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voy ouMYYED, UIBG! NVOIVIMENTO (HOS) CAPITULO 12 Teoria dos custos de transacao > Ronaldo Fiani 12.1 Introdugao Até a publicacao do artigo pioneiro de Ronald Coase em 1937, intitulado ‘The Nature of the Firm (A natureza da firma), & teoria econdmica tratava em detalhe apenas dos custos de producio, Embora se reconhecesse a existéncia também dos custos de transagio, isto é, que ndo apenas 0 ato de produzir, mas também o ato de comprar e vender acarretava custos, supt- nha-se em geral que os custos associados as transagdes econémicas eram negligenciéveis, de tal forma que os tinicos custos que realmente importa- vam eram os custos de produgio. Em fungao dessa énfase praticamente exclusiva em custos de produ- Gio, a empresa era vista fundamentalmente como uma funcio de produ- G40: dados7 insumos x), x), através de um processo produtivo qual- guer se conseguia uma quantidade y de produto. Ao economista competia exclusivamente conhecer a relagdo matemética entre os insumos e 0 pro- duto para, juntamente com o preco desses mesmos insumos e do produto final, calcular a quantidade a ser produzida que maximizaria 0 lucro da empresa, isto é, sua quantidade de equilfbrio, Coase em seu artigo busca uma definigao da empresa “que corres- ponda ao que ela é no mundo real”, Para isso faz. uma pergunta algo pri- méria, mas que, surpreendentemente, nenhum dos mais importantes economistas até aquele momento havia feito: por que existem empresas? Dito de outra forma, por que existem organizacdes dirigindo 0 processo |= | produfivo em que relagGes hierérquicas, definidas pela subordinagao dos empregados diregio da empresa, determinam como se deve orga. nizat 4 produgio? Asfim, é necessdrio entender por que a produgao nao pode ser levadaa cabo por uma série de agentes individuais, formando uma cadeia em que cada ufn comprasse dagtele que se encontrasse em urna etape anterios a processo de produgio, até que o tiltimo produtor na cadeia vendesse o produto acabado a0 consumidor final. Em outras palavras, é preciso ex: plicar 6 que leva diferentes etapas do processo produtivo a serem integra. chs veltealmente dene denmaemprege eo A rtspostaj se encontra de certa forma implicita na pergunta: sea ca- deia imaginada anteriormente nio se concretiza na pradugio de bens ¢ servigds de nafureza complexa, se vivemos em um mundo com grandes unidades fabris,¢ nao com individuos que trocam entre siem cada etapa que a divisio das tarefas permitisse, é porque essas trocas devem envolver ue no pode ser negligenciado. Em outras palavras, empresas, mganizagdes que decidem hierarquicamente a alocagao dos fatores de producio no seu interior, substituindo o mecanismo de mercado, exis. ‘tem porque os custos de transagio, ou seja, os custos de recorrer ao metc: do, siolsignificativos entre as ¢ ‘O altigo de Coase deu inicio, dessa forma, a0 estudo das condigdes sob as quai 0s custos de transagio deixam de ser despreziveis e passam a ser uum elemnenfo importante nas decisoes dos ager agetierontioon contribuin- do pard determinar a forma pela qual so alocados os recursos na econo- mia, A andlise dessas condigées, assim como das conseqiiéncias dos custos de trangagio para a eficiéncia do sistema, constituem o objeto da Teoria de Transacio (TCT). a resposta, do porqué da existéncia de empresas, se segue uma ou- tra Sate dado que existem empresas, mas que estas também nao sio absolutis na organizagio do processo produtivo, pois ha um grande ni- mero d§ transagdes que se dio pelo mercado, quais so os limites das em- presas para organizar a produgio? Quando é mais interessante produzir soba ditecdo de uma hierarquia, e quando é mais interessante deixar que 0 mercadb, através do mecanismo de precos coordene a produgio? Em ou- tras palavras, por que o mercado nio é climinado, produzindo-se tudo em uma tinica € gigantesca empresa? O capitulo esta dividido em quatro segdes, além dessa introducao. Na primeich se¢ao estudaremos a natureza e os fatores determinants dos cus- tos de thansaco. Na segunda secao serio analisadas as diferentes nature- 26s| 245 dos kontratos. Na terceira detalham-se os tipos de transagées ¢ a8 ¢s- truturas de governanga, Finalmente, na iltima segdo apresentamos algu- mas evidéncias empfricas sobre os custos de transacio, 12.2 Natureza e Fatores Determinantes dos Custos de Transagao 12.2.1 Natureza dos custos de transacao Custos de transagio sio os custos que os agentes enfrentam toda vez que recorrem a0 mercado. De uma maneira mais formal, custos de transagio so.0s custos de negociar, redigir e garantir o cumprimento de um contra- to. Desa forme sa dade bcs ra ‘andlise quamdosetaa decade transagio £0 contrate, Mas por que contratos envolvem custos? De fato, na abordagem microecondmica dos manuais de graduacéo, contratos nao envolvem custos. Mas isso porque hé uma hip6tese que torna os custos de claborar e implementar contratos despreziveis. Essa hipotese € a de sime-, ria de informacio: tanto comprador como vendedor conhecem todas as caracteristicas relevantes do objeto da troca, em qualquer transacao. A teoria dos custos de transacdo suspende a hip6tese de simetria de in- formagées, ¢ elabora um conjunto de hipéteses que tomam os custos de ‘twansacio significativas: racionalidade limitada, complexidade e incerte- Za, oportunismo e especificidade de ativos. Essas hipSteses sfo os fatores determinantes da existéncia de custos de transacio, e serdo tratadas em se- guida. 