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adunide do orignal raso Votrajenie artes » dtkom vost, publica to ivr Piola acitia rebionka (p. 235-325), Moscow: Elamo, 2004, © Bator Aca Estate Carlos Mendes Rosa Giuassane ‘Franke Olivera Tie aia Prestes Paes Alesandra Miranda de Si, Cibely Aguiar deSoura.e Mauricio Katya Otsu Laie Moris Pride a Negrto Prodi Edtoral Pate rata Editoragso Ign aca fonts mpc ‘ecm pei oe ISBN 978 08 60-8 Cage da dea CL 736050 2 impresio Impresstoeacaamenta: Corprint Grin tors Lids, Todos os dretosresrvdos pel itor tis A Otaviano Alves de Lina, 4300 ~ ci 2909-900 St Pals Aendimento ao eles ofo0-1815— Fax () 3990776 ‘we: atcacum eww tea com Bredocacional~stendinento@aic.combr Wa ‘85, 2, Imaginagao ¢ realidade.... Sumario Apresentagio ~ A atividade criadora do homem: a trama e 0 drama. iagao ¢ imaginagao. _2'5, 3. O mecanismo da imaginagao criativa 4. A imaginagao da crianga e do adolescente. 5. “Os suplicios da criagao".. 6. A criagao literéria na idade escolar. 7 A crlaglo teatral na idade escolar 8. O desenhar na infancia... Biografia - Vigotski: arte e vida. Bibliografia selecionada... 129 133 de produgéo de textos pelos alunos; fala sobre as possibilidades e os sentidos da produgio escrita, do trabalho de producio coletiva. Um assunto que ganha relevincia é 0 modo sincrético de compreensio do mundo, Em diversos momentos de sua obra vemos a preocupasio em entender a funcao ¢ 0 valor dessa forma de compreensio que nao é caracteristica apenas do Pensamento infantil, Neste texto, ele aponta as relagdes entre sincretismo e emo- ‘20, € mostra como o sincretismo funciona no processo de criagio e na produgio do efcito estético. Imaginagao e criagdo na inficia apresenta-s e, assim, como um instigante ¢ polémico conjunto de reflexdes de Vigotski sobre as condicées eas possibilidades da criagio humana, da criagio individual entretecida na construgio histérica, Esse 6 um de seus argumentos principais:é na trama social, com base no trabalho e nas idetas dos outros, nomeados ou andnimos, que se pode criar e produzir 0 novo. Nio se cria do nada, A particularidade da criagao no ambito individual implica, sempre, um modo de apropriagao e participacao na cultura e na histéria. No processo de apropriagio da cultura “ndo sé a crianga assimila a produgio cultural e se enriquece com ela, como a propria cultura reelabora em profundida- de a composicao natural de sua conduta e dé uma orientagio nova 20 curso do desenvolvimento”. O desenvolvimento cultural da crianca apresenta-se, assim, em seu cariter dialético, como um auténtico drama, Nesse sentido, o desenvolvimento da crianca nao é simplesmente um processo espontaneo, linear e natural: é um tra- balho de construcéo do homem sobre o homem. A leitura desta série de palestras provoca e mobiliza muitas ideias e concep. 8es. Pode contribuir para a compreensdo ~ ¢ inspirar a investigagio ~ de como a crianga experiencia 0 drama da vida, pela apropriagio das palavras dos outros, pela incorporagio de papéis e posigdes sociais; de como ela trabalha com imagens «€ pode objetivé-las; de como chega a colocara vida em palavrasya fazer da vida um romance, uma obra de arte, da escrita uma atividade vital, criadora, que pode afe- tare transformar a si propria e aos outros. ANA Lurza SMoLKA 9 Mioor9x, LS. Oba ecg I, 195. 308 1. Criagao e imaginagao’ hamamos atividade eriadora do homem aquela se cria é algum objeto do mundo externo ou uma construgio da mente ou do sentimento, conhecida ape- nas pela pessoa em que essa construcao habita e se ma- nifesta. Se olharmos para 0 comportamento humano, ‘pata a sua atividade, de um modo geral, ¢ facil verificar a possibilidade de diferenciar dois tipos principais. Um tipo de atividade pode ser chamado de reconstituidor ou reprodutivo, Esta ligado de modo intimo a meméria; sua esséncia consiste em reprodurir ou repetir meios de con- duta anteriormente criados e elaborados ou ressuscitar marcas de impresses precedentes. Quando me lembro dda casa onde passei a infancia ou de paises distantes que 1. Bn algomastraduies (espanol engl) patra ortho fl tid vo signa crag, umn avi A pakve crave segudao dione Fouai, designs 8 sa ciactersic de quem 04 do que cri. (Nd) ‘qualidade (a Referee & abide ‘epectesrarte bunsrs ‘qaaseetomou poten iit selec, ‘rumen gros. ao ‘ineieranadocr te fr ada pga oo ‘eo dein, D or eattumenta copa Sha pal aur € Famer paar pre > Migs lima que °a Paid oor fas propos nares oiler ate {hog As deme lat 12 deo o gu entoce rrosnanatas Pscrings posagipen a 188 «182, No amen, s lastideds 9 ender parca {© ra dapoeet ori Caatornien ch ompscie ua incorporate encontrar ‘lode epestngn qa oi nce marcas do viedo #8 Visitei, reproduzo as marcas daquelas impressées que tive na primeira infancia ou época das viagens, Da mes: ma