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Fatores que influenciam a digestao anaerdbia(*) Marcos Eduardo de Sours (**) 1. INTRODUGAO AA digestéo anzerdbia ¢ um processo fermentative a que séo submetidos diversos tipos de residuos (urbanos, rurais ou industriais), com uma ou mais das seguintes finalidades: trate. mento dos residuos (remocdo da ma ‘téria orginica poluente e dos micror- ‘ganismos patogénicos). produgo de biogés © produgéo de biofertilizantes mais estéveis, mais ricos em nutrien- ‘es assimiléveis e com melhores qua- lidades sanitérias em relagio a0 ma ‘terial original De uma forma simplificada, © pro- ‘cesso ocorre em duas etapas. Na pri- meira etapa, a matéria orgénica com plexa @ transformada em compostos simples como écidos orginicos. volé- teis, COs, Hs etc., pela agio de en- zimas extracelulares, das. bactérias, acidogénicas e das bactérias acetogé- nicas (que transformam os demais ‘cides voléteis em Acido acético, He COs). Na segunda etapa, estes pro- dutos so transformados principalmen- te em CH: © COr, pela agéo das bac- ‘érias_motanogénicas. ‘As bactérias metanogénicas se re- produzem mais lentamente © s80 mais sonsiveis a condigSes adversas ou a alteragbes das condigdes do ambiente, relacio as bactérias acidogénicas. Desta forme, 0 passo limitante do processo a geracdo de metano, a menos de alguns casos especificos fem que a hidrélise da matéria orgé- nica complexa é o passo limitante.(*) Podese considerar trés grupos de fatores, na sua maioria passivels de controle, que influenciam o processo de digestéo anaerdbia: os relatives as caracteristicas do digestor, as carac- teristicas do residuo a ser digerido © 2 forma de operagéo do Tai areata wo v SmpésioNaci- WViges, MG, 26-8 28 de julho de 1662 (7) Gertnca de Posateas do, Tatamento. 46 Resides "ouside. 36 Agua — Cstoo- a de Teepotela da Sanaamenio Arbon ta oto Pavia formas: provocando desequilibrios en- tre as populagées bacterianas envolvi- das no processo, afetando 0 rend! mento ¢ a velocidade do processo. 2.1 Desequilibrios Um determinado fator, em condi- 60s adversas, provoca desequilibrios 10 processo devido & maior sensibil dado das bactérias metanogbnicas. Nestas condigées, os dcidos voléteis continuam a ser produzides, @ no s80 devidamente transformados em mets no. O aumento da concantragéo de cides voléteis no material em diges ‘80 provoca uma queda na. pH do melo, quendo a alcalinidade do siste- ‘ma nao 6 suficlentemente elevada. © ‘maior problema reside nesta queda de pH, a valores Inferiores a 6.8, pois {sto aceba favorecendo sinda mais os bectérias acidogénicas (cujo pH étimo 6 cerca de 55 2 60) e prejudicando ‘ainda mais as bactérias motanogénicas {cujo pH étimo 6 cerca de 68 a 72). podendo em casos mais drésticos Provocer @ perda total do digestor. ‘A alcalinidade total do sistema (AT) 6 6 soma das alcalinidedes de- Vida 20 bicarbonate (AB) e 208 pré- prios écidos voléteis (AV): () = AB + 085 x 0893 AV onde AT © AB so oxpressas em mgCaC0s/l, ¢ AV 6 expresso em mg CHsCOOH/I; 0.85 6 0 fator que leva fem conta 0 fato de que até pH 4,0, onto final da titulaco para a deter ‘minago da alcalinidade, apenas 85% dos dcidos voléteis sio detectados, « 0833 6 0 fator de transformagio da cancantracko de éldos voles, de CHsCOOH ‘para CaC0s. ‘Quando a alcalinidade devide aos cides voléteis ultrapassa a alcalini- dade devida a0 bicarbonato, o sisteme passa a ser instével, podendo sofrer sensiveis quedas de pH, a qualquer Revo aumento na concentragéo de 4cidas voléteis. Um valor de alealini- dade bicarbonato de 2500 a 5 mil mgCaC0s/ & desejével, pois confere um bom poder de tamponamento a0 melo em digestéo. © hitrogénioamoniacal, presente fem concentragdes relativamente