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Dizemos isto por uma questão muito simples: nós, os ocidentais, estamos cada
vez mais desacostumados de pensar. Apesar de termos orgulho de nossa civilização
científica, preferimos que a responsabilidade crítica e reflexiva fiquem nas mãos de
certos “especialistas”, entre os quais, os chamados “formadores de opinião”, que
inclui, entro outros, jornalistas e empresas de comunicação e imprensa.
Segundo Ricardo Leal, uma incansável campanha nas ruas, empolgadas com o sonho
da resistência democrática ante a ditadura, levou toda uma militância forte junto aos
grandes centros industrias periféricos e municípios do Rio de Janeiro com grande
população, principalmente os da Baixada Fluminense. O candidato do PDT crescia
extraordinariamente em popularidade junto ao eleitorado sob olhos incrédulos dos
militares, da organização de comunicação em questão e de parcelas da elite de direita
reacionária. Segundos os dizeres de Ricardo Leal, sobre o ocorrido:
O mais recente caso de "surf" oportunista das revistas da editora Abril se deu por
ocasião do lançamento do filme sobre Chico Xavier, em dois de abril do corrente mês.
Seja como for, a tal reportagem apresentou com inúmeras falhas e uma visível
parcialidade que não escapou a quem, por mais cético que seja, tenha suficiente
equilíbrio para analisar e pesar as argumentações e indícios apresentados por um escrito
que se diz sério.
- Tive vontade de dizer como Gorli diante de Tolstoi: “Veja que homem
maravilhoso existe na Terra”.
Tal tese associativa entre PES e psicopatologia, por mais esdrúxula que
saibamos ser hoje, é, por motivos tendenciosos a-científicos, amplamente defendida por
falsos ou pretensos auto-intitulados parapsicólogos, especialmente os de batina, como o
folclórico Pe. Quevedo (que não é membro da Parapsychological Association de Nova
York, embora diga que tenha seus livros validado por tal instituição. Estas e outras
afirmações muito mais graves de Quevedo foram por várias vezes desmentido por
pesquisadores autênticos da área, como podemos ver aqui) e seus diletos discípulos,
Juarez da Silva Farias e o não menos virtualmente conhecido - posto que histriônico
polmeista de sites da internet, contudo sem grandes recursos a não ser de repetir
superficiais e já muitas vezes desmentidos chavões quevedianos -, o "fenômeno" Luiz
Roberto Turatti.
Ao que tudo indica, das entrevistas feitas pela repórter da Superinteressante com
as pessoas sobre Chico Xavier (muitas das quais forneceram materiais que acabaram ou
ficando de fora, ou sendo truncadas de acordo com a linha já anteriormente formatada
pela revista antes mesmo das entrevistas, como ficou claro no testemunho do Dr.
Alexandre Moreira-Almeida, da Universidade Federal de Juiz de Fora, que teve sua
entrevista estranhamente reduzida e "adaptada" na reportagem citada,
descontextualizando e retirando muito do que foi dito pelo citado psiquiatra) foram
pinçadas ou não dependendo do acordo que exibiam com a aproximação referencial já
de antemão tomada pela repórter: a de que Chico é uma fraude. Veja-se, para tanto, que
boa parte da reportagem parece se ter fundamentado nos trabalhos de Vitor Moura, que,
ao estilo dos antigos pesquisadores de gabinete, também pínça qualquer texto que
pareça dar margem à sua percepção pessoal de fraude, fazendo pouco de quem pensa
(com base) o contrário de sua tese. Veja-se, de Moura, seu blog em
http://obraspsicografadas.haaan.com Moura, que adota zelosamente uma atitude
cientificista e cética – na um ceticismo saudável de esperar pelas provas de ambos os
lados, mas o ceticismo positivista parcial que já encara o caso Chico Xavier como um
engodo sem apelação - utiliza dos mesmos argumentos antigos utilizados contra Chico
(mesmo por David Nasser que, anos depois da famosa reportagem da revisto O
Cruzeiro, diria que ter ajudado a levantar suspeitas contra a honestidade do médium
acabaria sendo um dos maiores remorsos de sua vida) de que o ex-matuto que terminou
os estudos na quarta-série primária era um leitor assíduo e imitador talentoso, querendo
explicar os “nomes de mortos desconhecidos do público, mas reconhecido for
familiares” como mero truque adquirido pela obteção de dados de modo aparentemente
indireto pelo médium, questão esta considerada ridícula por muitos dos que conheceram
não só a atividade de Chico como se debruçaram profundamente sobre as
características de sua produção mediúnica (Confira as colocações de Souto Maior sobre
isto no seu livro biográfico sobre o “mineiro do século”). Seja como for, pessoas como
Moura – que, a depender do ponto a ser criticado, pode ir de padres, como o padre
Negromente, que segue a linha de Quevedo, a mágicos, como James Randi, o crente do
niilismo materialista, é exemplo à perfeição da assunção de um papel cientgificista-
positivista criticada na célebre reflexão de Nietszche;
Ao lado da nobre profissão, temos o uso dos meios de comunicação como investimento,
altas tiragens, vendas elevadas, etc. Ao transformar o jornalismo em produto
mercantil, há quem não se incomode com o sensacionalismo e até mesmo com o
direcionamento do que escreve para uma finalidade instrumental.
