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Introducao a Administracao Financeira 1.1 Administracdo financeira nas empresas 1.1.1 Objetivo das empresas Para a Administracéo Financeira, 0 objetivo econémico das empresas é a maximizacio de seu valor de mercado, pois dessa forma estarA sendo aumenta- da a riqueza de seus Proprietarios (acionistas de sociedades por ag6es e sécios de sociedades por cotas). Os proprietarios de empresas privadas esperam que seu investimento produ- Za um retorno compativel com 0 risco assumido, por meio de geracao de resul- tados econédmicos e financeiros (lucro e caixa) adequados por longo prazo, ou melhor, indefinidamente, pois o investimento é feito em cardter permanente. A geracao de lucro e caixa é importante também Para empresas publicas, pois, com o reinvestimento de lucro, € possivel executar a melhoria e a expan- Sao dos servicos prestados a comunidade. A geracao permanente de lucro e caixa contribui para que uma empresa moderna cumpra suas funcGes sociais por meio de geracao e pagamento de im- Postos, treinamento e remuneracdo adequada dos empregados, investimentos em melhoria ambiental etc, Do ponto de vista dos acionistas, uma empresa pode ser vistializada como um sistema que gera lucro e aumenta os recursos nela investidos. A empresa, representada por seus administradores (diretores e erentes) e empregados em geral interage com os agentes econémicos do ambiente em que esta inserida, 4 Administracdo Financeira e Orcamentéria + Hoji gera os resultados econémicos e financeiros e remunera os acionistas pelo in- vestimento realizado (Figura 1.1). ACIONISTAS EMPRESA Administradores 2 = g 3 oO : Empregados Figura 1.1 Visio da empresa como sistema de geragéo de lucro. 1.1.2 Atividades empresariais As atividades de uma empresa podem ser agrupadas, de acordo com a na- tureza, em: operacées, investimentos e financiamentos. Atividades de Operacées As atividades de operagées (ou ‘atividades operacionais) existem em funcdo do negécio da empresa e sao executadas com a finalidade de proporcionar um retorno adequado para os investimentos feitos pelos proprietarios. As atividades operacionais sao refletidas em contas integrantes da Demons- tracao do Resultado, que geram o lucro (ou prejuizo) operacional. Exemplos: compras de matérias-primas, vendas, salarios, aluguel etc. Existem atividades operacionais que, de acordo com o regime de competén- cia, nao sao contabilizadas em contas de resultado no momento da ocorréncia. Por exemplo, as compras de matérias-primas so atividades operacionais con- tabilizadas inicialmente no Ativo Circulante. Apés sofrer sucessivas transforma- des durante o processo industrial, os produtos séo vendidos e as matérias-pri- mas s4o deduzidas das receitas como parte do custo realizado, juntamente com outros custos diretos e indiretos. Introduedo & Administracao Financeira 5 Basicamente, as atividades operacionais relacionam-se com a compra e ida de mercadorias, compra de matérias-primas e sua transformacdo, venda produtos, prestacio de servicos, armazenagem e distribuic&o. As atividades auxiliares que dao suporte ao negécio da empresa, tais como: planejamento €stratégico, servicos juridicos, publicidade e controles financeiros diversos sao consideradas também atividades operacionais. Atividades de Investimentos Nesse grupo, sao classificadas as atividades relativas a aplicagées de recur- sos em cardter tempordrio ou permanente, para dar suporte a atividades ope- tacionais. As atividades de investimentos correspondem as contas classificadas no balanco patrimonial, em investimentos tempordrios e em ativo permanente. Exemplos: compras de maquinaria, integralizagao de capital de empresas con- troladas, aplicagées financeiras de curto e longo prazos ete. Algumas empresas classificam os investimentos temporarios (aplicacées fi- nanceiras) no grupo de atividades de financiamentos dedutivamente, por en- tenderem que sao atividades de natureza financeira. . Atividades de Financiamentos As atividades de financiamentos refletem os