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O REFORMISMO ILUSTI RADO LUSO-BRASILEIRO: ALGUNS ASPECTOS Fernando A. Novais (Departamento de Histéria da USP) Se examinarmos a posigo dos paises ibéricos, e especialmente Portugal, no quadro geral da Iustraco européia, o que desde logo res- salta é o descompasso entre a “teoria” € a “prética”, isto é, entre a ela- boragéo do pensamento e sua aplicacio. Portugal, efetivamente, foi um dos primeiros pafses a iniciar as reformas (1750, marqués de Pombal); ¢ entretanto nfo foi um dos principais centros geradores do pensamento ilustrado, Neste sentido, faz curioso contraponto com a Franca, centro por exceléncia gerador das Luzes, ¢ onde s6 tardiamente (com Luis XVI, 1774) se encetaram as reformas. Por outro lado, outro traco caracteristico da ilustragéo portuguesa € 0 seu carter de importacio; introduzida de fora para dentro, assinala este fendmeno to caracteristico do século XVIII na cultura lusitana: o estrangeirado, isto é, o intelectual que, saindo para © exterior ¢ respirando os ares da moderidade, se propunha de uma ou outra maneira a “arejar” a pétria, Encontravam muita resistencia: um deles (Antonio Nunes Ribeiro Sanches) escreveria um texto cujo titulo 6 toda uma sintese: Dificuldades que tem um reino velho para emendar-se. Para entendermos essas duas caracteristicas (precocidade das refor- mas, importagio das idéias) da Tlustracio portuguesa, torna-se necessirio considerarmos um dos aspectos mais decisivos da histéria de Portugal na época moderna: 0 atraso econdmico e o isolamento cultural; € em funcio dessa situagio que se pode entender os rumos do pensamento critic, a profundidade das reformas, e os desdobramentos posteriores na metrépole e na colénia. Tendo iniciado os tempos modernos em posi¢fo de vanguar- Revista Brasileira de Hist6ria 105 da, os paises ibéricos, a partir do século XVII, iriam sendo cada vez mais ultrapassados pela Franca, pela Holanda e pela Inglaterra. Paralelamente, a reflexio em tomo do problema procurava descobrir as suas causas ¢ indicar as solugGes, No século XVII, Sancho de Moncada, na Espanha, © Duarte Ribeiro de Macedo, em Portugal, analisaram em profundidade ‘© fenémeno da decadéncia, procurando remédios; € essa preocupacio, essa tematica, dos escritores da época barroca, 6 recolhida pelos pensadores ilustrados. No centro das preocupagdes dos iluministas portugueses, por exemplo os memorialistas da Academia das Ciéncias, manter-se-d 0 pro- blema do atraso em relago & Europa “moderna”. Na medida em que o “atraso” era visto em relagdo a Europa de além-Pirineus, € claro que se entendia que, para explicd-lo, impunha-se a mobilizacéo da nova filosofia, dos paises adiantados — dai o cardter de importagao das idéias, de atualizacio; e por outro Indo, as reformas cram vistas ndo'apenas como-a “promogio das Luzes”, mas também como uma maneira de superar o atraso, tirar a diferenca, e portanto mais ur- gentes, donde a precocidade com que silo atacadas, Dadas essas particula- ridades, entende-se também o cardter moderado da Ilustraco portuguesa, Seja no plano das idéias, seja na sua implemenitagdo politica. O meio era resistenie, havia que caminhar com cuidado, ainda que com firmeza. Enca- ada no conjunto da Europa, a Tlustracdo portuguesa parece situar-se naquela faixa que recentémente o historiador francés Bernard Plongeron denominou de “Aufklaerung catolica”, isto é, 0 esforgo por. harmonizar as inoyagées com a tradigao. Assim, no plano econémico, 0 marqués de Pombal havia dé manter-se fiel a um estrito mercantilismo. Maiorés aberturas, nesse campo da politica econdmica, haviam de ocorrer no perfodo que se seguiu imediatamente a0 pombalismo, no rei- nado de D. Maria I e na regéncia do principe D. Jodo. E de fato, 0 estudo mais acurado dessa época tem revelado mais continuidade que ruptura ‘com a’anterior; a.queda do marqués de Pombal, que se seguiu & morte de.“José’.I, sua perseguico, a libertago dos presos politicos, enfim, a'“viradeita®, no passaram de fenémenos conjunturais. A equipe ditigente, de indole ilustrada, continuou basicamente a mesma, com novos acréscimos. Ainda mais, as reformas ensejando os primeiros frutos, as iniciativas foram avante, ampliando 9 raio de aco. O final do século, Jonge de um ,retrocesso, marca um avanco, aparece como um desdobra- mento: 9 ponto mais alto. da Lustragdo em Portugal, Nada.