forma, quando elaboro desenhos de observacio, quando escrevo ou fago algo seguindo determinado mo- delo, reproduzo somente o que existe diante de mim ou © que assimileie elaborei antes. O comum em todos esses casos € que a minha atividade nada cria de novo ea sua base € a repeticéo mais ou menos precisajdaquilo que ji existia - E facil compreender o enorme significado da conserva- ‘40 da experiéncia anterior para a vida do homem, 0 quan- to la faclita sua adaptacao ao mundo que o cerca, 20 eriar ¢ elaborar habitos permanentes que se repetem em condi- bes iguais. ‘A base orginica dessa atividade reprodutiva ou da meméria é a plasticidade da nossa substincia nervosa. Chama-se plasticidade a propriedade de uma substincia que permite que ela dessa alteragdo. Assim, nesse sentido, a cera tem mais idade, por exemplo, do que a 4gua ou o ferro, pois, modificagao mais facilmente do que o ferro.e con servaa marca desta melhor que a égua. Somente se toma- das juntas essas duas propriedades formam a plasticida- de da nossa substancia nervosa. Nosso cérebro e nossos nervos, que possuem uma enorme plasticidade, modifi- cam com facilidade sua estrutura mais ténue sob diferen- ‘ja alterada e conserve as marcas tes influéncias ¢, se 05 estimulos sao suficientemente for- tes ou repetidos com bastante frequéncia, conservam a marca dessas modificagdes. No cérebro, ocorre algo se melhante a0 que acontece a uma folha de papel quando a dobramos ao meio, No local da dobra, fica a marca resul- tante da modificacao feita, bem como a predisposicao para repetir essa modificagao no futuro. Basta, agora, s0- MAGINAGAO E CRIAGAO SA IRFANCIA prar essa folha de papel para que ela se dobre no mesmo local em que ficou a marca. (© mesmo ocorre coma marca deixada pela roda na ter- 1a fofa: forma-se uma tritha que fixa as moditficagdes pto- duzidas pela roda, facilitando o seu destocamento no futu- 10, Demodo semelhante, em nosso cérebro, estinmulos fortes ‘ou que se repetem com frequéncia abrem novas trlhas. essa forma, nosso cérebro mostra-se um drgio que conserva nossa experiéncia anterior e facilta a sta repro- ducio, Entretanto, caso aatividade do cérebro fosse limita- 4a somente & conservacio da experiéncia anterior, 0 ho- mem seria capaz de se adaptar, predominantemente, is condigées habituais e estaveis do meio que 0 cerca. Todas ‘as modificagbes novas e inesperadas no meio, ainda néo vvivenciadas por ele na sua experincia anterior, no pode- rian, uesse caso, provocar uma reagio necessiria de adap- tacio. Ao lado da conservacio da experitneia anterior, 0 cérebro possui ainda outra fungdo nao menos importante, Além da atividade reprodutiva, facil notar no com- portamento humano outro género de atividade, mais pre cisamente a combinatdria ou criadora. Quando, na imagi nagio, esboso para mim mesmo um quadro do futuro, digamos, a vida do homem no regime socialista, ou 0 qua- dro de um pasado longinquo de vida e luta do homem pré-histérico, em ambos nao reproduzo as impresses que tive a oportunidade de sentir alguma vez. Nao estou sim- plesmente restaurando a marca de excitagdes anteriores que chegaram ao meu cérebro, pois nunca vi, de fato, nem esse passado nem esse futuro. Apesar disso, posso ter a mi- nha ideia, a minha imagem, 0 meu quadro. ‘Toda atividade do homem que tem como resultado a criagia de novas imagens ou agdes, ¢ ndo a reproduio de impress6es ou acdes anteriores da sua experiencia, perten- ‘scenes fim grasp ‘haste tlre de ioc Ss opened hrc teem ao sence = teen inaginacto, siesdon mop lconads 30 doo © 8 frie cea esse segundo género de comportamento criador ou combinatério. O cérebro nao é apenas 0 drgio que conser- ‘va e reprodiiz nossa experiéncia anterior, mas também o que combina e reelabora, de forma criadora, element experiéncia anterior, erigindo novas situagdes € novo portamento. Se a atividade do homem se restringisse & ‘mera reproducio do velho, ele seria um ser voltado somen te para 0 passado, adaptando-se ao futuro apenas na medi dda.em que este reproduzisse aquele. E exatamente aativida- de criadora que faz do homem um ser que se volta para futuro, rigindo-o e modificando o seu presente. A psicologia denomina de imaginacao ou fantasia essa atividade criadora baseada na capacidade de combinagao do nosso cérebro. Comumente, entende-se por imaginacao ou fantasia algo diferente do que a ciéncia denomina com essas palavras. No cotidiano, designa se como imaginasao ou fantasia tudo 0 que nao é real, que nao corresponde & realidade e, portanto, nao pode ter nenhum significado pré- tico sério. Na verdade, a imaginagao, base de toda atividade ctiadora, manifesta-se, sem davida, em todos os campos da vida cultural, fornando também possivel acriagdo artistica, &cientifica ea técnica. Nesse sentido, necessariamente, tudo © que nos.cerca ¢ foi feito pelas mios do homem, todo 0 altura, diferentemente do mundo da natureza, iaginagao e da criagdo humana “Qualquer invengdo, grandiosa ou pequens’, diz Ribot, “antes de firmar-se, de realizar-se de fato, manteve. -se integra como uma construcio erigida na mente, por meio de novas combinagdes ou correlagées, apenas pela imaginagao, 2. Rib, Théodule Armand as9-1916.