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CAPA DE ALBERTO GOMES Reservades todos os dzeitas pela legilagdo em vigor © 1954, Preasea Universitaires do France COLECGAO VIDA & CULTURA BERTIL MALMBERG A FONETICA ‘TRADUGKO DE OLIVEIRA FIGUEIREDO. EDICAO sLIVROS DO BRASIL> LISBOA Rua dos Caetanos, 22 Titalo de eaicdo origina: LA PHONETIQUE INTRODUGAO A fonética ¢ 0 estudo dos sons da linguagem, E, pois, um vamio” da" Winguistica, tas mn Tad qile, ao contrério dos outros" apenas se interesta pela Hinguagem articulatla ¢ gem excriva, linguagem dos surdos¢mudos, sinais dos marinhel es, etc.). A fonética, par conseguinte, a expressio Iingitica € no do contelide, coja anilise depende da prainética € do ‘vocabulério (aspectas gramatical ¢ ceman- tico da lingeagem). Qualquer contacto linguistico entre os homens supe @ cexistincia de um sistema, compgsto de um ndmero limitado [As unidades empregadas como signos so, na lin xuagem fala, sons e conjumtos de sons, que deve poreanto 9 ser de tal modo diferenciadas que 0 cuvide humano possa, sem Se enganar, identificar ¢ interpretarthes as diferencas, ¢ que © nosso aparelho fonatério passa reproduzios de maneira que soja ffeil reconhecé-4os, Para saber falar, o homem deve aprender a opur vertos sons @Geuos ours. SS Qiialquer acto "de fala supse @ preseaga de, pelo menos, duas pessoas: @ que fala e a que ouve, Ume prodaz sous, a aura escuta-os e interpretaios. A fonética apresenta, conse quentemente, dois aspectos: 1) Um gspe rodizimes os sons da linguagem. Tanto a prodacio dos sons como a sta interpretagdo implicam a éntervencio de uma acti- vidade psfquica. Sem sntetigéncia, enhuma linguagem digna de tal nome poder ser produzida, A fonética tem, pois, de ‘ocuparse também dos processes psiquices mecessinios para 0 dcminio de um sistema fonético © de uma linguagem ongani- zala. O que faz di fonésica uma ciéncia autémoma, apesar da diversidade de pontos de vista @ parti dos quais pode ser abor- dada, & 0 seu cardoter jnteiramenne Tinguistico. Os outros fend menos aciisticos —sons musicais, ruidos da matureza, etc. —, assim como os procesios fisiolégicas desproviddes de fungio lingaistica (bocejos, ronces, mastigaro, respiragdo vulgar), nfo pertencem ao seu. dominio. A fonétice compreende quatro ramos: 1) A fonética geral.= 0 estudo das possibitidades acisticas do homem © €o funcionamento do seu aparelho fonador; 2) A fonética descri- {10} tive = 0 estudo das partioularidades fonéticas de uma lingua (ou de um dialecto); 3) A fonétice evolutiva (ou histérica)= 0 estudo des mudancas fonéticas sofridas por uma lingua no decomer da sua histéria (@ fonetica evolutiva também pode scr cncarada mum aspecto geal, dade que se podem esudar (05 factores gerais que determina a evolucSo fonética); 4) A ortoépia (ou forética normativa) = © conjunto de wegras 4 que obedece a eboa» promincia de uma lingua. (A ortoépia supde a existéncia de uma norma de promincia, uormapadrio, valida no interior de um grupo linguistico, Estado, provincia, wunidade culoural, grapo social.) VALOR FONETICO. DOS SIMBOLOS EMPREGADOS Como esta obra ndo se destina a. especialistas em mavéria de linguistica ¢ de fonética, quisemos evitar o emprego de uma transcrigio fonética especial ‘Allis, © emprego do alfabeto fonético internacional no se encontra generatizado em Franga, tiem sequer entre os Tin- suistas. Dai que no se cenha desejado dar a esta introtugio cle- mentar um aspecto demasiado tenico, introduzindo simbolos Aesconhecidos de uum grande mimero dos nossos Jeitores. Ser- vimoos tanto quanto possivel da ortografia vulgar das pala- vras, indicando em cada caso 0 som de que se trata, [a] Para as vogais empregaremos, todavia, os simbolos se- a= timbre da vogel de amor; aan yon f=» oy » ear» tay camara mi; 1 se; cate; ae; mimo; gostoso; mével; ovo; muro: CAPITULO i Fonética acustica , o som som consiste em ondas que se propagam a0 ar a uma ‘velocidade de cerca de 340 m/s (noutras mattrias— Hiquidos, gases ou corpos sSlidos—com ume velookdadle © uma fasilidade que depende do grau de dlasticidade das mesmas). Uma onda, por sua vez, & criada por uma yibragao, (movi- ‘mento repetido) que pode ser: 1) periédica ou no. periédica: 2) simples ou, composta, Escolheremos como exemplo de uma vibragio periddica simples os movimentos do péndulo (Gig. 1). Este movimento, por sua vez, pode ser simbolizado pelo Aeseniko esquemético seguinte (fig. 2). ©. moviment perfodo ou vibracio dup ia ag): Adis fincia d distncia entre © ponto de repouso € 0 ponto exiremo atingido pelo compo vibratdrio) chama-se amplitude de vibragio. A linha ¢ é 0 exo dos tempos. Uma vibeacio (15) abervura em relagdo 20 yolume). Um compo pesado vibra mais Jentamente do que um corpo lore, um volume grosso € redondo mais tentamente do que um volume pequeno ou delgado, Qianto mas pequena for a abemure de wna cevidede, AP APD fies ge ee tanto mais baixa seré @ frequéncia, Podese, portanto, aumen taro tom proprio uma cavidate ow diminuin ie volume ‘ou alargando-lhe a abertura, Em breve veremos a importincia destas leis fisicas na formagiio das vogais. Fig. 2 siropes persica pode, portant cer representa pla seguinie curva simsoidal (Bg. 3) | einen Cada corpo vibratério tem uma frequéncia de vibrago (Aurora INTENSIDADE| ‘A mesma frequéncia de vibragio produ sempre 0 mesmo tom, independentemente das oueras qualidedes do compo vibra | a db; <¢. t ‘tério, Quanto maior for a frequéncia, tanto mais alto seré o ‘tom € inversamente, O ouvido apercebese das vibragSes sono 4 12s segundo uma escala logaritmica, tal que uma velocidade Fe> | de vbragio duas vers meds pita € sempre PESbIGs como” interyalo igual: @ oftava da misica, Para 0 nosso owvido, 0 _Brépria, que € determinada pelas qualiiades especiticas do imervalo é, por coisegiints, © fésmo entre x00 € 200 p/s corpo considerado (0 peso ou, se se trata de condas, a tensio; (= periodos por segundo), entre 200 € 400, ente 1600 € se se tratar de cavidades, o volume, a forma € 0 tamanho de —_ | 3200, etc. Enquanto a diferenca entre x00 € 200 p/s é perce [x67 | 2-rostnca 7} bida pelo ouride como uma oitava (meze meiosdons), a dife- renga entre 1700 € 1800 (que comporta o mesmo wimero de vibracée) 98 & percebida como um miciotom. Se a frequéncia'é a. Sinica responsével pela altura do tom, & cm principio, & amplitude que se Weve a intensidade, Recor- deze, no entanto, que a intensidade também a squbncia_ Quanto anais esta enmenta, samo ‘Limiar da die 256 1.026 re384 Frequéneia emt Fig. 4—Campo auditivo do homem: em abcissa, as diversas Sroquéndas desde o limite inferior (e6 p/s) até a0 limite superior (cerca de 16000 p/s}; em ordenada, a Intensidade pasta, numa unidade de empo, através de com colocado papendicularmente & dieccio do movimento da vibracio (medida_em_waets). Também se pode tornar quatro vezes maior a intensidate de uma vibragdo duplicando a amplimde ‘ou a: froquéncha. A intensidade fisica € proporcional ao_quax rato das duas. [18] | | | ' | | | | | A sensibilidade do ouvido As variagbes de intensidade sonora & muito diferente conforme a altura do tom. Atinge um aivel maximo entre cerca de 609 € 4000 p/s, mas diminui de moro bastante brusco acima ou abaixo daqueles limites (ver a fig. 4). Uma frequéncia de 3op/s devers ter uma inten- sidade fisica mil vezes maior que uma vibraglo de 1000 p/s para dar 20 owvido uma dmpressio de intensidade igual. Além disso, a percepsio das. variagdes de intensidade segue ttma lei ‘conhecida em psicologia com 0 nome de lei de Weber Fechner Quanto mais intensa & uma impressio acistica, éanto maior tem de sor o aumento de intensidade para que 0 owvide se aperceba de uma mesma diferenga, As diferengas de intensi- dade subjectiva acistica sto calculadas em decibeis, SONS COMPOSTOS A maior parte dos sone que aperceberos no sto vibra- dade duas yezes maior do que aquela com que vibra o corpo inwiro. Um tergo vibra tés vezes onais depresea, um quarto aon verse ¢ atin_ssesvamemte Use con que vibra corda toda — mas tambéay a teda uma série de harménicos] canjas frequéncias sio milltiplos inteircs da de toda < cords. > SES Fig, 5—Bm cima, a vibracio da corda inteira; em baixo, ‘a vibragio das metades ou dos tergos ig. 6—Corva composta (em baixo) de duas curvas sinusoidais (eza-cima) {20] i Os sons (vibragées) podem variat, pois, quanto a 1) Frequénela, ou seja 0 aximero de perlodes por ‘middle de tempo (segundo). (A Hrequéacia do" ‘fordimental determina a glturs musical do tom). 2) Amplitude, que determina em principio a intensi- dade, do_som, (desde que a trequéncia Seja cons a. 3) Timbre, que & devido 2 avi ménicos. c 7 A amplitude da vibragio A & 0 resultado da sobreposigio das amplitudes das vibragdes Ce B. (0) Tal € 0 caso do nosso exemplo da figura 7, em que as duas vibragées comesam no mesmo instante € tem o, mesmo sentido, Se, pelo cantriro, a vibracio C se detfasx malo perlode, a amplitede da vibes {ar} RESSONANCIA Qualquer vibragio tende a por em movimento os corpas listicos que se encontrem ta passagem dai onda sonora. Se a frequéncia nedpeia do corpo em questio é = mesma da vibes sql coer a vtrar tomb. B 0 fendmeno designado Fig, 8—cuva de reson, fn thei, 6 Aleem fre ; aqutncet retogadas gragat a tin esoador: nv erdenad, 8 Slits A smplcde ati 9-seu maximo no melo (ampli tule Be), una ez que af 32 eacontra a frequtacia. procs (| i do ressoador. A amplitude di- mil im minal beuscantente & dieita © ? 2 eaquerda, A medida que ate smenta a dierenca ene a fo dala pépia do reoador © wom reload por ressondncia, uma das noges fundamontais da fonética. Qualguer que seja a unidade vibratéria (diapasio, corda, cavi- dade, etc), que reforce assim um som jd existente, chamase ressoador. Quanto maior for a diferenga entre a frequéncia pré- ‘sho resultante da composicfo serd a diferenca entre as duas amplitudes primitivas (oposido de fase). Se, enfim, a relagio entre as duas vibra. Bes & mais imegular, a amplitude seré wm compromisso entre as duss © 0 resultado mais complexo (desfasagem). Ver, para mais pormenores. Matus, Le Son, piss. 2225) [22] | | | pria de um ressoador e a vibrago, mentor ser a ressonfincia ‘Sea diferenca ultrapassar um certo limite, 0 reforgo deixa de se produzir. FILTROS Com 0 aunilio da ressondncia € possivel reforcar seja que frequéncia for comtida mum som. complexo ¢, por conseguinte, modificarne © timbre. Se se reforgam 9 frequéncias harmé- nicas altas, obtémse' wm som de timbre claro. Se se reforgain a frequencia fundamental ou as frequéncias harméinicas baixas, © tom tomase grave. Um mecarismo construide de molde a reforcar ceras frequéncias de um som_complexo enfraquecer 3, um-filtro, Com a| o principio do mecanismo da formato das vogts ‘A anélise acistica de um som complexo consiste em deter- minar 0 mimero, a frequéncia e a amplitude (a intensidade) das vibragdes que o constituem. Tel andlise pode ser feita: 1) com 2 ajuda de uma andlise matematica da curva (segundo © teorema de Fourier que nos ensina que qualquer curva com- plexa pode ser decomposta: numa série de curvas sinusoidais); 2) com a ajuda de um filtro actistico; 3) pelo ouvido (quand este seja capar de distinguir as cons parciais uns dos outros, ‘© que exige um ouvido extremamente sensivel do ponto de (23) vista musical), © resultado da andlise pode representar-se sob a forma de um eapectro que tert © aspecto seguinte, com as frequéncias em abcissa ¢ a intensidade em ordenada (vogais fea) (igs. 910) (0S FORMANTES As frequéncias reforgadas que caracterizam o timbre de tum som chamamse [gumapies Cada topo do espectto (Ei 5) representa um formante. A frequéncia do formante 6 0 modo de vibragao do ressoador. Mas mio coincide necesshriamente com a frequéncia harménica do fundamental. Desile h4 muito que se esté de acordo em atribuir As vogeis da linguagem humana pelo menos dois formantes, sendo estes globalmente responsiveis pelo timbre particular de cada tipo vocilico (i. uy, 6, ‘stc.). Estes dois formantes so geralmente atributdos eos boca, Hoje concordase tm ver na estratura actstica da vogal © resnttado do modo de vibracSo do conjunto do tubo resso dor, A andlis: acistice das vogais revela também a existincia e outros formantes, que ou contribuem para dar relevo 20 tim- bre dos tipos vocdlicos (assim um teroeiro formante préximo de 3000,5/s acusa ainda 0 timbre claro de i e de u) ou deter- rinam a5 qualidades secundétias das vogais (mates indivi- dais, estéoos, ee.) Uma vez que os formantes—ver a detinicfo dada do cardcter actistico de tais tons —devem conter harménicas do tom fundamental, seguese que a frequéncia do formante munca pote cojncidir com a de um harménico. A frequéncta do fun- damental varia na fala de-um momento para o outro ¢ mmuitas C24]. | 800 000 Fig. 9 ¢ 10— (Segundo Fletcher) vyezes de perfodo = perfodo. # essenciakmente por isso que a fla se distingue do canto, em que © mesmo tom se mantém consoanse + vogal. A lingua francesa arcaica, pelo contrério, era rica em ditongos, de que a ortografia ainda guarda vestigios (exemplos: aft, fleur, haut, mou). Em certas fases do francés arcaico também se podem detectar tritongos, que contém trés timbres diferen- 425 de vogais (exemplo: beau, pronunciao be +a + ou). H& também quem discuta da sua existéncia em portu- gués (vd. vockbulos como paio, Léios, etc.). ~~" Quanto ao inglés, podemos afinmar que é uma Kngua rica em ditongos (house, fine, boat, bear, etc.), assim como o ale- mio (Haus, mein, heute, etc). Os ditongos supdem, frequentemente, uma articulaggo"rela- ‘xada, A articulacio do francés modeno & excessivamente ‘tensa (comparada com a do portugués ou com a das linguas germanicas, por exemplo), e a Hingwta francesa é, por conse- guinte, pouco propicia aos ditongos. Em contrapartida, em inglés existem até tritangos (em fire, hour, etc) [69] CAPITULO NOUANTO as vogais se caracterizam achsticamente pela ausénicia de ruido