é,mais indicativo dessa caracteriza¢io que a criagdo, em 1779, da Academia Real das Ciéncias de Lisboa. Sob protegio régia, foram seus fundadores dois estrangeirados: o duque de Lafdes e 0 abade Correia 106 Revised Brasleita de Histéria da Serra, Procurou relacionar a Universidade com a investigacio cientifica ¢ econémica; organizou um musen e uma biblioteca (incluindo livros es- trangeiros); entrou em contacto com numerosas instituicGes: congéneres, no Velho ¢ no Novo Mundo. Mas sobretudo estimulou e promoveu a pro- dugio intelectual nos varios campos, publicando as séries das memdrias. No discurso preliminar (1789) das memérias econémicas, de autoria de Correia da Serra, pode ler-se todo 0 idedrio ilustrado: “O desejo da piiblica prosperidade pode ser igual a todos; basta para isso um coracéo leal e bem intencionado, Néo € 0 mesmo porém em quanto ao modo de concorrer para tao nobre fim, porque as circunstincias, e obrigagées de cada individuo, ou corporagao, lho fixio, ¢ limitam. Dar providéncias, remover obstéculos, extirpar abusos, compete somente 20s ministros do poder soberano; influir com grandes exemplos, intentar grandes estabele- cimentos, cabe s6 aos ricos proprietérios; propagar as luzes, que para este fim Ihe subministram a natureza de seus estudos, € o quanto podem, e devem fazer as corporagées literdrias.” Note-se, desde logo, essa integracao entre o saber ¢ o fazer, tdo caracteristica das Luzes; como alguns memo- rialistas eram também ministros, a integraco era perfeita. Aos intelectuais — 08 “filésofos” — cumpria investigar a realidade, com as luzes da Razio; ‘aos agentes do poder (os ministros escudados no poder soberano) implan- tar as reformas: assim se dominaria a natureza e regeneraria a sociedade, voltando a Idade de Ouro. Procedeu-se, entio, a um auténtico survey do reino ¢ das colénias. Das memérias (muitas permaneceram inéditas), varias podem considerar-se “regionais”, isto é dizem respeito a uma provincia, regiéo, capitania, ou um. simples conselho. Exemplo desse iiltimo caso, a famosa Memoria agronomica relativa ao conselho de Chaves (vol. 1 das Memorias eco- nomicas, 1789), de José Inacio da Costa, onde se procede a uma critica contundente das persisténcias feudais, ou senhoriais, a barrar 0 progresso da agricultura, Henrique da Silveira estudou 0 Algarve, Rebelo da Fonseca tratou do Alto Douro, Bacelar Chichorro cuidou da Extremadura, Ribeiro de Castro dissertou sobre Tras-os-Montes, Cust6dio J. G. Vilas Boas des- creveu 0 Minho; Minas Gerais foi objeto de varios estudos, de Vieira Couto, José Joaquim da Rocha, Eloi Otoni; Sdo Paulo atraiu as atencies de Marcelino Pereira Cleto; sobre o Rio Grande do Sul escreveu Gouveia de Almeida; bem assim a Bahia, Mato Grosso, ete. Nesses trabathos, quase sempre se procede a descri¢fio geogrifica (“fisica”) e as condigdes sécio- econémicas (“morais”), indicando-se problemas, fazendo-se sugestdes. ‘Mais especificas, as memérias sobre a agricultura revelam a incidéncia da fisiocracia. O titulo de uma delas é ilustrativo: Memoria sobre a prefe- Revista Brasileira de Hist6ria 107 rencia que em Portugal se deve dar @ agricultura, de Domingos Vandelli; mas a de Francisco Antonio Ribeiro de Paiva (Memoria sobre a necessi- dade de fomentar a agricultura e as artes) indica-nos que a influéncia fisiocritica no era absoluta. Nao apenas a agricultura em geral preocupava os académicos ilustrados; varios estudos setoriais foram realizados, como sobre a oliveira (Vandelli), algodio (Loureiro, Arruda Camara), vinha (Lacerda Lobo), castanheitas (Fragoso de Siqueira), azinheiras, sobreiros, carvalhos. Tomés Antonio Vilanova Portugal tratou dos terrenos baldios, para cuja cultura Alvares da Silva propunha organizar-se uma companhia. Varios trabalhos discutiam as técnicas agricolas. Ao lado da agricultura, a mineracGo era outro tema de grande inte- esse para os ilustrados Juso-brasileiros, Deixando de lado a tradicional reocupagio com os descaminhos, procuraram outras razdes para o declinio da exploragio do ouro. Suas andlises incidiram sobretudo sobre as técnicas da lavra, José Vieira Couto, Rodrigo de Sousa Coutinho, J.J. da Cunha de Azeredo Coutinho e Pontes Leme foram os principais autores de me- mérias sobre o tema. A inddstria nio ficava fora de suas cogitagées: hé uma grande preocupagéio com as matérias-primas (Baltazar Silva Lisboa € José Bonifacio de Andrade ¢ Silva, ambos brasileiros, tratam dos bosques ¢ do uso das madciras). A indistria do sal, do anil, da tinturaria, sio objetos de estudos. A siderurgia cada vex mais é discutida (trabalhos de Ferreira da Camara). Esses exemplos poderiam ser facilmente multiplicados, mas j& sio suficientes para indicar o clima geral do