(N. da) DUAGINAGAO # ERIAGO NA INEANEIA [uJ] A grande maioria das invengoes foi feita sabe-se ld por quem. Conservaram-se apenas alguns poucos nomes dos grandes inventores. Aliés, a imaginagao sempre perma- rece por si s6, quer se manifeste numa pessoa ou coletiva- mente, Quem sabe quantas imaginagées foram necessérias para que o arado, anteriormente um simples pedago de pau com as pontas calcinadas a fogo, se transformasse de um ins- trumento manual singelo no que é hoje, apés uma série de ‘modificagdes descritas em textos especializados? Do mesmo modo, a chama ténue do graveto de uma érvore resinosa, a grosseira tocha primitiva, leva-nos por uma longa série de invengGes atéa iluminagao a gis e aelétrica. Podemos dizer que todos os objetos da vida cotidiana, sem excluir os mais simples e comuns, sio imaginagao cristalizada” Dai éficil perceber que a nossa ideia cotidiana de cria- ‘vio ndo corresponde plenamente & compreensio cientifica dessa palavra. No entendimento comum, a criagao € 0 des- tino de alguns eeitos, génios,talentos que criaram grandes obras artisticas,fizeram notiveis descobertas cientificas ou inventaram alguns aperfeigoamentos na drea técnica. Reco- hecemos de bom grado ¢ prontamente a eriagio na ativi- dade de Tolstoi, Edison e Darwin, porém é corriqueiro pen- sarmos que na vida de uma pessoa comum nao haja ctiagio. No entanto, como jd foi dito, esse ponto de vista éincor- reto, Segundo uma analogia feita por um cientista russ0, a cletricidade age e manifesta-se nao s6 onde ha uma gran- diosa tempestade erelampagos ofuscantes, mas também na lampada de uma lanterna de bolso, Da mesma forma, a ctiagio, na verdade, nio existe apenas quando se criam grandes obras histéricas, mas por toda parte em que o ho- mem imagina, combina, modifica e cri algo novo, miesmio que &8€ novo se parega a um graozinho, se compat % acrogto num Sesser cotee treagao do ovo oo ip ‘eropraci da forme vera fe trguogen € na brea hin usa eangs come equ queve" Aft le men. 110, oct Es igusgen ue 8 cago da ets ap tara Aer ere tao de conti ests stiagdes dos génios. Se levarmos em conta a presenca da imaginagao coletiva, que une todos esses griozinhos nao aro insignificantes da criagio individual, veremos que | grande parte de tudo o que foi criado pela humanidade | Pertence exatamente ao trabalho criador anénimo e coleti- ' vo de inventores desconhecidos. A grande maioria das invengdes foi feta sabe-se lé por quem, como diz corretamente Ribot. O entendimento cien. tifico dessa questio obriga-nos, dessa forma, a olhar para a entre os elementos da construgio fantistica ¢ a realidade, ‘mas sim aquela entre o produto final da fantasia ¢ um fen6- meno complexo da realidade. Quando, baseando-me em estudos ¢ relatos de historiadores ou aventureiros, compo- nho para mim mesmo um quadro da Grande Revolucao Francesa ou do deserto afticano, em ambos 0 quadro resul tada atividade de criacio da imaginacdo. Ela nao reproduz > Apes da ciseso Swe possbdader, sae Sepigias no era, Iecmero posi eau periopacdo ra prosucte ‘eu psa propre ‘ao implcagbs sous © ‘ular no Ambit da educa [ote we toma poral pelt reap Tan 8 arts Imager Tat Sef ar toe faa, pos one) ‘unto ator on cont ‘Shot os earn) fpr tesa crc ‘een magnate ‘erin aie ‘© que foi percebico por mim numa experiéncia anterior, ‘as cria novas combinagées dessa experiéncia, Nesse sentido, ela subordina-se integralmente a pri- ‘eira lei descrita anteriormente, Esses produtos da imagi- nagao consistem de elementos da realidade modificados e reclaborados. B preciso uma grande reserva de experiéncia anterior para que desses elementos seja possivel construir imagens. Se eu nio tiver alguma ideia de aride, de areal, de enormes espacos ¢ de animais que habitam o deserto, nao ‘POs, € claro, criar a minha imagem daquele deserto. Da ‘mesma forma, se eu ndo tiver imimeras tepresentagées his- \éricas, também nio posso criar na imaginagdo um quadro da Revolugao Francesa, Percebe-se, aqui, com uma clareza impar, a dependéncia que a imaginagio tem da experiéncia anterior. Mas, ao mesmo tempo, nessas construgbes da fan- tasia ha também algo novo que as diferencia esseuicialmen te do excerto da obra de Puchkin que analisamos, Tanto 0 quadro da enseada com o gato sibio quanto o do deserto afticano qué nunca vi sio, na verdade, as mesmas constru- ses da imaginagio, criadas pela fantasia combinatdria de elementos da realidade. Mas 0 produto da