ele- vades (600 2 900 mg/l) no material ‘88 — REVISTA DAE — Vol. 44 — N- 137 — Junho de 1984 fem digestéo, contribui para a forma: ‘go. da alcalinidade, e portanto para a estabilidade do processo, devendo ser mantido nesta faixa, sempre que possivelt®) Para o ajuste do pH, é conveniente 2 utilizagio de cal (mais barata) até se atingir pH 6,7 a 6.8. Caso se con- tinue, a partir deste ponto, a adigso de él, haverd um acentuade consumo de CO: dos gases da digestio e a formago de carbonato de céicio, in- solivel, havendo entéo pouco efelto nna alcalinidade bicarbonato, e const quentemente no pH. Ao se 10% ou menos de CO: nos gases, novas adigées de cal podem provocar aumentos repentinos e descontrolados rio pl. A soda & mais eficionte, visto que mesmo consumindo também o COs dos gases, ndo forma precipitados. O Ideal seria, néo fosse a questio do de bicarbonate, que ‘leva diretamente o valor da alcalini- dade, e do pl. sem que ocorra dis- solugdo do COs, 2.2 Rendimento e velocidede © rendimento de um proceso de digestio anaerébla normalmente & me- dido_em termos de Igés produzidos (CNTP}/g matéria organica adicionada ‘ou em igés produzidos (CNTPI/g me- téria orgSnica consumide A concentragao de matéria orgérica geraimente 6 avaliada medindo-se 2 concentracéo de sélidos volétels (pare residuos com elevadas concentragies de sélidos em suspensio} ou de DOO — domanda quimica de oxigénio © DBO — demanda bioguimica de o génio (para residues com reduaid concentragées de sblidos em suspet 80). (5 rendimentos. observados.variam de 02 2 07 IgésCNTP/g sdlidos vols teis adicionados. Para lodos de esgoto, or exemplo, observam-se_rendimen- tos de 05 @ 06 Igés CNTP/g sdlidos voliteis adicionados, correspondents rnormalmente a 0.85 lgés CNTP/a s6li- dos voléteis consumidos. ‘Os gases produzidos normalmente contém 50 9 70% de CHa, sendo 0 res- tante constituido principalmente por COs, eventualmente pouca porcente ‘gem de HiS e tracos de Ne © He. ass Nos processos Je digestéo anaeré: bia pode-se obter rendimentos de re- mogao de matéria orginica desde 40 até 98%, ‘A velocidad em que o processo ocorre € de fundamental importéncia, fo que dela depende o volume dos digestores para tratar uma determina. da quantidade de residuos. O tempo do deten¢ao hidréulica (8h) ¢ 0 pa ametro que normalmente se use para expressar a velocidade do processo. © @ definide como: volume do digestor vario de residuo tum residuo contendo ume de- termineda concentracao de matéria or- ganica, @ carga orgdnica aplicada 20 digestor 6 inversamente proporcional a0 tempo de detencao hidréulica: Concentragio carga de matéria orgénica ‘organics oh Desta forma, como ocorre entre os +asiduos uma enorme varlacdo de con centracio de matéria orgénica, a car ‘9a orginica aplicada 6 0 pardmetro mais indicado pars se medir a veloc dade em que ocorre a digestao anse- rébia. N3o tem sentido, por exemplo. dizer que a velocidade de digestio de dois residuos, sab os mesmos tema0s de detencéo hidrdulice, é a mesma, se tum dos residuos contiver 1 /l de ma teria organica e 0 outro 10 g/l; na realidade, para que seja mantido 0 mesmo tempo de detencao hidraulica, 2 digestao do residuo mais concentra- do deve ocorrer a uma velocidade 10 vvezes maior, em relacao a digestao do residuo menos concentrado, para se obter a mesma gficiéncia, Ha exomplos de processos de di ‘gestio anaerdbia operando com tem- os de detencdo hidréulica desde al- gumas dezenas de dias até algumas oucas horas. As cargas aplicadas va- iam desde 1 até 10 sélidos volé- is/\ reator dia 3, FATORES RELATIVOS AS CARACTERISTICAS DO DIGESTOR 3.1, Idade do lodo Um parémetro importante, cujo in- verso indica de forma grosseire, mas simples, a velocidad especifica de