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Desigualdade de renda, desigualdade em educacao e escolaridade das criangas no Brasil* Ricardo Paes de Barros** David Lam*** Eneesudoanalisa os determinate do gan de ecolaridade de crangas de 14 anor narexices trbanas de So Pado edo Nordeve brat, facend uso de dads da PNAD de 1982. ‘media de xcolaridadeencontata fot de 47S arin em Sto Paulo e de 3.28 ant no Norse “ambas bem dstants dow sre nose escolardade que deverinm tr ido cumpridos pelos que i competaram ou tsam completa 14 anos em 1982 Procurando plea a vaagem de3 lino daescolaridade das criangas pasa, obtervamos djerengasreonais nas carters ‘tos pais que sto, pelo menos quaiarvanente connstntes coma tiferenea regional do ‘deeper das trlongaeTantoaecolardade como arena dor piss bem maioe om ‘So Peale desguadade no gras de exclardade dos pas € mats ala ro Nord, quando cece er ita, pour dein ea ul Sg tim pono de visa quonivo apenas uma pequena proporeia da dferenca de exeolarade tnire Sto Paulo e Nordeste pode ser expcads for dspanates nas ceractrsicas dos pais azendo uso denostoncoefcenesdregesti das cartceritias médias de cada regio para tfenar uma provado do nel de escoliade das erancas de I4 anos, consult expcar inenot de 2% do Mito de 13 ano enre Nordest «Sto Paulo. xo wore gut aciolaridade das erangas seria relrvnente poco sentvel aos progretsor no pro sovtoscononica da |imiios per se. Poranto, exes relados indhoah que suman det na quanta alidae do entino public oferecido no Norden poderiam ser capes de eliinar boa pare Sot ene srepbs mcr nde hj adage aaron uaa onoondnace do Nordente 1 - Introdugao ‘O sistema educacional brasileiro tem pelo menos quatro caracteristicas indesejaveis: primeiramente, 0 nivel médio de escolaridade atingido € bastante baixo, mesmo + Este eabatho,preparado para conferénia do Honco Mundin sobre “veagi, Crestimentoe Desigaidade no Brats ealzace em masgo de 1991, fi eniguecido por comentarios de Roberto Macedo cuscs patipanies do evento ** Do Departamento de Economia da Universidade de Yale 6a Diretoria de Pesquisa do IPEA, ***Do Departamento de Boonomia e Centro de Estudos da Populagsoda Universidade de Michigan, esq, Plan. Beon Rio de Janes, cerres E218, ago. 1993 quando comparado ao de outros paises com padrio semelhante de renda desenvolvimento [Behrman (1987)]; em segundo lugar, a desigualdade edueacional € muito alta, conforme demonstram, por exemplo, Lam ¢ Levison (1990), que estimaram uma variincia de anos de escolaridade entre pessoas do sexo masculino no Brasil 70% mais alta que a dos homens nas Estados Unidos, muito escolaridade média seja mais que o dobro neste timo pais; uma terccira ristica da educagao no Brasil bem menos documentada 6 0 ato grau de ‘entre a escolaridade das criangas ¢ de seus pais e avés, o que indica que existe nao apenas falta de igualdade de oportunidade, como sugere, também, a existéncia de limites & mobilidade social no pais; finalmente, um quarto aspecto que recebe particular atengio nese estudo ¢ a exstencla de grandes disparidades regionass a ‘escolaridade das eriancas. Como acontece com as diferencas regionais em muitas ‘outras caracteristicas socioecondmicas no Brasil, estas diferengas sio grandes, esté- veis no tempo, dificeis de explicar e provavelmente refletem uma distribuicio regio- nal muito desigual dos limitados investimentos em educagéo, ‘Amelhora do afvel de escolaridade, com énfase especial no nivel primério, parece ser uma meta evidente'e importante da sociedade brasileira. De fato, uma expansio educacional com énfase no nivel primério seria capaz de clevar o nivel educacional ¢, simultaneamente, reduzir as acentuadas disparidades existentes. Motivado por esta questéo, este trabalho tem por objetivo precisamente procurar eselarceer os caminhos pelos quae se poe chegar a esta meta. Analisremos a dependéncia do nivel de escolaridade das criangas brasleiras a distribuigdo de renda ¢ educagio dos pais. Temos quatro objetivos especificos em vista: em primeiro lugar, queremos descrever o nivel atwal de escolaridade das criangas brasilciras, as diferengas de eseolaridade entre as regides ¢ os padres de mobilidade educacional através das eracbes; em segundo, desejamos estimar um modelo que nos permita separar 0 efeito da renda dos pais do efeito da edueacao dos mesmos; em tercciro, queremos sar este modelo para estimar e comparar 0 impacto de mudangas na média com 0 impacto de mudangas no grau de desigualdade na renda e educagdo dos pais; Finalmente, usando 0 mesmo modelo, queremos verificar até que ponto as grandes disparidades regionais do Brasil podem ser explicadas por diferengas regionais na distribuigio da renda e eseolaridade do pais. 2.-Contexto e dados Nosso estudo bascia-se.na Pesquisa Nacional por Amostras de Domiciio (PNAD) de 1982. A PNAD tem sido coletada desde 1967, Neste trabalho, no entanto, optamos pelo uso apenas da PNAD de 1982 principalmente pelo fato de incluir informages sobre o nivel educacional dos avés. Como demonstrarcmos mais adiante, os dados sobre a escolaridade dos av6s sio bastante valiosos ao se tentarestimar 0 efeito dos atributos dos pais no desempenho escolar das criancas. Toda a andlise € feita, separadamente, para duas importantes regides do Brasit: o Nordeste,relativamente pobre ¢ com menor escolaridade; ¢ o Estado de Sao Paulo, mais rico e com ‘maior escolaridade. A pesquisa limita-se 4s éreas urbanas. Segundo o Censo Demo- im esq Plan. Econ, v.23, 1, abr 1993 ‘gréfico de 1980, 49% da populagdo brasileira viviam nestas duas drcas geograticas — 28% no Estado de Sao Paulo ¢ 22% na regio Nordeste. Limitamos a andlise a eriangas