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pescola, 4 gramatica e a norma Myrian Barbosa da Silva izem que a sociolinguistica tem interferido pouco no ensino da lingua materna no Brasil. Na minha opiniao temos poucos elementos para uma avaliagdo. O certo é que a linguistica 0 tem feito. Ja se notam dife- rencas importantes, embora insuficientes, no ensino da lingua nas escolas de ensino fundamental e médio que servem a classe média, assim como no material didatico elaborado para tal fim. O acesso a essas conquistas que se constitui privilégio de uma classe, dos frequentadores de escolas privadas, daquelas que exigem pessoal mais qualificado e que estimulam a sua atualizacao. O Estado, responsdvel pela educagao de todo o restante da populacao, s6 episodicamente oferece ainda poucas oportunidades de aprimoramento, e quando o faz, nao atinge a grande maioria dos docentes. A distribuigao do saber, como a distribuigao de renda neste pais, € per- Versa, e a questao do repasse do conhecimento linguistico produzido nas universidades brasileiras nos ultimos vinte anos, como em anos anteriores, deve ser vista, a meu ver, sob dois Angulos: o da politica social do pais ¢ 0 da atuacao dos linguistas. Do primeiro ponto de vista, camadas populares tém estado, no Bra do progresso da ciéncia. A medicina convém considerar que infelizmente as sil, distantes das vantagens advindas alcanga resultados milagrosos, mas 229 “acca ©s pobres morrem nas filas antes de Engenharia consegue equilibr. Moram em palatitas. Port eficiente, que a evas. receber um atendimento simples, a ‘ar toneladas de concreto, mas milhares ainda nto, quando se diz. que a escola brasileira nao é “10 escolar atinge indices espantosos, faz-se referéncia ares (publicas ou nao) que,além de sofrerem outras priva- Ses, NAO se tem beneticiado ou se tém beneficiado pouquissimo das novas tormulagoes da linguistica. Os alunos de classe média nao se evadem, sao bem alfabetizados, sua escola é as escolas popul cficaz, pelo menos desse ponto de vista, Essa situagao é evidente, mas & preciso sublinhd-la, para se ter claro, Por exemplo, por que razao nao tem reflexo no ensino a constata¢ao de que mesmo os brasileiros cultos na sua fala coloquial, ou até em textos cuidados, varlam na concordancia; € preciso sublinhd-la para refletir sobre a socio- linguistica na tarefa de resgatar a fala brasileira; é preciso sublinha-la para lembrar também os limites desses trabalhos. Vendo-se o problema do segundo angulo —a da atuagao dos linguistas — pode-se apontar, como causas da dificuldade de levar a escola, popular ©U Nd, o Novo saber, o distanciamento entre linguistas e pedagogos e as timidas investidas para a divulgacao dos resultados das pesquisas através de veiculos nao especializados, De todo modo, nao € somente a repercussao desses resultados que importa para modificar 0 quadro. Essa € apenas a parte que cabe ao socio- linguistas. Preocupa-nos, como a todos os que se relacionam de um mode ou de outro com 0 ensino, também a busca de solugdes que oe para a melhora da qualidade de ensino, conduzindo-nos, assim, el sociedade mais igualitaria, mais justa. Como chegar a isso, eis a ques Aescola se paar yanizault orias Orga} Muitos linguistas, professores, membros de min bn i analis : se vem Ocul outros interessados na educagio popular se vem ocuP. ice : ise ea problematic a escola no Brasil, as causas de sua crise € 2 P ecul0 sua materna. ante no — A i brasileira de massa comegou tardiamen et A educagao brasileira ass ; oc e levar a em bases pouco firmes. A decisio de \ i pis itorio, atribuinde manor de criangas, neste vasto territorlo, a 230 prertor dos TECUPSOS da Uniao, levou 0 governo . rtao div ersificada nos seus pre sblemas como. multipla como oe lingua do Brasil, F nem podia é ie jonun espace tan grande e numa sociedade tao estratificada ele a os problemas ling « je pense de Fm consequenela disse. as questoes que envolvern os alu ie isticos da escola sem se