audivel , do ponto de vista articula- ‘6rio, por uma passage de ar fivre, as consoantes sio—~ ou contém —rufdos ¢ promunciam-se com um fechamento ou uma i passim do at, Disinguese entre con- soantes momentinegs, que supéem uma oclusio completa. se- guida de uma abertara brusca (cexplosion), e consoantes com iémetre do. canal da passagem @o ar © que podem, conse ngadss, em principio, tanto quanto © AS OCLUSIVAS [As momentineas chamamse, em fonética, oslusivas, por que a mais importante fase da sua formago & a ochusio momenténea da passagem do ar"). Esta oclusio efectunse, ()Também se usa com frequéncia o termo voxplesivan ao falar das oclusivas, termo' que recorda a fase de explosio que se prodyz no ‘momento ds abertura dx oclusio, qusndo 0 at, comprimido na boca, C73} pelo que 20 portugués diz respeito, com os dois lébios um contig_o outro, (oclusio bilabial), com @ porta da lingua 2 os dentes oti a8 gengivas (och codental 03 ape cgalveoiar), o1 como dorso ta lingua contra it (Cclusia. dorsopalat!), ou contra o_palato mote (gclusio dor sovélay). Sao ilabiais as consoantes inicais de pata’ e” bata (p € b), apicodencais as consoantes de deste e desde (t'e d), cn y > Fig. 34 — Palatogramas de um ¢ francs. (apicodental), 4 direta,e de um.t inglés (apicoalveolar), @ esquerda, A parte ‘racejada indica o contacto da lingua com os dentes € 0 palato. Vise como esta zona, no t inglés, se situa nltiamente por cima dos dentes enquanto,no ¢ francis, a superficie tocada pela nts da lingua se estende até sos dentes. (Segundo Jones) dorsopalatais as consoantes de greta e Creta (g ¢ c) © dorso- ‘yelares as consoantes de gume-e eume (g e ¢ velarizados). Notosé que oc fonemas (}) grado ¢ on qu © g ou gu (cade, quinte, goto, guerra) se realizam como dorsopalatais sal bruscamente, Mas porque em fonésica moderna se reserva 0 termo sexplosivas para uutra aivisio das consoantes (ver pig. 119), & prefe- Hivel'nfo 0 emprégar 20 falar das oclusivas. (©) fara a nogio de fonema ver a pig, 164 {741 anes de uma vogal anterior € como dorsovelares antes de uma ‘vogal posterior, € com wma: articulacio dntermédia (pés-palatal) antes de a. Estes dois fonemas consominticas snudam, pois, © su ponto de articulagio cuniforme as vogais que lhes consti- ‘twem a vizinhanga imediata, mais do que quaisquer outras ‘consoantes, np caso do frances especficadamente (cf. pég. £04). ‘Vimos que toda a articulagio consonaritica pode ser acom- panhada de vibracGes laringeas ou fazerse sem a participacio 35-~Posi¢fo da ponta da lingua (corte transversal) frances, a direta, e num & inglés, @ exquerda, (Se- ‘gundo Dumvilley das cordas vocais. Uma_ochisio pode, .portanto,,ser. sqnord ou bend G.Gi Sumdass, Pf © 4.16). Qualguer consoante define-se segundo © seu modo de arti- (a orticulagdo, Um ¢ é assim, uma oclu- Sia Sieda_quanto_a0_seu modo de articulagio e uma apicoal- vyeolar pela zona de articulacio. : Convém notar que as consoantes aqui enumeratlas nao da promincia da consoante —umnat espécie de degeneracdo, se aceitarmos o vocdbulo. [84] Mas esta tendéncia para 0 enfraquecimento do r adguiriu ‘rn, certas Iinguas (¢ dialectos) um carfcter diferente, Pode acontecer que desaparesa a vibracio propriamente dita, ¢ que 2 ponta da lingua, em vez de produzir uma série de oclusdes € de aberturas, nunca feche completamente a passagem do ar ‘q¥e continua a passar por uma pequena: aberaira produzindo uum ruldo de fricsi0. J mio se rata, pontanto, de uma com. soante vibrate mas a2 Witha fab'lar > fallar > falar: bilanciar > balancia “> balanca. Casos de assimilagio incompleta (quando o fone que se adapta apenas se toma semelhante a0 outro) so vipera (m) > vibera > vibora; comite (m) > eo ive > conde (exemples de soncrizacio de sundas intervoc’- Ticas). ‘A assimilasio pode ser regressiva (ou antecipante) quando um som assimila outro que 0 precede, por exemplo ipse (no Tatim) > esse (em portugués); progressive, quando o primeiro som assimita 0 seguinte, como por exemple nostra (m) > > nosso; ou ainda dupla, quando um som saire @ acglo asci- Inllardria dos dois sons que the serve. de contexto imediato, Comvém por iseo distinguir ma cadeia falda entre assimi: lagées por contacto on assimélacSes propriamente ditas © ass milagtes 2 distincia. ‘Tomemos um exemplo do francés. Quando alguns franceses pronunciam, por exemplo, juchque cem ver de jusque, watase de uma influéncin da chiante inicinl sobre a sibilante s, que igualmente s¢ transforma em chiance (ci surda, pela proximidade imedinta de Kk). So sobretudo as vogais que se influenciam 2 distancia, Se, em francés, se nota por vezes wna vogel palatal niio acer ‘mada mais fechada em yous aimez do que em nous aimons, tomace necessirio explicar este carter fechado da primeira ‘yogal em aimez pela influéncia dilatadora da segunda, influén- cia que se nfo faz sentic em aimons. Por vezes, & dilatacio vocdlica chamase metafonia, Esta alteragio do timbre de ‘vogais reyistase com frequéncia no portugués, como por exem- [109 1 plot mentir € minto; jogo (fechado) jogas {aberto); novo (echado), e-nova (aberto), etc. Em cartes cates também se ‘empregn 0 termo alemo umlaut. Se em determinados plurais alemies [como Séhne de Sohn (fino), Bucher de Buch (livo)], ‘existe uma yogal palatal, enquanto o matlical cam wma vogal volar, @ alterncia explicase pelo facto de ter existido outrora ra terminagio um i (eemento palatal) que, por dilacio, trans- formou @ vogel velar em vogal palatal, Existem igualmente vestigios do antigo umlaut germAnico oo inglés, om phurais ‘como men de man (homem), geese dle goose (ganso), feer de foot (pe). ‘ 1Bm certas linguas esta dilago vocdtioa desempenha um grande papel nos paredigmas dos substantivos e das verbes. © plural turco € em -lar ou em -ler, conforme 0 radical bondoso; caridade + +Fo80 (catidadoso) > caridoso; semi-+-minima > seminima, etc. Poder-sedia referir, em. francés, casos como tragi-comigue por tragico-comique, morpiionologie pot morphophonologie. & por um cesto tipo de haplologia que se explicam 0s advrbios ingle- ses do género probably de probable (em vex. de probablely). SANDHI Quando os fenéimenos We fonstica comibinatéria de que ‘vimos falaniio se produzom em consequéncia ds combinacio das palavras na frase (por exemplo, o ensurtiecimento do g fimal de vago em um vago sentimento), falase de sandhi, ‘termo usado pelos antigos gramitioss hindus © que significa Jungdo, unido. Os fendmenos de sandhé eram muito frequentes ‘a tiga lingua da India (0 sfnscrito), mas so também carac- ‘eristicos de certas linguas modermas (0 musso, por exemplo) © moutras ocomem com relativa fhequéncia (ver atrés). Serontnca (131 FENOMENOS SINCRGNICOS E FENOMENOS DIACRONICOS Ao falar de fondmenos de fonétice combinatéria importa istinguir katte fenémenos que ae produadm no interior de um sistema fonético em consequéaoia dos hébitos préprios da Ki gua em questio, € of factos histénicos. Os hibitos: combinae 16rios divergem de uma lingva para outra. Se, por exemplo, cem francés se combina um consoante final de sflaba com a primeira consoante da silaba seguinze (0 grupo t em vous ves Ja), € 2 consoante final que & assimilada. Neste exemplo © f tomase sonoro, Se Se faz a mesma combinatérka (1!) em succo [ett litet harm (uma crianga pega), ¢ 0 J assimilado pelo t © ensurdece, Em eueco € sempre consoante surda que assimila a sonora. Em francés tammto & uma como a outra 0 que depende do lugar que @ consoante ocupe aa silaba. Aqui temos wm exemplo de regras combinatérias, Os fonémenos combinatérios deste ginero so fenémnos sincrSnicos. Se, pelo contrério, 0 latim miraculum @é em porsugués milagre e em espanhol milagro, © formaticum @ em srancés Fromage, temos eno uma mudanca fonética que se produzin 20 longo dos sécules, portanto tm femémeno histérico (ou diacrénico). As mmudangas fonéticas comerarm,” frequexte- mente, por serem fenémenos combinatérios— as vezes até por suténticos erres de promincia (lopsus Tinguae) —que, por um motivo ou outro, se fixaram © acabaran. por se Soman cons ‘antes. ‘Sobre estes problemas voktaremos a falar mats adiante. (4) A SILABA 14 por vérias vezes sublinh&imos que us sons se agrupam ‘em unidatles fonéticas mainres. A mais importante Gestas usti- dades é a sflaba, £ wma das mogées Gunidamenteis da fonéeica Se nem sempre se esté de atondo 20 definir a silaba, € porque ct se escolhem pontas de vista diferentes para a definigio (avisticos, axticulatérios, funcionis), ou porque os aparethos de que até hoje se dispunha ao pemnitiam eos foneticistas delimitar as sllabas nas curvas ou nos tragados obtitos. Seria erréneo, porém, querer tirar dal 2 conclusio de que 2 silaba nio existe © de que 0 agrupamento dos fonemas em silabas & ‘mera convencio sem fundamento mx réaiidade ebjectiva (Pan- conodlli-Calzia). Até uma pessoa sem fonmagao linguistica tem, maior pante das vezes, cohsciéncia mitida do mimero de sila- bas que fd numa cadeia fénica. O simples facto de que @ ver sifcaglo € frequentemente baseada no snimero de silzbas for- nevenos uma prova de que @ silaba € ama unidade fonétioa a qual 0s sujeitos falantes esto absolutaméente consciemtes. Para a fonética tratese de procurar cernir @ realidade aristica articulatéria que est4 na base deste agmpamento dos sons ‘em sflabas. Uma sflaba terminada em vogel chamase aberta; fechada se a vogal for seguida por uma ou mais consoantes. Na pala- ‘ra carta, @ primeira sflaba (cor) é aberta, a segunda fechata. Segundo a opinido tadicional, uma silaba era constiufda por uma vogal chamada suporte ou nd, © rodeada por con soantes (dat o nome de uconsoante» —que soa jumtamente com qualquer coisa, que no pote sbzinhe ter som). As vogais eram também chamadas soantes, porque eram capazes de soar sem C15] qualquer apoio, Tratavase de uma concepgio funcional da sflaba € das nogbes de vogal e de consoante, Segumlo esta defi- nigfo, o r do checo Krk (pescogo) ¢ uma vogal, uma vez que funciona como né silébico. © 1 sildbico do inglés little, bottle 6 também uma vozal porque constiat, por st 95, uma sflaba. Deste modo, serfamos fercatias a clasificar 0 ch ou s da interjeiglo grafada pst como vogal, pois neste caso exerce a angio de suporte sildbico, Com tal definigio de sflaba, de vogiis ¢ de consoantes, Yernosdambs obigados' a classficar quidquer fonema que; num caso determinado, desempenbasse 0 papel de aé sildbico, ao gmipo das vogats, « todos as foriemas {que niio esempenhassem esse papel no. gmupo das consoantss, Seremos, ascim, obrigados = definir Wiferentemente a eilaba canforme as linguas, como também vogais © consoantes, Hfec: tivamente, € 0 que se deve fazer. Cada Wingua tm regras pré- pias de agrupamento dos fonemas em silabes. O mesmo grupo que, mma lingua, ¢ promunciado como uma sé slabs, poderé set, mecessirdamente, pronunckido moutra Hngua como duas. As palavras fremoesas em -cir, empréstimes do sueco (avoir, boudoir, etc), slo promunciadas nesta lingua como um grupo disslébico -uar (a palara sueca layoir vem orts silabas). (porque 0 seco nfo possui ou conscante @ ngua, par con- seguinte, marca automaticamente dues silabas ma sequéncia outa. Mas tal definigio funcional (estrutural) da sflaba no nos aispensa de procurar-o que caracteriza, ma onda sonora ¢ nas anticulagées, a tmidade assim definida © 0 que se produz quando passamos de uma sflaba para cutra. 0 foneticista dinamarqués Otto Jespersen via na tendéncia dos sons a agruparse segundo a sa sonoridade (ou audibili- (6), | | dade) wu factor decisivo para constituicio da estrutura silé- ‘ica, Segundo Jespersen, os fonamas agrupam-se 4 volta do fonems. mais sonoro (muites vezes, mas mem sempre, wma ‘vogal), comforme io seu grau de sonoridade, Jespersen agrupou ‘8:sons, do ponto de vista da sonoridade, da seguinte maneira (@ comegar. pelos menos sonores): 1) Consoantes surdas: 1) Oclusives (p, tk): >) Constritivas (F, 5, ete. 2) Oclusivas scmoras (b, @ 9): 3) Constritivas sorioras (¥, 2, etc): 4) Nasais e laterals (m, m, 1, nte.); 5) Vibraotes (0): 66) Vogais fechadas (F, i, u): 7) Vogais semifechadas. (2, 6, € 6, ete}: 8) Vogais abertas (a, ete.). SMlabas do. tipo plaga, fade, piano esto, portanto, com formes a0 esquema de Jespersen. A silaba seria, segurido, este foneticista, « distancia entre duas unidades minimas de sono- ridade. Mas, na realidade, existem sflabas que esto em con- tratigfo com 0. esquema de Jespersen, Assim sucede com 0 vocdbulo latino stare—uma ver que 0 s & wm pouco mais sonoro do que © te que a palavra, tolavia, ao contém senfio. duas silabas. O mesmo ocorre com © francés strict. As linguas gormfnicas ¢ eslavas ‘aferecem exemplos de excep: (a7) (9bes ainda mais marcantes 4 regra de Jespersen. O suieco spotskt (de modo arrogante) teria trés silabas se se atendesse a sonoridade dos fomemas; oré mo comtém mais do que uma silaba, : Par outro lado, & evikiente que, em maiitas linguas, existe ‘uma tendéneia nitida pana aproximar © mais poasivel a eatru: ‘ura das sflabas do ikteal descrito por Jespersen, O latim stare tvansformouse em istare ou estare pela aitiglo de uma vogal A Fig. 48—-A linha A.D simboliza a tensio crescente da sftaba: 4 linha BC, « tensio dectescente. O ponto B € o ponto cut aminante da sllaba ‘epontética que tomau © grapo stor dissilébico, B a esta forma que remonta o portugués € 0 espanhol estar, ¢ © antigo francés ester (donde procede o particfpio passado été, depois da queta do s preconsoniintico}. Fol portanto a evolugo que tornou a estrutura silébica dz palavra mais comforme & ideal. A eworia de Jespersen, que foi acsite, entre outros, pelo foneticisea ingles Danie! jones, é uma boa desoricio da sflaba ideal mas no nos diz 0 que & em qualquer circunstincia, essencial & sflaba, Tao-pauco nos diz onde estd o limite entre a sflabas, aquilo 4 que se chama a fronteira sitébica, [3] Do quatro acima apresentado segues: que o agrupamento dos sans conforme a sonoridade ¢ também, gross modo, um ‘agrupamento conforme o grat de abercura, Uma vogal € mais soniora ¢ também miais aberta do que uma consoante, uma cochusiva & mais fechada (e menos sonora) do que uma cons- tritiva, am a mais aberto ® mais sonora do que um i, etc. 0 finguista suigo Ferdinand the Saussure 4 tinha formulato antes ¢ independenteniente do Jeipersen, uma definigio da flab baseada no grau de abertura dos sons. Segundo ete, as ‘eonsoantes agrupamse 20 netlor as vogais conforme © set ‘gran de abertura, A fronteira sildbica encontra-se exactamente onde se passa de um som mais fechado para um som mais aberto, Portanto & posstvel, pelo menos em certos casos, deter- minar, 2 partir desta definigio da sflaba, o hugar da fremteira silabica, que em muitas linguas desempenha um importante papel linguistic. Sausoure chamava explostio 4 aberaura sucessiva que 52 produzia no comeco da sildba, € implostio ao fechamento no ‘imal daquela. Esta taminologia tomotse comente na fonética ‘moderna, ¢ chamase implosiva a qualquer consoante que so sncontre depois do é vocilico (a vogal) da sllaba, explosiva a qualquer colisoante que se encontre antes da yogal. Segundo Saussure, uma sflaba pode ser simbolizada pelo sinal_< > (abertura + fechamento). Onde quer que haja > <_ (fecha. ne ira), hd uma fronteiea silébica,, © foncticista francés Maurice Grammont ¢, depois dele, M. Pierre Fouché, definiram a sflaba em termos fisiolégicos. AA silaba foi caracterizada, segundo estes estudiosos, por uma tensto crescente dos rmisculos do aparctho fonador, seguida de uma tensio decrescente. A articulacio é, pois, mais enérgica {u19] ao comego da silaba e decresce gradualmente a partir da ‘vogal. Com M, Fouché, podese pois caracterizar a sikiba pelo ‘esquema junto. Fig. 49 —Resisto quimogrético de um grupo tumjpu (segundo Fonché). A linha de cima (ABO) mostra a tensfo dos misculos da Tae ringe. A linha horizontal € a curva do nariz (wibragbes natals para m, austacia de vibra- fe pars ?). A linha vertical DE é a fron. teica sldbica E evidente que a teoria sitsbice de Grammont de Fouché contém algo de essencial para a solu;éo do problema da sfiaba. Confizmaa um grande mimero de factos ta fonética histérica, {que nos ensina que as consoantes implosivas se enfraguccem cou dessparecem mais factimente do que as consoantes explo- sivas, cuja articulagio 6 mais endrgica © que tesistem muito melhor As forgas destrutivas (a assimilacio, a abertura © a ‘vocalizagio). Esta teoria foi confinmada também, recentemente, por resultados obtidos no dominio dx fomética acistica. © foneticista americano Stetson, que mediu @ aotividade [220] os miisoilos da respiragao © que julga ter verificado a exis- téncia de uma relagio entre as silabas e 2 enervacio dos mis ‘culos respiratétios, comparou também as curvas destas varia ‘sées musculares com uma curve de intensidade sonora, Parece hhaver uma comespondéncia perfelta, No decorrer da produclo ‘dx silaba, a indensidadke sonora oresce © Gecresce paraiclamente plér krwaje (plaire) (oroyez) Fig, 50—Bsquema sldbico, segundo o sistema de Jespersen, de das palavras francesa: plate ¢ croyez. Cada cimo repre senta uma sflaba, independentemente da sua altura absolute. AS palavras so, respectivamente, de uma ¢ de duas silabas ‘as varlagfies da actividade dos misculos respiratérios. As curvas de intensidade obtidas pelo foneticista alamo E. Zwimner rostram igualmente uma comespondéncia entre os nfvels max mas de intensidade e as silabas. Estes dados aciisticos sfo facilmente conciliéveis com a veoria fisiolégica dos foneticistas franceses. Quando @ tensio [rar] das emvisoulos da laringe e da boca aumienta, este aumiento tra- duz-se aciisticamente por uim reforgo da intensidade dos sons produzides, A intensidade sonora cresce com a tensio dos smidsculos. Stetson, que merlin também a pressio dos ldbios ¢ a lingua, assim como a pressio do ar na boca, verificou uma pressio mais forte no comepo € uma smenos forte para 0 fim da sflaba, Estes resultados sio perfeitamente conciliévels com 2 idefa das variagées da tensfo muscular no sett confunto. A PALAVRA, 0 GRUPO, A FRASE Se se perguntar a um nio linguista qual é a unidade supe- ior em que, por stia vez, se agnupain @s silabas, responder provivelmente que & a palavra. Imparte todavia sublintar, antes de mais, que a palatra nfo & uma unidade fonética. Enquanto o-niimero de sflabas de wma frase pronunciade pode ser determinado tinicamente com 0 auxilio de critétias foné- ticos sem Nos preocuparmos com 0 sentido do enuncialto, para analisar @ frase em palavras & preciso conhecerthes também © sentido. A palara € uma umidate do plano do conteddo Singuistico, nao do plano da expressfo. & uma unidade semdnm tica e néo uma wnidade fonética. Um portugues que ouga um grupo como haver, dird imeiatamente que tal grupo contém duas gflabas, mas precisa de ouvHo mum contexto pata saber se se trata de wma palavra ou de duas (haver ou a ver). Um individuo que no saiba portugués e que ouca pronunciar, por exemplo, um grupo como eu vio, notard, provavelmente, 0 rmimero de sflabas que tem, mas ser incapaz de nos. dizer o rémero de palavras, enquanto no compreender o sentido, [122] Na realiiade, é 0 grupo fonético que é a unidade superior que procuramos. Em portugués, o grupo donético determinase pela presenga de um ‘acento de intensidade (ver pig. 141) sobre @ wltime sélaba promunciada, Se dissermos o moro, hé ‘um nico acento de intensidade (sobre mo). Eis am grupo ‘ou vocdbulo fonttico. Se dissemnas Que moro ricot, haverk apenas um acento de intensidade (sabre ri), embora a sflaba ‘mo continue a ser acentuada, Trata-se sempre de um 96 grupo. Mas se, pelo contrério, dissermos 0 mogo brinca, j& haverd dois icentos €, portanto, dois grupos. Temis aqui um exemplo de uma panticularidade da fonética da frase em portugues, A paler ‘ra, embora conserve 0 seu acento priprio, é dominada pelo canto do grupo, Em francés (vd. um enfant pauyre, sintagma nominal em que fant perde 0 2omto de intensidaile em favor ‘a sftaba pau-), 0 grupo fonético é Getemminado pela presenga de um acento de intensidade na dhtima sflaba prommnciada Num caso andlogo, o inglés strvirseda de dois acentos, um sobre 0 aiijectivo © outro sobre © substantivo (a poor child). Faria dois grupos fonéticos, comespondendo: cada um as duas palavras plenas da frase. O frances fez apenas um grupo, exis: tindo menor correspontiéncia entre w unidade fonétioa que & © grupo ¢ a unidade semfntica que ¢ a palavra, do que, por cexemplo, nas linguas germSnicas. Os grupos fanéticos formam, por sua ver, frases, deter minadas fontticamente pela respiragio ¢ pela interrupgio da cadeia Falada, intermupgo necesséria & inspirargo do ar. O com- rimento das frases respiratérias varia mito conforme os indie vidios ¢ 0 carécter do enunciado. O ensino da diceio tem, contre outras finalidades, a de ensinar. aos alunos ume boa res- piragio, o que Thes permitiré fazer coincidir as pausas respira- [223] ‘t6rlas com as pausas naturais contlicionadas pelo contetido do texto, A arve de bem falar consiste, em grande parte, em criar wna correspondéncia 0 mais perfeita possivel entre © contetilo € a expressio (0 sentido ¢ os sons). A BASE ARTICULATORIA Chamese frequentemente, om termios umm tanto inadequa- Gos, base articulat6ric © conjunto dos hébitos articulatérios que caracterizam uma lingua, Demos anteriormente exemplos de diderencas considerdveis entre as Kinguas, neste aspecto. Uma Hngua tem predileccZo peas articulagies anteriores: (dentais, apicais, palatais), outra pelas articulagtes posteriores: (velares, faringicas, laringeas). Em mmiitas linguas os libios desempe- snham grande papel e 0 arredondamento labial serve para: dis tinguir um timbre vocdlico de outro, A labializacdo, quando se emprega, acentuada. Na articulagdo de outras Unguas os labios 1ém pouco uso € a labializayio, quanto se utiliza, & fraca, HA Tinguas em que as consoantes sofrem uma grande ‘influéncia da parte das vogais e hi outras em que esta influén- cia @ restriee, Certas linguas tém ina atticulacio. enérgica, cenquanto owtras se cardoterizam por um relaxamento articula- sbrio que, por vezes, oria uma tandéncia para a ditamgagso des vogais. Sto todas estas particularidades articulatérias que se inscrovem na mubrica «base articwlatérian. Se compararmos, pare dar um exemplo conoreto, a base articulatéria do francés com a do inglés, veremos que estas duas linguas, do ponte de vista fonético, sio completamente diferentes, Toda a articulacgo francesa se caracteriza pot wna [x24] vendéncia anterior. Os t, d, m so dentzis puras, As com- soantes palatizamse facilmente eum contexto patatal, Certas ‘vogais da série posterior tém tendéncia @ avangar 0 seu ponto de articulagio na boca (u © aberto). O sistema fonético francés € também daminado pela articulagio labial. A ngua ‘conhece uma série completa de vogsis anteriores arreilondadas. Ea labializagSo, quando se di, & muito forte € toma @ forma de um verdadetro arredondamento dos lébios, © nfo apenas de uma cerca projeccio exterior dos mesmos, Nio existem, vogais umistas», Toda a articulacio & conse © enérgica. As vogais tém um timbre preciso e no manigestam qualquer ten- éncia para a ditongacio, 0 acento expiratérlo (ver pag. 141) 6 fraco, as sllabas nZo acentuadas so quase to nitidamente anticuladas como as acentuadas, Nao existem: yogeis lesas, ‘A masalizagio das vogais masais € muito acentuada © opie de modo mitido as vogais masais as onais. A palavra ma frase perde a sua individuatidaie fonética © inglés, pelo conteério, caractenizase por uma sendéncia a recusar as articulagées ta boca, Os t, d, n séo alveolares. AS consoamtes palatizamse pouco mum contexte palatal. As vvoguis velares so altidamente postariores, A labializagio & muito fraca ¢ implica apenas uma leve projec dos bios. Nio existe qualquer sévie anterior labial. Mas, pelo contritio, existe vogais emistas», A articulacio € relaxada e ns diton- 08 nusmerasos. Certos moriotangos (Jonges) tendem igualmente para ditongacio. O acento expiratirio € forte © as sflabas io acentuallas so articuladas muito dBbilmente, de modo. que © seu vocalismo se redux a wma vogal meutra (vocal murmur}. ‘As vogais broves, em relacio ts Tongas, sfo lassas. No existem vvoguin namais. O inglés americano, pelo contrétio, & conhecide [1257 pela oendéncia 2 nasalizer qualquer tipo de artioulagio (nasal wang), A palavna inglesa conserva a sua independéncia foné- tica aa frase, muito mais do que a érancesa, pois nessa lingua ‘todas as paluvras plenas (substantivos, adjectives, advésbios € verbes) tém 0 seu acento préprio. Nao admira nada, portanto, que um inglés promumcie geral- mente mal o francés ¢ um francés mal o inglés. As bases arti- ‘culasérias so muito diferentes, por vezes dinectamente opostas. [25] CAPITULO 8 A. quantidade Oe Hastogen poten dnguos wa dos outros no 6 pelas diferengas qualitativas mas também pela sua dunapdo (extensio no tempo). Tottos 0s sons, com excep fo dos oclusives, potlem sor prolongados tanto quanto © per ita o ar dos pulmdes. F até os oclusivas so susceptiveis de Jum canto prolongamento, dato que = oclusio pode ser pro- Jongada Hentro de certos limites. A duragSb dos sons chama-se quantidade. Existe uma série de Gactores que determninam, em conjumto, a quantidatle de cada fonema, QUANTIDADE OBJECTIVA (MENSURAVEL) ‘A duragio de um som concrete, anticulado em dato ‘momento mum determinado contexto (soja o ¢ de cantar numa frase promanciada diante da embocatiune de um cilintro regis- tador), pode ser medida num gréfico © catculaita em centé- simvas de segurvto, Também se pode calcutar a duragio de um grande mimero de t no mesmo contexte ou em contextos diferentes, num nico individuo ou em véxios, e calcular a o-roxtrca t79} métia, Ou ainda comparar a oédia de wm grande mimero det com a média para d, ou c, xtc. Pode comparar-se a dura- gio de um / antes de um t com @ de wn i antes de um 5, ‘ou @ duragéo média do uma dala posico com a do a em posigdo idéntica, ¢ obter alssim aximeros médios para cada fonema e para cada posigdo. Se se verifica que © no exem- plo acima durou quatro centésimas de segundo, temos uma quantidade absoltua, Se, pelo coneririo, verificamos que © i, ‘muma datla posigio, & sompre mais breve do que um a, ou ‘que a mesma vogal & mais longa antes do s do que antes do t, temos uma duracéo relativa. © ewame instrumental das variagSes de duracio dos fone- mas mostranos diferengas interessamtes. Convém notar, porém, que a quantidade de cada forema depende, da velocidade éx articulagio da catlefa faleda, Quanto mais depressa se fala, mais se absevia cada som, e vice-versa. Por outro lado, 2 duke fo dos fonemas depenide do tamanino do grupo pranunciatlo Quanto mais longo ele for, mais se abrevia cada um dos fone mas, Mas a duraso dos fonemas depend também das qual dades fonéticas que Thes sto préptias, Damos seguidamente alguns exemplos das regras que determinam a quantidade das sons e que parece seram quase gerais em todas as Kinguas. Estas regras daverse, em grande parte, as pesquisas feitas ‘pum mdmero clevado de Unguas por E. A. Meyer. ‘im condicées idénticas, quanto mais fechada for uma ‘vogal, tanto mais breve & a sua durasio, Um 1 é mais breve @o que um @, um @ mais breve do que um a. As vogais pos: ‘teriores oio, frequentemente, um pouco mais breves do que ‘as vogais anteriores comespondentes. Os ditongos sio mais Jongos do que os monotongos. Um i breve inglés antes det [130] manifesta uma. quantidade médiar de 13,9¢/s,.0 0 aberto (breve) uma média de 21, a vogat de mom 22,4. No i longo € a longo (antes de t) os indices si, respectivamemte, 20,1 © 292. Por outro lado, a quantidade vocdlica depende cambémn da consvante:seguinve, Uma vogal & mais longa antes de uma fricativa do que antes de uma ociusiva, ¢ mais longa antes de ‘uma ‘consuante sonora do que antes de uma