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ear CAPITULO 3 Pe] A vida: as formas, a origem, 0 sentido ‘A.vipa ks Suns FoRMAS Para compreender os assuntos de que estamos tratando neste Manual seria necessério um estudo filosético preliminar; 0 que ¢ a vida em geral e que é a vida humana em particular. Da petcep¢io © compreenséo da realidade eésmica seria preciso concentrar progressivamente a atencao na vida, e da diversificada expansao da vida no mundo subir até @ considera- (do da vida do homem. O ser, a vida, o homem!: sio as esferas dat realidade implicadas no discurso. Em segundo lugar, deve-se examina 0 [peso espe- cffico e 0 sentido dessas outras noces. a ética ou ciénela dos valores, @ ética aplicada & ciéneia e & praxis biomédica. Nao podemos nos aprofundar neste duplo estudo de cardter prelimi- nar e de carater filoséfico; devemos nos cont Jas proprins exigen- cias deste Manual, em relembrar simplesmente os conceltos Ou as nogoes fundamentais. ‘A primeira distineao que divide a realidade Iitativo e substancial, ¢ a que existe entre seres teristica do vivente, sob o ponto de vista filosofi ccapaz.de uma atividade que parte do sujet © proprio sujeito: vida ¢ capacidade de acao imanente, Deixamos de ado o exame das caracteristicas fisicas, quimicas ¢ bioquimicas do sar vivo ¢ exa- minamos 0 problema do de vista filos6fico, O salto qualitative © irredutivel do fendmeno “vida’ est capacidade real de um ser de ser causa e fim da propria ag precisamente ato ima: nente”, No primeiro degrau da vie tem uma triplice capacidade: nutri¢ao, crescimento @ feP) Contrariamente 20 mecanicismo, que vé entre 0 vive vente apenas uma diferenca de graut ¢ de complexiclide 0 1 J. Gover, I problema dew, Trin 1908; Van filosofica de S. Tommaso d Aquino, Milao 1965; ‘do Congresso da Federacdo Universitaria Catalica peppers 1968); G. Marcel, Lhomme problématique, Paris 1965; E, Mu Paris 1950. Se ‘Manus 8 Broerica vivente uma diferenca qualitativa e substancial. No temos a intengao de negar que no vivente hd processos e trocas fisico-quimicas, nem de ent der que 20 lado destes se situe como que numa camada uma entidade superior chamada ‘alma’ (vegetativa, se © vitalismo, ou melhor, a teoria do organicismo, como se prefere dizer, afirma que no vivente 2s trocas e os processos bioquimicos S40 tomados, informados e guiados por um novo principio unificador, pelo qual o todo regula e determina as partes e as suas fungdes © vivente, portanto, tem a sua unidade substancial e especitica. O or ganismo vivo pode ser considerado um enorme laboratério quimico em miniatura no qual acontecem inumeraveis reacdes até muito complexas, tendentes todas elas a um mesmo fim: a manutengao do individuo®. Esse ficador é a alma do ser vivo. nos apenas os assim chamados tés reinos da vida: vida ida sensitiva e vida intelectiva. A distingao se da sob o ponto de dois critérios: a autonomia do vivente e a superioridade do vivente em relagao ao nao-vivente. O nivel de autonomia 0 nivel de superioridade determinam os trés reinos. No vivente vegetal, tanto o fim do agir imanente como a forma dessa agao sao determinades e néo opcionais. por melo da vida cognosc com base na forma cogno nem, no caso de uma lebre); no homem, nao somente da atividade, mas também o fir é escolhido; o fim pelo qual realiza algo € escolhido por meio da vida intelectiva ¢ livre. Essa escolha acaba implicando a ética, uma vez que é livre. A vida vegetativa, tanto a sensitiva como a intelectiva, revela, por isso, niveis de superiorida- de e nao de grau apenas. ‘A OORIGEM DA VIDA A nossa intengao, num curso de bivética, nao é repropor integralmen- te 0 discurso antropolégico, sobre a origem da vida humana e sobre a historia Te cultere riducionistiche nei confrontt dela vita, in WVAA., Nvalore della vita, Milo 1985, pp. 41-74; F Facchini, 1! cammino delevoluzione umana, Mila0 1985. A.W: AS FORMAS, A OREM, O SENTIDO 95 das varias formas de cultura humana, mas de lembrar si les pontos essenciais do problema antropolégico que se determinacao do valor da vida humana, ou que, de algum tenham sido evocados. Dito isso, é conveniente observar que o problema sobre como surgiu a vida humana e como ela se organizou em seus usos e costumes ndo se identifica com 0 problema do valor dela, nem com a questio do seu por- qué, ow seja, de seu fim. A biologia e a etnologia nos falam somente do como; a filosofia nos pergunta por qué, ou seja, indagada acerca do fim e do valor. No Ambito da ética, mais precisamente da