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Yi-Fu Tuan Espaco e Lugar A Perspectiva ° da Experiéncia de Geografia ias Exatas INESP — Campus de Ri ) ma) DIFEL. BN 000 of 73042 sive of Experience EB Tito Onginat SY Space and Place: The Pe 83.0697 138.96 Psicologa 155.96 5 Percepedo geogriica Psicologia 185.06 1983, Dios de ado raed pat o Bal par aa] DIFEL. Sade ‘Av. Vieira de Carvalho, 40 — 5? andar CEP 01210 ~ Sto Paulo — SP Telox: 3294 DFELR Tels; 223-6923 6 225-4619 Veadas: Rua Daze de Setembro, 1.305 — V. Guilherme CEP 02082 ~ Sto Paulo SP ‘Tel: 267.0001 | | | b Prefacio nua, como a propria ina de outro assim como, na esfera da experiéncia do homem-com o-melo-ambiente, no pude nessa época encontrar um tema ou conceito abrangente com © ual estriturar o meu heterogéneo mate: las vezes tive de recorrer a categ; cionais (como ila, cidade, ov a perspectiva —a_daexperiéncia. A_complexa feza da experiéncia humana, que varia do - rio até a concepgao exp! » orienta © contetido e os temas deste livro, \OHONNOOOSESEOOEOOE OOGGE £0 woe Preféicio ente, tem gies tanto a tantos. Um problema ainda 1 que posso dei de agradecer as pessoas a quem devo mais. Eu as “devorei’ Suas idéias se transformaram em meus pensamentos mai profundos. Os meus mentores andnimos sdo os estudantes colegas da Universidade de Minnesota. Confio que eles sejam indulgentes com qualquer apropriago inconsciente de seus ficos e 6 com pra- te grato a J. B. Jackson ¢ F terem encorajado met ang Wang, Sandra Haas e Patricia Burw gramas que atingiram a elegincia formal que em meu texto ficou apenas no nivel da intengAo; e a Dorian Kotler da University Press pelo meticuloso trabalho-de revisio. Descjo, também, agradecer as seguintes instituigdes pelos recursos ‘que me permitiram trabalhar no Espago e Lugar, et ressados no assunto; A Fundagao Educacional Austra Americana (Programa Fulbright-Hays), por me ter possib tado uma visita Australia; ao Departamer ‘Humana, da Universidade Nacional da Au propiciado um ambiente agradavel e est le para pensar e escrever; ¢ A Universidade da California, em Davis, por um ano de sol e calor, tanto humano como climético.. Yi-Fu Tuan Ano Novo Chines, 1977. Sumario 3 2_ Perspectiva Exper 6 )Espaco, LugareaCri 4 Corpo, Relagdes Pessoais e Valores Espaciais 39 5) Espaciosidade e Apinhamento 58 6 Habilidade Espacial, Conhecimento e Lugar 76 (7, Espaco e Ligar 96 8 Espago Arquiteténico e Conhecimento 113 9 "Tempo no Espaco Experiencial 132 10° Experiéneias Intimas com Lugar 151 ‘LL) Afeigdo pela Patria 165 12 Visibilidade: A Criagdo de Lugar 179 13 Tempo e Lugar 198 14 Epilogo 220 Notas 227 si. Catalogasto-ma ‘Ciara Beasleira do Veni Rua Doze de Seen CEP 02152 ~ Sao Pa Tel: 267-0381 > Prefacio (as vezes tive dé recorrer a categorias conveni cionais (como subtirbio, vila, cidade, ou tratar separada- jos humanos) em vez de usar categorias que a central. Nest le-uma Seow Prefaicio Fregtlentemente, tem-me si mento das obrigagdes intelectuais. Uma razao é que devo tanto a tantos. Um problema ainda maior & que posso deixar de agradecer as pessoas a quem dev Eu as “devor Suas idéias se transformaram e1 colegas da Universidade de Minnesota. Confio que eles sejam. indulgentes com qualquer apropriago inconsciente de seus ‘Tenho, zet que 0s fago, Sou profundame P. W. Porter por terem encorajado meus esf a Su-chang Wang, Sandra Haas e Patricia Burwell pelos dia gramas que atingiram a elegancia formal que em meu texto ficou apenas no nivel da intengao; e a Dorian Kottler da Unive ‘que me permitiram trabalh nas interrupgdes, nos dois siltim Minnesota, por con: viagem de estu- dos, seguida de mais um ano de afastamento; & Universidade do Hayat, onde pela primeira vez explorei os temas deste livro, com um pequeno grupo de estudantes de pés-graduagao, inte- ressados no assunto; A Fundagdo Educacional Australiano- Americana (Programa Fulbright-Hays), por me ter possi tado uma visita a Australia; ao Departamento de Geografia Humana, da Universidade Nacional da Austrélia, por ter me propiciado um ambiente agradavel ¢ estimulante para pensar e escrever; € & Universidade da California, em Davis, por um ano de sol ¢ calor, tanto humano como climatico, Yi-Fu Tuan Ano Novo Chinés, 1977. Sumario Preficio V 1 Introdugio 3 2_ PerspectivaExperie! 6 )Espago, Lug 4 Corpo, Relagies Pessoais ¢ Valores Espaciais 39 (S) Espaciosidade e Apinhamento 58 6 | Habilidade Espacial, Conhecimento e Lugar 76 mento 113 132 40° Experincias Intimas com Lugar 151 LL) Afeigao pela Pétria 165 12. Visibitidade: A Criagao de Lugar 179 13. Tempo c Lugar 198 14 Epilogo 220 Notas 227 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. . Distorcdes - Etak — navegagao celeste micronésia, ILUSTRAGOES: Espago definido como localizagho rel demareado. Mapas do mundo dos Ai A estrutura do corpo humano, espago e tempo. “Centro” sugere “elevagio” e vice-versa: 0 exemplo de Pequim. © como espago |. Organizagdes egocéntricas e etnocéntricas do espago, De espaco a lugar: a aprendizagem de um labirinto. intos desenhados. Concepgo do espago como Iugar-repleto (oceano Paci fico) de Tupaia. |. Espacos mitico-conceituais. |. Cosmos ptolomaico. - Casas com pitios internos: 0 grande contraste entre 0 “interior” 0 exterior’ Oyurt mongol e o pantedo de Adriano: o-do e suas expresses arquiteténicas. A casa como cosmos € mundo social: © exemplo da casa dos Atoni no Timor indonésio. Acampamento pigmeu: a separagdio do espago social © sagrado. Espago e tempo dos Hopi: os reinos subjetivo e objetivo. Mito cosmogdnico e espago orientado sicas dos herbis ancestrais dos Walbi tral. Espaco sagrado simétrico (Ming T'ang) ¢ Cidade do Ho- ‘mem assimétrica. © lugar como um simbolo piiblico nitidamente visivel as places royales de Patis, segundo o plano de M. Patte Lugares duradouros: rochedo de Ayers e Stonel simb6lico favenvenvenvenvenvenvenrirr @OOHOEHCOECELECECGeCCoores A ve ee 20. Aldeias, cidades comerciais ¢ areas comerciais: lugares 21. caminhos e lugares linea- res; b. caminhos e lugares ciclicos/pendulares. 22. Os anéis de crescimento (tempo) das muralhas de Paris, Espago e Lugar A Perspectiva da Experiéncia 1 Introducgao “oR: Planicies da e.a.espaco é | de. O lugar € seguranca ,ados ao primeiroe-deseja- . O-que é lar? Ea velha . Estas so ‘slo comps ‘hésicos do mundo. vivo, n6s_os.adi como certos. Quando, no entanto, pensamos sobre cles, po: doi assumir significados inesperados e levantam questBes que nao nos ocorreria indagar. Que é espago? Vejamos um episodio, da vida do teélogo de enfoque & questo sobre o signi: ich naseeu e creseeu em iva munieipal construido na Idade Média, d de um pequeno mundo, protegido ¢ auto-sul crianga imaginativa, a cidade pareceria estreit impressio Auma itadora. @) ~ epee eee reeves 4 Introdusio sua familia para o mar Baltico. A viagem para o litoral — 0 s — era um grande acontecimento, Mais tarde Tillich elegeu um lugar no oceano para viver apés a aposentadoria, decisto esta que sem diivida deve muito as experiéneias da juventude. Quando nga, Tillich também pode escapar as Timitagbes da vida de uma cidade pequena fazendo viagens a Berlim. As visitas & grande cidade curiosamente the‘lembravam o mar. Ber de espaco sem limitagdes.' Experiéncias deste tipo nos levam novamente a reflotir sobre o significado de uma palayra como “espaco” ou “espaciosidade”, que pensamos conhecer bem. Que é um lugar? O que dé identidade e aura a um lugar? Estas perguntas ocorreram aos fisicos Niels Bohr e Werner Heisenberg quando visitaram o castelo de Kronberg na Dina- marca, Bohr disse a Heisenberg: Ito ¢ interessante como este castelo muda tho logo a gente imagina que ‘Hamlet riveu aqui? Como cientistas, acreditamos que um castelo consiste 56 fem pedas, eadmiramos a forma como 0 arquiteto fo eto verde com a pi wtahes de madeira ‘Ser ou nfo ser". No entanto tudo o que rel sr do séeulo XI. sm poderh provar que ele realmente exist, e menos vive. Mas todo mundo conhece as questbes que Shakesp rar, a profundeza humana que 10 trazer Alar; assim, teve bém que encontrar para si um lugar na ‘Terra, a berg. Una ‘nbs, um eastelo bem dife- | Estudos etoldgicos recentes mostram que animais nao humanos também t€m um sentido de territério e lugar. Os espagos sto demareados e defendidos contra os invasores. Os —| lugares silo centros aos quais atribuimos valor ¢ onde sto satisfeitas as necessidades biolgicas de comida, gua, des- canso e procriago. Os homens compartilham com outros 5 Introdugio mais certos padrdes de comportamento, mas como indicam as reflexdes de Tillich e Bohr, as pessoas também_respondem.a0 espago e ao lugar de maneiras complicadas que nto se conce- bem no reino animal, Como é possivel que tanto o mar Baltico como Berlim evoqiem uma sensagio de yastidao e infinito? ‘Como € possivel que uma simples lenda assombre o castelo de Kronberg ¢ transmita uma sensagao que permeia as mentes de dois cientistas famosos? Se ha seriedade em nossa preocu- pagio com a natureza e qualidade do meio ambiente humano, estas si, certamente, perguntas basicas. Entretanto, poucas vezes elas tém sido levantadas. Ao contrério, estudamos ani- mais, como, por exemplo, ratos € lobos, € dizemos que 0 ‘comportamento humano e'os seus valores so bem parecidos com os deles. Ou medimos © mapeamos o espago.e lugar, ¢ adquirimos leis espaciais e inventarios de recursos através de nossos-esforgos, Estas so abordagens importantes, porém ‘sam ser_complementadas por dados experienciais que possamios coletar ¢ interpretar com fidedignidade, porque nés niesmos somos humanos. Temos o privilégio de acess0 @ esta dos de espirito, pensamentos ¢ sentimentos. Temos a visto do interior dos fatos humanos, uma assergao que nao podemos fazer a respeito de outros tipos de fatos. {As pessoas s yezes se comportam como animais encur- ralados e desconfiados. Outras yezes também podem agir ‘como cientistas frios dedicados A tarefa de formular leis © mapear recursos. Nenhuma das duas atitudes dura muito, As pessoas so seres complexos. Os dotes humanos incluem 6r- gis sensoriais semelhantes aos de outros primatas, mas sto coroados por uma capacidade excepcionalmente refinada para a cringao de simbolos. Saber como 0 ser humano, que | esté. ao mesmo tempo no plano do animal, da fantasia ¢ do | sileulo, experiencia eentende o mundo é0 tema central deste livro. Considerando os dotes humanos, de que maneira as pes- soas atribuem significado ¢ organizam o espaco eo lugar? ‘Quando se faz esta pergunta, o cientista social é tentado a ver cultura como um fator explicativo. A cultura € desenvolvida tunicamente pelos seres humanos. Ela influencia intensamente © comportamento ¢ os valores humanos. A sensagdo de espago ¢ lugar dos esquimés é bem diferente oa dos americanos, Esta abordagem é valida, mas nao leva em conta o problema dos tracos comuns, que transcendem as particularidades culturais ¢, portant, refletem a condigt0 humana. Na observagio dos © cieniista comportamental provavelmente se volta para o comportamento andlogo do primata, Neste tra- ba Portincia desempenhada pela cultura. A cultura é inevitavel, sendo explorada em todos os capitulos. Mas o propésito deste ensaio nao é escrever um manual sobre fluéncia das cul- turas nas atitudes humanas em relagio a espaco e lugar. E antes um prélogo a cultura em sua int enfoca questbes gerais das ap necessidades, e como a cul és (einas se entreligain: 1) Os fatos biol tém apenas nogdes muito gfosseiras sobre espaco e lugar. Com o tempo ada rem sofisticagdo, Quais sio os estdgios da aprendizagem? O corpo humano ou esta deitado, ou ereto. Em posigo ereta tem alto e baixo, frente e cos rita e esquerda. Cc es silo extrapolados as distoree, Nele © que comega como espaco indiferenciads transforma-se.em lugar A medida que.o conhecemos melhor ¢ 0 dotamas.de.valor. Os arquitetos falam sobre as qualidad espaco, As idéias de finidas uma sem a outra, lugar € da ameaca do espago, e vice- nos NO espago como algo que permite movimento, entao ugar é pausa; cada pausa no movi- ‘mento torna possivel que localizagao se transforme em lugar 3) A amplitude da exreriéneia ou conhecime rigneia pode ser direta e intima, ou pode ser ‘espago" e “lugar” nao pi A partir da seguranga e e da amplidao, da liberdad versa. Além disso, se pet 7 Introdugio ceitual, mediada por simbolos. Conhecemos nossa casa inti- mamente; podemos apenas conhecer algo sobre 0 nosso pais, se ele é muito grande. Um antigo habitante da cidade de Minneapolis conhece a cidade, um chofer de taxi aprende a andar por ela, um gebgrafo estuda Minneapolis e a conhece conceitualmente, Estas so trés formas de experienciar. Uma pessoa pode conhecer um lugar tanto de modo intimo como conceitual. Pode ari ede o me ilar idéias, mas tem dificuldade de ex- ressar 0 que conhece através dos sentidos do tato, paladar, olfato, audigao, e até pela vist As pessoas tendem a eliminar aq 1m entre os priticos lar — se nto idiossinera- ‘a — € portanto sem Na_extensa literatura sobre qualidade ambiental, .relativamente poucas.obras-ten- tm compreender-o que as pessoas sentem. sobre espago. vat as diferentes maneiras de experienciar (sen- tatil, visual, conceitual) ¢ interpretar.espago-e lugar como imagens de sentimentos complexos — muitas vezes ambivalentes. Os planejadores profissionais, com sua necessidade urgente de agir, apressam demais a produgao de modelos e inventérios. Por sua vez, 0 leigo aceita sem muita hesitagio, dos planejadores carismaticos e, dos propagan- distas,. slogans sobre 0 meio ambiente que tenha recebido através da midia, esquecendo-se facilmente a rica informagao derivada da experiéncia, da qual dependem estas abstragbes. No entanto, 6 possivel articular sutis experiéncias humanas, tarefa a que os artistas vém se dedicando — freqiientemente com éxito, Em obras literdrias, bem como em obras de psico- Jogia human filosofia, antropologia e geografia, esto registrados intrincados mundos de experiéncias humanas. Este livro chama a atencio para as questdes formuladas pelos humanistas sobre espaco ¢ lugar.’ Procura sistematizar 6s insights humantsticos, exp0-los em sistemas conceituais (aqui organizados na forma de capitulos), de modo que sua importincia seja evidente para n6s, nao somente como seres pensantes interessados em saber mais sobre a nossa propria eSUEEEEV EVE ELEY 8 Introdugao natureza — nossa potencialidade para experimentar — mas ios da Terra, preocupados na pri- je um habitat mais humano. A abordagem do mais freqiientemente a sugerir do que rio como este deve ter a virtude da clareza, isso seja necessario sacrificar 0 detalhe erui cacao, ‘Um termo-chave neste livro & “experi natureza da experiéncia e da perspectiva experier Qual é a 2 a Perspectiva Experiencial srmo que abrange as diferentes ma- das quais uma pessoa conhece e constréi a realidade, Estas maneiras variam desde os sentidos ivos como 0 olfato, paladar ¢ tato, até a i izagao.: CA ps ihe tralia EMOGAO emogto ———— pensamento PENSAMENTO . Os matema- irmam que a expressio de seus teoremas rivs estéticos pensamento dé colorido a toda experiéncia humana, as sensagbes is prazer e dor. A sen- sago é rapids pensamento em um tipo 9 10 Perspectiva Experi especial. O calor sufocante ou ardente; a dor, aguda ou fraca; uma provocaga reayoes ‘acesso, insim Aexperincia é cons! sentimento humano nao é uma ida de sentimento e pensamento. ssiio de sensacdes dis- into ao mundo, e por la qual o eu é afetado coincidem ‘A experiény layra Sugere 0 homiem ou mulher experiente é a quem tém acont coisas. No entanto, nao falamos das experiéncias das pl e, mesmo nos réferinds aos ai fluxo da expe. do seni . Buma ten ida propria | fica atuar-sobre. 0 0 dado nito pode ser conhecido em sua esséricia. O-que pode ser conhecido é uma realidade que 6 is experiéneia, uma criagdo de seniimento e nio, Conio afirmou Susanne Langer: “O mundo da mundo real interpretado pelas abs- tragdes matemiiticas, eo raundo do set € 0 mundo real interpretado pelas abstragdes imediatamente rnecidas pelos Orgios dos sentidos. E iar 6 vencer os perigos. A palavra “experié provém da mesma raiz latina (p perto” e “perigoso”.S Para experi é necessfrio aventurar-se no desconhecido e experimentar o ilu- ; sorio e 0 incerto, Para se tornar um experto, cumpre artis. ntar 0s perigo O individuo é 9 sfio educados mentalmente? Ten- jnclar » povlet op bo francés savoir relacionado com \glés savour. O ir um extraordinds A estruturagdo dos mundos. que 0s atos intelectuais de ver e ouvir, os ato podem ser m¢ -ernir mundos sentidos do olfato até chegarem a ~ eee ree er veeerverrus nariz, humano muito menos agugado que o nariz dos cies para detetar certos odores de baixa intensidade, as pessoas podem ser sensiveis a uma gama maior de odores do que os cies. Cachorros e Jo apreciam 0 perfume das flores da \eas preferem 0 hos, procura am} cheiros de carne putrefata, que desagradariam ao homem. As 1¢as pequenas, também, parecem ser indiferentes aos 8 Fetidos. Langer sugere que os adores de putrefagao sito i para os ai mas que nao tém essa cono- homem, usam as maos para conhecer ¢ confortar membros de sua propria espécie, mas o homem também usa as milos para explorar 0 meio ambiente fisico, diferenciando-o pele, Tais substincias entorpecem, como éculos embagados, afaculdade de exploracio. © meio ambiente arquitetOnico moderno pode agradar aos olhos, mas freqtientémente carece da personalidade esti- 13 Perspectiva Experiencial mulante que pode ser proporcionada pelos odores vatiados & agradaveis. Eles imprimem cardter aos objetos e lugares, tor- sao importante: um mundo olfativo, mas podem as fragrancias e perfumes constituir um mundo? “Mundo” sugere estrutura espacial; um mundo olfativo seria aquele em que os odores esto espa- cialmente arranjados, e nfo simplesmente aquele onde apa- regam em sucessao acidental ou como misturas rudimentares. Podetn outros sentidos, além da visdo e do tato, proporcionar um mundo espacialmente organizado? E possivel argumentar que 0 paladar, 0 odor e mesmo a audigio nao nos dio, por si mesmos, a sensagdo de espago.” A porque a maioria das pessoas fazem uso dos cinco sen: , que se reforgam miitua e constantemente para fornecer ‘mundo em que vivemnos, intrincadamente ordenado e carre- ado de emoges. O paladar, por exemplo, envolve quase invariavelmente o tato ¢ 0 olfato: la ao redor da bala, explorando sua form pernas so bfisicos para que tomemos consciéncia do espago. ‘O-espaco € experienciado quando h& lugar para se mover. Ainda mais, mudando de um lugar para outro, a pessoa adquire um sentido de dirego. Para frente, para tras e dos assume uma organizagio eu, que se move e se direciona. Os olhos humanos, por terem superposicdo bifocal e capacidade estereoscdpica, proporcio- ham as pessoas um espaco vivido, em trés-dimensdes. A e ia, contudo, & necesséria. Uma crianga ou um cegos de nascimento mas que tenham recentemente recupe- rado a visio, precisam de tempo e pratica para perceber que i Perspectiva Experiencial mundo se constitui de objetos tridimensionais estaveis e dis- postos no espago, em vez de padries mutaveis e cores. Toe manipular coisas com a mao produz. um mundo de objetos — objetos que conservam. sua constancia de forma Avangar até as co i era pereepedo, iano visual como fdpiien, dle nos sees lh manos seu mundo. familiar. de_objetos dispares.no_espaco. G Ingar 6 uma classe especial de objeto. uma concrecto de valor, embora no seja uma coisa-valiosa, que possa.ser facil- ménte manipulada ou levada.de-um lado para f objeto no qual se_podemorar, O espago, como jé men namos, 6 dado pela capacidade de mover-se. Os movimentos freqiientemente sao dirigidos para, ou repelidos por, objetos e lugares. Por isso 0 espago pode ser-experienciado de vérias maneiras: como a localizagao relativa de objetos ou lugares, como as distincias e extensdes que separam ou figam.os_tu- pares, e — mais abstratamente — como a rea defi uma rede de lugares (Fig. t= paladar, o olfato, a sensibilidade da pele € a audigao nao podem individualmente (nem sequer talvez. juntos) nos tornar cientes de um mundo exterior habitado por objetos. N entanto, em combinagao com as faculdades “espacializantes" da visto e do tato, estes sentides essencialmente nao distan- iadores enriquecem muito nossa apreensio do cardter espa- cial e geométrico do mundo. Em inglés, por exemplo, quali- ficamrse alguns sabores como sharp, € outros como flat.* significado destes termos gecmétricos & realgado peio uso metaférico no reino do paladar. O odor & capaz de sugerit massa e volume. Alguns cheiros, como de almfscar ou de angélica, sio “fortes”, ao passc que outros sdo “delicados”, “finos”, ou “leves". Os carnivores dependem do sentido agu- ‘A. Bapago define pe acllaagao Pe dds enteepostos (mule AGL) Oespage da mul io essencialmente pela loca lizagao.e pela dist na maioria entrepostos (A), ‘como percebidos do ponto de vista da sede na ilha de Southampton, a0 ppasso que a idéia de limite (a linha da costa) & importante para sentido de cespago do homen esquims (B). Edmund Carpenter, Frederick Varley & Robert Flaherty, Eskimo. Toronto, University of Toronto Press, 1959, p. 6 Reimpresso com rermissio da University of Toronto Press ado do olfato para seguir e capturar a presa, pode ser que seu nariz seja capaz de articular um mundo espacialmente estruturado — pelo menos aquele que se diferencia pel cdo e distancia. O nariz do homem & um érgio bastante at fiado, Depend>mos da vista para localizar as fontes de perigo ede atracio, mas, com o auxilio de um mundo visual anterior, © nariz do homem também pode discernir diregao e calcular ddist@ncia relativa através da intensidade de um cheiro. Uma pessoa que manipula um objeto, sente nao apenas sua texlura mas suas propriedades geométricas de tamanho e forma. Preseindindo da manipulacao, a sen pele, OOOH NHDHHOEL IGG ZOBDAHROM HOMO AAR ADE D 16 Perspectiva Experiencial por si s6, contribui para a experiéncia espacial do homem? Ela cor jtada. A pele registra sensagtes, Informa sobre sua propria con tempo sobre a condigao do objeto que a est Porém a pele nao sente a distancia. Neste aspecto a pereepcao t&til esté no extremo oposto da visual. A pele 6 capaz de transmitir certas idéias espaciais e pode fazé-lo sem 0 apoio dos outros sentidos, dependendo somente da estrutura do corpo ¢ da capacidade de movimento. O comprimento rela- tivo, por exemplo, é registrado quando difer partes do corpo sio tocadas ao mesmo tempo. A pele pode transmitir uma sensagio de volume e massa. Ninguém duyida de que “entrar em uma ba 14 A nossa pele uma sensagio mais maci¢a do que uma Apele, quando entra em contato com objetos achatados, pode aval aproximadamente a sua forma e tamanho. Em pequeno nivel, ‘a aspereza e suavidade so propriedades geométricas que a pele reconhece facilmente. Os objetos também siio duros ow moles. A percepeio talil diferencia estas caracterfsticas na evidéncia espacio-geométrica. Assim, um objeto duro, sob press, retém a sua forma, enquanto um objeto mole nio a retém. O sentido de distancia e de espago se origina da capaci: dade auditiva? O mundo do som parece estar espacialmente estruturado, embora sem a agudeza do mundo visual. E possi- vel que © cego que pode ouvir, mas nio tem mios ¢ apenas pode mover-se, carega de sentido de espaso; talver para tai pessoas todos os sons sejam sensagdes corporais e nko cagdes sobre o carter de um meio ambiente. Poucas pessoas tém deficiéncias to sérias. Tendo visto e possibilidad mover-se ¢ de usar as maos, os sons enriquec sentimento humano em rela¢do ao espago. As orelhas do homem néo sao flexiveis, por isso esti menos aparelhadas para discernir dirego do que, por exemplo, as orelhas de um lobo. Mas, virando a cabeca, uma pessoa pode aproxima‘ mente dizer a direco dos sons. As pessoas ident conscientemente as fontes de ruido, e a partir dessa ‘magao constroem 0 espago auditivo. 7 Perspectiva Experiencial ___ Ossons, embora vagamente localizados, podem transmi- tir um acentuado sentido de tamanho (volume) ¢ de distancia. Por exemplo, numa catedral vazia, 0 ruido de passos res- soando claramente no chio de pedra cria a impressdo de uma vastidao cavernosa, A respeito do istancia, Albert Camus escreve demos ouvir os latidos dos ces a uma distancia dez vezes major do que na Europa. Assim, o ruido assume uma nos- talgia desconhecida em nossos paises confinados.”"* Os cegos desenvolver idade para os a adores auditivos porque no depen- dem tanto deles, Todos os seres humanos aprendem a relacio- nar som e distancia ao falar. Alteramos o tom da nossa voz, de baixo para alto, de intimo para piiblico, de acordo com a distancia social e fisica percebida entre n6s ¢ os outros. O volume ¢ a expressiio da nossa vor, tanto como o que procu- amos de, so lembretes permanentes de proximidade e de © proprio som pode evocar impresses espaciais. Os es- trondos do trovao sao volumosos; o estridulo do giz.no quadro negro & “comprimido” e fino. Os tons musicais baixos so vyolumosos, enquanto 0s agudos parecem finos ¢ penetrantes. Os musicélogos falam de “espago musical”. Em misica criam-se ilusdes espaciais completamente independentes do fendmeno de volume e do fato de o movimento logicamente Com freqiiéncia se diz que a mtisica tem na. A forma musical pode dar vez a uma confirmagio do icélogo Roberto Gethard, forma na musica significa saber exatamente, a cada ins- tante, onde se esta. A conseiéncia da forma é realmente uma sensagao de orientagio Os diversos espacos sensoriais parecem-se muito pouco entre si. O espago visual, com a sua nitidez ¢ tamanko, difere t cego cujo conhecimento do espago deriva de indicadores auditivos e tateis nao pode, por algum tempo, 18 Perspectiva Experiencial apreciar © mundo visual quando recupera a visio. O interior abobadado de uma eatedral e a sensacio de entrar em uma banheira com agua morna significam’ volume ou espaci dade, apesar de serem as experiéncias dificilmente comp réveis. Da mesma forma, o significado de distiincia é tao va- riado quanto as maneiras de experiencié-la: adquirimos © sentido de-distincia, pelo esforgo de mover-nos de um lugar para outro, pela necessidade de projetar nossa voz, por ouvir © latido dos cies & noite, e pelo reconhecimento dos indicadores ambientais da perspectiva visual. ‘A dependéncia visual do homem para organizar 0 espago nao tem igual. Os outros sentidos ai espago visual. Assim, 0 som aumenta a nossa consciénei ineluindo reas que esto atras de nossa cabega © n&o podem ser vistas. E 0 que € mais importante: 0 som dramatiza a ‘experiéneia espacial. Um espaco silencioso parece calmo e sem vida nao obstante a sua visivel atividade, quando obser- ‘vamos, por exemplo, acontecimentos através de bindculos ou na tela da televisio com o som destigado, ou em uma cidade abafada por um manto de neve fresca.” ~ Os espagos do homem refletem a qualidade dos seus sen- ‘tidos e sua mentalidade. A mente freqtientemente extrapola além da evidéncia sensorial, Considere-se a nogio de vastidao, A vastidao de um oceano nio é percebida diretamente. “Pen- Samos no oceano como um todo”, diz William James, “mul plicando mentalmente a impressio que temos a qualquer ins- tante em que estamos em alto mar.”"