surda, AS con- soantes nasais ¢ 0 I abreviam as vogeis, or wlonge-2s. Entre 25 consoantes. as fricativas sio mais longas do que as ocli- sivas, tama: surda mais tonga do que uma sonora QUANTIDADE SUBIECTIVA (LINGUISTICA) Quando em fonética se fala de quantilade, este cemo implica, em geral, lgo diferente destas pequenas varlagdes de que tumos estado a dat exemplos. Estas sio automticas ¢ ‘incunscientes. Sio precisos aparelhos ¢ medicdes acuradas para as descobrir. Nao podem, portanto, desempenhar um papel lin: guistico prépriamente dito, Num grande mimero de linguas, tanto se emprogam diferencas de quamtidadde como de quali Aide para distinguir palavras © formas. Em francés hé (ou, pelo menos, houve) uma diferensa quantitativa entre vogais com bate © bette, reine © rene. Bm tais casos, uma vogal Drove opdese a uma, vogal longa, como um ise opde a um a Certas linguas fazem largo uso das diferengas quantitativas Em lati, o presente vEnit (vem) distinguose do penfeito vénit ‘inicamente com a ajuda da quantidade da vogal e. As linguas ugrofinlandesas (finland2s, estoniano, etc.) servemse muito Csr) das diferengas quantitativas, mesmo em sflabas mio acentua- das, Em finlandés, tule quer dizer eve» (Imperative); rule, ‘cele vem» (presente do indicative). O estoniano possi trés sgraus de duragio voctlicar breve, longo ¢ imuito longo, A pale ‘via sada (a breve) significa ecems: saada (a longo), wena (Gmperativo) e saada (a muito longo), «ter licengs para (énfi- nitivo), etc. Nas Hinguas germméinicss, a diferencas quantirativas vocdlicas sio, com frequéncia, ecompanitiadas de importantes digerengas qualitativas (inglés beat: bit; naught: not; alemio fiihlene fillen). As vogais breves sio. sixrultineamente mats abertas ¢ de articulagio mais relaxada. Este tipo de diferengas quantitativas imphica que © fonema «dango, em deteminado contexto fonético, tem uma duraglo suficientemente superior & do fonema cbreven para que 0 ‘ouvido se aperceba da diferenga © que 0 sujeito falante teitha uma impressio nftide da distinglo. Basta, portanto, que um i longo» tenha uma duragio nitidamente cnaior do que um Zi obreven antes da mesma comsoane. Mas nada impede que tum @ cbreves possa ter a mesma duragio, ou até ser mats ongo, do que um i elongoy. Meyer demonstrou que 0 a Singlés de man, «breven, & mais longo (22.4 centésimas de segando) do que um i «longo» (20,1 ¢/s). Chamaremos a esta ‘quantidade percebida € consciente, quantidade subjectiva (ou ‘quantidade funcional ou limguistica). & nesta quantidade que se pensa quando, om linguistica, se fala de «longas» ¢ ebrevess. Certas peoquisas'necenteinente feites no dorntuio da.quans tidade fonética demonstraram, todavia, que 0 que n6s perce- bbemos subjectivamente como uma diferenca de quantidade ou de duracio é objectivamente uma coisa diferenté, A duragio subjective longa. é, mavitas vezes, actmpamhada por un melo- [132] dia descendemte que, pelo menos em certos casos, & tnica Aiferenca que se pode verificar objectivamente entre a «longa» € 2 ebreven, sondo esta iltima careoterizada, por sua vez, por ‘uma melodia ascendente ou und. A duragio medida pode ser ‘a mesma nas «longasy © nas abreves», # a Margerida Durand que devernos estes notiveis resultatos, basoados em materiais ‘irados das mais diversas linguas. Mas convém siZo generalizar a@emasiado. E bem possivel combinar uma quantidade subjec- ‘iva longa com uma melodia asceniiente ou vice-versa, como © autor destas linhas cxé ter demomstratio@ partir de materiais suscos € noruegueses. Por conseguinte, se a mogio de quanti- dade (eubjectiva), em fonética, & muitas vezes baseada noutras iferengas além da da diferenga em draco, por outro lado € evidemte que as diferencas quantitativas propriamente ditas podem desempentiar um papel linguistioo e fazemano arnidde, Parece, segundo medidas estabelecidas, que as «longes» sfo, em eral, cerca de 50 por cemto, pelo memos, mais longas do que 38 ebtevess, caso se trate de ventadeiras diferencas quanti- ttivas. ‘Também as consoantes podem ser Iongas ou breves (quan- tidade subjectiva). Quando uma consoante longa é dividida em dues partes por ama fronteira silébica, felese de uma con soante geminada (ou, &s vezes, dupla). Uma geminata pote definirse como uma Soquéncts de consoante implosiva + con- soante exphosiva, sendo as dues iénticas, alids. As geminattas cstio bem sepresentadas em certas linguas, novtras mens. 0 italiano € rico em geminatias (fatto, bello), o espanol nfo as possai, nem 0 inglés, nem o portugues [133] QUANTIDADE EM FRANCES A. quantidade vocdlica tem um lugar insignificante no francés. Na maior parte dos casos, a quantidade ¢ determinada pelo lugar da vogal na catleia falatha. Notese desde j& que a ‘quantidade longa apenas existe em silaba -acentuadla, Em yf Fig, 51—Curvas melédieas do a nasal breve de content ( 4s: querda) e do a nasal longo de contente (8 direita), A vogal subjec- tivamente longa caracterizase por uma melodia forcemente des ‘eendente (Segundo Margarida Durand) silaba no acentuada a yogal normaimene € breve, quando ‘muito semilonga. Em posigio de final absoluta, qualquer vogal & breve, independentemente da ortografia (beau, fait, aimées, vendues). Teme discutide muito acerca da posivel existén- [134] la, ainda hoje, de alguns vestigios da diferenca de durago que antigamente deve ter distinguido 0 masculine do feminino (aimé de oimée, etc). Nos casos em que ainda exista uma ‘possibilidade de oposicao no diclecto parisonse —e alguns afir- mamno—, deve tratar-se mais de ume leve diferenca de tom (de melodia) do que de uma verdadira oposicio quantitativa. ‘Antes de consoante, 2 quantidade vocética regese em ‘grande parte pelo consonantismo. Qualquer vogel é longa antes das constritivas somoras (rose, cage, veuve), r final e vr. Quat quer vogal nasal [bem assim como of € & (fechatlos) © a posterior] & longa antes de qualquer consoante pronunciada (grande, jetne, role, plite). © mimero de casos em que 2 quantidade basta para distinguir duas palavras (bette: béte; rene: reine) € reluzido, e o francés nfo esti acostumado a ateibuir demasiada impoetincia as variagées de quamtidade vocdlica, Todas a5 vezes que uma palavea com vogal lange se encontra sem acento frésico—o que acontece em francés com relativa frequéncia (cf. pag. 123)—, as vogais abreviam-se mais ou menos, e tal facto contribui também para a pobreza das oposigées quantitativas na lingua francesa. As diferencas quantitativas no consonantisme francés 10 representam papel linguistico seniio em certos casos especiais. As grafias duptas da ontografia comespondem, na maior parte os casos, a consoantes simples na prondincia (aller, mettons, guerre). Na proniincia moderna existe uma tendéncli, sob influéncia da ortografia, para introduzir geminadas em. certas patavras emuditas (villa, illsion, coll@gue, immigration). Or & geminado no futuco-e no condicional dos verbos courir, moutir € acquérir (courrai, mourrait, etc.). Fora destes casos, ‘2 geminacio em francés devese ou & queda de um e feminino (335) [tir(ejeait, net(e)té, extrém(e)ment, 1ed(e)dans], ou & co-ocor- rénciss de vocabulos em frases (grande dame, une nofx). Tam- km so diz il Ye dit, © wté enmicas vezes je Tal dit, com um 1 geminato. Existe uma consoante longa explosiva (e aio uma.gemi- nada) nas sllabas que levam um acento de insisténcia (est Epouvantablel; ver pig. 144). Neste caso © p longo pertence Sneiramemte & sfkaha seguinoe 2 tonto 2 brew Fig. s2—A melodia do 2 longo de épaisee (@ esquerda) © do 2 breve de épuis (aquela descendente, esta ligelramente ascendente). (Segundo Margarida Durand) QUANTIDADE SILABICA Também as silabas podem diferir quanto & sua duraciio. Ghamase longa uma sflaba que tem uma vogal longa; ou ‘uma yogel breve seguida pelo menos por ume consoante (longa) ou um grapo de consoantes. £ 0 caso, por exemplo, do alemio © do seco, Em latin, uma sflaba longa vale, em métrica, duas silabas breves. A sftaba longa contém dois mores, a silaba breve um sé. Certas linguas gaminicas (0 alemio, © sueco), ta época tnodenma, 9 possuem sflabas Tongas. Uma sflaba contém ou uma vogal longa ou, entio, uma vogal breve: seguida gor uma consoante longa (ou geminada) ou pot vm srupo de consoantes, Outras (como o finlandés) possuem as [136] quatro combinagSes possivels: vogal breve + consoasite breve, ‘vogal breve + consoante longa, vogal longa +consoante breve © vogal longa +consoante longs (por exemplo o finkandés tuli (Gogo), tulti (alfandega), reli (vento), tuulla (fazer ‘vento)], (137) CAPITULO Os acentos srERMENADAS partes de uma cadet de sons podem ser postas em relevo & custa das outras, Ne maior parte das vezes so as silabas que se opem umas &s outras graces 2 certas caracteristicas chamadas acentos. Um acento mio marca apenas um fonema mas uma sequéncia deles. Aos meios fondticos empregados para distinguir dstas unidades maiores do que’ os fonemas (mores, silabas, grupos) entre si, chamase também tragos prosédicas, Para se dar relevo @ cert unidade podese emprogar a intensidade sonora (a forpa expiratéria), e designase por acento de intensidede ou acento dindmico (acento expiratério, se se piensa na axticulacio). Os sons de uma silebe acentuada so articuladlos com mais dorg ¢ so, portanto, mais sonoros (mais audiveis) do que 0s outros, Se 0 relevo de certas partes da frase se consegue com o auxiiio da melodia, fatese de ‘cents musical ou de entoagio. (rar © ACENTO DE INTENSIDADE ‘Numa frase promunciada, as silabas mo se produzem todas ‘com a mesma intensitade. Umas sio mais éracas’ (dtonas ou, ‘mais correctamente, ndo acentiradas), outras mais fortes (acen- tuadas). Em francés, € sempre 2 ‘hima slaba pronanclada do grup a mais forte © 2 que leva © acento principal. Dizse ccom frequéncia que uma palavra tem 0 acento sobre esta ou siquela sflaba (em francés @ iltima). Tendo em conta 0 que issemos ates (pig, 122), a expressio € imprépria. Néo € a palavra (unidade semantica) mas o grupo (unidade fonética) que se caracteriza por esia ou aquela acenbuaco, Jé lembré- ‘mos que a tendéncle para fazer coincidir a palavia com 0 grupo fonético & muito mais forte mamas Minguas (por éxem- Plo, no francés). 6 verdade que uma palavra pronuncinda iso- Jdamente leva sempre um acento, mas em tal caso a palovra ao mesmo tempo wm grupo, e € por esta raz0 que tem acento, Embora stja assim, ha mazes ite ondem prética em favor da conservacio do termo tradicional acento de palavra, apesar de este acento ou desaparecer on perder forsa, quase sempre, quando se combina a palavra com outras mama frase. Feita esta reserva, cremos podermo-nos servir, daqui em diate, desta terminiologi cémoda. As vegias que determinam © lugar do acento expiratério ‘nas palavras (grupos) diferem muito conforme as Linguas. ‘© lugar do acento pode ter sido dixado de uma vez para sempre, Neste caso, & detemminado automaticamente pela eotru ‘tura fonéiica do grupo, Em francés, tal acento cal sempre sobre @ ultima silsba, Tao forte € esta lei fomética, que ao pro- unclar nomes estrangsiros, 0 francés coloca sempre o acento [142] sobre a ultima sflaba, estropiando com bastante frequéncia a ptontincia indigena (Osl6, Santés, Mussolin{). Noutros casos, ‘eaupregase uma forma afrancesada (Milan, Barcelone, Lis- donne), £m virtude da mesma tendéncia que as formas ert- tas importadas do latimn se promanciam muitas yezes em francés com um acento completamente diferente daquele que ‘se emprega em latim (latim técnicus, francés technique, latim legitimus, frances légitime). Noutras linguas, o Iugor do acento é determinado de ovtro modo. Em finlandés © em checo, a sflaba acentuada ¢ sempre 2 primeira sflaba da palavra; em polaco, a entepentiltima. Em Jatin, 0 acento — qualquer que teniba sido 0 Seu carkcter foné- tico —colocavase sobre a peniltima ou aitepentitina sflaba, confortne a quantidade da pendltima. A estas linguas, em que ‘© acento & determinado por regras exteriores, optemse as inguas em que o lugar do acento é livre no sentido de que se pode colocar sobre uma sflaba ou sobre outra © mudar, assim, 0 sentido da palavea promunciada, Neste caso, 0 lugar do acento desempenha uma funcio linguistica e € um fené: ‘meno fonético com signtficacdo. O inglés fornecesnos um bom exemple. Se se pronuncia import com o avento expiret6rio sobre a primeira sflaba, tratese de am substantive que signi- fica «importagio>...Se 0 acento se coloca sobre a segunda sflaba, a palavea € um verbo © significa «importars. Em espa- hol, canto com o acento sobre a primeira sflaba significa canton (primeira pessoa do presente do indicative do verbo cantar), mas se se promincia canté, com 0 acento na segunda silaba, significa «cantoun. A palavra término, com acento sobre a primeira silaba, significa atermon, mas se 0 acento cal na segunda sflaba—termino—, j4 temos a primeira pessoa do {143] presente do indicative do verbo tenia e, enfim, se 0 acento cal sobre a ultima silaba — termin6 —, temos o verbo no pas- ‘sido sigaificando «terminou», terosira pessoa do singular. Tal lingua possui, pela colocacio do aomto, um meio de expresso, importante © precioso, desconhectio do francés © do. portu- gués (), Em russo, 0 lugar do acento também & muito livre ¢ muda frequentes vers de,uma forma pare outra dentro de um paradigma, ‘Ghamase oicona uma pelavre com acento ténico na Ultima sflaba, paroxftoma se 0 acento cai na pentiima © pro- aroxitona se cai na antepentitima sflaba. ‘Também existe, importantes diferengas entre a5 Lnguas conforme a forya com que se pramunciam as sflabas acentuce das em relaso 3s silabes no acammadas. Em francés a dife- venga & enfnlma, dof resultado que a9 sflabas néo acentuadas consewvam a sua precisfo axticulatéria, enquanto as Knguas germinicas ou noutras, como 0 portugués, as sflabar ténicas fo muito fortes e as silabas Stones muito fracas. Mesmo nap Iinguas em que © lugar Wo acento esté regu: Jado, como mio francés, & todavia possivel empreger, As vezes, ‘um acento e intenaidatle para exprimir énfase ou afectagio, Este acento chamase acento de insisténcia © implica p6r em revo otra sabe além da que normalmsnte leva 0 acento, Se se diz c'est épouvantable, colocese automiticamente 0 acento sobre -tab-. Mas oe se presende exprimir afectacko, polese colocar outro acento sobre -pou- (alongandose também ‘3 consoante) ¢ opor deste modo, 2 uma simples aftrmacio, () Bm portugués A, todavia, alguns casos de oposigzo do tipo cima citado: por vss pér; para vs. pra; ola vs. Ald; ete. 144) uma expressio afectiva, Em frances distinguose, As vezes, entre ‘um acento de insisténcia propriamente dito (ou acento enfte fico), que tem um cardoter intelectual e serve para dar relévo 2 uma distinggo (sje parle de Timporsation et non pas de exportation), e¢ um acento atectivo ou emocional («est abominable). © ACENTO MUSICAL Se © acento expiratério consiste em varlagées de intensi- dade sonora, o acento musical implica variagtes da aitura do tom da lavinge (da frequéncia das vibraoées das cords voodis). 