ética normativa, é particu- Jarmente importante e decisivo estabelecer se o elemento biol6gico da vida humana, em sua origem e composi¢ao, constitul 0 homem todo, ou se, exatamente porque esse eleme! ruralmente com algu- cia fundamental e decisiva em todos os problemas da bioética: 0 cirurgiao que faz uma incisto num érgio ou numa parte do organismo deverd co- nhecer bem a anatomia, a fisiologia e a patologia daquele érgio, mas, a rigor, devera saber que ele est4 operando uma pessoa humana, que deve ser avaliada como tal, da qual ele deve ter autorizagio para a intervengao e perante a qual deverd sentir-se responsdvel. A procriagao humana, que da origem a um novo individuo, deve ser descrita como um processo biolégico no qual a anatomia e a fisiologia do ‘organismo sexual exprimem toda a sua causalidade, pols nela participa todo 0 organismo dos dois sexos com a riqueza vital que retine 0s recursos bioquimicos, neurologicos, endécrinos etc.; mas deve também ser a\ como um ato interpessoal do qual participam o afeto, a liberda ponsabilidade e a comunhao de pessoas. E os exemplos podem se mt ‘car em toda a extensdo € em todas as aplicagées da biostica. A bioética nao deverd se limitar 4 descrigao dos comportamentos, do cipios abstratos, mas deveré se constituir em avaliat6ria da globalidade dos fatos vitais e das int do homem, & luz da totalidade de seus valores. [Nao fariamos uma boa e legitima leitura de uma obra de arte, de um quadro de Rafael, p. ex, se nos limitéssemos a falar do tipo de tela que uusou, da composigz0 quimica das cores, de quando o pintou ¢ de quanto recebeu em pagamento; € preciso perguntar 0 que ele quis expressar com tudo isso, e como 0 conseguiu, € por que afinal o trabalho é uma obra de arte criativa e nao apenas gréfica. sngoes sobre a vida eB Masa De Boeri. Era preciso elaborar esta premissa exemplificativa antes de enfrentar a questao da origem da vida em geral e da vida humana em particular, pois ‘nao faltou quem, em nome da suposta "geragao espontanea” ou “casual” da Vida (problema do "como"), tenha negado sua especificidade, e o seu valor de superioridade em relaco a realidade inorganica; e nao faltou também ‘quem, em nome da hipétese do transformismo e do evolucionismo das espécies dos seres vivos, tenha querido reduzit as diferengas ontol6gicas ‘qualitativas entre as varlas espécies. A i0 dos elementos materiais constitutivos da vida ndo exaure a resposta ao problema do porqué, da ‘causa, do fim e do valor de cada uma das formas de vida. Definitivamente ‘acliminagao ou erradicagao do discurso metafisico e ético do discurso bio- logico e ontolégico faria com que até mesmo 0 aspecto biol6gico se tornas. se incompreensivel e, sobretudo, c aria a redugao artificial da com- preensao da riqueza da cealidade vital. ulgamos, contudo, necessirio reca~ pitular e repassar os termos da problematica sobre a origem da vida, antes de enfrentar 0 discurso sobre 0 seu val PRO F CONTRA 0 EVOLUCIONISMO 0 problema esta ainda longe de ser resolvido ¢, por si, é permanece sendo um problema cientifico, se 0 consideramos nos termos em que nor- malmente ele & apresentado, isto 6, no sentido da pesquisa da causalidade imediata e da genese fisica € material da vida. Mas essa incerteza nao di- minui 0 problema filoséfico e metafisico relativo ao valor da vida. E Redi (século XVID ¢ L. Spallanzani (século XViI1) demonstraram que nao acontece a gera¢ao espontanea dos vermes, dos insetos e dos infusérios; Pasteur (no século XIX) demonstrou que nem as bactérias tém geragao espon- tinea, Se existem os ulkravirus e se sio seres vivos, no se pode nem mesmo hhoje determinar se provém de geracio espontanea. Mas, ainda que ficasse provada a geracHo espontanea, isso ndo enfraqueceria a posi¢ao dos que jul- ‘gam, por um raciocinio flos6fico e metafisico, que a vida representa um fato de “novidade” qualitativa no plano do ser e da realidade césmica. Em outras palavras, o vitalismo nao seria negado pela teoria da geracao espontanea; de qualquer modo, fica ainda por explicar por que, num determinado momento da matéria inorginica, espontaneamente, por um contato complexo e por niiltiplas reagGes, a vida se organizou como fendmeno tipico e caracterizado. E, quando perguntamos por qué, referimo-nos quer a causa eficiente primeira ‘e remota, quer & causa final ¢ tltima da vida e da vida humana em particular. A mesma observacdo vale para a teoria do transformismo ou evolucio- nismo da espécie. Como se sabe, 0 transformismo ou teoria da