imaginagio, a Propria combinacio desses elementos, num caso, é irreal (um conto) ¢, no outro, a relacdo entre os elementos, pro- duto da fantasia, ¢ nao os elementos em si, corresponde a algum fendmeno da realidade. Essa relagio do produto fi- nal da imaginagao com algum fendmeno real & a forma se- ‘gunda, ou superior, de relacao entre fantasia e realidade. Essa forma de relagio torna-se possivel somente gracas Aexperiéncia alheia ou experiéncia social. Se ninguém nun: «a ivesse visto nem descrito o deserto africano e a Revol sao Francesa, entio uma representagio correta desses fend- menos seria completamente impossivel para nés. E devido 40 fato de que a minha imaginago, nesses casos, no fun- INAGINAGAO # CRIAGKO NA ENFANCIA ¥ Berven ciona livremente, mas € orientada pela experiéncia de ou- trem, atuando como se fosse por ele guiada, que se aleanga tal resultado, ou seja, 0 produto da imaginagao coincide coma realidade esse sentido, a imaginacao adquire uma fiango muito importante no comportamento e no desenvolvimenta. hu: manos. Ela transforma-se em meio de ampliacao da expe- riéncia de um individuo porque, tendo por base a narracio ‘ua descricio de outrem, ele pode imaginar o que nao vit, © que nao vivenciou diretamente em sua experiencia pes: soal. A pessoa nao se restringe a0 circulo ea limites estrei tos de sua propria experiéncia, mas pode aventurar-se para além deles, assimilando, com a ajuda da imaginagao, a ex- periéncia histérica ou social alheias. Assim configurada, a imaginagio & uma condicdo totalmente necesséria para ‘quase toda atividade mental humana, Quando femos. jor nal e nos informamos sobre milhares de acontecimentos que nio testemunhamos diretamente, quando uma crianga estuda geografia ou histéria, quando, por meio de uma cat- ta, tomamos conhecimento do que esté acontecendo a uma coutra pessoa, em todos esses casos @ nossa imaginacio ser- ve nossa experiéncia. ‘Assim, ha uma dependéncia dupla e mitua entre ima- ginagao e experiénci piezo caso a imaginayio apoia-se na experiéncia, no segundo é a prépria experién- cia que se apoia na imaginagio. ‘Krewe forma de lag entre a atvidade de imag nagio ea realidade é de cardter emocional, Ela manifesta-se dedois modos. Por um lado, qualquer sentimento, qualquer cemogiio tende a se encarnar em imagens conhecidas cor respondentes a esse sentimento. Assim, a emogio parece possuir a capacidade de selecionar impresses, ideias ¢ imagens consonantes com o animo que nos domina num Aube MM 26 vicorskt | exsaios comswravos Varta fern co Irbuiego eepeciicn do Zentovh (Paco de lama imagens ors ‘ez Sandoma anos ‘tran pala ‘ont spree agers tal ean signfeap do dleterminado instante, Qualquer um sabe que vemos as col 2s com olhares diferentes conforme estejamos na desgraca ou na alegria. Hé muito os psicdlogos notaram o fato de {que qualquer sentimento no tem apenas uma expresso externa, corporal, mas também uma interna, que se reflete na selecio de ideias, imagens, impressoes. Esse fenémeno {oi denominado por eles de lei da dupla expresso dos sen timentos. O medo, por exemplo, expressa-se no somente Pela palide, tremor, secura da garganta alteragio da resp tagio e dos batimentos cardiacos, mas também mostra-se no fato de que todas as impresses recebidas eas ideias que vem a cabeca de uma pessoa, naquele momento, estio co- smumente cercadas pelo sentimento que a domina, Quando © ditado diz que gralha assustada tem medo de arbusto, DPressup6e-se exatamente essa influéncia do sentimento que colore a percepcio das objetos externos, Do mesmo modo ue, ha muito tempo, as pessoas aprenderam a expressar externamente seus estados internos, as imagens da fantasia servem dé expressio interna dos nossos sentimentos, A desgraga e o luto de uma pessoa sio marcados com a cor Prets; a alegria, com a cor branca; a tranguilidade, com 0 atau a rebelido, com o vermelho. As imagens eas fantasias propiciam uma linguagem interior para o nosso sentimen- {o,Osentimento seleciona elementos isolados da realidade, combinando-os numa relagio que se determina interna. ‘mente pelo nosso inimo, e no externamente, conforme a legica das imagens. Os psicélogos denominam essa influéncia do fator emocional sobre a fantasia combinatéria de lei do signo emocional comum. A esséncia dessa lei consiste em que as impresses ou as imagen: mu nal comum, ou seja, que exe sie Um signo emocio- n em nés uma influéncia emocional semethante, tendem a se unir, apesar de nao ha ver qualquer relagio de semelhanga ou contiguidade expli- cita entre elas. Dai resulta uma obra combinada da imagi- ‘nagio em cuja base esta o sentimento ot 0 signo emocional comum que une os elementos diversos que entraram em relagio. an impressdes’, diz Ribot, “que sto acompanhadas pelo mesmo estado afetivo da reago, postetiormenteassociam- -se