movimento ilustrado, Importa-nos fixar, agora, as dominantes tedricas, para compreendermos a forma como equacionaram os problemas coloniais, e a politica que levaram a efeito em relagdo ao Brasil. J4 indicamos o cientificismo subjacente a todo pen- samento ilustrado ¢ aqui fortemente manifesto; a crenga de que a natureza © mesmo a sociedade stio moldaveis pela forca da Razio — donde o oti- mismo caracteristico das Luzes. No plano econémico, porém, que é por ‘onde os problemas coloniais se apresentavam, a sifuagéo concreta que se enfrentava em Portugal — a pequena metrépole defasada e a imensa co- Tenia potencialmente rica — fazia com que os pensadores ¢ estadistas moderassem a adoc&o das novas idéias. Assim, a penetracdo das idéias fisiocréticas, bem como a economia classica inglesa, misturam-se com 0 mercantilismo tradicional dando lugar a um mercantilismo ilustrado. Aban- dona-se a ortodoxia mercantilista, mas mantém-se certas linhas de politica ‘econdmica tradicional. E este o esquema tedrico que orientaria a politica colonial da tiltima fase do Antigo Regime, - 108 Revista Brasileira de Histéria Efetivamente, se procurarmos uma caracterizagio mais geral para a forma de pensamento da ilustraco portuguesa, é a um ecletismo que nos devemos referir. “Com a descoberta das terras do Oriente e da America, cresceram em Portugal as riquezas de convencao, porém as reais dimi- nuiram. O ouro e a prata so sinais, e 0 prego das cousas, ¢ assim como ‘0s demais generos, na abundancia tem menos valor, e maior na raridade, Os Estados, porem, so felizes no pelo aumento do prego das cousas, ‘mas sim pela abundancia das mesmas.” Assim se expressava José Verissimo Alvares da Silva, numa meméria de 1782. E aqui deparamos uma critica muito clara ao principio fundamental do mercantilismo, ou seja, a idéia metalista, Se este trecho leva-nos a pensar na influéncia fisiocrética (como ‘a meméria, acima citada, de Domingos Vandelli), outros apontam para a presenga da economia clissica. Veja-se, por exemplo, a afirmagio de José de Abreu Bacelar Chichorro (Memoria economico-politica da Pro- vincia da Extremadura, 1795), segundo a qual “a terra, posto que frutifera de sua natureza, e capaz de reproducio, ndo é por si s6 bastante para formar a felicidade e riqueza péblica”; concluindo que “a industria do homem 6 somente quem forma a forga, a grandeza, a felicidade e a riqueza de uma nagdo”. A influéncia do classicismo, aliés, iria crescendo até tornar- se dominante em José da Silva Lisboa, cujos Principios de Economia Politica datam de 1804. Em Domingos Vandelli encontramos esse ecletismo formulado teori- camente, Na sua meméria de 1789, sobre a agricultura, lembrava que “todos os amos da Economia Civil, para que seja util ao Reino, devem ser regulados por principios deduzidos de uma boa Aritmética Politica, assim ndo se devem seguir sistemas, sem antes examiné-los e confronté-los com as atuais circunstancias da nacio” (grifo nosso). £ esse pragmatismo que o faria justificar Pombal, que “‘seguiu o sistema de Colbert”, dado 0 “estado no qual se achava o reino, necessitando de total reforma”. E aqui encontramos © perfodo de Maria I, na pena de um de seus expoentes, visto como um desdobramento, no como a negagéo, do pombalismo. Tratava-se, como se vé, de ajustar os esquemas te6ricos conjuntura espe- cifica, num ecletismo pragmético revelador de grande argticia politica. E mais uma vez, se queremos compreender as razdes dessa postura mental, € para o problema do atraso que temos que nos voltar. Jé nos referimos ao fato de que essa questiio — a decadéncia —, discutida desde 0 século XVI, fora retomada pelos memorialistas da Academia. De varios ‘modos, a propria instituicfio propunha “discursos” sobre o tema, sugerindo apresentacdo de como promover o progresso para superar o atraso em relagio & Europa das Luzes. O prdprio discurso preliminar das Memorias Revista Brasileira de Hist6ria 109 Economicas, que ja citamos, em que se programam os estudos “para o adiantamento da agricultura, das artes e da industria, em Portugal e suas conquistas”, chamaya a atengéio para “a triste experiencia do passado”, em que “a substancia da Nagao, e sua riqueza, vimos por largo tempo passar aos estranhos em troco de generos que ou de si cresciam em nossas terras, ou pouca industria se precisava para naturaliza-los”. Tratava-se de pro- mover 0. conhecimento “do que a Nacio 6, e do que pode ser, pelo que jd tem sido”, Note-se, nesse trecho fundamental, de um lado a importancia dada a0 conhecimento do pasado; e de outro 