* Um continente separa Nova York de Sao Francisco. Uma distancia desta magnitude € compreendida através de simbolos numéricos ou verbai calculados, por exemplo, em dias de viagem. “Porém o s bolo frequentemente nos dard o efeito emocional da percep- 40. Expresses como a abismal ab6boda celeste, a vastidao infinda do oceano, ete., resumem muitos célculos da imagi- nacio, e dio a sensagio de horizonte imenso.” Alguém com a imaginagdo matematica de Blaise Pascal olhara para 0 céu ¢ se sentird consternado pela sua infinita vastidao. Os cegos stio capazes de conhecer o significado de um horizonte distante. Eles podem extrapolar de sua experiéneia de espaco auditivo ¢ \ | | | | \ | 19 Perspectiva Experiencial da liberdade de movimento para contemplar com os olhos da. mente vistas panordmicas ¢ 0 espaco infinito. Um cego contow. organizagio espacial no meio ambiente. Por exemplo, os in- dios Dakota acham em quase todas as partes da natureza a evidéncia de formas circulares, desde a forma dos ninhos dos pssaros até 0 trajeto das estrelas. Ao et 05 indios Pueblo, do Sudoeste do Estados Unidos, ver espa- gos de geometria retangular. Estes so exemplos do espaco interpretado, que depende do poder da mente de extrapolar muito além dos dados percebidos. Tais espacos estao no ex- tremo conceitual do continuum experiencial. Existem trés tipos prineipais, com grandes dreas de superposi¢io — o mi- tico, © pragmatico, ¢ 0 abstrato on teérica. O espaco mitico € m esquema conceitual, mas também é espago pragmitico no sentido de que dentro do esquema 6 ordenado um grande néimero de atividades priticas, como o plantio e a colheita. Uma diferenga entre o espaco mitico e o pragmético 6 que este € definido por um conjunto mais limitado de atividades eco- némicas. O reconhiecimento de um espaco pragmitico, como cinturdes de solo pobre e rico, é sem divida um feito inte- lectual. Quando uma pessoa habilidosa procura descrever cartograficamente o padrao do solo, usando simbolos, ocorre ‘um progresso conceitual. No mundo ocidental, os sistemas geométricos, isto é, espacos altamente abstratos, foram eria- dos a partir de experiéncias espaciais primordiais. Conse- qiientemente, as experiéncias sens6rio-motoras e tateis pare- cem estar na origem dos teoremas de Euclides concernentes & congruéneia de forma e o paralelismo de linhas distantes; e a percepgao visual é a base da geometria projetiva. ‘Os homens nao apenas diseriminam padrdes geométricos na natureza e criam espagos abstratos na mente, como tam- bém procuram materializar seus sentimentos, imagens e pen- samentos. O resultado € o espago escultural e arquitetural ¢, em grande escala, a cidade planejada. Aqui o progresso vai POHHHEEOER OME OO MAB MAe ED oe a eaceaeaase 20 Experiencial nentos rudimentares pelo espaco e fugazes discer- a natureza até a sua coneretizagao material € pi- \do-lhe uma personalidade geométrica. Nem a crianga recém-nascida, nem o cego que recupera a visio, aps uma vida-de cegueira, podem reconhecer de imediato uma forma geométrica como o triangulo. A principio, o tridngulo é “espaco”, uma imagem embagada, Para reconhecer o trién- gulo € preciso identificar previamente os angulos — isto 6, lugares. Para 0 novo morador, 0 bairro 6 a prinefpio uma confusio de imagens; “ld fora” & um espago embacado. Aprender a conhecer 0 bairro exige a identificagao de locais significantes, como esquinas ¢ referenciais arquitetdnicos, dentro do espago do bairro, Objetos e lugares so niicleos de valor. Atraem ou repelem em graus variados de nuangas. Preocupar-se com eles mesmo momentaneamente é reconhe- cer a sua realidade e valor. O mundo do bebé carece de ‘objetos permanentes ¢ esté dominado por impressbes fugazes. Como as impressies, recebidas atra sentidos, adqui- rem aestabilidade de objetos e lugares? ‘A iinteligéncia se manifesta em diferentes tipos de reali- zagilo. Uma € a capacidade de reconhecer ¢ sentir profunda mente 0 particular. A diferenga entre os mundos esquemé- ticos dos animais e os dos homens é que os destes esto densa- ‘mente poyoados com coisas pessoais e coisas permanentes. As oisas pessoais que valorizamos podem receber nomes: um jogo de ché & Wedgewood e uma cadeira & Chippendale. As pessoas tém nome proprio. Elas sio coisas especiais que po- dem ser os pr decorativo ¢ seu tilintar quando b: dade como Sto Franciseo é reconhecida pelo ce topografia, skyline, odores ¢ ruidos das ruas® Um objeto ou lugar atinge realidade conereta quando nossa experiéncia com ele & total, isto é, através de todos os sentidos, c com a mente ativa ¢ reflexiva. Quando resid tempo em determinado lugar, podemos ¢% mente, 1rém a sua imagem pode no ser nit 10s também. vé-lo de fora e pensemos em nossa expe ‘A outro lugar pode faltar 0 peso da realidade porque 0 s de fora — através dos olhos de turistas cie humana, produtora de simbolos, que seus membros pos- sam apegar-se apaixonadamente a lugares de grande tama- tho, como a nagio-estado, dos quais eles s6 podem ter uma experiéneia direta limitada 3 Espago, Lugar ea Crianga N o homem adulto so extremamente compl jnam-se das experiéneias singulares comuns. No entanto cada pessoa comega como uma crian logo apés 0 nascimen vos biologicos do crescimento impdem curvas crescentes de aprendizagem © compreensio ‘que sfo semelhantes e podem, portanto, transcender a énfase especifica da cul Como uma erianga pequena percebe ¢ entende 0 seu mei ambiente? Existem respostas bastante sat as. O equ pamento biol6gico da erianga, por exemplo, fornece indicios pelas pessoas e pelos lugares? Estas quest6es so sis de responder. Um retorno introspectivo & nossa fancia é freqientemente decepcionante, porque ten- 2 4 Crianga dem a desaparecer as paisagens luminosas e sombrias de nossos primeiros anos, e perduram apenas alguns aconteci- mentos importantes, como aniversirios e o primeiro dia de acriangaéo ivas do adulto so de ies que procedem das A biologia o ser humano nase tex cerebral tem apenas 10 a 20% do complemento normal de células nervosas de um eérebro maduro; além disso, muitas das nga nao tem 0 cue o meio undo nao du Durante as ejaem aparecer a fixagao ‘com convergéncia’ No entanto, la no quarto més, a crianga mostra pouco interesse em explorar yisualmente 0 mundo além de um raio de um metro A crianga no se locomove e somente pode fazer pequenos movimentos com a cabega e os membros. Moyer 0 corpo seguindo uma linha mais ou menos reta é essencial para a construgto do espago experiencial mediante as coordenadas 4 Espaco, Lugar €aCrianga bésicas de frente, atras e lados. A majoria dos mamiferos, logo apés © nascimento, adquire um sentido de orientagao, dando alguns passos seguindo a mae. A crianga deve adquirit esta habilidade mais gradualmente devido a sua lenta matu- ragio. Que acontecimentos e ativiéades podem dar & sensacdo de espago? Um bebé, no mundo ocidental, passa grande parte de seu tempo deitado. De vez em quando é carregado para arrotar, brincar e fazer agrado. A partir desses acontecimentos pode advir a distingio experimental entre horizontal e vertical. No nfvel de atividade, uma crianga co- nhece 0 espaco porque pode mover seus membros: chutar o cobertor que a incomoda é uma amostra da liberdade que, no adulto, esté associada com a idéia de-ter espaco. Uma erianga explora o meio ambiente com sua boca.’ A boca se ajusta a0 contorno do seio da mae. Mamar é uma atividade muito gratificante, pois requer a particiragao de diferentes sentidos: tato, olfato e paladar, Além disso, mamar alimenta o bebé, dando-Ihe uma sensaco de prazer. O est6mago se dilata e se contrai & medida que 0 aliments entra e € digerido. Esta fungao fisiolégica, ao contrario de respirar, 6 ider conscientemente com estados alte-nados de desconforto e sa- tisfagdo. “Vario” e “‘cheio sto experiéncias viscerais de im- portancia definitiva para o homem. O bebé as conhece e res. onde com choro ou sorriso. Para o adulto, tais experiéncias corriqueiras adquirem um significado melaférieo adicional como sugerem as expressdes: “cho-ar de barriga cheia”, "sen- tir um vazio por dentro”, “estar na plenitude da vida". A crianga usa suas mos para explorar as caracteristicas tateis ¢ geométricas de seu meio ambiente, Enquanto a boca agarra o bico do seio e adquire a sensagao de espaco bucal, as maos ‘movem-se ativamente sobre o seio. Bem antes que os olhos da crianga possam se fixar em um pequeno objeto e discriminar sua forma, suas maos j4 0 apreerderam e conheceram suas propriedades fisicas através do tato, (© mundo visual da erianca é especialmente dificil de ¢ deserever porque somos tentados ¢ atribuir-lhe as categorias \ bem conhecidas do mundo visual do adulto. A maior parte 25 Espaco, Lugar a Crianga das veres nos escapa como os sentidos do olfat, paladare tato estruturam o meio ambiente; até mesino as pessoas cultas no tém um vocabulirio diversificado Para descrever os mundos ¢ tatil, Mas nao enfrentamos problema algum com o e diagramas, tanto quanto as palayras, estio & nossa disposigado. O. mundo visto através dos olhos dos ( adultos ou das criangas mais velhas € vasto e nitido; nele os )objetos esto claramente ordenados no espaco, [sto nao acon fece com o bebé, Falta.ao seu espaco visual estrutura e perma- éncia. Os objetos neste espagu sho impressdes; portanto ten- let a existt para ee-somente enquanto permanvem em sea campo visual As formas e tamanhos dos objetos carecem de constancia, que as criangas mais velhas j4 identit afirma que um bebé pode nao reconhecer a mamadeira quando é dada ao contrério; com cerca de oito meses aprende aviré-la.’ Para uma crianga mais velha, com experiéncia, um. objeto parece menor a distancia, ¢ a di ninui¢io em tamanho de objeto que recua é sem pensar interpretada como um aumento da distancia. Para o bebé, no entanto, um objeto que pareve pequeno porque esta distante pode ser tomado come um outro objeto. O bebé possui uma capacidade inata para reconhecer as qualidades rudimentares das coisas tridimen- sionais, sua constincia de tamanho e forma ea distingao entre Jonge e perto, mas 0 reconhecimento age dentro de um campo. ito restrito comparado com o de um bebé que ja esté enga- tinhando! A capacidade de ver esta intensamente firmada em expe- rigncias nao visuais. Mesmo Para uma crianga mais velha, alua 'o € facilmente considerada como um objeto dife. rente da lua no horizonte. Que a Lua se move ao redor da ‘Terra é uma abstracao alheia a experiéncia da crianga: a Lua é vista apenas em dados momentos, separados por intervalos de tempo que a crianga sente quase como eternos, A gravura de uma estrada que leva a um distante chalé arece facil de interpretar; contudo a estrada s6 tem sentido completo para. alguém qu rido. Uma crianga que ndo anda, nao pode ter sentido de distancia quanto ao gasto de energia Para vencer uma barreira espacial. Uma crianga aprende de- 26 spaco, Lugar ea Crianca pressa a ler os indicadores espaciais ¢ ambientais, mesmo ‘quando Ihe so apresentados em forma de gravura. Um jovem apreciador de livros, de trés ou quatro anos, ja pode olhar em ‘uma gravura um caminho que desaparece na mata ¢ ver a si ‘mesmo como o heréi de uma iminente aventura {£ O primeiro ambiente que a crianga descobre é seus pais, ; O primeiro objeto permanente e independente que ela reco- ( nhece é talvez outra pessoa. As co'sas aparecem e continuam a existir somente quando a crianca thes dé atenco; mas logo se jatroduz em sua consciéncia nascente a realidade indepen- dente do adulto, que existe com ou sem sua atengio? Os ‘adultos so necessirios, no somente para a sobrevivéncia Dioldgica da crianga, mas também para desenvolver seu sen- tido de mundo objetivo, Uma cranga de poucas semanas jé aprendeu a prestar atengo a presenca de gente. Ela comeca a adquirir o sentido de distancia ¢ direcao através da necessi- dade de julgar onde possa estar 0 adulto. Ao final do prim més, é capaz de seguir com os olhos apenas um percepto distante — 0 rosto do adulto. Um bebé com fome e chorando se acalma e abre a boca ou faz movimentos de suegao quando v6 aproximar-se um adulto. ‘Um bebé de oito meses esti atento aos ruidos, especial- mente os dos animais ¢ das pessoas no quarto vizinho. Ele presta atengdo neles; a sua esfera de interesses se expande falém do que é visivel e do que Ihe preocupa. No entanto, © seu espago comportamental permanece pequeno. Parece (que se desanima facilmente con. as dificuldades percebidas. Segundo Spitz, ao redor dos oito meses 0 horizonte espacial da crianga esta limitado pelas graces do seu bergo ou do a Grado, “Dentro de seu quadraéo, ela pega seus brinquedos ‘com facilidade. Se o mesmo brinquedo Ihe é oferecido de fora das grades do seu quadrado, ela zstende as mios, mas estas se detém nas barras; nio continva 0 movimento além_delas; poderia facilmente fazé-lo, porque as barras tfm suficiente espaco entre si, E como se 0 espaco terminasse com o seu quadrado. Duas ou trés semanas apés os oito meses, repenti- namente compreende e é capar.de continuar seu movimento além das barras e pegar seu brinquedo.""" | \ 27 Espaco, 1 a Crianca © bebé que engatinha pode explorar o espago. O movi- nento além da vizinhanga imediata da mae ou fora do bergo. facarreta riscos que 0 bebé no estt preparado para enfrentar. (Os instintos ce sobrevivéncia nao esto bem desenvolvidos. O medo de estranhos aparece entre seis ¢ oito meses. Antes desta etapa, 0 bebé nao distingue os rostos familiares dos nao familiares; @ partir dai vira a cabeca ou chora quando um estranho se afroxima!” O ambiente inanimado fornece pou- ‘cos sinais claros de perigo para o intrépido bebé explorador. Qualquer coisa que pode ser agarrada é agarrada ou colo- cada na boca para um conhecimento mais fntimo; 0 medo do fogo ¢ da 4gva tem que ser aprendido, Para a crianga que engatinha, o espaco horizontal parece seguro. Bla esta cons- te de um tipo de perigo no ambiente fisico: 0 precipicio, perimentos tém demonstrado que um bebé ndo engatinhara ‘em cima de uma placa de vidro colocada sobre um buraco com lados verticais apesar do encorajamento da mae. Seus ‘olhos reagem aos sinais de mudanga brusea de declividade."* ‘A criangi pequena, tio logo aprende a andar, quer ir da mae 2 explorar © ambiente dela. Quanto mais hostil ‘oambiente, maior a dependéncia da protecdo do adulto, Por exemplo, bebss bosquimanos do sudoeste da Africa sto menos propensos a rerder-se da mae quando estio brincando e cor- rem mais facilmente para ela do que as criangas ocidentais."* Em um estudo sobre 0 comportamento ao ar livre de criangas inglesas, de um ano e meio a dois anos, Anderson notou que raramente elzs se distanciam mais de sessenta metros de suas mies. A crianga, caracteristicamente, se move em pequenas westidas de nao mais do que poucos segundos. Bla para entre as investidas por perfodos semelhantes. Quando cami- nha, a crianga gasta a maior parte do seu tempo aproxi- mando-se ou distanciando-se de sua mac. Os objetos e.0s acontecimentos no meio ambiente n@o parecem afetar a ma- hneira como acrianga se move. A crianga necessariamente no se distancia da mde porque foi atraida por um objeto, nem’ volta correndo por causa de um objeto. Os movimentos tém tum cardter brincalhao de experimentagao, A crianga ‘se dis- iancia um pouco da mae, se detém para olhar ao redor, presta 28 © Espaso, Lugar ea Crianca tengo as causas dos sons ¢ dos estimulos visuais.¢ em alguns ‘casos atrai a atengo da mie. Eutremeado com o distante passar dos olhos, est um exame do chao: pega folhas, grama, pedras e sujeira; rasteja ou pula para frente e para tris sobre ‘05 pause tenta sacudir ou trepar en obstaculos.""* Apontar é um gesto comum, Qualquer cené ou barulho que chama a atcngdo da crianga é suficiente fara esse gesto. Freaiente- mente 0 adulto nao consegue disernir a fonte do estimulo, Pode ser imaginario. “Uma crianga pode apontar para um lado do horizonte onde nada se move e dizer A mae que um homem yem vindo.”"* E interessante observar a aparente preocupagao da crianga com o distante e o proximo. Ela aponta para o horizonte e brinca com as pedras a seus pés, mas mostra pouco interesse com oque esta no meio. Os bebés ¢ as criangas pequenas tendem a articular 0 mundo em categorias polarizadas. Reparam e classificam as coisas com base nos contrastes maiores. A propria linguagem comeca quando a crianga para de balbuciar indiscriminada- mente e passa a fazer experiéneias com sons altamente dife- renciados. A primeira vogal é 01 bem aberto € a pri consoante é a oclusiva p ou b feitos com os labios. A primeira ‘oposigaio consonantal é entre as oclusivas nasal ¢ oral (mam®i/ pap); em seguida vem a oposigao das labiais e dentais (papa/ tata ¢ mami/nan4). Junlas, elas compreendem o sistema consonantal minimo de todas as linguas do mundo.* Entre o sexto ¢ oitavo més, como ja mencionamos, 0 bebé comega a separar as pessoas entre “familiares” ¢ “estranhos"’. Pouco depois discrimina os brinquedos inanimados. Quando os brin- ‘quedos sio colocados em sua frente, ele pega o que prefere em ver do que esta mais proximo. Uma crianga de um ano, no colo, Jevanta seus bragos para indicar “para levantar"; con- torce-se e olha para baixo quanco quer dizer “para descer”. Os opostos espaciais so claramente diferenciados por uma crianga de dois a dois anos e meio de idade. Estes incluem em ‘cima e embaixo, aqui e14, longe ¢ perto, topo ¢ fundo, sobre € sob, cabeca e eauda, frente e atris, porta da frente e porta de tris, botdes da frente ¢ botGes cas costas, casa ¢ exterior, Uma crianga que engatinha ¢ capar de verbalizar algumas pequona distingue entre “casa” res de brinquedo m: que “meu quarto” ¢ “jardim’. Os extremos opostos no sio entendidos tao bem; por exemplo “em cima” 6 mais rapidamente compreendido do que (Os trabalhos de Piaget e seus colaboradores tém repeti- damente mostrado que a inteliggucia sensorio-motora pre~ cede, As vezes por varios anos, a apreensio conceitual. Du- rante as atividades do dia-a-dia, a crianga reyela habilidades espaciais que estdo muito além de sua compreensao intelec- ‘ual. Um bebé de seis meses pode discriminar entre um qua~ drado eum triangulo, mas o conceito de quadrado como uma forma determinada ndo aparece até ao redor dos quatro anos, quando também pode desenhé-lo. Além disso, uma crianga pequena pode ter a nocao da linha reta como a trajet6ria de uum objeto em movimento (o caminhao que ela empurra 20 Iongo da borda da mesa), mas 0 conceito geométtico de linha reta nao aparece antes dos seis ou sete anos.” Antes dessa idade, a crianga nfo desenha espontaneamente uma linha reta nao consegue apreender a idéia de diagonal." A crianga que ‘comega a andar, logo anda com um propésito: sai de um ponto-base, dirige-se para o objeto desejado e volta ao ponto de safda por um caminho diferente. Uma erianca sadia de trés fou quatro anos nao se perde dentro de sua casa e de ver. em quando visita os vizinhos. Estas realizagdes sensorio-motoras, contudo, no implicam um. conhecimento conceitual das rela- Ges espaciais, Criangas sufgas de cinco a seis anos de idade podem ir a escola ¢ voltar para casa sozinhas, Elas tém difi- culdades em explicar como fazem isto. Uma crianga "“lembra apenas de onde ela parte ¢ aonde chega, e que tem de dobrar uma esquina em seu caminho, Nao consegue se lembrar de nenhum referencial, ¢ 0 desenho de seu trajeto nao apresenta nenhuma relago com a planta da escola e do bairro." Outra crianga “lembra os nomes das ruas, mas no sua ordem ou os lugares em que deve virar. Seu desenho é apenas um arco com varios pontos aleatoriamente assinalados para corresponder ‘nomes que ela lembra,"” ~Expaco, Lugar - ea Crianca O quadro de referéncia espacial de uma erianga é limi- ' tado. Os desenhos das eriancas fornecem abundantes suges. {es dessa limitagao, Por exemplo, no desenho da erianca, © nivel da gua em um copo inclinado aparece em Angulo reto com os lados do copo em vez. de paralelo superficie da mesa gue fornece a linha basica horizontal para o dese quando se pede uma erianga que deser {elhado inclinado de uma casa, ela pode colocar a chaminé em Angulo reto com a inclinagdo do telhado em vez de com a superficie plana na qual esté a casa.” “Separagio” € outro tipo de evidéncia que sugere a inabilidadé da crianga para detetar as relagbes espaciais entre os objetos, ou apenas sua indiferenga para com clas..Por exemplo, o desenho do va. ueiro em seu cavalo pode mostrar uma grande lacuna entre 0 chapén © a cabega do vaqueiro e outra entre 0 vaqueiro eo cavalo” Exros deste tipo sugerem que a crianga pequena estd mais preocupada com as caisas em si — a Agua no copo, © vaqueiro ¢ o cavalo — do que com as suas exalas relagdes espaciais. Os pais sabem como é facil seus filhos se perderem em um ambiente ndo familiar. Os adultos adquiriram 0 hé- bito de tomar nota mentalments de onde as coisas esto e de como ir de um lugar para outro. As criancas, por outro lado, im-se com as pessoas, ccisas e acontecimentos; ir de ‘um lugar para outro nao € de sua responsabilidade. Os homens vivem no chao e véem as drvores e casas de lado. Eles ndo véem de cima, a nao ser que escalem uma montanha alta ou vigjem de avito. As criancas pequenas difi- cilmente tém a oportunidade de supor uma paisagem vista de cima. Elas so seres pequenos em um mundo de gigantes ¢ de coisas gigantescas que no foram feitas em sua est tanto, criangas de cinco ou seis anos reyelam u dinéria compreensio de como seriam as paisagens vistas de cima. Elas podem “er” fotografias aéreas verticais em braneo © preto de povoados e campos de cultivo com uma acuidade ¢ Seguranga inesperadas, Podem reconhecer casas, cat Arvores nas fotografias aéreas ainda que estes aspectos apare. gam em uma escala muito reduzida e sejam vistos de um Angulo e posi¢ao desconhecidos en sua experiéncia, E possivel 3 Espaco, Lugar © Crianga que ngas da cidade tenham tido a experiéncia de olhar fotografins em revistas ou na televisNo, mas as eriangas do Sampo que ndo tém contato com esses veiculos, também con, ‘ais do seu meio am- trens de brinquedo & dhirigem seus destinos como deuses do Olimpo, Susar Ieegee grupo de criangas inglesas precoces pidamente as relagdes espaciais através de aginagao, avid sobre o jardim, colharam para cima e, com de costume, gia | disse: “Ser que ele nos ve sugeri: “E se a gente fizesse 0 pelo homem do avi! imediatamente ¢ trabalhamos vi ram “até 0 topo da escada para saber come de quatro anos e meio compreendeu espontaneamen Se veria o alto de suas eat No periodo de 1950 a 1970, methorou a capacidade das Criancas de idade de jardim de infaincia para entender foto srafias a€reas, Ver na televisdo cenas aéreas ¢ brincar cova simples brinquedos de armar podem ter ajudado esta tendén, Progressiva. Por outro lado, durant (empo, as criangas nao apresentaram neni sofisticagao para compreender os pontos de vista dos Indoe Ghostos de um quarto ou terreno, E mais facil, tanto para a crianca como para o adulto, imaginar como um piloto em seu Qvido ¥é uma paisagem, do que como um agricultor a vé, estando do lado oposto da colina. Assumimos mais rapida mente uma posigaio mw ale 32 Espaco, Lugar ea Crianca perspectiva de outro mortal no mesmo nivel em que estamos, Além disso, a compreensdo do meio ambiente sofre menos apés 90° de rotagio da perspectiva da horizontal do que depois da rotagio de 40 a 50°. A cena obliqua 6 mais dificil de terpretada do que a vertical Para a crianga, uma foto tiraca de lado ou de um pe- queno dngulo acima do chao tem uma grande vantagem sobre ‘© mapa ou a fotografia aérea: apela mais diretamente para a 4 inativa. Uma crianga de trés anos e meio de idade j livro. Ela oth para uma gravura ¢ e! até a casa © penctra fu sua pequ a.” A perspectiva central cria uma ilusto de tempo.