nascidas em 1968, as quais deveriam ter iniciado os estudos no ano em que completaram sete anos de idade (isto ¢, 1975), chegando aos 14 no ano da pesquisa.! Optamos pelo uso desta subpopulagao por diversos motivos. Como o custo de oportunidade de permanccer na escola depende muito da idade da crianga, a demanda por educagao dependerd necessariamente da idadc.” Uma vez que sabemas muito pouco acerca da relacio entre a idade © o valor do tempo entre as eriangas brasileiras, decidimos limitar andlise a um tinico grupo etério, de modo que evite 0 aparecimento de erros de especificacao do modelo. O fato de nosso conjunto de dados ser muito grande torna vidvel esta opgio.? Como pensamos na demanda por educagao como uma decisdo familiar, usamos o domicilio como unidade de andlise. Uma observacio consiste em uma crianga nascida em 1968, com varisveisrefletindo as caracteristicas dos pais e avs da crianga, Como estamos primariamente interessados nos efeitos das caracteristicas dos pais sobre o desem- penho escolar, restringimos nossa atengo as eriangas que moram com ambos os pais Nossa amostra de domicflis com pelo menos uma crianga nascida era 1968 abrange 1.604 domictlios no Nordeste e 867 em Sio Paulo, Ouando restringimos. amostra as familias que possuem dados completos acerca da escolaridade dos pais e dos quatro avis ¢ da renda do chefe da familia, tamanho das amostras passa a 820 eriangas Sdo Paulo e 1.525 no NordesteS Sse sea saeco ee rem a Ver, por exempla Feahuropolce © Armogs (984) © Levson (1) aera Go compromibso mfeciacatayatect cbsigatgo no Bras ie anon Camo om ano deveriam iniciacon etude as ete ac esti na acne seem mime eas fogaralegulactotraaihst Sopusdezquesscrangasomeste podem abathar sem permissio capa aparir dos 14 anos. A partir doc 12 anes clas podem tmbalhar em swacdes eapecai, ma Sereno rad prov quem eae pr ces cosine eatin sel 9 tereelo ugar, como este etudohasease em informagoes de uma pesquisa domiclian 5 a erlangat \awendo com os pals puderam se iacuidas no trabalho: © aso de grup de fate ota maior leva 8 ‘egies scents €ndo-aeatonas a amcata, po proabihde de ce ior denarem a ie doe as dumenta com a dade, “f"Bate process. de sclecio exci da amostra todas as crangas de 4 anos cjo pai ao era o chef dodomictiona canto do levantamento. sto climina cerca de 15% as crianas no Nordeste «cere 3° ‘een Sao Paulo Exclemos ete grupo porgueoenfoque principal do estado oracionamento sate ‘Os atnbutos dos pais ea esolaridade dx iho. Se of pas com poves eszolariéade ov Baia renda ty ‘menos chances de manterimtata a unio quando o cranes atngeo» 14 ano cntao nose amostatende {Trepresentar mal etascriangin economicimente menos fvoreiga. to pose nos evar superesina ‘ip de ecolanane a an rege. 33" Embora populacio global acsasduas reyes soa mais ou menos a mesma, a fragho amosteal para a PRAD foi substanesimente maior no Nowdest (cerca de 1/280, em media) ue em S80 Palo {ered de 1400, em mesa), fazendo com que nossa amostr ese quae dusvezes ace no Novoeste Desigualdade de renda, desigualdade em educogio 3 3 - Escolaridade das criangas de 14 anos ‘Utilizamos o ndimero de anos de estudo completos de cada crianga como variivel de resultado, Uma varidvel de resultado altcrnativa seria uma que indicasse a frequéncia 04 ndo escola de cada crianca, medida que deveria normalmente ser ulm bom indicador daescolaridade como um todo, Contudo, no Brasil, devido aoclevadograu de repeténci, a feqUéncia a escola € uma medida relatvamentc pobre de escolar lade. ATabela I mostra informagies acerca da distribuigo de anos de estudo divididos [por regio ese a crianca estava ou nao fora da escola na ocasiao da pesquisa. Como ‘34 esperavamos, as distribuigoes na tabela indicam que as eriangas de 14 anos que esto na escola tém um afvel educacional mais alto que as que cstéo fora dela. Contudo, as distribuigées também mostram a existéncia de um grau surpreendente- mente alto de heterogeneidade no nivel de escolaridade entre as eriangas de 14anos. TABELA I ‘Sao Pauto ¢ Nodeste: anos de estudo completos e resumo estatistico, por situagao ‘tual e matricula dos alunos com 14 anos — 1982 ee eC Sto Paulo Nordeste "Sonal Tol SRS ig To Teompaes Yano NS 08 268 gt 128 1 an0 61 15 284590100 2 anos i 5265183 29a 3 anos 118098 t81 81 4 anos 6 162 20 ©9327 mop 5 anos 76 28 09 WS 42d 6 anos 24 252 207 ry) 7 anos 18 200 168 os 6886 Banos os 09 09 02 06 0s Média de anos deestudo 9.27 513 475448367325, Desvio-padtio 1744881788181 205 % 4 anos 49° 150 2098440521 6 anos $1 539 621 979 aaa % pond, na regio 1993 8007 1000 ©1878 6125 1000 Tamanno da amosta 220 1525 [NOTA Dados estimados com base na PNAD de 1982, usando pesos de amestas do IBGE, a4 esq. Plan. Fon, ¥ 23,7. 1, abr, 1003 Em Sao Paulo, por exemplo, mais de $0% das criangas de 14 anos que freqiientavam a escola completaram menos de seis anos de estudo. No Nordeste, mais de 80% tinham menos de seis anos de estudo completes. De todas as criangas de 14 anos matriculadas na escola, somente 7% no Nordeste ¢ 20% em Sao Paulo tinham ‘completado a sétima séric. Em nossos dados, nfo podemos determinar até que ponto estas falas resultam de frequéncia intermitente ou de repeténcia, No entanto, como ji foi dito nos trabalhos de Gomes-Neto e Hanushek (1993) e Souza c Silva (1993), ‘mencionados mais adiante neste estudo, a repet@ncia é um dos problemas mais sérios do sistema educacional brasileiro ¢, sem dtivida, uma das principais causas das ddeficigncias no grau da escolaridade aqui identificadas. 