12.2.2 Fatores determinantes de custos de transacio 4) Racionalidade limitada, complexidade e incerteza O ponto de partida no tratamento da questéo dos mercados pela TCT é 0 reconhecimento, a partir dos trabalhos de H. Simon, de que o comporta- ‘mento humano, ainda que sendo intencionalmente racional, enfrenta li- mitagdes. Estas limitagdes possuem fundamentos neurofisiolégicos (que dlmitama capacidade humana de acumular e processar informacées) ¢ de linguagem (que limitam a capacidade de transmitir informag6es). Caso a raconalidade Funan fae Tintads- of Sanaa PHI Contratos poderlam Incorporar cléusulas antecipando qualquer circunstancia futura. Mas racionalidade limitada nao teria qualquer interesse analitico se 0 meio ambiente onde se processam as decis6es fosse absolutamente previst= vel simples. Dito de outra forma, racionalidade limitada s6 se torna um [os conceito relevante para a andlise em condigées de complexidade eincerte- £4, Ambientes simples, mesmo com racionalidade limitada, nao oferecem dificuldades, porque as restrigées de racionalidade dos agentes nao sao atingidas. Em ambientes complexos a descricio da arvore de decisées pode se tornar extremamente custosa, impedindo os agentes de especifi- car antecipadamente o que deveria ser feito a cada circunstincia. A exis: téncia de incerteza, por outro lado, mesmo que seja no sentido convencio- nal de risco, combinada com racionalidade | limitada, dificulta definir e dis- tinguir as probabilidades associadas aos diferentes estados da natureza que podem afetar a transagio.* Racionalidade limitada, complexidade ¢ in: 4 gligncia gerarem assimetrias de informagdo, Assimetrias de informacao ‘Tada mals lo do que Uerencasnasinformaydes que as pares onvolviiar em uma transagio possuem, particularmente quando essa diferenga afeta © resultado final da transagao, 6) Oportunismo e especificidade de ativos Racionalidade limitada, ambiente complexo e incerteza criam as condi- ‘ses adequadas para os agentes adotarem iniciativas oportunistas, Por ‘oportunismo entende-se a transmissao de informagio seletiva, distorcida, £ promessas “autodesacréditadas™ (self-disbelieved) sobre 0 comportar ‘mento futuro do préprio agente, isto é, o agente em questo estabelece compromissos que ele mesmo sabe, a priori, que ndo ird cumprit, Como no se pode dstinguir rates sueortladotes agentes, hi problemas na execugio e renovagio do contrato, conceito de oportunismo na TCT, portanto, possui um sentido di- verso daquele que se utiliza na linguagem corrente, em que um comporta- ‘mento “oportunista” é muitas vezes definido como a habilidade por parte de um agente de identificar ¢ explorar as possibilidades de ganho ofereci- ddas pelo ambiente, E importante ter clareza de que oportunismo neste tik timo sentido nao é oportunismo para a TCT. Oportunismo na TCT esti essencialmente associado & manipulacéo de assimetrias de informacio, vi- sando apropriacdo de fluxos de lucros, “Alguns autores definm incertza de uma forma diferente da que definem rsco. A defingdo deine ‘ertera como risco prestup6e que ¢possvlidentificar todos os eventos possivis eatibuirprobabi- lidadesa esses eventos, Outros autoresdefinemincerteza como aimpossbilidade de identifica todos {5 eventos que podem vir a ocorrer no futuro. Evideeemente, ness timo eato, as conseqdencias ‘270 | da existéncia de incertza se apicam ainda com maior intensidade do que no cto de reco Para se entender melhor o sentido do oportunismo na TCT, conside- re-se 0 seguinte caso: uma empresa solicita ao seu fornecedor uma mudan- ana especificagio de um determinado insumo. Seu fornecedor informa que a mudanga pretendida na especificaco provocard um aumento no custo do insumo superior ao aumento que efetivamente ocorre. Trata-se entdo de uma atitude oportunista da empresa fornecedora, uma vez que, dada a racionalidade limitada de seu cliente, assim como a complexidade na fabricagao do insumo, impedem que o comprador do in- sumo possa conhecer as particularidades da produgio daquele insumo, e, portanto, avaliar a exatidio do aumento de custo informado pelo fornece- dor. A dispitaem torno do Muxo de Tucros que af ocorre se dé pois quanto maior 0 prego do insumo anunciado pelo fornecedor, coeteris paribus, ‘menor o lucro da empresa compradora, A literatura econémica reconhece duas formas de oportunismo: opor- tunismo ex-ante, isto é, antes da transacio ocorrer, e oportunismo ex-post, ou seja, depois de realizada a transacio. Como exemplo de oportunismo ex-ante, tem-se a contratagao de uma empresa fornecedora de um insumo cujas especificacdes ela id sabe de antemio que nio possui a capacidade de ccumprit, Este tipo de oportunismo é conhecido na literatura como selecdo ( outro tipo de oportunismo ocorre quando hé problemas na execu- io de uma transagio contratada. Por exemplo, quando uma empresa for- necedota de um insumo a um prego fixo reduz o nivel de qualidade para reduzir seus custos. Este segundo tipo de dportunismo é conhecido na lite- ratura por problema moral (moral hazard), Contudo, mesmo racionalidade limitada, complexidade, ‘portunismo nio bastam ainda para gerar problemas no funcionamento dos mercados. Uma titima condigio se faz necessaria, Esta condigao é de- signada como sendo a de transagées que envolvem ativos especificos, isto é, transagSes que ocorrem em pequeno nimero (small numbers). Neste tipo de transagao apenas um niimero limitado de agentes esta habilitado a Partcipar: aespecificidade dos avos tansaCionados rede simultane: ‘mente, os produtores capazes de oferté-los ¢ 0s demandantes interessados em adquiti-los. problema associado com a especificidade de ativos é que uma vez que 0 investimento em um ativo especifico tenha sido feito, comprador e vendedor passam a se relacionar de uma forma exclusiva ou quase exclusi- va, Seum