entre sisa semelhanga afetiva une entrelaga impresses diferentes, Iso difere da associasio por contiguidade, que representa a repeticdo da experiéncia, ¢ da associagao por semelhangs, no sentido intelectual Eases imagens combi nam-se nao porque, anteriormente, ocorreram juntas ou porguepereeemassrelagbes de semelhans ee as, ‘mas sim porque tém um tom afetivo comum. A alegria, a tristeza, o amor, 0 ddio, 0 espanto, o tédio, 0 orgulho,o can. sago etc. podem se transformer em centros de gravidade ‘que agrupam impresses ou acontecimentos sem relagies racionais entre si, mas marcados com 0 mesmo signo ot trago emocionak: por exemplo,alegres, rstes, erotics ete Com bastante frequéncia, essa forma de associagao apre senta-se em sonhos ou devaneios, isto é, em um estado de anim tal que aimagiagi tem total iberdade efanciona a acaso, de qualquer jet. E facil entender que essa influ recer o surgimento de agrupamentos totalmente inespera- dos, representando tum campo quaseilimitado para novas combinagées, ja que o mimero de imagens que tém a mes: ‘ma marca afetiva é extremamente grande”, | Como exemplos simples desse tipo de combinagdo de imagens que tém um mesmo signo emocional pode-se apontar casos cotidianos de associagao de duas impresses diversas, que, sem diivida, nada tém em comum além do fato de nos provocarem estados de animo semelhantes. CONT: bu: on? ll > Tanbem ehamada per psa de a dates so senting cb ep. 260, de ‘Sone el Obre c ‘ies Mp 434) Vga ‘lad dconatane (0 por si powcade 6 ‘vagle domed renee iaprada acs comre shar oargunere Quando dizemos que o tom azul-claro éfrio ¢ 0 vermelho €quente, aproximamos a impressao azul ea impressio frio apenas com base nos estados de animo que ambos indu zem em nés.E fcil entender que a fantasia guiada pelo fa- ‘tor emocional — pela légica interna do sentimento ~ cons- tituiré 0 tipo de imaginagao mais subjetivo, mais interno, Entretanto, existe ainda uma relacio inversa entre imaginagao e emogio, Enquanto, no primeiro caso que descrevemos, os sentimentos influem na imaginagio, nes ‘e outro, inverso, a imaginagio influi no sentimento, Esse fen6meno poderia ser chamado de lei da realidade emo- ional da imaginagio, A esséncia dessa ei éformulada por Ribot co seguinte modo: “Todas as formas de imaginagio criativa contém em si elementos afetivos” Isso significa que qualquer construsio da fantasia influi inversamente sobre nossos sentimenias e, a despeito de essa consti uya0 Por si s6 nao corresponder & realidade, todo sentimento ue provoca ¢ verdadeiro, realmente vivenciado pela pes- Soa, dela've apossa. Vamos imaginar um simples caso de ilusdo, Entrando no quarto, ao entardecer, uma crianga, ilusoriamente, percebe um vestido pendurado como se fosse alguém estranho ou um bandido que entrou na casa, A imagem do bandido, criada pela fantasia da crianga, & itreal, mas o medo e o susto que vivencia sio verdadeiros, sio vivéncias reais para ela. Algo semelhante ocorre com Gualquer construgao fantasiosa. E essa lei psicoldgica que Pode nos explicar por que as obras de arte, criadas pela fantasia de seus autores, exercem uma agao bastante forte em nés. As paixdes ¢ os destinos dos herdis inventados, sua ale- gria e desgraca perturbam-nos, inguictam-nos e conta- Biam-nos, apesar de estarmos diante de acontecimentos in- veridicos, de invengées da fantasia, Isso ocorre porque as sacinagAo # exIAGKO MA ENFANCIA emoxses provocedas peat imagens ates fantistics das pias de um vo o do paca de eto so comple tamente reais evividas por nés de verdade, france e profun damente, Muitas vezes, uma simples combinagio de impresses externas ~ por exemplo, uma obra aaa provoca na pessoa que a ouve um mundo inteiro e comple- x0 de vivéncias e sentimentos. Essa ampliagio e esse apro- fandamento do sentimento, sua reconstrugio criativa, formam a base psicologica da arte da miisica Resta ainda mencionar a quarta e tiltima forma de re- lagao entre fantasia evealidade. Por um lado, ess forma ligase intimamente com a que acabamos de deserve, ‘as, por outro, diferencia-se dela de maneira substancial ‘A sua esséncia consiste em que a construgao da fantasia pode ser algo completamente novo, que nunca aconteceu na experiéncia de uma pessoa e sem nenhuma correspon- déncia com algum objeto de fato existente; no entanto, a0 ser externamente encarnada, ao adquirir uma concretude material, esa imaginagio“crstlizada, que se fez objeto, comeca a existir realmente no mundo e a influit sobre ou: Sos torna-se realidade. Qualquer dispo- sitivo técnico ~ uma maquina ou um instrumento ~ pode servir como exemplo de imaginagao cristalizada ou en- carnada. Esses dispositivos técnicos sio criados pela ima- ginacéo combinatéria do homem e nao correspondem a nenhum modelo existente na natuteza. Entretanto, man- tém uma relagdo