3.1 - Distribuigdo de escolaridade e renda dos pais ‘Um dos principais propésitos de nossa andlise 6 examinar até que ponto as grandes diferengas regionais nos resultados escolares, documentados na secio anterior, si0 ‘conseqiéncia de diferengas nas caracteristicas familiares entre as regides. As carac- {eristicas familiares podem determinar 0 grau de escolaridade das criangas por varias razbes. Como jé foi dito em Becker (1975), as familias com renda mais ata podem demandar maior quantidade (e qualidade) de educagao para seus flhos ou porque ceducagio é um bem de consumo com clasticidade-renda positiva ou porque 0s custos de autofinanciamento da educa¢o dos filhos so mais baixos para familias mais devido as imperfeigoes no mercado por crédito. Além disso, pais com um teducacional mais clevado podem demandar mais educagao para seus filhos por causa de diferengas de gostos ou porque tém a vantagem de poder ajudar os filbos a ter sucesso na escola. Nao podemos nesse estudo identificar os mecanismos pelos quais a educagao e a renda dos pais afetam o grau de escolaridade, estamos apenas interessados no efeito total que age através de uma variedade de mecanismos. Nossa meta € estimar, por exemplo, em quanto cresceria o grau de escolaridade Nordeste se os pais nesta regio tivessem as mesmas caracteristicas que. os dc Si Paulo, ortanto, comegaremos este estudoinvestigando asdiferencasna distribuigdo das caracteristicas dos pais entre as duas regioes. A Tabela 2 mostra estatisticas descritivas bdsicas da distribuigao de escolaridade renda dos pais de eriangas de 14 anos em Sao Paulo e no Nordeste, Conforme se pode observar, os niveis de escolaridade ds pais ¢ macs so mais altos em Sao Paulo que no Nordeste. Os pais em Sio Paulo tém escolaridade média de 3,9 anos, ‘omparados aos 2,6 anos dos pais no Nordeste. Em Sao Paulo, onfvel de escolaridade dos pais tende a ser mais alto que o das maes, enquanto no Nordeste a escolaridade tende a ser semelhante para pais © macs. ‘A Tabela 2 também fornece informagies acerca da desigualdade de escolaridade centre pais para as duas regiées. Embora Séo Pavlo tenha um maior desvio-padrao dde anos de estudo tanto para os pais como para as mées, isto € perfeitamente cexplicavel pelas médias mais clevadas em Sao Paulo. O coeficiente de variagao dos anos de estudo é mais baixo em Sao Paulo que no Nordeste, levando a um grav de ddesigualdade da escolaridade dos pais menor em Sao Paulo que no Nordeste. Desigualdede de end, desigualdade em educasdo 15 TABELA2 Sao Paulo e Nordeste: escolaridade e distribuigdo de renda dos pais das criancas com 14 anos ~ 1982 (Caracrersica ‘Sto Paolo Nordeste __Diferenga Escolaridade do pat Mécka (anos) 392 287 1.35 Desvio-padido (anos) 387 322 06s Coeficiente de variagao 099 128 0.27 Percentagem com, elo menos 1 ano 794 212 Polo manos 4 anos 495 183 Polo menos 6 anos 187 79 Escolaridade da mae Média (anos) 3.35 262 073 Desvio-padao (anos) 340 297 043 Cosficiente de variagao 101 113, 012 Percentagem com: elo menos 1 ano 735 e29 108 Polo menos 4 anos 45.4 340 14 Pelo menos 6 anos 144 109 32 Correlagio (escolaridade da mae, ‘escolaridade do pal) 0,708 0,608 0,101 Renda do chefe {em salérios mirimos) Mécia 575 289 2.86 Desvio-padrao 908 401 5,05 Cosficiente de variagao 197 1,39 0.18 NOTA: Dados estimados com base ns PNAD de 1982, usando pesos de amostras do IBGE. A ronda ¢0 ndmero de saléios minimoe ofciais ganhos no mee anterior ao da pesquis, 0 Grifico 1 apresenta detalhes adicionais acerca da distribuigéo da escolaridade dos pais nas duas regides, mostrando as distribuigdes acumuladas de anos de estudo ‘completos das mies © pais nas duas regides. Nele se vé que a diferenga mais pronunciada entre So Paulo e Nordeste esté na proporcao dos que possuem baixa cscolaridade, Embora a vantagem dos pais do Sudeste possa ser notada através de toda a distribuigéo educacional, hé uma certa dimimuicéo do hiato nos niveis de escolaridade mais altos, especialmente no caso das mulheres. Como mostra aTabela 2, nfveis muito baixos de escolaridade no Nordeste sio um trago marcante, com mais 196 esq Plan. Econ, v. 23,n.}, abr. 1993 Gratico 1 Regido urbana do Estado de Sao Paulo e regiao Nordeste: distribuig6es acumuladas e anos de estudo completos de pais e mées de filhos com 14 anos - 1982 es xaos TVET OTUETp er Reha es de 40% dos pais e mais de 37% das mes no Nordeste tendo menos de um ano de estudo, em comparagio com 20% dos pais ¢ 26% das maes de Sao Paulo, Aocomparar as Tabelas 1 ¢2, &importante notar que o niimero de anos completos de estudo das criangas brasileiras de 14 anos € maior que o nivel médio dos pais, indicando alguma melhora no nivel educacional no Brasil da geracao passada para ‘ atual. Enquanto, por exemple, a escolaridade média dos pais das eriangas de 14 anos em So Paulo € um potico menor que quatro anos, a escolaridade média dos filhos€ de 4,7 anos. No Nordeste, as criangas de 14 anos também t&m mais ou menos 0,7 ano de estudo a mais que seus pais (3, anos para as criangas contra 26 para os pais) ‘Uma determinante importante da mobilidade intergeracional em escolaridade € a tendéncia para casamento entre pessoas com nivel similar de escolaridade. Como ‘mostra a Tabela 2, existe uma correlagao muito alta na escolaridade das mies ¢ pais no Brasil. A correlagio entre a escolaridade do marido e a da esposa é de mais de 10,7 emSao Paulo c acima de 0,6 no Nordeste, Esta alta correlago pode desempenhar um pape! importante, pois a inclinagao positiva para casamentos entre pessoas de nivel nilar Ge escolertdade tonderdasumentar a nércia na distribu da educa. «40 de uma para outra geragao.? peas ee oe ociaatspenaias Gen saan ne rs ‘ ae et nn an sme ne sont de mcs 3 ciaehetas cpr basen es eigaae ees esigualdade de rend desgualdade em educagdo 7 ‘Além do grau de