0 fato de nfo se limitar constatagéo da decadéncia, mas ainda apontar que ela se deu em bene- ficio de outros. Nessa mesma linha aprofundaram suas andlises José Manuel Ribeiro (Discurso politico sobre as causas da pobreza de Portugal) e Fran- cisco Antonio Ribeiro de Paiva (Memoria sobre a necessidade de fomentar @ agricultura e as artes; causas de sua decadencia, e meios de as fazer Horescer em Portugal), cujos trabalhos, entretanto, permaneceram inéditos. Em muitos desses textos — a memérias de Alvares da Silva, Van- delli, Soares de Barros, José Manuel Ribeiro —, os académicos sustentam a idéia de que-a decadéncia decorreu precisamente do excesso das con- quistas; idéia jé expressa por Camées, na famosa fala do “velho do Restelo” (canto IV dos Lusiadas), ¢ depois retomada por Antonio Sérgio no ensaio sobre “politica de transporte” ¢ de “fixacio”. Para nossos objetivos, aqui, contudo, 6 que importa nao € a explicacto da decadéncia, mas as impli- cages que a sua constatagdo tinha na formulagdo de uma politica colonial, na época da Ilustragdo. Ora, essa constatacio fundava o ecletismo ¢ 0 pragmatismo, Pequena metrépole, defasada em relagSo as poténcias avan- gadas da Europa, detentora.de extensos dominios ultramarinos — nao podia, dada a situaco peculiar, aplicar a mesma politica, seguir os mesmos ditames, ou, como diria Vandelli, ater-se a “sistemas”. Tampouco podia cruzar o$ bragos, pois 0 atraso se aprofundava; a concorréncia color se avolumava, 0 contrabando forcava o exclusivo, os colonos comecavam a inquietar-se. Na quadra final do Antigo Regime, a emergéncia do indus- trialismo redefinia as tensdes, obrigando a ajustamentos. Ajustar-se, preci- samente, mobilizando 0 pensamento ilustrado, moderando-o, aplicando-o a conjuntura especifica — eis 0 que procuravam te6ricos e estadistas da Tlustracdo luso-brasileira. Foram longe na andlise da situacdo. Rodrigo de Sousa Coutinho, analisando a situagio da mineracao, refutava as versdes mais vulgares da fisiocracia que condenavam sem mais as atividades mi- neiris; indicava que a utilidade das lavras dependia do grau de desenvol- vimento manufatureiro da metr6pole, noutros termos, a austncia de manu- faturas tornava perniciosas as minas, que, integradas numa economia mai 110 Revista Brasileira de Histéria desenvolvida, seriam sempre benéficas (Discurso’ sobre ‘a verdadeira in- fluencia das minas de metais preciosos na industria das nacoes, 1789). ‘Assim se apreendiam as conexdes profundas da crise: a exploragio da colénia era condi¢ao de desenvolvimento da metrépole ¢ ao mesmo tempo pressupunha esse desenvolvimento, Apenas um progresso simultineo das duas partes (colénia/metrépole) poderia romper o circulo vicioso. B ainda o mesmo Rodrigo de Sousa Coutinho, ao mesmo tempo te6- rico da Academia e ministro de estado, quem, fundado naquelas andlises, formularia os principios da ideologia colonial da Iustragio portuguesa. Na Memoria sobre os melhoramentos dos dominios na América (1797), insiste na peculiaridade, para transfiguré-la, ideologicamente, numa vantagem: “Os dominios de S. M. na Europa nao formam.sendo a Capital e 0 Centro de suas Vastas possesses. Portugal; reduzido a si 6, seria dentro de um breve periodo uma provincia de Espanha, enquanto servindo de ponto de reunio ¢ de assento & monarquia que se estende a0 que possui nas ithas de Europa e Africa e a0 Brasil, &s costas Orientais e Ocidentais da Africa, € ao que ainda a nossa Real Coroa possui na Asia, é sem contradigao uma das Potencias que tem dentro de si todos os meios de figurar conspicua ¢ brilhantemente entre as primeiras potencias da Europa.” Aqui, a depen- déncia da metrépole em relagdo as colénias, e em especial a colénia (“os mais essenciais de nossos Dominios ultramarinos, ... as provincias da ‘América, que se denominam com o genérico nome de Brasil”) aparece sob a forma de comunidade de interesses, que era precisamente 0 que naufra- gava na crise do sistema colonial; esta, na realidade, revelava. 