¢ movimento na cena: as margens convergentes dle um que desaparece na porta de uma casa distante sito poderosos indicios de aco. Ao contrario, a fotografia vertical fayorece a compreensdo das relagdes espaciais, A crianca nao esté preparada para iniciar a ago imaginativa — a nao ser para atirar bombas na escola, Uma gravura em perspectiva daquelas que aparecem nos livros infantis esti- mula um ponto de vista egocéntrica: a erianga se vé como herdi do paleo, e nio tem condigdes ou vontade de ima, como outro ator — 0 menininho no fim do caminho, por exemplo — 0 veria quando se aprosimasse. Uma fotografia aérea, ou mapa, por outro lado, incentiva um ponto de vista objetivo. Um ponto de vista objetivo desencoraja a ago, espe- cialmente aquelas aventuras precipitadas ¢ draméticas que sao naturais d crianga, ‘Como uma crianga peauena entende um lugar? Se defi- irmos lugar de maneira ampla como um centro de valor, de alimento ¢ apoio, entio a mae 6 0 primeiro lugar da erianga. Amie pode bem ser 0 primeiro objelo duradouro e indepen: dente no mundo infantil de impressdes fugazes. Mais tarde ela 6 reconhecida pela crianga como o seu abrigo essencial e fonte segura de bem-estar fisico e psicolégico. Um homem sai de casa ou da cidade natal para explorar 0 mundo; a erianga que engatinha sai de perto da mae para explorar o mundo, Os lugares permanecem af. Sua imagem é de estabilidade e per- Espaco, Lugar a Crianga manéncia, A mie se move, mas para a crianga, no obstante, cla representa estabilidade ¢ permanéncia. Ela esti quase sempre perto quando necesséria, Um mundo estranho in- funde pouco medo a crianga pequena sempre que a mie esteja perto, porque ela é seu ambiente e refigio familiar. A crianga fica desnorteads — sem lugar — na falta da protec dos pais. A medida que a crianga cresce, vai-se apegando a obje- ( tos, em lugar de se apegar a pessoas importantes, e finalmente )@ localidades. Para a crianga, ugar é um tipo. de objeto grande e um tanto imével,.A prineipio as coisas grandes tém menos significaco para cla do que as pequenas porque, a0 ontrario dos brinquedos portiteis ou dos cobertores prefe- ridos, elas nao podem ser manipialadas e transportadas facil podem nao estar dispontveis nos momentos de etise para dar confortoe apoio. Além do que, a crianga pode desen- volver sentimentos ambivalentes por certos lugares — objetos grandes — que Ihe pertencem. Por exemplo, a cadeira de bebé € seu lugar. Ela come ai e comer da satisfaclo, mas também the dao de comer coisas de que nao gosta e esté presa em sua cadeira, A cri ver seu bergo com ambivaléncia. O bergo € seu aconchegante pequeno mun as noites vai para ele com relutancia; precisa dormir mas tem medo do escuro ede ficar sozinba. Tao logo a crianga 6 capaz de falar com certa fluéncia, quer saber o nome das coisas. As coisas no so bem reais até que tenham nomes e possam ser classificadas de alguma maneira. A curiosidade pelos lugares faz parte de uma curi sidade geral sobre as coisas, surge da necessidade de qual | \ficar as experiéncias; adquirem assim um maior grau de per- | manéncia e se ajustam a algum esquema conceitual. De acor- do com Gesell, a crianga de dois ou dois anos e meio de idade compreende “once”. Ela néo tem uma imagem clara do es- pago intermedifrio entre aqui lé, mas adquire um sentido de segurangz quando o seu “onde?” € respondido com “eserit6rio", ou “edificio grande”. Depois de mais ou ‘menos um ano, a crianga mostra um novo interesse nos refe- ja os reconhece ¢ adianta-se quando sai para um ea Crianga passeio ou uma volta de carro. O egocentrismo se mani na tendéncia em pensar que todos os carros que vio na mesma direcdo devem estar indo para o lugar dela. A crianca também aprende @ associar pessoas com lugares especiticos. confunde quando encontra a sua professora do jardi | faincia no centro da cidac ie segundo ela a professora estd deslocada; esta pe ‘acho? A idéia de lugar da especifica ¢ ie ela cresce. A pergunta “onde gosta is anos provavelmente di vyetha responderé -se mais quatro anos de idade comeca @ usar expressdes como Jonge” e “ld pra baixo" ou “bem longe”. A pergunta “onde voc8 mora?”, uma crianca de dois anos provavelmente dir “casa”, Mais ou menos um ano depois, ela pode dar o nome da rua nome da cidade, 0 que nao é freqiiente.” Na , como o conhecimento de lugar de uma, iae se expande? Um estudo de alunos da primeira e sexta séries em duas comt este americano & sugestivo>* Mostram-se as criangas gravu- lugares que formam parte do ambiente lade, fazenda e fabrica. A respeito de sofisticadas. Vila, lugares familiares aos alunos da sexta série; descrevem-nas.com. certeza e facilidade compardveis as dos adultos. Quando se mostra uma gravura a um aluno mais velho, ele ¢ freatien- temente capaz nto apenas de dizer 0 que 6 (vila, cidade, etc.), em que consiste, mas também de colocar o lugar no seu contexto geogrifieo maior; nio somente descreve 0 que esto fazendo as pessoas que aparecem na gravura (coriando grama, fazendo compras, etc.), mas também procura explicar como 35 Espaco, Lugar ea Crianca é mais provavel que amplo; pode mesmo ni0 igo se prende as erianga primeira série olha a grayura ignore seu ambiente espacial m pouco tem a coisas que vé na gravura. De fato, 0 alunos de primeira série parece nao ser o ambiente, mas as ‘pessoas: o que est fazendo o homem ou a menininha, Em geral, estes alunos no mostram tanto entusiasmo pelos luga~ res, como os mais velhos. { | Ohorizonte geogrdfico de uma crianga expande A medida jecessariamente passo a passo em mnhecimento se fixam ago e para lugares estr: de cinco ou seis anos, a crianga pode demonstrar curiosi sobre a geografia de locais ex6ticos se nfo tem experi aprendizagem ainda nao explica si 'es bruscas na compreensao. Nao é de su ie uma crianga possa demonstrar interesse pelas noticias de lugares distantes, pois a sua vida € rica em fantasia e se sente 4 yontade no mundo da fantasia antes que ‘os adultos venham Ihe exigir que viva imaginariamente nos paises reais do livro de geografia. Para uma crianca inteli- iéncia 6 uma procura ativa e em que urpreendentes para além (O que caracteriza 0 lago emo com 0 lugar? Os alunos norte-americanos de primeira série podem reconhecer como entidades: vila, esquina e fazenda; ‘mas temos observado. que os alunos mais novos tém menos a dizer e so menos entusiasmados com tais lugares do que os mais velhos. Com excegio das creches e dos poucos lugares piiblicos esto a 36 ~Espago, Lugar ea Crianga pequenas. Sera que elas sentem necessidade de estar em luga~ fes de acordo com seu tamanho? Supée-se que existam tais evessidades. As criangas pequenas, por exemplo, como se ‘de cauda, onde se sentam nearem, as criangas mais yelhas procuram cantos e esconderijos tanto em ambientes Construfdos pelo homem como na natureza. Passar a noite no Quintal, em uma barraca ou em uma casa na aryore é para Glas uma verdadeira festa, como se estivessem realmente fa- rendo uma longa viagem para uma cabana de eagador. {© sentimento por lugar influenciado pelo conheci- mento de fatos basicos: se 0 lugar é natural ou const Grelativamente grande ou pequeno. A crianga de cinco ou seis anos nao tem este tipo de connecimento. Ela pode falar com entusiasmo sobre a cidade e 0 lago de Genebra, mas a apre ciagao destes lugares, com certeza, é muito diferente da de um adulto culto. Nessa idade 6 provavel que ela suponha que nto.a cidade como 0 lago sao artificiais, E bem provavel que ia ache, também, que ambcs tenham tamanhos comparé- Jextromamente possess ‘brinquedos sao dela, que a cadeira perto da mie é seu lugar € se apressa em defender 0 que considera que the pertence. Entretanto, grande parte da luta da crianga pela posse nfo é ‘ade uma genuina afeigo. Nasce da necessidade de ‘o seu proprio valor e de conseguir status entre os ‘m objeto ou um canto do quarto, sem valor momento, de repente adquire valor, omar posse. Uma vez que a crianga readquire 0 controle absoluto, seu interesse pelo brin- ‘quedo ou lugar rapidamente acaba.” Isto ndo quer dizer que ‘as pessoas, jovens ¢ velhas, néo sintam necessidade de apoiar sua personalidade em objetos e lugares. Todos os seres hu- manos tém seus proprios pertences ¢ talvez todos tenham necessidade de um lugar seu, quer seja uma cadcira no quarto ‘ou um canto preferido em qualquer veiculo, a7 Espago, Lugar ea Crianga que, nos Estados Unidos, os filhos dos trabathadores rurais volantes sofrem porque, entre outras rarbes, nao tém durante um perfodo de tempo um lugar que identificar como deles. Pedro, por exemplo, 6 um menino de sete anos que viaja com seus pais, para ¢ baixo, na costa Leste, Raramente permanecem m em uma fazenda, Pedro ajuda a colher frutas e verduras. Vai Aescola quando pode. Coles escreve: Para um monno como Pedro, o prédio da escola, mesmo yelho e ito bem ‘iobiliado, & am mondo novo — com grandes j dos assoalhos & porta, forrosrebocados e paredes eam gravuras, ¢ uma carteira que é dele, ‘que Ihe & designaca, que se supte the pertence, ou virtualmente Ihe per- fence, dia ap's dia, quase como um certo tipo de direito. Depois de sua alaram que eu podix Fentar nesta cdeira e me disseram que a earteira 6 para mim, e que todos 5 dias eu devera vir para o mesmo lugar; sobre a cadeira ela disse que ere sinha enquento eu estiver nesta escola — isto foi o que disseram as professoras."* (O luger pode adquirir profundo significado para 0 adulto através do continuo acréscimo de sentimento ao longo dos Cade pega dos méveis herdados, ou mesmo uma man- sha na parcde, conta uma est6ria. A eriauga no apenas tem ‘um passads curto, mas seus olhos, mais que os dos adultos, |estiio no presente e no futuro imediato. Sua vitalidade para fazer coisas e explorar o espago nao condiz com a pausa refle- xiva e com a olhada para tras que fazem com que os lugares parecam saturados de significancia. A imaginagao da crianca 6 de um tipo especial. Esta presa a atividade, Uma crianga cavalga um: pau como se estivesse sobre um cavalo de verdade, ¢ defende uma cadeira virada como se fosse um verdadeiro castelo. Ac fer um livro ou ao ver suas figuras, ela entra rapi- damente na fantasia de um mundo de aventuras. Porém um espelho quebrado ou um tricielo abandonado nfo Ihe transmi- tem nenhuma mensagem de tristeza. E as criangas ficam des- concertades quando solicitadas a interpretar o estado de espi- rito de ura paisagem ou de uma pintura de paisagem. As pessoas {6m estados de espirito; como pode uma cena ou lugar parecer feliz ou triste?® Porém, os adultos, especialmente os 38 © Espago, Lugar ea Crianca cultos, nfo tém dificuldade de associar objetos inaniinados com estados de espfrito. As criangas pequenas, to imagina- tivas em suas esferas de aco, podem olhar prosaicamente Para os lugares que aos adultos Ihes trazem tantas recor- dagies. Corpo, Relacdes Pessoais e Valores Espaciais GE spago” 6um termo abstrato para um conjunto com- E plexo de idéias. Pessoas de diferentes culturas dife- rem na forma de dividir seu mundo, de atribuir va~ lores as suas partes e de medi-las. As maneiras de di Pago variam enormemente em complexidade ¢ sofisticagio, assim como as técnicas de avaliagZo de tamanho e distin Contudo existem cerias semethangas culturais comuns, & repousam basicamente no fato de que o homem 6 a medida de todas as coisas. Em outras palavras, os prineipios fundamen- tais da organizagéo espacial encontram-se em dois tipos de fatos: a postura ¢ a estrutura do corpo humano e as relagdes (quer préximas ou distantes) entre as, O homem, como resultado de sua experiéncia in! mm Seu Corpo & ‘com outras pessoas, organiza o espaco a fim de conformé-lo a suas necessidades biol6gicas e relagdes so A palavra "corpo" sugere de imediato antes um objeto que um ser vivo e espiritual. O corpo é uma “coisa” e esta no espago ou ocupa espaco. Ao contrério, quando usamos os termos “homem’” e “mundo"', ndo pensamos apenas no ho- mem como um objeto no mundo, ocupando uma pequena parte do seu espaco, mas também no homem como habitando © mundo, dirigindo-o ¢ criando-o. De fato, o simples termo 39 Ce i 40. Corpo, Retagies Pessoais ¢ Valores Espaciais juga o homem e inglés world (“mundo”) contém ¢ c igico Wer signi biente, porque o seu radical eti mem. Homem e mundo indicam id cessitamos também examinar idéias mais simples abstraidas do homem e do mundo, principalmente corpo e espago, brando, no entanto, que aquele no apenas ocupa este, porém © dirige e 0 ordena segundo sua yontade. O corpo é “corpo vivo” ¢ 0 espaco é um constructo do ser humane. mantém com facilidade na posi o homem esta pronto para agi imediatamente pode diferenci reita-esquerda de acordo com a estrutura de seu corpo. Ver cal-horizontal, em cima-embaixo, frente-atrés ¢ direita-es- querda sio posigdes © coordenadas do corpo que sto extra- poladas para o espago (Fig. 2). No sono profundo, 0 homem. CORPO HUMANO ERETO, ESPACO E TEMPO ‘Figura 2. Corpo hhumano ereto, espego ¢ tempo. © espaga projetado do corpo propende pera a frente ¢ para a © futuro esté & acima’, O passado esth atris¢ “abai 4 Corpo, Relagies Pessoais © Valores Pessouis continua a ser influenciado pelo seu meio ambiente, mas perde seu mundo; ele é um corpo ocupando um espago, Acor- dado ¢ em pé, ele recupera seu mundo, ¢ 0 espago é articulado de acordo com seu esquema corporal. O que significa dominar © espago e sentir-se a yontade nele? Significa que os pontos de referéncia reais no espago, como os referenciais e as posigdes cardeais, correspondem a intengdo ¢ as coordenadas do corpo humano. Kant esereveu em 1768: nna medida em que las iadas pels relagdo com os lados do corpo (...) Nao import them eu conbega a ordem. dos pontos eaed ides de acordo com esta orde is completa carta celestial, ndo importa ‘quio perfeito seja 0 plano que dela eu tenha em mente, nko me ensiaeré igamos 0 Norte, para que lado procurar 0 lém das posigdes das esirelas entre si, esta quito Posso determina medida em que conhega para qual regido seja ada p mos. [gu isso conhecimento geogréfico, © até 0 nosso conhec ‘mento mis corriquciro das posigoes dos gares, no nos sevirk de idermos, pela referéncia aos Indes de n0ss0s corpos, alt © que significa estar perdido? Sigo uma trilha na flo- esta, saio da trilha, e de repente sinto-me completamente Sesorientado, O espaco ainda esta organizado de acordo com 05 lados do meu corpo. Ha regides & minha frente e as minhas costas, A minha direita e A minha esquerda, mas nao funcio- ham em relagio aos pontos de referéneia externos, e portanto so intiteis. As regides em frente e atris de repente parecem arbitrdrias, pois tanto faz.cu ir para frente ou para trés. Basta aparecer uma luzoscilante atrés de umas arvores distantes. Eu 1u0 perdido, no sentido que ainda nao sei onde estou na floresta, mas o espaco recobra dramaticamente sua estrutura. luz oscilante estabeleceu uma meta, Movendo-me para essa meta, para frente, para trés, a direita ¢ A esquerda readqui- rem seu significado: avanco para frente, alegro-me em deixar ata trés 0 espaco escuro e certifico-me de nio virar nem para a direita nem para a esquerda, 42 Corpo, Relagées Pessoais e Valores Espaciais oria das vezes, ndo esta pe Marea sua presenga nas ocasibes rituals que elevam a 1a do cotidiano e forgam-no a uma consciéncia dos valores da vida, ineluindo aquelas manifestadas no espago. As culturas diferem bastante na elaboragao dos esquemas espaciais. Em algumas culturas, estes sfo rudimentares; em outras podem se tornar uma mol- dura magnifica que integra quase todos os aspectos da vida. Porém, apesar das grandes diferencas aparentes, os vocabu- licios da organizacio espacial e do valor tém certos termos em ‘comum. Estes termos comuns sio basicamente derivados da estrutura e valores do corpo humano. Em pé e deitado: estas posigdes pro dois mundos copostos. Gesell « Amatruda dizem que, quando um bebé de seis meses de idade se senta, “seus olhos se arregalam, 0 pulso fica mais forte, a respiragao se acclera ¢ ele sorri.” Para o bebé, a mudanga da posicdo supina horizontal para a perpen- dicular sentada jé é “mais do que um triunfo postural. Ea ampliagio de um horizonte e uma nova orientagao social." Este triunfo postural e a conseqiiente ampliacao do horizonte sfo repetidos diariamente durante toda a vida da pessoa, A cada dia desafiamos a gravidade e outras forcas naturais para criar e manter um mundo humano ordenado. A noite cedemos a estas forgas deixamos 0 mundo que haviamos criado, A posigto ereta 6 afirmativa, solene e altiva. A posigto deitado € submissa, significando a aceitagao de nossa condigao biol6- tgica. A pessoa assume sua total estatura humana quando esté em pé. A palavra "em pé” (stand) 6 0 radical para relacionadas que incluem “sta 1". Todas implicam realizagdo e ordem, “Alto” e ““baixo”, os dois pélos do eixo vertical, séo pala- vras que na maioria das linguas transcendeni o significado literal, Tudo que é superior ou excelente é elevado, associado “Bxcelso” € outra “alto”. A palavra brakman do sanscrito é ‘uma palavra lati palavra latina par: ae Corpo, Relacoes Pessoais e Valores Espaciais “altura”. “Degrau’ subimos ¢ descemos derivada de um termo que lugs ‘pequeno”, Deus mora no céu. Tanto o Antigo como no Noyo Testamento, Deus foi as veze fificado com o eéu, Edwyn Bevan escreveu: “A idéia que considera 0 céu como a morada do Ser Supremo, ou como id€ntico a ele, € tfo universal na humanidade como pode ser ‘qualquer crenga religiosa,""* Em arquitetura, os edificios importantes sao sobre plataformas, e, quando existe a tecnologia necesséria, tendem a ser os mais altos. Quanto aos monumentos, isto é talvez sempre verdadeiro: uma piramide ou coluna de triunfo alta impée maior estima do que uma baixa. Na arquitetura residencial aparecem muitas excegbes a esta regra. A razio é clara: as vantagens simbélicas dos andares mais altos de uma casa podem ser facilmente anuladas pelos problemas de ordem pratica. Antes da instalagdo de sistemas adequados de encanamento, a agua tinha que ser carregada para cima € 0s lixos tinham que ser trazidos com as mAos. Viver nos andares superiores era muito trabalhoso, Nao somente na antiga Roma, mas também na Paris do século XIX, 0 andar de pres- tigio era o que estava sobre as lojas que davam para a rua. Nos prédios ao longo dos Campos Eliseos, quanto mais altos eram: os cémodos, mais pobres eram seus ocupantes: empregados domésticos e artistas pobres ocupavam as mansardas, Nos altos edificios modernos, a desvantagem da distai vertical é superada com maquinéria sofisticada, resultando na reafir- magio do prestigio da altura, As localizagées residenciais tém a mesma hierarquia de valores. Assim como em uma casa as Areas de servigo esto escondidas no pordo, também em uma cidade a Area indus- trial ¢ comercial est&o perto da Agua; as casas particulares aumentam de prestigio com a elevagiios Os ricos e poderosos, nao somente possuem mais bens iméveis do que os menos privi- legiados, como também dominam n espago visual. O sta- tus deles se torna evidente aos estranhos pela localizagao supe- rior de suas residéncias; e de suas residéncias os ricos reafir- Sayan enryen Vers Voss crv ene tury ory OOO “ Corpo, Relacoes Pessoais Valores Espaciais mam sua posigo na vida a cada yez que olham pela janela ¢ © mundo aos seus pés. Mas ha excegies. Uma be ida 6 0 Rio de Janeiro, onde os altos e luxuosos ed buseam a convenigneia ¢ alrativos da praia, enquanto as favelas estao penduradas nas encostas dos morros. (O prestigio do centro esta bem determinado. As pessoas, em todos os lugares, tendem a considerar sua terra natal como © “lugar central”, ow 0 centro do mundo.* Entre alguns povos, hd também a crenga, sem evidéncia geogrifica, de que eles vivem no topo do mundo, ou de que seu lugar Sagrado esti: no cume da Terra (Fig. 3). As tribos ndmades da Mon- gélia, em épocas passadas, acreditavam habitarem 0 topo amplo de um morro, cujas encostas estavam ocupadas por outras ragas.” Uma erenga comum na literatura rabiniea & que a terra de Israel est mais alta do que qualquer outra terra acima do nivel do mar, e que a colina do Templo é 0 ponto mais alto de Israel.’ A tradigdo islamica ensina que 0 santuério mais sagrado, a Caaba, nao é apenas o centro € 0 umbigo do mundo, mas também o seu ponto mais posi¢Zo espacial da Caaba corresponde ao da estr mente, Quando o explicito simbolismo religioso do centro e d altura é fraco, a elevagio fisica da Terra mantém, contudo, ‘um certo prestigio. As nagdes modernas gostam de pensar que ‘um alto cume, mesmo que nto seja o mais alto do mundo, fica dentro de suas fronteiras. A falta de medigies acuradas per- mile deixar solta a imaginagao, insuflada pelo fervor patrié- tico. Mesmo no séeulo XVIII, os bri ‘diam considerar o Ben Nevis como uma das montanhas mais ele- vadas da Terra.” India, Nepal e China gostariam, sem d(- vida, que o monte Evereste Ihes pertencesse. ‘Além das polaridades vertical-horizontal ¢ alto-baixo, a forma c a postura do corpo humano definem o seu ambiente espacial como frente-atras e direita-esquerda. O espaco fron- tal & basicamente visual. E nitido ¢ muito maior do que 0 espaco posterior, que s6 podemos experienciar através de indi- cadores nao visuais. O espace frontal & “iluminado” porque 45 po, Relagoes Pessoais ¢ Valores Espaciais vice-versa: 0 exemplo da cidade al de Pequim. O comprimento da avenida meridional (exo cen= tral) deve ser ldo como fa China, ndo imporia qual é « sempre se vai para efma, para Pequim” (N. Reimpresso com permissio de Nelson I. Wu, Chinese and Indian Architecture. New York, George Brazille, 1963, fig. 136, "Plano de Pee ‘uim interpretado como volume”. pode ser visto; 0 espago posterior é “escuro”, mesmo quando 0 sol britha, simplesmente porque nao pode ser visto. A crenga de que os othos projetam raios luminosos remonta, pelo me- nos, até Platao (Timeu) ¢ persiste além da Idade Média. 46 Corpo, Relagdes Pessoais © Valores Espaciais Outro sentimento comum 6 que a préy mbra cai para trés do corpo, mesmo quando, de fato, muitas vezes ela se projeta para frente, Em um plano temporal, o espago frontal & percebido como futuro ¢ 0 espaco posterior como f is dele si0 yin, feminin ‘Toda pessoa esti no undo, © 0 esp: ircundante é diferenciado de acordo com 0 esquema de seu corpo. Quando ele se move e vira, também o fazem as regides frente-atr4s ¢ direita-esquerda ao seu redor. Mas 0 espaco objetivo também assume estes valores somiticos. Os quartos em um extremo da escala, ¢ as cidades no outro, f temente tém frente e atr: e fieadas, as hier culadas pela ar decoragio, Consideremos algumas das maneiras como sao diferen- ciadas, no mundo ocidental, as areas anteriores e posteriores, Os cémodos sio mobiliados assinetricamente: seu centro geo métrico nao € geralmente o ponte foe: laem um extremo do edmodo. Um an mente separado em frente e atras pela po dra e pela localizagdo das poltranas. A relagiio entre as 8. modos, mais do que a forma cono esté arranja dentro deles, pode estabelecer diferengas no espago inte: assim tem frente ¢ atrés, apesar da disposigdo simétrica dos méveis, janelas & te porque uma porta abre para a sal bi a Corpo, Relacoes Pessoais € Valores Espaciais estio claramente diferenciadas. As pessoas podem trabalhar rte dos fundos, e tran Jo prédio, enquanto os executivos € suas secretirias entram pela porta da frente, cruzam o amplo saguaoe os corredores bem iluminados até seus escri- t6rios elegantzmente mobiliados.” Uma tipica residéneia da rativa para impressionar € \do despretensioso para o uso de Ss, como os entregadores ¢ criangas. des regides anteriores e posteriores? Na ci , frente © atrés eram bem diferen- ciados: nao havia possibilidade de confundir frente e sul, com sua ampla avenida cerimonial, com atrés ¢ norte, que era reservado (pelo menos no planejamento te6rico) para 0 uso comercial pro‘ano."" No Oriente Préximo e na Europa, as ‘as expressas no plano urbano eram menos sistemé- ticas. No entanto, as antigas cidades muralhadas ostentavam para procissbes que eram usadas em ocasides reais e infais; estas vias provavelmente tinham entradas impo- antes, No fim da Idade Média e durante o Renascimento, os centros urbanos de importancia politica e eclesidstica cons- truiram portais suntuosos nas murathas que nio mais eum- iam ume finalidade militar. A monumentalidade do portao simbolizava 0 poder do governante. Também funcionava como um ideograma para toda a cidade, apresentando uma fe pretendia impressionar os visitantes e os poten- 's estrangeiros, Na modema cidade econémica nao foi planejada uma parte anterior e uma posterior; no ostenta uma via para as ProcissOes ou porto cerimonial, e seus limites freqiiente- mente sdo arbitrérios, marcados por um insignificante letreiro i do, como nos Estados Unidos, o nome e a populagao do distrito. Porém o sentido de “frente” e “atras" nao est de fo ausente. A amplidao ¢ a aparéncia das aul (projetadas e mareadas com cartazes gigantescos) indieam ao Ci ee SOS SS SES ESSE SEU ESESSESEEE 8 Corpo, Relacoes Pessoais ¢ Valores Espaci Se a cidade moderna nos da a impressto de ter frente atrés, esta impress: regido ou pais. St. Louis é o portal preeminente para o Oeste. A cidade ergueu um arco alteroso para ressaltar 0 seu papel como a entrada para as Grandes is além. A. maioria das pessoas sidera as_costas nordeste como a frente da nagio. A da nagao é percebida como comegando ai. Em esp ‘York passou a significar 0 portdo da frente, Entre s cognomes da cidade, um ¢ 0 Escrit6rio Principal dos Negocios Americanos. Porém, mais importante do que o taman| poder dos negécios, New York deve sua imagem de port entrada para o fato de que através dele entraram tanto: grantes na terra da promissio, As pessoas nao confundem de brug pé, nem frente com corpo, assim ct ma animais que ta ¢ esquerda jeiro nos levan- depois avangamos. O andar para frente 6 periodica- terrompido para virar para a direila ou esquerda, ha que estou descendo uma rua e apés um tempo para a direita. Um observador pode agora dizer que est indo para a direita. Mas, em absoluto, tenho a sensag&o de que a minha direg4o é para a direita, Eu fiz uma virada para a se locomovem, frente e atras so bisicos e so secundarios. Para conseguir andar, pri tamos ro que fica sempre frente, Os lados direito ¢ esquerdo do corpo humano so bem or exemplo, um cacho de cabelo na cabeca vira para © coragao esti ligeiramente deslocado para 0 lado 9 "Corpo, Relagoes Pessoais € Valores Espaciais pequeno desea Estas pequenas assimetrias biolégicas nao parecem suficientes para explicar as nitidas diferencas de valor atribuidas aos dois lados do corpo © acs espacos social e cosmolégico, que se derivam do corpo. Em quase todas as culturas, sobre as qu: magio disponivel, o Ladi ior a0 esquerdo. A evi 6 também bem documentado para a India ¢ No fundo, a direita € percebida como signi- ‘ando poder sagrado, o principio de toda atividade efetiva, k ido que € bom ¢ legitimo. A esquerda é a sua © profario, o impuro, o ambivalente ¢ 0 co.e deve ser temido, No espago s sta mao direita levantada apontando para a regiao luminosa do Céu, e sua mao esquerda apontando para baixo, para a escuridao do Inferno. Um: agouro” e verbo derivado, sa'ma, significa “‘trazer m Ao contririo, o sul e 0 lado direito do lar de béngaos. O sul é a terra florescente 50 Corpo, Relagdes Pessoais e Valores Espaciais como a orientagio fundamental. O norte, portanto, esta a esquerda e 6 considerado escuro; 0 sul para a direita é a Para os Timne, trovao e relémpago so preparados no nort 40 passo que as “boas brisas” vim do sul.” A visto chinesa tem um interesse especial porque parece ser uma excegao importante 2 regra. Como a maioria dos povos, os chineses sdo destros, mas para eles 0 lado honordvel € 0 esquerdo. Na grande classificagio bipartida yin © yang, 0 lado esquerdo é yang e pertence ao homem, 0 lado direito é vin e pertence & mulher. A razio principal para isso € que © espago social ¢ cosmolégico chinés esta centrado no gover- nante que serve de mediador entre 0 céu e a terra, O gover- nante olha para o sul e para 0 sol. Portanto, no sew lado esquerdo esto leste, 0 lugar em que 0 sol nasce e do homem (Yang); no seu lado direito esta o oeste, 0 lugar em que o sol se poe e da mulher (yin).” © homem é a medida. Em sentido literal, 0 corpo hu- mano é a medida de diregio, localizagio ¢ distin Antigo, a palavra para “rosto” é a mesma para palavra “nuca’ estit associada eo da Africa e dos Mares do Sul extraem suas prep ciais diretame tas” para “tr para “acima”, € “dentro”. Na lingua Ewe, da Africa ocidental, a palavra para ‘“cabega” tanto significa ‘pico” como as denominagdes espaciais gerais de “em cima” e“acima”.” O costume de usar substantivos como preposi es para expressar relagdes espaciais pode extrapolaro pode ser designade por “chao” ou “terra”, e “em cima” por “ar".