escolaridade dos pais, interessa-nos também estudar 0 efeito da renda domiciliar sobre a escolaridade dos filhos. A Tabela 2 mostra que a renda média dos chefes de domicilio & quase duas vezes maior em Séo Paulo, embora alguma fragio disto possa er atribuida a diferengas no custo de vida. A desigualdade de renda, medida pelo coeficiente de variagdo, € alta nas duas regides, pelos padrées internacionais, sendo um pouco mais acentuada em Sao Paulo, 4 - Mobilidade educacional intergeracional (0 que foi dito acima demonstrou que 0s nfveis educacionais dos filhos e dos pais séo positivamente relacionados entre regides. Agora analisaremos sc esta rclagio tam- bbém se verifica dentro de cada regido. Esta relacdo pode ser analisada com base nos Gréficos 23, que apresentam a distribuicgo acumulada de anos de estudo entre as criangas de 14 anos condicionada a escolaridade de scus pais. Com uma pequena texcegao, no caso dos pais com9 a 11 anos deestudo em Sao Paulo, os gréficos indicam que aumentos na escolaridade dos pais levam a progressos incontestaveis na distri- buigdo da escolaridade entre as criancas, no sentido de domindncia estocéstica de primeira ordem. As distribuigées acumuladas da escolaridade das criangas como Fungao da educagao das maes, que no aparecem nos gréficos, mostram padrdes virtualmente idénticos nas duas regides. O Gréfico 4 apresenta a escolaridade média das eriancas de 14 anos, estudo dos pais € regido. Os pontos foram suavizados ulizando-se me ano de moveis, Gréiico2 Regléo urbana do Estado de Séo Paulo: distribulgdes ‘acumuladas e anos de estudo completos de filhos com 14 anos, segundo a escolaridade do pal - 1982 scart co pal 839 Pade) ve Peng Plan Econ, v.23, 1, abr 1993 Graficos Regio urbana do Nordeste: distribulcées acumuladas @ anos de estudo completos de tilhos com 14 anos, segundo a escolaridade do pal - 1982 sedated opal Net) ‘oy =F] “| rit i f 7 0 eet oncom 4208 de trés anos, ponderadas pelo tamanho da célula para cada ano de escolaridade. O grafico revela uma relacdo mais inclinada entre a educagao dos pais e a dos filhos no Rordeste que em Sio Paulo, levantando a hipétese de que o grau de escolaridade dos pais pode ser um determinante mais importante na escolaridade das criancas no Nordeste que em Sao Paulo. Consequentemente, estas duas relagbes tendem a convergir na medida em que sé vai de baixos para altos nfveis educacionais dos pais. ‘Assim, quando 0 nfvel de escolaridade dos pais € clevado o mimero médio de anos de estudo das crangas com If nos mostra pouca vriagdo entre o Nordesie © 0 Sudeste. Hg, no entanto, diferengas substancialmente maiores em niveis mais baixos ‘de escolaridade dos pais. Para os pais com menos de quatro anos de estudo, hd cerca dde um ano de vantagem na escolaridade das criangas de 14 anos de Séo Paulo, em ‘comparagdo com as do Nordeste. (Os padres mostrados no Grafico 4 do uma idéia bem clara da relagdo entre 0 sau de escolaridade dos pais e a dos filhos, em Sao Paulo ¢ no Nordeste. Embora luma resposta precisa exija 0 tipo de andlisc multivariada que faremos a segui ‘gréfico apresenta uma prova dramética de que ndo se pode explicar 0 grande histo entre a escolaridade das criancas das duas regiées apenas através das diferengas das caracteristicas dos pais. O fato das criangas cujos pais tém menos de quatro anos de estudo (uma grande proporcéo delas) atingirem no Nordeste, em média, um ano inteiro a menos de estudo ao chegar aos 14 anos em compara¢do com o que ocorre em Sao Paulo significa, claramente, que existem outros fatores a explicar essas dlferengas regionais de escolaridade além das dferengas nas caracteristicas dos pais. grafico sugere que, mesmo que 0s pais do Nordeste tivessem um nivel de escola- ridade tao alto quanto os do Sudeste, haveria ainda um biato substancial no nivel de escolaridade dos seus filhos. Esta questdo serd tratada mais formalmente a seguir, ‘no contexto de regressbes multivariadas, Desigualdade de renda,desiualdade em educagdo we Grafica + Ragldo urbana do Estado de Séo Paulo e regido Nordeste: escolaridade média de filho com 14 anos, segundo os anos de estudo completos dos pais - médias mévels de {rés anos dos anos de estudo da mae e do pal - 1982 20 CTE}Is ti Pbwn Rana Uma vez que temos informacdes também sobre o grat de escolaridade dos avés, podemos examinar a mobilidade intergeracional na educagao através de trés rages. Os dados sobre escolaridade dos avés so codificados de forma categérica baseados na declaragéo dos adultos no domiciio sobre a educagao de seus pais. A Tabela 3 apresenta a distribuicdo do nivel de escolaridade para cada um dos quatro av6s das criancas de 14 anos daamostra, bem como aescolaridade média dascriangas para cada categoria de nivel de escolaridade dos avés. Os dados relativos aos avs continuam a mostrar baixos niveis globais de escola- ridade cum hiato substancial entre a escolaridade no Nordeste ¢ em $0 Paulo. Cerca de 35% dos pais em Sao Paulo declararam que seus pais eram analfabetos, contra 49% no Nordeste. No entanto, os hiatos entre as regides em escolaridade dos avs sao talvez menores que 0 esperado, especialmente no caso das avés. A proporgio de ‘aes que declararam que suas macs eram analfabetas foi de 55% em Sao Paulo c de ‘57% no Nordeste, Este pequeno hiato pode refletir o fato de que muitos dos que responderam a pesquisa em Sao Paulo migraram do Nordeste. ‘A Tabela 3 mostra ainda uma forte relagdo positiva entre a escolaridade dos avs ea das criancas de 14 anos, As criancas nas duas regides que tém avés analfabetos apresentam uma média de anos de estudo que chega a ser de 0,7 a um ano menor {que as criancas com av6s alfabetizados. Observamos ainda que aorigem familiar nfo consegue explicar completamente a grande diferenca na escolaridade das criangas. As do Nordeste, cujos avés sio analfabetos, tém uma escolaridadc média de apenas, 2,7 anos, enquanto as de Sao Paulo, com av6s analfabetos, tém uma média de 4,1 anos de estudo. 