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Conceito de motivação

A motivação designa um conjunto de forças internas/impulsos que orientam o


comportamento de um indivíduo para determinado objectivo. (A motivação é um conjunto de forças
internas que mobilizam e orientam a acção de um organismo em direcção a determinados objectivos
como resposta a um estado de necessidade, carência ou desequilíbrio.)

Ciclo motivacional:
O motivo é a razão que leva o organismo a agir; é o estado do organismo pelo qual a energia
é mobilizada e dirigida a determinados elementos do meio.
No ciclo motivacional existem geralmente três etapas: necessidade, impulso e resposta
(meta).
É a necessidade (estado de falta fisiológica ou psicológica) que origina o impulso ou pulsão.
O impulso é a força que impele a pessoa à acção, ao conjunto de comportamentos que permitem
atingir o objectivo. O impulso termina quando a meta, o objectivo, é alcançada. Se a meta é atingida,
a necessidade é satisfeita e o impulso é reduzido.

O comportamento motivado está intimamente ligado ao funcionamento do sistema


endócrino e a diferentes estruturas do sistema nervoso.

TIPOS DE MOTIVAÇÃO

Motivações fisiológicas (primárias, inatas, básicas ou biogénicas):


As motivações fisiológicas são inerentes à estrutura biológica do organismo, tendo por função
garantir o equilíbrio orgânico – homeostasia (é um processo dinâmico de auto-regulação que
assegura a sobrevivência do organismo.
Exemplos de motivações fisiológicas são: o sono, a dor, a fome, a sede.
O sono é um impulso que tem um papel fundamental no equilíbrio orgânico. O desejo de
dormir é um dos impulsos mais fortes. É o hipotálamo que regula o sono.
O impulso da dor tem por função a defesa do organismo, conduzindo-o a evitar o estímulo
doloroso para manter o equilíbrio orgânico.
A sensação de fome é provocada pelas contracções do estômago, que desencadeiam
estímulos internos que nos levam a procurar alimento. O hipotálamo detecta situações de carência
orgânica: sentimos fome. É este estado que nos leva a orientar acções com o objectivo de satisfazer
a necessidade.
A aprendizagem tem um papel importante na satisfação do impulso da fome nos seres
humanos: o que comemos, quando e como comemos são determinados pela cultura a que
pertencemos.

Motivações sociais (adquiridas, aprendidas, secundárias ou sociogénicas):


As motivações sociais variam de pessoa para pessoa (de cultura para cultura) e são
adquiridos através do processo de socialização, e resultam do processo de aprendizagem social.

Entre as motivações sociais destacam-se:


Necessidade de afiliação – é o desejo de a pessoa ser aceite e estimada pelos outros, e está
relacionada com a vida dos seres humanos em grupos. Existe uma relação entre a afiliação e a
necessidade de aprovação social (sobretudo quando existe uma conformidade dos comportamentos
individuais às normas do grupo para as pessoas serem aceites pelos outros membros)
Necessidade de realização/sucesso – a motivação de realização é o desejo de ser bem
sucedido em situações desafiantes. Há uma grande preocupação em alcançar padrões de
desempenho elevados, desenvolvendo actividades difíceis, vencendo resistências e obstáculos.
Podemos falar, também, em motivação intrínseca e motivação extrínseca. A primeira é quando
uma pessoa tem prazer de realizar algo, e a segunda é quando uma pessoa realiza algo para obter
uma recompensa (elogios, prémios, dinheiro...).
Necessidade de poder/prestígio – necessidade de ter uma posição de determinado nível na
sociedade e de ser admirado (por exemplo: pessoas que procuram ocupar lugares de chefia).

Motivações combinadas:
Designam-se por combinadas porque combinam factores biológicos e factores
sociais/aprendidos. São muito marcadas pela aprendizagem, mas não são essenciais à sobrevivência
do indivíduo nem à manutenção do equilíbrio do organismo (homeostasia).

