Você está na página 1de 178
Uma Se oe DA AROUE! bes eiiee {© Porrucat, ais vetito ve quase 900 anos, TEM AsuAHIs- ‘TORIA DOCUMENTADA, 08 SEUS AMAIS, AS SUAS CRONICAS, 05 LIVROS DE LINHAGENS £ AS ACTAS DAS CORTES, AS PROCLAMA- GOES REGIAS, AS LEIS, OS MITOS. MAS MUITO ANTES DE SER PAIS, MILHARES DE ANOS ANTES, O TERRITORIO ONDE NASCEU PORTU- GAL JA BRA HABITADO, QUEM ERAM ESSES HABITANTES? O QUE PAZIAM? COMO VIVIAM? TENTA RESPONDER A ESTAS QUESTORS A MODERNA ARQUEOLO- GIA. ARQUEOLOGIA, ETIMOLOGICAMENTE, # 0 «CONHECIMENTO. DO ANTICO» (aBKHAIOS & 19605), 0 ESTUDO DAS socTEDADES ‘ATRAVES DA CULTURA MATERIAL QUE TEMOS DISPONIVEL QUE FOL FOR ELAS PRODUZIDA B UTILIZADA, AARQUEOLOGIA ESTA NA MODA. O CINEMA FOI 0 GRANDE CUL- ADO, DESDE QUE, £M 198), J HaxnisoN For akgesarou MiU- DOS F GRAUDOS NO PAPEL DO PROFESSOR DE ARQUEOLOGIA Dk. Jonts (alta IinptaNa JonEs)-E VERDADE QUE MUITOS E RESPEITA- DOS ARQUEOLOGOS TERAO LEVADO ANOS E ANOS A TENTAR EXELI- CAR AOS SEUS ALUNOS QUI A VERDADEIRA ARQUEOLOGIA TINHA POUCO A VER COM AS AVENTURAS MAQUINADAS PELA DUPLA LUCAS \ SPIELBERG, MAS NESSA ALTURAIAO «MAL» ESTAVA FEITO. ‘A cEPIDEMIA» TINHA ALASTRADO 2 TEYE COMO CONSEOUENCIA ~ SE EXCEPTUARMOS AMIS? EN SCENE MEDIATICA DA DESCOBERTA DO TUMULO DE TUTANKHAMON EM 1922 - UMA ATE ENTAO INU- ‘SITADA ATENCAO SOBRE ESTA AREA DO CONHECIMENTO HUMANO. ARQUEOLOGIA E CIENCIA, CIENCIA QUE VAI BEBER A CLASSICA FONTE DE CLIO MAS QUE NAO PODE, NEM DEVE, ENIJEITAR 0S CON- ‘TRIBUTOS DAS MAIS MODERNAS TECNOLOGLAS PARA VALORIZAR 'AS SUAS DESCODERTAS, COMO # BOM EXEMPLO A DATAGRO DOS. ‘TECIDOS ORGANICOS POR RADIOISOTOPOS, APROVEITANDO ESTA MARE PROPICIA AO ESTUDO E A DIVUL- GACAO DA ARQUEOLOGIA PEDIMOS Ao ProF. CaRtos FABIAO ~ 3A NOSSO PARCBIRO COM 0 SRL TIVRO A HERANGA ROMANA EAL PORTUGAL ~ PARA NOS CONTAR A HISTORIA DA SUA PAIXAO # ‘COMO ESTA CIENCIA SE TEM DESENVOLVIDO EM PORTUGAL Pots TAMBEM A ARQUEOLOGIA TEM A SUA PROPRIA HISTORIA. ‘Essa HISTORIA TEM MATIZES, CONSCANTE AS REGIOES OU PAISES ONDE SE DBSENVOLVEU. PORTUGALAO E EXCEPCKO, Nesta Uma HisrOria Da ARQUEOLOGIA PORTUGUESA: DAS ORI- GENS A DESCOBERTA DA ARTE DO COA, 0 GRANDE ESPECIALISTA, ‘TRACA 0 PERFILDASUA CIENCIANO Wosso Pais, COMO.COMSCOW, ‘COMO CRESCEU. A QUEM DEVEMOS 0S PRINEIROS PASSOS ~ SEM ‘PRES MAIS DIFICEIS, NAO TANTO PELA ASRANGENCIA DO CONHE- CIMENTO POSTO ANU)MAS PRLAFORCA DE VONTADE NECESSARIA PARA DESBRAVAR INCOMPREENSOIS # PRECONCEITOS QUEM CON- ‘TIVUOU FOR ESSAS VEREDAS ABERTAS A PUISO F NOS OFERECEU 0. PARQUE ARQUEOLOGICO DE Foz Ca, UUTIMA 101A DA COROADO PANORAMA PEE-HISTORICO NACIONAL , No MEIO DESTAS oBSTGRIASy DE HOMENS DE MULNERES| CONTA-NOS A VERDADHLEA HISTORIA DAS GENTES REMOTAS QUE: HABITARAM 0 "TEERITORIO ONDE HOJE VIVEMOS, NOSSOS ANTE PASSADOS, NOSSA FAMILIA GENETICA, A QUEM TUDO DEVEMOS: SIMPLESMENTE PORQUE EXISTIRAM. AQUI. / S00 billet Peoro CoBLHo Vie Peder Coa de art CTF Inrropu¢Ao Os TEMPOS Da SacRapa Lar Escerra £ DOS NOSSOS ANTEPASSADOS ROMANOS > Nas origens:a Igreja enterrada e asreliquias de um Santo > Os