evolugao, segundo a qual as espécies vivas derivam umas da outras, as mais complexas das menos complexas, por transformacao ou evolueao natural, € hoje a hipstese do- ‘AWD AS FORMS, A OMG, © SExTIDO 2 minante, Opde-se esta teoria A mais antiga, chamada de fixismo, segundo a qual as espécies que atualmente existem séo as mesmas que existiam na origem do mundo. Atribui-se a Lineu a frase: Tor numeramus species quot primum creavit Infinitum Ens! Desenvolveram-se, no decorrer dos séculos, diversas teorias transfor- mistas evolucionistas. Uma das primeiras formulagdes foi a de J. B. Lamark em sua obra Philosophie Zoologique, de 1809, que fundamentou sua teoria em dois principios: as transformagoes nas espécies derivam da adaptagao a0 ambiente devido ao uso ou falta de uso de determinados 6rgaos; as transformagGes que se dao nos individuos transmitem-se por gera¢ao quan- do comuns aos dois sexos. do desaparece juntamente com suas caré O neodarwinismot afasta-se das teorias de Lamark e de Darwin, con- centrando a sua atenco na variedade que se encontra nos diversos indivi- duos da mesma espéci indo a influéncia do ambiente na modifi- cacao dos caracteres hereditérios. As causas das variagbes deveriam ser buseadas no assim chamado germoplasma. primeiro a fornecer provas foi A. Wiesemann (1817-1914), que fez a conhecida experiéncia de cortar 0 rabo de ratos por diversas geragoes, sem jamais obter ratos sem rabo ou com rabo curto, Sustenta ele sua teoria na obra Ensaio sobre a hereditariedade e sobre questoes bioldgicas conexas (1892). Os caracteres hereditarios deveriam, portanto, ser encontrados na rep) G40 dos individuos ¢ em seu germoplasma. Neodarwinista é também U. De Vries (1848-1935), que estudou a plan- ta ormamental Oenothera Lamarkiana ¢ observou a variedade normal e 0 aparecimento de individuos de variedade gigante dessa planta. Concluiu ‘que na transmissdo dos caracteres he percentual (1-2%) de individuos nao normais. Formulou assim a evoluggo por saltos, ou “mutaghes": toda espécie, em determinado mo- mento, passa, em determinadas condigdes ainda nao identificadas, por mutagGes bruscas, dando origem a individuos com novas caracteristicas, Nao se conheciam ainda, porém, as razdes determinantes dessas va- riagdes bruscas; e a genética, uma nova ciéncie, € que tentard resolver 0 enigma. Flementi di filosofia, M, p. 94 pensiero occidentale... Il, p.717; R. Morchio, La biologia net XX secola, in Agarz\ E. (org), Storia delle scienze, Il, Roma 1984, p. 367. a ‘Mavunt pe Bioericn ‘A genética, como é de amplo conhecimento, nasce com G. Mendel, que tinha descoberto as leis que comandam a genética, em 1865, por meio de suas experiéncias com ervilhas; cruzando ervilhas de diferentes tama- hos, formulow a lei da segregacao, cruzando plantas que se diferenciavam por outras caracteristicas, formulou a lei da independéncia. A experiencia 0 levava a concluir que no momento da fertilizacao revelavam-se caracteres, dominantes e caracteres recessivos e que, além disso, deveriam existir ‘elementa que, desdobrando-se, faziam novas combinagbes entre si segun- do as varias possibilidades do calculo combinatorio, Na acasiao, suas des- cobertas nao tiveram a atenco que mereciam. Foi o alemao W. Flamming (1843-1905) que, usando a substancia colorante “cromatina’, descobriu € redescobriti os cromossomos, que se encontram nas células das varias espé- cies em niimero fixo, unidos aos pares, e descobriui também que nas célu- las germinais ou gametas esse patrimnio cromossémico era de 50% para cada célula. Ele publicou esses resultados em 1882. (0 belga E. van Beneden (1846-1910), continuando as pesquisas sobre a ‘mosca das fratas, a Drosophila, que tem 8 cromossomos, descobriu que nas ccélulas sexuais esse patriménio era a metade de cada um dos gametas. E foi © cit6logo americana W. S. Sutton (1876-1916) que, em 1902, fez justiga a Mendel e confirmou, a luz da descoberta dos cromossomos, as leis de Mendel. Em cada par de cromossomos de umn novo organismo, um cromossomo pro- vém do pai, por meio do espermatozdide, e 0 outro da mae, por meio do ovécito. Nesse encontzo e mistura dos cromossomos, toda geragio tende a trazer a tona 0s caracteres recessivos que estavam abafados por um carter dominante. As combinagoes sempre novas produzem, portanto, aquelas va- riagdes que serao depois aproveitadas pela selesao natural. ‘A genética deu mais um passo a frente com a descoberta dos genes pelo zodlogo americano T. H, Morgan (1866-1945): descobriu ele que nos ‘cromossomos — localizados no nacleo da célula — encontram-se particu- las em ordem, do tamanho de uma molécula de proteina, que constituem 6 patrimdnio hereditatio do individuo. Esses genes sio capazes de se re- produzir conservando a prépria individualidade e independéncia em rela- ‘cdo aos outros genes, sA0 responséveis por caracteres especificos do indi- Niduo e podem recombinar-se de todos os modos possiveis. Morgan fez, suas experiéncias com a Drosophila melanogaster, que tem 4 pares de cromossomos e se reproduz em 12 dias. Em 1927, J. Miller fez uma descoberta sensacional: 20 se bombardear com raios X 0s gametas de animais e de plantas ol se mutagbes. As mutag6es podem ser génicas, cromossOmicas e gendmicas, dependendo dos elementos envolvidos na mutagao. As variagdes gendmicas dizem res- peito as variagbes do proprio néimero de cromossomos. A essa altura consolidou-se a teoria da evolugao em dois pontos fo- cais: a possibilidade da geracao espontinea, e a da evolucao das formas € das espécies de vida. ‘ALIA: As FOROS, a OWGEE, 0 SENTIDO 9 Mais uma esperanca para experincias (1953-1957) de S. M jem espontinea da vida nasceu das sobre a formagao dos compostos ot- idos, que sfo as moléculas fundamen- {ais das proteinas, as quais, por sua vez, sao os elementos fundamentais do protoplasma. Essas experiéncias no so consideradas suficientes para Comprovar a geracéo esponténea, ¢ o problema, portanto, continua em aberto. Uma nova luz, no entanto, veio aclarar 0 mecanismo de transmissio dos caracteres hereditérios com a descoberta do dcido desoxirribonucléico (DNA) constitutivo dos genes. [As macromoléculas de DNA so polimeros formados por residuos de > , por um agdcar (desoxirribose) e por bases azotadas de adenina, guanina, citosina ¢ timina, A descoberta foi feita em 1944 por 0. ‘T Avery, em Nova Torque. Por volta dos anos 50, L. Pauling explicou a estru- tura das moléculas de DNA como dupla heélice, eos estudos foram aperiei- goados em Cambridge por F Crick e J. Wats Foi a seguir descoberto um outro tipo de dcido nucléico, 0 acido ribonucléico (RNA), que diverge um tanto do DNA por sua composicéo quimica; a estrutura parece ser de um tinico flamento, e sua fungao seria a de ativar 0 mecanismo de transmissao genética ‘A partir dat a biologia molecular estudaré os mecanismos de formagao das enzimas ¢ das seqiléncias dos aminodcidos nas proteinas, de acordo com 2 combinacao das bases do DNA. Em 1955, S. Ochoa conseguiu sinte- tizar in vitro o RNA e, em 1956, A. Koruberg obteve in vitro 0 DNA. Em 1961, F Jacob e J. Monod demonstraram a existéncia do RNA mensageiro sintetizado nos moldes do DNA e que se revelava como uma espéci que continha, escr i contribuigGes de M. W. Nuremberg e determinados os vatios tipos de RNA: RNA riboss6i sageiro (mRNA), RNA soltivel ou de transferéncia (CRN. melhor a seqiiéncia (FRNA), RNA men- @ se esclareceu DNA—> RNA —> proteinas transcrigao + taducao Essas descobertas relativas ao cédigo genético levaram os cientistas a ‘dar uma interpretagao mecanicista aos fendmenos da origem da vida com uma Gnica explicagao que vale desde as formas infimas da vida, como os. virus e as bactérias, até os organismos superiores e 0 homem. A teoria reducionista obtinha assim um forte incentivo; e, além do mais, dava-se um extraordindrio apoio 20 evolucionismo, inclusive pela descoberta das mutagGes a que nos referimos. Ea recente descoberta do assim chamado “segundo cédigo genético’, publicada na revista inglesa “Nature’, em maio de 1988, por dois pesquisa dores do Massachussets Institute of Technology (MIT), de Boston, P. Mawuat 100 pee esc TaL A Schimmel ¢ Ya-Ming-Hou, também poderia ser interpretada nesse sentido. Como se sabe, esse segundo c6digo genético esclarece uma fase importan- que especificam qual aminoacid a0 lugar de sintese. Esse sistema logico € ut vida e, de acordo com 0s mesmos pesquis: na decifracao desse c6digo mais se conse evolugao das espécies. Mas € necessério notar aqui a progressiva reducdo a uma medida do significado intrinseco das varias formas da vida. Tal explicacao é entendida de modo cada vez mais elementar em relacdo aos seus mecanismos, pondo entre parénteses o finalismo entranhado na riqueza cada vez maior ¢ am- pla das mesmas formas de vida. Dé-se assim uma espécie de afastamento epistemol6gico que diz respeito & biologia e & antropologia: a medida que as explicagoes mecanicistas tendem para baixo, vai se tornando cada vez necessaria a perspectiva filoséfica ¢ finalista para se ler a