dado fornecedor &0 tinico capaz de prodiizir um insumo com as particularidades desejadas por uma empresa especifica, tanto 0 fornece- jor esta Iigado aquela empresa, pois €a tinica que compra seu produto, jan | como 4 empresa cliente esté vinculada ao fornecedor, que é 0 tinico capaz de produzir o insumo de que necesita. Esse vinculo entre produtor e comprador, derivado da especificidade dos atiyos envolvidos na transagio, pode dar origem ao que a literatura convertionou chamar de “problema do refém” (hold-up). Esse problema ocorre quando uma das partes que realizou um investimento em um ativo especifico torna-se vulneravel a ameagas da outra parte de encerrar a rela- io. Esha ameaga pode permitir a essas partes obter condig6es mais vanta- josas do que as do inicio da transacéo. © problema do refém pode se verificar tanto na relagao entre 0 vende- dor e @ comprador, como vice-versa. Considere o caso de uma empresa geradota de energia elétrica que disponha apenas de uma outra empresa de transmissio para vender sua energia, enquanto essa tiltima compre a energia que vende de varias geradoras. Caso a empresa geradora em ques- ‘Go realize investimentos no aumento de sua capacidade de geragio, ficard refém da empresa de transmissio para a venda da energia gerada pela sua capacidade adicional. A empresa transmissora poder4 barganhar melho- res pregos pela energia comprada, simplesmente ameacando nao comprar a energia adicional produzida. O mesmo exemplo poderia ser pensado da forma |nversa, com uma empresa geradora que atendesse a diferentes mercados, centre eles uma empresa transmissora que comprasse exclusi- vamente sua energia. A especificidade de ativos é uma condigio necesséria para que 0 risco associatlo a atitudes oportunistas seja significativo; caso contrario, a pro- pria rivalidade entre os numerososagentes aptos a participarem da transa- ‘so, taro no papel de vendedores como de compradores, reduziria a pos- sibilidalle de atuagbes oportunistas. No limite dessa situagéo de pequenos néimergs, podemos vir a ter uma situacdo de monopélio bilateral, com apenas um vendedor ¢ um comprador, caso que a teoria convencional sempre|teve dificuldade em tratar. Aqui a TCT identifica um problema interessante. Uma transagio que inicialmente se caracterizava como tendo muitos agentes habilitados, isto é,comd uma transacéo de grandes niimeros (large numbers), A medida que se desenvolve no tempo pode se converter em uma transacio de small num Isto se daria pelo que a TCT convencionou chamar de “vantagens da k a.a se mover” (first-move advantages): aqueles que ven- ‘cemas bfertas iniciais terdo vantagens ndo-tiviais sobre seus concorrentes potenciais, baseadas em conhecimento acumulado (learning by doing) s0- zm bre seu} clientes. Obviamente, isto s6 pode ser relevante no caso de barga- nhas recorrentes envolvendo ativos especfficos, e em um ambiente dina- mico em constante mudanca. A esse processo, em que transagdes de gran- des ntimeros acabam por se converter em transagées de pequenos ntime- ros, a TCT chamou de transformagdo fundamental Racionalidade ‘inact ease lade e incerteza, oportunismo e ati- vos especificos acarretando pequeno ntimero de transagées geram dificul- dades significativas no momento de se contratar uma transagio, isto é, ad- quirir um insumo ou servico através do mercado. Essas dificuldades se re- fletem em custos de contratagio, Para entender melhor essa questio, € preciso considerar a natureza dos contratos, 12.3 A Natureza dos Contratos As condig6es descritas anteriormente tornam bastante problemética a contratacao de uma transacio, especialmente se ela ser concretizada em uma data futura. Racionalidade limitada, complexidade e incerteza, opor- tunismo ¢ especificidade de ativos geram dificuldades no momento de ne- Soca cvaligium sontiaros ati cquo mab aide, quajte for neste rio garantir sua execucio. Contudo, ha diferentes tipos de contratos, sendo preciso entéo anali- sar em que medida cada tipo de contrato se ajusta a uma dada configura- co de custos de transacio. Podemos discernir quatro tipos basicos de contratos: 1. Contratos que especificam no presente uma determinada perfor- mance no futuro; 2. Contratos que especificam no presente uma determinada performan- ce no futuro, condicionada a ocorréncia de eventos definidos anteci- padamente no futuro, isto é, contratos de cléusulas condicjonais; 3. Contratos de pouca dutagio, realizados apenas nos momentos em ‘que as condigées necessarias para a realizado da transacao efetiva- mente se concretizam, isto & contratos de custo prazo seaiienciais; 4. Contratos estabelecidos hoje com o direito de selecionar no futuro uuma performance especifica dentro do conjunto de performances es- tipulado previamente, isto 6, estabelecer uma relacio de autoridade, © contrato do tipo (i) pode ser descartado para transagbes que envol- vam complexidade e incerteza, Na medida em que nao permite nenhuma flexibilidade para ajustes a mudangas nas circunstancias futuras, é adequa- do apenas para as transages mais simples, que no envolvem custos de ers ‘transagio significativos. Os trés tipos seguintes de contrato merecem aten- go mais detalhada, 12.3.1 Contratos de clausulas condicionais Nesse tipo de contrato as partes estabelecem um dado desempenho de- pendendo do que ocorsa no futuro. Uma rede de lanchonetes pode estabe- lecer um contrato com o seu fornecedor de sorvetes. em que é admitido um fornecimento extra, caso no vero o consumo de sorvete ultrapasse deter minado volume diério. Este tipo de contrato enfrenta duas dificuldades. A primeira delas diz respeito a dificuldade de redacao & medida que a