0: antago- nismo entre os dois pélos do sistema, Exatamente, essa preocupagéo-com a crise, que ja se manifestara na independéncia dos Estados Unidos, conduz © discurso do colonialismo ilustrado: “A feliz posico de Portugal na Europa, que serve de centro ao comercio do norte ¢ Meio Dia do mesmo continente, ¢ do melhor entreposto para o comercio da Europa com as outras trés partes do Mundo, faz que este enlace dos Dominios ultrams- rinos portugueses com a sua Metropole seja tio natural, quanto pouco © era 0 de outras colonias que se separaram da sua mae-patria. ..” Logo, para o idedlogo ilustrado, 0 vinculo colonial no caso portugués (Portugal- Brasil) & natural e os dos outros, obviamente, artificiais, tanto que s¢ estavam rompendo, E essa condic&o feliz e “natural” parece derivar da posigiio geogrdfica, quando na realidade era produto da’‘histéria, a hist6ria da colonizacio. Importa notar que toda essa mistificagié ideolégica ‘deri- vava da anélise acima referida: efetivamente, tendo-apreendido as relacdes Revista Brasileira de Histéria mm teciprocas de atraso ¢ interdependéncia metrépole-colénia, s6 restava Pressupor a possibilidade do “bem comum” de ambos, para evitar a alternativa da separagio, A passagem dos prinefpios gerais para a formulagdo prética da politica econémica colonial caberia a um brasileiro particularmente engajado no movimento reformista ilustrado: 0 bispo economista José Joaquim da Cunha de Azeredo Coutinho, © ponto crucial de seu Ensaio economico sobre 0 comercio de Portugal e suas colonias (publicado em 1794, ¢ em 1807 traduzido em inglés) é indiscutivelmente aquele em que, invertendo © principio mercantilista, preconiza a diretriz segundo a qual a metrOpole pode, e mesmo deve, ter um comércio deficitério com a colénia, para té-lo superavitério com as demais nagGes. Nas suas prdprias palavras: “A me- tropole, ainda que em tal caso seja devedora as Colonias, necessariamente hé de ser em dobro credora aos Estrangeiros; ela precisamente hé de fazer para com uns ¢ outros duplicados Iucros; ganharé nas vendas, ganharé ‘nos fretes, ¢ nos transportes’para todas as partes, pela extensio de sua marinha, e do seu comercio. Que importa pois que a mie deva as suas filhas, quando ela é em dobro credora aos Estranhos?” Ou, noutros termos: “Em uma palavra, quanto os interesses, e as utilidades da patria-mae se enlacarem mais com os das colonias suas filhas, tanto ela seré mais rica; © quanto ela dever mais as colonias, tanto ela ser4 mais feliz, e viveré mais segura. O credor sempre olha para o seu devedor como para sua fazenda; ele concorre para seu aumento, ¢ no o quer jamais arruinar, nem perder de vista: o devedor porem nfo quer nem ver o seu credor, ¢ quanto ele se faz menos soluvel, tanto mais procura a ocasiio de Ihe fugir.” Também aqui, evidentemente, procura-se uma forma de contornar a tensao entre a colénia e a metrépole, que se ia agravando na crise. Formaimente, 0 argumento € fraco; pois se poderia lembrar que, entdo, seria a metropole que tenderia a fugir da colénia. Na realidade, essa formulagdo levava a prética as andlises anteriores: seria possivel a vantagem de ambos os lados (colénia e metr6pole, Brasil ¢ Portugal), desenvolvendo-se simultanea- ‘mente; com os produtos coloniais, a metr6pole teria um comércio vanta~ joso com as demais nagdes. A posicdo de “entreposto” da metrépole, men- cionada claramente por Rodrigo de Sousa Coutinho, aparece como algo natural; oblitera-se a possibilidade, igualmente vantajosa, de a colénia comerciar diretamente com as nagées. Os estudos sobre 0 comércio colonial desta iiltima fase do Antigo Regime minuciosamente conduzido em investigagbes recentes baseadas nas 2 Revista’ Brasileira de Histéria balangas de comércio (1), mostram claramente como essa politica foi le- vada a efeito, com resultados palpaveis. No final do século XVIII e inicio do século XIX a balanca comercial portuguesa assinala saldos crescentes em seu comércio com as nagées estrangeiras ao mesmo tempo que déficits no comércio com o Brasil. © cémputo global, entretanto, era claramente favordvel a Portugal. Por outro lado, pode-se constatar serem os produtos. coloniais — reexportados — que garantem as vantagens portuguesas no comércio internacional; igualmente, 0 mercado colonial ia garantindo o escoamento para as manufaturas metropolitanas, que assim se consolidam, diminuindo as importagées. Mais ainda: as balancas de 1776, 1777 ¢ 1787 (as séries continuas comecam em 1793) indicam uma situacio oposta, isto é, uma balanca superavitéria com as colénias € deficitéria com as nagdes estrangeiras, e desvantajosa no cOmputo geral. Pode-se constatar que a inversao das tendéncias deu-se entre 1787 e 1796. Se nos lembrarmos que 0 Ensaio economico de Azeredo Coutinho se publicou em 1794, fica claro que a implementacdo da politica foi simulténea 2 sua formulacéo. Pode-se, portanto, dizer que a politica ccondmica colonial da Tlustracio- portuguesa nfo ficou letra morta, antes transformou-se numa pratica efe~ tiva; ¢ que o tiltimo perfodo do Antigo Regime configura uma conjuntura de indiscutivel