™ ‘As preposigdes espaciais sto necessariamente aniropo- céntricas, quer sejam substan‘ivos derivados de partes do corpo humano ou nao. Como afirma Merleau-Ponty: “Quando digo que um objeto esté sobre a mesa, sempre me coloco, mentalmente, quer na mesa, quer no objeto, e Ihes atribuo uma categoria que teoricamente ajusta a relagao de meu corpo 0s objetos externos. Sem esta associagdo antropolégica, a pa- SI Corpo, Relacées Pessoais e Valores Espaciais lavra sobre € indistinguivel da palavra sob ou da palayra ao. Jado."* Ondz esta o livro? Esta sobre a escrivaninha. A res- posta é apropriada porque de imediato nos ajuda a localizar © ivro dirigindo nossa aten¢do para a grande escrivaninha. & imaginar uma circunstancia na vida real na quai seja apropriada a resposta “a escrivaninha esti sob o livro”. Di- zemos que um objeto esta sobre, em, acima ou sob outro objeto como resposta a preocupagies préticas e urgentes. Entretanto, frases de localizagdes, normalmente, exprimem muito mais do que simples fatos locacionais. “Deixei minhas chaves dentro do carro" diz onde as chaves esto, mas é tam- bém uma expresso de angistia. “Estou em meu escritéri pode , dependendo do context ‘ndo me incomode”. Somer estas sdo estritamente I sobre a escrivaninha” e ‘a escrivaninha esta sob o livro” so partes equivalentes e permutiveis na conversa ‘As medidas populares de comprimento si derivadas de partes do corpo. S40 muito usadas a largura e o comprimento dos dedos ou do polegar; a distancia, quer do p ponta do dede mi i do dedo médic até o cotovelo (cévado), ou a distincia entre as pontas dos dedos, com os bragos estendidos e'as méos abertas (braca). Objetos, de uso corrente, feitos pelo homem, servem como medidas fixas de comprimento, por exemplo, a vara usada para espicacar os bois, a langa e pedacos comuns de corda ou corrente. As estimativas de distdncias maiores se baseiam na experiéncia e na idéia de esforco. Assim, a jarda 6 uma passada larga, a milha so mil passos ¢ 0 furlong, equi- valente a um citavo de milha (sulco longo), é a extensio que a junta de boi pode comodamente arar. O arremesso da lanca ou 0 alcance da flecha sto unidades aproximadas de dis- tincia, e mesmo no mundo moderno falamos de “até 0 al- cance de uma pedra atirada", e “até a distancia de um grito”. As medidas de capacidade “incluem a concha da mio, 0 pu- nhado ou a bregada, a carga de um homem, animal, vagio ou navio; 0 conteiddo de um ovo, cuia, ou qualquer outro objeto natural; ou de alguns objetos fabricados, de uso comum, Corpo, Relagées Pes: e Valores Espaciais como uma cesta."*" As medidas de rea sio expressas em unidades como um couro de boi, uma esteira ou capa; 0 campo que uma parelha de bois pode arar em um dia; ¢ @ terra que podia ser semeada com uma determinada quantia de sementes.™ Q corpo humano e suas subdivisdes parecem nao fornecer -a, como o fazem as unidades comuns para estimativas de 4 para a estimativa de comprimento ¢ volume ou capacidade. Area é provavelmente um conceito mais abstrato do que com primento e volume. Mesmo nas sociedades mais simples, as pessoas precisam calcular comprimento e distancia, igualmente basica. O proprio corpo human receptaculo, Sabemos 0 que é sentir-se “‘cheio” ou "'vazio”. Expetionclamos dretamente a quintidede do allmento ou gua na concha de nos: em nossa boca. Os adje~ principalmente a volume e secundariamente a rea. A palavra “grande” deriva do latim “bochecha inflada"". Apesar de que também de preocupagio. Os seres humanos estio sados em outras pessoas © nos objetos importantes em suas vidas. Querem saber se as pessoas que Ihes sko importantes estio Longe ou perto deles e umas das outras. Quando um objeto importante & designado por uma palavra ou deserito were algumas qual do objeto: ma langa partida”, homem doente”. Quando usamos estas expressdes, estito im izaHo e distancia, embora nao sejam dadas expli- ‘Um cachorro feroz” & um cachorro para protegao, ou amarrado ‘a que estou fora de seu alcanca, € a lanca ao alcance da mao, porém par- © por isso-initil. Em melanésio ¢ em certas linguas dos nericanos, localizagao e distancia em relagao a lugar citamente, bem perto de 53 Corpo, Relacées Pessoais e Valores Espaciais tos. Codrington observou tanto entre os melanésios como entre 0s polinésios © habito de introduzir constantemente diregao cor “Tudo que diz (0 a coisas e pessoas ¢ visto como vindo ou indo, ou rela- jado com lugar, em uma maneira que nao é natural para o curopeu, a que ele nao esti acostumado.”” Sobre kwakiutl, uma lingua indigena da costa do Pacifico, Boas escreveu: “A exatidio com a qual a localizagio & expressa tanto nos substantivos como nos verbos, em relagao a quem fala, é uma das caracteristicas fundamentais da lingua.”® Diversas lin- suas dos indios americanos apenas podem expressar um pen. samento como “o homem esti doente” dizendo ao mesmo tempo se 0 sujeito da oraco esti a uma distincia maior ou menor de quem fala ou de quem escuta e se 0 sujeito ¢ visivel ou invisivel para eles." Distancia é distancia da propria pessoa (Fig. 4). Em mui- tas linguas, os demonstrativos espaciais e os pronomes pes- soais esto intimamente relacionados, de maneira que ¢ diffcil dizer que classe de palavras vem antes ou depois, ou quais so primitivas ou derivadas. As palavras nas duas classes so atos de indicagdes semimiméticos, ser fi pessoais e demonstra mamente inter-relacionados.” Eu estou sempre aqui, €0 que esté aqui eu denomino este. Ao contrério do aqui onde eu estou, voce esti Id e ele est acoldé. O que esté 1a ou acold eu denomino aquele, © “aquele” aqui desempenham a funcio de tripla diferenea no alemdo dies, das e jenes. Em Hinguas nao-curopéias, uma gama sutil de variagao de prono- mes demonstrativos pode ser usada para indicar distincias relativas a partir do eu. Assim em tlingit, uma Kingua indigena americana, ke indica um objeto que esta muito perto e sempre presente; ya indica um objeto muito perto e presente, mas um idica algo (ao remoto que pode ser usado como um artigo impesso indica uma coisa extre- mamente remota e geraimente Os Chukehi do tém até nove termos para expressar a osigao de um objeto em relagaio a quem fala.* B. O mundo de Hecateu (520 antes de Casto) 1B, Human Geography, v.13, 1957, p54 ® i y > 56 Corpo, Relagdes Pessoais e Valores Espaciais Em inglés, os demonstrativos “este” e “aquele” sio ape~ has um par e, portanto, carecem de amplitude locacion: ir uma grande carga emocional. A diivida t6picos de conversacao remotos ¢ triviais.” Em Ricardo II, Shakespeare consegue evocar um sentimento de fervor patriético, em parte através do uso insistente de “este”, que é identificado com “nds os Jeses"'. “Esta afortunada estirpe de homens, este pequeno mundo, sta pera preciosa, |)" ‘Uma diferenga que todos fazem é entre “nds” ¢ “eles” Nos estamos aqui; nés somos esta afortunada estirpe de homens. Eles estio 14; eles nZo so completamente humanos ¢ vivem naquele lugar. Os membros do grupo-nds sio amigos chegados entre si, esto distanciados dos membros do outro vemos como 0s significados de “chegados” ‘uma combinagao de graus de intimidade interpessoal e distancia geografica. Nao seria possivel decidir qual sentido € 0 pri nigos chegados” quer \de, nos vernos vezes e vivemos no mesmo bairro. Ser chegado com- dois significados de intimidade ¢ proximidade geogré- fica. A medida que o amigo se muda cada yez mais para longe geograficamente, também declina o calor emocional: “longe dos olhos, longe do coragio”. E claro, ha intimeras excegbes. {A distancia social pode ser o inyerso da distincia geogrifica. © criado vive perto do patric, mas ambos nao sto amigos chegados. Psicologicamente, a auséncia (distincia espacial) pode aumentar 0 afeto, Tais excegdes nao invalidam a regra. ‘Temos apontado que cerlas divisdes € valores espaciais devem sua existéncia e significado ao corpo lrumano, e tam- bém que a distncia — um termo espacial — esté intim: mente ligada a termos que expressam relagdes interpessoai Este tema pode facilmente ser ampliado, Poderiamos pergun- lar, por exemplo, como 0 espago ¢ a experiéncia de espacio- sidade esto relacionados com 0 sentido humano de compe- téncia e liberdade, Se o espago é um simbolo de amplidio ¢ 57 Corpo, Relagdes Pessoais z € Valores Espaciais liberdade, como se afetaré com a presenga de outras pessoas? Qué experiéncias concretas nos permitem atribuir cignificados vrentes ao espago € a espaciosidade, a densidade de popu- laco ¢ apinhamento? 5 Espaciosidade e Apinhamento spago e espaciosidade si termos intimamente relacio- forma em outro depende de condigées diffceis de generalizar. Para compreender como estio relacionados espago e némero de pessoas, espaciosidade e api precisamos explo- rar seus significados em condigtes especificas.* Consideremos 0 espago. Enquanto unidade geométrica (4rea ou volume), 6 uma quantidade mensurvel € precisa, Falando mais informalmente, espago significa lugar (room) a palavra alema para espaco é Raum. Hé lugar para outi engradado de méveis no depésito? Ha lugar para outra casa ha propriedade? A faculdade tem lugar para mais estudantes? Apesar de terem estas quest6es uma forma gramatical seme- ante ¢ todas usarem a palavra “lugar” adequadamente, lugar” é diferente em cada caso. A primeira questo indaga se mais objetos podem ser colocados e a res- posta requer uma medicao simples ¢ objetiva. A segunda e a terceira questdes mostram que lugar pode significar mais do 58 ue espaco “sico: sugere espaciosidade. A questo nio é se a casa pode caber fisicamente na propriedade, é suficientemente espagoso. Eu 4 intimamente associada com a sensa- ivre. Liberdade implica espaco; significa ter poder e especo suficientes em que atuar. Estar livre tem di- | versos niveis de significado. O fundamental é a capacidade | Para transceader a condigao presente, ¢ a forma mais em que esta transcendénci é espaco abs o ‘imento — com a experiéncia direta do espaco através do movimento, Um bebé nao é livre, assi acamados. Eles como os prisioneiros ¢ os rderam a capacidade de ios confinados. Uma pes- iculdade crescente. O espago parece Para uma fe para subir e descer; € uma barreira entre dois andares, um aviso para nao sair do lugar. Os fisicamente fortes — eriancas ¢ atletas — desfrutam de uma sensacdo de amplidao espacial Pouco conhecida dos que trabalham em eserit ivas de proeza Weja, Eric Nest \do encan’ 1. Recorda como em uma tarde uum enorme manto de gelo na ia, clara-e agradavel, ele Cterececn 60. ~Espaciosidade e Apinhamento neu casa |. Nao havia nas ampliam a sensacdo de espago . O espaco que € mensuravel pelo ‘aleance dos bragos estendidos torna-se um mundo pequeno ‘quando comparado com aquele que é medido pela distancia do arremesso da langa ou o tiro de uma flecha. O corpo pode sentir ambas as medidas. Tamanho & 0 que a pessoa sente quando estende seus bragos; é a experiéneia do cacador , sente-a sair de sua mao € a vé desaparecer a . Um instrumento ov maquina au- menta 0 mundo da pessoa quando ela sente que é uma exten- sio direta de seus poderes corporais. Uma bicicteta amplia a sensagao de espaco do homem, assim como um carro esporte. Stio maquinas comandada: mem, Um earro esporte responde ao menor desejo de yelocidade, vento € movimento, Acelerando on fazendo uma curva, momento e gravidade — estes te fridos tirados de um texto de dades sentidas do movimento. Pequenos aeroplanos do tipo usado na década dos vinte so capazes de aumentar a liber- dade do homem, seu espago, como também de colocé-lo em. {intima com a yastidao da natureza. O eseri- que & primeira vista parece um meio de isolar o homem dos ‘profundamente neles. joo, a aurora ¢ 0 crepisculo tor iroblemas essenciais sto mar- tempestuoso, 0 pilote defende sua corresp de igualdade com aque t#s divindades elementat -agador paleolitico deixa a sua acha ¢ pega 0 um passo na conguista do espaco, Quando 0 arco ea flec! 61 Espaciosidade e Apinhamento contudo o espago se expande diante dele: as coisas que antes estavam além do seu alcance fisico e horizonte mental agora fazem parte do seu mundo, Imagine um homem de nosso tempo que aprende primeiro a andar de bicicleta, depois guiar um carro esporte e finalmente a pilotar um pequeno acroplano, Ele obtém progressos sucessivos de velocidade; espaco coritinua a abri uma experiéncia pi ficar a sua diminuic: homem, faz com que ‘A velocidade que dé liberdade ao perea a sensac&o de espaciosidade. ito de passageiros, Ele cruza o conti nente em poucas horas; no entant iéncia dos passa- geiros com a vel nitida do que a de um motociclista que desce ruidosamente uma auto-estrada, Os passageiros no tém controle sobre a méquina e nfo podem senti-la como uma extensio de seus poderes corporais. Os passageiros sto pacotes luxuosos — suranga em seus assentos — transportados passivamente de um lugar para o outro. cespaco aberto nfo tem cami Nao tem padrdes estabeleci _folha em branco na qual se pode impris Seado. O espago fechado e humanizado é lugar. C gom o espa, o lugar € um centro calmo de valores estabe- lecidos. Os seres humanos necessitam de espago ¢ de lugar. As vidas humanas so um movi ico entre refiigio © ura, dependéncia e liberdade. No espaco aberto, uma restrigdo e liberdade, a limitacdo do lugar ea a Espaciosidade e Apii ‘ustr6fobo vé os lugares pequenos € apertados como algo opressivo, no como espagos limitados ‘onde é possivel a meditagao ou a camaradagem fraterna. Um agoréfobo teme espagos abertos, que para ele ndo se apre- is de ago nem de engrand wenciar o sentido de tamanho e espaciosidade. Na pequena ilha melanésica de Ti- Kopia, que tem apenas cinco quilémetros de comprimento, 5 ihéus nao conseguem coneeber o tamanho de uma grande extensio de terra. Duvidam que exista uma terra na qual nto ‘a escutar 0 barulho das ondas do mar’ A China, no extremo, estende-se por um continente. Seu povo apren- ‘a contemplar grandes distincias e a pensar nelas com medo, porque podem significar a separacdo de amigos € namorados. A antiga literatura chinesa usava a expresso, mil Li para evocar um sentido de grande distancia. Durante a dinasti -se moda os ‘dex Com 0 aus syoear um sentido de Mincia e separaco. Os versos seguintes de um poema es- durante o perfodo Han ilustram o sentimento.e 0 método empregado para destacé-t A tilha que percorro élonga edoloross; {quem sabe quando nos veremos outra ver? Greavalo Hu inclina-se com 0 vento nore; ‘opassarinho Yueh faz seu ninho nos ramos voltados para o sul; ‘cada vee mais auments nossa separagit.. Li € uma medida chinese de distincia, correspondendo a mais 10s 580 m(N. da.) 63 Espaciosidade e Apinhamento. Hu designa area ao norte da China que se estende da Cor até o Tibete; Yueh €0 termo para a area ao redor da for do ri ‘Azul. Portanto, uma hipérbole abstrata de distancia, dez, mi li, 6 corporificada com a imagem de duas regives especi ‘com suas ecologias contrastantes. ‘A sensaglio de espaciosidade ¢ identificdvel com ti sates? Um cenirio & espagoso se novermo-nos livremente. Um quarto amontoado io & espagoso, 20 coniriirio de um saguao vazio ou ; Se houver criangas soltas nesies lu- formular regias que o sentimento de Por exemplo, uméi casa é um mundo compacto € a ‘em comparagao com 0 vale 14 fora, De dentro da casa 0 vale parece amplc e indefinido, mas 0 proprio vale é uma depres» so bem definida se comparado com a planicie na qual cle se abre. O segundo fator é que a cultura e a experiéncia tm uma nde influncia na interpretagio do meio ambien| ricanos passaram a aceitar as pradarias abertas do Oeste idade e liberdade, mas ‘para os camponeses russos 0 espago sem fror significado opasto. Conotava antes desespero ia do que encorajava a acho. Falava da insig- venga da propria alma. Em [ia] AUG onde os olhos 10 meio dela est um we ree ee ere eee EE HEH HEE on Expaciosidade e Apinhamento © problema de como.o meio ambiente ¢ 0 sentimento estio relacionados traz A mente a seguinte questo: pode-se associar uma sensagio de espaciosidade com a floresta? De um ponto de vista, a floresta é um ambiente fechado, a anti- teso de espago aberto. Nao existem vistas a panoramicas. fazendeiro tem que derrubar Arvores para criar espago para a sede da fazenda e para os campos de cultivo. No entanto, uma vez estabelecida, a fazenda se transforma em um mundo orde- nado ¢ com significado — um lugar —, e além dela esti a floresta e 0 espago A floresta, nlo menos que a planicie desnuda, é uma regio virgem chia de possibilidades, As 4rvores, que de um ponto de vista fecham 0 espago, de outro sdo meios pelos quais se cria uma consciéneia peculiar de espago, porque as arvores esto alinhadas até onde a vista alcanga, e elas levam a mente a extrapolar até o infinito, A planicie aberta, nao importa quao grande seja, termina no horizonte. A floresta, embora possa ser menor, parece ilimi- tada para quem esta perdido dentro dela. Para que as montanhas florestadas ou as planfcies com pastagens sirvam como imagem de espaciosidade depende, em parte, da natureza da experiéncia historica das pessoas, No periodo da grande expansao européia do século XIX, 05 migrantes geralmente mudavam-se das florestas para as pas- tagens. A principio a pradaria norte-americana provocava {G05 reticulados do Leste habitado e arborizado. Mais tarde os americanos interpretaram a pradaria de maneira mais posi- tiva: a Costa Leste tinha lugares bem ordenados, mas 0 oeste wa espaco e liberdade. Ao contrario da experiéncia americana, na China os antigos centros de populagao estavam localizados no territ6rio relativamente aberto do norte semi-timido e semi-drido. O movimento da populagio deu-se para o sul montanhoso e florestado, Poderiam os chineses ter associado 0 sul florestado com uma sensagio de espaciosi- dade? Pelo menos alguns deles o fize:am. A poesia do perfodo Han, por exemplo, descreve a natureza selvagem do sul com admiracio; 14, os funciondrios vindss do norte enc \do imenso ¢ aparentemente primitivo de montanhas ¢ 65 Espaciosidade e Apinhamento Jagos envoltos em neblina, Foi no sul da China que a poesia naturalista e a pintura de paisagem aleangaram seu maior desenvolvimento: ambas as artes contrastaram o espago natu- ral, um mundo de luz cambiante € de sucessivos cumes de montanhas desaparecendo no infinito, com o mundo formal ¢ fechado do homem.? (__ Occspaco é, sem diivida, mais do que um ponto de vista ) ou um sentimento complexo e fugaz. E uma condigao para a sobrevivéncia biolégica, Mas a questo de quanto espaco um ) homem necesstn para viverconfortavelmente nfo tems uma { Fesposta simples. O espaco como recurso 6 uma apreciagao \ cultural. No Oriente, uma familia de fazendeiros pode viver feliz em poucos hectares intensamente trabalhados: em 1862, nos Estados Unidos, um quarto de segdo*, ou 160 acres (65 hectares), era considerado o tamanho adequado para uma pequena propriedade rural. O iifyel de aspiracao, sem divida, afeta o que cada um considera como espaco adequado. A aspiragdo ¢ condicionada culturalmente. A China tradicional, por exemplo, tinha muitos pequenos proprietérios, que se contentavam em viver das rendas das propriedades e desfrutar da ociosidade em vex de trabalhar e investir os lueros para aumentar suas propriedades. Nas sociedades ocidentais capi- talistas, aspiragio ¢ espirito empresarial t€m sido e continuam sendo muito mais fortes. Para 0 verdadeiro empresatio, os bens que possui, raramente parecem suficientes. O espaco sulieiente para os negécios atuais pode parecer-Ihe insti iente. Os apetites biolégicos logo atingem seu limite natu as 0 anseio ultrabjolégico — que rapidamente assume & forma deturpada da cobiga — 6 potenci homem?" — titulo de uma eloqiente fabula em que di resposta. Apesar de a questo de Tolst6i parecer uma coisa simples, sua resposta ¢ as de outros escondem comumente profundos compromissos politicos e mors (2) Uma sos cquivalenteaumam ima subdivisto de terras pablicas, nos EUA, de fren 66 Espaciosidade e Api mento © espago € um recurso que produz riqueza quando adequadamente explorado. E mundialmet Bolo de prestigio. O “homem importante” ocupa ¢ tem acesse s espaco do que os menos importantes. Um ego agressive cessantemente mais espayo para se movimentar. A isaciavel — particularmente o poder sobre o dinheiro ou ter to que os cresciment ceiro ¢ territorial sto ples idéias adi que demandam pequeno esforgo imaginativo para serem con- Gebidas e extrapoladas. O ego coletivo de uma naclo tem Feivindicado mais espago vital &s expensas dos vizinhos mi na conquista territérios, pode ser que nao veja nenhum portante para no chegar quase a d\ para a nagio agressiva como para o individu contentamento que acompanha a sensagao de espac uma miragem que desaparece A medida que se adquire m ‘que vem tendo No Antigo Testa~ ‘am em um con- texto tamanho fisico e, em outres, s psicologicas irituais. Como uma medida ‘isica, espaciosidade é “uma custas dos vizinhes, porém Deus poderia var sua aventura, “Porque expulsarei as nagdes diante de b alargarei twas fronteiras, e ringuém cobicaré tua terra’ (Exodo, 34, 24). Psicologicamente, espago na tradigdo he- braica .a escapar do perigo e livrar-se das restrigdes. A. var “para um espago amplo". “Tirou-me € colo~ ‘cou-me em um espaco amplo; livrou-me porque me tem amor” (Salmo, 18, 19). No Salmo 119, a linguagem de espaciosidade aument 67 Espaciosidade e Apinhamento 6 aplicada ao engrandecimento intelectual ¢ liberdade es ritual do homem que conhece a Tora. “‘Correrei pelo caminhe dos vossos mandamentos, porque sois v6s que engrandeceis al, espaco sem considerar a preser uma condigdo para adquirir a sensagio de imensidade. A s6s, ‘nossos pensamentos vagam livremente no espago. Na presenca de outros, os pensamentos recuam devido ao fato de que foutras pessoas projetam seus proprios mundos na mesma rea, O medo do espaco muitas vezes vai junto com 0 medo da solidao. A companhia de seres humanos — mesmo de uma Gnica pessoa — produz uma diminuigao do espaco e ameaga a liberdade. Por outro lado, 4 medida que as pessoas penetram no espaco, para cada uma chega um ponto em que a sensago de espaciosidade passa ao seu oposto — apinhamento. © que 6 apinhamento? Podemos dizer que uma floresta esta api- nhada de rvores e um quarto esta apinhado de bugigangas. Mas so basicamente as pessoas que nos apinham; elas, mais do que as coisas, podem restringir nossa liberdade e nos; de espaco. ‘Um exemplo exagerado de como 0s outros podem afetar homem timido estu~ \ém entra para olhar. dando piano no canto de um salio. Imediatamente 0 pianista sente restrigao espacial. Mesmo ‘uma s6 pessoa a mais pode parecer uma multidio. Sob o olhar de outrem, o pianista deixa de ser 0 tini dominando 0 espaco, ¢ passa a ser um objeto entre muitos do quarto. Ele sente que perde o poder para organizar as coisas no espaco de ‘uma dinica perspectiva, que é a sua. Objetos inanimados rara- mente produzem este efeito, embora um homem possa com doente em um quarto cheio de retratos de seus ancestrais. Até uma peca do mobilidrio pareceria uma presenga intrusa. No entanto, as coisas tém este poder apenas a medida em que as pessoas dotam-nas com caracteristicas ‘animadas ou humanas, Os seres humanos possuem natural- mente este poder. Porém a sociedade pode priva-los disto. Os Wo 68 Espaciosidade ¢ Apinhamento seres humanos podem ser tratados como objetos, de maneira {que nao sejam mais do que estantes de livros, Um hi 6 cereado de criados, porém eles nio 0 apin baixo status se tornam invisiveis — parte do madeiramento da © apinhamento é uma condigaio conhecida de todos, num. ou noutro momento. As pessoas vivem em sociedade, Quer seja um esquimé ou um nova-iorquino, aparecerdo ocasides em que a pessoa ter que trabalhar ou viver junto com outras pessoas. Quanto ao nova-iorquino isto é Sbvio, mas mesmo os esquimés nem sempre se movem no espago aberto da tundra; durante as indimeras noites longas e escuras, eles t@m que suportar as companhias uns dos outros nas cabanas mal venti- Iadas. O esquimé, ainda que nao tao freaientemente quanto ‘0 nova-iorguino, deve as vezes filtrar 0 estimulo de outras pessoas transformando-as em sombras ¢ objetos. A etiqueta o a rusticidade so diferentes meios para se atingir 0 mesmo fim: ajudar as pessoas a evitarem 0 contato quando tal contato ameaga ser intenso demaii Uma sensacio de apinhamento pode aparecer sob des altamente variadas e em diferentes escalas. Como j4 a: nalamos, duas pessoas em um cOmodo podem constituir uma multidio. O pianista pra de tocar ¢ sai. Consideremos 0 fendmeno em grande escala do apinhamento € da migragio. No século XIX, muitos europeus abandonaram suas pequenas propriedades rurais, moradias apinhadas ¢ cidades polufdas, pelas terras virgens do Novo Mundo, Interpretamos correta- mente a migracio quando dizemos que foi motivada pelo desejo de procurar oportunidades em um meio ambiente mais livre e mais espacoso. Outro grande fluxo de pessoas, tanto na Europa como na América do Norte, foi do campo e dos po- voados para as grandes cidades. Tendemos a esquecer que a migragao rural-urbana, como os antigos movimentos através do oceano e para 0 Novo Mundo, poderia também ser moti- yada pelo impulso de escapar do apinhamento. Por que gente do campo, especialmente o jovem, troca suas pequenas vilas pelos centros metropolitanos? Uma razio é que a vila carece de espago. O jovem a considerava apinhada em um 09 iidade e Apinhamento Espact sentido econdmico porque nao oferecia empregos suficientes, © em um sentido psicologico porque Ihe impunha m mundo dos isolados povoados rurais parecer estreito ¢ limi- tado. Os jovens o abandonavam por empregos, liberdude e — em sentido figurado — pelos espacos abertos da cidade. A cidade era o lugar onde 0s jovens acreditavam que por si s6s poderiam progredir e melhorar de vida. Paradoxalmente a cidade parecia menos “apinhada” e “‘cereada” do que a zona rural, onde as oportunidades vinham diminuindo. Apinhamento € saber-se observade. Numa cidade pe- quena, as pessoas se “espiam” mutuamente. “Espiar” tem tanto 0 bom sentido de preocupagio como o mau sentido de fatil — ¢ talvez, de malévola — curiosidade. As casas tém olhos. Quando sio construidas proximas umas das outras, ouvem-se os rufdos dos vizinhos € as suas preocupagies. Quando sto construidas distantes umas das outras, a privaci- dade 6 melhor preservada — mas nao garant vidade humana. Na ilha Shetland, longe do litoral da Esc 0s chalés so bem espagados. Todavia a intromissto visual persiste. Segundo 0 socidlogo Ervin Goffman, os habitantes foram marinheiros usam.telescépios de boiso para obser- var as atividades de seus vizinhos. Apesar da distancia, um morador da ilha pode, de sua propria casa, ficar observando quem visita quem." Arvores e matacdes podem sér densos em uma érea sel- vagem, mas os amantes da natureza nio a véem como api- hada. As estrelas podeth salpicar 0 céu noturno; este eu no € visto como opressivo. Para os habitantes sofisticados da cidade, a natureza, qualquer que seja seu cariter, significa abertura ¢ liberdade. Os homens; se esto empenhados em ganhar sua subsisténcia da natureza, unem-se 20 cendrio na- tural € ndo rompem sua solidao. No Oriente, nas regibes do arroz, densamente povoadas, 0s agricultores, trabalhando ritmadamente, so quase invisiveis para os observadores de fora, simplesmente parecem pertencer A terra. Java 6 api- tnhada? Sua densidade demogréfica média de quatrocentos tantes por quildmetro quadrado a torna uma das regides mundo. Porém, eis aqui a resposta ambi- . Ao mesmo Holanda — 0 pal iculamente pequena” ¢ “opres~ Quer a natureza, mantenha ou nfo seu ar de s: pouca relagdo tem com 0 nimero de pessoas due vi frabatham nela. A solidéo 6 quebrada nfo tanto pelo néimero de organismos (humanos € nao humanos) na natureza, mas pela sensagdo de trabalho — incluindo o trabalho da mente — ede objetivos diferentes, reais e imagindrios. Mary McCarthy jer-se se “uno” com a natureza jé constitui .dores arrastando uma rede para a ‘poetas meditando, um ao lado do Butro, na mesma praia seria ridiculo — wm s6 jé € demais.” "As pessoas sio seres sociais. Gostamos da companhia de J nossos semethantes. Como toleramos ou apreciamos a proxi- ‘dade fisica de outras pessoas, por quanto tempo e em que a sensivelmente de uma cultura para outra. Os ‘gdng, da bacia Amaznica, gostam de dormir em grupos abragados uns com os outros. Gostam de se tocar ¢ Seariciar mutuamente; procuram a intimidade fisica (nfo se- Sual) para conforto e trangQilidade!