complexidade aument em fungao da racTonalidade Iimitada dos agentes torna-se muito dificil an. ‘ecipar todas a5 circunstancias futuras, assim como as providéncias que devem ser tomadas. ‘Uma segunda dificuldade diz respeito & necessidade de garantir o cum- primento do contrato, Em primeiro lugar, para garantir que o contrato estd sendo executado da forma prevista € preciso determinar quais as con- ddig6es, dentre as que definem as medidas a serem tomadas, estio efetiva- mente se realizando a cada momento. Em outras palavras, € preciso que Seia identficado com precisdo ea baixo custo quais as citcunstancias que gstéo vigorando em um dado instante. Quando 0 estado do mundo nao pode ser identificado com precisio e a baixo custo, abre-se espaco para que cada parte identifique como estado do mundo aquele que Ihe é mais conveniente, tomando atitudes oportunistas, Em segundo lugar, ainda que o estado do mundo pudesse ser discerni- do a baixo custo ¢ com precisfo, ainda ha o problema de identificar se a Parte responsavel pela execugio das tarefas realmente adotou as medidas adequadas de acordo com o estado do mundo, Em ambientes muito com: Plexos, isto mais uma vez pode dar margem a atitudes oportunistas. Resulta assim que esse tipo de contrato € 0 mais indicado quando hé o interesse de se preservar 0 vinculo entre comprador e vendedor, dada 2 existéncia de ativos com algum grau de especificidade, e em um ambiente em que a complexidade nao tem conseqiiéncias severas em termos de cus- tos de negociacao e garantia dos contratos. 12.3.2 Contratos de curto prazo seqiienciais Nesse tipo de contrato, vendedor e comprador nao possuem um vinculo 24] contratual duradouro. As ofertas sio feitas a cada momento, em um mer- a cado a vista (spot), cada comprador adquirindo 0 que deseja apenas no ‘momento em que a necessidade se faz sentir. Trata-se de um tipo de con- ttato que reduz expressivamente qualquer problema de adaptagio entre as partes envolvidas, pois ndo hi necessidade de se antever as circunstin- cias futuras que irdo afetar a transagdo: ela somente é realizada no mo- ‘mento em que se faz necessaria eas condigées futuras A sio conhecidas, Esse género de contrato, contudo, também enfrenta suas limitagoes. Inicialmente, ele exige a existéncia de um mercado spot, onde os custos de transagio sejam baixos, de tal forma que os agentes possam recorrer a este mercado sem Onus significativo. Isto exige que a transacio nao envolva, fundamentalmente, ativos especificos, O objeto da transagio tem de ser homogéneo, de tal forma que nao faca diferenca tanto a identidade do comprador como a do vendedor, Por outro lado, esse tipo de contrato também nao estélivee de atitudes oportunistas. Embora antes das transagdes se efetivarem haja realmente tum caso de grandes ntimeros, apés a efetivacio da transagio pode ser que ocorra a transformacéo fundamental vista anteriormente, isto é, que um Processo de aprender fazendo leve 0 vendedor a adquirir informacao pri- vilegiada sobre o comprador, passaido Te? taniegene nag Yantacens na comnts, Eom os demais vondedones berbclosde were a vantagem, 0 vendedor pode adotar atitudes oportunistas. Este tipo de problema é comumente observado nas licitagdes do setor publica; apesar de, a principio, todos os licitantes estarem em igualdade, o vencedor da Ticitagao acaba adquirindo informacio sobre o servigo pres- tado, 0 que o coloca em vantagem frente aos demais nas licitaces seguin. tes, O mesmo também oforve no mercado te ali ee ‘mo- mento da admissao o trabalhador freqiientemente se encontre em igualda- de com os demais candidatos no mercado de trabalho, 0 exercicio de sua fungio acaba conferindo conhecimentos que dio vantagem a outros can- didatos no mercado, caso a empresa decidisse contratar trabalhadores em contratos seqiienciais de curto prazo. Por sinal, essa é a razo dessa forma de contrato ser rara no mercado de trabalho, 0s contratos de curto prazo seqiienciais sio adequados, dessa maneira, em situagdes onde nao hd o interesse em preservar os vinculos entre com. Prador evendedor, e onde transformacio fundamental no se verifique. 12.3.3 A relagao de autoridade A caracteristica da relagio de autoridade de um agente sobre outro é que ao Primeiro €faculrado define 0 que o segundo deverd execurar, dente um | Conjunto de agdes possiveis. Assim, um gerente administrative pode deter- minar, déntre as varias ages admitidas para um funcionério administrati- vo, qual ¢ a mais adequada para determinada situagio. Da mesma forma, quando olgerente de produgio decide que determinado insumo tem de pas. sar de umja etapa na fébrica para a etapa seguinte em determinadas condi 0es, ele esté escolhendo, dentre as varias ages previamente determinadas, qual o setor responsével por aquela etapa tem de adotar e, portanto, est exercend uma relagio de autoridade sobre o referido setor. A primeira vantagem da relagao de autoridade € o fato de que nao é necessérip antecipar todas as circunstancias futuras, bem como as agoes, que devein ser executadas para cada uma delas, Em outras palavras, nio é nedessirio gerar a drvore de decisies € dessa maneira 4 problemas em relaci i i i dos agentes, domo no caso dos contratos de cldusulas condicionais em am- bientes complexos, A segunda vantagem diz respeito ao fato de que, sob a relacio de auto- ridade, nab €necessavio recontratar sucessivamente, o que red significa- sivamente)os custos de transagéo em circunstincias onde existe especific- dade de ativos, representando nesse caso uma vantagem comparativa- mente lee de curto prazo seqiienciais. Toda 4 discussio até aqui se deu em termos de especificidade de ativos