prosperidade, na metrépole e na colénia. Somente as inva- sdes napolednicas viriam alterar essa tendéncia, Para a obtencdo desses resultados, reformas ¢ fomento foram imple~ mentados simultaneamente na metrépole e na colénia, em Portugal e no Brasil. Se as reformas propriamente sociais encontravam grande resistencia, de toda mancira os alvarés de 17/12/1789 4/4/1795 promoviam a su pressio do “maneio”, antigo tributo. Mais ainda: extinguia-se definiti mente a justica senhorial. (2) Mantinham-se, porém, as companhias privi- legiadas das vinhas ¢ da pesca. Onde os éxitos foram maiores, persistindo: uma politica vinda do consulado pombalino, foi no esforgo de industriali- zacio. Em 1788 (5 de junho) a antiga Junta do Comercio (de 1755) passava a denominar-se Real Junta do Comercio, Agricultura, Fabricas, ¢ Navegacio destes Reinos, e seus Dominios — ampliando-se, como 0 nome indica, suas atribuicées: a Carta de lei indica que se sentia a necessidade da criagdo de “um Tribunal Supremo, no qual se examinem, se combinem, € se promovam as matérias concementes conservacio, e aumento do 1, Cf, Femando A. Novais — Portugal e Brasil na crise do Antigo Sistema Colonial, 2* ed. Sio Paulo, 1981, pp. 287-294; José Jobson de Andrade Arruda — © Brasil no comércio colonial, Sio Paulo, Ed. Atica, 1980. 2, Albert Silbert — Le Portugal méditerranéen & la fin de 'Ancien Régime, Pais, 1966, 2vs. Revista Brasileira de Histéria ms comercio da agricultura, das fabricas, e da navegacdo, cujos objetos, sendo entre si intimamente ligados, e dependentes, devem portanto ser regidos debaixo de um s6 unico, certo ¢ invariavel sistema”. Entre os deputados do novo 6rgéo, nomeavam-se Vandelli ¢ Jécome Ratton, este dltimo em- ptesério e autor, depois, de um. notdvel livro de Recordacdes (1810). ‘Tratava-se, como se vé, de uma maior integraco na gestiio da ‘economia, englobando também a exploracao colonial, o que vai na linha da politica acima descrita. 0 esforco pelo desenvolvimento manufatureiro continua, ¢ se amiplia, IsengGes so concedidas, ¢ renovadas, para a entrada de matérias-primas; dificultava-se, ao contrério, sua safda. Barreiras tariférias dificultavam a entrada de manufaturas: um alvaré de 1778 taxava a’entrada de: pélvora estrangeira, explicitando que se visava a proteger a fabrica nacional. ‘Lougas, meias de seda, fitas, tinham a importagdo proibida ou dificultada. IsengGes estimulavam, por outro lado, as exportacdes, como no caso’ de lougas e chapéus. Concessdes de privilégios exclusivos sio dadas ‘ou reno- vadas constantemente para as manufaturas nacionais. Um alvaré de 30/6/1788 protege as fébricas de lanificio “erigidas ou por erigir”. Fiacao € tecelagem de algodio so agraciadas com vantagens, bem assim as fébri- cas de vidro. Numerosos so os casos de privatizagio de manufaturas estatais (reais) no periodo de Maria I e do regente D. Joo. Um parecer da época (cujo manuscrito se encontra na biblioteca da Academia das Ciéncias) discute 0 problema, preconizando enfaticamente a privatizagio. Paralelamente, punha-se em andamento a politica colonial, para a qual se chegou, as vezes, a solicitar o parecer dos colonos; é 0 caso do Conde da Ponte, governador da Bahia, que, em 1807, solicita 4 camara municipal opinigio sobre a existéncia de “alguma causa opressiva contra a lavoura”. As respostas deram lugar as conhecidas Cartas economico- politicas, de J, Rodrigues de Brito, publicadas em 1824.’No setor comer- cial — no caso essencial, pois era pelo comércio que se estabelecia a conexio metrépole-colénia — nota-se, na legislacdo, uma permanente ¢ insistente Iuta contra o contrabando, ao longo de todo o perfodo. A peca mais importante, neste capitulo é 0 alvard de 5 de janeiro de 1785, da mesma data do que proibia as manufaturas téxteis na colénia, As determi- nagdes descem em minticia e se agravam em severidade, Se a insisténcia € indicativa da impoténcia em face da pressio externa, ela ndo € menos significativa para a definigo do perfil da politica colonial ifustrada, A nosso ver, 0 combate a0 contrabando marca os limites, a fronteira’ das aberturas liberalizantes; era pois dentro do sistema, nos quadros do ex- clusivo mais geral, que se procediam aos incentivos. O que mais uma vez 114 Revista Brasileira de Hist remete para a analise que se fizera da situagio. Dentro desses limites, a politica procedeu a’ mudancas de grande importancia: em primeiro lugar, © abandono da politica das companhias privilegiadas de comércio, vindas da €poca pombalina. Tanto a companhia do Grao-Pardé e Maranio, quanto a de