* Em outra parte do mundo esparsamente povoada, deserto do Calaari, 0s bos- ‘quimanos Kung vivem em condicbes de apinhamento, Patric Gia Draper observou que, em um acampamento bosquimano, © espago médio que cada pessoa tem é de apenas 17 metros quadrados, muito menos que os 32 metros quadrades por Bessoa considerados como um padrio recomendivel pela “Associagao Norte-americana de Saiide Pabl pamento bosquimano, 0 espaco € organizado para ficimo de contato. “As cabanas tipicas esto to as pessoas sentadas em na iidade e Apinhamento sem se levantar, Freqilentemente a pessoas sentadas ao redor cussdes sem levantar 0 tom de conversagio."" Nao classe operdria toleram uma densidade reside ais alta do que as familias da classe média. Ba razio ni mplesmente porque os trabalhadores tém pouca escolha. Gostam da proximidade dos outros. As mansbes suburbanas, assentadas em lotes de 2 mil metros quadrados de gramado, cessariamente invejadas pelas familias dos operd- do velho bairro. Essas da classe média; pa~ rece-lhe frio e desabrigado, A proximidade humana, o contato hhumano e um amibiente de ruidos humanos quase constantes: sio tolerados e até bem Em um novo projeto habita~ no Chile, por exemplo, os moradores da classe operairia mudaram uns méveis da sala para o corredor, para poderem ficar juntos, como estavam acostumados. Ao passo que na jlaterra um estudo de fat fadas para um conjunt mente espacoso, mostro miudanga: ficaram menos tensas porque era mais fa \de. Por outro lado, pelo menos durante ‘mpo, os quartos foram, desnecessariamente, compartilha- © por opeo 0s trabalhos caseiros ¢ as tarefas conti- em grupo." pode ser divertida. Jovens e velhos de sociais. saber fere do s multiddes de Blackpool ¢ Southend. A multidao & ‘ar, Jonge de ser incdmoda, 6 uma grande atracao. Que de uma feira estadual, de uma quermesse 2 Espaciosidade e Apinhamento de caridade, de uma festa religiosa ou de uma partida de futebol sem as multiddes? (Os jovens norte-americanos de familias abastadas fre- qlientemente sio grandes adeptes da natureza ¢ da experién- cia com 0 mundo selvagem. Ao mesmo tempo eles parecem gostar das multidées. As marchas de protesto contra a injus- tiga social e a guerra surgem de uma grande indignagio; porém os jovens protestadores, certamente também desfrutam da camaradagem, da sensacao de solidariedade de um grupo por uma causa justa e do simples prazer de juntar-se com pessoas que pensam como eles. (Os festivais de rock a0 ar livre captam a ambivaléncia cessencial do jovem. De um lado, esta o ambiente ao ar livre, fa liberagao feminina e a nudez; do outro, a imensa multidao “mais densamente amontoada do que qualquer rua de Manhattan — e 0 clamor da misica ampliada eletronica- mente, Em 28 de julho de 1973, cerea de 600 mil jovens assistiram em Watkins Glen, Nova York, ao festival rock a0 ar livre. Os fas se acotovelayam em 36 hectares de uma colina gramada, “Visto do a cercado, onde se realizou o concerto, parecia um formigueito rodeado por extensas campinas repletas de carros ¢ barracas fortemente colori ina estava tao atulhada de gente ‘que uma moga de dezenove anos de Patchogue, Long Island, disse que levou trés horas para ir ¢ voltar do toalete portitil distante umas centenas de metros.’ Ao considerar o sol escaldante, o fervilhar de gente, as precirias condigbes dos sanitérios e 0 grande consump de cerveja e vinho, era de esperar um grande stress fisic e mental, frustragZo repri- mida, acessos de raiva, ¢ briga a socos. Na verdade, a mul- tidaio estava bem-humorada e se comportou satisfatoriamente. ‘A auséncia de incidentes sérios surpreendeu tanto os mora- dores locais como a policia. A miisica nfo foi a Ginica atragio do festival — a propria multidao foi uma festa. ‘As pessoas nos restringem, mas também podem ampliar nosso mundo. O coragio ¢ a mente se expandem na presenga daqueles que admiramos ¢ amamos. Quando Lara, a he de Boris Pasternak, entra em um quarto, € como se 73 ‘Espaciosidade e Apinhamento janela de repente se abrisse e 0 quarto se inundasse de luz € ‘ar. Quando as pessoas trabalham juntas por uma causa comum, um Fomem nao tira espago do outro; pelo contrério cle aumenta 0 espago do companheiro, dando-Ihe apoio. “Quanto mais anjos, mais espaco”, disse 0 erudito tedlogo sta Swedenborg (1688-1772), porque a esséncia do anjo ndo € usar 0 espago, mas cri-lo através de atos altrufstas.” Por outro lado, uma causa freqiiente de nossa frustragiio so as pessoas: porque suas yontades cerceiam as nossas. As pes- soas freqiientemente se colocam em nosso caminho, e poucas vyezes o fazem inocentemente, como 0s tocos de frvores ¢ os moveis que nada fizeram para estarem ai. Num estadio lotado todos sio berwindos; contribuem para a vibragao da par No caminho de volta para casa, guiando o carro na estrada congestionada, as outras pessoas incomodam. Quando 0 mo- tor do carro da frente afoga, chegamos a pensar que foi de propésito. O estidio tem uma densidade demografica maior que a da estrada, mas é nesta que sentimos o dissabor da restrigo espacial. Aividades conflitantes geram uma sensagao de apinha- mento. Em un pequeno apartamento urbano, uma atarefada mae tenta corinhar, alimentar o bebé, ralhar com a crianga que est aprendendo a andar e derramou comida no chao, ce atender a campainha, tudo ao mesmo tempo. Um fatigado pai volta para casa e nfo consegue encontrar um canto sosse- gado, longe de suas criangas briguentas e falantes. Se esta familia se mudasse para uma residéncia adequada, sem dii- fiminuiria ¢ aumentaria a serenidade d& f sio tio adaptiveis, que em certas condicSes favoraveis podem extrair vantagens até de moradias apinhadas — especialmente, um tipo de calor mano indiscriminado e gregario. As pessoas da classe oper As veres tém conseguido este calor, como descreveram D. H. Lawrence e Richard Hoggart, escritores descendentes desta classe. Em um lar congestionado de uma familia operéria in- lesa, € dificil ficar sozinho, pensar sozinho ou ler trangiii- Iamente, Nao apenas as coisas, mas também as pesso ‘compartilhadas, A mie 6 “nossa mae", 0 pai é " Espaciosidade e Apinhamento . Hoggart captou, nesta cena de sala, que, embora confuso, ¢ a fitha é “nossa esse mundo de aceitagao e pi intensamente humano: HA ridio ou televisto, coisas sendo feitas de regular ou conversas {ntermitentes [0 ferro de passar bate sobi ‘achorro se coga € ‘Doce}a ou o gulo mia querendo sar; 0 fio perto de lareira se enxuga com a Deste cdmodo atulhado nasce um mundo de calor ¢ tole- rincia. O que se perdeu? Qual é 0 custo desta bem-sucedida adaptagio ao apinhamento? O custo parece ser a oportuni- dade de desenvolver uma visio profunda da personalidade humana, Privacidade e soliddo so necessfrias para uma re- flexdo perseverante e uma introspecedo rigorosa, ¢ através da compreensio do proprio eu para que se atinja a plena apre~ ciacdo de outras pessoas” Um homem nao é apenas um mineito, nfo é s6 “nosso pai”, mas também um ind ‘com o qual poderia ser possfvel uma troca prolongada — indo mundos através do didlogo ou do trabalho comum. te nao garante a soliddo; al ‘A privacidade espacial naturalms ‘mas é uma condigto necessiria. grupo pequeno e fechado tende a restringir 0 aumento da consideragio pelos outros em cuas diregdes opostas: em um intimidade entre os préprios individuos, que transcende a camaradagem e os lagos fami li eno outro: ‘extremo, uma preocupagiio generalizada pelo bem-estar da humanidade, do mundo todo.” i ‘O mundo nos parece espagoso e amistoso quando conc nossos desejos, ¢ limitado quando eles sto frustrados. A fr tragio difere em in! tensidade. Para os ricos pode ser simples- ‘mente ficar arrafado no trinsito ou ter que esperar por uma determinada mesa em uri restaurante favorito. Para o frastracao significa muitas vezes avangar Tentamente nas longas e vagarosas filas de emprego ou das agéncias da previdéncia social. Ha também frustragdo no nivel mais basico: a certeza de que a terra € 0s recursos siio. 75 ~Espaciosidade e Apinhament 1ados ¢ muitas barrigas perm: ‘anidade, a massa conhece est sagao de apinhamento. A visto de’ entre recurso e populacao merece um recor pela sua precsto; a constatagao de apinhamento no sentido maltusiano €, entretanto, desde ha muito bem conhecida © bem difundida. Esse apinhamento tem existido em dreas de densidade demogrifica alta e baixa, na India, Sudeste Asia- tico e Europa, assim como nas partes esparsamente povoadas: na América co Norte O folclore e as lendas dessas terras fam em detalhes e graus de clareza variados a estéria de spoyoado. Um conto maltusiano comumente || nfo se conhecia a morte. m até que no cabiam mais na terra e houve um grande sofrimento. A est6ria pode, entio, continuar assim, Deus ordenou a um anjo que matasse a5 ‘pessoas que tivessem atingido uma certa idade. O anjo con- estou porque nao Ihe agradava o castigo humano; assim Deus permitin queo anjo disfargasse seu trabalho com uma cortina de doencas, acidentes ¢ guerras. Eis outra est6ria maltusiana. Para os esquimés no principio nao exist rte. Os primeiros homens viveram em uma ilha no estrei Hudson; multiplicaram-se rapidamente, porém nenhum ja~ mais aband Finalmente havia tanta gente na ela nao agiientou e comegou 4 afundar. Uma velha gritou: ‘Que seja ordenado que os seres humanos possam morrer, Jo haveré mais lugar para nés na terra.” E seu desejo foi px atendido.® ‘Os esquimés eagam pequenos grupos nos amplos es- ica. © apinhamento urbario e stress, pacos abertos da cost acontece durat alheios & experiéncia esqui mhecem o afinhamento e o stress. Eles experienciam 0 api- nhamento nc nivel tragico da inanicao em tempos de escassez. Sennen Venue OnVeTUnnTO CO 6 Habilidade Espacial, Conhecimento e Lugar a dade e amplitude de movimento variam enormemente entre as diferentes espécies e so em grande parte natas. Um cordeirinho nascid®, apds alguns passos intes, é capaz de acompanher sua mie no pasto, contro- maneira a nao entrelagé-las. Os ‘Aex- recém-nascido, Um bebé no pode ficar e1 har Até seus pequenos movi- mentos corps itados, O bebé no sabe bem onde esté sua boca, e suas primeiras tentativas de levar o dedo a boca so o resultado de ensaio-e-2rro. Um pouco mais tarde aprende a inhar por sua conta, mas ficar em pé e andar — alividades tipicamente humaias — requerem encoraja mento e auxilio dos adultos. A habilidade espacial se desen- volve lentamente nas criangas; 0 conhecimento espacial vem bem depois. A mente aprende a estabelecer as relacBes espa- is muito depois que 0 corpo tenha dominado o seu desem- penho. Porém, a mente, uma vez iniciado o caminho explo- rat6rio, cria grandes e complexos esquemas espaciais, que vio ito além do que o individuo pode abranger através da xperiéncia direta. Com o auxilio da mente, a habilidade es- P oO s animais podem se locomover. A agilidade, veloci 76 7 Habilidade Espacial, Conhecimento e Lugar pacial do homem (porém nao a agilidade) ultrapassa a de todas as outras espécies. A habilidade espacial se ‘ansforma em conhecimento espacial quando podem ser intuidos os movimentos e as mu- dangas de localizagio. Andar uma habilidade mas, se eu puder me “ver” andando e se eu puder conservar esta imagem em minha mente que me permita analisar como me movo ¢ ue caminho estou seguindo, eno eu também tenho conheci- mento. Este conhecimento pode ser transferido para outra pessoa através de uma instrugo explicita em palavras, em diagramas ¢ em geral mostrando como o movimento complexo iste em partes que podem ser analisadas ou imitadas. lade espacial consiste na realizagio de 8 corriqueiras, 0 conhecimento espacial, a acentue tal habilidade, nfo é necessério a ela. Pessoas que sio capazes de encontrar seu caminho na cidade podem nfo saber dar a localizagdo das ruas a alguém que esteja perdido e sio incapazes de desenhar mapas, Elas tém dificul- dade em intuir a diregio de sua agdo ¢ as caracteristicas espaciais do meio ambiente onde elas se realizam. Ha muitas jos0s, Os dedos de uma datil6- grafa profissional voam sobre a maquina; tudo o que vemos 6 um movimento difuso. Esta velocidade ¢ precisio sugerem que a datilografa realmente conhece o teclado no sentido de que pode ver claramente onde esta cada letra. Mas nfo pode; ela tem dificuldade de lembrar a posigZo das letras que seus dedos conhecem tao bem. Outro exemplo: andar de bicicleta requer coordenagio muscular © um agudo sentido de equi- librio, isto é um sentido da distribuigo da massa e das forgas. Um fisico pode ser-capaz de desenhar 0 equilibrio de forgas necessario para dominar uma bicicleta, mas este conhe- cimento nao é preciso. O conhecimento consciente pode até atrapalhar o desempenho de uma habilidade? Quando vemos um animal andando por uma trifha longa € tortuosa para achar comida ou abrigo, somos tentados a \go do qual vai se movi E estranho observar as pessoas atuarem aber que sar, por puro hal com habilidade e propésito las agem inconscientemente, ‘cess0s fisiolbgicos que se adaptam is mudangas do meio am- te sem nosso controle consciente. Um exemplo exagerado 0 sonambulismo. Talvez milhares de norte-americanos sejam sondimbulos ou quando criangas tenham andado enquanto dormiam, A informacio sobre 0 sonambulismo € abundante. ‘Algumas est6rias sto dificeis de acreditar, apesar de o fend- ‘meno estar bem documentado ¢ ter sido estudado em condi- ‘goes de laboratério. Eis um caso fora do comum. Uma dona- Gde-casa de Berkeley se levantou uma noite as duas da madru- ‘gada, vestiu um casaco por cima do pijama e colocou os basses no carro para um longo passcio até Oakland, acordando no volante depois de ter percorrido trinta ¢ sete quilémetros.’ Uma familia inteira pode sofrer de sonambulismo. Quando tum grupo de pessoas agem em associagio, com aparente deliberagto e propésito, é dificil aceitar 0 fato de a ‘sabiam 0 que estavam fazendo. No entanto, foram p varios casos de sonambulismo em grupo, Uma noite, uma ade seis pessoas (0 marido, a sua prima-esposa € ro criangas) se levantaram ao redor das trés da madi ‘pada e se sentaram A mesa de chi na copa das empregadas. Uma das criangas ao se mover derrubou uma cadeira. SO entao eles acordaram.* Se uma pessoa sofre de sonambulismo, provavelmente comeca a agir quando entra em sono profundo. Medigdes com eletrodos mostram que a informagao sensorial continua a entrar no cérebro do sonambulo, cujo corpo res- ponde apropriadamente, mas 0 cérebro nao registra conscien- temente esta informagao como acontece quando a pessoa esta acordada. ‘Uma experiéneia comum em diferentes setores da socie- norte-americana — guiar grandes s para ir e vir trabalho — desliga” quando. esta percorrendo um trada. Ele nao presta atengao no que esté fazends esté em outro lugar, e no entanto, por varios corpo mantém controle sobre o veiculo, demonstrando hab dade para adaptar-se as menores mudangas no meio am~ caso de fazer bem uma curva grande ou wr em uma longa subida. Griffith Williams ‘casos do que ele denomina de “hipnose da sta informou: By descobri famnésia] enquanto gulavs a noite de Poriland, em Oregon, até Sto Francisco, na California. As Tuzes de uma cidade apare- Gerum ¢ constatel que estivera quase adormecido por cerca de quarents wo que eu sabia que a estrada por onde tinhe passado nko vendo todas as curvas, ete, Nido me varias vezes repetir e comprovei que podia gular quild~ fo descansava. Em cada oportunidade, (quando aparecia uma emergéncla, eu acordava completamente ‘A aquisigao de habilidade espacial, seja para andar de icleta ou para encontrar um caminho dentro de um labi fo, nao depende de possuir um cértex cerebral desenvol- © experimento de Pechstein € convincente. Em seu -atos e seres humanos sio treinados para achar 05 seu tos com padroes idé Apesar de ago de treinamento ser muito mais fam para os sujeités humanos do que para os roed aprenderam tao depressa e desempenharam qui quanto os sefes humanos.* O cérebro maior di redundante para a aprendizagem de certas hat ‘0 caminho que so essenciais & sobrevivéncia dos Vo 4 380 Habilidade Espacial, Conhecimento e Lugar zaguear em um ambiente desconhecid ruas de uma cidade estranka? Os indicadores visu importincia fundamental, mas as pessoas dependem 4 gem e de mapas mentais conscientes bem menos do que elas possam pensar. O trabalho experimental de Warner Brown sugere que os sujeitos humanos podem aprender a superar um labirinto integrando uma sucesso de padries tateis-cinesté- sicos. Aprendem uma série de movimentos em vez de uma configuragio espacial ou mapa.’ ‘As principais etapas do experimento de Brown sio as seguintes, O sujeito usa um aparelho sobre seus olhos que the ite ver as partes supe- riores do ambiente maior (a sala) ¢ também pereeber luz ruidos exteriores a sala. Na primeira tentativa, o sujeito fica parado a entrada ¢ est consciente da localizacao da sala Uma vez que penetra no labirinto, ele se m: maneira; a saida é sen objetivo, mas nao sabe ainda onde ela esta (Fig, 5). Ap6s a segunca ou terceira tentativa, ele tera adquirido um sentido da localizagao da saida, e seu compor tamento muda a medida que dela se aproxima. Depois de algumas tentativas, 0 sujeito reconhece manifesta confianga sobre duas localidades do labirinto do laboratério, a entrada a safda. Com outras tentativas ele aprende a identificar um ndmero cada vez maior de “referenciais”. Refere-se a cles como “uma parte difi reta” e “uma curva dupla”, Representam para ele etapas de uma viagem, Até os erros cometidos ajudam neste propésiti O sujeito pode dizer: “eu fiz 0 mesmo erro da dltima vez", indicando que reconheceu o lugar, Encontrar um referencial familiar no labirinto 6 quase uma experiéneia emocional. O sujeito freqdentemente manifesta satisfacao, porque 0 refe- rencial Ihe sugere que est no caminho certo. Além disso, cada referencial 6 um aviso do que ele tem de fazer adiante. Os principais pontos contimiam sendo a entrada e a saida A integragao do espago é um processo progressivo durante 0 qual os moyimentos corretos para entrar e sair ¢ para os ntos intermediarios continuam crescendo até chegarem a 81 Habilidade Espacial, Conhecimento E lugar DE ESPACO A LUGAR: A APRENDIZAGEM DE UM LABIRINTO fe al eens joo: (A). Apés um tempo, mais refer imento (B,C). Finalmente 0 espago consiste em caminhos familiares — em outras palavras, ugar (D). ser continios. “Quando 0 sujeito 6 capaz. de ziguezaguear pelo labirinto sem erro (ou com apenas alguns erros) ¢ em movi- mentos cerretos, todo o labirinto’se torna uma localidade.""* Aquilo que comegou como um espago indiferenciado termina ‘como um inico objeto-situagao ou lugar. Quando se pede & pessoa que superou o labirinto que percorra « mesmo caminho em espaco aberto, as marcas por cla deixadas pouco se assemelham com o padrao original do labirinto. Alguns elementos das marcas so bem parecidos ae Habilidade Espacial, Conhecimento e Lugar com 0 trajeto correto, mas os desvios so marcantes. A maio- fos com os olhos yendados, aps terem aprendido a percorrer corretamente o ial tamente execu- smprimentos (Fig. 9 Pasenne © percurso real que nao pode ser diregdo aos referenciais, s. Nao adquirem neahum mapa mental preciso do bairro. E claro que uma imagem grosseira das relagdes espa- ciais pode ser aprendida sem esforgo de e saber o que fazer -se no lugar de ide para sua casa de campo. Ele jé fez a viagem antes. Ao iniciar a viagem, conhece mais ou menos a direcZo da casa de campo, assim sabe para que lado virar a diregaio quando tira o carro da garagem. Este saber o que fazer a seguir se repete com cada referencial que vai aparecendo; isto é, cada aspécto especial da paisagem — que nem sempr2 é facil de especificar ao reca- pitular — desencadeia o préximo conjunto de moyimentos, D. O. Hebb afirma que, se as curvas da estrada nao sto fechadas, 0 motorista tem a sensago de que, independente do lado que virou o carro, continia movendo: Para o seu destino. A pessoa psicologicamente parece disposta a nfo considerar as curvas e ¢ aceitar os movimentos para DISTORCAO NOS LAMIRINTOS DESENHADOS Fags <> Figura 6, Distorgdo nos labirintos desenhados. Sujeitos que aprenderam a percorrer 6 latirinto tém, no abstante, Aesenhos. dade para reprodvzi-los em das curvas — a no ser que se lembre de uma. determinada curva, e entio po laridade. fs silo req) icas, quando o espago é grande. As ci pessoas retardadas provavelmente tém dificuldade para inte- grar um espago grande no lugar familiar. Flas nao tém difi- culdade para identificar relerenciais especificos ¢ localidades. Reconhecem certas lojas e residéncias, mas compreendem pouco as relegdes espaci mente desorizntadas fora das pequenas reas com as qt tém cor tual. Jé tratamos do mundo das criangas pequenas. Que problemas de orientagio enfrenti que tm ‘mar os conceitos espaciais? Robert Edgerton dé um exemplo de como a confusio pode atingi ngas/pequenas e as fecceer i e Lugar c ira. Certa ver, Mary, Kitty ¢ Edgerton esto indo visitar a mae de Mary. Edgerton relata o seguinte episodio: restaurante e quando o vimos antes estvamos indo na je estara paszando diante do restau jecimento espacial, no nivel-da articulagao simbélica em palayras ¢ imagens, ndo 6. Muitos animais tém destrezas espaciais que de longe ultrapassam as dos homens; as aves migratorias transcontinentais s40 um exemplo impor- tante, Para os seres humanos, qual é a relagdo entre a habi través de experiéncias sen- mento espacial aumenta a habilidade espacial, Esta habilidade é de diferentes tipos, va- riando desde a destreza atlética até realizacdes culturais como a navegacao ocean treinamento de um atleta 6 ajudé-lo a rios para realizar uma boa mente © que deve fazer ajuda n antes do salto a distancia. O técnico de futebol usa modelos ideais palavras e npensar a falta de visto, seus sentidos auditivo e tatil dos. O uso de suas mentes para mular conceitos espaciais methora ainda mais as suas habi iais. Os mapas tileis, por exemplo, ajudam as Para c Habilidade Espacial, Conhec e Lugar jento criangas cogas a visualizar as localizacdes relativas de referen- ci ficantes. Os meninos cegos de nascenga aprendem a seguir um trajeto e até resolver um problema de mudanga de diregao a partir de mapas tateis.” Alguns cegos parecem ser azes de usar 0 sol como um meio de achar o caminho. Verbalizar o trajeto € outro recurso que 0 cego emprega ‘quando procura resolver problemas espaciais." Os seres humanos nao so dotados de um sentido instin- tivo de directo, mas com treinamento pode se desenvolver a habilidade de orientacio — até em um pais desconhecido. Iva relata o caso de um menino de doze anos que parece possuir uma “orientagao direcional automatica’”. Ele nfo faz. esforgos deliberados para orientar-se e, no entanto, nunca se perde em uma cidade desconhecida. A explicagdo parece estar inamento precoce. Quando pequeno, sua mae Ihe dava is em vez das mais comuns direita ¢ da