petsuasiva, agile pritica com a realida de, porque, ao se encarnarem, tornam-se tio reais quanto as demais coisas e passam a influir no mundo real que 0s cerca, sss produtos da imaginacio passaram por uma lon- ga histéria, que, talvez, deva ser breve e esquematicamen- 30 Inpho wcutagio xa wraxeia 31 wns Pangea ones gue ela no influencia nosso mundo interior, nossas ideas ¢ sentimentos da mesma forma que ofazem os insrumen- tos técnicos sobre o mundo externo, o mundo da mea? ocean dei Apresentaremos = exempo mato simples om ae ered Taecnts Smgttciaceahs Same do capitdo, de Puchkin, em que se Sereeteane . ‘ge de Ar. Pugatchiov com o heréi, Griniev, que é o natrador chiow,quetenta i ‘bri, Grinie é um oficial, preso por Pugatciov, que tenta ‘ho apo ox eres edesrvlimenttanare {toa aes age, gt foe sag nt ris ss¥tando suse datrgdes © ‘eect framert ‘Ge posable x tanior tmnt da eer; ron ‘feo ran fora or ide rege sa por te delineada. Pode-se dizer que, em seu desenvolvimento, dlescreveram um circulo. Os elementos de que sio cons. traidos foram hauridos da realidade pela pessoa, Intern i mente, em seu pensamento, foram submetidos a uma I complexa reelaborasio, transformando-se em produtos da imaginagao, i Finalmente, ao se encarnarem, retornam a realidade, i ‘mas jé como uma nova forga ativa que a modifica, Assim é “ance mate¢ 0 circulo completo da atividade criativa da imaginacao, aoe Entretanto, éincorreto supor que apenas na atea técni- | sStecncstamenpie Mo campo da ago prética sobre a natureza, aimagina ‘0 écapar de descrever esse circulo completo, Também na esfera da imaginasio emocional, ou seja, da imaginacao subjtiva, é possivel eficil constatar esse circu, E quando temos diante de nds o citculo completo des crito pela imaginacao que os dois fatores intelectual ¢ emocional - revelam-se igualmente necessérios para 0 ato de criagdo, Tanto 0 sentimento quanto 0 pensamento mo. iy Toot wowace nit Vem a criago humana. race comp “Qualquer pensamento preponderante’, diz Ribot, “é A Setarunspaereinrs Sustentado por alguma necessdnde, mpeto oui desejo, ou Seriomones or snags Seis Por um elemento afetivo, pos seria um absurdo cone | pleto crer na constancia de qualquer pensamento que, su- principe x Dinamarca « Poti de a, Vigoss manga sobre o estas da convencer este tiltimo a recorrer & misericérdia da tsarina eaabandonar seus companheiros. Ele néo consegue enten- der o que move Pugatchiov. ! fslogeae super Econ Mh) sori emigre ers "Mo epondu lead ara me aspen der Ni fee pedo. Conia! como cme Cum bet De repent, conig,Pis Gra Oe veo ino em Meso? , ~ Mas vocé sabe como foi o fim dele? Jogaram-no- gets jenl, conan em pdagos qusiner- 20, Caregerm oath com sus cas afar Postamente, se encontraria num estado puramente intelec. twal, em toda a sua aridez¢ frieva, Qualquer sentimento (ou ‘emosio) preponderante deve concentrar-se numa idefa ou ‘numa imagem que o encarne, sistematize-o, sem o que ele ermanecerd num estado vago. ..] Dessa forma, podemos ver que esses dois termos ~ pensamento preponderante emogdo preponderante ~ sio quase equivalentes porque {anto um quanto 0 outro envolvem os dois elementos inse Pariveis ¢ indicam apenas a preponderancia de um ou de outro” TEscute ~ disse Pugatchiov com certo entusiasmo selvagem -, vou contar-he uma historia que, na minha infincia, uma vlha calmuca me contou. Certa ver, uma vo: “Diga, passaro-corvo, por guia perguntou a0 co’ ms J responclew ocorvo, "bebes etrés?” “E porque, paizinho’respo 6 sangue vivo e eu me alimento de carnigs’. A aguia pensow um pouco: “Eu também vou tentar me alimen- tar dessa forma, Esté bem’. Voaram a éguia e 0 corvo. Avistaram uma égua morta, Desceram e pousaram. O lM gi corvo comegou a bicar arefvigioe a se deliciar com ela A dguia bicou uma vez, bicou outra, batet as asas e dis se: “Nao, irmao corvo, melhor uma vez beber sangue vivo do que passar trezentos anos alimentando-se de ccarnica, E 0 futuro, sea o que Deus quiser!” Eis o conto calmuco, A historia contada por Pugatchiov é um produto da imaginagio e pode-se dizer até de uma imaginacio total- ‘mente desvinculada da realidade. Corvo e éguia falantes existem apenas como invencionice da velha calmuca. No entanto, é facil constatar que em outro sentido essa cons- trugio fantasiosa parte diretamente da realidade e nela influi. $6 que essa realidade nao externa, e sim interna ~ 0 mundo das ideias, dos conceitos e dos sentimentos préprios do homem, Dizem dessas obras que elas si0 for- tes nio pela verdade externa, mas pela verdade interna. E facil perceber que, com as imagens do corvo e da dguia, Puchkin representou dois tipos distintos de pensamento ede vida, duas maneiras diferentes de relagéo com o mun- do e, de um modo que nao era possivel esclarecer por ‘meio de uma conversa seca e fra, diferengas entre 0 