4 vimos que é posstvel falar em vérios regisins e que a altura rmédia da fala se deve em grande parte ot caracteres ixdivithras. Nao & porémn, a altura absoluta que & interesse do pomto de ‘vista linguistic, ends a altura relativa e, sobretutto, 2s varia- (0es de rltura € os intervalos. Numa palewra, a melodia é que significante © tem interesse para © linguista, ‘As variagtes musicals da fala empregamse, segundo as Ynguas, de modo muito diferente, Na maior parte das linguas ‘uzopeias, @ melodia & sobremdo importance pana a fonética a frase. FB gragas As diferengas medias que se pode exprimir toda a eapSoie de estados de espirito © de sentimentos (satista «fo, descontemtament, espanto, decepcio, desprezo, dio, etc.) Em portugués e om muitas outras Linguas, pode-se transformar ‘wine afirmacio em, pergunta inicamente com a @juda da enboa- ‘slo (ex: Ble ven. vs. Ele vem? vs. Ble ver... v3. Ele vem!). Em limguas como 0 francés, também se emprega a entoacdo interrogativa na primeira parte de uma frase mais longa (dois s0-roxéca Eras] ou’ mais grupos), Num exemplo como os meninos jogam, 0 ‘tom sabe em -ni- e Gesce em -nos, © tom ascendeiste implica, ‘em princfpio, qualquer coisa de imacabadlo. Esperase um se ‘mento ou uma resposta. O. tom descendente assinala o fim. Peddem-se ilustrar os principals tipos ta entoacdo da frase ‘em frances cam 06 exemplos seguintes (de Comstenoble- Armstrong): il est midi vingt Fig. 53 (um 56 grupo; tom afirenativo) je n(e) tiens pas @ Ife) savoir Fig 5s (@ois grapes; 0 primeiro ascondante, 0 segundo descendente) 146] Em inglés, uma frase como if you don't believe me, 1 cantt help it tem 2 seguinte entoaso (segundo Armstrong): o- ee SeeCaNT Fie. 56 A primeira parte acaba de modo uscentlente (tom 2; 0 ‘ipo: que se encontra normoimente mas perguntas), a segunda de modo descendente (tom 1; 0 tipo-da afiimagio). Tanto em inglés como em francis existem dois tipos principals que se opéem ¢-que podem variar, quer um quer outro, quase até ‘20 intinito. Mas hé também sam grande mimero de Iinguas — sobre- tudo na Africa e no Extremo: Oriente —em que se empregam diterengas melédicas para Gistinguir uma palavra de outa. A melodia 6 estas Unguas, um factor constitutive da estru- twra-fonética da palavra (do grupo) © desempemha, em prin- cpio, 0 mesmo papel que os fonemas de que a palawra se compte. Temas um exemplo tipico no chinés. No dialecto de Peqnim existem quatro tons que se podem representar esque- mitticamente, segundo Karlgren, deste modo: 1) — (uno); 2) / (ascendente}; 3) V (sincopado); 4) ~~, (descendente). Tra7] ‘Conforme se promuncia um grupo de fonemas como chu com um ou ouxe daqueles cons, significa eporcoy, «bambu>, senor, ou emorar, vivero, O sistema de tons de wma Kinga sulafricana (botentote) & descrito por Beach da seguint! ‘maneira: bd sos tons dos quais 0 primoiro ¢ alto e ascendente, ‘© segundo médio © asomdeme, 0 terosimo baixe © ascendente, © quarto, alto © descendents, 0 quinto méiio ¢ descendent © 0 sexto baixo ¢ uno, Neste caso empregese, segundo parece, ‘uma combinaglo da altura (relativa) do registo & dan dinecyio > mavimemto misical para obter os seis tipos de oposigio de acento utilizados a sistema ‘As linguas deste tipo chamamese linguas toneis. Vimios tris que 2 melodia pode desempenhar, por vezes, am papel andlogo, quando as diferengas melédicas substituem oposigdes de duragio que se juga ouvir subjectivamente (conformé as, recentes investigagbes de Margarida Durand: (ver figs. 51/52, pigs: 154/136). Mas seria ir demasiado longe pretender por esse motivo agrupar uma tingua como o francés entre as line ‘pias tonais © colocéla em pé de igualdade com 0 chinés e © hotentote. Entre 2s Vnguas europeias, as linguas tonais so principalmente 0 lituano © 0 servorcrodtico, © acento musical da palavra tem um aspecto um tanto diferente nas duas Vinguas escandinaas que 0 conhecem: 0 seco © 0 noruegués. Nestas linguas & preciso que # palavra {0 grupo) contenha pelo menos dias sflabas para que se trate ‘de uma oposigfo de acento, Nurm mionossflabo 96 hd amie pos- sibildade. Estas linguas possuem dois acenos musicals: acento 3 fe acento 2. £ gragas A oposicio entre estes dois tipas que se distinguem palavras suecas tais como Buren — gaiola (acento 1) + buren—lerado (acento 2), tonken—tanque (acento 1) © [148] tankea —pensamento (acento 2), komma — virgula (acento 1) ce komma—vir (acento 2). f diffcl deserever estes aventos em. ‘ermos gerais, porque a forma das curvas snelédicas varia muito de uma regio para outra, O acento 1, por exemplo, & nlkida- mente descendente em cextas regiies (0 Sul do pals) © mais fou menos ascenddente (na primeira sflaba) moutras, Reprodu- zimos (fig. 57), a titulo de exemplo, as curvas melédicas dos dois tipos de acento no sueco de Estocolmo (palavras de duas sllabas). © que é comum a todos 0s ialectos suecos © noruegueses fo é a melodia de cada tipo considerada em si, mas simples- Fig. 97 ‘mente a exisitucia de dois tipas que se opdem © gragas aos quais ¢ posivel distinguir entre palawras e formes. Notese ainda que a melodia nfo & 0 timico factor fondtico que dis ‘ingue 05 dois tipos escandinavos de acento, Tratase também, a0 mesmo tempo, de uma diferenca de intensidade. Sob 0 acento 1, a primeira silaba é mais forte e a segunda mais fraca do que s colocadas sob 0 acento 2. C149] CAPITULO 10 Fonética experimental Soneticista utiliza no seu eabatho mntites métodos dife- rentel para examinar os sons da linguagem e suas com ‘images. O mais importante aparetho do foneticista € 0 seu ouvido, que ainda continuaré a ser 0 seu mais precioso ins- trumento apesar de todas as innvengSes téonicas da nossa época. (© emprego de aparelhos munca pasard de um processo para verificar e completar o testemuniho do our. A fonética expe- imental — ou instrumental —fomecenos elementos sobre 0 cardcter objective de fendmenos que, normalmente, nfo per- cebemos genio de modo subjectivo'com © auxitio do ouvido. INSTRUMENTOS ACCSTICOS i falémos, mo capitulo aciistioo, dos diferentes meios ‘éenicos de que dispomos ectuaimente para a andlise actstica dos sons da linguagem. Hé cinquanta anos apenas a fonética no dispunha, mo dominio actistico, sendo de recursos muito smotlestos: diapastes ¢ wessoadores para determinar tom pr prio das cavidades bucais ¢ registo mecinico grosseiro das vibragées, que se analisavam segundo © teorema de Fourier. (x3) Mas, apesar da imperfeicZo dos instruments, chegowse a um comhecimento impnessionantemente exacto da estrucure das vogais jd em finais do ofculo passado, gragas a0 génio de alguns grandes fisioos ¢ foneticistas (Helmholtz, Hermann, Rousselot, Piping). Mas foi 95 através de electro-aciistica moderna que se conseguin ér mais Tonge do que os fonticistas do séeulo pas- satdo. Gragas a0 microfone, ao oscilégrafo catédico, aos filtros € 20s diversos espeotémetros aictisticos, ao Visible speech © & Jimguagom sintética, j4 nada existe, do ponto de vista ‘écnico, ‘que impeca uma andlise completa © integral de todos 0s por- smienores dos sons empregados oa lingnagem humana. O osck \égrafo foi o primeiro 2 proporcionar um registo ptico das vibragdes (cf. fig. 9, pSg. 25), assinalando dessa forma o ‘comego da época moderna dai fonétion aixistica, Recentemente, © proctsso foi completado pelo filme sonoro © pela espectro- grafia, INSTRUMENTOS FISIOL6GICOS Entre os diferentes meios empregadus para determinar as diversas fases dx articulacio, o cilindro registador—ou qui- mégrafo—foi durante emuito tempo o aparelho mais éimpor- ‘ante, & inegivel que o cilindro ainda presta muitos servigos 40 foneticista, apesar da imvencio de novos métodas mais aper- feigoados. Gragas 20 cilindro registador, & possirel inscrever as dife- renites movimentes articulatérios —da lingua, dos lébios, do vvéa palatino, da respiragio—mum papel etegrecido © obter Ursa] assim uma curva que se pode faciimente analisar. Com a ajuda do tambor de Marey © de uma membrana de borracha é também possivel, falando «wm bocal, obter uma curva de ar que mostra 2 abertura € 0 decho da boca — permitinds assim verificar @ iferenga entre uma vogal, ume constritiva ¢ uma ‘oclusiva—, taduaindo- fgualmence as vibragdes das cordas vorais. Gom a ajuda de uum tampto masal podese registar, _separadamente, a corrente de ar que passa pelo nariz e esoudar, deste modo, a naselagao. Também se pode segistar dicecta- mente, 20 nivel da laringe, as wibragies das condas vocais. Os tragados obtidos com a ajuda do citisdro, chamados qui- mogramas, sio assim curvas articulatérias que, em principio, no podem ser comparadas com as ourvas aciisticas obtidas por um registo eléctrico da: onda sonora, Mas também € pos- sivel traduair, por intermédio de um microfone e de um meca- nismo especial (chamato em alemio Kettererschreiber), a3 ‘vibragées sonoras no papel enegrecido do cilindro. Nesse cas0 tretarsed de uma curva acietica. ‘No quimograma fisieldgico € possivel estudler no 55 as ‘diferentes qualidades articulat6rias dos sons, mas também fem’ ‘menos quantitatives ¢ musicals, Podese medic ma cua @ duragio de cada fase anticulatécia, Se a9 vibragies da laringe forem registadss, polemse calcular os movimentos musicals medinolhes a duragio dos pericidos mo quimograma © cons- truindo, @ partir dai, uma curva logaritmnica das varlagdes da frequéncia, Quanto mais baixo € 0 tom, maior é a duragio do peniotlo ¢ vice-versa, Em principio, é por tal proceso que se-obtém as curvas melédicas reproduaidas na pagina 149, ‘As variagbes de intensidade sio dificiImente decerminiwveis ‘2 pantir do quimograma..A amplitude obtida mo tical nao (1ss1 j apenas fungo da amplitude da vibracio sonora emitida, mas é também influenclada por fenémemos de ressondincia — quanto ‘mais eproximado for o vom do corpo registador do tom do registaio, maior seri a amplitude (ef, pig. 21)—e pela inér- cia maior oo menor dos enecanismes utilizades. £ preciso Fig. 8-—Deseaho esquemitico dos filteos do Visible Speech. Do microfone (A direita) o som passa pelos dile- ventes files (doze de 300 p/s cada um). Cada ura dos Stros 36 deixa passar, das numerasas frequéncias contidas ra onda complexa, aquelas que se encontrem adentro do seu dominio. Quando 0 som se torna visivel no écran ‘@ esquerda), 4 no Aé apenas uma nica onda comploxa mas uma sétie de frequéncias ordenadas de baixo para cima a partir da sua Velocidade de vibragio. £0 espectro do som. A realizagio téenica do aparelho & diferente este modelo original (156) recomer 20 registo oscilognifico para medir a amplitude das vibragées (0 acento dinamico ou expiratério), © mé&kodo quimogréfico completase pela palatografia, Os palatogramas obtémee com a ajuda de um palato artificial colocado na boca do informante, Depois de este ter promun- ‘dato © som ou o grupo de sons protenitides, afasta © palato artificial ¢ podemse deverminar imeiliatamente as partes que foram tocadas pela Lingua. Assim se determina 0 lugar da arti- cculagSo do som e 0 grat de elevariio da lingua ma boca. Notose, porém, que € dificil estudar por meio da palatogratla ‘0s sons que sio articulados ma parte posterior da boca. As arti- culagies labiais ¢ nasais no sto visiveis, Recememente estise a substituir © palato artificial por um processo fotogrético, Tin- gose 0 palato e, depois da articulagfo do som em quest forograftese dinectamente 0 proprio pralato, 0 que permite, evi dentimente, uma articulagie mais aiotmal © natural. ‘A palatogratta completase, ou substituise, ma fonética ‘modema, pelas radiografias que permitem estudar a posicio de todos os érgios da fala mim dado momento dx aaticulacdo ou — gracas aos filmes radiogréfices — os movimentos destes érgos durante promincia de frases inteiras. Se estes filmes forem combinarlos com uum segisto de som, podemse esoutar ‘a0 mesmo tempo os sons produzidos ¢ observar o¢ movimentos cexecutados pelos érgfos que os produziram, Esta é uma das mais preciosas invengies da fonéticn fisiolégica modem. (ss7] CAPITULO 14 Fonologia ou fonética funcional FACTOS FUNCIONAIS E FACTOS N&O FUNCIONAIS Dee eee ren eer de sons, mesmo no interfor de uma tinioa lingua, & quase ilimitado. Nao se promuncia Was vezes seguides uma ‘vogel ou uma consoante exactamonte da mesma maneira, © conterto em que come © som mibtificase de um pare ‘outro caso. A acentuagio, a velocidale da fala, 0 registo © 8 qualidaties da vor varjam de uma ocasifo para outra, de um individuo para outro. Existem entre as éndividuos dife- rrengas de proniincia que se explicam por diferengas anaté- micas ou por hébitos individhuais. Os espectrogramas revelam- -nos importantes diferengas entre as vogais dos homens, as das mulberes ¢ as das eriamcas. Estas diferencas nfo projudicam a compreensiio. Nio sfo percebidas pelos sujeloos falantes. Jul- _g2se promunclar