terem mente xen goered 4 case médha naturalimer ci 2 popularcs. Tambem nao ¢ jdéntica a situacdo das classes populares dase em nas cidade a as nas diversas regioes do pars ate NAO So as Mesias que envolvem os das as que habitam o campo, € MIO se cOMparany as qwlas populares urban. O aluno de classe media frequenta escolas bem mats equipadas, cont prafessaress NO minimo, razoavelmente preparados, ¢ traz por heranga o padrao linguistico Mais Proximo do que é ensinado na escola, por isso ¢ facimente alfabetizado, embora a maioria das veves saia delas envenena do pelos preconceitos € com dificuldades de falar € escrever nos moldes exigidos pela sociedade. escola do aluno urbano proveniente das camadas populares € em graus variados, mal equipada, e, frequentemente, deixa muito a deseyar quanto A formagio dos seus professores. Tomo emprestado de Mattos ¢ Silva (1994) um exemplo extraido por ela de uma publicacio da Universidade Yederal da Bahia. Em um pequ wolas de Te ¢ 2° graus (hoje ensime. fundamental e medio) comportayam anos eno municipio do Reconcavo Baiano, as es atras o seguinte quadro de professores: nenhum tnha curso universitanios so17 Unham o primeiro grau completo, e 103 0 primeiro grau incompleto. Inchnam-se entre estes Ultimos 52 que so alcangaram 2 4* serie, 35, a 3 finalmente, 2 que so completaram a 1*- Sabe-se que essa situacao esta longe de ser excepcional, pelo menos, nas regioes Mais pobres do pass Oaluno do campo nio rare anda quilometros para chegar aexcolae soa frequenta quando the permite ‘os pais, que utilizam a sua forca de trabalho. Esse ¢ um dos que mais se distancia do padrio linguistico da escola. Dentro desse quadro, minimamente pintado, nio se pode estranhar que a evacig encolar ultrapasse 0» S08 dos alunos matniculados na primeira asio, naturalmente, nao atinge os alunos da classe media, porque serie. A ev esses, alcmaas aiverem uma sittaac3o favoravel a permanencia na escola. ainda pertencem a uma classe em que ndo mais s¢ admitem pessoas sem cou com baixa escolaridade. A diversidade de contextos onde se situa 0 al a uma questio muito discutida entre nds, mas que unanimidade nem ultrapassado 0 ambito das nossas reunte Refiro-me a questao da norma escolar, aqui definida como o modelo ide- alizado de corregao, cujo prestigio nao tem sido suficientemente abalado pelo trabalho da sociolinguistica, e que penaliza a todos que se expoem um pouquinho ao julgamento implacavel de um ouvinte mats atento. uno brasileiro nos conduz nao tem conseguide ves académicas, A gramatica Até agora, como se sabe, a escola tem tomado como padrao para 0 rtugués a gramatica normativa, que, 1 mas gue esta longe de refletir o padrao nac relacao ao uso brasileiro escrito, de que sie exer aregéncia verbal, Desobedecem rvavels ensino do po: no século passado, se deslusitanizou, mantém divergéncias em plos classicos a colocagao « a essas regras da gramatica norm jonal falado. ¢ Jos pronomese ativa, por exemplo, 09 Uses obse! nas frases abaixo. om se constituide @ processe de ortentayee (1) Mas nao s6 de entrevistas te tsscugertOs (2) Essas medidas visam o conforto ca seguranga dos fr aterial escrito gue pase! amaticats que t7#! com adoy dem Fsses dados foram ambos recur maw por revisao, portant parece representar falos BF matizados pe la io, que Nao sao estly ysine set controle consciente do usuar a ro maps objeto de en gona santas em Pt por isso mest, Nae nidade € que, ycandidatos para £65] cursinhos que preparatt ponder pet jrucdaite 4 © Mane” jul were py ew tO a (yy) no de concursos publicos avers que a come Me Outro caso € 0 de fenomenos Vas jo exer rans escobaridade, 60) srece mn cry Weal’ Marta 9 herre rejeitam como smarca det €o da concordancid, © Que TEATS py! pessoas Cultus, come mostrag Marta ecuner Ore : J sctecr Iho “Sobre a leitura de dados Haguistico® do qual que segue ad eorttt oerrUOS Y “eoneuseAR ep eanuosid eULOU e aHHUsuEL ay “Ssossazoad sestsouduutt 9p 2494 opuenb “Ossi © e029 & NEPAD 