realidade vital por inteiro. Estas teorias evolucionistas surgidas na area clentifica foram nesse sentido favorecidas por concessdes filos6ficas mais gerais, que encontra- ram seu apoio nas correntes de pensamento do idealismo ¢ do materialis- mo dialético fundadas no conc da realidade, e também em algunas correntes da filosofia es ., como a de Bergson. Mais recentemente, devemos recordar as perspectivas de P Teilhard de Chardin (1881-1955) de K. R. Popper (nasc. em 1902). O primeiro nos oferece uma visio criacionista e cristocéntrica da evolucao, segundo a qual, 10 do cosmo tende ao aparecimento do homem (hominizacao}, mas a histétia evolutiva da humanidade ¢ inserida no plano divino da redengao porque finalisticamente centrada e projetada para 0 Cristo, ponto mega da humanidade. O padre Teilhard apoiava-se também em argumentns paleontolégicos. K. R. Popper formula a hipdtese da evolugao emergente e criativa. Assim explica Popper a sua teoria: parte do pressuposto de que “a matéria € como que ums energia em alta concentracéo, transformavel em outras formas de energia e, portanto, alguma coisa processavel, do mo- mento que pode ser convertida em outros processos como a luz e, obvia- mente, © movimento e o calor’. E, assim, chega a afirmar: evolucao do universo houve pelo menos os seguintes estidi quais produzem coisas com propriedades totaliné gentes: a producao dos elementos mais pesados (inclusive emergencia dos cristais. A emergéncia da vida. A emergéncia da sensit dade. A emergéncia (juntamente com a linguagem humana) da consciéncia de si e da morte (ou também do cértex cerebral humano). A emergéncia da linguagem humana e das teorias sobre o eu e sobre a morte. A emergéncia izado por todas as formas de es, quanto mais se avangar conhecer os mecanismos da A bes 85 Fons, a OmGIS, 0 se¥TIDO so de produtos da mente humana, como 0s mitos explicativos, as teorias cien- tificas e as obras de arte”®, Popper aceita de certo modo as idéias de um ‘outro evalucionista recente, J. Monod, prémio Nobel de biologia (1910-1976), que em sua obra Le hasard et la necessité afirma a imprevisibilidade do aparecimento da vida sobre a terra, a imprevisibilidade das varias espécies @, sobretudo, da nossa espécie humana: “éramos imprevisiveis antes de nosso aparecimento". As teorias evol ‘gumentos de varios tipos: a) 2 paleontologia constata que: as diversas espécies no apareceram contemporaneamente; apareceram antes os viventes menos complexos, depois os mais complexos e, por timo, entre os mamiferos apareceu 6 homem; as espécies atuais revelam diferengas em relacdo as que desapare- inda que pertencam 4 mesma ordem e grau:; as diferencas entre as saparecidas num perfodo e outras também desaparecidas em tas, bases filosoficas & parte, apsiam-se em ar- espécies perfodos sucessivos sao diferencas minimas que nos fazem pensar em trans- formagoes lentas; foram encontrados fésseis que pertenciam a espécies intermediarias (Archopuri e individuos que pareciam ter tido um papel de “elos de unigo" entre uma espécie e outra; b).a comparagao entre os diferentes ambientes geogrificos onde as diversas espécies se desenvolveram de modo diferente; essa comparacao foi feita entre cerca de uma centena de espécies da fauna marinha do Pa- € do Atlantico, a leste © oeste do isto do Panama, que nao existia antes do perfado denominado mioceno: essas espé tam uma, variedade em parelha, 0 que nos faz pensar que antes desse periodo exis- tisse uma tinica espécie e que em ambientes diferentes passaram por uma diferente evolucao; a mortologia das varias espécies revela que existe em nivel anatdmico € fisioldgico como que um tinico esquema de organizacao gressivamente modulado: di-se como exemplo mactoscépico a analogia dos érgaos (a mao do homem tem uma estrutura fundamentalmente and- Joga a da pata anterior do macaco e assim por diante);, 4) bd argumentos também da embriologia. Enquanto certas diferengas dos érgéos dos individuos de espécies diferentes parecem grandes e imedutt- veis quando a comparacao 6 feita entre individuos adultos, essas diferencas ‘sao minimas quando se comparam os embrides das respectivas espécies: no ‘embriao do mamiffero encontra-se o esbogo das branquias do peixe, Este fato levou a formulagao da hipétese da biogenstica: a ontogénese repete a filogénese, isto é, 2 formagao do individuo em seu estado embrional 5, Popper-Eccles, Lio ¢ il suo cervello, 1, p. 28. 