efeitos das decisées tomadas sobre a forma de financiamento das atividades de operagoes e de investimentos. As atividades classificadas nesse grupo correspondem as contas classificaveis no passivo financeiro e no patriménio liquido. Exemplos: captacéio de empréstimos bancérios, emissdo de debéntures, integralizacdo de capital da empresa etc, 1.1.3 Relagdo entre a demonstragao de resultado e as atividades empresariais De forma geral, as atividades empresariais que n4o sejam de investimentos ou de financiamentos correspondem a atividades operacionais. As atividades operacionais séo executadas em funcdo do objetivo social da empresa, e geram as receitas e despesas operacionais. Sob o aspecto gerencial, porém, algumas atividades ditas operacionais sao consideradas ndo operacionais ou extraoperacionais, De acordo com a legislacao societéria, as receitas e despesas financeiras so consideradas operacionais, mas sob 0 aspecto gerencial é mais apropriada sua classificacdo como resultante de atividades nao operacionais (ou extraopera- 6 Administragio Financeira e Orgamentaria + Hoji cionais), pois originam-se das atividades de investimentos temporarios e finan- ciamentos. Neste livro, as receitas e as despesas financeiras, quando classificadas como operacionais, estarao segregadas das atividades gerencialmente operacionais, pois, em condigdes normais, espera-se que 0 lucro operacional apurado antes das despesas financeiras seja suficiente para pagé-las e, ainda, distribuir dividendos. Quadro 1.1 Demonstragtio de resultado e atividades empresariais, sob o aspecto gerencial. DEMONSTRAGAO DE RESULTADO ATIVIDADES EMPRESARIAIS RECEITA BRUTA DE VENDAS E SERVICOS Vendas de produtos Prestacao de servicos () DEDUGOES DA RECEITA BRUTA Devolucdes e abatimentos Comerciais (vendas) Impostos incidentes sobre vendas. p Impostos incidentes sobre servigos : (=)RECEITA LIQUIDA ¢ (© CUSTO DOS PRODUTOS E SERVICOS aS i fc Casto dos produtos venddos } betes bere i Custo dos servicos prestados N (=)LUCRO BRUTO A () DESPESAS OPERACIONAIS Comerciais, administrativas e ! s Despesas de vendas gerais (despesas de vendas e de Despesas gerais e administrativas | [ suporte a atividades de Outras receitas e despesas operacionais operacées) (=)LUCRO OPERACIONAL ANTES DAS RECEITAS E DESPESAS FINANCEIRAS o Receitas financeiras Investimentos tempordrios * () Despesas financeiras e Financiamentos é (=)LUCRO OPERACIONAL (DE ACORDO yA COM A LEGISLACAO SOCIETARIA) Raat Receitas nao operacionais } Atividades extraordindrias 9 () Despesas nao operacionais e eventuais q (=) LUCRO ANTES DO IR E CSLL u () PROVISAO P/ IR E CSLL =)LUCRO APOS O IR E CSLL () PARTICIPACOES E CONTRIBUICOES Empregados Administradores ¥ Despesas sobre o lucro (ver Nota) } Despesas sobre o lucro (ver Nota) (=)LUCRO (PREJUIZO) LIQUIDO Nota: A proviséo para IR e CSLL é calculada sobre o lucro real, mas as Participagées e Contribui- Ges podem ser calculadas também sobre qualquer resultado ou valor, de acordo com os critérios adotados. Introdugio & Administracdo Financeira 7 As receitas e despesas ndo operacionais, assim classificadas contabilmente, origi- nam+-se das atividades extraordindrias e eventuais, que nao fazem parte das ativida- des normais da empresa (exemplo: resultado da venda de ativo imobilizado). A Provisdo para IR e CSLL (Imposto de Renda e Contribuicéo Social sobre 0 Lucro Liquido) e as Participagées e Contribuicées originam-se das atividades operacionais e nao operacionais. O Quadro 1.1 relaciona a demonstracao de resultado com as atividades empresariais, dividindo-as, sob 0 aspecto gerencial, em operacionais e nao ope- racionais. Uma andlise profunda e detalhada sobre os resultados gerados pelos ativos e passivos é apresentada no Capitulo 12. 