200 ‘Peag. Plan. Econ,» 23,0. 2, abr 1993 TABELA3 Sito Paulo e Nordeste: escolaridade média das criancas de 14 anos por nivel de insirugdo dos avés e disthiuigdo de educagdo dos avis — 1982 Depa Dama Baclwidade doe Fa Wie Fa ME ee ee ee Sao Pave Anatabato ue 41 sit 43 7 41 550 43 Aabotzaso 6A S118 STB «D134 50 1-Senos 195 48 49 81 215 49 TBI 58 ar08 4957 M87 180 581058 5-Banos 2) 84 18 58 2t 58a Br 9-41 anos a) $2 48 63 21 58) 17 8s Unvesiiede 1430270125 Noroste Analfabeto 489 27 58.2 28 7 7 S72 28 Afebaizado «21.36 «170«98 HDA BO 34 1-3ancs Wh 40 83 40 138 3804 ‘anos 4249 49 48 69 48 55 Bt 5-Benos os 58 08 $518 541252 9-11 anos 07 55 07 56 08 55 07 87 Unvorsideds 0S 5020S 6000 NOTA: Dados estimados com base na PNAD de 1982, usando pesos amostrals do IBGE. AS colunas assinaladas com % mouiram a dietibuigho de frequéncia da eecolaidade dos avbs. AS {olunas assinaladas com médias apresentam a escolaidade mécia das cdangas de 14 anos com ‘és naquele categoria, 5 - A funcéo resposta de educacao domi iar Em Barros ¢ Lam (1991), desenvolvemos trés modelos alternativos que fornecem um arcabougo para uma interpretacdo causal de nossas estimativas empiricas. Faremos, a seguir, um breve resumo daqueles modelos. Estamos interessados em como a educagio dos filhos responde a mudangas na dotagio de recursos domicliares. A esta relagéo, nos referiremos como a “fungio resposta da educagio”. Especifica- mente, see, € séo, respectivamente, os niveis de escolaridade dos pais e a renda domicliar, pensamos, entio, em uma fungio f, (é, ,y ; 4) que forncca 0 nfvel de escolaridade de uma crianga de 14 anos que vive Ro domiciio h. A derivada de fy ‘com rélagéo a, indica a resposta da educacao da crianga, em um dado domicilio, a ‘mudangas na educagao dos pais, mantendo-se constantes 0s recursos econémicos do Desigualdade de rend, desigualdade em educogao am domictio. Estamos, também, interessados na reagio da educagio da crianga a mudangas na educagio dos pais, sem que os recursos econdmicos do domictlio ‘petmanecam constantes. Se gq (1) indica a fungao resposta de educagao dos filhos a variagSes na educagéo dos pais, permitindo que os recursos econdmicos variem com a educagio destes, entdo a derivada de gy com respeito a¢, indica a reagéo total da educagio das criangas a alteracdes na escolaridade dos’pais, incluindo tanto os “cleitos dirctos” da escolaridade dos pais sobre a escolaridade dos filhos, como também 0s “efeitos indiretos” exercidos ‘0s do domictio que possam advir da maior escolaridade dos pais. Fagamos com que E, denote a educagéo de uma crianca, E, seja um vetor indicando a educagao dos pais e ¥ represente os recursos eeondmides, tudo relat a0 domicflio h. Para simplificar a andlise, assumimos que podemos decompor a fungéo resposta em uma componente compartilhada por todos os domicilios, € uma fungao que desereveonivel de heterogenetdade do domicto, de modo que para um certo domictio Eb) = fyCEih), YOY BY = = LCE pm. Yeh) + a0) Isto implica que a heterogencidade entre domicitios assume a forma de uma simples perturbagio aditiva para a fungio resposta da edueacio, Referimo-nos ag ‘como sendo 0 desvio do domicitio ¢ af, como sendo a fungao resposta da populagao. Dada a distribuicdo conjunta de escolaridade ¢ renda dos pais, aintegragio da fungdo f, nos dé a média da cscolaridade das criangas de 14 anos na populagio® Nosso objetivo principal 6 estimar de que modo as caracteristicas do domictlio afetam a obtencdo de escolaridade, isto €, estimar o componente f, da fungdo ‘esposta,Baseados na estimatiade/, podemos simular a média de anos de estado ddas criangas de 14 anos se fosse alterada a distribuicdo da escolaridade e renda dos pais? Queremos, por exemplo, estimar qual seria a média de anos de estudo das ‘00021 0181 (@.0c01) (0.3675) (0.0006) (0.0006) (00255) Constante 3.1627" 28528" "1.771" 1.6769" 1.4690" (0.1258) (0.0085) (0.0795) (,0869) (05952) FR Ozred 0.0925 © 03128 03185 0.1188 Teste F 1907 12ers ‘Tamanho da amostra 082001825 T8251 825 Eteto sobre a escolardade do fino Se Eden 0992 o.82t 0.1085 o,t74e 0.1838 03635, 34 E150 Em) 02008 0.1781 04822 0.2620 02484 02406 41 E) [80 Ep 00853 0563 0.1476 DoaT9 00821 03309 84 (Es) [80 Em) 2.0759 0.0642 90632 0719 “0.0654 0.2620 Be E14 ‘0022 0027 9.9008 0.0038 0.0040 0.0013 ele F3cv 00298 0.0295 o.006¢ © 0.0521 0.0489 0.2560 tet relatives 30) 4 IE) 15189 1.4581 07151 1,892 1.8685 1.0084 130 (Em) (54 En) 27s99 27505 7.62588 3837 37241 1.3872 By (En GM) oio227 0.0831 9.0074 -.0a01 00258 010095 BE) 1310 40) ‘Doro ‘Doz 0016 © -n0133 90162 00036 SGV HF /510 GC) 0.0820 “0.1220 0.0572 0.0808 0.0049, 36v 09 130 2050 19089 22,9275 rS36_1,6780 12926 NOTAS: Dados estimados com base na PNAD de 1982. Errospadrdo entre parBnteses Efeitos avaliados na média v no desvio-pacao da regiéo. OLS 1980 indul a educagao dos aves, OLS Fctu ‘ta vaniveis dummies pata categoras da educaz2o dos aves na regressac. O teste F Spresentado 6 para a hipétese nla co que todas ae varavels Ge educagao Gos avs 16m oafitontos iguais a zor, A coluna WV apvesenta resultados para a regressdo por mmimos {Begrados em doi ebdpion, na Qual a vaovels da ecsezho dos avbs sto vaacas como * Signiicatvo 6 001, ‘= Signiicaivo 2 0,05. ‘0 Sgnificavo & 0,10 Desiguldade derenda, desigualdade em edcagao 28 aumento na escolaridade méclia dos pais. © compromisso