varanda.” Finalmente 0 menino desenvolveu uma habili- dade fora do comum para mover-se em trajeto comp perfodes de tempo rel aproxima ao de agilidade. Em um sentido amplo, a habili- dade espacial € manifestada em nossa capacidade de liber- tar-nos dos lagos que nos prendem a um lugar, na amplitude € velocidade de nossa mobilidade. Um explorador treinado, equipado com mapa ¢ biissola, pode andar de um lado para outro em um pais estranho, dependendo em quase nad sua experiéncia pessoal do terreno. O conhecimento {6 conihecimento esto inextrincavelment 86 Habilidade Espacial, Conhecimento e Lugar ico na floresta e hesitam sair para além de sua sede, Em sua lingua nao existe uma palavra para mar ou lago, apesar de que esses acidentes geogrdficos esto a menos de sessenta qui metros de distineia* No outro extremo, a habilidade de percorrer grandes distancias e ¢esenyolver elaborados conhe- cimentos astrondmicos e geograficos sto realizagBes proprias de payos altamente civilizados. De fato, este conhecimento ‘capacidade é outra demonstragio do seu amplo dominio do meio ambiente fisico. Nao constitui, entretanto, uma regra que as sociedades grandes e integradas tenham maior conhe- cimento espacial do que os pequenos grupos fracamente orga~ ados. Ha muitas excegdes. Camponeses e agricultores de odutos de subsisté podem ter desenvol- vido relagbes sociais complexas € podem viver em grandes vilas e dispor de abundantes suprimentos de alimentos. cultura material € mais sofisticada do que a dos primitivos cagadores e pescadores. Entretanto, as habilidades espaciais dos cagadores primitives podem de muito superar as dos agricultores sedentarios presos a uma localidade. A hat dade do cacador simplesmente rao se limita a ide trilhas, cacimbas e pastagens en uma Area gr ‘embora estas capa © conhecimento espacial se estende além dos detalhes do terreno para pontos de referencia no e6u, e pode ser representado como anotagbes abstratas nos mapas. Na Sibéria, varios grupos primitivos de cagadores tém sntos de astronomia. Por exemplo, os Yakute podem distinguir a olho nu as estrelas da constelacdo das Pléiades que comumente nio sio vistas sem telesc6pio. Eles demons- tram interesse no nimero das estrelas; dizem que hé muitas estrelas nas Pléiades, mas somente sete sao grandes. Os Bu- riate, assim como os nativos de nordeste da Sibéria, usam a estrela Polar & noite € 0 Sol de dia em suas cagadas.” desenho de mapas ¢ evidéncia incontestivel do poder de conceituar as relagées espaciais. E possivel determinar o caminho através do cileulo de posigao sem usar observacdes, astronémicas e através da consilerdvel experiéncia sem procu- rar desenhar as relagdes espaciais’globais das localidades. ' j | i 87 Habilidade Espacial, Conkecimento e Lugar Se se procura conceituar, o resultado pode permanecer na mente em ver de ser transcrito para um meio de comunicacao material. Que ocasides exigem um mapa? Talvez a ocasiio guém quer saber como ir ao acampamento ou a cacimba, © auxilio que mais tempo consome ¢ ir com ele até I. Em vez disso, pode-se procurar explicar verbalmente 0 caminho e a natureza do terreno, mas isto é sempre dificil, porque a lin- guagem serve melhor para narrar eventos do’ que para des- crever relagdes espaciais simultaneas. Um mapa esquematico, ido rapidamente na areia, barro ou neve, é a maneira imples e mais clara de revelar a natureza da regio. lade cartografica pressupde por parte do cartégrafo tivo o talento de abstrair e simbolizar, assim também um_ talento comparavel da pessoa que observa, pois: esta deve conhecer como traduzir pontos ¢ linhas contorcidas em real dades do terreno. Os mapas esqueméticos deste tipo provavel mente desenbam casas ¢ sendas (para indicar a diregio do movimento), ¢ aspectos naturais como riachos e lagos. Tém curta duragic. Alguns, no-entanto, foram gravados em cor- tiga, couro ov madeira ¢ tornaram-se parte do acervo da cultura material de um povo. Estes mapas podem ser bem requintados, mostrando mais informacao da que 6 nece: para qualquer ocasidio. Sugerem um desejo de euardar como reliquia 0 conhecimento, geogréfieo comum em forma carto- arifica. Vejaios os mapas chukchi do delta do Aradir, no nordeste da Sibéria. So desenhados com excepeional habili- dade com sangue de rena sobre tabuas de madeira. Sio facil- mente reconhecfveis © curso sinuoso do rio, a vegetagio da rasilhas é reproduzido fielmente, Duas linhas para Telas mostram as praias [do ria]. (...) Muitas manchas verme- Ihas sobre as praias sem duivida indicam colinas, O desenho do mapa é alegrado com cenas de caga e pesca, Em um canto est um grupo de trés chogas, redes de pescas se espalham no Ce i DIDS VAAAAIADADODSBUBHE 88 Habilidade Espacial, Conhecimento e Lugar dever ao mapa da mesma regio feito pelo Ministério da Ma- rinha da Rissia, ao redor de 1900, ‘Os cagadores siberianos primitivos aprenderam a concei- tuar o espago e a traduzir este conhecimento detalhado para a Jinguagem simbélica dos mepas. Por outro lado, os analfa- bets camponeses russos pouco entendem das relagdes espa~ ais fora de seu pequeno mundo; nao tém motivo para dese- har mapas, ¢ quando solicitados a desenhié-los, seus esforgos so inferiores Aqueles dos cagadores. Que elementos da cul- tura, da sociedade e do ambiente fisico afetam as habilidades espaciais e o conhiecimento as pessoas? Que condigdes enco- rajam as pessoas a experiendar seu meio ambiente e ter cons- tiéncia dele a tal ponto de procurarem captar sua esséneia erm palayras e mapas? ‘John Berry tentou encontrar respostas estudando duas sociedades que nao conheciam a escrita, os Timne da Serra Loon e os esquimés do Artico canadense!” As habilidades dos esquimés superam de muito as dos Timne. Os esquimés pos suem um yasto vocabulério geométrico-espacial, comparavel fem riqueza Aquele do homer técnico do Ocidente, com o qual articula seu mundo. Em comparacio, os Timne tém um voca- buldrio pobre de termos geométrico-espaciais. Os esquimés sio famosos pelas suas esculturas em pedra-sabaio ¢, mais Tecentemente, pelos seus trabathos feitos com esténceis e xilo- igravuras, Os Timne quase nifo produzem gravuras, esculluras bu decoragbes. Os esquimés sAo bons mecannicos. Edmund Carpenter relata que eles se encantam em desmontar ¢ montar motores, relogios e qualquer maquinaria. “Eu os observei Consertar instrumentos, levados especialmente por mecinicos ‘americatios, que haviam sido abandonados por no tere mais conserto.'™ Os Timne nao demonstram nenhuma apti- dio mecfnica especial, Os esquimés sto viajantes extrema mente versateis; usam e confeccionam mapas. Os agricultores ‘Timne nao possuem estas habilidades. ‘Por que o contraste? Os ambientes fisieos dos dois povos completamente diferentes. A terra dos Timne @ coberta 4 savana ¢ outras vegetagbes, oferecendo uma riqueza de ‘mulos visuais, As cores so inntensas: as drvores ¢ 0 capim 8. Habilidade F. ial, Conkecimento Lugar variam do yerde-claro ao verde-escuro e, contra este fundo verde, frutas, frutinhas silvestres e flores produzem manchas em yermeho ¢ amarelo, O meio ambiente esquimd ¢ deso- Jado. No verilo, os musgos ¢ 0s liquens dao A paisagem uma tonalidade castanho-acinzentada; no inverno, a neve e 0 gelo produzem uma cena mondtona. Quando a neblinae a nevasca caem, nao hé diferenca entre terra, gua e eéu. E neste am- biente pobre e pobremente articulado que os esquims, para sobreviver, aperfeicoaram suas habilidades perceptivas © es- paciais, Quando todos os referenciais desapareeem no ne- vyocito e na tempestade de neve, os esquimés podem, apesar disso, encontrar seus caminhos observando as relagdes entre a surazao da terra, tipos de neve e de fratura de gelo, a qualidade do ar (fresco ou salgado) e a diregdo do vento. Em ima neblina fechada, o navegante do Artico estabelece sua po- sigdo no mar pelo som das ondas quebrando na terra e pela ob- servagao do vento2! A natureza pode ser hostil e enigmatica, porém o homem aprende a compreendé-la — extrair-Ihe signi- ficado — quando isto é necessario para a sua sobrevivencii ‘A soziedade exerce um grande impacto no desenvolvi- mento das habilidades espaciais. A maioria dos Timne cul- tivam arroz e vivem em vilas. A sua sociedade é rigida e autoritéria, Os homens exercem controle sobre as mulheres, fe as infragdes as leis matrimoniais sio duramente punidas. A disciplina das criangas apos a desmama 6 severa. A edu- cagio formal est a cargo de sociedades secretas: os jovens aprenden. as habilidades e fungdes tradicionais durante os imieses que passam na savana, apbs 0 que se segue a iniciagao. ‘A seguranga repousa na aceitagio dos costumes do grupo, porque éesta unidade coesa que enfrenta a natureza ¢ dela extrai a subsisténcia. Como a natureza é bastante benigna, tum esforgo modesto 6 suficiente para viver. Um Timne difi- nente fica sozinho, S40 raras as ocasides em que, por si mesmo, wm agricultor tem que se orientar em um espaco estranho e indspito, Ele nlo tem necessidade de fazer um esforco consciente para estruturar 0 espago, desde que 0 es pao em que se move consti integrante de sua vida cotidiana que de fato é0 seu e Lugar ‘© Timne tem seu lugar, conhece seu lugar e dif 6 desafiado por um espago nio estruturado. A sociedade es- quimé, no Artico canadense, é bem diferente. Os esquimés ‘aga que comportem tratadas com benevoléncia. Os esquimés trabalham sozinhos ou com parentes préximos em amplos territ6rios. Seus desafios emanam de um meio ambiente se- vero e instével. O individuo nao depende do poder de uma sociedade organizada para dominar a natureza. Ele confia em sua prépria engenhosidade e forga. Comparados com os agri- cultores Timne, os esquimés si Incentivam estes tragos em suas cri de autoconfianga para sobrey’ lugar permanente. Eles ainda recessitam enfrentar um espago nao estruturado e vém desenvolvendo as habi cimento necessdirios para enfrenti-Io com suc Consideremos outro tipo de compe navegagio, Cruzar um ocean com 0 a nética e cartas é uma realizagio izages européia © significar uma familiaridade com 0 meio ambiente local ape- nas conceituada, As pessoas zonhecem bem a sua propria vizinhanga: O conhecimento geogréfico também quer dizer conhecia um mundo que vai das Marquesas a leste até as Fiji ‘a oeste, uma extenso que corresponde a largura do oceano Atlantico ou quase & dos Estados Unidos. Tupaia acom- panhou Cook até a Batavia, no “Endeavour”. A mais de mil Kéguas” distante de sua casa e apesar de a rota do navio ser I Habilidade Expacial, Con e Lug ‘quando se distanciam de sua terra. Que condigées favorecem o extraordit mento das habilidades espaciais dos ilhéus do Pac semelhantes Aquelas que favorecem as hi entre os esquimds. Para sobreviver, os es conhecer bem grai mento obtido en do que suas pequenas sedes mente porque a comida sej adjacentes. As razdes das viaget até eles mesmos ndo sabem exp! wat, por exemplo, dizem que fazem viagens de 200 ¢ 240 tabaco; no en- ‘trariam a a base do treitar as velhas relagdes, estabelecer novas e trocar idéias. ‘Uma pequena comunidade do tamanho de Puluwat nfo pode- ria ter alcangado seu atual nivel de cultura se no se apoiasse em um mundo muito maior. A formacao de extensas redes Os Puluwatano, como os esquimés, véem a natureza @ arena na qual se manifestam suas melhores virtudes e habilidades. Os esquimés dominam as artes de cagar na neve € no gelo, & tus as artes de navegar em mares sem marcas. Nos dois grupos, a seguranga e o sucesso dependem 92 Conhecimento Habilidade Esp e Lugar criangas se impressionam facilmente, elas absor e experienciam 0 mar e 0 céu em todas Fea navegacaio é apree sciente, Nem todos se tornam bons navegadores nas ilhas ‘as quase todos, ja fizeram viagens transoce’- jade para saber como esta indo a gua ¢ aprendem lero céu, © cont ado © adquirido mai ntemente do que o de um ilhéu comum apesar disso a is do que célculo del sdes que tem de tomar dur navegador necessita de visio agucada, mas el to grau de viagem. U deve t acuidade. As vez regio pod ‘Timonear de acordo com as ondas depen mento do barco mais do que da vista. Um navegador das , disse que "As vezes ele ia para a Habilidade Es Conhecimento e Lugar PTAK: UM SISTEMA PARA ORGANIZAR DADOS ESPACIAIS para proporeionar um quadro de referéncia no qual 0 conhecimento do navegador sobre velocidade, tempo, geogeafiae astronomia pode ser inte grado para dar informagio convenientemente 95 ide Espacial, C dade Espa Lugar 1 ¢ Lugar IMAGEM DO OCEANO PACIFICO DE-TUPALA ‘ ‘se move’ & medida que fieam p: de outro lado," iados das estrelas, ithas e recifes | isse Thomas Gladwin, * s ' int espago amorfo em uma geo grafia articulada. Os ilhéus do Paeffico t€m raziio em se orgu- Iharem da amplidao do seu horizonte geogratico, Figura 8. Imagem do oceano Pacifico de Tupaia. Para o navegador poli si, 0 oceano esta ponteado de referenciais, Olhando para fora desde rente uma pequen pelos setores sombreados, i ithas, Michaol Lesson, R. Ge- ard Ward e John W. Webb, The Settlement of Poly i University of Minnesota, 1973, p. 63. Figura 37. “Tupaia's map and island | sereens”. Relmpressa com permissio da University of Minnesota Press. navegador experimentado transmite uma grande dose de informa¢ao especifica aos seus estudantes, sentados no galpao | das canoas ¢ fazem pequenos diagramas com pedrinhas sobre as esteiras que cobrem a areia. “As pedrinhas geralmente | Tepresentam as estrelas, mas também so usadas para indicar CAR RRO RE RO USE SV ERR VIDED S 7 Espago Mitico e Lugar mito freqiientemente € contrastado com a re tos florescem na auséneia do co . Por isso, no passado, 0 homem ocidental acre- ditou que existisse a Terra sem Mal, 0 Pai Noroeste ou a Terra Australis. Agora ja nao , a Passagem influenciado pelas 0 mi nfo 6 uma er Outrora os europeus acre 96 97 Espago Mitico e Lugar a Passagem Noroeste ou o paraiso terrestre. Os izé-los no desencorajavam os ois cram elementos-chave a. Descartar a idéia de um paraiso terrestre a visto d ‘ Podem-se distinguir dois tipos principais de espago mi- um deles, o espago mitico é uma 4rea imprecisa_de wundo moderno, Eles per: ‘como. pare os grupos, sempre haverd area ecisamente conhecido e do desconhecido, ¢ porque é possivel que algumas pessoas serio sempre levadas a com- ender © lugar do homem na natureza de uma mancira de espaco mitico é uma extensto concei- 1¢08 familiar ¢ cotidiano dados pela experiéncia ‘ i ie fica do outro Iado da montanhosa ou do oceano, nossa imaginagao constréi geografias miticas que podem ter pouca ou nenhuma relagao com a realidade. Os mundos da fantasia so construidos sobre aun um homem brincando com seu cachorro na sala de estudo, Ele vé 0 que esta diante de si, ¢ através de de seu meio ambiente. Também, esté vaga- snte daquilo que nio pode perceber — por exem- 0 encosto da cadeira quando nad es @estante que se acha fora de sua visio, O mundo do homem no termina nas paredes da sala de estudo; além dela ficam, Sucessivamente, o resto da casa, ruas e referenciais da cidade, ¢ outras cidades dispersas no amplo territério do pais, tudo (o mais ou menos ordenado na rede de coordenadas da co centro. B claro que o homem nfo presta atengio istantes, seu cachorro; no entanto, este amplo necessdrio para a sua sensacio de sentir-se em casa ¢ ori tado na pequena Area de atividade. Quando indagado, ele Pode imaginar uma ampla extensio além do alcance da per- cepgio; pode tornar explicitas algumas partes de um grande iment 9. Pode apontar para a. a Elm esta af ¢ tem diregio norte. pode apontar para uma parede e dizer: ercebido. Este campo el de cada homem, ue dé a0 homem_con- io € 0 espago mitico irred mbiente impreciso do conhiesido fianga no conhecido:* recorrem a ilhas lendérias para prpen- cher seu espago. Os Puluwatano sio excelentes marinheiros € navegadores. Seu conhecimento geogrifico se estende, mu: além de seu préprio atol e dos mares locais, até grandes ¢} tenses do oceano. Como povo pragmitico, os Puluwatano facilmente abandonam rituais ¢ tabus quando estes mostram ndo terem poder. Aprender a navegar jA sigi carga para a meméria, Os jereveu: “‘Talvez 0 aspecto mais extraordi- nario da espacializagdo que o homem faz do seu mundo € 0 fato de que esta nunca parece estar exclusivamente a0 nivel pragmético da aco e A experiéncia percep' Hallowell descreveu como um exemplo o sistema espacial dos indios Saulteaux de Manitoba, que vivem nos arredores do rio. Berens a leste do lago de cem através da experiénci nado as eg: O terreno que eles conhe- ta esté essencialmente confi- de pese: iento do terreno passa a ser nebu- indio que trabalha em uma determinada pode ignorar a geograt listantes de sua sede, quer os tenham ou nao vi : Pequenos mundos da experigneia direta sto bordejados por mais amplas conhecidas indiretamente através de 'de ocidental contempordnea, para dar outra ilustracao de um fendmeno universal, as pessoas em um bairro conhecem bem sua érea, porém é possivel que desconhecam a 4rea ocupada por um grupo vizinho. Ambos os grupos, entre~ fo maior — a 1as préprias Areas locais esto idas. O conhecimento desta area imprecisa nao é redun- 'e. Apesar de imprecisa e povoada de fantasmas, é neces. siria para a sensagio de realidade de um mundo empirico, Os fatos exigem contextos para que adquiram significado, © 0s contextos invariavelmente se'tornam nebulosos ¢ ou nagdo — na qual ue 0 espago tentativa mais 10s sistem: das pessoas de compreender o meio ambiente. Para que seja habitavel, a natureza e a sociedade devem mostrar ordem e apresentar uma relacao harmoniosa, Todas as pessoas reque. + rem do seu meio ambiente uma sensagao de ordem e de boas 84 m todas procuram isto quando elaboram Em geral, as cosmologias com- TT rw rw www eee vee ees dentérias. Existem tentativas para responder a questo do igar do homem na natureza? As atividade n a terra e 0 cosmos? ipos de resposta, dois esquemas que sto couhecidos em diversas partes do mundo, Em um és- quema, 0 corpo humano é percebido como uma imagem do cosmos. No outro, o homem €0 centro de um sistema edsmico orientado para os pontos cardeais e para o eixo vertical. Estas 8a ras de organizagao do espago, sem um propé- ‘om o fim de obter uma sensagio de segu- influencia © suas necessidades e iniciativas. O corpo humano é aquela parte do universo mat conhecemos mais intimamente. Nao é apenas a iar 0 mundo (capi 4ja8 propriedades podemos sempre observar. O ‘squema hierarquicamente orgai esté impregnado com valores re les de fungdes gicas carregadas de emogo e de experiéncias sociais Nao é de adi natureza mull Norte con como wm. ser_conseiente feito de 808, carne ¢ cabelos,.Na China h4-uma crenga popular de que a terra é um ser c6smico: as montanhas so seu corpo,.as rochas seus ossos, ‘a Sgua o sangue que corre através de suas veias, drvores ¢ capins seus cabelos, as nuvens e a neblina os vapores de sua respiragto = a respiragiio césmica cu nuvem, que.é a esséneia visivel da vida" Na Europa medieval, era Sociedade Real de Londres. A A terra 60 corpo, A astrologia, Segundo Barkan e Cassirer, desde o inicio for microcésmica. O homem é 0 termo eruci: ecen \6 no universo é da procura do corpo humano, O corpo dois. nascimento ¢ gover € duravel dos Os individuos tém que trabalhar; tém que trabalhar a terra para ganhar a vida. A agricultura é afetada pelo tempo e elas estagdes, que por sua vez sofrem a influéncia das estre- las. Na iconografia medieval cristd, os signos zodiacais esto emparelhados com os fenémenos sazonais que se alteram com as fases da lua ¢ com o sol. Os padries estelares estio, por jados aos ritmos mais importantes do trabalho agri- gerais. Uma o antropocentrismo, que coloca o homem bem. no centro de universo. B amplat cola, por exemp! Aquirio | — a chegada da chuva ou ai Ganeio) Aries — aestapao de repredugo dos rebanhos (mag). Virgem —— a rainhn da colhoita (agosto), Nas fachadas das igrejas, aos signos astrais se acresi figuras humanas representando os trabalhos tealizados rante os meses, produzindo um “antropodiaco”, por ex. |. ‘Tenta tornar compres 's da classificacdo de seus elementos ¢ sugerindo indo feno influéncias mituas entre eles. Atribui personalidade ao es- Pago, conseqientemente transformando 0 espaco em lugar. tras palavras, no yém a sua parte menor, junto Cincer_-—umecfador julho Leto um homem ju ‘agosto Virgem um cohedor © esquema que consider imagem do nas individuais e 0 destino. Parao cristio medieval, 0 tempo e como um abrgo individual, é uma imagem do cosmos. © espago astral também afetam a-produgao da terra e a época Tanto os tragos is como os comuns dos planos em que deve ser trabalhada pelo homem, O esquema miero- do espago orientado podem ser ilustrados com trés exemplos. macrocosmos nao impée, diferentes: 's Saulteaux, os chineses e os europeus. Os. que agora vamos considerar. O segundo esquema coloca o homem no centro de um mundo definido pelos pontos cardeais. Esta idéia € ta0 difundida como a de Homo microcosmus. gias do Novo Mundo é bem conh belecido nas diregdes cardeais:* No Velho Mundo e desenvolvido em uma ampla Ares geo, Egito até a India, China e a0 nao tem um valor pratico imedi um contexto para aquilo 4 nntexto, os Saulteaux se trajetéria do sol e pelas pode ser pereebido, orientam pela estrela do Nort terior da Asia e das planicies da Sibéria." moradas dos quatro ventos. Estes so os pontos de referéncia Da Africa mediterranea, a idgia de espago orientado pode de um reino mitico, no eentro do qual vivem os indios. Os muito bem ter penetrado o dese-to para influenciar 0 pensa- ventos sto muito importantes no cosmos dos Saulteaux, Seres ‘mento cosmol6gico das comunidades da Africa antropomérficos, cada um deles bosquimanos do sudoeste da Africa estao fa a idéia de espaco orientado.” © espaco mitico orientado difere mui uma cultura para-outra, mas possi” ce ieantes. Os indios consideram o leste no somente como Have SIP oe SSI IIVIIDIVIx eR BvDdD aeseeu 104 Espago Mitico e Lugar a morada dos ventos, mas também como o Ingar onde o sol nasce; o oeste o lugar onde sol se poe. O sul é o lugar para onde viajam as almas dos mortos ¢ o lugar de onde vém os passaros do verao.” Conhevem as diregdes cardeai as rudimentarmente. O conhecimento preciso niio tem porque os Saulteaux nfo usim as posicdes das estrelas para ‘yviagens distantes. A construsdo de um reino mitico satisfaz. as ;cessidades intelectuais e psicolbgicas; salva as aparéncias € ‘9s acontecimentos. Consideram os fndios as moradas vyentos como possuindo a mesma realidade concreta, di ‘mos, da bala de Hudson, de que eles ouviram os viajantes ? Parece que sim. Irving Hallowell observa: ige no sul, Existe uma estrada que vai ; as almas dos mortos seguem por ela. Sat ia a Terra dos Mortos voltaram depois para suas fem e 0 que viram, Lemibro-me que meu intérprete ‘um velho indio que eu via do sul e que os Estados Unidos disse ums foam nessa diregto. O velho simplesmente ru de maneira sSbia-¢ no fez nnenhum comentario” iga civilizagao, Os chineses ¢ os indios quanto & populagio, poder econ Seus espacos miticos, no entanto, (s chineses, como outros povos, possuem um mundo de conhecimento empfrico, além do qual se estende um reino circum-ambiente dos fatos nebulosos ¢ mente gravadas. Como muitos grupos indf- indo os Maia, os Hopi, os ‘genas norte-ameri ‘¢ 0s Sioux Oglala), 0s chineses colocam o homem no centro do espaco compreendide nos quatro pot correspondendo a uma cor ¢, muitas yezes, tam animal (Fig. 9). © homem deseja ordenar suas exper do mundo; nfo é de surpreender que um mundo as nado’ gire em torno dele. A visdo chinesa do mundo ¢ al idere-se o desenho da cobertura Han. A telha é 0 cosmos chinés terra é retangular ida, um nos quatro jue representa 105 ~“Espago Mitico e Lugar Pucble aormundo @ cpm some CC. Visio ma cliasien do mundo: Modelo quadripetie, 0.900 .C. D, Orgontzaco espacial cissen main, toa plane, de expla reqlonal pare [tle dante: modelo hexagonal de1s0ac, ‘Fiyura 9, Bspagos mitico-concsituas. As visbes do mundo dos indios ame: \. C) e dos chineses (B) sto semelhantes np ‘em que @ isode Joyce Marcuse da Ameri ‘Science. Copyright 1973 pela American Association for the Advancement 106 Espaco Mitico e Lugar ‘a cor da vegetagdo e o elemento madeira. Como ocupa a diregdo do sol nascente, também é o simbolo da primavera. Para o sul fica a Fénix Vermelha do verdo € do fogo com o sol no zénite, Para o oeste est “o Tigre Branco do outono meta- fico, simbolizando as armas, a guerra, as exccugdes € a co- a conclusio frutifera e a calma da penumbra, branga, o remorso e os erros inall norte est a escuridao do inverno, de onde devem surgir todos 05 novos comegos. O norte esta associado a répteis, cor preta © gua. No centro do cosmos esté o homem na terra amarela. O homem nio est representado na telha Han, mas seus desejos uma rede espacial dos pontos cardeais, seu papel na estrutu: racdo do cosmos foi menos importante do que em centros de grande cultura como a América Central e a Chins Enquanto os chineses usaram um plano espacial com pontos cardeais para organizar os elementos da natureza, os antigos gregos usaram os deuses planetirios. Na |, atribuiu- uma cor, um animal ou um elemento a cada ponto cardeal a cada deus planetii ‘buiu-se uma cor, uma a yogal, um metal ou uma pedra” Uma cosmo- .da a um plano espacial te ‘nao apresente tal culado com base nos pontos cardeais, estes pontos, no en- ago € construgao 10). Na anti Grécia, as diregdes leste € oeste eram ricas de significados simbélicos. O leste tem conotagdo com luz, branco, céu € ‘o oeste sugere escuridao, terrae abaixo. A maioria dos ‘templos p6s-d6ricos estavam orientados para o leste. cia do pensamento grego e pré-grego, Nas obras de Sevilha (c. 560-636 d.C.) encontramos a idéia de que o uni- 107 Espaco Mitico e Lugar COSMOS PTOLOMAICO Viena, Ferdinand Berger so de Ferdinand Berger and Sons. ido em quatro quadrantes. Para Isidoro, 0 quadrante leste esta associado com a primavera, o elemento ar € as qualidades de umidade e calor; 0 oeste com 0 4 terra, a secura ¢ 0 frio; 0 norte com o inverno, a gua, © frio € a umidade; ¢ 0 sul com 0 verdo, 0 fogo, a secura e 0 108 Espago Mitico e Lugar que vinham das quatro diregbes cardeais* Os quatro qua- drantes foram certamente um prindpio