1.1.4 Fungées do administrador financeiro A administracéo financeira de uma empresa é exercida por pessoas ou. gru- pos de pessoas que podem ter diferentes denominacées, como: vice-presiden- te de finangas, diretor financeiro, controller e gerente financeiro. Neste livro, o executivo responsdvel pela administracdo financeira sera denominado adminis- trador financeiro. As atividades de operagées existem em funcéio do negécio da empresa e nao é da competéncia do administrador financeiro determinar como elas devem ser conduzidas. Entretanto, com os seus conhecimentos técnicos e visio global do negocio, ele pode contribuir decisivamente quanto a melhor forma de conduzir as atividades operacionais. Todas as atividades empresariais envolvem recursos e, Pportanto, devem ser conduzidas para a obtengdo do lucro. As fungées tipicas do administrador fi- nanceiro de uma empresa s&o: a) anilise, planejamento e controle financeiro; b) tomadas de decisdes de investimentos; e c) tomadas de decisées de financiamentos. Andlise, planejamento e controle financeiro consiste em coordenar, monitorar e avaliar todas as atividades da empresa, por meio de relatérios financeiros, bem como participar ativamente das decis6es estratégicas, para alavancar as operacdes. A ges- tao de riscos econédmicos e financeiros ganhou importAncia nos tiltimos anos. As decisdes de investimentos dizem respeito a destinagdo dos recursos finan- ceiros para aplicacao em ativos correntes (circulantes) e nao correntes (realizé- veis a longo prazo e ativos permanentes), considerando-se a relago adequada de risco e de retorno dos capitais investidos. 8 Administracao Financeira e Orcamentaria * Hoji As decisées de financiamentos sio tomadas para captacio de recursos finan- ceiros para o financiamento dos ativos correntes e n4o correntes, consideran- do-se a combina¢ao adequada dos financiamentos a curto e a longo prazos e a estrutura de capital. O administrador financeiro recebe 0 apoio técnico de profissionais espe- cializados em Tesouraria e Controladoria. Os executivos responsaveis por essas duas dreas recebem 0 titulo de tesoureiro (ou gerente financeiro) e controller (ou contador), respectivamente. Um exemplo de estrutura organizacional da area de Finangas est4 demonstrado na Figura 1.2. Basicamente, 0 tesoureiro é responsdvel pelo planejamento, controle e mo- vimentagao de recursos financeiros e 0 controller é responsdvel pelo planeja- mento, controle e andlise das operacdes e investimentos. FINANGAS TESOURARIA CONTROLADORIA Administragao Contabilidade de caixa financeira Crédito e contas Contabilidade areceber de custos Contas sass Orcamentos Fi ‘Administracao i s Senbie, de tributos Planejamento Sistemas de financeiro informacéo Figura 1.2 Exemplo de organograma da drea de finangas. Introducdo & Administracao Financeira 9 1.2 Integracao dos conceitos contabeis com os conceitos financeiros 1.2.1 Ciclos operacional, econémico e financeiro O ciclo operacional de uma empresa industrial’ inicia-se com a compra de matéria-prima e encerra-se com o recebimento da venda. Durante esse perfodo, ocorrem varios outros eventos que caracterizam 0 ciclo econémico e 0 ciclo fi- nanceiro, conforme a Figura 1.3. O ciclo operacional é a soma do prazo de ro- taco dos estoques e prazo de recebimento da venda. O ciclo econémico inicia-se com a compra de matéria-prima e encerra-se com a venda do produto fabricado. Caso ocorram desembolsos ou gastos antes da compra da matéria-prima, 6 nesse momento que se inicia o ciclo econémico. Da mesma forma, caso a empresa incorra em custos e despesas relacionados com as operacées apés o recebimento da venda, 0 ciclo econémico se encerra apés a ocorréncia desses eventos. O ciclo financeiro tem inicio com o primeiro desembolso e termina, geral- mente, com o recebimento da venda. Caso haja pagamento de custos ou des- pesas apds o recebimento da venda, é nesse momento que se encerra o ciclo financeiro. Se ocorrem gastos ou pagamentos de outros custos e despesas (ou adianta- mento para compras) antes da compra de matéria-prima, é num desses momen- tos que se inicia o ciclo operacional. Existem casos em que a empresa adianta numerdrio para compras de es- toques. E 0 caso de empresas do ramo agropecudrio ou de agroindistria que, normalmente, adiantam recursos para os produtores rurais ou fazem compra