correspondente para 0 Nordeste 6 de cerca de 2,7 anos para o pai ¢ 3,4 anos para a mie, implicando que seria preciso um declinio de 2,7 (3,4) anos no desvio-padrio da escolatidade do pai (mae) para se ter o mesmo impacto sobre a escolaridade média das criangas que 0 ue se obteria com um aumento de um ano na escolaridade média dos pais (mis). As regressGes chamadas OLS I so regresses OLS que incluem variéveis dummies rclativas a0 grau de escolaridade dos quatro avés na regressao. Uma ¥ez ‘que, devido ao grande nimero de variévels dummies para a excolaridade dos av6ss6 uns poucos coeficientes individuais so estatisticamente significativos, resolvemos ‘do os apresentar na tabela, Embora os cocficientes para as varidveis da educagao dos av6s ndo estejam incluidos na tabela, reportamos o teste F relativo a0 grau de significancia conjunta dessas varidveis. As variveis de grau de escolaridade dos avés sao significativas em conjunto, a0 nivel de 0,05, em todas as regressdes reportadas. Othando-se as derivadas no final dessas colunas, nota-se que a inclusio das varidveis da escolaridade dos avis reduz, de certo modo, os efeitos estimados da educagao dos pais. Controlando-se pela ‘educagéo dos avés, um aumento de um ano na escolaridade do pai implica um erescimento de 0,11 ano na escolaridade das criancas de Sao Paulo ¢ um acréscimo de 0,19 ano no Nordeste, avaliados na média amostral. ‘Controlando-se pela educagio dos avés, o aumento de um ano na escolaridade da tie implica um acréscimo de 0,20 ano na escolaridade das criangas em Séo Paulo € de 0,27 ano no Nordeste. 0 fato de os efeitos estimados da escolaridade dos pais declinarem quando a ceducagio dos avés ¢ incluida na regressdo dé algum apoio ao argumento que diz que a escolaridade dos pais esta correlacionada as variaveis omitidas dos antecedentes da familia, que influenciam os resultados edueacionais das eriangas. Isso implica que o verdadciro efeito de um aumento exdgeno na escolaridade dos pais € menor que o sugerido por estimativas convencionais.O efeito do controle pela escolaidade dos ads, que é um controle grosseiro dos antecedentes familiares, € 0 de reduzir o cfeito implicito da escolatidade dos pais em cerca de 10 a 15%. Isto € semelhante a0 eclinio nos retornos & escolaridade estimados por Lam e Shoeni (1991), quando cles inclcm controles semelhantes para os antecedentes familiares nas equagdes de rendimentos no Brasil. Embora estes resultados reforcem o argumento de que existe uum “igs de antecedentes da familia” nas estimativas convencionais dos efeitos da escolaridade dos pais sobre a escolaridade dos filhos, este viés parece ser modesto, essio de cada tabela 6 uma de minimos quadrados em dois estégios, trumentos as varidveis da escolaridade dos av6s. Estas estimativas seriam apropriadas se o modelo causal correto fosse 0 do “desvio nao-herdado” acima descrito, indicando que a escolaridade dos avés néo ests relacionada a ‘caracteristicas domésticas que afetam a escolaridade, Estes coeficientes tém grandes ‘erros-padrao e parccem ser relativamente instdveis, sugerindo que 0 uso das varidveis dda cscolaridade dos avés como instrumento leva aprevisbes elevadas da escolaridade dos pais. Estes resultados, portanto, devem ser interpretados com cautcla. Olhando- se para as derivadas no pé das colunas vé-se-que o uso das varidveis de escolaridade dos a¥6s como instrumento produz.estimativas mais elevadas dos efeitos da educagao dos pais sobre a escolaridade das criangas. Examinando-se as estim ‘as mais estaveisrelativas ao Nordeste, nota-se que estas estimativas de minimos quadrados 20 esq Plan. Econ, v. 23,n. 1, ab. 1993 ‘em dois estagios implicam que um aumento de um ano na escolaridade do pai (mae) iria aumentar a escolaridade das eriangas em 0,36 (0,33) ano. ‘A Tabela 5 adiciona a renda do chefe do domicilio ¢ @ renda ao quadrado a todas as regressies. As especificagées ¢ amostras sio idénticas, em todos os outros aspectos, is regressoes da Tabela 4. Os efeitos estimados da escolaridade dos pais rncssas tabelas referem-se aos verificados quando se mantém constante a renda do chefe do domicilio. Além disso, apresentamos os compromissos entre @ média e a desigualdade de escolaridade e renda dos pais na determinacio da escolaridade das criangas. ‘Comparando-se 0s resultados das primeiras regressdes da Tabela S com as rogressdes equivalentes, sem a renda, na Tabela 4, vemos que os efeitos da escolar dade dos pais sio menores, quando mantemos a renda constante. Isto no sur- preende, por causa daalta correlagao entre escolaridade e renda no Brasil. Avaliado pela média, o aumento de um ano na escolaridade do pai implica um aumento de 0,10 ano na escolaridade das criangas em Sao Paulo ¢ de 0,18 ano na das criangas no Nordeste, Um acréscimo de um ano no nivel de escolaridade da mac, controlando-se pela escolaridade e renda do pai, implica um aumento de 0,21 ano na cscolaridade {as criangas em Sao Paulo e de 0,27 ano na das criangas no Nordeste. Os efeitos parcais dretos da renda do chefe do domictio por n6s estimados sio bem pequenos. Observando as estimativas na primeira coluna da Tabela 5, as derivadas indicam que um aumentode 10% na renda do chefe implica um acréscimo de apenas 0,02 ano na escolaridacle das criangas de 14 anos deste chefe de domicitio ‘em Si0 Paulo ¢ 0,03 ano no Nordeste, mantendo-se constante a escolaridade dos pais. Em outras palavras, fazcndo uma extrapolacao linear € usando esta derivada, seria preciso uma clevagao de mais de 500% na renda média dos chefes de domictlio. para sumentar em um ano a média de escolaridade das criangas de 14 anos em Sio Paulo, Observando-se as outras