reprodugso a que esto submetidas as bactérias, € 0 tempo de detencio ce- lular ou idade do todo ( @ .), definido ‘como: ‘massa de lodo no digestor massa de lodo descartada/ Unidade de tempo © odo neste caso corresponde aos sélidos om suspensio. Se um sistema estiver submetido a um @, menor que 0 tempo de ger ‘0 médio das bactérias limitantes do proceso, ocorrerd lovagem das. bac- térias © 3 consequente impossibiida- de de realizagio do processo Num digestor convencional, em que ©, = 8,0 minimo ® possivel de se uiilzar {e portanto a maxima velo- cidade do processo) esté limitado pe- lo minima ® em que es bactérias po- dem operar, sem que ccorra lavagem, © que no caso dae bectérias metano. ‘8nices correspond, ne prétia, 8 um tempo de detencéo de cerca de dez dias Nos digestores no convencionais fm que ocorre retorno ou retencio de todo (ou seja, de bactérias), 0 6. pas- 39. ser independente do 8. (8 > 8); pode-se entio operar o digestor cam tempos de detencéo hidréulica (9%) muito menores que der dias (as vezes algumas poucas horas. s80 suf tes}, vistg que o tempo de deten- 40 celular (9) podera mesmo assim ser mantido elavado, asia pelo retorno de lodo (bactérias) a0 digestor. sela pela retencéo de lodo no digestor. Co- ‘mo consequéncia de se manter um ‘1cesr0% comvencion, 9 > ©, ocorre proporcionsimente um Sumento na concentragio de bactérias do digestor. com relacdo & cue exis. tirla, caso tivéssemos ®- A Figura 1 ilustra 08 tipos de diges- tores citados. 32. Grau de agitagio ou grou de contato Os digestores convencionais devem ossuir algum sistema de agitacdo (por retorno de gés produzido, apés. com. ressio, por recirculag3o do lode em digestdo do fundo para 0 topo do di- ‘gestor, ou por agitaglo mecénica), Pols em caso contrério a velocidede do processo ser bastante reduzida, visto que néo ocorrerd o suficiente contacto entre as bactérias e a maté- orginica, @ que haveré zones mor tas, devido & sedimentagao do lodo (2 fem parte das bactérias). ocasionando perda de parte da capacidade util do digestor. HA indicios de que uma demasiada agitagdo no digestor favorece as bac- {éries acidogénicas, podendo provocar desequilibrios no processo. Pera os filtros anaerdbios @ os dk gestores de fluxo ascendente, uma Four 4 Principals sion de digetores continioe isteten, para residuoe utbanoe ¢ indus REVISTA DAE — Vol. 44 — N- 137 — junho de 1984 — 89 adequada distribuigao do dospejo ser digerido por toda a seqao do di- gestor, normalmente 4 ¢ suficiente para gorantir © necessério contato ma. téria orgénica/bactérias. 3.3. Temperatura ‘As bactérias metanogénicas sido bastante sensivois a variagées, espe- clalmente a elevagdes de temperatura. a8 quais devem, portanto, sempre ser ovitadas. ( processo pode ocorrer nas faixas mesofilica (15 @ 48°C) ou termofilica (50 2 65°C) de temperatura. Na faica mesofilica a digestio anaerdbia 5 desenvolve bom em temperatu desde 30 até 40°C (temperatura étima entre 35 @ 37°C); muito mais impor- tante do que operar na tomperaturs Stima, 6 operar sem variagées signi ficativas na temperatura. Na falxa ter- mofilica, a temperatura otima esté entre 57 @ 62. Por outro lado, ensaios realizados ‘em escalapiloto, com lodos de esgoto contendo elevadas concentracoes de compostos t6xicos, pareceram indi ‘que a digestao anaerobia resiste mais ‘a cargas de choque de compostos té: xicos, quando é efetuada a tempera turas mais préximas da temperatura time (9. ‘A velocidade de digestio ¢ maior a temperaturas termofilices, em rela: ‘gho Ae mesofilicas; além disso, 2 ope- rao na faixa termofilica resulta em edos mais facilmente desidratévels ¢ fom maior remacdo de patogénicos. Porém, os custos relatives ao aquecl mento om goral no compensam 3 utilizagéo de temperaturas termoftl- ‘cas; além disso, a temperaturas mais distentes da ambiente, problemas com (0s controladores de temperatura po- dem provocar varia¢des muito gran dese, portanto, afetar mais seriamen- te 0 processo. Para residuos que [a s80 gerados a temperaturas relativamente eleva- das, pode ser bastante interessante a utilizaggo do proceso termofilica de digestéo anaerébia. 