pon- to de vista de um homem comum e de um rebelde. Pelo ‘modo de sua expressio na histéria, essa diferenga impri- ‘me-se na consciéncia com muita clareza e com enorme forca de sentimento. Oconto ajuda. esclarecer uma relagio cotidiana com- plexa; suas imagens iluminam um problema vital, e 0 que do pode ser feito de um modo frio, em prosa, realiza-se na histéria pela linguagem figurativa e emocional. Eis por que Puchkin estd certo quando diz que 0 verso pode gol ear 0 coracio com uma forca nunca vista; eis por que, em ‘outro poema, ele fala sobre a vivéncia emocional real pro. vocada pela invengao: ‘As invengdes fazem-me derramar ‘em Lagrimas” Para convencer-se de que a imaginacéo, nes- se caso, descreve 0 mesmo circulo completo que quando ¢ encarnada num instrumento material, basta lembrar a io que a obra artistica provoca na consciéncia da socie: dade. Gogol criou O inspetor geral e os atores interpreta- ram-no no teatro, Tanto 0 autor quanto os atores eriaram uma obra de fantasia, enquanto a propria pega, interpreta da no palco, desnudava com muita clareza todo o horror da Réssia de entao, Com tamanha forga a pega ironizava costumes aparentemente inabaliveis, mas que sustenta- vam a vida, que todos sentiram que continha uma enorme ameaca para o regime por ela retratado. E 0 tsar, presente a estreia, sentiu isso mais que qualquer um: “Hoje sobrow para todos e para mim, principalmente’ disse Nikolai, apds ‘ocspeticulo. ‘As obras de arte podem exercer essa influencia sobre a consciéncia social das pessoas apenas porque possuem sua propria logica interna. O autor de qualquer obra artistica, assim como Pugatchiow, combina as imagens da fantasia nio toa e sem propésito ou amontoando-as castalmente, como num sonho ou num delirio, Pelo contrario, as obras de arte seguem a logica interna das imagens em desenvol vimento, légica essa que se condiciona & relagéo quea obra estabelece entre o seu proprio mundo e 0 mundo externo. No conto do corvo e da dguia, as imagens sio dispostas e combinadas segundo as leis da légica que regulam duas forgas daquele periodo e que se fazem presentes nas pes soas de Griniev e Pugatchiov. Um exemplo muito curioso esse tipo de circulo completo que descreve a obra artisti- a é apresentado por L. Tolstoi em suas declaragdes. Ele conta como surgiu a imagem de Natacha no romance Guerra e paz: tnacrnagao wemagio na nvanera 38 Cine hava, 20 Um taba compost dre rah, cus tomentosa ‘ound anon, Bf no prop utr eme 34 _vioorse: | ensaios comenravos Sut on gn ogre eger st ‘ae nonas ‘pene ta see tronic co gna sr ‘ox ipeammecsosunce {i ntalans ta Sle ecras su snr asoro ‘ion Poco {por empl, goth ‘eh Sern rnp Ses santens “Peguei a Tania’ diz ele, “temoi com a Sonia, entao, saiu a Natacha’, Tania e Sonia sio, respectivamente, sua cunhada ¢ es- Posa, duas mulheres reais. Da combinago das duas foi pro- duzida uma imagem artistica. Os elementos hauridos da realidade, longe de se combinarem pelo livre desejo do ar- tista,fazem-no segundo a légica interna da imagem artist. a. Certa ver, Tolstoi ouvia a opiniao de uma das leitoras a respeito de como ele teria sido cruel com Anna Karenina, heroina de seu romance, obrigando-a a jogar-se debaixo do trem. Tolstoi, entio, disse: “Isso lembra-me um caso ocorrido com Puchkin. Certa vex, ele disse a um de seus colegas: ‘Imagine o que Tatiana aprontou comigo, Ela casou-se. Jamais esperava isso dela! O ‘mesmo posso dizer de Anna Karenina, De um modo geral, ‘meus herdis ¢ heroinas, is vezes, fazem coisas que eu no ‘espetava. Fles fazer 0 que devem fazer na vida real, como acontece de verdade na vida real, e nio 0 que eu quero”, Verificamos esse tipo de declaracao em varios autores, {que destacam a logica interna que norteia a construgio de ‘uma imagem artistica, Num exemplo maravilhoso, Wandt expressou essa l6gica da fantasia ao dizer que a ideia de ca- samento pode inculcar a ideia de sepultamento (uniao separagao dos noivos), porém nio a ideia de uma dor de dente. Assim, numa obra de arte, frequentemente encontra ‘mos justaposicdes de tracos distantes uns dos outros ¢ apa- rentemente desconexos, que, todavia, nio séo estranhos ‘uns aos outros, como a ideia de dor de dente e de casamen- to, mas unidos por uma lgica interna 3. 