tempos da Sagrada Lei Bscrita e dos nossos antepassados romanos AANTIGUIDADE COMO ARGUMENTO DE LEGITIMACAO PoLiTICA: A REAL ACADEMIA DA Hist6Ria Porrucurza > A Antiguidade como argumento de legitimacio politica: Real Academia da Historia Portugueza » Uma Arqueologia Piblica: de Evora Sociedade Archeologica Lusitana A GRANDE REVOLUCAO: 0 EVOLUCIONISMO 1 A ANTIGUIDADE DA TERRA, DAS FORMAS DE VIDA = Do HoMEM > A grande revolucio:o evolucionismo e aantiguidade da Terra, das formas de vida e do Homem ANTIGUIDADE Das Nacoas > A Antiguidade das Nacoes > A Arqueologia na modemizacao do pais > Monumentos e Museus Oskceu1o xx > O séculoxx > Uma nova era:a arte do Céa Patrimonio da Humanidade Um Roreino DA ARQUEOLOGIA PORTUGUESA invice 3 007 3013 2018 3007 300 508) 305 309 3121 313 3 3153 3165 3161 317 > 184 Q@ INTRODUGAO —_Vérias imagens nos ocorrem, habitualmente, quando ouvimos falar de Arqueclogia. Aventureiros e descobertas fabulosas de cwilizacdes per- didas em cenarios exdticos ou, cada vez mais, a sibita revelag3o de que, sob as ruas das cidades que usualmente calcorreamas ou em lugares de paisa gens que nos sao familiares, se escondem, afinal, os vestiges de antigas sociedades. Aqui interessa-nos somente a segunda, No tratamos de palsa- gens longinquas ¢ remotas, mas do territério que & hoje portugués. Nao trata- nos de exotismo e aventura, mas de raizes @ identidade (Na realidad, a Arqueologia é sobretudo @ cistiptina que procura conhecer 0 pasado humano através dos vestigios materiais que dele nos fica- ram, independentemente de sua antiguidade ou do seu esparo geografico. Para 0 fazer, 0s arquedlogos recorremn hoje a diversifcados processus de prospeccao @ delecco, procedendo depcis ao estudo desses ténues vestigis, segundo imétodos adequados & producdo de conhecimento e, frequentemente, recor rendo ao/concurso de outras éreas cientficas. Os locais onde decorrem as investigagGes erqueoligices so usualmente vedados e protegidos, por esses vestigios serem frageis e exgirem um tratamento adequado, por tecnicos qua~ lificedes, © cbjectvo final & invariavelmente o mesme: obter conhecimentos hme. 3009 est wc pines soveree tat sede rita extgaéaemiga? prbetencs dau hry aatigas toro ah wll de mules cet ive ab afer (GeurADAGALINEA ae Alves Peri. 108 ‘xguvea buted Mis Naclnal de quel. Noe wane vedo sobre passado humano e entregé-los sociedade que suporta, directa ovindi- rectamente, os custos destas investigardes. Para esse feito, os arquedlogos socarrem-se dos conhecimentos previamente estabelecidos, dos métados ao seu dispor e, como re poderia deixar de ser, da sua prépria mundivicéncia. A Arqueologia come discilina cientifica nasceu verdadeiramente nos meados do século XIX, acompanhando 9 amplo movimento de construcan ce consolidacdo das ciéncias no mundo ecidental. Tem pouco mais de um século ‘e meio de existéncie, uma idade ja de s suficientemente vetusta para merecer uma abordagem retrospectiva. Contudo, encontremos desde épocas muito anteriores um conjunto de praticas