4O6L IP sodap epiz00 oursua op epeusprossp ovsuedxa y-opens mbe BL OUTER, 2H EATS 9 SONP]Y NOIUALUNTIE tq OLUOD “UPJODS9 BLLIOU B EULLOP OFY Ssrossajoad snas sop aud apursi v anb yf ‘e[p onuop estayseag ey ep, orsezyeme & opu: puuoad “oIsoBENUOD v “UDA PIOISD BOSSIP ARSady ZENsINIUYOLOs ep a1uLOdU ste OPdIMGUIUOD & e359 pA95 SP]Y “tue rSsoDau Saropeonpa so anb op jeLiarettt 9889 atzNpoad dp assousyu © sou asia opentios opis 121 vf yec] “SOUNIE SN9s LHAALA 9PUO 2pEPaI>06 ep seouisinsuy| soodeijeae se eyes anb opezfente jenueU ONNO WIN 9p 20dsip ovu P]p “wyUy ‘afoy souase aruaUEMtajiad ORs sopypu9i0224 ovU sosn, onbep sunije anb uresisuowap anb 9“opuaafoauasap W9a sersinButjorsos So anb oujeqen ov ossaze ont opy wid) ovt BIg “s!2APpUDTLOD21 505n sop oursua ou r]-emns exed eonpuress essap aodsip 9s estoqseagq vjoasa v sey 9 “vIoUppLo209 & 3 ossip ojduuaxs soyjaus © “eanenpenb anb op eaneynuend ste 9 ,sorno or Sop 9 sound, Sop osn 6 anus opdunNsIp e anb ‘sepepins eILDs9 BU > Ry Pu jaaeizea opow ap wiaystsiad aiuausersos soperpndaa souattigU sou anb agaciad opu OWLo> *(z) 2 (1) WA sopeyuasarde so oWOD sosn ap tu -sinBuy] apeprunurod ejad ‘ovdenase e e1OUBT OUR, Ie[O>89 eOnNPWHELS Y “(91d ‘wapy) *-r101q 2 epuapla 36 P[ (-"") epepind eLDSa BU OLUSAL anb [IseAg Op sgnBmuod op awe aanbyenb ap aquatu eu epezyeusajut opow er ap yyse elougpsoauds PuoesTE -exeanbap e;sugpisa euin oWo> sore sesso estjeuranb ene WODsTANS oryaug “212 999 sepesedasd jeu seossad 10d ‘squauateuorsdo>x9 soph . s‘oLIpu09 or:seyjno seossad stp eu ZO, 1 “P[Op SAAPIUALLEEY SOLASAP OF me aud wiazej ovus9ss9 0109 sopep anb opuszip sewsuoseHaped “-spspauin sv vayqnd vuso} v BLunuP muonay V ~ ® faanivriowltt +g]? 6 404095 asap wasndioiand vavd s911a20p ap soun uso q suey 4 op ssn x --umoaoad apod oanijod ojuauuow oP sof Op oF pseag oP et de nivel medio dos professores do ensino fundamental (antigo primeiro grau), a maiona falante do chamado portugués popular, criou um circulo destavoravel a essa transmissao. Assim, a sociolinguistica nao cabera s6 fotografar esse fendmeno de . Para isso sera neces- atualizagao, mas conscientizar a escola de sua existénci: sario que maior numero de pesquisas incluam estudos de atitudes a fim de subsidiar uma nova gramatica pedagdgica, se for essa uma das solucdes. Pode parecer que a adocao de uma gramatica normativa atualizada, que refletisse bem a variedade brasileira culta, resolveria todos os problemas. Mesmo que isso ocorresse, porém, ela ainda padeceria do mal de eleger.como unico e verdadeiro, 0 dialeto da classe dominante, negando, estigmatizando (como o faz agora) as outras variedades linguisticas, alijando grupos sociais ys proprios usuirios desses dialetos de que que naoa dominam, convencendo ¢ nao sabem falar. E nessa gramatica 1 que a classe média tem da norma-p: custosamente adquirido (e realmente 0 foi, ja que Mesmo o seu vernacu! em muitos aspectos, nao coincide com ela), um bem que nie pode ser des- yalorizado agora. Isso pode explicar, em parte,a atitude de descontianga com que alguns professores mais conservadores veem a linguistica (liberal. licen mencionada acima de difundir ciosa até). Explica-se, também, a dificuldade professores e a comunidade em geral, como fazem outros cientistas. equentemente, de interferir no ensin a gramatica pedagogies! ormativa que repousa, hoje, a concepyao adrao, a qual se aferra como um bem lo, entre os resultados das pesquisas, €, cons odo Portanto, uma NOV’ isto é distinguir assi m que nao oS. aceito pelos bl a A desobediens# is nay portugués como lingua materna. P deveria relativizar suas prescriges, em que sio obrigatorios certos usos de outras ¢ Alem disso, ela deveria d ares a situagdes de escrita. | Lantes istinguir O USO oral, nativos, dos usos particul \ os conti esse principio, isto & a extensdao ao USO oral das preseryes vo) os buts gramaticas normativas, normalmente baseadas no He et vos we” autores, € que tem produsido uma legiao de mudos ou te een