antecipada de safras agricolas. Nesse caso, 0 ciclo operacional inicia-se junta- mente com o ciclo financeiro. O exemplo da Figura 1.3 representa o ciclo operacional de uma industria, mas existem empresas de outros ramos de negécio que apresentam ciclos ope- racionais bastante diferentes. Por exemplo, uma empresa agricola que produz macis inicia seu ciclo operacional no terceiro trimestre do ano 1, colhe a si fra no segundo trimestre do ano 2, deixa estocado parte do produto in natura até o primeiro trimestre do ano 3, e acaba de receber pelas vendas no segundo trimestre desse mesmo ano. Nesse ritmo, 0 ciclo operacional é de aproximada- mente dois anos. Utilizou-se o exemplo de uma empresa industrial por este tipo de empresa exercer atividades mais completas do que uma empresa comercial ou de prestacio de servicos. 10 Administragao Financeira e Orcamentéria * Hoji Més 0 4 2 3 4 Compra de Pagamento de Venda (c) Pagamento da Recebimento | Matéria-prima (a) outros custos (b) Matéria-prima (a’) da venda (c’) Inicio de Término de Despesa de Pagamento da fabricacgo. fabricacao comissao (d) comissao (4) Prazo de Prazo de estocagem dos fabricacao (PF) | Produtos acabados (PEPA) Prazo de rotacao dos estoques (PRE) Prazo de recebimento da venda (PRV) Prazo de pagamento da compra (PPC) CICLO ECONOMICO (CE) CICLO FINANCEIRO (CA | CICLO OPERACIONAL (CO) l Figura 1.3 Ciclo operacional. RESUMO DOS EVENTOS DA FIGURA 1.3: PRE = PF + PEPA; CE = PRE; CO = PRE + PRV; CO = do inicio do CE até o final do CF; CF = do primeiro desembolso até o final do PRY. 71.2.2 Regime de competéncia e regime de caixa A rentabilidade é a medida do resultado econémico (lucro ou prejufzo) ge- rado por capital investido. A Contabilidade adota o regime de competéncia para apurar o resultado econémico e medir a rentabilidade das operacées. Basicamente, por esse regime, as receitas séo reconhecidas no momento da venda, e as despesas, quando incorridas. O regime de competéncia coincide com o ciclo econd- mico. Introdugao & Administracdo Financeira 11 A liquidez é a capacidade de pagar compromissos financeiros no curto pra- zo. Em sentido amplo, a liquidez é relacionada com as disponibilidades mais os direitos e bens realizaveis no curto prazo. Em sentido restrito, a liquidez é rela- cionada somente com as disponibilidades. A Administracio Financeira adota o regime de caixa para planejar e contro- lar as necessidades e sobras de caixa e apurar 0 resultado financeiro (superavit ou déficit de caixa). Basicamente, pelo regime de caixa, as receitas séio reco- nhecidas no momento do efetivo recebimento, e as despesas, no momento do efetivo pagamento. O controller moderno tem consciéncia da importancia do regime de caixa €, por sua vez, 0 tesoureiro moderno compreende a importancia do regime de competéncia, pois esses dois conceitos néio sfo conflitantes. Na realidade, eles sao interdependentes e complementam-se. A diferenga (ou semelhanga) entre os dois conceitos é demonstrada por meio de um simples exemplo pratico, utilizando os eventos da Figura 1.3. O exemplo a ser desenvolvido considera um ambiente de inflagéo zero, ou com os valores expressos em moeda forte. Suponha-se que os valores em cada evento sejam os seguintes: a) compra de matéria-prima no més 0, com prazo de trés meses para pa- gamento, no valor de $ 1.000; b) pagamento de outros custos, no més 1, no valor de $ 200; ©) venda total do estoque de produtos acabados, no més 2, com prazo de recebimento de dois meses, no valor de $ 1.600; d) apropriaco de despesa de comissao, no més 2, no valor de $ 80, que é paga no més seguinte; e) a eventual insuficiéncia de caixa ¢ coberta com empréstimo bancario, até esse valor; f) os juros sao calculados com a taxa de 4% ao més, sobre o valor dos em- préstimos e dos juros a pagar, e sao apropriados mensalmente e pagos ao final do ciclo operacional. 