Pernambuco ¢ Paraiba, ndo tém renovados seus privilégios, Isto. significava, basicamente, reduzir os mecanismos do comércio exclusivo @ sua expressio minima ‘dentro do sistema, permitindo algum desafogo para’ os colonos, que sempre reclamavam das companhias. Na mesma linha suprimem-se os prinicipais “estancos”, isto é, monopélios especificos: sio removidos o estanco do sal e 0 do contrato da pesca da baleia. Motiv de permanentes reclamagées dos colonos, os estancos foram objeto da anilise critica dos te6ricos ilustrados, Azeredo Coutinho, no Ensaio eco- nomico,.indicava os efeitos negativos no s6 para a colnia, mas para-o conjunto luso-brasileiro: “O sal, este genero da primeira necessidade, para ‘@ conservagio das carnes, e dos pescados, é naqueles sertées de uma ca- restia suma, © sal com que naqueles sertées se salga um boi custa duas, ® tres vezes mais do que vale o mesmo boi; da mesma sorte o peixe.” E Jogo adiante: “Alem dos muitos contos de teis que se tiram todos os anos do Brasil para se enriquecer um homem, que remata 0 contrato do sal; perdem, ou deixam de lucrar os colonos, e todo o comercio de Por- tugal os interesses incalculdveis, que alids poderiam tirar da grande abun- dancia dos pescados, e das carnes salgadas, etc; € 0 erdrio regio, s6 por 48,000§000 reis, que recebe todos os anos, se priva dos muitos 48 contos, que necessariamente deveriam produzir os direitos destes generos nas al- fandegas, se a carestia do sal os nao fizesse impraticaveis.” Na mesma linha de idéias, José Bonifécio de Andrada e Silva — o futuro “patriarca da Independéncia” — na sua Memoria sobre a pesca das baleias (1790), analisando os efeitos técnicos na exploracio, atribui grande responsabili- dade a0 contrato exclusivo, pois “o aumento e perfeico desta pesca ne- cessita do aguilhdo da emulagio ¢ da concorréncia”. Grandes interesses, parece, opunham-se entretanto & supressio dos estancos. Procederam-se @ consultas as cémaras da colénia, que obviamente clamavam pela liberali- zaco. A correspondéncia do visconde de Rezende com o ministro Ro- drigo de Sousa Coutinho, em 1798, mostra o processo em andamento. Apenas em 1801, entretanto, o alvaré de 24 de abril abole definitivamente os dois estancos. Na justificativa invoca-se a pritica das “nagSes mais in- dustriosas da Europa”, ‘© mesmo diploma legal (alvaré de 24/4/1801), curiosamente, toma medidas para a promoco da siderurgia: “E querendo beneficiar por todos ‘os meios possiveis os meus ficis vassalos dos Dominios ukramarinos, pro- Revista Brasileira de Hist6ria 15 movendo o adiantamento da agricultura, ¢ facilitando os progressos da mineracdo do ouro, de que tiram a sua subsistencia, e de que Ihes resultam as maiores utilidades; hei por bem conceder-Ihes a graga nao s6 de isentar de Direitos todo o ferro, que das minas de Angola se exporta para of portos do Brasil; mas mandar criar um estabelecimento para a escavacio das minas de Sorocaba na Capitania de Sio Paulo; e animar todos os des- cobrimentos, que em outras quaisquer partes se possam fazer deste metal; € tambem permitir se estabeleam fabricas reais, para com o salitre do pafs se fabricar pélvora por conta de minha real fazenda.” Este incentivo a siderurgia e & indfstria da pélvora mostra como néo se procurou impedir indiscriminadamente a ind@sttia na colénia. A proi- bigdo de 1785 diz respeito exclusivamente as manufaturas téxteis, no a toda indistria; e liga-se ao esforgo de desenvolvimento, na metrépole, da indistria de tecidos, que referimos acima. Os documentos relativos ao desmonte e apreensio dos teares instalados mostram a sua insignificdncia: 13 teares de tecidos de ouro e prata. A justificativa da medida é um exemplo de manipulaco ideol6gica: apela-se para o principio fisiocrdtico segundo o qual a “verdadeira ¢ s6lida riqueza” sio “os frutos ¢ produgies da terra”, Isto quando se procurava por todos os modos incrementar as ‘manufaturas metropolitanas. Esse pragmatismo que tocava a incoeréncia que permitia, também, em determinadas condicdes estimular a indéstria na colonia, E € 0 caso da siderurgia; aqui, o fundamento parece ligar-se & mineragio, isto é, A tentativa de melhorar as técnicas mineiras dotando-as de uma infra-estrutura de manufaturas de ferro, como parece indicar 0 texto do alvard citado. J4 em 1780 0 governador das Minas — Rodrigo José de Menezes, apresentava uma “exposi¢ao” ao Ministro do Ultramar Martinho de Melo Castro, em que propunha “um novo estabelecimento, que A primeira vista parece oposto ao espitito e sistema da administragio dessa