e ouvir 2:mesma coisa apesar destas varlagSes, por vezes consideriveis. Temos direito, portanto, @ perguntarmonos porque, apesar de todas estas diferengas combinatérias ou individuals, identi ficamos a5 vogais € a5 consoantes dos outros com as nossas. Porque jdemtificamos 0 # de uma mulher com o de um rode [6} homem, ov um a depois de um J com um a depois de um s fou um #7 E porque julgamos ouvir a mesma consoance em ‘guisto e em custo, ow em estd e em estou? Os espectrogramas levamenos a ver unidades aciisticamente diferentes nos diver- 50s casos. Os walatogramas © as radiognefias mostram dife- rengas axticulatérias considenivels. Porque & que, enfim € por cexemplo, um francés de Paris, que pronuncia um r posterior, identifica imedistamente uma palavra como rite, pronunciada por um meridional que rola estes 17 A resposta ¢ que um g antes de fe um K antes de u, 0 i (nasculino) © 0 i (femé nino), 0 a depois de s eo @ depois de I, 0 r rolado © or ‘uyular, so ddénticos do ponto de vista da sa fungdo linguis- tica, Certos tragos Gos sons da linguagem so importantes para a respectiva identificagio, outros 2140, Carta vogal ¢ cada con- sosmte articuladas imum contexto contém tacos distintivos ou pertinentes a par de um mimero de trajos ndo distintivos ow indo. pertinentes. De facto, se nfo tivéssemos & nossa disposigio um mimero ilimitado de unidades infinitamente vartiveis, ao seria possi vel qualquer comunicagio organizada. Um sistema de comu- nicaco como € a lingua, supde mecessiriamente um mimero Timitado de elementos ¢ um niimero restrito de tacos que diforenciem esses elementos uns dos outros. A diferenca fun- damental entre uma expressio linguistica © uma expressiio nic linguistica (em grito de dor, por exemplo) € que @ primeira pode decompor-se em unidades mais pequenas, unidades que podem ir mais além ara caéeia Galaga, combinades de mode diferente (pelo menos se a extensio da expressio for sult ciente). © grito de dor, pelo contrdrio, tem um cardcter global. Tomemas como exemplo, em francés, esta frase: la ville [162], de Paris est grande. Se sc peti a um francés nio foneticista ara agrupar as unidades sonoras que The parecem idénticas nesta frase, sem diivida que idemtificard o i de ville com 0 ae Paris, © a de Ia com 0 de Paris © 0 r de Paris com 0 de grande, apesar das diferencas existentes entre estar umnidarles no aspecto puramente fonético. Também mio hé diwvida de que (© nosso interlocutor Jdentificars 0 1 de tableau com o de peuple © 0 i de lion com 0 de pied, apesar de existir uma unftida diferenca de sonoridade —mneste caso perfeitamente per ceptivel a0 ouvido—entre as duas unidedes assim iden cadas. O 1 de peuple e 0 gode de pied so mais ou menos ensurdecides (por assimilacio), os outros dois penfeicamente sontoros, Neste caso nem se trata de distingSas muito subtis para 0 ouvido human. Para um galés, 0 I sonoro eo I sudo so duas unidades, independemtes que ele nunca seré capaz de julgar fdénticas. A explicagio & que os sistemas consonémicos sio diferentes em galés © em francés. Em francés, a distingio emte 0 J sonore ¢ 0 1 sunto nao é utilizada no sistema. & um ‘ago nfo. pertinente, © frincts aio esti, pois, habimuado a atibuir importincia & diferenga que existe entre estas duas qualidades consonnticas, O francés mo pode mudar 0 sa {ido de uma palavea substituindo sum I sonoro por um | surdo ou viceversa, A diferenca mio é funcional em francés. Os ois | sio variantes do mesmo fonema, Em galés, pelo com ttério, so dois fomemas diferentes. A diferenca entre 05 dois & pertinence. (1633 © FONEMA ‘A nogio de fomema, no sentido aqui explicado, & selati- vamente recente em Linguistica e am fonética, ¢ vem sido defi- ida de muitas maneiras diferentes, ‘A distingio, porém, entre os dmimieros sons concretos, por um latlo, € as unidaies funniohais (05 tipas ou as classes de sons), por outro, fol notata, de motto mais ou menos niido © consciente, por todos os sfbiog que se ocuparam de pro- blemas fonéticos (os franceses Passy, Meillet, Grammont, 0 dinamarqués Jespersen, o sueto Noreen, etc,), Soria muito Tongo seriar as diversas tentatives feites pelos linguistas modemos pare definic 0 fonema ('). Preferimos tar ainda alguns exem- plas mais, que, julgamos, methor do que as consideragies te6- ricas, podem ilustrar a diferenga esencial entre donema € variantes. (Os dais tipos de r (anterior e posterior) sfo, em francts, duas variamtes do mesmo fonema, Como @ escolha de um ou ‘outro dos dois tipos nio & determinada pelo contexto da pala. vwra (mas por bébites individuais ow regionais), falese, neste caso, de variantes livres, © k palatal (de qui) ¢ 0 k velar (Ge coup) também sto variantes de um 85 fonema K, mas, neste caso, como a escolha € determinada automaticamente pelo contexto vocilico, falase de variantes combinetérias. () Existem alferengas profundas no modo de definir o forema centre Tnguistas como Troubetzkoy. Jones, Helmsley ¢ Bloomfield, defi nigio dependente das suas concepoSes de linguagem humana, Para estes problemas, que dizem mals directamente respeito & teoria lingustica, ver Perro, La lngulstique, piys. 140 © segs [164] ‘Também sio variantes combinatérias as masas, as Iiquidas ¢ 28 semivogeis enaurdecidas quanido em contacto com consoan- ‘tes surdas. OPOSICAO Dizse, de dois fonemas, que esto em oposicio. Em pore ragués Af oposi¢fo entre rel, pe b, te dace, etc, porque € possivel mudar 0 sentido de ama palavra substi ‘indo um pelo outro (ri ls pois: Bois; teu: dew; Jar: ler, etc.) Mas no existe opasigio entre o r anterior eo x posterior, fou entre © I sotiom © 0 I surdo, Existe, todavia, opasicio centre r simples (pdra) © r mntltiplo (parra). Vejamse outros ‘exemplos como caro © carro, saro ¢ sarro, ira ¢ irra, ete. Pode acontecer que dois.soms que se opéem em determinadas posigGes Conéticas no se oponham noutras. As duas vogais €e 8 opdemse, em francs, em silaba aberta acentada (dé: dais; Sée: fait). Mas antes de uma consoente da mesma slabs, ‘2 oposigio & impossivel. Promunciase sempre um 2 aberto ler, ciel, net, verre, méme, etc.). 0 € fechalo nio existe ‘antes de uma consoante da mesma silaba em francés, Dizse que, mesta posiglo, a oposigio & 2 est{ neutralizada (ou que hd sineretismo). B em virtude desta lei fonética que um € mda automiticamente para @, se vier @ encontrarse numa sflaba fechalda (céder ¢ je c8de—pronunciado «ctd’»). Nem todas as lnguas empregam © mesmo rximero nem ‘05 mesmes tipos de oposicées. O francés servese de duas séries ‘de vogais palatais (orais): uma série artedondada (i, de ¢ 32) fe uma sirie no amedondada (i, & € 2). 0 espanhol, © por- rugués ou 6 italiano no possuem vogais anteriores arredon- (x65) datas, Nestes sistemas no se empregs @ labializagio como ineio distintivo, pelo que itatianos, portugueses ¢ espanbéis tém muita dificoldade, a0 falar thencés, em distinguir entre sie su, fee € feu, méze © meurt. © espantiol «opouco faz dis- tingfo entre vogais semifechalias € semiabertas (fr. é © 2, 6 € 0). As diferengas de fechamento que existem, incontes- tivelmente, na pronincia Wos diversos © © 0 espanhbis sio de natureza combinatdria, determinadas pelo contexto ¢, por- tanto, ago sio notadas pelo sujeio falante. A distinglo é: 2 nio & pertinente em espanhol ¢ as duas qualidades vooiticas sio dias variantes combinatérias do mesmo fonema, © ftaliano, como o fremcés, opGe um ¢ fechedo a um € aberto © um o fechailo @ outro aberto [por exemple téma (temor) © tema (sema), récca (roca) ¢ rdcca (rochedo)] O espa- hol ¢ o italiano possuem igual mimero de vogeis (de timbres ‘Yoedticos), mas 0 sistema italiano & mais rico em fonemas ‘ortlicos do que o sistema expanhol. © esquema vocilico do italiano terd 0 aspecto dat fig. 59. Fig. 9 E também 0 esquema dos fonemas vocélicas da Ingua. ‘© meamo esquema vale também para 0 espanhol se se tiverem ‘em conta 05 principais timbres vocéticos que existem nesta [166] lingua (}). So se quiser representar o sistema dos fonemas vocs- licos espanhéis (das suas possibilidades de oposigdes vocdlicas), fo esquema terd 0 aspecto da fig. 60. Fig. 60 Em portugues (como no drancts, aliés), os dois s (somoro € surdo) sio dois fonems. Podese distinguir entre ara € aso, raga © r0sa, por exemplo, simplesmente com o auxitio da distingdo entre s © z. O espanhol também possui os dois s, ‘mas apenas como duas varizmtes do mesmo fonema, uma vez ‘que © fonema 5 se pronuncia automaticamente como sonore antes de uma consoante sonora (mismo), como surdo em todas as outras posigdes (casa, mes). Esa lingua possui, como ‘© portugués ou francés, diferenga fonética entre s © 2, mas nfo a emprega no seu sistema funcional. Em espanhol nao hd oposigéo entre s ¢ 2. © espanol possui uma série de oclusiyas sonoras (b, d. 4). @ par das quais existe uma série de constritivas sonoras, ‘com © mesmo ponto de articulaclo. Mas estes nfo sto mais do qué variantes dos fonemas b, d, g. A Iingua servese de (€) Eni espanhol com no italiano ewister outras variantes yors: lieas de matureza combinatéria de que nfo falamos aqui. [167] cama ou de outra (oclusiva ou constritiva), contorme a pasicio mais ou menos forte em que se encontram os fonemas na caleia promunciads. © espanhol nifo pode opor, por exemplo, tum d oclusive ao constritivo coresponidente (como 0 fz. 0 inglés: day: they). A diferenga fonétéca oclusiva sonora: cons- itive sonora nao € pertinente em. espanol. © sneco oferecernos um bom exemplo de-uma lingua em que se emprega uma diferenca melédica para distiguie uma ppalavra de ovtra (cf. pag. 149). 0 acento enusical & nesta line gua, nim trago pertinence da esteutura fonética da palavra. Tratase de um prosodema (trago proséaico distinivo) ou, uma vex que meste caso se trata de um fenémeno musical, um toneme, Os diferentes tons do chinés sio também tonemas. No caso em que 2 duracio sefa empregada como meio dis- Lintivo (lati venit: venit; francés béte: bette, etc.) chamase, 4s veces, cronema. Na fonética americana, os prosodemas chamam-se também Fonemas (fonera de duragko, fonema de som, etc.). Estes exemplos bastario para mostrar qual é o género de andtise funcional (estrutural on sistemolégica) que deve com- pletar nocesshriamiente a antlise fisica dos sons e das anticula- Ses. Se mos contemtarmas com registar que © espanhol posui ‘como © portugues ou o framcts, duas espécies de s (sonar surdo), 0 como o inglés um d ochusivo e um som comes Pondente fricativo, sem mos preocuparmes com 0 facto de que estas diferencas fanéticas funciona diferentemente num Iin- gua ¢ nautra, negligenciamos um aspecto importante das par- tioularidades fonécicas das inguas em causa. [168] A FONOLOGIA © estudo cujo objective & Geoerminar as distingdes foné- cas que, em dada lingua, tém valor diferencial ¢ estabelecer ‘ sistema de fonemas e de prosocemas, & frequentemente desig- amo por fouoloyia. A fonvlogis, womaia areste sentido, fot fundada om Praga hé cerca de tints enos, por um grupo de linguistas’ (Troubetzkoy, Jakobson © outros), o que explica 0 rome de escola de Praga. Mas como a palavra fonologia tem sido empregada também com outtas acepsies (para Gram ‘mont, com as de fonética acistica ¢ fisiolégica gerais; para ‘outros, com 0 sentido de «fométicay simplesmente), cettos line guistas preferem © termo fontemética (do inglés phonemics) ‘on falam simplesmente de fonética furcfonal, FONETICA E FONOLOGIA A fonética propriamente dita, tal como foi descrita aos capfnilos precedentes, ¢ a fonologia cujos principios gerais aca- ‘bamos de enunciar sumariamente, no so duas ciéncias auts- rromas ¢ independentes. Foi um grave eo da parte da escola de Praga ter quevido estabelecer uma separacio nftida entre ([feiBticd —oléncia, natural que se serve de meios_instrumen- _tb—d foniologia— ciéacia iingulsics, 0 eanwdo dos Tactos “aelisticos”€ fisiolégicas da palavra humana deve prosseguir paralelamente 20 estudo da funcio das diferentes unidades ¢ da estrusura do sistema de que nos servimos ao falar. A fono- logia estabelece 0 mimero de oposigdes empregatas ¢ suas rela. ‘sBes miituas, A fonética experimental determina, com of seus [169] diversos métodos, a natureza:fisica fisiolégica das distingSes: ‘vegistadas, Sem a andlise linguistica dos sistemas ¢ das unidades. funcionaés, o experimentador no saberia como pproceder. E sem a andlige fisica ¢ fisiolégica de todos os fenémenos de promiin- cia, o Tinguista ignoraria @ maturers concreta das oposigées cstabelecas. Os dois géneras de estudos Sio interdependentes © completamse. Seria imitil dar prioridatle @ um ot outro # preferivel, pois, agmupé-los conjuntamente sob a dénominagio {geral tradicional de fonética, (270) CAPITULO 12 A fonética evolutiva AS EVOLUGOES FONETICAS sabido que a promincia He uma lingua no permanece sempre igual. Soffe, sio decomer da sua histéria, nume- rosas mudangas, 25 vezes muito lentas, eutras bastante répides. © simples facto—jé aqui assinalado—de a ortografia nem sempre conespontder & prontincia, prova que esta outrora foi diferente do que é hoje. A promincia wansformouse, mas a antiga ortografia foi conservala (?). A linguagem escrita é ‘mais conservadora Jo que a falada. Quando se trata de saber porque muda a promtincis, 0 investigador encontrase porante dificuldades quase insuperi- veis, Os sons no sio os tinicos elementos que mudam sume LUngua. Também mudam as formas, 0 tipo de sintaxe, 0 Yoow (Nao se trata da \nica explicagio da falta de correspondéncts centre a ortografia ¢ a promiincia, A ortografia frances, por exemplo, conserva muitos. vestigios das preacupagées etimolégicss dos. gramd- cot da Renascenca. Recondess também que © noso alfabeto—her- dado dos Romanos — se presta pouco a reproduair es fonemas de muitas dos Nnguat:modernas. (373) utdnio € 0 estilo literdrio, Ultrapassarfamos, porém, os limites deste pequeno livzo se abordéasemos mo seu conjuunto © pro- Dlema da evolucio Linguistica