12 Administracdo Financeira e Orgamentaria + Hoji Quadro 1.2. Balango patrimonial da “Companhia Operacional”. Més 0 1 2 3 4 ATIVO Caixa e bancos 0 0 (6) 0 0 (ad) = 252 (c,d) Contas a receber 0 0 1.600 (c) 1.600 0 (c) Estoques 1.000 (a) 1.200 (b) 0 0 0 Total 1.000 1.200 1.600 1.600 252 PASSIVO 5 Fornecedores 1.000 (a) 1.000 1.000 0 @) 0 Empréstimos 0 200 (e1) 200 1.280 (e2) 0) Juros a pagar 0 0 8 (A) 16 (2) 0 Contas a pagar 0 0 80 (d) o@) Patriménio liquido 0 0 312 304 252 Total 1,000 1.200 1.600 1,600 252 ee ee — RESUMO DOS FATOS ECONOMICOS E FINANCEIROS: @=$1.000 =a’ e1 +2 = $200 + $ 1.080 = $ 1.280 =e" F1+f2 +f3=$84+$8+$52=Sea=f Quadro 1.3 Demonstracdo do resultado da “Companhia Operacional”. Més Onise ztes 2 3 4 Vendas 1.600 (c) Custo do produto vendido + matéria-prima (1.000) (a) * outros custos (200) (6) Despesa de comissao (80) (¢) Lucro antes dos juros 0 0 320 0 0 Juros @® 7) @ (2) 62 ~®) Lucro (prejuizo) do més 0 0 312 8) (52) a ee SOIC Wen eine Sedat a} Lucro (prejuizo acumulado =O. 0 312 304 252 Introdugio & Administracdo Financeira 13 Quadro 1.4 Demonstracdo do fluxo de caixa da “Companhia Operacional”. Més 0 1 2 3 4 Recebimentos 1.600 (c’) Pagamentos: + matéria-prima (1.000) (a') * outros custos (200) (b) * comissao (80) (a) Superavit (déficit) das operacées 0 (200) 0 (1.080) 1.600 Juros (68) (Ff) Superdvit (défict) apds os jurs ee)) 0 (1.080) 1.532 |Empréstimos 200 (e1) 1.080 (e2) (1.280) (e? | Saldo final 0 ° 0 ° 252 Superavit (déficit) total jacumulado: 0 (200) (200) (1.280) 252 Comparando a Demonstragio do Resultado (DR) e a Demonstracio do Flu- xo de Caixa (DFC) da “Companhia Operacional”, més a més, percebe-se clara- mente as diferengas entre as duas demonstracées. No momento inicial (més 0), os resultados das duas demonstracées “coincidem”, pois nao ocorreram eventos financeiros e nem vendas. Contudo, como foi feita compra a prazo no valor de $ 1.000 (a), esse valor estd contabilizado como Estoque, tendo como contra- partida a conta de Fornecedores. No més 1, a DR da “Companhia Operacional” apresenta o resultado nulo, pois ainda nao ocorreu receita (venda), enquanto ja ocorreu desembolso de $ 200 (b), conforme a DFC. Como nao existia saldo anterior de Caixa, a empre- sa tomou um empréstimo nesse valor (e1). No més 2, nao ocorreu nenhum evento financeiro, mas ocorreu venda (c) e, portanto, os custos mantidos no ativo circulante sao baixados (a, b) e as despesas de comiss&o (d) séo apropriadas, gerando um lucro antes dos juros, de $ 320, e lucro apés os juros, de $ 312, em consequéncia da apro- priacao de juros (f1) sobre o saldo dos empréstimos existentes no més an- terior. 14. Administragdo Financeira e Orgamentéria + Hoji No més 3, de acordo coma DR, s4o apropriados os juros no valor de $ 8 (f2)) calculados sobre os Empréstimos e Juros a pagar, no valor total de $ 208. acordo com a DFC, houve desembolso no valor total de $ 1.080 (a’, d), @ que obrigou a empresa a tomar mais um empréstimo no valor corresponden- te ao do déficit de caixa (e2) do més, aumentando o saldo de Empréstimos) para $ 1.280. No més 4, de acordo com a DR, foram apropriados juros no valor de $ 52 (f3), calculados sobre os Empréstimos e Juros a pagar, no valor total de $ 1.296. De acordo com a DFC, houve recebimento das vendas no valor de $ 1.600 (c} e foram amortizados os empréstimos no valor total de $ 1.280 (e’) e pagos os juros acumulados no valor de $ 68 (f). No exemplo desenvolvido, ao final do ciclo operacional, no més 4, foi apu- rado lucro liquido acumulado no valor de $ 252, e superavit de caixa acumula- do no mesmo valor. Portanto, podemos verificar que o regime de competéncia € o regime de caixa produzem o mesmo resultado ao final do ciclo operacional. Caso nao fosse possivel amortizar integralmente os empréstimos no final do ciclo operacional, significaria que as operacdes da empresa no estariam ge- rando caixa em nivel suficiente, o que implicaria descapitalizagéio ao longo do tempo, pois a empresa precisaria captar mais empréstimos e pagar mais juros a cada ciclo operacional. A DFC nada mais é do que a demonstracdo da conta Caixa. O regime de caixa mostra qual o volume de recursos financeiros necessdrios para financiar as operacdes da empresa, porém somente