Exemplos de motivações combinadas:


Comportamento sexual – o comportamento sexual está relacionado com o funcionamento do
sistema endócrino (glândulas sexuais), da hipófise e do hipotálamo. A hipófise actua em ligação
com o hipotálamo na regulação das concentrações das hormonas e são responsáveis também pela
actividade sexual. As glândulas sexuais desempenham um papel importante no desenvolvimento e
no comportamento humanos. O córtex cerebral desempenha também um papel importante no
despertar do interesse sexual pelos estímulos externos; a imaginação também influencia a motivação
sexual.
A expressão da sexualidade depende da aprendizagem do indivíduo num determinado
contexto social, variando no tempo e de cultura para cultura. É o contexto sociocultural que, através
das leis/normas, controla a manifestação do impulso sexual.
Comportamento maternal – é determinado por mecanismos hormonais. A prolactina,
segregada pela hipófise, estimula a produção de leite pelas glândulas mamárias. O estrogénio e a
progesterona são responsáveis pelo aumento das glândulas mamárias e pela inibição, durante a
gravidez, da libertação da prolactina. Além disso, o comportamento maternal está marcado por
factores sociais e culturais. O comportamento maternal varia ao longo do tempo e nas diferentes
culturas.

Motivações cognitivas:
São as necessidades de informação e de conhecimento que têm como base a curiosidade e a
actividade exploratória (por exemplo: a necessidade de conhecer a vida em sociedade, a natureza,
etc), para melhor compreendermos e, explicarmos também, a realidade.

FRUSTRAÇÃO E CONFLITO

A frustração é o bloqueio do comportamento motivado, isto é, um obstáculo impede que o


desejo, o objectivo, seja alcançado. (Frustração primária é a que resulta da ausência do objecto de
satisfação da motivação; frustração secundária é a que resulta da interposição de um obstáculo.)

A tolerância à frustração, isto é, a capacidade de suportar a frustração, depende de vários


factores como a idade (por exemplo, uma criança pequena com fome suporta a situação de não
comer com menos tolerância do que um adulto) e a aprendizagem, nomeadamente a socialização
(que ensina o modo como o sujeito reage à frustração).

As reacções à frustração podem ir da agressão (directa ou deslocada) à apatia


(indiferença).
A agressão directa acontece quando o indivíduo agride a causa que provocou a frustração; na
agressão deslocada, o sujeito desloca a sua agressão para elementos não responsáveis pela
frustração. A auto-agressão é uma forma de agressão deslocada em que o sujeito se agride a si
próprio.

Um sujeito vive um conflito quando está numa situação em que diferentes motivações se
opõem. O conflito designa a oposição de forças com nível semelhante. O conflito surge quando as
motivações são incompatíveis.
Existêm três tipos de conflito:

Conflito aproximação/aproximação – o indivíduo está perante duas ou mais forças positivas. O


conflito surge porque só é possível escolher uma resposta.
Conflito afastamento/afastamento – o indivíduo está perante duas alternativas desagradáveis,
hesitando qual delas evitar.
Conflito aproximação/afastamento – o indivíduo está perante uma situação que é positiva e
negativa ao mesmo tempo.

TEORIAS DA MOTIVAÇÃO
Maslow e a hierarquia das necessidades:
Segundo Maslow, as necessidades humanas estão organizadas numa hierarquia, isto é, não
têm todas a mesma importância. Maslow apresenta a sua teoria através de uma pirâmide em que, na
base, estão as necessidades fisiológicas, e, no cume, as necessidades de auto-realização.
As necessidades humanas começam pelas mais baixas/básicas: as fisiológicas e as de
segurança. Só depois de estas estarem satisfeitas se ascende na hierarquia para satisfação de outras
necessidades mais complexas. Se não houver ostáculos, o ser humano progride na hierarquia até ao
topo.

Necessidades fisiológicas – estas podem ser a fome, o sono, o evitar da dor, o desejo sexual,
etc. A satisfação destas necessidades domina o comportamento humano. As necessidades de
segurança só surgem se estas forem satisfeitas.
Necessidades de segurança – estas manifestam-se na procura de protecção ao meio (abrigo e
vestuário) e na busca de um ambiente estável.
Necessidades de afecto e de pertença – estas manifestam o desejo de associação,
participação e aceitação por parte dos outros.
Necessidades de estima – o indivíduo manifesta o desejo de ser reconhecido pela sua
competência, isto é, ele procura a aceitação dos outros através da sua prática, da sua actuação. A
satisfação da necessidade de estima desenvolve nas pessoas sentimentos de autoconfiança; a sua
frustração gera sentimentos de inferioridade.