colunas da Tabela 5, vé-se que esta magnitude ndo varia muito de uma para outra especificacdo alternativa ‘Como acantece com a escolaridade dos pais nas regressies anteriores, os coefi- ciontes negativos do termo da renda a0 quadrado nas regressoes da Tabela 5 indica tuma relagio cOncava entre a escolaridade das criangas e a renda do chele do domiciio: Isto pressupoe que uma reducio da desigualdade de renda entre os chefes de domi sc constantes todas as outras varidveis, inclusive a distrib (Gio de educacao dos pais, implicaria uma escolaridade média maior das criangas de 14 anos. A derivada du (E,) / dcv (¥) resume a magnitude deste efeito sobre a escolaridade média das eriancas. Usando-se os pardmetros de Sao Paulo © as estatisticas da amostra na Tabela 5, vé-se que um decréscimo de 0,1 n0 coeticiente de variagio, isto é, uma redueao do valor real de 1,57 para um valor de 147, iria aumentar a escolatidade média das criancas em 0,001 ano, A derivada relativa 20 Nordeste é maior, mas ainda implica cfeitos reduzidos. Assim, mesmo no Nordeste uma queda de 0,5 no coeficiente de variacao, de 1,5 para 1, iria aumentar a escola ude média das criangas em apenas 0,01 ano, importante lembrar que todos estes efeitos hipotéticos so baseados na supo- sigéo de que todas as outras variéveis se mantém constantes, inclusive adistribuigo de educagio dos pais. Além disso, como mudangasna renda média ¢ na desigualdade Disigualdode de rend, desgualdade em educasdo au de renda em uma regio levam a alteragdes na oferta de bens semipiblicos, como as escolas, os efeitos podem ser muito diferentes dos de uma simples agregagao dos cfeites individuais que sao calculados neste estudo. As derivadas ao final da Tabela 5 mostram 0s compromissos entre a média © a desigualdade da escolaridade dos pais ¢ a média ¢ a desigualdade da renda dos pais. Por exemplo, a derivada dc» (¥) / d tn Gu (¥)) mostra a mudanga no coeficiente de variagdo da renda que compensaria uma certa mudanga proporcional na renda em termos de manter constante a educagio média das eriangas. No caso de Sao Paulo, 1a primeira regresséo na Tabela 5, o aumento da escolaridade das eriancas decor: rente de um acréscimo de 1% na renda do chefe do domicitio seria compensado por lum aumento simultanco de 0,2 no coeficiente de variagao. © compromisso entre mudancas na renda média e mudancas na escolaridade dos pais € particularmente surpreendente. A derivada d (E,) / d In (x (Y) ) para Séo Paulo implica que o efeito de um acréscimo de 1% na renda média dos chefes de familia seria equivalente por um aumento de 0,02 ano na escolaridade média do pai. Em outras palavras, seria necesséria uma clevacao de cerca de 506 na renda média dos pais para ter omesmo impacto sobre aescolaridade das criangas que um aumento de um ano na escolaridade média dos pais. Similarmente, seria necessério um aumento de 100% na renda média dos pais para obter o mesmo efeito sobre a escolaridade das criancas que o atumento de um ano na média de escolaridade das mics. As magnitudes para 0 Nordeste sfo semelhantes, com um aumento de 1% na renda dos pais sendo equivalente a um acréscimo de 0,02 ano na escolaridade dos pais € de 0,01 ano na escolaridade das mées. 3s resultados das outras especificagdes da regressio mostram muito parecidos. Enguanto as magnitudes dos efeitos variam um pouco conforme a especficagdo, © padrao geral continua sendo aquele em que os efeitos das mudancas na média ouna dispersao da renda do chefe do domicilio sobre a escolaridade das eriancas s40 surpreendentemente pequenos. Tomados literalmente, os resultados indicam que haveria apenas melhoras pequenas na escolaridade obtida em resposta a aumentos mesmo grancles da renda média ou redugdes substanciais na desigualdade de senda ‘entre os chefes de domicitio. Um resultado muito robusto entre as especificactes & ‘que muito pouco da diferenca na escolaridade média das criancas pode ser exphicado por disparidades na renda média ou na desigualdade de renda dos chefes de domicilio, Como mostraa Tabela?, adesigualdade de renda € até menor no Nordeste que em Sao Paulo, o que significa que o cleito da desigualdade de renda levaria, por 5is6, a uma escolaridade maior no Nordeste que em Sao Paulo, Reiteramos que estas estimativas supGem que a oferta de servigos educacionais piblicos se mantém constante. Se, como parece ser plausivel, os aumentos na renda média ou decrés: mos na desigualdade de renda fevam 2 um aumento da oferta de servigos pablicos ‘de edueacao, entdo estes efeitos se acrescentarao aos cfcitos em nivel domieiliar que caleulamos neste estudo, ‘As magnitudes dos efeitos da escolaridade dos pais por nés calculadas sio bastante semelhantes as estimativas de outros pesquisadores em estudos anteriores sobre a educagio no Brasil. Souza (1979) apresenta regressoes do desempenho ‘scolar das eriangas como uma fungao das caracteristicas do domictlio, utilizando uma pesquisa sobre. gastos familiares realizada na Cidade do Rio de Janciro em an Peg. Plan Econ, ¥ 23,1}, abr, 1993 1967/68. Ele estima regressBes para criangas em faixas etirias estreitas¢ inclu, entre 0s regressores, renda familiar, tamanho da familia, variaveis dummies para a local zagio na cidade ¢ escolaridade da mae. Para criangas entre 14 e 15 anos, grupo semelhante amostra que usamos, Souza (1979, p. 133) estima um coeficiente da escolaridade da mac de 0,33, semelhante ao efeito que estimamos tanto para Sio Paulo como para.o Nordeste. Em Séo Paulo, nossa cstimativa quadrética para 0 feito da escolaridade da mac implica que o atumento de um ano na sua escolaridade faria subir a escolaridade da crianga em 0,31 ano quando