que existe sempre © pode ser mais complexa ou mais rudimentar, néo é necessariamente uma organizagio empresarial. IV. Chegados a este ponto, estamos em condigdes de dar 0 nosso ponto de vista sobre a referéncia & integragio do trabalhador no Ambito 4a organizacdo do empregador, que € agora feita pela lei no contexto dda nogo de contrato de trabalho — art, 11.° do CT. 'No nosso entender, esta referéncia vem justamente salientar uma componente do contrato de trabalho que ¢ essencial ¢ contribui para delimiter este contrato de outros vinculos envolvendo @ prestagao de uma actividade laborativa: & a componente organizacional (© elemento organizational do contrato de trabalho, cujo sentido desenvolvemos na nossa proposta de reconstrugao dogmiitica deste © Por todos, Sobre © conceito Ue instiigdo, M. Haunioy, fa théorie de institution ot de la fondetion, in Cobiers de la Nowlie Journée, IV, Paris. 1925, (0, Sobre a aplicacto deste conccto & realidad da empresa, park efeitos de enquadutento ogmético do vineuo labora, vcr perspoctiva erica, es anss0s Do Furalamento, lt, 395 88, € Dat donomia Dogmitica., ei. 304. 24 Maria do Rosérie Poloma Rasatho negécio ©, pretende realgar o facto de o trabalhador subordinado (con- trariamente a0 que sucede com outros prestadores de um servigo ow ‘otividade laborativa) se integrar no seio da organizagio do eredor da Sua prestagHo, com ua especial intensidade. Desta integrafo result, fem primeito lugar, a vinculagao do traballiador a deveres que apenas se Justifieam por esta componente organizacional (assim, deveres de pro- ‘dutividade on deveres diversos de colaborapdo com os coleges de tra balho, mas também a sujeigzo @ horérios, ao regulamento empresarial, ‘2 codigos de conduta ou a deveres disciptinares); & também esta com- ponente orgatizacional que explica a influéncia quotidiana da organiza~ {0 do empregador nos contratos de trabalho dos respettivos trabalha- ores (evidensiada em miiltiplos regimes laborais, que conformam os deveres dos tabalhadores em matéria de tempo e de local de trabalho, Ge alteragdo da prostagio, de mudanga do empregador ou de cessago do contrato por motivos de gesilo); ¢ & ainda a componente organiza- ‘ciona} do vinculo laboral que explica o prinefpio da imerdependéncia dios vinculos laborais da mesma organizagdo (que se traduz em regras fcomo a igualdade de tratamento entre os trabalhadores e em muitos aspoctos da dindmica colectiva dos contratos de trabelho) ‘Coin a prevengio de que este elemento organizacional no pressupse tuna visio comunitério-pessoal do vinculo laboral (que mais no seja porque 0 que aqui releva é a organizagtio do credor ¢ nfo ume organ Jacko comum a empregador ¢ trabalhadores) e de que esta organizagdo hilo é também necessariamente uma empresa (podendo até revestir um ccardcter muito rudimentar), compreende-se 0 relevo determinante deste flemento no contrato de trabalho, designadamente em dois aspectos: por ‘um lado, para explicar alguns dos seus regimes mais peculiares; por outro lado, pata o delimitar em relagdo a outros vinculos, que, apesar de envol- verem também uina actividade de trabalho, nfo pressupsem esta integra gf0 do credor na esfera organizacional do credor. ‘Neste contexto, compreende-se ¢ aplaude-se a referéncia da lei & imegragaa do trabelhador na organizagio do empregador, no contexto da (8 po dwtonomia Dogmdtic... cit, 716 8 Relagao de wabatho ¢ retacdo de nprega... et, V3 8, Dire do Trabalho, cit, 1, WH 38, ¢ Direto do Tabet Ht, 3? ed. cit, 30's, canbe Delimitagdo do contrato de trabalho ¢ presungio de leboratidede 205 oso de contrato de trabalho. Tal referéncia apenas chama a atengao para o facto de este contrato ser, como ja tivemos ocasido de demonstrar noutra sede, um contrato com uma componente de insergdo organizacio- nal necesséria, B, por isso mesmo, faz também sentido considerar esta ‘componente na norma de delimitago do contrato © como wm seu ele- mento essencial, e nfo, como sucedia no Ambito do Cédigo do Trabatho de 2003, como um dos indicios de subordinago do trabalhador justifi- cativo da presungao de laboralidade (art. 12.° do CT de 2003), E 0 que se entende. 