4, FATORES RELATIVOS AS. CARACTERISTICAS DO RESIDUO Grau do biodegradabilidade da ‘matéria organica ‘A maxima remogio de DOO, ou sela, ‘8 méxima produgao de gases possivel de ser obtida a partir de um determi- nado residuo, depende do grau de biodegradabilidade da matéria orgénica contida neste residuo. Quando se conhece 2 composigao ‘quimica do despejo, 6 possivel prever ‘a quantidade e a composigéo dos gases que deverdo ser produzidos 90 — REVISTA DAE — Vol. 44 — pela sua digestéo anaerdbia, simpies- mente através da formulagio este- quiometrica:t®) CHO. + x HiO-my CHe + 260% Por outro lado, toda a DOO remo- vida do sistema (alimentagao-efluente) 6 transferida para os gases; visto que (© CO» nio exerce demanda de oxigé- rio, pois jé se encontra totalmente oxidado, 0 que resta é a DOO corres- pondente ao meta CHs + 20: ——» COe + 24:0 Desta equagéo, conclulse que 1g de DOO removida corresponde & pro- dugao de 035 1 de CH, nas condigées normais de temperatura e pressio. ‘Assim, 6 possivel, conhecendo-se a DOO do despejo a ser digerido, e apés ‘se prever ou medir a produgdo de me- ‘ano, caloular 0 consuma de 000 cor- respondente a este gis. e, portanto, estimar a remogao de DOO possive! de ser obtida, ou vice-versa, 42. Diluigéo do material 2 ser digorido: Alguns materisis, como o lix0 urbe no, normalmente requerem ume diy G80 antes do serem submetidos & di estdo anserébia, Para um digestor operendo com um determinado rest duo, hd sempre a opcio de se operar ‘com uma menor diluigao (maior 8.( ou tuma maior dilugéo (menor 8,). No co: 59 de digestores convencioneis ( 8. = 8), € conveniente operar com a mini ‘ma diluig8o possivel de residuo ma xima concentragio de matéria orgink ois desta forma, para uma mes- ‘ma carga orginica aplicads, 6 necessé- rig um maior §., Para digestores néo convencionais ( 9. > 8), néo ha até © momento uma definigdo sobre a m lhor forma de operacéo. Em qualquer dos casos, a dluigso do material a ser digerido pode ser Imprescindivel, como forma do redu- zit concentragdes inibitérias de com- postes téxicos. Para residues normalmente pouco concentrados. $6 & possivel 0 trate: mento efetivo por digestéo ansersbi ‘quando se utilizam digestores néo con- vencionals, 43. Estado da matéria orginica estado da_matéria organica no residuo a ser digeride (em suspensao ‘ou om solugéo), muitss vezos define, '8 priorl, 0 tipo de digestor que pode ‘ser utilizado. Para residuos contendo elevadas concontragdes de sélidos em susper- ‘sio, normalments se utilizam 0 diges- ‘tor convencional ou 0 processo de con- tate, i: 137 — junho de 1984 Residuos contendo principalmente elevades concentragées de materiais dissolvidos 280 preferencialmente di goriveis em digestores de fluxo as- cendente ou em filtros anaerébios, 44, Tamanho das particules de ‘solkdoa em suspensio ‘Quanto menor o tamanho das parti. ‘culas de solidos em suspenséo de um residuo, mais eficiente serd 0 contato entre a matéria organica e as bacté- rias. Quando 0 residuo contém perti- culas com mais de 1 cm de diémetro, ‘2 utilizagio de picadores. moedares ‘ou liquidificadores, pode conduzir a ‘um aumento considerével na eficién- cia da digestéo anserdbia deste re- siduo. 