a escolaridade da mie é zero e em 0,23 ano quando a mae tem uma escolaridade média de 26 anos (veja 1* coluna da Tabela 4). Birdsall (1985) usa o Censo de 1970 para estimar os efeitos de caractersticas dos pais ¢ da familia sobre o desempenho escolar de criangas de diversas idades. As ‘ariéveis independentes incluem a escolaridade do pai c a da mac, ambas na forma linear, ¢ 0 og da renda do pai. As estimativas de Birdsall dos efeitos da educacao dos pais no Brasil urbano sao um tanto mais baixas que as nossas. De acordo com seu estudo, um aumento de umm ano na escolaridade da mae implica um aumento de 0,11 ano na escolaridade da crianga de 12-15 anos nas éreas urbanas brasileiras, controlando-se pela renda do pai, enquanto nossos resultados deram 0,21 ¢0,27 para ‘Sao Pauloe Nordeste, respectivamente (veja Tabela 5). O efeito do acréscimo de um ‘ano na escolaridade do pai é de 0,08 ano no trabalho de Birdsall, comparado com {0,10 para Sao Paulo ¢ 0,18 para o Nordeste em nossos resultados. Uma contribuigéo importante da andlise de Birdsall é0 uso de medidas diretas da ofertac da qualidade do ensino, incluindo a escolaridade média dos professores e a quantidade de professores por estudantes na regio. A inclusio dessas variéveis em suas regressbes aumenta o efeito estimado da escolaridade da mae sobre a escolaridade da crianga «tem um impacto pequeno sobre o efeito estimado da escolaridade do pai ‘A magnitude dos efeitos por nés estimados das caracteristicas dos pais sobre a escolaridade das eriancas pode scr ilustrada com o uso dos cocticientes de nossa regressio para decompor a diferenca na escolaridade das criancas entre Sao Paulo © Nordeste. A diferenca de escolaridade média para criangas entre So Paulo ¢ Nordeste pode ser escrita como a soma de duas parcelas. A primeira é dada pelas diferengas regionais nos valores médios de todas as varigveis independentes multi- plicadas pelos seus correspondentes coeficientes de regresséo. Podemos obter este ‘componente de dias manciras, usando os cocficientes estimados para o Nordeste ou ‘5 cocficientes estimados para Séo Paulo, A Tabela 6 apresenta estes célculos, usando as regressbes bascadas apenas na escolaridade dos pais c, também, naquelas ‘que incluem a renda do chefe do domictlo, AAs duas primeiras linhas da tabela mostram que a diferenga real entre o gran de escolaridade em Sao Paulo ¢ no Nordeste ¢ de 1,5 ano. A primeira previsao usa as FegressGes que excluem variéves de renda. Dadas a difercncas aus médias das variéveis independentes descritas na Tabela 2¢ 0 coeficientes de regressao relativos a Sao Paulo na Tabela 4, predizemos uma diferenga de escolaridade entre as das apis de apenas 024 ano, A diferenga previ portant, pends 161% da ferenga realmente cbservadaindicando quo as diferencas.namédiac varancia da escolaridade do paixexplicm apenas um fragto pequena do histo emescolaridade entre So Paulo ¢ Nordeste. Quando usamos os coeficientes de regressio para 0 Nordeste, predizemos uma lragaoigeiramente maior da diferenga tata (18370). Desigualdade de onde, dvigualdade em educagio a3 TABELAG ‘Sao Paulo e Nordeste: diferencas prevista no grau de escolaridade, baseadas nos coeficientes de regressdo das Tabelas 4¢ $ ‘Eecolaidade real om Sto Paulo a5 Escolridade real no Nordeste 325 terenga oa 1.50, Difeceaga preva Diferege previa usando cocicontes usando goehictentes a Sto Paulo rao Nordeste Dierenga previa vsando O2at 0273 regressbes sem rend Diterenca previsteldterenca eal 0.161 0.183 Ditferenga prevista usando 0.208 0231 regressbes com rence Diferenga previste/dterenga eal 0,140 0.185 Aslinhas inais databela repetem este exercicio, usando asregressées que incluem a ronda do chefe do domicilio ¢ seu quadrado. Este exercicio deve ser olhado com ‘ais cuidado, pois faz implicitamente a suposigéo forte de que a renda pode ser ‘comparada diretamente entre as duasregides, ignorando problemas como diferengas de custo de vida entre elas. A magnitude da diferenga prevista 6 semelhante & da diferenga prevista que se bascia nas regressBes que oxclucm a renda; esta diferenga de fato um pouco menor quando usamos regressoes que incluem a renda, Explica- mos cerca de 15% da diferenca atualmente existente entre Nordeste ¢ Sao Paulo com base nessas represses. Considerando-sc as diferencas substanciais na educago ¢ na renda dos pais entre Nordeste ¢ Sao Paulo, é surpreendente que estas diferengas nao parecam explicar grande parte do vasto hiato em escolaridade das eriancas entre. as duas regides. Baseados em nossas estimativas para os eftitos da escolaridade c da renda dos pais sobre a escolaridade das criangas, menos de 20% do hiato de quasc 1,$ ano entre a escolaridade das criancas no Nordeste ¢ em Sao Paulo seriam climinados se 0s pais ddo Nordeste tivessem as mesmas caracteristicas dos de So Paulo, mantendo tudo ‘mais constante, inclusive a oferta de servigos escolares piblicos. Este resultado surpreendente parece indicar que a climinagao do grande biato na escolaridade das duas regides dependeré mais de politcas do lado da oferta que de alteragdes na distribuigéo de renda ¢ de escolaridade ao nivel domiciliar. Namedida fem que a educagio dos pais pode ser um bom indicador da renda permanente do domicilio, noss0s resultados implicam que, mesmo que haja aumentos substanciais nna renda média ou redugées da desigualdade de renda no Nordeste, o hiato no grau de escolaridade de longo prazo nao seria eliminado se ndo se efetuassem mudancas na oferta de educacio. 24 Peng. Plan Bon, 23, 1 abr 1998 A escolaridade © a renda dos pais, variéveis que poderiam ser consideradas

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