entre os filhos da classe media, principalmente quande a situagdes um pouco mais formals de fala do que 4 habitus . Mas qual sera a solugio? acl brasil! fs usos aceitor F aatica que contemple Uma nova gram ' o tao diversos: hoje? Mas os brasileiros sai 234 2 B itros? brasileiros cultos? E os ov sca para os bra 2 +s? Por que nao? Uma gramat outras classes? Por q' sos de Uma gramatica que inclua 0s uso: Hire Uma gramatica que distinga 0s Usos OF is Certamente! Anorma ou as normas da escola 66 estiona-se Mesmo que a gramatica oferega todas essas informagoes, quest! C : 2 deve ser e! Ja. ma da escola, aquela que deve ser ensinada. as e ruma oe 44 muitosanos.a filha pequena de uma colega nos proporcionow : e| e ouvir da mae a boa oportunidade de reflexao sobre esse tema. Depois de ouvir da m va ¢ a ; licagao de que ensinava lingua portugue xé ensina o que todo mundo ja sabe? voce ens . Ihe perguntou: Mas por que Pensemos um pouco nisso. Até uma crianga Betecbe que 0 objetivo da escola nao é ensinar o portugues, pois ° vernaculo é cana re familia e pela comunidade linguistica. Como é que a escola convence © individuo de que nao sabe falar portugues, de que o portugués éa lingua mais dificil, mais complexa etc.? Qual a tarefa real do professor de portugués? £ necessdrio ter clareza sobre o objetivo do ensino da lingua a falantes os, € preciso identificar o que o falante ja sabe e 0 que nao sabe para determinar o que lhe deve ser ensinado. Estudando o inglés de Nova York, Labov concluiu que a crianca, ao comecar a aprender a ler, j4 construiu, sob a influéncia dos Pais, a sua gra matica basica € j se encontra no estdgio mais importante do ponto de vista 4a evolucao da linguagem (p. 66): 0 da construgao do seu apa, sob influéncia dos grupos de amizade, local, mas ainda nao percebe o significado so Sos seus amigos (nao Tesponde aos testes de p27 de variar de estilo, habilidade que “59 BrUpO social maic i i Brupo fF a08 que tinham chegado a high-s I Mnitings gi igh-school, een existéncia de algum paralelo entre e "Buistico das cidades resp Por que alg rit Preece ‘umas d. Pacifico que, q vernaculo. Nessa ela aprende os usos do dialeto ocial das caracteristicas da fala Teagdo subjetiva).'1 mbém nao é 86 observouem individuos expostos © Comportamento acionais, podemos apliquem a realidade brasileira, €scjaa origem do eitadas as diferengas n: Vvacdes se Sas obser ualquer quer qu aluno (salvo os casos de anomalias, naturalmente), a0 chegar a escola ele ja tera dominado a gramé- tica bastea, herdada dos pais. Também ¢ provavel que jé tenha comegado a falar a sua lingua segundo © padrao dos seus vizinhos € do seu grupo de tdade, garantindo assim, conforme Labov, a consideracao e prestigio dentro de sua comunidade. Utilizara, pois, a norma do campandrio, para usar a expressio de Houaiys (1985), a norma que podera ser seu tinico instrumento de comunicagao, se nao houver interferéncia da Escola, Mas ele nao compreendera bem a fala urbana, s for oriundo do meio rural, e com mais razao ainda, nao entender inteiramente a fala rural, me- nos ditundida, se morar na cidade. Dada a organizagao social brasileira, em que as cidades predominam sobre o campo, o homem urbano, salvo casos especificos, pode prescindir de se tornar um usuario da forma rural, porem ohomem do campo nao podera deixar de se tornar um usuario, Pelo menos Passivo, da norma urbana, que lhe invade a casa diariamente Pelo radio, pela televisao, pela publicidade veiculada em cartazes, enfim, pelos meios de comunicagao, Do mesmo modo, nas grandes cidades, as classes soci. ais Precisam se comunicar, e o fazem intensamente, mas, em alguns atos, com Prejuizo das classes populares, que se submetem a leis e celebram acordos escritos em uma lingua que parece nao ser a sua. Essas classes Precisam Preparar-se para compreender — usar p. das camadas sociais dominantes. £ nec ivamente, portanto — a lingua ‘irio que todos os brasileiros co- nhecam a lingua falada pelos