45, Nutriontes (nitrogénio © fésforo) Para suprit as necessidades de nl. trogénio e fésforo das bactérias res- ponséveis pelo processo de digestio anaerdbia, 0 residuo deve conter con- centracdes destes componentes, om ralagéa 20 seu conteddo de carbono, ‘que satisfagem as seguintes relogées: CIN « 30 e C/P < 150 Os valores referem-se a0 Ne P efe- tivamente disponive's para as bacté- igs, como 0 Namoniacal @ 0 orto- fosfato; caso néo se tenha certeze dessa disponibilidade, pode-se consi- derar suficientes as relagdes: C/N < 20 6 C/P < 100 ‘Quando um residue no contém quantidades suficientes de Ne P. estes devem ser adicionedes; por outro lado, residuos contende concen tragdes demasiado elevadas da nitro- génio total podem provocer inibieso do processo de digestio, visto que luma parte considerivel do sitrogénio total 6 transformade, nos digestore fem nitrogénio amoniacal A existéncie de compostos,téxlcos nos residucs a serem digeridos seré inibigto impro- vavel K > 400 meq/kg + inibiedo total pro- vel K > 800 meq/kg — inibicdo quase certa Quanto ao eromo, suas concentra ‘ebes devem ser consideradas inibité- las quando excederem 25% dos s¢- lidos totais do lode om digestdot"*). Lingle @ Herman() —verificaram, através de experiéncias em batelada, que © merctrio, isoladamente, néo fo! téxico a concentragées de 1.560 mg/l 5.6. Nitratos A adi¢do de nitrates a digestores pode resultar em conversoes elevades —_—_———_——— dos mesmos a N:, através da desni- trificagdo. A inibigéo da metanogénese geralmente & minima a concentragées de nitrato correspondentes a 10 mgN/ Ie completa a 50 mg/l 5.7. Nitrogénio amoniacal Deve'se considerar a toxicidade por ritrogénio amoniacal sempre que how- vor elovadas concentracdes de ritro- {genio total no material a ser digerdo. Sion NHS bem menos téxico que 2 gas dissolvide NHs: portato, quando © ‘pH do material em digestio ¢ 72 fu menor, & menos provivel a iibica0 por itrogénio amoniacal, visto que festa condigso 0 equilibrio da reagao Nig tS NHs + HY encontese (quate Totamente deslocada para eee querda. A tabela 2 resume os efeitos do, ¥- amonical (NHs dissolvido + NH§) na digest4o anaerdbia, Para concen tragdes de gs NHs dissolvide supe- lores 2 150 mg/! a digestdo 6 inibida, Velsen(®) mostrou que todos bem aclimatades podem produzir_metano mesmo a concentragdes de N-amonia- cal de até 5 mil mg/i. 5.8. Oxigénio ‘As bactérias metanogénicas so es- Iritamente anaerdbias, © por isto, em cculturas puras, qualquer trago de oxi- ‘genio molecular pode thes ser extre- ‘mamente_ prejudicial. Num digestor, raras vezes 0 origé- rio pode conduzir a problemas, visto ‘que uma grande variedade de bacté- as facultativas esta presente, as quais remove rapidamente, dentro de certos limites, qualquer traco de oxigénio dissolvido. Fields e Agardy(*) mostraram que adigdes de até 0,01 volumes de ar por volume de lodo em digestao nao afe- tam significstivamonte 9 porformance do digestor, Adigdes. de uma 86 ver, de até 260 mg0:/I, digestor. ndo afe: taram 0 digestor, 20 passo que howe inibigdo quando a adicao fol de 1.300 mg0:/t digestor. 5.9. Sulfetos @ outros compostos do enxofre Khan @ Trottier() estudaram a ink bigdo da digestio anserdbia por com- postos inorganicos de enxofre, veri- ficaram que a inibig30 aumentava na Seguinte ordem: sulfatos, tiosulfates, sulfitos, sulfetos © H:8. Com excegio Gos suifatos, todos os demais com- postos de enxofre estudados inibirem a digestio anaerdbia a concentragoes de 290 mgS/! Sheehan © Greenfiold(*) verificaram que a digestdo anaerdbia ¢ inibida a concentracdes de sulfatos acima de 6.750 mgSO; /!, Tebela 2 — Efeito do Nitroginle Amoniacal na Digestéo Anerdbia, segundo Me Cortyt'9 (*) Concentragéo de Namoniacal Efeito na digestéo Anserébi (git so - 200 Benéfice 200 — 1.000 ‘Sem efeltos adversos 1,500 — 3.000 Inibitério a altos valores de pH > 3.000 Téxico em qualquer pH rence e@ McCarty) Tabela 3 — Efeito dos Sulfetos Soliveis na Digestio Anserdbis ‘segundo Law- Concentragio de Sulfetos Efeito na Digestio Anaerdbi Soliveis (ma/!) 