serd conhecido esse valor no final do ciclo financeiro (que coincide com o final do ciclo operacional). O regime de competéncia mostra com antecedéncia o provavel resultado fi- nanceiro da operacao. No més 2, com base em DR, j4 podemos conhecer 0 su- peravit de caixa operacional antes-dos juros, no valor de $ 320, que sera gerado no final do ciclo operacional. Alguns criticos do regime de competéncia dizem que de nada adianta conhecer o lucro, se nao se tiver certeza de que as ven- das sero recebidas, pois as empresas “quebram” por falta de caixa, pois nao se podem pagar compromissos financeiros com o lucro. E certo, porém, que um contador consciente, por meio das técnicas estatisticas, e obedecendo aos prin- cfpios contabeis, ir provisionar o valor do provavel “nao-recebimento” das ven- das, de forma que a Contabilidade reflita, por antecipagdo, a provavel situagao financeira de uma data futura. O regime de competéncia, por antecipar em determinada data o que prova- velmente aconteceré em datas futuras, fornece importantes subsidios para a ad- ministracao financeira. Para um analista externo, os dados fornecidos pela DR Introduclo A Administragio Financeira 15 podem nfo ser conclusivos, mas o administrador financeiro pode ter acesso a detalhes dos dados e informacées fornecidos pelos relatérios financeiros. Cabe a ele utilizar as duas demonstracées financeiras (a DR e a DFC) para planejar adequadamente o volume de recursos necessdrios para financiar as atividades da empresa. O regime de competéncia e o regime de caixa tratam dos mesmos valores, diferenciando-se somente no aspecto temporal. A andlise dos ciclos operacio- nal, econémico e financeiro fornece importantes subsidios para tomadas de de- cis6es financeiras. 1.3 Fluxo de operagées e de fundos 1.3.1 Fluxo de atividades operacionais Dentro do ciclo operacional de uma indutistria, desde a compra de matérias- primas até a venda de produto acabado, ocorre um fluxo de bens e servicos. Com a realizagéo da venda, apura-se o resultado das operacées. Existe certa logica e ordem no fluxo dos bens e servicos, bem como na apu- raciio do resultado das operagées apresentadas na Figura 1.4, mas as atividades operacionais nado ocorrem exatamente na sequéncia apresentada. Os impostos sobre as vendas e 0 custo dos produtos vendidos sao reconhecidos simultane- amente com a realizac&io das vendas, mas as despesas de vendas e administra- tivas podem estar ocorrendo simultaneamente com as atividades de fabricacdio do produto, ou antes mesmo dessas atividades. Fluxo de bens e servicos Inicialmente, os estoques de matérias-primas s4o comprados e requisitados para fabricacio do produto. Na fase da elaboracdo do produto, so adicionados os custos de mao-de-obra direta (MOD) e custos indiretos de fabricacéo (CIFs). Apés a conclusao da fabricagao, os bens e os servicos adicionados a matérias- primas so transferidos para estoques de produtos acabados. Os produtos fabricados (estoques de produtos acabados) so vendidos e sua propriedade é transferida ao cliente. Por esse motivo, so baixados dos es- toques (ativo) como custo dos produtos vendidos, pois a partir desse momento © produto fabricado deixa de existir como bem de propriedade da empresa que 0 fabricou. a 16 Administracao Financeira e Orgamentéria * Hoji Resultado das operacdes As vendas geram impostos, como 0 ICMS, 0 IPI € 0 ISS, que sfio deduzidos da receita bruta. Com a dedugao do custo dos produtos vendidos e das despe- sas operacionais, apura-se o resultado das operacées (lucro ou prejuizo opera- cional). FLUXO DE BENS E SERVICOS OPERAGOES RESULTADO DAS OPERAGOES Estoques de Compra de | matérias-primas |*——}~ matérias-primas | Requisigao de <> material para Vv fabricacdo Estoques de | <___| MOD produtos em elaboracéo eee CFs : Concluséo de vv ~~ fabricagao Estoques de ; produtos acabados| Vendas ———1> on (| impostos ru QO Baixa de estoque pela Custo dos Baixa de. pin transferéncia de Hn produtos estoque propriedade ao cliente vendidos Despesas | o devendas | Despesas Some _ |operacionais