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EDITORA 34 ora 4 Lads, Rua Hungria, $92 Jardim Europs CEP 0145-000 Sto Palo SP Brasil Teax (11) 38116777 wewesiora4.com be Copyright © Eiera 34 Lids2012 Teadgio © No€ Oliveira Paiarpo Pol, 2012 Imager da aps: Boris Kastor, eign As marge do io Moscow 1897 Capa, peje grificoeeditorago elt: Bracher © Males Producto Grice Revi as Somos ide Piguee Ceca Rosas 1" Faigio- 2012 IP as. Caalogsio-na Fonte (Siniato Nacional don Fate de Livros, RI, Basil) san “ai Bienen etc, ne HOMENS INTERESSANTES E OUTRAS HISTORIAS 1. A sentinela| 2.0 velho géni0 eo 3. Homens interessante. 4.0 expele-diabo «.. 5, O artista dos topetes 6. A fera Sobre 0s contos. Leskov, humanista e satirico, Noé Oliveira Policarpo Poll 3 8 a 139 171 197 264 279. ausa, as contas do rosirio ¢ 0 manso fluxo: — Para um guerrero, sofrer uma humilhagao e ferimen- tos por um seu feito pode ser muito mais dil do que ser ‘exaltado com wma distingio. Mas o que hai de mais impor- tante nisso tudo € que é de mister cercar a historia toda de ‘muito cuidado ¢ em absoluto, em nenhum lugar, me de quem e por qual motivo se fala. Pelo visto, também o prelado estavasatistito. Xxvill Se eutivessea audicia dos felizeseeitos do céu, a quem, pela sua grande fe, é dado penetrar os mistérios da providén- ia divina, eu talvez me arrojasse a conjecturar que até 0 priprio Deus devia esta saiseito com 0 comportamento da ‘mansa alma por ele dada a Péstnikov, Mas a minha f@ é pe- ‘quena; ela ndo da, a0 meu intelecto, forgas para enxergar algo tao elevado: eu sou afercado ao terreno ¢ a0 carnal. Eu ppenso nos mortas, que amam o Bem pelo Bem em si e nfo tsperam nenhuma recompensa pela pritica dele, nem aqui ‘nem em outro lugar que seja. Essas pessoas francase firmes, creio, também devem estar inteiramente satisfeitas com 0 santo impulso do amor ¢ com a ndo menos santa resignacio do manso herdi do meu relato, que foi feito com fidelidade 0s fatose sem artificos. ss7) » Nikolai Leskov 2 (0 VELHO GENIO 0 gino no tem dade: le supra edo 0 ave etm at estes comuns.” La Rochefoucal? 1 Ha alguns anos, veio a Petersburgo uma velhinha, pro prietiria de terras, que tinha, como ela dizia, “um caso gr ante", © caso era que ela, pela sua bondade de coragio € ‘impliidade, puramente por compaixao, salvara da despraga {um janota da alta roda, hipotecando por ele a sua casinha ique era todo 0 patrimonio dela, da sua entrevada ¢ aleijada fitha e da neta. A casa fora hipotecada em quinze mil rublos, {que o janota pegara inteirinhos, com a obrigacio de liquidar a divida no mais eurto prazo. 'A boa velhinha acreditara nisso ¢ fora dificil no acre- ditar, porque o devedor pertencia a uma das melhores fami tias,tinha pela frente uma carreira brlhante ¢ reebia boa fenda das suas propriedades e bom salirio como funcionsio pablico. ‘A elhinha conhecera a mae desse senor em nome da velha benevolénci, ajudou-o; ele partiu belo e feliz. para Pe tersburgo,¢ em seguida, nem é preciso dizer, comegou a brin~ Cadeira de gato e rato bastante comum em tais casos. De- ‘corriam os prazos, a velhinha dava-sehe a lembrar por meio de cartas, no inicio as mais brandas, depois um pouco mais + rangis La Rochefoxcas (1613-1680, estore pensar Fan (do) © veo so a duras e, por fim, passou a descompé-lo:dizia com indiretas {que aquilo nio era honesto, mas o devedor era sueito cale- jado e no queria saber de nada, nio respondia a carta ne- ‘nhuma, Enquanto isso, o tempo corra, foi chegando 0 prazo «do penbos, diante da pobre mulher, que confiava terminar a estada na terra na sua casinha, descortinou-se a terivel perspectiva do frioe da fome coma filha alejada ea netinha pequena ‘A velhinha, em desespero, confiowa sua doente ea crian- ‘¢24.4ma boa vizina, juntou as ikimas migalhas e voou para Petersburgo para “entrar na justiga”. 