502 100 tolerdvel com pouca ou nenhuma aclimstagao até 200 tolerdvel com aclimatacao ‘acima de 200, bastante téxico Quanto 20s sulfetos, os insoluveis no exercem efeitos téxicos no diges- tio anaerébia. A tabela 3 resume os efeitos dos sulfetos soliveis (H:S dis. solvido + HS” + S?") na digestéo anaerdbi A toxider por sulfetos pode ser evi tada por arraste gasoso, por adiclo de tmetais pesados (como 0 ferro) para precipité-os, ou por redugdo ou trans- formagdo prévia dos compostos de tenxofre contidas no material a ser di gorido. 5.10, Surfsctantes Os surfactantes s80 0s agentes ati vos dos detergentes, sondo geralmen- te constituides de alquilbenzeno sul- fonatos — ABS (detergentes nao bi degradavels) ou de _alquilbenzeno sulfonatos lineares — LAS, no caso de detergentes blodegradaveis. Embora o LAS seja biodegradavel aerobiamente, este ndo degrada em ‘grau aprecidvel sob condigdes anaeré- bias. Tanto 0 ABS como 0 LAS provocam Inibigéo da digestdo anaerébia a con- cantragdes entre 600 e 900 mg/i{*) 6, FATORES RELATIVOS A OPERAGAO DO DIGESTOR Mesmo quando todos os fatores at Influenciam 9 digestao anaerdbia estéo devidamente controlados, 0 processo pode nao oorrer satisfatoriamente, devido a falhas operacionsis. Esta situagdo se verifica, por exem- plo, 1a partida (inicio de operagao) dos digestores. Para uma partida ade- quada, € conveniente, antes de mais nada, preencher 0 digestor com a maior quantidade possivel de todos em digesto, ou na sua falta, com materiais que normalmente jé ‘conte- REVISTA DAE — Vot. 44 — ‘nha bactéries anaerdbias (principal- ‘mente metanogénicas), conveniente. mente éiluidos A alimentagao dos digestores com © residuo a ser digerido deve ser ini- ciada com pequenas cargas organicas, ‘em relagdo a carga final prevista pare © digestor: 0 aumento da carga orgé- nica aplicada deve ser efetuado lenta- mente, e somente quando o sistema ‘mostrar que conseguiu digerir a carge que estava sendo anteriormente api cada, ‘Apés o digestor ter entrado em ‘operagao normal, deve-se tentar evitar, ‘ou combater, alteracdes nas condicées normais do ambiente © sobrecargas orgénica, hidrdulice ou téxica (ver item 2.1), através de determinagoes ¢ je vazdes, concentragbes de ‘organica, compostos téxicos ‘compativels com o residuo a ser ck gerido, temperatura, pH, deidos vold- tels, nitrogénio amoniacal, alcalinide- de, carbono, nitrognio total, fésforo total @ volume e composigao dos ga- ‘ses produzidos. Se o residuo € bem caracterizado © ndo sofre variagbes significativas no decorrer do tempo. muitas destas determinagdes podem ser evitadas, ou efetuadas apenas eventualmente Vezamentos dos gases produzides devem ser sempre verificados, pois podem levar a conclusées enganosas de que 0 proceso néo esta funcio- nando adequedamente. 7. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 1. EASTMAN, J. A. & FERGUSON, 3. F. — “Solubliization of Parti culate Organic Carbon During the Acid Phase of Anaerobic Diges- tion’. Journal W. P. C.F, Wa- shington 53 (3): 352366, mar. 1981, 12 137 — junho de 1984 — 99 2, MeCARTY, P, L. — “Anaerobic 10. MCCARTY, P. L. & BROSSEAU, M. 18. MOSEY, F. E — “Assessment of Waste Treatment Fundamentals — H. — “Effect of High Concentra: the Maximum Concentration of Part Two: Environmental Require- tions of Individual Volatile Acids Heavy Metal in Crude Sewage ments and Control”. Publie Works, ‘on Anaerobic Treatment”, pégs. which will not Inhibit, the Ange: 123126, oct. 1964. 283-296. 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