6.J. Monod, Le hasard et la nécessité, Paris 1970 (trad. tl enso e la necessita, Florenca 1970), p. 34 OA ee repetiria a formagdo da espécie’. No campo da genética, como vimos, po- dem ser encontrados argumentos a favor do evolucionismo, sobretudo pela descoberta das “mutagées” que podem ser produzidas através de radiagies cespeciais e pela ampla possibilidade combinatéria prevista nas leis de trans- misséo genética. ‘Devemos registrar, antes de mais nada, que a essas argumentacdes se fazer, no plano cientifico, criticas nada irrelevantes e de peso igualmente consideravel em relagdo &s provas conjecturais adotadas. Nao nos é posst- el, porém, referi-las por extenso e analiticamente. Paleont6logos sérios apuraram, por dens, classes ¢ variedades da mesma esp ‘e que certas formas primogenias talvez tenham existido somente na cabeca, dos autores que formularam as teorias*. Os argumentos tirados da distri- ‘geografica parecem validos dentro de um limite de variagéo muito io de recentes estudos, que or- -xistiram no mesmo periodo, estreito, (Os argumentos tirados da morfologia ¢ da fisiologia dos érgios s40 contestados por uma observagtio mais precisa e mais completa, quando nao limitada a uma observago externa de pedagos ou partes isoladas de ‘6rgdos. Quem sabe a unidade do plano o: da vida possa compro- var existéncia de uma continuidade hierérquica na natureza viva, mas nao a derivagao de uma espécie de geneticistas que provém as maiores ot es em relagao ao evolucionismo fe em nome da determinagio do cédigo genético ou do ntimero dos ‘cromossomos, bem determinado para cada espécie"®. tese da “mutago genética’ inesperada deveria ser sufragada iuagao das condigoes fisicas ou ambientais precisas que pudes- sem produzi-la. ‘Todavia, como hipétese cientifica, a evolugao permanece um proble- ‘ma aberto a discussio € & pesquisa cientifica; mas isso nao torna licito ‘apresentar a teoria no plano filos6fico como algo que exclua o problema da causa primeira, do valor e do fim tiltimo; talvez a evolucao possa ressaltar melhor o problema filos6fico do “porqué” desse processo e do valor de seu ponto culminante, que € 0 aparecimento do homem no universo. 7. Haeckel, Zellseelen und Seelenzellen, “Deutsche Rundschau’, 1978, XVI, jul-set, pp. 40-59. 8.CE.G. Pastor, 1 centenario dell opera di C. Darwin: “Corigine della specie per , XXI, pp. 24-40 e 99-110. Ip. 98. Tuomo & diverso, Milzo 1981. AIDA: AS FORMAS, A OMGIM, 0 SENTIDO 103 Contra 0 ReDucioNisMo [Na discussao pré e contra o evolucionismo, € preciso que se evite cair numa dupla forma de reducionismo de tipo filosofico-epistemolégico: 0 mo de quem opée a teoria evolucionista néo mais ao “fixismo” = oposigao legitimamente possivel no plano cientifico — mas a0 “criacionismo’, fazendo com que 2 teoria cientifica sobre a origem dos vi- vos se torne uma filosofia do devir em seni cerialista e determinista, nna qual acaba sendo negada a causa primeira ea diferenga ontolégica entre as varias formas de vida, inclusive da humana. ‘A outra forma reducionista, relacionada com a primeira, é a que con- siste em explicar © que 6 complexo por meio do que é mais elementar, reduzindo a antropologia, a sociologia e a psicologia a biologia, a biologia & quimica, a quimica a fisica e assim por diante, até chegar ao “desconhe- cido” constituido por particulas subelementares, zerando e destruindo as- sim os valores proprios de cada nivel. £ oportuno lembrar, a propésito disso, as observacoes, sobre esta ques ‘Go insuspeitaveis, de K- R. Popper. Ordena ele os estadios da evolugao césmica segundo este esquema: Mundo 3 (0s produtos da mente humana) 6. Obras de arte e de ciéncia (inclusive a tecnologia) 5. linguagem humana. Teorias do eu e da morte Mundo 2(0 mundo das experiéncias subjetives) 4. Consciéncia de si ¢ 3. Sensibilidade (con ‘Mundo 1 (0 mundo dos objetos fisicos) 2. Organismos vivos 1, Os elementos mais pesados; linhitos ¢ cristais ehélio. 10 pretende explicar © que acontece nos niveis superio- res por meio do que acontece nos niveis inferiores; 0 que acontece com 0 todo é explicado por meio do que acontece em suas partes, segundo 0 principio da “causalidade para cima’. Diz Popper: “Esta idéia reducionista € interessante, ¢ toda vez. que somos capazes de explicar entidades e even- tos de um nivel superior por meio dos de um nivel inferior podemo: de pesquisa, mas também enquanto faz pat cla, cuja finalidade é a de explicar e compreender”". Todavia, afirma o mesmo autor que existe também uma “causalidade para baixo", como ele a chama, pela qual existe também uma influéncia do 11. Popper Fecles, Lio ¢ il suo cervello, p. 30. 