como se fosse uma caracteristica puramente qualitativa: os ativos ou sf0 ‘undo sig especificos, Na verdade, ha graus de especificidade, como tere- ‘mos oportunidade de ver. A necessidade ou nao de integear verticalmente Para pouphr custos de transacio deve ser verificada em relacio ao grau de especificidade dos ativos. Em outros termos, deve-se tipificar as transa- gdes pelo grau de especificidade dos ativos, Esse seré o proximo assunto a ser abordado, 12.4 Tipos de Transagées e Estruturas de Governanga Todos os oblemas citados (racionalidade limitada, complexidade, in- Certeza, opfortunismo € pequeno nimero de transagées) ganham maior ou menor destaque de acordo com o tipo de transagio em anilise ou, na ter- minologia de Oliver ‘Williamson, de acordo com o tipo de investimento realizado. Portanto, é preciso, de acordo com a TCT, classificar os dife- rentes tipo de transacSes. Inicialmente é necessétio definir em que grau 98 ativos exvolvidos sio especificos: caso sejam ativos com mercados mui 10 in as transagdes com esses ativos sio designadas pela TCT tran sac es com ativos especificos. Para os agentes envolvidos nesse tipo de transagio, assegurar a conti- nuidade da mesma é condigio indispens4vel para estimular a decisio de investimento. Tanto para o fornecedor do ativo especifico, como para 0 seu comprador, hi 0 interesse em que a relacio nao seja interrompida, de modo a preservar 0s investimentos feitos, tanto por parte do comprador como por parte do vendedor. Obviamente, isto pressupde que se tratem de transagées freqitentes ao longo do tempo, ou seja, recorrentes, Fm izan- sages ocasionais tal necessidade (de continuidade da transagio ao longo do tempo) nao se mostra tio significativa, O outro caso polar no que diz respeito ao caréter das transacées seria 0 de transagoes ndo-especificas, envolvendo equipamento ou materiais pa- drontzados, em geral submetidos normalizacio técnica, Na situacio de fronteira teriamos as transacées mistas, Vistas as caracterfsticas das transag6es de acordo com o grau de especi- ficidade dos ativos, 0 passo seguinte é examinar as diferentes formas de implementar as transagdes, em funcio dessa especificidade. Para isso, te- mos de conhecer as estruturas de governanga, Como afirmamos, uma situagio de racionalidade limitada, complexi- dade, incerteza, oportunismo e pequenos niimeros (small numbers) pode envolver graves problemas, de acordo com o tipo de transagao envolvida. Para assegurar a realizagio das transacées desenvolveram-se varios tipos de estruturas de governanga. Uma estrutura de governanga define-se como sendo 9 arcabougo institucional no qual a transa¢ao é realizada, isto 6, 0 conjunto de instituigGes e tipos de agentes direramente envolvidos nz realizagio da transagio ena garantia de sua execugio, Vejamos como a ‘TCT classifica ests estraturas, e como elas se relacionam com o tipo de in- vestimento realizado pela empresa. 1. Governanca pelo Mercado: forma adotada em transagées_nio~ especificas, especialmente eficaz no caso de transagdes recorren: tes. Nao hé esforgo para sustencar a relacao, é na avaliagao de uma transagdo, as partes precisam consultar apenas sua prOpria expe- rigncia. £ 0 caso que mais se aproxima da nogio ideal de merca “puro”, 2, Governanca Trilateral: aqui ¢ exigida a especificacio ex-ante de uma terceira parte, tanto na aValiagao da execucao da transagao eee para a solugao de eventuais litigios. E a mais adequada em transacSes ocasianais, sejam elas de carater misto ou mesmo especifico. 3: Govemanca Especifica de Transagdo: neste caso, 0 fato dos ativos fransacionados nao envolverem padronizacao aumenta significati- Yamente 0 risco da transagio e a possibilidade do surgimento de Conflitos de solugio custosa e incerta. Ao mesmo tempo, quante naior 0 grau em que as transag6es forem recorrentes, maior a pos. sibilidade de cobri os custos derivados da constiuigao de um cron, bouso institucional espectfco para a transacio,* Dois tipos de en ‘ruturas podem entio surgir: (a) um contrato de relaado, onde os Partes Preservam sua autonomia; e (b) uma estrutura unificada ¢ ‘israrquizada, isto é, uma empresa A probabilidade da opgio por uma estrutura unificada e hierarquizada cresce com 0 cardter idios sincrético do investimento, Podemos caracterizar um contrato de relacio, de acordo com Mil- srom Roberts, da seguinte maneira: as empresas envolvidas ndo se preo. cupam em elaborar contratos detalhados, que estipulem de forma exeasth, 12 todos 08 procedimentos a serem adotados. Ao contraro, s empresas cnvolvidas estabelecem metas objetivos a serem aleancades, Da mesma forma, estabeTecem condic6es gerais de execucio do contrat, especi cando critérios para circunstincias imprevistas 0s quais definem sucm femaautoridade para agir limites para essas acGes. Também sio esibe, lecidos mecanismos para a resolugéo de conflitos, caso eles ocoreary Conio exemplo de contrato de relacio terfamos a pesquisa e desenvol- vimento de proig i i, cuja evolu- do € incerta e nao pode ser prevista com antecipacio. A alternativa a0 contrato de relagdo, quando a especificidade da tran- sasio juntamente com os demais problemas que geram custos de tranen Sto significativos (racionalidade limitada, complexidade e incerteza Cportunismo) tornam até mesmo o contrato de relacio invidvel, éa estru- {uta hierarquizada da empresa, © nesse caso ela integra vertcalmene aquilo que ela transacionaria no mercado, ATabela 12.1, a seguir, sintetizaa relagio entre o tipo de investimento € a estrutura de governanca: “Eimporane nota que acraso dum areboeinsiconl ea cuon fon Um ego de nr. daonenat © fcaliest representa um custo fx, poisadespesacom