Despesas administrativas (=) Lucro (prejuizo) operacional Figura 1.4 Fluxo de bens e servicos e apuracéo de resultado operacional. Introdugio & Administrago Financeira 17 lugdo do ativo operacional Os saldos das contas do ativo operacional, geralmente, nfo sofrem altera- bruscas de um més para outro. Se pudéssemos isolar uma operacio em icular, como a do Quadro 1.2, poderfamos visualizar a evolugao dos saldos. medida que os bens e os servigos vao sendo incorporados a atividade opera- , o saldo do ativo operacional vai crescendo até zerar com o recebimento vendas. Esse fluxo esta ilustrado na Figura 1.5, cujos dados foram extraidos balanco patrimonial da “Companhia Operacional” (Quadro 1.2). Nos Capitulos 11 e 12, existem maiores explicages sobre ativos e passivos acionais. No Capitulo 11, existe uma subseciio que trata de classificacao de ivos € passivos operacionais e, no Capitulo 12, uma secao que faz andlise do lo financeiro. Ativo operacional Figura 1.5 Evolugdo do ativo operacional. 1.3.2 Fluxo de fundos e reflexos na contabilidade O fluxo de fundos (ou fluxo de recursos) tem conceito mais abrangente do e o fluxo de caixa. Enquanto o fluxo de caixa refere-se 4 movimentagdo de eiro, o fluxo de fundos refere-se 4 movimentacao do capital de giro. O capital de giro representa o capital em circulagéo ou movimentacao, tan- no ativo (Disponivel e Realizdvel) como no Passivo (Exigivel), e sofre perma- nentes modificacdes em seu estado patrimonial (sAe SA, 1989:53-54), 18 Administracio Financeira e Orcamentéria * Hoji Todos os investimentos feitos no ativo tendem a se transformar em dinheiro, inclusive as compras de bens do Imobilizado, por meio de cotas de depreciagao que sao apropriadas ao custo de fabricagao ou baixadas como despesas e recupe- radas por meio das vendas de produtos. A Figura 1.6 mostra 0 esquema basico das atividades de operac6es, investimentos e financiamentos, com os respectivos reflexos na Contabilidade. Enquanto as operagdes provocam o fluxo de capital de giro, ocorrem reflexos no ativo e no passivo. Os “quadros hachurados” do Ati- vo Corrente e do Passivo Corrente representam as contas contabeis diretamente relacionadas com as atividades operacionais. O resultado da operacao (lucro ou prejuizo) é apurado pela diferenca entre as Receitas e os Custos e Despesas. O Ativo e o Passivo Correntes correspondem aos Ativos e Passivos Circulan- tes. O Ativo Nao Circulante comespande aa Ativo Realizéval a Longa Praze é ao Ativo Permanente. O Passivo Nao Corrente corresponde ao Exigivel a Longo Prazo. Existe também o Patriménio Liquido. As “setas vazadas” representam entradas de dinheiro e as “setas cheias” representam saidas de dinheiro. As “setas tracejadas” representam movimenta- Ges de capital de giro e apuragao de resultado da operacao. Seguindo o fluxo de fundos a partir da operacao de compra a prazo de ma- térias-primas, podemos visualizar, no Ativo Corrente, os Estoques de matérias-pri- mas que, acrescidos dos custos de Mao-de-obra direta (MOD), Outros custos in- diretos de fabricagao (Outros CIFs) e Depreciacdo, transformam-se em Estoques de produtos acabados. Quando estes sao vendidos, transformam-se em Custo dos produtos vendidos. Os Estoques de produtos acabados, quando vendidos, trans- formam-se imediatamente em dinheiro (vendas a vista) ou apés o recebimento da duplicata (vendas a prazo). As operag6es de vendas e distribuicdo geram im- Postos e despesas operacionais que, provisoriamente, ficam contabilizados no Passivo Corrente, até serem pagos com os recursos do Disponivel. O resultado da operago é deduzido das Despesas financeiras e acrescido das Receitas financei- ras € vai para o Patriménio Liquido, sendo que uma parte é distribuida aos acio- « nistas, por meio de Contas a pagar (ou Dividendos a pagar). Os recursos do Disponivel sao compostos basicamente pelas contas Caixa, Bancos e Aplicagées financeiras de liquidez imediata e sao utilizados também para compra de bens do Imobilizado, que podem ser vendidos eventualmente. As sobras de caixa sao