104 i So ___Manuat pe Broerica todo, como estrutura, sobre cada parte; ¢ da exemplos: o exemplo das ¢s- trelas, nas quais a massa exerce uma presséo gravitacional formidavel so- bre as particulas elementares da zona central, tendo como resultado o fat de que alguns niicleos atomicos se fundem e formam ndcl tos mais pesados; e ainda: “um animal pode sobreviver & de suas células e A remogio de um 6rgio, como uma pata (com a co qiiente morte das oélulas que constituem 0 6rg40), mas a morte do ani leva logo & morte suas partes constitutivas, inclusive as células”. E conclu: “Creio que esses exemplos deixam clara a existéncia da causalidade para baixo, e tornam pelo menos problematico 0 sucesso completo de qualquer programa reducionista"™. Portanto, a redugao da antrops da vida, muitas vezes pi valida quando passa ao nivel de vida superior, 0 "per, que também se diz agndstico, confessa com estas palavras a insuficiéncia das ciéncias da natureza para interpretar a realida- de humana em seu todo: “Na conclusao da Critica da razao prética Kant diz. ‘que duas coisas enchem o seu esp pre nova e crescente: 0 céu estrelai Aprimeira destas duas cois: do universo fisico e o pi universo. A segunda se refere a0 e1 humano. A propésito personalidade humana. A primeira anula a importancia do homem, 20 considerd-lo como parte do universo fisico; a segunda faz subir incomensuravelmente o seu valor como, ser inteligente e responsavel. Acho que, fundamentalmente, K; n raza. Como teve oportuni- dade de dizer uma vez J. P Lynkens, toda vez que morre um homem é um universo inteiro que 6 destrufdo. Os seres humanos sao insubst ‘como fais, sdo nitidamente muito diferentes das maquinas. Sao capazes de apreciar a alegria da vida, mas também de softer, e sabem enfrentar a morte ‘com plena consciéneia, Sao eus, fins em si mesmos, como diz Kant" © PROBLEMA FILOSOFICO DENTRO DO PROBLEMA BIOLOGICO horizonte das causalidades biologicas dentro do qual se realizaram. as diversas formas de vida requer uma explicagao “metafisica”, quer se acei- A Ma: 45 FORMS, A ORIEN, 0 SENTIDO 105 te o fixismo, quer se tenha propensto para o evolucionismo; quer se co sidere a “causalidade vinda de baixo’, quer se considere também a cau: lidade do alto; o “reducionismo biolégico’, ainda que fosse comprovada- ‘mente ttil aos fins des programas ientifica, no poderia de forma nenhuma ser aceito como ex igem da vida e, em particular, como exp Por dentro e para além das causalidades ou casualidades combinat6 rias, devem-se exigit duas passagens metafisices irrenunctéveis para a lgi- ca fout court e para a explicacao da realidade, da realidade viva e do ho- ‘mem em particular. ‘Aprimeira passagem metafisica 6a do principio da criago, a segunda € a do principio da espiritualidade do homem. ‘A causalidade que exerce a sua atividade na realidade mundana con- ue a passagem do nao-ser idade intramundana, a isto 6, Incapaz de exautic apresenta justamente como continge! em si a plenitude do set ou do existi. ira e subsistente deverd trazer e1 plenitude do ser; deverd ser capaz de dar existéncia dis ma subs a explicagio ¢ a i10s principios de identidade e de ndo-contradicao: 0 ser inar do ndo-ser, o mais nao pode ser explicado pelo me- la Revelacao crista, mas permanece uma de razao e de razao metafisical* e € 0 que se afirma com 0 conceito de ceriagao. Que tenha brotado a vida da realidade césmica, por meio de uma complexa 1a¢do de elementos quimicos ou por geracdo espontanea, e que as formas de vida tenham se desenvolvido por evol tudo isso nao suprime a Causalidade primeira, criadora e providente, int ligente e ordenadora: quem sabe a hip6tese evolucionista pudesse exaltar ainda mais — quando fosse provada — a profundidade da Inteligencia cria- tiva. Chamar de “acaso” a imprevisibilidade das inumeraveis possiveis com- binagdes do DNA e de ” a estabilizacao de fato do cédigo ge- nético de cada uma das espécies traduz a nossa incapacidade da previsao e da determinagdo das combinagdes eletivas, mas nao suprime o fato de que essas possibilidades devam ter uma potencialidade concreta de se rea- lizar numa realidade de substrato que exige uma explicagao causal, a me- 14. Vanni Rovighi, Elementi di flosofia, I, com wa bibliografi. ri Manon bx Biogrca ‘nos que se queira explicar a existéncia pelo nada, o que significaria nao dar explicagio alguma’®, Devemos actescentar também o fato de que as varias formas de vida (vegetativa, animal, humana), ainda que revelassem vinculos