fla de pease meen ScSamimocte. sects mesmsindepndenemene dovolume depocamorandicnn trea aan Sees Cle dese tipo wt jusieaquandoas ranagberem que apenciernf oon 278 | sscia atingem determinado volume minim Tabela 12.1 Caracteristica das Transagées Freqiéncia do Nao-Especiicas Mistas Especticas Investimento| Ocasionais Governanga de Governanga Govemanga ‘Mercado “Triateral Trieteral Rocorrentes Governanga de Governanga Organizagéo Mercado Bilateral Interna (Contato de (Empresa) Retagdo) ———________ Fag) Fonte: iimson (1988, 9.117), Como pode ser visto na Tabela 12.1, quanto mais “caminhamos” da esquerda para a direita e de cima para baixo, maior é a tendéncia no senti- do de que as transacées através do mercado sejam substituidas por transa- ses intra-empresa, isto é, no sentido de que ocorra 0 que se convencio. nou chamar de um processo de verticalizacao. Em termos gerais, o que esté acontecendo € que o carter crescente- ‘mente espectfico das transacées reduz progressivamente a vantagem que 0 mercado oferece (economias de escala), enquanto que os custos derivados de negociar, redigir, implementar e verificar a execugio adequada das cléusulas contratuais cresce (em resumo, os custos de transagio). E da comparagio destes dois termos (economias de escala versus custos de tran- sagio) que caberd a decisio final quanto & forma insticucional mais ade- Quads para a organizagio da transacZo: via mercado ou via estrututa hie- rrquica da empresa. Este ponto é importante e deve ser ressaltado. A condigio para a ob- tengio de economias de escala é que o mercado seja suficientemente ex. tenso pard que os ganhos de escala possam ser aproveitados, Isto nada Inais é do que a existéncia de um grande ndmero de transacdes, 0 que por sua vez significa que o tivo transacionado possui um grau de especificida- debastante baixo, Como conseqiiéncia, o mesmo ativo pode ser oferecido ‘2 um niimero razoavelmente grande de clientes potenciais, e, portanto, 0 produtor ganha escala, ¢ com isso pode oferecer o ativo em questéo aum Prego mais baixo do que o custo que o demandante teria se produzisse 0 ativo apenas para si mesmo. Ao mesmo tempo, por ser um ativo de baixo grau de especificidade, a soma dos custos de negoctar, edigire guantrateeougie hates 1 expressiva, Sendo 0 ativo pouco especifico, nao envolve com- ‘eincerteza. Nao envolvendo complexidade e incerteza, a nego- ges em grande niimero, o que significa muitos vendedores e comprado- Tesno mercado, [imicando assim as vantagens de qualquer uma das partes smadotar atitudes oportunistas: sempre se pode encontrar um outro for- necedor|ou um outro cliente para transacionar 0 ativo. Dess4 forma, o empres4rio compara dois custas: o,custo de produzir ele. mesmo d insumo e com isso integrar verticalmente, e 0 custo de adquirir o ingumo tio mercado. No custo de produzir ele mesmo o insumo, o empresa rio consiflera que a perda de escala (pois ele estar produzindo apenas para simesmd) vai tornar o insumo mais caro do que se fosse adquirido do mer- cado, onile o insumo € produzido nao apenas para o empresério em ques- to, mas para todos os demais que desejam adquiri-lo, Por outro lado, oem- presario fem de considerar, caso decida nao produzir ele mesmo 0 insumo, 6 custog de transagio de obter o insumo no mercado. Se Saas € pouco especifico, e as transagées no mercado sio de grande ntimero, isto significa que provavelmente economias de escala sig- nificativas sao realizadas pelos produtores desse insumo no mercado, ¢ 0 empresétio ter de considerar um aumento de custo significativo caso ele mesmo decida produzir 0 insumo, pois nao teré a mesma escala dos pro- dutores ho mercaco. Por outro lado, como o insumo € pouco especifico, os custos de transasao nao devem ser expressivos. Como saird muito mais caro (pot perda de escala) produzir 0 insumo do que adquiri-lo no merca- do (j4 que os custcs de transagao so baixos), 0 empresdrio deverd optar por comprar o insumo com baixo grau de especificidade no mercado, nao integranilo verticalmente sua producio. ‘© mesmo jé ndo ocorre caso a transagio sob anélise seja do género small numbers. Neste caso o ativo é produzido tendo em vista as necessi- dades especificas do demandante, logo, hé pouca ou nenhuma possibilida- de do attvo ser produzido para outros demandantes e com isso as vanta- gens em|termos de escala de produgao (com a conseqiiente reducio de custos) st perdem, a0 mesmo tempo em que os problemas de negociaco implementagio do contrato aumentam. Passa a ser mais barato para o de- mandante produzir ele mesmo o ativo em questio do que recorrer a uma transagip via mercado em termos de custo final. Isto porque, produzindo ele mesnjo, nao hd perda de escala significativa, uma vez que sendo o insu- aeq| 0 espetifico seu mercado é muito limitado. | Obviamente, este tiltimo tipo de dificuldade s6 tende a piorar na medi- dda em que a freqiiéncia da transagao aumente: 05 custos de negociar, im- plementar e verificar os contratos aumentam na mesma razo da continui- dade das transagées, desde que elas sejam especificas. Deve estar clara a importancia da especificidade dos ativos para a de- terminacio da relevancia dos custos de transagdo em um caso especifico. Mas quais as causas de especificidade de ativos? So identificadas quatro fontes de especificidade dos ativo: 1. Especificidade de localizacéo: decisées prévias, visando minimizar ‘custos de estocagem e transporte, podem gerar ativos com especifi- cidade de localizacio, que uma vez estabelecidos podem ser de di- ficil ou impraticével transporte. Uma subestagio de distribuicao de energia elétrica, por exemplo. 