42. A redefinieio da presunsdo de laboralidade I. A segunda alterago substancial no Ambito do nosso tema, que fi feita pelo actual Codigo do Trabalho, tem a ver com a presungdo de contrato de trabalho. (0 tratamento desta matéria no actual Cédigo do Trabalho (art. 12.9) apresenta tr€s grandes diferencas em relagao ao regime anterior: a pri- meira diferenca tem a ver com 0 tipo de indicios de subordinagao indicados pelo legislador; a segunda tem a ver com a natureza do enun~ ciado legal destes indicios; e a terceira com as consequéncias da quali- ficagio fraudulenta do vineulo de trabatho para o empregador. __Em primeiro lugar, & de assinalar que os indicios referidos nas varias alineas do art. 12°, n° 1, do CT sao indicios em sentido préprio (embora a lei se thes refira como «caracteristicasn), ie., elementos de facto que constituem pistas num determinado sentido. Com efeito sto agora referidos como factores susceptiveis de fundar uma presungao de laboralidade o local de trabalho coincidentc com instalagées do benefi- dda actividade ou por ele controladas (al. q)), a pertenga dos equipamentos ¢ instrumentos de trabalho ao beneficigrio da actividade (al. b)), a exisiéncia de horério de trabalho (al. c)), 0 cardcter periddico da retribuigéo paga como contrapartida da actividade (al. d)), ou ainda (© que constitu: uma novidede) o desempenho de fungdes de direegiio ou chefia na empresa pelo prestador da actividade (al. ¢)) ©. Coma © Bae itimo indico consttui uma novidade. parecenda pretender facia « ‘qualificaglo laboral des vinculos dos tratalhadoresdirgentes. IE ainda de wealyar @ cia eatrs® 296 Marto do Roséria Palma Romatho decorre deste enuinciado, os indicios estio estabelecidos de uma forma mais conereta ¢, 20 contrario do que sucedia no Ambito do Cédigo do Trabalho de 2003, nfo se confundem com os elementos essenciais do ccontrato de trabalho, antes apontam para tais elementos, designadamente para o elemento da subordinagao do trabalhador. Ei segundo lugar, € de assinalar o facto de 0 enuncindo dos ind cios que sustentam a presuncao de laboralidade ser agora apresentado ‘em imoldes exemplificativos, conforme decorre expressainente do corpo don? 1 do ait, 12° Assim, bastando a verificagio de alguns destes indicios (em principio, pelo menos dois indicios terdo que estar presen- tes) para fundar a presungao de contrato de trabalho, tem o juiz uma maior latitude na aferigo desta presungdo a0 e880 conereto, 0 que, obviamente se coaduna melhor com a diversidade de modelos de con- tratagio laboral que hoje existe © ¢ comesponde ao objectivo de faci- litagdo da prova que inere as presungdes legals Em tereeiro e iltimo lugar, € de salientar a tutele contra-ordenacio- nal forte que € dispensada as situagSes de qualificagdo fraudulenta do negécio, cujo objective seja a subtracgao ao regime laboral, através da previsio de uma contra-ordenagao muito grave para estas situagSes, ‘quando pretendam causar prejuizo ao trabalhador ou a0 Estado (art. 12°, 2 3) © em caso de reincidéncia, da perda de subsidio ou beneficio atribuido ao empregador (art. 12, n° 4); por outro lado, se 0 empre- ‘gador falioso estiver inserido num grupo societirio, as outras sociedades do grupo séo responséveis pelo pagamento da coima — é a solusdo estabclecida pelo art. 12.°, n° 5, que jé nos parece manifestamente excessiva, por ndo pressupor qualquer conluio fraudulento entre © cempregador ¢ as outras sociedades do grupo. esaporecimento do indeio da dependncia econémica do prstsdoc da acividade em relagto ao ereder, que constiva da anterior presungie, Para mais éesenvolvimentos See este porto, vd ¢ nosso Dirvito de Trabeio M, 3" cd eit, S18. IS)” Assim, por exemplo, um indiio como a coincidéncia do local de trabalho com as insalagdes do benstctnio da presiag2o Inborstiva sera valerizado num contato {Ge table comu mas no nurs caso de elerabaTho que, por dingo, ¢ um tabatho isincia Delimiagdo do contrato de wabalho presuncéo de laboralidads 20 Com 2 actual configuracgo legal, pode, pois, dizer-se que, pela primeira vez, a presuncio de laboralidade desempenha ume fungi ail na qudlificagao do contrato de trabalho ABREVIATURAS. GB. Borgetliches Gesetzbech CC Cécigo Civil CRP-— Corstinigz0 da Repiblica Portuguesa CT — Codigo do Trabalho CT de 2003 — Ctigo do ‘Trabalho de 2003, DL— Decreto-Lei Diay — Dirito del Lavoro DS — Droit Sacet La Loi LCCT — Regline luridico da Cessagzo do Contato de Trebatho ¢ do Trabalho a termo LCT — Regine Juridico do Contato de Trabalho RCT — Regulamentaeto do Cédigo do Trabalho de 2003, RDES — Revista de Dirito ¢ Estudos Sociais RIDL — Riviste Ttaiana dt Dirito del Lavore (© No mesmo sentido, LEAL ANADO, Contato de Trabalho... cit, 76

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