politicos, pelos advogados, pelos banqueiros, Pelos patroes, pelas agéncias de publicidade etc.. Ha muito tempo que os indios perceberam essa nece: sidade e reivindicam escolas nas aldeias como meio de se defender dos abusos da sociedade! Alem disso, qualquer crianca, mesmo de classe Média, ao ingressar ne sistema escolar, nao conhece 0s estilos que lhe oferece a sua lingua, ada nao domina, por exemplo, os estilos orais que os meios de comunicayte de massa utilizam. Também nao é capaz de decodificar os que a escrita de sua lingua se utiliza, e, mesmo depois de ae ; fie . incipalmente © vocabulario e a gramatica proprios da escrita-padrao, principalme em seus estilos mais formais. inais graticosde é-lo, ndo conheee 7 i . aluno.¢ Assim, 0 que a escola tenta fazer, quando corrige o dialeto de ae : ; at aha air-the nar-Theo que cle ja sabe, é modificar o seu vernaculo, € impins ora : : fs —she falar, A pror™ Padrio estranho quando fala, é enfim, negar que ele ja sabe falar et denominag a en 7 aa . j dus do da disciplina escolar — portugues — ja 0 ind 236 AFSCOLA, A GRAMATION A NORMA 1880. Por isso tinha razao a crianga ao perguntar: para que ensinar 0 que wndo jd sabe? Por isso também € que o aluno se aprender a falar de outro modo atende aula de todoom recusa a aprender, Se 0 seu padrao ¢ eficiente, isto 6, 9 todas as necessidades comunicativas dele Portugués passa a ser, desse conflito entre op, Para que a ede seu grupo? A modo, o espaco onde se estabelece o adrao escolar eo p. adrao do grupo de amizade, que também ‘Sse 0 contlito, como observa Labov, cassam os chamados programas co muitas horas didrias ao Programa brigaté 7 ‘, ¢obrigatorio. Be que explica por que fra- Mpensatorios, por que criancas expostas de f televisao mantem odialeto de origem cs do te . 3 : " 5 A escola nao tem pod uir © vernaculo pela lingua-padrao. A pratica da correcao da fala do aluno. ia das vezes, tem conseguido Ta, mesmo na classe média » Na maior: : Cassar-Ihe a palayi Se, como se vé, 0 professor nao e1 lo ao aluno, seu trabalho deve ter col diferenciadas e continuadas Para q lingua j4 adquirido: da sua varieda da variedade de sua classe social pa varios etc. Essa exposigao a situagoes linguisticas diferenciadas se Testringe, na grande maioria das escolas brasileiras, a variedade e melhores manuais didaticos dedicam muito pouco espaco a sugestoes de praticas orais na sala de aula. Ademais, os textos escritos a que os alunos sao expostos sd0, quase sempre, tomados explicita ou imp modelos, de modo que acabam por desestimular a prod na variedade que elas conhecem bem. Para ampliar 0 conhecimento lingu ico do aluno sem corroé-lo com Preconceitos contra outras variedades — nem, sua prépria apenas uma coi » de um Unico estilo para ita. Mesmo os icitamente como, ugao das criangas Principalmente, contra a —, nao basta que os professores saibam que todos os di. Sto igualmente instrumentos eficientes, E preciso que assim os reconhegam. E modifiquem seu sistema de valores, qui vem edo qual nao tem feage em defesa de He rejeita variante: “racterizam a sua (1992). Assim se aletos bons dentro do seu contexto social isso nao € facil! Exige-se deles que il €O mesmo da sociedade onde vi- plena consciéncia. Ao corrigir o aluno, o professor um padrao imaginario, ao qual tambem ele ¢ submetido. 's linguisticas que, talvez em menor frequéncia, tambem fala. Transcrevo aqui um exemplo retirado de Bortoni expressa um prof or ao julyar a leitura do seu aluno: 237 'n’. Ele tem 's vinheru, eles tém certas, le sotaque bem nordestino mesmo. Penso que a escola — até por um dever constitucional — deve ofe- recer igual oportunidade a todos os brasileiros, qualquer que seja a sua orgem: étnica, de classe ou outra qualquer. Por isso 0 objetivo do ensino da lingua materna em todas as escolas, hoje, deve ser, data venia, tornar o aluno, gradativamente, usuario competente das miiltiplas variedades da lingua portuguesa, conforme as suas tendéncias e necessidades. Nao