2. Especificidade fisica: caracteristicas de design podem reduzir 0 va- lor do ativo em uma aplicacao alternativa. Equipamentos sob en- comenda se enquadram nesse caso.* 3. Especificidade decapital humano; este tipo de especificidade surge fundamentalmente através de processos de “aprender fazendo” (learning-by-doing) dos empregados de uma empresa. Isto é especial- mente verdadeiro para a mao-de-obra alocada nos laborat6rios de pesquisa e desenvolvimento das empresas. 4, Especificidade de ativos dedicados: surge nos casos em que 0 fornecedor faz um investimento que, exceto pela perspectiva da venda de uma quantidade expressiva de produto para um deter- minado cliente, nao seria feito. Como exemplo, temos os inves- timentos de fornecedores de autopegas para atender a uma mon- tadora. (Os quatro itens acima istam as principais fontes de especificidades de ativos. Resta agora verificar se as especificidades acima relacionadas, jun- tamente com assimetria de informagio, realmente determinam o grau de verticalizagio das indistrias. Para isso temos de considerar os trabalhios que examinaram a evidéncia empirica. *B importante nio exquecer que aespeifcidade dos atvosndo a Gicacondigto para integracto versal Assim, cao oequipamento sob encomenda sejaadqutido em tansabes ocasionals, como foi visto antriorment, ito no dever levae 3 inegeaglo vertical | 12.5 Evidéncia Empirica sobre Custos de Transagao O primeiro esforgo sistemético de examinar empiricamente a TCT foi pu- blicado emi T98Z, por Kirk Monteverde e David Teece.* Em seu trabalho, aqueles autores examinaram a escolha entre integrar verticalmente ou re. correr ao mercado das empresas Ford e General Motors nos Estados Uni= os. Unlizou-se uma Ista de 135 componentes automotivos, para os quais observava-se se eram produzidos internamente pelas empresas ou com= prados de fornecedores. A hipétese era de que o fator determinante naes- colha era o esforgo de engenharia aplicado a cada um desses componen- tes, o que identificaria uma especificidade de ativos humanos. Dessa for- ma, quanto maior o esforco de engenharia em um dado componente, maio- res as chances desse componente ser produzido internamente. Também foram distinguidos componentes que eram especificos de cada companhia, em relagdo aos que eram comuns ao mercado automobi- Iistico. A hipétese era de que componentes especificos de uma das empre- sas teriam especificidades fisicas, detivadas de um design particular, o que também aumentaria a probabilidade desses componentes especificos se~ rem produzidos dentro da empresa, ao invés de adquiridos de fornecedo- res no mercado. Ahipétese nula, contra a qual a hipStese de que custos de transagio ge- rados pela especificidade dos ativos levariam & integracio vertical era tes- tada, consistia simplesmente na hipdtese de que a especificidade dos ati- Vos ndo determinaria a integragio vertical da empresa na producio da- queles itens. E importante notar que, além da especificidade dos ativos, tratava-se de transagdes recorrentes, pois as empresas precisavam adquirit repetidamente os componentes para montar os veiculos, Os resultados obtidos por Monteverde e Teece foram consistentes com as hip6teses da TCT, permitindo rejeitar a hip6tese nula. Iso deus primeira sustentagao empfrica para toda a discussio acerca dos custos de ‘transacéo determinando as etapas da cadeia produtiva integradas vertical- mente dentro da empresa, Scott Masten publicou em 1984 um estudo empirico referente as com ras de uma empresa americana aeroespacial, acerca dos componentes que ela tinha se comprometido a fornecer para o governo americano. Um uestionério foi fornecido ao pessoal de compras da empresa para que os ‘componentes fossem classificados de acordo com os seus diferentes graus 82 *Para uma resenha dos viros rests emplrcos sobre a TCT ver Joskow (1991), de especificidade ¢ complexidade. Masten encontrou evidéncias de que aumentam as chances dos componentes serem produzidos internamente quanto maiores os seus graus de complexidade e especificidade. Outros estudos foram feitos, envolvendo, por exemplo, a decisio da empresa entre empregar seus préprios vendedores ou firmar contratos com representantes de vendas aut6nomos. Em todos eles verificou-se evi- déncia empfrica de que a verticalizagao tende a ocorrer quanto maior aes pecificidade e complexidade da transacao. 12.6 Aplicagées da Teoria dos Custos de Transagio ‘As duas principais aplicagdes da TCT tém sido, afora andlises de Econo- ‘mia Industrial acerca de estruturas verticais, nas dreas de defesa da concor- réncia ¢ regulagio de monopslios. Essas duas aplicacées sero discutidas brevemente a seguir. 12.6.1 Defesa da concorréncia ATCT foi responsavel, notadamente a partir dos trabalhos de Oliver Wil- liamson, por uma revisio significativa dos conceitos que norteavam a po- litica norte-americana de defesa da concorréncia no final dos anos 60. Com efeito, naquele momento qualquer movimento de integracio verti- cal era avaliado negativamente do. js én: ia: considerava-se que 0 tinico motivo por trés da decisio de uma empre- sa de se integrar verticalmente seria subtrair um fornecedor de seus con- correntes, dificultando a competicao no setor, ¢ com isso aumentando in- diretamente seu poder de mercado. corre, porém, que, muitas vezes, um movimento de uma empresa no sentido da integragio vertical com um fornecedor, como foi visto, tem como objetivo economizar em custos de transacio, em funcao de elevado grau de ‘especificidade e complexidade das transag6es. Nesse caso, 0 processo de inte- ‘gracio vertical representa um aumento na eficiéncia da economia, e nfo uma tentativa de solapar a competigdo