0 mecanismo da imaginagao criativa : 0 que foi dito, vé-se que, par sna composicao, a ima fra um proceso cxteantcample Ea complexidade ¢ jstamente a principal dificuldade no estudo do processo de criagéo que conduz, com frequén- ia, equvocadas em rela 8s natures 20 se cariter como algo excepcional e completamente extraordi- nario, Nao faz parte da nossa tarefa apresentar aqui uma completa descricdo da composicio desse processo. Isso exi- giria uma andlise psicoldgica muito longa, que foge aos nos- som interesses neste momento, Mas paras ema idea da complexidade dessa atividade, vamos deter-nos muito bre- verente em algurs momentos qe fizem parte do procs. “Toda atividade de imaginagao tem sempre uma hist6ria mui- toextensa. Oquedenominamos decriagio costums ser ape: nas oto catastrfico do parto que ocorre como re tum longo periodo de gestagio e desenvolvimento do feto, Bei no inicio desse processo, como ja sabemos, stio sempre as percepgdes externas e internas, que compoem & base da nossa experiéncia, O quea crianca vé e ouve, dessa forma, sio 0s primeiros pontos de apoio para sua futura criagdo, Ela acumula material com base no qual, posterior ‘mente, serd construida a sua fantasia. Segue-se, entdo, um processo complexo de reelaboracao desse material. A disso- ciagio e a associacao das impressdes percebidas sao partes importantissimas desse processo. Qualquer impressio re presenta em si um todo complexo, composto de miiltiplas Partes separadas. A dissociagio consiste em fragmentar esse todo complexo em partes. Algumas delas destacam-se das demais; umas conservam-se e outras sao esquecidas, Dessa forma, a dissociagao é uma condicio necesséria para a atividade posterior da fantasia Subsequentemente, para reunir os diferentes elemen: tos, a pessoa deve, antes de tudo, romper a relacao natural segundo a qual estes foram percebidos. Antes de eriar a imagem de Natacha em Guerra e paz, Tolstoi precisou des- tacar cada um dos tragos de duas mulheres de sua intimi- dade, Sem isso ele nao teria como misturar e remoer as Vit ite po tino dos procosce Stor: +n weptgzo 80 40. vicorser | rxsatos comestapos A polimica queso da sdspapto e adapta (0, deo nacosscades © bm steno dan mes sidades pla produto oo ro) mura coo den es cncioee do posi ‘cordon ne artemis Noentanto, trataremos, separadamente, do processo de Como tapenade, moe esocas dae Sleronoe fender conreas que dem van stints ‘ele prodito do nan A {6 gantadestagve Se Condes devia no frei de rasta & cao de conse sper tao edzatvo@ nde © tamanho da populagao 0 mesmo, a desproporcionalidade ‘no miimero de inovadores, nos dois casos, éimpressionante”, ‘Weisman explica maravilhosamente bem essa depen: déncia entre a criagio e o meio, Diz ele: “Suponhamos que, nas ilhas Samoa, nasga uma crianga com o génio peculiar ¢ exclusivo de Mozart. que ela podera realizar? No méxi- ‘mo, expandir uma escala de trés ou quatzo tons até sete ¢ criar algumas melodias mais complexas, porém seria tio incapaz de compor sinfonias quanto Arquimedes de inven- tar a méquina eletrodinamica’ Qualquer inventor, mesmo um génio, é sempre um fru to de seu tempo e de seu meio, Sua criago surge de neces. sidades que foram criadas antes dele¢,igualmente, apoia-se em possibilidades que existem além dele. Bis por que perce- bemos uma coeréncia rigorosa no desenvolvimento histé rico da técnica e da ciéncia, Nenhuma invengav ou desco- berta cientifica pode emergir antes que acontecam as ‘condigdes materiais ¢ psicolégicas necessérias para seu sur gimenté. A criacéo € um processo de heranca histérica em ‘que cada forma que sucede é determinada pelas anteriores, Dessa maneira também explica-se a distribuicio des. Proporcional de inovadores e de pessoas criadoras em dife- rentes classes. As classes privilegiadas detém am percentual incomensuravelmente maior de inventores na érea da cién- cia, da técnica e das artes porque é nessas classes que esto resentes todas as condigdes necessérias para a criacéo, “Comumente falam tanto do voo livre da imaginasio, dos superpoderes do genio’ diz Ribot, “que se esquecem das condigdes sociolégicas (sem falar das outras) das quais dependem a cada passo. Por mais individual que seja qual- uer criagdo, ela sempre contém um coeficiente social. Nes- se sentido, nenhuma invengao sera estritamente pessoal, jd ue sempre envolve algo de colaboragao anénima”, 4. A imaginagao da crianga e do adolescente atividade da tmaginagao eriadora € muito complexa @depone dene src de ents tore or iss, completamente compere! gees at Jo possa ser igual na crianga e no adulto, uma vex eee versas épocas da infincia, Fis por que em cada periodo do desenvolvimento infantil a imaginagio criadora funciona de modo peculiar, caracteristco de uma determinada etapa do desenvolvimento em que se encontra a crianga. Vimos que a imaginacio depende da experiéncia, ea experiéncia da crianga forma-se e cresce gradativament, diferencian 4o-se por sua originalidade em comparagao ado adulto. A relagio com 0 meio, que, por sua complexidade ou simpli- Cidade, por suas tradigdes ou influéncias, pode estimular ¢ orientar 0 processo de criagao, & completamente outra na crianga, Os interesses da crianga e do adulto sio diferentes por isso, compreende-se por que a imaginacio dela fun- ciona de maneira diferente da do adulto,

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