importante para im. Por ordem no espaco dos tempos medievais, O cristianismo incorporou muites dos simbolos e ritos da antigidade paga em sua propria vsao do mundo. Entre os simbolos naturais de Cristo estaya o sol, A Biblia contém referéncias como “Cristo brilhara sobre vs" (Efésios 5:14) e“o sol da justiga que traz a salva¢do em seus raios” “nas. cera” no Dia do Senhor (Malaquias 4:2). A Semana crist& comeca com 0 Domingo* e, nos primeiros anos da. Igreja, os cristaos celebravam a ressurreigao de Cristo a0 amanhecer. Desde os primeiros tempos, a arquitetura da igreja revelava uma nitida orientag20 em relagio ay trajeto do sol mazia do leste no cosmos cristo é evidente nos mapas circu- lares (orbis terrarum) do periodo medieval. Nesses mapas, © este é apresentado na parte superior. A caboca de Cristo pode ser representada af; seus pés aparecem no lado inferior na posigdo do por-do-sol e do oeste; sua mao direita protege a Europa e a esquerda a Africa. Jerusalém ¢ 0 umbigo de Cristo edo mundo» Apresentamos dois esquemas espaciai corpo humano como sendo um microcosmos, 0 outro col homem no centro do cosmos ordenado pelos pontos cardeais, ‘HA uma questo subjacente em ambos os esquemas: como o meio ambiente afeta o homem, sua personalidade, atividades ¢ instituigdes? A influéncia, na astrologia, as vezes é julgada como sendo de natureza fi inal, sc os corpos celestes podem influenciar as marés eo tempc, por que t destino dos seres humanos? A relagio mais sutil e “simpatia’’** entre o homem e as estrelas. Na ordem co: ogica um considera © ) Domingo em inglés € Sunday, isio 6, dia do sol (N. da T.). (°*) Nosentidogrego e original do term, sympathés: "ter sent em comum’, Ou seja, uma relagto entre as pessoas ot as coists, ot entre pessoas e coisas, na qual o que afeta a uma, afets igualmente a outra 109 Espago Mitico e Lugar afetam mutuamente. Entretanto, 0 processo nfo é de causa mee! m de “ressoniincia”. Por exemplo, as cate- Borias leste, madeira, verde, vento e primavera esto associa. das umas as outras. Alterado um fendmeno — digamos, verde —, € todos os demais serdo afetados em um processo seme- Jhante a um eco miltiplo. Assim 0 imperador tem de usar a cor verde na primavera; se nao o fizer, a regularidade sazonal poderd ser perturbada. A idéia aqui enfatiza como 0 compor- ‘amento humano pode influenciar a natureza, mas também se acredita que 0 inverso possa ocorrer. A natureza afeta 0 homem: por exemplo, “quando a forga yin na natureza est em ascendéncia, 0 yin no homem ascende também, e pode-se esperar um comportamento passivo, negativo e destrutivo,”” A influgncia ambiental aparece nitidamente na ordem cosmo- Togica dos indios Saulteaux. Assim, os ventos no sto apenas poderes da natureza que precisam ser classificados e locali- zados no espago, mas sao, também, forgas ativas em conflito sobre a terra intermedifiria onde mora o homem. O Vento Norte anuncia que nao pretende ter piedade dos homens; 0 Vento Sul, por outro lado, pretende tratar bem os homens. A verdade 6 que 0 Vento Norte no pode yencer o Vento Sul em uma batalha, significando que o yerdo sempre retornara, Os astrOnomos gregos dividiam os céus em zonas. No século VI antes de Cristo, esta divisto era também aplicada ao slobo terrestre. Das cinco zonas latitudinais transpostas para a terra, apenas as duas zonas temperadas eram habitéveis. Desde © inicio, a ciéncia geogrifica grega teve uma nitida conotagao astrondmica. O clima tinha o poder de determinar, © 0 clima antigo era “a inclinag%o do céu". Na época de a palayra Klimata referia-se a latitude terrestre, medida que podia ser determinada pela elevaco do sol.” O sol, um corpo celeste, exercia uma grande influéncia sobre a terra e seus habitantes. Os temperamentos e as capa- cidades das pessoas se diferenciavam, dependentdo da faixa latitudinal em que viviam, As regibes frias (norte) e as regides uentes (sul) apresentavam personalidades contrastantes, A partir do século V antes de Cristo, 0 pensamento ocidental continua a se preocupar com os temas do ambienta- polar aceita que as I": as pessoas no dem a ser vigorosas € \doras, as pessoas no fendem a set calras © habilidosas. A prépria Europa é " Dentro dh Europa, pales como Thpla- terra, Franga, Alemanha'e Icilia mostram diferengas acentuadas. Cidadaos com algum conhecimento de seu nte ndo encontram palavras para comparar e contrastar as duas partes, usando uma linguagem que mistura indiscriminadamente fato com fantasia. Os paises tm suas ‘geografias fatuais ¢ miticas. Nem sempre é facil ex separadamente, nem sequer dizer qual € a mais importante, di 0s contrastes entre norte e sul, entre paises entanto, como muitos outros povos, os gregos também at a fonte da vida. Cont 0 grande quantidade de lendas fora marcha diaria pelo firmamento. O leste ¢ 0 oeste foram damente diferenciados. O lese, lugar do nascente, era asso- ciado com a Iuz-e 0 céu; 0 oeste, riddo e a terra, O lado da mao Ieste e 0 sol, 0 lado da mio esq (fade como © sol se movia de leste para oes seguia a mesma direcdo. O bispo Berkeley escreveu 7 Espaco Mitico e Lugar tempos modernos? Podem-se discet s pontos cardeais no conhecime -continente 6 designada por “Ocidental”, “Norte” € silo rétulos € nodo, ruas de cidades dos Estados outros nomes. nada mais, Do mente sugere que uma pessoa vive mais perto do sol. Parkas oa Est Untsoy ents oat oe ene Norte e Sul, Leste e Oeste. Os rétulos resi Unidos nao sto promulgados pela autoridade central, 2 ma- a do que acomtece na Ai com os termos direcionais; 05 nomes e significados das 1m 0 tempo, como parte ratura de um povo." No ais, 0s pontos cardeais regides americanas si0 adqui do aumento do conhecimento estilo ligados aos acon ‘coin seu poder sobre ricano nfo é um cendrio preparado para a represeatarto do drama e6smico; porém, como mostram os romances regionais ea literatura, o me especialmente o clima, desempena um papel importante ao dar personalidad a re~ oNordeste ¢ 0 Oeste® No espaco mitico das de centro ow de um centro ou micleo 6 também nportante para o espago norte-americano* Porém 0 movi- jento € outro fema-chave na hist6ria norte-americana. O movimento de pessoas para 0 oeste, coi de fascinacao do Oeste como um ideal simetria que 0 conceito de-centro tras Dato termo “Es- SW Oy rer i | m2 Espaco Mitico e Lugar sofisticado. O espaco fambém uma resposta do nto e da imaginacdo 4s necessidades humanas funda- fi- de esata & Ga con -amente um cosmos pode ter apenas um centro; tieo ele pode ter muitos centros, se bem que todos os 01 ‘no pensamento um centro pode dor jento do todo, mas a parte nao é 0 todo e1 tura e em esséncia. No pensamen na cidade, da qual a casa 6 uma parte; ¢ finalmente, no do qual a cidade é uma parte. © pequeno espelha o grande. O pequeno € acessivel a todos os sentidos humanos. Suas mensagens, por estarem firea, sio facilmente percebidas e wwacao do esforgo humano para través da criagao de um mundo tangivel que ai as experiéncias, tanto as sentidas profundai las que podem ser verbalizadas, tanto as individuais como as coletivas. iodo grande pars Espaco Arquiteténico e Conhecimento m, como os seres humanos, em ‘rufdos por si mesmos, em vez de vi- mente na natureza. E animais mais 1m 05 pAssaros e os mamiferos, nao sdo as tinicas fazer seu ninho com formas diferentes, alguris redondos, ou- tros com forma de péra, No entanto, sabemos que alguns constroem melhores ninhos no segundo ano do que no primeiro. Os passarvs teceldes so capazes de aprender atra- vés da experiéncia, o que quer dizer que nem todos os detalhes do seu trabalho sao controlados pela heranga. Como outra itustragio de proeza arquitetOnica, consideremos as térmitas, crescem como arranh as contém: sofisticados eOmodos ventilados, para elas, mas rrdins de fungo para producio de seu tas da mesma espécie ado:am sistemas diferentes na Uganda e Aguas e as chogas de barre cobei Seos , Devern repousar no conheci . ie 0 bosquimano, quando constréi seu abrigo 4, est mais consciente do que faz do que 0 pas- 0 fazerem suas elegantes casas, € @ qualidade deste conhecimento? De que esta tor humano, visto que pi espaco e depois passa a hi complexa 105 de experiéncia e eo: mem pode aper- na. E verdade que, a, as Pessoas so capazes de € exterior, fechado e aberto, escuridio e luz, privado e p Mas este tipo de con! cimento € rudimentar. O espaco arquitetOnico — at simples choga rodeada por uma clare Sensagdes ¢ transformé-las em algo cor € a seguinte: 0 meio ambiente construi lo © ambiente € planejado te € a propria natureza. Uma cidade planejada, até uma simples moradia pode ser um simbolo do cosmos. Na falta de livros e instrugtio formal, @ arquitetura é uma chaye para compreender a realidade, e Conhecimento Examiremos com mais detalhe estes tipos de e conhecimento. Preocupam os -letradas e tradicionais. O tra- ido, seguindo 0 procedimento Aveis. De qualquer modo, eles tém pouca dade e os materiais dispontveis sio ide de ser original. Ele po- selecionar ¢ combinar a partir dos inimeros oftrecidos pelas culturas do mundo, passadas e pre~ sentes, F, a de téenicos que ele Enear- ‘0 claras,? do projeto, o conhecimento do arqui- {eto € exigido a0 maximo para acomodar todas as formas m ‘Navajo construida de paredes os apoindas em estacas de madeira (N. da), Conhecimento decide, Infelizmente nao ha evidéncia para respostas claras. Hi poucos levantamentos etnograficos sobre a alividade de construcdo como um processo de decisto, de comunicagio © aprendizagem. Ao contrétio, chegas e las so descritas como aparecidas simplesmente, como sreseimentos naturais, sem 0 de uma mente pensante ‘Tais retratos, para dizer 0 menos, sto enganosos. Durante a vida de qualquer pessoa aparecem oportunidades de escotha, e devem-se tomar deci- ses, ainda que nao sejam prementes. Os némades, por exem- lo, precisam decidir onde parar para pernoitar, onde erguer suas tendas. Os agricultores itinerantes devem saber onde abrir a clareira ¢ constru F ‘Material e forma , ainda que pouco, no tempo lugar, forgando-o a pensar, adaptar, inovar, As sociedades camponesa e iletrada s40 conservadoras, Scus abrigos mostram pouea mudanga com o passar do tempo, ¢ no entanto — paradoxalmente — pode ter maior conhecimento sobre as formas de construgao e de espaco a comunidade tradicional do que a moderna. Uma causa deste grande conhecimento é a participagio ativa. Como as socic- dades iletrada © camponesa nic tém arquitetos, cada um constr6i sua propria casa e ajuda a construir.os lugares pi- blicos. Outra causa é que 0 esforgs, que 0 conhecimento esti mula, € provavelmente repetido muitas vezes durante a vida do homem. Os abrigos primitivos combinam a persistén: forma com a efemeridade do material. A construgao ¢ a re- forma sao atividades quase constantes. Uma casa nao é cons- trufda uma nica ver para ser desfrutada para sempre. Os esquimés, nas cagadas de inverno, cada noite fazem uri iglu, As tendas dos indios raramente duram mais de uma estagio, A cada poucos anos, os agricultores itinerantes deverm abrir ‘uma clareira na floresta e construir out ‘Uma terceira causa deste de que em muitos povos primitivas e tradicionais 0 ato de mnstruir é um assunto sério que nec: (os cerimoniais ¢ Iver, sacrificio.’ Construir é um ato religioso, o estabeleci uz Espaco Arquiteténico € Conkecimento mento de um mundo em meio de uma desordem primeva, A Tite, POF Pteocupar-se com as verdades permanentes, con: ibui para o eonservantismo da forma arquitetOnica, Care o Gidades com as mesmas formas so construidas uma ¢ ores pez Game se safssem do molde de algum processo irrefletido de producto em massa; no entanto, cada uma 6 provaveliments de centhe 3 Comum sentido de solenidade. O construtor, longe de sentir que esté fazendo um trabalho rotineiro, 6 ot igado Pela cerimOnia a verse como participante de um ato tremens’ A ocasiéo eleva o sentimento e aguga o lento, mesmo que as etapas reais a serem seguidas na Peusto correspondam a um padrfo mais ou menos esta, belecido. Um tipo de conhecimento espacial que povos de eco: a visho GaPles 180 utilizam € 0 projeto sistemtico e formal, daae 20 Tesultado final pelo deseno de planos. Qualquer Grande empresa requer uma organizagio consciente. Isto pode Falretanto, quando a empresa atinge um ponto de comple, ade as instrugtes devem ser apresentadas formalmente pera em. AG fazer os esbogos, o arquiteto esclas nas Proprias idéias e eventualmente consegue um plano detalhado, Com os mesmos meios, ele ajuda os outros acon preaider o que deve ser feito. © plano é necessério para qualquer empress arquitetOnica que se alonga durante ara fempo ¢ € executada por um grande grupo de trabalhadone Conc, menos especiatizado. Conceituar 0 espago arquite. {nico com o auxtio de planos nao 6, certamente, um rerun moderno, De accrdo com John Harvey, desde 0 Egito de Traades do segundo milénio antes de Cristo, hd evidéncia cons tinua do uso da escala no desenho arquitetdnico, em todee og Erandes culturas do Oriente Préximo e Médio e na Europe Cliissica e Medieval. Realmente, en fins da Idade Média, apareceu na Eurpa ¢,Prot6tipo do arquiteto moderno. Ele era o mestre constne jor um honiem de isdo e temperamento que nao hesitava em: impor ao desenho a sua propria personalidade. O mesen Espaco Arquiteténico © Conhecimento coustrutor tinha uma certa liberdade de escolha; podia, por exemplo, selecionar 0 arco g6tico que estava em yoga em lugar do antiquado romanesco, O tamanho era outra area que Permitia uma certa liberdade. Um edificio pode: mal, € no entanto permitir que o arq) a construgio de qui isto é uma ansia de tes, ainda que apenas no ta- nho € nos conccitos de decoragao, Os ricos patrocinadores Poderiam compartilhar da megalomania de seus arquitetos As instrugdes tendiam a ser antes gerais que especificas, O abade Gaucelin (1005-1029 d.C.) decidiu constru leury uma torre no lad i ‘iro com as pedras quadradas strugdo ao ar ‘onstrua-a para ser um modelo para toda a © fim do periodo medieval conheceu um: tural, notadamente na arquitetura monument tempo os valores cristéios permaneceram intatos ¢ serviram Para unir pessoas de diferentes posigdes sociais. A construgao de uma catedral despertava o entusiasmo em uma grande comunidade de crentes. Quando Chartres estava sendo cons. de Torigni escreveu exultantemente que 1.145 s, nobrese plebeus, juntos dedicaram todos 05 ¢ forcas espirituais na tarefa de transpor. tar em carrinhos de mao 0 material para a construcdo das torres Estes relatos sugerem que levantar um edificio era um ato de oragio, no qual os sentimentos e os sentidos das pes- Soas estavam profundamente comprometidos. A estrutura vertical do cosmos medieval nao era, portanto, uma doutrina tinha de ser aceita pela fé, mas, sim, um ser visto e sentido como os arcos € torres erguidos para 0 céu. No século XVI, uma obra arquitetOnica Gedicada a Deus ainda podia inspirar fervor entre os operdrios © @ Povo, © que hoje nos parece incompreensivel. A seguir, 8 descri¢io do historiador Leopold von Ranke sobre 0 ato de erguer 0 obelisco em frente de So Pedro, em 30 de abril de 1586, inovagao cul- |. Ao mesmo 9 Espago Arquitetinico € Conkecimento ecmuer © obelsco] fo um trabalho extremamente dif ‘omaram parte nisso par spirados pel Darticipando de um trabalho que serie f opetatios, em niimero de norecentos a intes de Todes os que Sentimento de que estavamn , confessaram-se © cerimonia, entraram no servigos. O mestre se ara por em inaria que ia ergué tentativa, 0 obeisco foi [ees €Bermaneceu assim por centoecinguenta soe evantado dois palmes eum quarto fh 2 obelisco em toda a sua may Santo Angelo, triunfalmeni Ao longe ume trom: ‘rentes niveis: ao de visualizar espacos suits pt ane Tena a ps mnateigt a 2° SOTO & alma, na eriagho de ome wee ‘material que capture us sal. Uma vez leangada, a forma arquitetonica 6 um meio ambiente como € que ela influencia cigncia? ‘A analo o sentecantém e intensfcam 0 sentimento, Son sere desaparen'® tinge um maximo momenténes e raphe desaparece. Talvez uma razio Por que as emogdes dos ani- arquitetura, os esbago permanecem difusos e fugazes. sentido de um “interior” e de um “exte. de intimidade © exposicao, de vida privadae ie espago r Publico. Em toda parte, as pessoas reconhennn: estas diferet as, mas pi ma vaga consciéncia delas. A forma Sonstruida tem o poder de aumentar essa eonsciéneia e tornar TTS WwW CU TIF SSESEE EE ESS EES i 120 Espago Arquitetonico ¢ Conhecimento mais nitida a diferenca existente na temperatura en entre “interior” e “exterio bisico era uma cabana semi Ihante ao titero que contrastava nitidamente com 0 espago la fora, Mais tarde, a cabana foi construida acima do sol abandonando o modelo usado no chlo, mas conservando e acentuando 0 contraste entre interior e exterior através.da retilinearidade agressiva de suas paredes. Ainda em uma etapa posterior, que corresponde ao comego da vida urbar aparece o patio domiciliar retangular. Devemos ressaltar q essas etapas na evolugio da casa foram observadas em todas as freas em que a cultura neolitica se transformou em urbana! A casa com patio interno, certamente, ainda existe — no se tornou obsoleta. Seu aspecto basico 6 que os quartos se abrem para a privacidade do espago interior, ¢ acham-se vol- tados para o mundo exterior seus muros lisos. Dentro e fora sfo claramente definidos; as pessoas podem ter certeza de onde estio. No interior do recinto, nao perturbado pelas dis- tragdes do exterior, as relagdes ¢ sentimentos humanos podem alcangar um alto nivel de calor que pode até se tornar descon- fortavel. A nogo de interior e exterior é conhecida de todos, mas imaginemos quao tremendamente reais podem ser quan- do um convidado ~ apés uma recepcao social — deixa o patio iluminado pelas lanternas ¢ sai pelo portio da lua’, em dire- do A ruela escura e varrida pelo vento. Experiéncias deste lipo cram comuns na sociedade tradicional chinesa, porém elas sto bem conhecidas de todas as pessoas q on Como se sentir 0 comprador em um lugar como este? A medida que se aproxima do shopping center, a0 cruzat com ‘ular utilizada na arquitetura ‘um muro(N. doR.). (*) Porto da lua: uma abertura ESPACO INTERIOR E A CASA COM PATIO INTERNO. 1B. Casa erm Onsaen, Mésten, ceo e600 4.C. ed ‘A. Chan em Ur cote de 2000 2.0, pal en 5 y \ ci a ae igure 11. Espaco interior ea casa com pAtio interno, Eis equi um tipo de que transcende tempo e cult UD foi adaptada ie Andrew Boyd, Chinese A Planning. Chicago, University of Chicago Press, 196, 122 Espaco Arquiteténico ‘e Conhecimento seu carro a imensa drea cberta do estacionamento, ele s6 pode ver as solidas paredes, que, exceto por um grande letreiro comercial, nao faz nentuma tentativa de atrair as pessoas. A imagem é desoladora. Estaciona seu carro, transpde a en- trada do shopping e, ao entrar, penetra em um mundo encan- tado de luz ¢ cor, plantas ornamentais, fontes borbulhantes, mésica em surdina e compradores passeando? As dimenstes espaciais como vertical e horizontal, massa e volume sio experiéncias que 0 corpo conhece intimamente; sdo sentidas, também, cada yez que se finca uma estaca no chio, se constréi uma choca, se prepara a eira para debulhar 6s griios, ou se observa a formacao de um montio de terra quando se cava um pogo profundo. Porém 0 significado destas dimensdes espaciais cresce imensuravelmente em poder e cla- reza quando elas podem ser vistas em uma arquitetura monu- mental e quando as pessoas vivem em sua sombra. O Antigo Egito ¢ a Mesopotamia engrandeceram a consciéneia do es. pago da humanidade, aumentaram o conhecimento das pes- soas em relacdo a verticale horizontal, a massa e a volume, a0 construfrem suas pirdmides, zigurates e templos, exemplares de grande altura.” Herdamos este conhecimento, Os arqui: tetos modernos planejam com estas dimensdes em mente. O leigo, sensibilizado pelo jogo dramatico de forga e repouso, aprende a aprecié-lo onde quer que apareca, na natureza como nos objetos feitos pslo homem sem nenhuma pretensao estética. Vemos drama e significado no cone vule’nico que se eleva acima da planicie e nos silos de Nebrasca. A seguir, a descricao de Wright Morris sobre os simbolos de uma cidade da pradaria. Para ele, 0s silos so os monumentos das pra- darias. Ele observa: los, como hi para todas as coisas, mas as forgas por tris da razio, a razto da razio, 6 a terrae o céu. Em primeira lugar, hi demasiado efu Ié fora, demasiado horizontal, demasiadas linhas, de modo que o ponto de exclamago, a perpendicular, apareceu, lum que tenha nascido e ereseido na pradaria sabe que & Armazém de Forrager e a torre branca da caixa @'igua ni vaidade. E um problema de sutsisténcis, De saber que voc est H& uma razao simples para os 123 ‘spaco Arquitetinico Conhecimento Um terceiro exemplo de como a arquitetura pode ay ituagao da reali nado. O espago € uma experiéneia corriqueira. J4 obser- intitese permanente ¢ universal entre “interior” € Historicamente, o espago interior era escuro e es- nao somente acontecia nas moradias humildes como também nos edificios monumentais, Os templos egip- cios ¢ gregos dominavam o espago externo com suas propor ses clegantes e imponentes; seus interiores, entretanto, eram avaneados & ‘ados. A histéria da arqui- mostra muitas mudangas de estilo mas, se- le arte tre os grandes constru- tores « desenvolvimento de um interior iluminado e espagoso foi um ideal comum, desde o periodo romano até 0 barroco. © pantediode Adriano foi um dos primeiros a atingir este ideal. Seu interior alcangou uma simplicidade sublime. O Panteao consistia essencialmente em um timpano cilindrico encimado por um enorme domo hemisférico; a luz solar, ao entrar pelo deulo central, iluminava 0 espago completamente vazio do edificio (Fig. 12). Os desenhos arquiteténicos e as junto com a fungao continuou aumentando, luz € 0 espago se combinaram para produzir efeitos de beleza mistica. Os interiores inundados de luz das igrejas barrocas e dos sagudes foram outros esforcos para explorar as possibilidades de um coneeito de espago mais importante e duradouro. Nesesbogos do desenvolvimento arquiteténico como estes, tragamos 0 crescimento da capacidade humana de sentir, ver e pensar. Os sentimentos ¢ as idéias confusas so esclare. cidas na presenga de imagens objetivas. Talvez as pessoas no apreendam completamente o significado de “alma” a no ser due tenaam visto a projecao de um templo grego contra 0 céu azul, ov de “‘macica energia vit ou até de vastidao perguntar, seré ie @ natureza no proporciona imagens ee ee ee ee ee ee ee) 124 Espago Arqui e Conhes 1 mongol Renee 8 obras-pr panteto de Adriano: 0 domo é a abébada celeste, e abertura central 6 9 ferente & a experiéncia: entrar no yurt rene evoca a mesma sensaglo que se tem a0 ‘entrar no interior abobadado do panteto. Adapiado de Sigtried Giedion, Architecture and the Phenomena of Transition. Cambridge, Harvard Uni 146, fig. 116. ainda mais pujantes? O que dé uma maior sensagao de calma do que um mar trangiilo, ou de energia exuberante do que uma floresta virgem, ou de vastidao do que a extensio sem fim das pradatias? nas & duvidoso se os seres humanos podem simplesmente aprender estas qualidades na natureza sem uma experiéncia prévia nas formas ¢ escalas sensiveis da tenda do is disso pode cfreulos e processos ciclicos em qualquer lugar na reza: na forma dos ninhos dos passaros, no redemoinho das estrelas. do vento e no movimen éopt transmitir uma tradigfo, para explicar uma visio da realidade, Para os povos pré-letrados, a casa pode no ser apenas um abrigo, mas também um lugar para os ritos e 0 centro da atividade econémica. Tal casa pode comunicar idéias ainda mais efetivamente do que pode o rito. Seus sim- bolos formam um sistema ¢ sao nitidamente reais para os membros da familia 4 medida que passam etapas da vida (Fig. 1 ior, 0 proprio imbolo importante. Vejamos as vilas mado “aquele Sua casa-ampla, localizada na parte domina 0 povoado. A parte supe- te de uma pessoa é claramente indicado pelo tamanho e local de sua casa. Os escravos vivem ou no campo, al ou embaixo das casas da vila e compartilham o espaco com os porcos. Este tipo de mundo lembra constante- mente ao homem onde ele se situa, tanto na sociedade como as formas (egradas. tém uma alta ividade econdmica pode ser considerada profana, mas + por sis6, é um con ioso. A vida moderna; tende a ser compzrtimentada. O espaco em hosso mundo contemporineo pode ser planejado' ¢ or¢ para chamar a atengao para a hierarquia soci nao tem significado religioso e pode nem inada a exem- 127 Espaco Arquitetonico Todos 0: modelos de povoamento revelam pelo menos ordem social e conforto funcional. Outros tipos de ordem podem ou nio estar superpostos. O sig espaco é ca tico da sociedade tecnoligica ocidental, mas nfo se limita a ela. Também esta presente nos povos de economia ¢ es:rutura social as mais simples. Um exemplo sio s pigmeus dafloresta do Congo. O espaco por eles criado 6 0 acampamento, uma clareira na floresta com chogas cénicas arranjadas em forma de em frente as outras. Um versa de sua porta, do acampamento.” -ragio entre amigos e paren’ O centro é pill é - O espaco construido informal ntificidos com a floresta que os rodeia. Os es- eligioso sto entéo separados (Fig. 14). Os pig- talvez conscientes de que 0 que fazem e constroem irado com a floresta circundante © s pelo homem nao podem, como truido, pens significado ¢6: O espago erquitetdnico revela ele instr varios , as torres se tes e retros- da catedral ha AS eravuras nos icam os ensinamentos da Bi alfabetos. Ha intimeros sinais ‘4, a pritica eo n doutrina Cer eenccerecnnnreceer Espago Arquitet6nico e Conkecimento ACAMPAMENTO PIGMEU: ESPAGO SOCIAL E SAGRADO CS choga pessoal © naperiferia da clareira ‘Figura 14, Acampamento pigmeu na floresta Gmida de 1 trandoo espago pessoa, sociale sageado, Adaptado de mot th ‘Scientific American, v. 208, 1963, p. 8. respondem com um ato oelhar-se. Outros simbo- ugere sofrimento, ex- piagiio e seus detalhes ¢ um simbolo do parai medieval, é mais do que um cédigo para os sentimentos ue podem ser facilmente traduzidos em palayras, bolo direto e nao requer mediacdo lingiistica. Um objeto se torna um simbolo quando sua propria natureza 6 tio clara e to profundamente