aplicadas temporariamente no mercado financeiro, para maximizar os recursos financeiros, gerando Receitas financeiras que sio dedu- zidas das Despesas financeiras geradas pelos Financiamentos bancarios de cur- to e longo prazos. O Passivo Nao Corrente, juntamente com os Financiamentos bancdrios de curto prazo (do Passivo Corrente) fornecem os recursos necessarios para finan- ciar as atividades de operagées e investimentos no supridos pelo passivo cor- rente operacional. Introduedo & Administracdo Financeira DISPONIVEL (Caixa e Bancos) ATIVO CORRENTE | OPERACOES Estoques de |_| compra prazo | matérias-primas ‘de materias-primas Requisigto de — | material pare v “abricagao Estoquesde |__|} mop proautes em |-—}—outroscrs ‘elaboracéo bs Depreciacao L conclusio de fabricagio Estoques de produtos Bara de scabados estoque Duplicatas |_-Vendas a praze areceber |* | administrativas e PASSIVO CORRENTE Impostos a recolher (ou a recuperar) (“ee encargos sociais a pagar Contas a pagar Financiamentos bancérios - CP Impostos Custo dos | Produtos paixade | vendides | estoque Despesas operacionais Despesas e receitas financeiras e Lucro (Prejuizo) Imobilizado | Investimentos steuopesado sonissed ap soyuawiebed temporarios - LP ¥ Patriménio liquido Figura 1.6 Fluxo de fundos e reflexos na contabilidade. 19 Financeira e Orcamentéria + Hoji As movimentacées das contas correspondentes as atividades de investimen- tos € de financiamentos produzem reflexos diretamente nas contas contdbeis Tepresentativas dessas atividades e no Disponivel. A diferenga entre o valor da ‘operacdo original e o da operaciio final ¢ refletida nas contas de Despesas e Re- ceitas financeiras, que s40 provisionadas e apropriadas periodicamente contra ‘as contas dos Financiamentos bancirios e Investimentos temporarios, respecti- wamente. Por exemplo, a captacio de financiamento bancario de determinado resultard, no futuro, em devolugao dessa quantia (amortizacao) e no pa- de juros, que sao contabilizados como Despesas financeiras. Com exce¢io do imobilizado que é eventualmente vendido, os itens nao correntes transitam geralmente por itens correntes antes de transformarem-se em Disponivel. Quando a empresa compra um bem do Imobilizado com financiamento, aparentemente nao existe movimentacao de dinheiro no ato da compra, mas, na pratica, é como se o comprador tivesse recebido dinheiro do financiador e com esse dinheiro tivesse pago o fornecedor do bem. A Figura 1.6 ilustra simultaneamente os fluxos de fundo e de caixa. Com base nela, as Figuras 1.7 e 1.8 ilustram separadamente os fluxos de fundo e de caixa, respectivamente. Somente as contas contabeis diretamente relacionadas estao destacadas. O fluxo de fundos é bastante semelhante ao fluxo de bens e servicos apresentado na Figura 1.4. BE Ademisracio Financeira ¢ Orcat mentéria * Hoji = } ATIVO CORRENTE OPERAGOES | PASSIVO CORRENTE | Fornecedores | SS Impostos a recolher l (ou 2 recuperar) Salarios e encargos sociais a pagar Contas 2 pagar Duplicatas Vendas a prazo Financiamentos areceber bancarios — CP Vendas a vista Investimentos &, RESULTADO DAS OPERACOES temporarios ~ CP ey 1 1 a0) = Ls a EN ¢ % %. 2 a “% ‘“ oe os DISPONIVEL (Caixa e Bancos) a h 2 9 bie a ei) si 93 %, Se, 1 oz zg = %, i a8 & 3 A ’o 38 — —————— e 2 ge See as Patriménio ro Imobilizado Investimentos Financlamentos eatiees 5 remporérios —LP| bancarios —LP ATIVO NAO CORRENTE PASSIVO NAO CORRENTEEPL | Figura 1.8 Fluxo de caixa. Introdugdo & Administracdo Financeira 21 ATIVO CORRENTE OPERACOES PASSIVO CORRENTE —— Estoques de matérias-primas Estoques de produtos em elaboracao Estoques de produtos acabados HU RESULTADO DAS OPERAGOES: Receita fa bruta Impostos Gusto dos produtos vendidos Despesas operacionais Despesas e receitas financeiras DISPONIVEL (Caixa e Bancos) Tucro (Prejuizo) Patriménio Investimentos Financiamentos liquido temporarios ~ LP bancérios ~ LP Depreciagao ATIVO NAO CORRENTE Imobilizado PASSIVO NAO CORRENTE E PL Figura 1.7 Fluxo de fundos.

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