que, aliés, no & provavelmente Sendo um aepecto particular de um problema mais geral, 0 a transformacio de toda 2 wida social, politica © cultural, © da transformacio de todas as regras que determinam con- Juntamente a5 relagbes entre os homens. A linguagem humana um facto social € a5 mudangas softides pelos hébitos lin- guisticos de um grupo indo se explicam senio no quadro das tmansformagées dz sociedade em geral. Seria fals0 pretender solar uma Yngua do seu meio, sem 0 qual néo se compreende © do qual roflecte tanto os caractores estévels como as trans: formagbes. Limitarnosemos aqui a uma anélise répida © necesshriamente suméria de alguns dos éactores que contribuem pare determinar o resultado das evolugées fonéticas. © PAPEL DA FONETICA COMBINATORIA Demos anteriormente alguns exemplos de mudancas fond ticas que se produziram no daconr da histérla do francés (ott de outras linguas) © que em parte se explicam por fenémenos de fonética combinatéria (assimilagto, dissimilagko, diferen- cinglo, facilidades de promincia, etc.), Tratase ineghvelmente de factores que actuam permanentemente uma lingua € tiam, por todo 0 Indo © sempre, peqtenas mudangas de pro- incia. Algumas destas mudangas tém um carfcter efémero, outras assentaram ¢ acabaram por entrar aa morma. Desde hd muito que se dé importancia sobretude ao papel da assimi- C374] lagio 1a histéria fonética das linguas. E, na verdade, deve-se ‘um grande mimero de fendmenos de fouttica histénica a uma vendéncia amsimiladora, Vimos, por outro lado, que a lingua mites vezes reage contra os efeitos mefastos da assimilagao ‘usando. certas tendéncias contrénias (diftremoinglo, dissimila- lo). A metitese e a interversdo tém muitas vezes como restl- tado sflabas que so mais conformes & estrutura silfbica da Lingua. As consoantes parasitas (francés viendrai) oferecemsnos ‘outro exemplo de inovagdes fonéticas que tém na origem um fenémeno combinatério (cf. pag. 107) AS REGRAS GERAIS DE GRAMMONT © foneticista francés Maurice Grammont formulou, no: seu Traité de phonétique, as regras segundo as quais os diferentes fenémenos de fonética combinatéria se produzem, regras que parecom str bastante gevais mas Yinguas, Fomnulow igualmente a célebre elei do mais. fortes, segundo a qual, quando dois fonemas se infhuenciam, de qualquer modo que seja, € 0 mais fraco (pela sua posigio na sflaba ou pela sua prépria torca articulatéria) que sofre a influéncia do outro, Se, no francts jusque, que se tomou juchque, o s & assimilado pela chianve {e nfo o inverso), & porque o s neste caso é implasivo (encom tase mo fim da silaba) © por conseguinte mais fraco do que a consoante inicial da silaba, La75) AS’ LEIS FONETICAS Durante muito tempo foi exioma, entre os linguistas, con- siderar que as anudancas dos sons da linguagem se davam en virwade de Jeis que agizm orgamente, as pretenses leis foné- eas. Segundo aquela maneira de ver, 0 mesmo fonema, mum ‘contexte fonétioo dado, softia, na mesma lingua ¢ durante ‘um certo perlodo, idntica mudanga em todas as palavras da Wingua em questo. Se, por exemplo, 0 a latino, em sfkiba aberta acentuaila, passa a ¢ em, toile o morte do domfnio galoromano (a lingua de cif), esta passagem tem de darse inecessiriamente em todas as palavras Jatinas que se conser- vvaram: em francés. Nio se aéfmitiam outras excepybes as leis Tonéticas além das que fossem devidas & influéncia da ana- logia, A tese do cardcter absolut das leis fontticas formulowa, pela primelra vez, 0 linguisea alemtio Leskien (1876), Foram principaimente os chamados neogramédticos que defenderam aquele tese © apoiaram também a dein da superioridade do método histérico em linguistioa, © sett mais oflebre represen- temte fo? Hermann Paul. ‘A geragdo posterior, sodavia, modificou grandemente @ Goutrina neogramética. Num trabalho de 1896, 0 Linguista sueco Axel Kock chamava jd @ atongio para toda uma sétie de Factores que estuzem 2 aes das leis fonéticas. Nem todas as palavras tém a mesma frequéncia na lingua, © qite implica Giferengas de tratamento fonétieo. Uma palavre frequente, quotidiana, sofre mais facilmente os efeitos de uma tendéncia fonética do que uma palavra cara, literiria ou especial. # facto bem conhecido que os diversos instrumentos gramaticais, que silo quase sempre no acentuados (artigos, pronomes, conjun- (176) ‘oes, preposigdes), estdo sujeitas 2 uma muyo fonética muito mais forte do que as paaivras eplenase. Um 0 longo lative cm sflaba aberta acentuatla dé, em francés, eu por intermédio de um ditongo (latim fore (m), francés fleur; latim dolore (m), franc? douleur, efc.). Porém, «ios promiomes pessoais nous € vous (caja vogal remonta fguaimente a um o longo latino © que, segundo @ lei fonética em questio, deveria dar também eu), houve um tratamento fonético diferente que neste caso se explica pelo facto de estas palavras serem empregadas, a rior parte das vents, como Stonas antes do verbo, 0 que implicou um desenvolvimento diferente, Numa palavra fren esa como avocat, 0 @ final remonte a um a latino em slaba ssénica aberta (advocatus) que deveria ter dado um ¢ em francés. Neste caso, a forma da palavra explicese, como em contenes de outras, pelo cardcter emudito do termo. A palavra nfo vive ma boca do povo através as sous, mas foi tomatla ‘20 tatim uma época recente, por o latin ser a Uingua da administrago € da jurisdigfo. Por outro lado, temos o repre- sentante fonético normal do Yatim advosatus no francés avout, © francts & rico em duplas fonéticos deste género (hOtel: hépi- tal; rangon: rédemption). Oucras excepsdes &s Icis fonéticas ‘explicam-se pelo cardcter afisctive ou enfitico do termo em questio. Hoje false mais de tendéncia fonética do que de te. ‘Cada sistema fonético é dominado por certas tendéncias arti- culatérias © estruturais, Na maior parte dos casos estas ten- ncias vingam, enquanto certas palavras, por diversas rezdes, hes escapam. Uma nova tondénoia pode vingar na Lingua do ovo ou mos dialectos ¢ sor combatida em centos ntveis sociais por infiuéncta da norma-padrio. Pelo contrério, uma inovacio ra-roxtsica 77] pode ser aceite pela «sociedatles das grandes cidades como uma moda que se espalha, © no ocomer na fata popular onde a influéncia normative urbana: ao se faz sentir ou & memos forte. 8, por exemple, 0 caso do r posterior mam grande imero de Hinguas da Europa (ver pég. 82). Qualquer inovacio fonética sem, a gua origem mam dado Jugar © provavelmente mum 36 individuo, Mas 96 reveste canic- ter linguistico quando se ton comtim a un grupo inteiro, Um caso de promtincia individual é um possivel porto de per ‘ida de ama inovacio fondtica, mas manca constitui por si wma rmidanga linguistica. Por motives ainda por determiner nas que so, som ditrida alguma, de caricter social, a inovacio espalha-se @ partir do seu lugar de origem, que se torn assim ‘um centro de irradiagio. Quanto mais se afasta deste certro, mais fraco se com 0 efeito da tendénciat A forga e a rapiden da sua expansio dependem do prestigio dos grupos inovadores das facilidades We comumicagio, Esta € a raciio pela qual as regibes isoladas —neas montanhas, por exemplo— so cons vadoras, enquanto as grandes cidatles © a5 regites de agricul- ‘eure desonvolvida so inavadoras, Ne periferia de ume érea linguistics, goralmente, 35 algumas palavras sito atingidas pela amuddanga, Num mesmo dialecto encoutramse palavras modifi- cadas pela tondéncia fonética © outras que, por uma r72%0 ou outta, resistiram & transformacio, Cada palawra vem, no fonda, a sua propria histéia fonética, © term «lei» & portanto, impréprio. As mudangas fonéticas sfo devas & acco de ‘certas tendéncias © nifo @ leis no sentido estrito do termo. (178) GEOGRAFIA LINGUISTICA EA geografia lingufstica (ou dialectologia) que devemos esas novar, descobertas om matéréa de fonética evolutiva ‘A. geografia Linguistica foi fudatla pelo alemio Wenker desenvolvida sobretudo pelo sufgo Gilliéron, um dos fundadores do célebre Atlas lingnistique de la France. Nos mapas dos athas linguisticos 0 foneticista pode estudar a exctemsio de cada pale ‘yea, bem como as diferentes formas foriéticas da mesma paar wa ¢ éragzr, desse modo, os limites da sua expansio, Um esté- io de Wogua ém dado lugar (aldeia, cidade ou provincia) nunca € 9 resultado de wm desenvolvimento absolutamente inintermupto ¢ autictone. Todos os dialectos todas as Linguas sofrem a influéncia de outros falares, e estas influéncias depen- dem, por sua vez, de correntes politicas e culvurais que mudsm no decurso dos séculos, Enquanto, outrora, os difenintes dia- Jectos franceses sofriam sobretudo a énfluéncia dos centras pro- vinoiais (politicos ou eclesidsticas), hhofe sofrem sobremdo a Snfluéncia da lingua de Paris, A evolucio fomética é muito mais complioada, ¢ © estudo da fonétice histérica de uma lingua mnuito mais dificil do que o julgaven os neograméticos A FONETICA EVOLUTIVA E OS SISTEMAS Nos estudos de fonética histérica de cardoter twatlicional havia uma tendéncia para estudar cada fonema isoladamente. Do latim ao francés ou do gemmanico comum 29 alemio moderno acompanhavase a evoluyo sofrida por um som ape- (279) nas on por um tinico grapo de sons, Verificavase que © 0 ‘breve Iatino em silaba abesta abnica se tina ditongado pri reir em uo (etapa conservada pelo italiano; Jatin focu, ita- limo fuoco), seguidamente em ue (etapa do espanhol; espa whol fuego), para chegar finalmente ao francés eu (francés feu). E pretendiase explicar pela fonttica artioulatéria como se tinhem podido produzir estas sucesivas aranstormactes. Mas rio se tomava em considersicio 0 facto de que em.cala etapa da evolugio (latim vulget, galoromano, fraficés arcaico, francés moderno), a ‘vogal ou 0 ditongo em questéo tinka feito parte de um sistema vocilico ¢ que importava ocupar- -se sobretude com o° desenvolvimento do sistema no seu conjunto, Quando uma lingua evolui, nfo so os sons isolados que Sto substitnides por outros sons jsolaios, mas todo. um sistema que se tensforma ¢ € substivuldo por um outro sis- tema de estrucura diferente. Se @ evolucéo fonética de uma lingua tonna esta ou aquela dinecgo—e nido uma outra, igual- mente possivel do ponto de vista puramente fonético—é, smuieas vezes, por influ@ncia do sistema, Nenhum, som evolui independentemente-dos uutros do mesmo sistema, Num sistema Jinguistico wido é ineerdependente 6 posstvel que @ aplicagiio do ponto de vista estrutural ‘em fonética histériea nos passa ajudar em muitos casos a res: ponder a uma pergunta que até hoje continuaya sem resposta, a de saber porque é que tal mudanga se deu num caso € no nontro, A fonética combinatéria apenas nos pode clucldar sobre as possibilidades de evolucto. As regras de Grammont —por muito scertadas que sejam—podem, quando muito, cnsinarnos qual serd o resultado se, um. dado grupo, howver assimilago ou dissimilacio. Mas mio nos dizem porque € que [x80} (© mesmo grupo evolui em tal Hingua, ow em tal época da histécia, € permanece inalterdvel mumaoutra lingua ou durante outro perfodo da evolugio da mesma lingua. © SUBSTRATO ‘Temse reoorrido com frequéncia, (para explicar a eval ‘20 fonética, & influéncia de um-substato, vermo que significa que uma populaglo, ao mudar de Kngua, conserves os seus vvelhos hébitos articulacérios 20 proquniiar os sons de uma ingua importada, Por exemplo, tem-se quorido explicar um certo mimero de fenémenos fométices danceses por um. subs- ‘rato gaulés, O francés seria latim ppromumciado com uma base erticulatdria celta (gaulesa). & desta forma que algums eruditos tém querido exphicar a passagem do u letim (pronunciadlo u) para.o tiem francés, assim como a tondéncia palatizante que dlomina quase toda a evolugio fonética do fromces desde 0 Jatim até & época moderna, Enoamtrasse em certas zonas da América do Sul um espanbol pronunciado com habitos foné- ticos indios (por exemplo no Paraguai). Muitos belgas Salam francés sobre um substrato germanico (flamengo). Nio hd divida de que 0 substrate pode explicar, num grande mimero de casos, as mudangas sofridas por uma Iinggia en certa época ‘ou em certa regio, E mmizos estudiosos ce ‘grande cenome (Ascoli, Brondal, Ven Ginneken, Fouché) insis- ‘dram fortemente na importinoia deste factor ma evoluco foné- ‘ica, Algumas yezes, porém, temse ido longe de mais neste séiiero de explicagio. Importa sublinhar que a influéncia exer- cida por um substrate no € um fenémeno biclégico. Nom & [rery uma questi de ragas, como sustentarari alguns linguistas. Trax ase simplesmente da conservagio, apesar da, adopeio de uma nova Hngua, de uma certa tradisdo’ artioulatéria. O problema tem, pois, um aspecto social. Existe influéncia. do substrato ‘nog casos em que a populacio énidigena cenha tido um presti- aio soctal e cukural bastante grande para que 05 seus hébitos ‘aticulatérios nao tenham sido consideradhis grosseéros. 0 caso’ do Paragual (por wazdes histéricas muico especiais). Mas jd mao é 0 caso de miuitas outras regides da América Latina onde, todavia, o aimero de indigenas era relativamente muito ‘mais elovado, mas onde 0 espaniiol no mostra o mais pequeno trago de dnfluéncias exteriores. A promincia india foi conside- vada grosstira & desapanecen depress) nios mcios dirigentes (). Quando uma Iingua sofre, wdonante um certo tempo, a influémcia fonética de um pavo conquistador (ou de cultura superior), falasse te superstrato, Temse quetido explicar, por exemple, certes fendmenos fonéticos do francés pelo supers- trato germinico (sob os reis frances). Fot sobretudo o roma nista sufgo W. von Wartburg que recentemente defendeu esta tese. Importa fazer, 2 propdsito do superstrato, a mesma obser- vacio que fizemos acerca dos substrates. E preciso conhecer 2 fund a situacKo social ¢ ouleural da regiio © da época para julgar da possbilidae de uma tal anfluémcia. E convém ser prudente nas conthusces. ‘Chamase, enfim, adstrato a énfluénoka sofrida mma Iin- ia por parte de outra Lingua vizitha. 