m nento de algo dade Média Ele ¢ reverente e sabe céu sao aquelas res acima dele, tem grande esplendor e est banhado de luz, liurna, Entretanto, sio apenas comum, quando cle tenta visualizar o paraiso através do poder de sua propria im: ‘A beleza do espaco ¢ a luz que apreender passivamente outra nos agora para a Terra e para 0 mundo moderno, Como o espago arquiteténico moderno afeta o conhecimento? Nao mudaram, nos aspectos importantes, as principais ma- fluenciam os homens ¢ a sociedade. O espago ‘a a articular a ordem social, embora fardalhaco ¢ rigidez do que no pasado. nte moderno construido ainda mantém uma fungao is e cartazes informam e dissuadem, A 1a a exercer um impacto direto sobre os 5 € os sentimentos. O corpo responde, como sempre aos aspectos basicos do plano como interior ¢ exte- wz. Os arquitetos, com 0 auxilio da tecro- , ém aumentado a gama da consciéncia espacial hu- as ou refazendo as velhas em uma 130 Espago Arquiteténico ¢ Conhecimento Fotas sio as perduraveis, Quais sfo algumas das mudan- cas? A participagilo ativa é muito escassa. No mundo mo- Gerno, as pessoas nao constroem suas proprias casas, como 0 favem nas sociedades pré-letradas € de camponeses, nem se~ ‘pam de maneira simbélica na construgio de \énias proprias da atividade constry que se pensava ser ac mundo, tém diminuido sensivelmente, de modo que na cons- trugao de um grande ediffcio pablico somente permanecem os gestos pouco significativos de assentar a pedra fundamental ¢ de telhar. A casa nfo 6 mais un texto que agrupa as regras de ‘mportamento e até uma total visio do mundo que pode ser cansmiti lugar de um cosmos, a sociedade moderna tem crengas divididas e ideologias confli- tantes, A sociedade moderna é cada vez mais letrada, 0 que significa que depende cada ver menos dos objetos materiais do meio ambiente fisico para corporificar o valor ¢ 0 sentido de uma cultura: os simbolos verbais tém progressivamente deslocado os simbolos materiais, e os livros instruem mais do que os prédios, (Os proprios simbolos tén: perdido muito de seu poder de reverberar na mente e no sentimento, pois este poder depende da existéncia de um mundo coerente. Sem este mundo, os Simbolos tendem a se tornar iadistinguiveis dos sinais. Postos ide gasolina, motéis* ¢ lanchonetes ao longo das estradas tém seus sinais especiais que pretendem sugerir que estes no sfc, ‘apenas convenientes, mas bons’ lugares para os motoristas descansarem. Os hotéis da cadeia Holiday Inn prometem quarto, comida e servigo de boa qualidade. Que mais dizem cles? Certamente podemos pensar em outros valores, mas ‘uma caracteristica do simbole vivo é que ele nfo requer expli- cago. Vejamos 0 moderno arranha-céu. As pessoas que 0 conhecem, possivelmente tém uma ampla gama de opinides (#) Nos Estados Unidos, a palavra motel conserva seu significado ‘om hotel respeitvel, localizado & beira das estradas, pessoas que vajam de earro(N. da.) 131 Espago Arquitetinico Conhecimento respeito do seu valor ¢ significado. Para alguns é agressivo, arrogante e monolitico; para outros, ao contrério, € ousado, legante ¢ flexivel. Estas opinides divergentes — até mesmo do fato de que o arranha-céu é falla de consensus gentium em relagao aos tura moderna. Voliemos novamente catedral gotica. Tal como acontece com 0 arranha-céu moderno, 6 capaz de pro- vocar opinibes divergentes. Tem sido denominada “uma ex- ‘a melhor obra imagem arquitetOnica de flo- ie izagiio licida de_matematicas ‘Mas 08 exemplos aqui citados silo visdes Lite- ‘os que viveram em épocas posteriores. Para aqueles que construiram a catedral e para os figis que nela rezayam, 0 edificio, provavelmente, nao precisava de maiores explicagies literdrias. Nessa época de simbolos concretos, as pessoas padiam aceité-la como o Atrio do paraiso, um artefato belo em si mesmo e, no entanto, revelador de um reino muito mais nobre. PPP DPSASAIFII FISD SIDI D SH DDEEDDEY 9 Tempo no Espago Experiencial esta, entretanto, im de movimento, dade. O proposito dest citamente com 0 espago. ‘A-exporién: consciente, Temos um sentido de espace porau: mover e de tempo porque, como seres bioldxt salma. O movimento que nos di ido de espago é ein SH mestio a solugdio da tensio, icamos nossos membros, experi ‘a esfera de duragio na linguagem. Freqientemente o comprimento ¢ dado des de tempo, O espago arquitetonico, porque parece refle- tir os ritmos do sentimento humano, tem sido denominado de zado. A passagem do ita como “comprimento”. O ), por exemplo, quando as pes- soas falam dos “grandes momen figurada que, segundo Langer, € psicologicamente mais. pre- nal ou tempo atarefado.' A vida ia na sociedadle moderna requer_que estejamos conscien- es do espago e do tempo como dimensdes separadas € como medidas transponiveis da_mesma_experiéncia. Preocupamo- Fo carro, se chegaremos atra- ‘mesmo quando calculamos a neira de elaborar um mundo espéci Se a pessoa nao tem um sentido de espaco bem articulado, terdela um sulado? O espago existe no presente; como se adquire uma dimensdo temporal? Consi- deremos a possibilidade de que o préprio meio an fluir na elaboragio de um mundo espacio-temporal. Os meios ambientes naturais’ variam visivelmente na superficie terrestre, e 0s grupos culturais diferem na maneira de peree- ber e ordenar seus meios tes; porém em quase toda parte as pessoas distinguem dois tipos de espaco, a terra € 0 e6u. Os pigmeus do Congo sto uma excegio notivel? Por tarem completamente envolvidos pela densa floresta, a dis- s estrelas, nos quais medigdes recorrentes do tempo, raramente podem ser vistos. A vegetagdo camufla todos os referenciais. Um pigmen nao pode de um promon- tGrio observar 0 espago diante dele; no pode perscrutar 0 horizonte onde esto ocorrendo os acontecimentos que mais tarde poderao afeté-lo, Nao aprende espontaneamente a tra- duzir 0 tamanho aparente de um objeto a distincia. Por cexemplo, ele tende a ver 0 bifalo distante como um animal muito pequeno.* A distfncia, ao contrério do comprimento, yresta, 0 que pode significar fos dio um sentido de dis- Ihos podem potencialment ago visual tende izado. Os ruidos da floresta eles produzem antes um um planalto semi-frido. Quando o ar esta claro e seco, podem enxergar a grandes distincias. Seu meio ambiente é de vistas panoramicas e referes 10.0 ventre materno, dos habi- . Como so percebidos e integrados De acordo com Benjami tantes da flores espaco e 0 tempo no mundo hi aos sentidos, tanto o presente como o passado, tudo 0 que chamamos de futuro. A reali ou subjetiva & 0 futuro e a mente. ‘as. O espaco subjetivo pertence ao coragao das 135 no Espaco Experiencial ). Para.um povo agri- trar as posighes do cola como os Ho; nascer e do pér-do-sol, que mudam durante 0 ano, no hori- vundante. A distincia pertence a0 reino objetivo. Os Hopi nao abstraem tempo da distancia, e por isso a questi de simul- taneidade é para eles um problema irreal. Nao perguntam se os acontecimentos em uma aldeia tempo que estdo ocorrendo em sua propria aldeia. O que acontece em uma vila distante pode ser-conhecido aqui so- ‘mente mais tarde. Quanto maior a distineia, maior o lapso de tempo e menor a certeza do que aconteceu lé longe. Assim, a distancia, embora pertenca ao reino objetivo, tem seus tes. A medida que o plano horizontal objetivo se distancia do observador para uma distncia remota, chega-se a um ponto em que nio é possivel conhecer os detalhes. Este € 0 limite entre 05 reinos objetivo e sul 0 pasado eterno, um. pais conhecido através dos mitos (Fig. 15). 14 muito tempo e muito longe” sao as palavras iniciais de muitas lendas e contos de fada. Associar um lugar remoto com um pasado remoto é um modo de pensar que os Hopi compartilham com outros povos. A associagao apbia-se na experiéncia, Segundo 0s Hopi, 0 que acontece em uma aldeia distante pode ser conhecido por mim em meu lugar somente depois de um lapso de tempo, “Hé muito tempo” é a Idade de Ouro.* Antigamente € idealizado como 0 tempo quando os deuses ainda andavam pela terra, quando os homens eram her6is e mensageiros de cultura, € quando a doenca e a velhice eram desconhecidas. A Idade de Ouro é envolta em mistério, estd além das experiéncias seculares do tempo. O tempo secu- lar impie limitagdes. £ sentido como fases alternadas de expectativa e realizacio, esforgo € descanso. O tempo secular acompanha as periodicidades curtas e observaveis da natu- reza. Os ancestrais ¢ herdis do mundo mitico transcendem estes ciclos normais da experiéncia humana do tempo; vivem num passado eterno, zont VU OEE SEE LL ee ey 136 10 Espaco Experiencial ESPAGO E TEMPO DO HOPI: OS REINOS SUBJETIVO E OBJETIVO Figur 15 Espago tempo dos Hopi enossubjetivo e bjtv. O reine tivo € o espaco horizontal destro dos pontos eardeais, mas que nas imargens distantes se mesela com ¢ reino subjetivo representado pelo eixo vertical A cternidade é outra qualidade dos lugares distantes. Na crenga taofsta, os paraisos elernos esto localizados miriades de quilémetros de qualquer povoado humano conheci A mente européia também imaginou as Terras sem Mi Edens e Utopias eternas em lugares remotos ¢ inacessiveis. ‘Quando os europeus, em suas grandes exploragdes maritimas, descobriram povos exdticos e culturas nos cantos mais quos do mundo, tenderam a romani 137 Tempo no Espago Experiencial dos modernos etné- € de ruinas que teste- hem as épocas passadas pode ter estimulado esta crenca. Por outrc lado, os etnégrafos, como outras pessoas, podem estar predispostos a associar o distante com 0 eterno. O de- sejo, comum entre os turistas, de viajar 0 mais longe possivel de suas casas € também sugestivo. Os lugares de veraneio remotos esto npo: para os Hopi estes as suas linhas sio paralelas e se estendem para o infinil a de projegiio ortogréfiea remonta aos antigos gregos. A pintura de paisagem, com seus objetos org: de um porto de fuga para onde convergem as mais coma mancira humana de olhar 0 mundo; no entanto, na Europa somente no século XV. Desde entdo as imultaneidade do to no tempo — isto é, uma seqaén- irreversivel de acontecimentos —"" tém se tornado cada vez. mais populares? Ver a paisagem em perspectiva preempt ‘A imagem do tempo como péndulo oscilante a circular deu lugar & imagem do tempo como, . O espago e o tempo ganharam subjetividade ao serem orientadospara o homem. Certamente espago e tempo sempre estiveram estruturados de acordo com os sentimentos e neces- sidades hunanas individuais; mas na Europa este fato atingi quase a superficie da const les camara pode agora magem que transforma o tempo em ritmo. B8 Tempo no Especo Experiencial Sob a influéncia des imagens de paisagem, pintadas ou Captadas pela méquina fotogratica, aprendemos a organizar QS clementos visuais em uma dramética estrutura espaci, femporal. Quando olhamos uma cena campestre, quase aut Maticamente arranjamos os seus elementos de mado que fi atuem colocados ao longodo caminho que desaparece ne hori, Zonte distante, Outra vez, quase automaticamente nos vemos andando por esse camisho; suas bordas convergentes va, como uma flecha apont: destino ¢ futuro. O hori Luo. AS estituas dos estadistas so colocadas em altos ped Picioso.” O espaco aberio tem a forma et se abre do horizonte que separa a Kerra do céu. Muitas casas norte-americanas tém janclac mnvidado, apés ter entrado na casa de seu anlitrido, pode ir direto para a janela ¢ admirar a vista pane, rimica. © dono da casa fica contente. final, o complone esté admirando seu panorama, e panorama significa tans uma vista ampla como um futuro promissor. Uma casa orien. tal tradicional, ao contrasio, ex ioradores & a abdbada do céu. O eixo Yertical, mais do que o espago horizontal aberto, € o simbol da esperanca, A alameda e suas fileits de Arvores convergem para um Ponto evanescente: € 0 caminho que temos que percorrer Toda pintura ou fotografia de paisagem em perspective ro cnsina a ver o tempo “flutvando” através do espace, A cons distante nao necessita provocar a XY, \dominaram-se as regris da pintura em perspective, a Paisagens abriram cenas distantes. Durante o séeule XVIII, os objetos em uma cena no fundo do quadro se tornaram tie importantes q 139 Tempo no Espaco Experiencial os objetos em primeiro plano. A estética do século XVIII ‘os se dirigissem para a cena Onde nossa mente poderia descansar e encontrar signilieedo Pessoal no pasado, no futurp ou na eteridad la Pessoa. A seguir, um exemplo (1726), de John Dyer. Othe para o © poeta, e ele revela um futuro que pode 1s as cereas vvas! ‘campinas cruzarm a vistal eruzariaoregato, ‘Tao poquenos ao longe os peigos parecem, Assim confundimos a face do futur Visto ateavés da da Esperanga, Como sao brandas 4 Se envoltas nas cores do; Mas a quem por elas subs Duras eingremes se dia mostrar, ‘Thomas Gray viu o passado em uma cena distante. Na “Ode on 2 Distant Prospeet of Eton College" (1747), 0 poeta ree corda tristemente a juventude, Olt colinas calmas, oht sombras amenas, ‘Ohi! campos amados em vio amor, ‘Onde outrora se perdew minha infincia descuidada, ‘Uma desconbecids que ainda me traz dor! Quando estamos diante de um panorama, nossa mente re para devanear. Quando mentalmente nos movemos mor nae, também avangamos e retrocedemos no tempo. © movimento fisico através do espago pode produzit luster ton, Construfdo no passado ou em um daqueles feitos no esille de Fee suturo imaginario. Mesmo o leigo pode aproximadamonts dizer aidade dos edificios. Ele conhece a diferenga entre exe mansio vitoriana e uma casa de fazenda contempordnea, Tor reer rw rw ew wees 140 spaco Experiencial cios de antig suas viagens nos istorica ou museu em que cada objeto recordaya ao visitante um passado re- moto. s ruinas humanas con ram para a sensagio da idao do tempo, mas outras disposig&es psicolégicas e im mbém influen- cié-la, Talvez possam ser descritas da seguinte forma: quando olhamos para fora, olhamos para o presente ou futuro; quando olhamos para dentro (isto 6, introspeceo), estamos provar mente relembrando o pasado. O “interi Iada, era para Wordsworth tanto um: natureza saindo da névoa da antig branga do tempo passado do homem:” “Interior” “centro”, ou core — estes simbolos da exploragio todos transmitem a idéia de comego e de tempo montar 0 rio até a sua fonte 6 retornar, sim| ‘comego de nossa prépria vida; e no caso de nascimento da humanidade. “Centi “origem” e conota um sei icial comeco. Por isso, embora para o explorador a exploragio seja um mer- territ6rio virgem, ele sente que est penetrando no ui “Tempo no Espaco Experie Goracio de um continente como um regresso as antigas raizes, um pats outrora conhecido, mas ha da Africa © da Asia 0 core da na imaginaglo reflexiva, envolto na poeira da lidade Penetrar no core roceder no tempo. Ena América do Norte? inos tém de reconhecer que a Europa possui nica mais antiga; porém eles podem e I6gica de sua Para alguns uma heranga arqi tém alardeado a idade viajantes, as ruinas geo! frido, adquiren: que foram para 0 Oeste no coragio da do Norte certamente nao sentiram que estavam sub. mergindo no passado; ao contrério, provavelmente sentirana due estavam penetrando em uma terra virgem e em um futuro espacoso, © espaco tem significado temporal nas reflexdes do poeta, ago eno drama da migra conexao entre pessi tamos) aqui; aqui entao se refere a © futuro. “Que acor mais barato Palavra alema, r , uma vez”, e “algum dia (no futuro)”. Os pronomes pessoais esto ligados ‘nao somente aos demonstr: mas também aos advér implica la, agora imy icar”, no entanto, é um, verbo fraco, Aqui no envolve Ié, nem agora envoive cata, Como Thomas Merton colocou, a vida pode ser tio fri “aqui’” nem mesmo se aquece quando se refere do eremita ¢ muito fria. “B uraa vida de definicao dé ‘4 pouco para decidir, 1é hé pouca ou nenhuma transagdo, 1 ninguém entrega n Ocspagoe o tempo, tadas pelo eu pensante . Eu estou (ou nés es- eles) estio 1é; 14 6 entao, e ‘ode ser o pasado como sntiio” & 0 futuro, ividades propositais, sto orien- ivo. A maioria das atividades hu- 142 Tempo Espaco Experi manas sao propositais? Objetivamente sim, porque movimen- tos como escovar os dentes e ir para o trabalho podem muito bem ser entendidos em termos de fins e de meios. Subj reaparecem suas estruturas originais intencionai quando fazemos novos planos, o tempo e o espa conscientes ¢ participam na consecucdo dos objetivos. ‘Vejamos a de ir ao trabalho de mani e regressar a ercurso, que 0 rotina. O trabalho no escritério promete pouca emogao; sera apenas outro dia. No entanto, um ritual envolve est vindas. Ir ao trabalho € uma pequena aventura. Os maridos trabalho. Cada dia é um novo dia. tério a frente, no futuro, Ir para lé € um movimento para frente, O trabalho no escritério pode ser enfadonho a maior parte do tempo, mas ‘uma novidade é sempre possivel, mesmo que seja ver estranhos cujos tamentos nao podem ser previstos. Incerteza e potenci de surpresa so caracterfsticas do sua sensacio. Ao final do di se prepara para regressar a casa. Agora a casa esti em seu futuro no sentido de que leva tempo para chegar la, mas & bem provével que ele nao sinta que a viagem de regresso é um. movimento para frente no tempo. Ele regressa — procurando 0 caminho feito anteriormente no espago e no tempo — Paraiso familiar da casa, A familiaridade é uma caract do passado. O lar fornece uma imagem do pasado, Alm disso, em um sentido ideal, o lar fica no centro de nossa vida, e centro (como jé vimos) conota origem e comeco. O tempo e o espaco so controlados quando se esta plane- jando ativamente. Os planos tém objetivos. Objetivo é termo tanto temporal como espacial. Os emigrantes europeus tém um objetivo definido, que é morar no Novo Mundo. O Novo Mundo ¢ um lugar do outro lado do oceano Atlntico, 43 Tempo no Espaco Experiencial — lugar de veraneio diferente para as roximas férias da familia — produz uma estrutura espacio- temporal. O muir 0 sentido de propésito e de esforgo imp: 'a-o. E este sentido pode ser abolido levando uma ida de definigao débil na qual ha pouco para decidir”, como disse Merton do eremita, ‘A misica pode a e espaco de uma pessoa. O som © movimento do corpo anula o sent acho de movimentar-se através de um espago e tempo hist6- ricos para-alcangar um objetivo. Ao caminhar intencional- jente de A para B, sente-se como se muitos passos j foram lados e como se ainda fal B aparentemente com 0 mesmo propésito, Subjetivamente, no entanto, espago e tempo perderam sua forca direcional devido a influéneia do som ritmico. Agora, cada passo nao 6 mais um simples movimento ao longo do estreito caminho que conduz, ao destino; mais precisamente é caminhar a pas- 05 largos para 0 espago aberio.e indiferenciado. A idéia de ‘um objetivo bem localizado perde relevancia, Normalmente uma pessoa sente-se confortivel e yon- fade apenas quando anda para frente. Andar de costas produz ‘uma sensagao estranha e a pessoa continua apreensiva mesmo quando the afirmam que nio ha nada atras em que possa tropecar. Dangar, que é sempre acompanhado por miisica ou algum tipo de batucada, dramaticamente anula 0 tempo hist6- rico € 0 espago orientado. Quando as pessoas dangam, movi- se com facilidade para frente, para os lados ¢ até para trés, Am rertam as pessoas das soli- ida por objetivos, permitindo- thes viver brevemente no que Erwin Straus denomina de es- Tempo no Espaco Experiencial sem orientagio.” Soldades que marcham. litar tendem a esquecer nao apenas seu som de misica cansago como também seu objetivo — o.campo de batal sua promessa de morte. Na sociedade moder escritérios e shopping centers © os que as pessoas querem esquecer 0 sistema espago-tempo ligado aos objetivos, muitos destes pereebidos como privados de atrativos ou significados, © tempo histérico e o espago orientado so aspectos de uma Gnica experiéncia, A intencao cria uma estrutura espi- jo-temporal de “aq , Posso pensar sobre esta onto A e la 60 ponto Br qual é a distancia en lentificar que a vila B & 0 meu objetivo — um ponto la no espaco e meu futuro —, surge @ questio pritica: a que distancia ela esta de mim? A resposta freqtientemente é dada em unidades de tempo: a vila Besta a dois "", ou dois dias de distancia; ¢ meia hora de carro, Bis aqui outra relacdo entre distancia e tempo — tempo como uma medida de distancia. Para os propésitos de men: G0, 0 te como a oscilagao do péndulo e esté regulado 's biol6gicos internos assim como as periodicidades observaveis da natureza, Uma explicagio para 0 uso difundide do tempo para medir distancia é 0 fato de que as unidades de tempo trans mitem um sentido claro de esforgo. A resposta titil as questies de distancia nos diz quanto esforgo é necessdrio — que fontes de do precisas — para alcangat um objetivo. O pré- wrremessada ou uma flecha dispa- rada; esti a cem passos de distincia. Uma resposta deste tipo depende diretamente da experiéncia. Nao somente somos ca- pazes de intuir a distancia de arremesso de uma langa, como podemos senti-la ao fazer o esforgo para arremessar a langa. Um passo nao é apenas algo que podemos ver — a distfincia entre um pé e outro —, mas também 6 set 1os miisculos, ‘Como esta relacionado passo ou a langa arremessada com o tempo? Um passo é uma unidade de tempo porque é sentido Tempo no Espaco Experiencial como um atco biolbgico de esforgo e descanso, tensio e rela- xamento, Cem pasos significam cem unidades de um ritmo biolégico que cor nos muito bem. Outro ritmo biologico que conhecemos muito bem é 0 ciclo de vigilia e sono, As distncias podem ser dadas em “pernoites” ou dias. O passo, como ja dissemos, é um esforgo sentido como uma medida que ode ser observada. Do mesmo modo, 0 ciclo de vigilia e sono nao € apenas um esforco de atividade seguido por deseanso, mas ¢ visivel na natureza externa como claridade e escuridio € como a trajet6ria do sol. A distancia dada em dias est rela- cionada com o esforgo em um outro sentido, mais preciso. Quando nos informam que a outra vila fica’a trés dias de distancia, sabemos mais ou menos quanta comida e 4gua precisamos levar; podemos calcular a quantidade de energia ara chegar ao nosso destino. Qual 6 a distincia de Minnea- polis a Los Angeles? Uma resposta em milhas ou quilémetros nao € muito ‘itil a ndo ser que estas unidades de distincia ossam ser rapidamente traduzidas para tempo, esforgo e re- cursos necessarios. Ao contrario, a resposta “esta a trés dias de carro" nos diz para pernoites, gas para A intengao de ir a um lugar eria um tempo histérico: © lugar é um objetivo no futuro. O futuro nfo pode ser dei- xado sem data e indefinido. Os emigrantes que se propdem. fixar-se no interior dos Estados Unidos devem planejar chegar a seu destino em um tempo propicio, digamos, a primavera. Como 0 objetivo nao é os Estados Unidos mas uma area mais ‘ou menos especifica dentro dos Estados Unidos, assim 0 fu- turo tem uma data, um determinado ano e uma determinada estagdo dentro do ano. Esta limitaglo no futuro, no tempo historico, € por si s6 uma poderosa razao para estimar a dis- Lancia em unidades de tempo. A necessidade de estar em certo lugar quase sempre significa estar li a uma certa hora. O Pastor tem que conduzir seu rebanho para uma determinada pastagem em uma certa data, ¢ o homem de negécios deve Participar de uma conyengao de vendas em outra parte da cidade, em certa hora. Em toda parte, o tempo regula as vidas Tempo no Espaco Experiencial — a subsisténcia humana. A principal dades tecnolégica e no tecnolégica é q tempo estd regulado com preciso de hora imos como 0 espaco clam e cada didria para ju obriga a refletir sobre a experié; Nas sociedades nao tecnol visdo do mundo. Nem todas as culturas tém uma visto do mundo articulada. Onde existe uma, relativamente s4o pou. cas as pessoas capazes de conceitu: neira sistematica. A visto do mund iéncias ¢ necessidades particulares; é um construeto intelec- tual. Neste constructo, agora podemos indagar, como sio Tepresentados 0 espago e 0 te 10 de tempo mitico acarreta um tipo de espago mitico, e vice-versa? O espago mitico comumente esta organizado ao redor de lum sistema coordenado de pontos cardeais e um eixo vertical central. Este constructo pode ser denominado eésmico, por- que seu sistema ¢ definido pelos acontecimentos no cosmos, O tempo mitico tem trés tipos principais: cosmogOnico, astro. nOmico humano. O tempo cosmogoni i gens, incluindo a criagdo do universo. O tempo hi curso da vida humana. Ambos sao lineares e uni tempo astrondmico é experi sol ea seqiiéncia das estagdes; a sua 4 repetigao, Seja onde for que 0 espaco cdsmico esteja muito bem arlicu. \do, o tempo cosmog6nico tende a ser ou ignorado ou det ienite simbolizado. Na América do Norte, um topos « k6nico comum entre os indios é 0 do mergulhador que traz terra do mar, criando uma ilha que eresce co: tamanho. Esta astrondmico ciclico, no tem representaga mico. Outro tipo de mito sobre o: ap NO N01 yram earre- ‘gados para o sul a procura do “lugar central”. Elementos desta est6ria deixaram sua marca no espaco cosmico dos ios Pueblo. Shipap esti localizado no norte; para o sul, 10 do centro césmic Casa Branca onde pararam para adqui lidades cultu espaco césmico dos indios P 1a flecha do O espago mitico dos nativos australianos no é geomé- trico. O tempo astronémico 6 desconhecido dos abori- ‘genes, No entanto, o tempo cosmogénico é reconhecido. @ sua marca no espago, com isso confirmando- cosmog6nico no pensamento aborigene nao esti com a criagto da terra, eéu ou mar; porque el O mito de origem narra a mai ‘Sao também um registro de “quem esté aqui agora” ” A paisagem — embora nio modificada para os olhos ociden. tais — documenta as realizagdes de um povo. Na Australia central e na Terra de Ahem, os mitos contam como os pri meiros ancestrais vagaram em busca de objetivos distan Algumas yezes extraviaram-se e foram surpreendidos pel. destino. Onde morreram, deixaram seus espiritos, A paisa gem esté pontilhada de recordacdes dos herdis miticos morreram durante a caminhada Ao conceber os herdis como andarilhos ¢ ao reviver periodicamente suas jornadas miticas, os aborigenes australianos conferem a sua terra um sentido direcional de tempo (Fig. 16). SY Oe 0 0 0 Fe Oe Fe ae 50 ee

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