capitania, mas que bem examinado se conhece pelas razies, quanto a mim, as mais s6lidas, e convincentes a sua utilidade”. Tratava-se, j6 se ve, da fébrica de ferro; e argumentava: “se em toda parte do mundo é este metal necessario, em nenhuma o é mais que nestas minas; qualquer falta que dele se experimente cessa toda a qualidade do trabalho, ..” Note- se, de um lado, que o governador reconhece que na estrita ortodoxia mer- cantilista no caberia um estabelecimento desse tipo na coldnia; mas a sua proposicao indica, por outro lado, o clima de inovagées dessa tiltima fase do antigo sistema colonial. Note-se também a preocupagio com a produtividade — a “qualidade do trabalho”, ligada a técnica de producio. Num outro documento coeso (a Instrucdo para.o governador da capitania de Minas Gerais, 1780, pelo desembargador Teixeira Coelho) também se 116 Revista Brasileira de Histéria ‘enfatiza a necessidade de melhoria nas técnicas de produgfo, para a reto- mada da mineragio. As memérias de José Bonifacio, Manuel Ferreira da Camara, José Vieira Couto, Eloi Ottoni, mostram a preocupaco do movi ‘mento ilustrado com a mineragio; as pesquisas diziam também respeito A mineragdo ¢ siderurgia em Portugal, como a de José Martins da Cunha sobre as fabricas de ferro de Figueiré, ou de Vandelli sobre 0 carvio, Dos esforcos do brasileiro Manuel Ferreira da Camara parece ter resultado as insteugdes de 1795, aos governadores das capitanias do Brasil, em que se enfatiza a necessidade de desenvolver a fabricacio do ferro na colénia, ‘Trata-se de um notével documento, em que se faz como que um balanco da nova politica colonial: “Sua Majestade tem observado com desgosto que umas colonias to extensas € ferteis, como as do Brasil, néio tenham prosperado proporcionalmente em povoaco, agricultura, industria, e de- vendo persuadir-se, que alguns defeitos politicos ¢ restrigGes fiscais se tem oposto até agora aos progressos. ..” E verdade que todo esse esforco Pouco resultou na pritica, pois nfo se conseguiu implantar a siderurgia; © esforgo seria retomado pelo principe regente D. Joo, j4 no Brasil. Mas, de todo modo, € particularmente importante para caracterizar a politica colonial. Essa preocupacio com as técnicas no se limitou a mineragio. Houve todo um esforgo no sentido de melhorar a producdo acucarcira, pondo-a ao nivel dos melhores métodos. Isso se liga a tentativa de intro dugio (num engenho do Recéncavo baiano) do emprego do bagaco da cana como combustivel, ou de uma nova maquina de moer “feita por dois franceses”. Inventores so estimulados, apresentando-se, por exemplo, um certo Jeronimo Viera de Abreu, que se dirige a0 ministro Rodrigo de Sousa Coutinho em 1798 para descrever “inventos diteis” sobre agticar, anil, arroz, algodao e mineralogia. Esta mesma preocupacdo aparece na remessa de livros, para a colénia, versando os mais variados temas de técnica agri- cola. O ponto de convergéncia era Oficina Literéria do Arco do Cego em Lisboa, dirigida pelo brasileiro José Mariano da Concei¢io Veloso, que divulgava obras sobre agricultura, como os cinco volumes do Fazendeiro do Brasil. Procurava-se diversificar a produgGo, com a introdugio de novos pro- dutos, Ao mesmo tempo, estimulava-se a retomada dos cultivos tradicio- nais, No caso do agiicar, procurou-se — e se conseguiu — aproveitar a conjuntura altamente favorével do mercado internacional do fim do século XVII, segundo as recomendagdes de Azeredo Coutinho (Memoria sobre © preco do acucar, 1791). : Revista Brasileira de Histéria a7 Portugueses e brasileiros participaram dessa formulacdo e implemen- tagio da politica reformista; a Tustracio luso-brasileira promoveu refor- mas no sentido de um abrandamento do sistema de exploracdo (dentro dos limites do sistema colonial), tentando fomentar o progresso de ambas as pegas do sistema, num esforco por desviar as tensGes cres- centes. Estas entretanto vinham de movimentos estruturais, advindos da emergéncia do capitalismo industrial, e dificilmente poderiam ser contidas pelo reformismo. £ extremamente significativo que toda essa politica — que resultou num periodo de efetiva prosperidade — nao abrandou, antes estimulou, as tensdes; © as inconfidéncias foram assinalando 0 inconfor- mismo dos colonos. “Nao é das menores desgracas o viver em colonias” diria um deles (Vilhena, 1802). J4 Tocqueville lembrava que “‘o regime que uma revolucdo destréi vale quase sempre mais que aquele que imedia- tamente-o antecede 118 Revista Brasileira de Historia

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