O Jornalismo Manipulador
Quem não se recorda da lamentável matéria televisiva veiculada por uma grande
emissora após o debate entre os candidatos Lula e Collor? Eu havia assistido o debate
na véspera e fiquei atônito ao ver que um órgão de comunicação havia escolhido os
piores momentos de Lula e os melhores momentos de Collor no dia seguinte. (E olha
que não votei em Lula na última eleição).
O Jornalismo de Superinteressante
1. Para fazer o contradito eles procuraram especialistas que estudaram o Chico ou sua
obra? Não.
10. Inventaram uma nova explicação para a mudança do Chico para Uberaba, sem
qualquer evidência? Sim.
11. Criaram uma imagem pública depreciativa para o Chico ao alcunhá-lo como
piadista? Sim. (Ao que me consta, ele não escreveu nenhum livro de piadas, e o próprio
Simonetti indignou-se ao ver como usaram o título de um de seus livros)
12. Alegaram fraude para as mensagens psicografadas pelo Chico com base em
boatos? Sim.
13. Fizeram um ataque ao filho de Chico Xavier, Eurípedes Higino, sem lhe dar o
direito do contradito? Sim, e ficou insinuado que ele usa os direitos autorais do pai
adotivo em benefício próprio.
15. Omitiram as conclusões do trabalho do Marcel Souto Maior, que estudou o Chico e
outros médiuns durante muito tempo para escrever seus livros? Sim.
16. Afirmaram a existência de uma indústria com o nome do Chico Xavier? Sim, e se
esqueceram de afirmar que eles também estão auferindo lucros, ao publicarem esta
matéria agora e não há um ano.
Concluindo
Depois disso tudo, devem ter vendido muitas revistas. Parabéns ao administrador
financeiro da Abril, meus pêsames ao editor. Não vou ficar argumentando contra um
trabalho tão pueril e maldoso. Se o leitor quiser, acesse o link do site de Richard
Simonetti. Ele está indignado e escreveu de forma incisiva, mas apresentou muitas
evidências em contrário do que publicou a Superinteressante (ou será
Superenviesada?)
http://www.richardsimonetti.com.br/artigos/superinteressante.html
Que tal a super fazer uma nova matéria consultando pesquisadores da obra do Chico?
Recomendo o Dr. Alexandre Caroli Rocha - UNICAMP (mestrado e doutorado na obra
de Humberto de Campos), dar um espaço maior ao Dr. Alexander Almeida, o Dr. Raul
Teixeira - UFF, Benedito Fernando Pereira (Bacharel em Letras com monografia
sobre Olavo Bilac) Franklin Santana Santos (USP), Ubiratan Machado, Carlos
Augusto Perandréa entre outros. Acho que seria muito decente dar direito de resposta
ao Eurípedes Higino.
Por que não entrevistam direito o Marcel Souto Maior, que ficou anos estudando a
mediunidade do Chico antes de publicar os livros? Por que não listam todos os autores
que escreveram através do Chico para podermos cotejar com a suposta biblioteca que
afirmam que ele teria (com base no estudo da Magali?)?
Porque não descrevem o dia a dia do Chico antes e depois da aposentadoria, para
vermos o tempo que ele tinha para o estudo? Por que não apresentam as conclusões do
estudo de Alan Gauld sobre mediunidade (SPR - Inglaterra)?
Uma sugestão: saiam da suposta neutralidade jornalística e admitam que são críticos
da mediunidade. É mais honesto.
(...) No seu editorial da SUPER deste mês, você fala que uma boa reportagem deve ter
respeito e não reverencia, que o jornalismo exige a coragem de fazer perguntas.
Concordo plenamente, mas se um bom repórter deve ter a coragem de fazer perguntas
incômodas, deve também ter a coragem ainda maior de ouvir e levar seriamente em
consideração as respostas, mesmo que não estejam de acordo com a opinião do
repórter. Caso contrário, infelizmente, se confirmará o que o meu supervisor de pós-
doutorado na Duke Univeristy nos EUA, uma vez me disse:
Não vou me deter em aspectos gerais da matéria e que deveriam ser evitados em
qualquer matéria de jornalismo científico respeitável, como evitar ironias, adjetivos e
lançar suspeitas sem uma sustentação sólida. Me deterei apenas na parte que me diz
respeito. (...) expliquei para a repórter as possíveis explicações para o fenomenos que
têm sido levantadas por cientistas, inclusive indiquei para ela uma biblioteca virtual
(www.hoje.org.br/bves) onde ela poderia ver artigos cientíticos nesta área. Algumas
considerações:
- Embora ela tenha publicado que, para cientistas, a explicação não seria nem fraude,
nem "palavras do outro mundo", eu incluí estas duas possibilidades nas minhas
explicações. Possibilidades que são exploradas, por exemplo, nos artigos em anexo e
em de vários outros pesquisadores de todo o mundo nos artigos da referida biblioteca
virtual. Quem conhece pesquisas na área, sabe que estas são duas hipóteses que
devem sempre ser consideradas.
- Sobre psicose, ela omitiu que a hipótese de psicose foi uma hipótese muito comum no
início do século passado, mas que está desacreditada
Naturalmente que um repórter deve ter a liberdade de escrever suas opiniões, mas,
principalmente em uma publicação de divulgação científica que se preze, não deve
ocultar deliberadamente as informações que não condigam com suas opiniões pessoais.
Todo o fruto da investigação jornalística deve ser exposto para que o leitor faça seu
julgamento. Espero que estas considerações sejam úteis à Superinteressante no
apimoramento de sua missão de bem informar a população brasileira realiando um
jornalismo científico criterioso e responsável.
Alexander Moreira-Almeida