Necessidades de auto-realização – se todas as necessidades estão satisfeitas, manifesta-se a


necessidade de auto-realização, isto é, a concretização das capacidades pessoais. O indivíduo
procura a aceitação dos outros através da sua prática, da sua actuação.
As pessoas que procuram a auto-realização são independentes, criadoras, resistem ao
conformismo, aceitam-se a si próprias e aos outros. As pessoas que não concretizam a necessidade
de auto-realização são as que manifestam reacções de apatia e indiferença.

Teoria psicanalítica:
Segundo Freud, o comportamento humano é fundamentalmente motivado por razões de
carácter inconsciente e orientado por pulsões.
A pulsão é uma força ou impulso energético que leva o organismo em direcção a um fim. A
pulsão visa reduzir a tensão proveniente de uma excitação corporal. O comportamento é orientado
pela tendência do organismo em reduzir a tensão e ao reduzir a excitação/tensão obtém-se prazer (e
desprazer pelo aumento da excitação).
As pulsões têm uma origem (fonte), uma finalidade (alvo), uma força e um objecto.

Fonte da pulsão – zona do corpo que gera a tensão/excitação.


Alvo da pulsão – a finalidade da pulsão é reduzir o estado de excitação orgânica.
Força da pulsão – a pulsão tem uma energia e um carácter orgânico.
Objecto da pulsão – é o meio que permite a satisfação da pulsão, a descarga da tensão que
produz prazer.

A líbido:
Líbido designa, segundo Freud, as pulsões sexuais (a energia inata que nos motiva e permite
sobreviver).
Freud distingue a líbido nascísica da líbido objectal. O objecto da líbido nascísica é o próprio
ego, isto é, é o ego que reduz ou suprime a excitação. Na líbido objectal, a satisfação da pulsão
obtém-se a partir de um objecto (pessoa, instrumento) exterior ao organismo.

Mecanismos de defesa do ego: são mecanismos que visam evitar a angústia resultante
dos conflitos intrapsíquicos. (As pessoas usam esses mecanismos para tentar reduzir a tensão e
ansiedade resultantes dos conflitos entre o id, o ego e o superego). Entre estes mecanismos,
destacam-se:

Recalcamento – o sujeito envia para o id as pulsões, desejos e sentimentos que não pode
admitir no seu ego.
Regressão – é o retorno a uma forma de comportamento característica de uma fase de
desenvolvimento anterior.
Racionalização – o sujeito utiliza justificações ilusórias para um comportamento inaceitável.
Por exemplo: um aluno é apanhado a copiar e acusa o professor por ter deixado a sala por um
momento.
Projecção – o sujeito atribui a outros (à sociedade, a pessoas, a objectos) desejos, ideias,
características que não consegue admitir em si próprio.
Deslocamento – o sujeito transfere pulsões e emoções de objectos ameaçadores para objectos
menos ameaçadores. Por exemplo: o funcionário que sofre conflitos no emprego e é agressivo ao
chegar a casa.
Formação reactiva (inversão dos aspectos) – o sujeito manifesta comportamentos opostos às
verdadeiras pulsões. Por exemplo: um sujeito afasta-se de quem gosta.
Sublimação – o sujeito substitui o fim ou o objecto das pulsões de modo a que estas se
possam manifestar em modalidades socialmente aceites.

Teoria cognitiva e relacional (Teoria de Nuttin):


Nuttin afirma que o comportamento não nasce de uma carência ou desequilíbrio
homeostático, mas de um “dinamismo temporal” que leva o indivíduo ao desenvolvimento e ao
“progresso”.
O sujeito pensa o futuro com aspirações, projectos, construindo planos de acção. Assim, a
acção dirige-se a uma categoria de objectos na qual o sujeito pode satisfazer as suas necessidades,
podendo até fazer opções (se se tem fome e vontade de um gelado, pode mudar-se, optando por
uma bebida fresca).
Nuttin afirma que as necessidades, os motivos e as finalidades da acção são personalizadas,
compreendidas em função da pessoa, das suas mentalizações e dos seus projectos de vida.

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