se Pode exigir de um fisico que conhega a variedade do Portugués do século XV Do mesmo modo nao se pode exigir de um cozinheiro que domine a lin- gua de Machado de Assis ou que seja capaz de ler Guimaraes Rosa. Masa escola tem o dever de promover oportunidades para que ele possa escolher ser um leitor desses textos ou nao, independentemente da sua profissao. Isso significara que o seu objetivo sera o de Propiciar situagdes que permitam oaluno se converter em 1°) um ouvinte eficiente do portugués urbano ¢ rural, falado em diversas situagoes, das menos as mais formais; 2°) um Icitor eficiente de textos variados, desde os escritos em estilo familiar até os literarios, especialmente contemporaneos; 3°) um falante eficiente, capaz de expressar as suas ideias de modo claro, diversiticando os estilos conforme a sua necessidade; 4°) um produtor eficiente de textos, apto a expressar 0 seu pensament eadequar a sua forma ao contexto da comunicagao. de novas imulo 4 : ea : foraca do Implicitos nesses objetivos estao a priorizagao da a ; ae pete Hie srio, do es! estrutiiras mortossintiticas, da ampliagao do vocabulari Ee 5 ee Ce Icagao Pt percepgaio ea produgio de estilos, que facilitem a comume ok pected eed siva do individuo com outros grupos sociolinguisticos atr eda escrita setivo do eo ecntre fi ue 0 obi Por isso parece-me mais correto afirmar q| na norms i uirin Ur da lingua materna nao é estimular o aluno a adq cu ) para Jas normas (orais ou escrt2s) P a@culta ou a popular, mas var A ESCOLA A GRAM ATIC FA NORMA pelo menos, passivo. E, antes, torna-lo multidialetal, como ja propugnava Angel Rosemblat ha mais de tres decadas Para tornar isso possivel, é conveni lente Munir o professor de portugues de uma gramdtica nova, atualizad. ja, uma gramatica que desereva nao so os uss Oras € eseritos dos brasileiros cultos, mas também os tracos Variaveis dos dialetos sociais e Scograficos mais representativos da fala brasileira Entretanto, mais necessario ainda é convencé-lo da importancia desses objetivos, € sensibilizs-lo para a mudanga de postura diante da diversida- de linguistica, é oferecer-lhe, Para isso, uma formacao (universitiria) que inclua o conhecimento dos Pressupostos da linguistica E possivel — mas nao provavel !— que essa proposta possa, em tltima instancia, conduzir a assimilacao, isto é, a substituicao gradual da varieda- de do aluno pelas de maior prestigio. Labov observou que é no minimo, muito dificil que um falante, tendo se tornado um usuario co: lingua-padrao, possa conservar 0 seu vernaculo Para utiliza-lo em algumas situagdes. Segundo ele, quando isso acontece, na maioria das vezes, ocorre tambem uma certa rigidez de estilo, isto é, uma certa dificuldade de mudar para sua variedade original. Mas sao poucos a conseguir essa facanha, como ele proprio observou. A maioria deles é constituid educagao universitaria que tém interesse especial na fala. Parece-me justo esperar duas coisas de um bom Programa de ensino da lingua materna: que ele priorize o que € mais funcional na lingua, i éa aprendizagem de fatos linguisticos que facilitem a comunicacio com individuos de outras comunidades e que estimulem a utilizacdo de vanedades; que promova a aquisi¢ao de tracos que permitam integracdo de falantes de origem diversa do quea onundos dos dialetos de menor alcance social. Assim, se a escola a longo prazo — modificam Nsistente da a de falantes com isto outras, antes a assimilacao de outros, Pols Comportamentos nao se Tepentinamente — conseguir desenvolver n ceitacao (e nao de tolerancia!) as y, Fa vez Antonio Houaiss (op. cit.), s ‘Servar — cy a Sociedade uma artedades “localistas”, Para ¢ isso puder acontecer, sera mo sonhava aquele eminente com Portugal € outros paises de lingua Portuguesa, eo ™0 Passado, com a ling: a de Camoes, de José de Alencar i 86 para lembrar alguns. E isso tudo sem precisar "88a gente. Possived Pre intelectual —o nosso

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