1 As suas dilgencias, no inicio, siveram bom éxito: calhou: -Ihe um advogado muito compassivo e benevolent, em juizo saiu-lhe uma sentenga rpida e favoravel, mas quando 0 ne sécio chegou a execucio, ai a porea torceu 0 rabo, ¢ dum jeito eapar de pér a mioleiea duma pessoa em desarranjo.. Nao que a policia os outros tas ofciais de justiga dessem moleza a0 devedor; eles digiam que estavam ja fazia muito tempo hem fartos do sujito e que todos eles tinham do da velhinha e gostariam de auxiliar, mas no se metiam a ta. (Ofulano tinha nao sei que poderoso parentesco ou condigio, {que nio se podia pérthe uma mio pesada como em outro pecador qualquer. [Nido sei ao certo a forga ea importancia dessas relagies, {eaté acho que iso nio tem importancia. Nao fara difereng gue vos promt Ie dave eto em mer he mine 2 No original “kok ibuchha em soo si ma mal pret jie ask deturpadn de as exprenesiionstics. A pomeir, “ie 2 Nikolai teskov “Tambémn nao sei dizer-vos com exatiddo o que era pe: ciso fazer com ele, mas sei que era preciso “entregar a0 de- dor contra recibo” nao sei que papel, © era justamente isso {que ninguém, nenbuma pessoa de posi nem posto menu, Conseguia fazer. A quem quer que a velhinha se dirigisse, to dos vinham com conselhos da mesma toada: wah, senhora, mas que reima a sua, hein! Largue de sno, é melhor! Nos fcamos com muita pena, mas que fazer ‘quando cle nfo paga a ninguém... Se lhe serve de consolo, a Senhora no € a primeira nem serd a dima. wo Amigos meus — respondia a velhinha —, mas que “consolagio hi niso de que no s6eu vou passar por um mau ocado destes? Eu desejaria muito mais, meus caros, que Pra mim e pros outros ficasse tudo bem. Othe — respondian-Ihe —, pra fear bom pra tudo mundo é melhor a senhora deixar pra li, isso foi invengio dos especalistas, € coisa impossivl "A mulher, na sua simplicidade, no Ihes dava trégua a rpot que que é impossivel? O patrimonho dele, por todo caso, cobre a divida com tudo mundo; ele pode devolver ‘do, que ainda vai fear com um monte de sobra. Eh, senhora, quem tem “muito” nunca acha que tem muito, pra eles nada & saficiente, mas o principal é que ele fnzo tent o costume de pagar, ¢ sea senhora pegar muito no TX dele o sujet pode sairthe com alguma coisa desagradé vel Que coisa desagradavel? ua vor sigs que avons, porto de brat epremonies rece todo fii a aguén« ithe prteao. A outa reo ger ‘Ma a eto de "acalmarse, aplacarse. Lekov apropos 8 epee alrgande seam dos ojos da gio do verbo para io (red. dT) > Enea oe cats. (N60) © velo gio * — Pois, mas pra que perguntar isso: va passear que € melhor bam 20 se gosto, pla veda Nile em sabe até reslva ir pa casa, — Mas desculpai-me — dizia a vethinha. — Eu nio credo em vés: ele esti todo enrolado, mas é gente boa. — Sim — respondiam-the —, clato, é um seahor bom, ‘mas 56 que duro de pagar; quem se meteu por esse caminho Ecapaz de fzee qualquer paiaria, —Pois enti empregai as vossas medidas. = Pris a é que esté 0 ponto e virgula, minha senhora, nio podemos “empregar medidas” contra tudo mundo, Pot «que que a Senhora foi meter-se com gente assim? = Mas qual 6a diferenga? (Os perguntados 6 olhavam pra ela eviravam as costas, e até speriam que fosse quixar-se mais pea cima Pois cla foi queixar-se mais pra cima, LA o acesso é mais iff ea conversa é mais cueta e também mais abstrata. Disseram: “Onde esti ele? Consta que o seu paradeiro — Ora, mil perdoes, se eu 0 vejo tudo dia na rua, ele esti Id na casa dele! —Nio é a casa dele, ni. Ele nio tem casa: easa éda expos — Mas que dferenca isso faz: marido e esposa, uma $6 raposa. A senhora & que acha assim, a lei pensa diferente. A “A principal ia de So Petersburg (N. do) * Ou sca, 3s instincin sperores.(N.do T) x Nikos Leow ‘esposa também ja Ihe pediu contas e entrow na justiga, € consta que ele nfo mora com ela.” Ele, que 0 diabo 0 car regue, nos encheu;e também por que a senhora foi dar-the

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