0 francés falado na () © autor destas Haas estudou estes problemas num trabalho fauiuilado Lespognol dans le Nouveau Monde, probleme de laguistique geoérale (Lund, 1948) [182] Alsicia, por exemplo, apresente vestigios da fonética germa- nica. © dialecto sueco falado ma Finlinidia & forsemente ingiten- ciado, do ponto de vista fonétion, pelo dinlandts, etc. Do que se disse tris conclui-se que nem « fonética nem. 1 linguistica sio capazes de explicar por si mesmas as evoiu- Ges fonéticas. # preciso altrapassar 0s limites da fonética —e até'0s da linguistica—para encontrar, se for possivel, todos 8 factores que deteminam em conjunto a evolugdo dos sons © 2 das linguas. ( 183] CAPITULO 13 Importincia e aplicagdes praticas da fonética '=ai4 contrdcio ao préprio espisito da ciéneéa internogarse sobre @ utilidade deme ou Uaquele género de pesquisas ciemtificas, A utllidale—a aplicagio pritica— de uma des- coberta:€ uma consequéncia secunria que jamais pode cons- timir a sua finalidade. O sibio waballrs para aprofundar 0 seu cconbeckmento da navureza do ihomiem,-Os resultados clentiticas cem fisica om em medicina. cuja utitidatte foi das maiores, foram conseguides, quase sempre, sem @ menor inten¢ao utilitieia, A aplicagio prétice tem sido, muitas vezes, uma consequéncia inesperada de investigarées foinas inicamente para sitisfazer a curiosidade do sébio. Se, apesar. disso, consagramos algumas péginas, no fim deste: volume, a discutir as passibilidades de aplicacio pritica @a fonéiica, ao & para motivar ow para. defender uma disci Plina que, como ontra qualquer, é e deve sor oma finalidade fem si mesma, © foneticists tbatha para conhecer melhor a Kinguagem Salada. Mas porque este wokmne se destina sobre- turlo a um pitblico de eiio expecialistas ¢ de principiantes: ma ‘carreira cientfica, convén chamar a’ temo para certos domif- [187] niios nas quais esperamos que as masses pesquisas Zonéticas ‘tenham resultados witeiss © aplicagtes priticas. Uma ver que a fonética é am namo da Iinguistica, & evi derae que & de uma importincia comsiderdvel para os outras campos do estudo da lingua ¥ diffe ser linguista sem possuir sdlidos conhecimentos. de donética. © estudio da histéria dus linguas supe necessariamente uma boa orientacio em matéria de fonttica descrtiva € evolutiva, Para 0 dialectélogo a foné- tioa € indispensivel. E mo dominio d2 teoria linguistica a fonétice foi de capital importincia. A ‘concep¢So estrutural —que dia a dia ganha temeno mo mundo dos linguistas e que consiste em considerar a lingua como um sistema e mio como amdigama de compos heterogéneas—foi primeiramente apli- ‘cada (gragas & fomologia; cf. pg. 169) ao estudo dos sons x Jinguagem. E de um moto geral tem-se progredido mais, do ponto de vista metodolégico, na descrigio estrutural dos sons do que mos dominios ia gramética prapriamente dita ¢ da semintica (0 contetido da linguagem), onde agora se procura, ala. vez mais, trar proveito das experiéncias metédicas feitas ‘80 decurso dat andlise.da expressiio linguistics, Mais este € ainda um exemplo do interesse puramente ciettifice da fonética ENSINO DA DICCAO Acumente @ Hingua falada adquiriu’ uma importéncia ‘autrora descomhecida. Gragas 3 dnwencio do telefane, ridio, fondgrato, altifalante, gravadores de som e cinema sonoeo, a Uingua faladas substinal cada vez minis a Kingua escrita, £ pre- ‘iso saber falar —e falar bem —para atingir © pliblioo con- [188] quistar a influéncia desejata. © motto como se pramncia jé info € assunto privado daquele que fala, mas algo que interessa a todos quantes escutam a5 mensagens dos politicos, artistas fe representantes oficiais da socindatle, O pilico j4 no é, como antigaments, um pequeno grupo de parentes, de amigos ‘on 2 vizinhos, reunidos a alguns metos de distincia, quando muito, & volta daquele que fala. Os ouvinuss podem ser com tadas por mithares € até por milhOss, A DICCKO A arte de bem promunciar tomou asim um lugar impor- ‘ante no ensino modemo e merecia, sem divida, uma atengio ainda maior. A fonética é a base necesstria de quelquer ensino deste género. E preciso conhecer 0 aniccanismo da respiracio € 0 funcionamento da glote para ensinar aos alunos o dominio a fomagiio. Uma respiragio defeituosa © uma Yor rouca desa- _gradam 0 ouvinte © fatigam, quem fala, F preciso conhecer a fundo o wabalho artioulaesrio da lingua, dos ldbios, do. véu palatine, etc,, para poder corrigir os defeitos de promdincia de toda a eapécie que se motamn mum, grande mimaro de pessoas —criangas e adultos. im principio, & « foniatria que se ocupa ae todes 0s fenémenos gatolégicos de promincia, quer sejam de cardcter articulatério (dovidos a imperfeigies natémicas ‘ou a maus hdbitos), quer se expliquem por discirbios contrais (fenémenos de afasia) ox por uma etidiggo imperteita, Ore 0 ‘ratamento dos fenémenos fonéticas patolégicos supde neces stiamente 0 conhecimento da fonética normativa. Quem pre- tender corrigir um s de um aluno, nfo © conseguir’ se no (1897 ccomhacer as carncteristicas fisicas« fisinlégicas do s na norma -paddo. A donéatria & um aspocto particilar da fanética, ou stja, a aplicacto da mesma ao araiamento das imperfeictes € das docngas da linguagem articalada. : A PRONUNCIA DAS LiNGUAS ESTRANGEIRAS ‘Também 0 ensino das Iinguas estrangeiras é um campo fem que a fonérica tem enorme importincia prétice. Quem ‘quiser aprender a pronunciar bem uma lingua estrongeira, tom = conseguir domtinar um grande mimero de novos habicos arti- culatérlos (uma nova base articulatéria; ver pég. 124). Tem de acostumarse 2 ticular os sons estrangeiros exactamente como se faz ana lingua em questio © no deve continuat a servirse 05 habitos préprios da sua lingua materna. Nio se juigue que basta aprender alguns sons novos 1, de oesto, empregar os sons jd conhecidos. E tndo um sistema de hfbitos articulaté- ris, nele comprosndicos @ entoacio e 0 emprego dos acentos epiratérios, que ser substiteide por qualquer coisa de mov. Sem. um conhecimento profundo da fanética das duas linguas em questio, o professar de linguas jamais conseguir’ ensinar 405 seus alunos ama promincia perfeita da nova Hing. Vimos anteriormente que uma lingua ¢ um sistema de fonemas ¢ de prosodemas © que a estrutura destes sistemas difere de uma fogua pare outra, Umas sio mais ricas, outras ‘mais pobres. Nem 0 miimero mem o género de distingtes empre- gadas sto os mesos numa e sioutra lingua. Quem, pantindo de um sistema vocélico pobre, precisa de dominar um voca- [x90] lismo snais rico, ¢ obsigado ‘a aprender a utilizar distingSes actaticas © fisialégicas que, wa sua prépria lingua, ou no existem oa nfo 18m valor funcional, Uim italiano que aprenda francés tem de aprender 2 servinse da'tabializagio como aaco Gistintivo, Um espanhol, ao aprender inglés, ¢ obrigado a aprender a distinguir conscientemente um d oclusive-de um d ‘constritivo. Um estrangeiro que deseje aprender 0 sueco tem de habituarse a servirse do acento musical como trago cons- tiuutivo da palavea © a contrapor uma palavra com © acento 1 @ cutra palavra com o acento 2, Tratase de dificaldades que, fem principio, nfo pertencem ao dominio articulatério. Nao é a articulago labial, nem @ ipromtincia fricativa do d, nem a ‘entoacao como tal que, nos mossos exemplos, constituem difi- culdades para 0 estrangeiro. Fo emprego de mum sistema {Snico diferente. Notese que este aspecto da aprendizagem de ‘uma promincia estrangeira supSe wr andiise dos dots sisternas ‘em causa e um canhecimanto profundo da eswrutura funcional, tanto da lingua a ensinar como da do aluno. © problema, em principio, é idéntico para quem, falemdo lum dialecto ou com uma areata prontincia regional ou popular, quiser desembaracarse deles para aprender a promin- cia comecta, Quanto maior for « diferenga entre a promincia regional e a oficial do ponto de wista dos hébitos articula- tGrios do ponto de vista do sistema éuncional —, mais dif culdade haverd ¢ mais necessétios serdo os conhecimentos fonéticos. A invengio de varios sistemas de transcricio fonética—e sobretudo a criagio do alfabeto fonético nternacional, empre- gado pela Associagio Fonética Internacional (fundada em 1886 polo foneticista framcés Paul Passy) — tem feito. progredir Cir] imenso 0 ensino fomético das linguas estrangeiras. A transcrigio fonética pemmite ab alunio desembaragarse da ortografia ¢ con contrarse sobre a realidade fonética. A escrivuna fonética temde a clar,uma harmonia to perfetta quarto posivel entre 0 texto © 09 sons, Penta € que aiio haa sentio vogais e consoantes, bam como sum aiimero restrito de casos prosédicas mum texto transcrivo fondticamente, Todos 0s pequenos potmenores de fonética combinatéria, de entoagao da frase © os fenémenas rismicos— tio importantes para a dmpressto geral que causa wna Iingua no aspecte onético—, faitam @ maior pare das veges por completo smuma transorigo, ow, quando muito, sio ‘indicados de modo sumério, Este facto talvez explique porque E que, ma fonética escolar tradicional, as vogais ¢ as consoantes cocupaiam sempre lugar mais importante do- que as fendmenos prosédicos (entoasio, acentos, et). Actualmente comecam a usarse cada ver mais a3 novas invengies teonicas, tals como a ridio, 0 giradiscos € 0 gravar dor, no ensino dz promincia. Os alunos podem agora ouvir @ vor dos naturais do pas pronunciar os grupos © as frases © fazer assim, imediotamente, uma ideia da imagen acistica que comesponde 20 texto impresso. Por outro Jado, 0 aluno pode ravar 2 sia prépria vor comparar a sua pronincia com @ a vor. indigena. Assim se apercebe muito melhor dos préprios efeitos. © mesmo enétodo se emprega também, com muito éxito, mo ensino da dicelio ¢ ma corecsio dos defeitos de promincia da Ifogua materna. [isa] A LINGUA DOS SURDOS-MUDOS ‘A aplicagio da fonética 20 ensino dos surdosmudos & também, como ficilmente se compresnde, de capital intereaxe prético, O fhomiem afectado de surdez (quer tena nascido ssurdo quer 0 tena ficatlo antes de aprender 2 falar) fica redu- 2ido, para aprender as anticulacbes mecessérias & producio dos fontsmas, 2 ervirse apenas Ho setido muscular. Faltwlbe, com efeito, a ajuda permanente do ouvido, que, numa pesoa de sautigio normal, controla ¢ guix 0 trabalho articulatério, B, pols, evidente que-o profesor que ensima a falar criangas surdas tem de conhecer a fundo todo © axpactn fisiolégico da fonésica, Um grande mimero de susdos no sio, todavia, comple tamente incapazes ‘de peréeber as vibragGes sonoras, Restamn- Ines algumas facuklades de eudiglo, das quais © médico € 0 pellagogo dovem esforgarse por ‘irar partido, Acontece, com requéncia, que uma pessoa percialmente surda nfo ouve sono determinadas freqincias com exclusio de owtras. Nestes c2t0s preciso conhecer a acistice dos sons da linguagem, par saber ‘0 que & que-tal pessoa pode perceber no eapectio de wm dado som € para saber quais as frequéricias que hdods ser refor- ‘galas, a dim de que os sons da linguagem se The tomem per- ceptiveis e as distingfes se Ihe fomem suficiontemente nftidas para wma Kdentificarko correcta dos fonemas. "A fonética e a audiologia trabaltiam actualmente em con- junto para resolver os problemas da surdez (dotal ou pancal) 13-powtnea [193] ‘A TRANSMISSKO SONORA. 56 recentemente, apds as iltimas descobeitas em fonética aciistica (ver mais atrés, pigs. 153/154), € que os tonicos da ‘ranomissio sonora comesaram a interessarse pela fonética pro- priamente dita, Quando se pretende construir um aparetto sus ceptivel de transmitir, de um modo ou de outro, a linguagem falada—quer seja um microfone, um telefone, ch magneto fone ou um altifalante —, tom de se conhecer @ actistica das vvogais © das consoantes se se quer diayor de um mecanismo apwo a reproduzir todas as vibragées carecteristicas daqueles sons, Jé vimos anteriormente que is fequéncias que 9¢ encon- ‘ram nos espectos obtides nko tém todas importincia: igual para o cardoter do som. Sio as formas que he garantom a jdentidate ¢ que diferenciam os sons ams dos outros. O enge- heiro de som interessarse-4, pois, sobretudo em seber quais as frnquoncias nocentirins para @ identificao dos fonemas € quais a5 que 0 ao sio. Aquelas tém de ser mecessiriamente ‘tansmitides pelo aparelho, star sto insignificantes e potiem ‘menoaprezarse, Conihecimentas de fonéica acistica podem facilitar grandomente © trabalho do engenheiro, Por uma cointidéncia interessante, 0 engethheico do som trata de determinar, por ss lao, patty cats som, of mesmes ‘rages distintivos que o linguist procara, quanto Genta esta elecer © sistema funcional (ostrutmal) da Ungua em questo. £ a partir de pontos de vista completamente diferentes que a ‘técnica do som e a andlise estmutunal da linguagem se encon- ‘mam tmuma intengo comum: @ pesquisa dos fenémenos que, ‘na Tinguagem articulads, slo portadores de significacio, Pre- sentemente 06 linguistas ¢ os t£enicos colaboram Intimamente, [194] em particular nos Estatos Unidos, a fim de resolverem em conjuito os problemas postos péla lingua falada. A fonéica tomou-se, assim, uma ciéncia eminentemente til em mais outro dominio, um terreno absolutamente novo ¢ que até agora no tivera qualquer zelaco com a Hnguistica, Deixaram de existir 05 limites tradicionais entre as diferentes matérias clemtificas. INTRODUGAO Fonétice acistica Fonéciea fisoWigica “ipos articulatériog As vontis ‘As conscantes INDICE CAPITULO © caPtruto 2 CAPITULO 5 CAPITULO 4 CAPITULO 5 5 6 * CAPITULO 6 Classficagio dos sons da linguagem. CAPITULO 7 Fonévica combinatéria CAPITULO 8 ‘A quantidade . CAPITULO 9 Os acentos CAPITULO 10) Fonética experimental CAPITULO 11 Fonologia ou fonética funcional CAPITULO 12 A Fonética evolutiva CAPEFOLO 13 Importincia o aplicagées priticas da fonética ng var aA 187 oprcrNas onkricas. Dy tiveor Bo Spas Liana

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