nao s6 de felagao, mas também de dependéncia, nem por isso perderiam, nem per dem alias, sua especificidade nos diversos graus de autonomia. Seja qual for o modo como expliquem os mecanismos que dao origem & planta, 20 animal e ao homem, o seu nivel de vida continua sendo peculiar ¢ distinto, ‘¢ quem sabe revelem uma hierarquia ordenadora para uma plenitude de Vida cada vez mais ampla e mais rica. O fato de haver nos varios niveis de vida um substrato material comum e mecanismos elementares reconhec Veis nao deve impedir de se perceber a especificidade das “formas” subs- tanciais, Nao temos a intengio de levar a forga 0 bidlogo ou o médico a uma determinada visio religiosa, a uma reflexdo que exigiria mais espago ¢ que fencheu e atormentou tantas cabecas de cientistas, flésofos e artistas, mas ‘queremos pelo menos manter separado 0 discurso cientifico experimental, que diz respeito 2o como nasce e se propaga a vida, do discurso filoséfico sin yao menos eientifico — do porqué do fim e do valor da propria vida. ‘A outra passagem metafisica € a que diz respeito ao valor da vida humana, a pessoa humana, & sua espiritualidade que nao pode derivar da matérla, a unidade da espiritualidade e da corporeidade no homnem. Mas disso trata o capitulo seguinte, pois o assunto merece um esclarecimento ‘mais amplo que uma simples men¢io. Era necessdrio, contudo, estabelecer essa distingao entre o ponto de vis- ta das ciéneias experimentais, que pretendem dar urna explicagao da origem da vida —e por “explicacao” querem dizer, e nao podem deixar de querer, a deserigéo do “como” experimentalmente se conjugam 0s dados e os fatos —, ‘©0 ponto de vista filosdfico, que nos mesmos fatos e em seu conjunto procura “sentido”, isto 6, 0 porgué causal, a Causa primeira, o Porque final, ou seja. © Fim Gltimo, Para uma leitura do sentido e, por isso, do valor, é essencial onto de vista filos6fico. Para um discurso ético é indispensavel enfrentar ‘esses pontos nevrilgicos e estabelecer essas distingOes, Feitos esses esclarecimentos, parece-me também da teoria reducionista e determinista o que observa Goglia, referindo-se de modo particular a J. Monod: “Com base nessas conquistas, somos hoje capazes de explicar com certa aproximagao a dina- mica quimica que leva a evidenciacdo de atividades celulares espect A MIDI: AS FORMAS, A ORIGEM, 0 SENTIOO. 107 nos sto bastante claros os mecanismos que conduzem a especializa¢ao das, ins amie celulares num organisme constituldo por mais lls. xis ‘odavia, problemas aos quais estas nodes nao conseguem dar uma resposta. Trata-se de problemas ligados ao desenvolvimento geral do em- brio e a definicao da completa ordem morfoldgica e funcional em orgaos prodigiosamente complexos como 0 olho e o cérebro. Em tais casos, 0s ‘ conhecimentos de biologia molecular dos genes, a que Monod recorre para a claboracdo de sua teoria, nos oferecem uma ajuda totalmente marginal Pode-se certamente aceitar que até a arquitetura geral do corpo est codi- ficada nos genes e pode-se admitir tranqiilamente que 0 desenvolvimento «das formas embrionais representa a expressio direta ou indireta de uma série coordenada de informagoes codificadas no genoma. Mas precisamen- te por isso ¢ inaceltavel a idéia de que a mutacao casual de um gene possa promover um fendmeno evolutivo (transformagao da barbatana em pata ou da pata em asa) Na verdade, a passagem da barbatana a pata € da pata & asa supde mi tanto a tansformagao quimica de uma ou mals poten vias da barbatana so realmente quase iguais as da pata e da asa € os misculos, a ee ee ee os), mas um fendmeno de reprogramacéo morfol6gica e morfogenética no a eae seca ie oe ea necessdrias ou assurmem uma importincia totalmente secundétia. Consiga caracterizar ygicamente a nova espécie. A pata, a barbatana e a asa supem, em outros termos, uma bagagem de genes substancialmente igual, diferente apenas no que é suficiente para ca racterizar a especifcidade das células.O que deve mudar profundamente nos thes casos ¢ a ‘enteléquia! e o programa que regula sua atuacao no tempo. sy Pusypsssar do mo frentico do jac: grandiosdade do ‘hin &ale- aria! ndo ha necessidade de mudar as notas musicais; basta progr modo diferente a sucessao delas"®, Sa BIBLIOGRAFIA WAA,, Quest-ce que fa vie (Semaine des Intellectuels Catholiques), Paris 1958, WAN, La lsoa del'omo, Act del congeso dla Federione Univers Cattolica Italiana (FUCD), Roma 1961. at 16. Goglla, Jacques Monod.

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