subtraindo um fornecedor, até mesmo por- que, dada a especificidade dos ativos envolvidos, o fornecedor em questio provavelmente nao encontraria outros compradores para sua producio. Um outro exemplo de aplicacio da TCT a defesa da concorréncia diz, respeito as chamadas restrig6es verticais. Um tipo bastante comum de res- trigo vertical é a franquia, em que o agente franqueado se compromete a adquirir seus produtos apenas de um dado fornecedor, ostentando a mar- ca desse, Es Supdnha agora que uma empresa tivesse um produto de qualidade su- pesion elo qual 0s consumidores estariam dispostos a pagar um prego ‘maior, mas que para isso o produtor tivesse que cumprir com trés condi- es: (1) tornar reconhecidos os atributos superiores de seu produto, (2) manter gontrole de qualidade sobre esses atributos e (3) manter um con- trole de custos para evitar que o prego do produto se torne proibitivo. Em uma situago em que os consumidores tivessem racionalidade ili- mitada, isso é, fossem capazes de imediatamente identificar que estava Eade leas poke nacional can ei qualidade cfeiva do produto, nfo haveria qualgue problema, Bastarao produor oferecer'seu produto no mercado através de qualquer revendedor, os con- sumidores perceberiam as diferengas e pagariam 0 prego adequado pelo produto|de melhor qualidade. Todpvia foi visto que a suposigio de que os consumidores tém perfeito conhecitnento de tudo o que é necessério nao é uma hipétese adequada para enfrentar a realidade do mercado. A hipétese mais adequada nesse sentido ¢ a de racionalidade limitada. Assim, nosso hipotético produtor enfrenta nio apenasa dificuldade de informar que seu produto tem quali dade superior, como também a dificuldade de fazer com que os consumi- dores acreditem nessa informacéo, pelas dificuldades de verificagio em fungio da racionalidade limitada dos individuos. 0 a produtor terd de, simultaneamente, atrair a atengio dos con- sumidores para os atributos de seu produto, garantir que esses atributos nao sejam afetados até a aquisi¢ao pelo consumidor e, finalmente, moni- torar todo 0 processo, de uma forma economicamente conveniente. ‘A fonma economicamente adequada é a franquia: na medida em que 0 produtor obciga um revendedor a comprar insumos com exclusividade dele, ¢ alrevender o produto nas condigdes que especifica (que podem ir desde a forma de estocagem e manuseio até ao layout do local de revenda ¢ visualigagao da marca do produtor), garante que um produto de qualida- de supetior chegue ao consumidor sem descaracterizar seus atributos, 20 mesmo tempo em que reduz a possibilidade de arirudes oportunistas por parte dq revendedor, tais como exibir a marca do produtor que oferece qualidade superior, mas vender um produto inferior e mais barato, au- mentando sua margem de lucro. 12.6.2 Regulagéo econdmica Em ternjos de regulagdo econdmica, a conteibuigéo mais importante da 214] TCT se deu no sentido de reavaliar as vantagens de concessées de servigos pliblicos em relagio a regulagio direta de uma empresa por um érgio go- vernamental. Servigos piblicos se enquadram freqiientemente na categoria de “mo- nopélio natural”. Dito de forma muito resumida, um setor ¢ considerado monopélio natural quando o custo de produzir com uma (inica empresa é ‘menor do que produzir com mais do que uma empresa, Isto ocorre em dis- bugle de one de ensign elftrice, por exemplo: € mais Barato ret uma nica empresa distribuindo energia elétrica do que duas empresas, com suas li- has uma ao lado da outra, A recomendagao corrente da teoria € que, nesses casos, 0 governo re- gulamente a empresa monopolista de forma a estabelecer seu lucro no va- Jor minimo para cobrir 0 custo de oportunidade do investimento. Alguns autores, contudo, comecaram a argumentar que a regulacio governamen- tal seria desnecesséria, mesmo sendo a empresa monopolista. O argumen- to é que, para tanto, bastaria que a concessio fosse renovada periodica- ‘mente, estando a empresa vencedora sajeita a concorrer a cada renovacéo com outras empresas, através de leilio. ATCT forneceu os instrumentos para demonstrar a precariedade des- se argumento. Seria necessétio inicialmente definir o prazo de duragio da concessio. Se fosse por um prazo curto, istoé, se a concessio fosse renova- da através de contratos de curto prazo seqiienciais, 0 concessionario néo teria oestimulo para fazer os investimentos de longo prazo de maturacio, Isto porque haveria muitos problemas no momento de se transferie essa concessio de uma empresa para outra: quais os valores que a nova conces- sionaria iria pagar pelos ativos da concessionaria anterior? Pelo seu valor histérico, o que em caso de inflacéo impediria a empresa que perdeu a concessio de recuperar o investimento feito, ou pelo seu valor de merca- do, obrigando a nova concessionsria a pagar precos de ativos novos por ativos jé utilizados? Se 0 contrato da concessio for de longo prazo, outro tipo de custo de transagao surge. Mesmo que o prazo da concessio seja suficiente para 0 concessionario amortizar todos os investimentos, agora surgem os proble- ‘mas caracteristicos de contratos de longo prazo, anteriormente vistos: si0 necessirias cliusulas condicionais que antecipem todas as circunstancias relevantes no futuro. Isso em ambiente de complexidade e incerteza pode dar margem a atitudes oportunistas por parte tanto da empresa regulada como do regulador. ATCT sugere ento que concessdes no devem ser pensadas como algo a substituir a regulacdo, uma vez que, embora a regulagio tenha pro- blemas,a concessio renovada periodicamente nao é isenta de dificuldades | 5

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