O nico sentido ntimo

das coisas
elas no terem sentido

ntimo nenhum.
Creio no Mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas no penso nele
Porque pensar no compreender...
O Mundo no se fez para pensarmos nele
(Pensar estar doente dos olhos)

Mas para olharmos para ele e estarmos de

acordo

O essencial saber ver,

Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se v,
E nem pensar quando se v,

Nem ver quando se pensa.

Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mos e os ps
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor v-la e cheir-la

E comer um fruto saber-lhe o

sentido.
Pouco me importa.
Pouco me importa o qu? No sei:
pouco me importa.

Porque eu sou do
tamanho do que vejo

E no do tamanho da
minha altura...
Mas as coisas no tm nome nem
personalidade:
Existem, e o cu grande e a terra

larga,
E o nosso corao do tamanho de
um punho fechado...
Se sou mais que uma pedra ou uma planta?
No sei.
Sou diferente. No sei o que mais ou menos.
Ter conscincia mais que ter cor?

Pode ser e pode no ser.

Sei que diferente apenas.
Ningum pode provar que mais que s
diferente.

Antes o voo da ave, que passa e

no deixa rasto,
Que a passagem do animal, que fica

lembrada no cho.
A ave passa e esquece, e assim deve
ser."
No tenho pressa. Pressa de qu?
No tm pressa o sol e a lua: esto certos.
Ter pressa crer que a gente passa adiante das

pernas,
Ou que, dando um pulo, salta por cima da
sombra.
No; no sei ter pressa.

Alberto Caeiro
Nasceu em 16 de abril de 1889, em Lisboa. rfo de pai e
me, no exerceu qualquer profisso e estudou apenas at 4

classe. Viveu grande parte da sua vida pobre e frgil, no

Ribatejo, na quinta da sua tia-av idosa, e a escreveu O
Guardador de Rebanhos e depois O Pastor Amoroso. Voltou
no final da sua curta vida para Lisboa, onde escreveu Os
Poemas Inconjuntos, antes de morrer de tuberculose, em
1915, quando contava apenas vinte e seis anos.

Pensar incomoda como andar

chuva

Quando o vento cresce e parece

que chove mais.

Creio no Mundo como num

malmequer,

Porque o vejo. Mas no penso

nele
Porque
pensar
compreender...

no

O Mundo no se fez para

pensarmos nele

(Pensar estar doente dos olhos)

Mas para olharmos para ele
e estarmos de acordo