que ndo se atastam muito das modernas indagagdes arqueolégicas, ernbora se distingam profundamente nos conceitos e métodas, Por isso, @ opgao foi recuar bastante mais no tempo, no rasto das diferantes ideias 2 modos de lidar com os vestigios rrateria's do pasado, O presente livro trata dos modos coma a indagacao desse remoto pasado se fol fazendo ern Portugal. Porque esta abordagem tem um cariz hist6rico, porque irata das formas de encarar e interpretar o pesado e porque tudo isto foi feito por pessoes concreles, 2 opcSe foi usar abundante- mente as palavras dos diferentes autores, procurando sempre enquadra-las, conservande o Seu contexto proprio ord talvez surpreendente perceber como o pequeno pels euro- peu poriférico que somos, onde nunca brotou nenhuma das ideias inova- i ‘Arneacrostinices ‘DA GRUTADACISAKEDA Neto eece asgntas td sae 1 Nery Deen bon Acderia das Sands 1067 CoeooParclae om dorasque moldaramestadisciplina cientifica, foi (quase sempre] um lugar onde ciferentes investigadores Souberam rapida e exoedita- Tente incorporar nas sues ordticas as inova ‘Goes e aquisi¢bes intelectuals dos principals centres criadores europeus. Por isso, podemos dizer que este livro trata danossaldentidade ou, methor dizendo, dos mados como ela se foi cons- truindo a0 longo de séculos. Nas suas pdgi- nas abordam-se algumas das etapasjulgadas irais relevanles na construgao de disinas |) dea po Coneat a Anriia . MoxtenacoNomcgp0 tambéin de lugares concretos convocados anqamhstoiedontees ‘Maciora’ de Arquealogta. erenente egies contre desde ee . se elena fitopta brindo, estudando e preservando para meméria futura, procura-se também «ruta piniuentone care ata Ne pide deans fogefcesee feb cla pos s fe xian profi, mente a experiéncia que esta leitura (he deseja proporcionar. ‘eroeeaa andoune ita das dine demereents imagens identitéries. Mas, porque livrotrata estes processos, sitios que se foram desco- fomecer um roteiro basico, onde o interessado poderé prolongar vantajosa~ 0 objectivo central foi norteado pela velha maxima que os lati- Detriadn tsps eam riers ngits nos consagravam & Histérie como géneroliteriio: nsiruire entreter Oxald, dxmeos asda ou de algum modo, o tenhamos alcanado. OS TEMPOS DA rien LET ESCRITA E DOS NOSSOS -———_ ANTEPASSADOS ROMANOS NAS ORIGENS: AIGREJA ENTERRADA E AS RELIQUIAS DE UM SANTO Uma antiga tradicao, fixada na Crdnice 0'el-Rei D, Afonso Henriques de Duarte Galido [dos infcios do-século xvi, referia que o primeira rei de Portugal nascera com deliciéncia nos membros inferiores: «VEIO A RAINHA A PARIR UM FILHO GRANDE E FORMOSO QUE NAO PODIA MAIS SER UMA CRIATURA, SALVO QUE NASCEU COM AS PER- NAS TAO ENCOLIIEITO QUE, A PARECER DE MESTRES F DE TODOS, IULGAVAM QUE NUNCA PODERIA SER SAD DELAS», Egas Moniz, o conhecido fidalgo intimo do rel, tomoua crianga para a criar e, certa noite, durante o sono, «LHE APARECEU NOSSA SENHORA E DISSE: "D, EGAS, DORMES?" E ELE A ESTA VISAO E VOZ ACORDANDO, RESPONDEU: “SENHORA, QUEM SOIS VOs?" ELA DISSE: “EU SOU A VIRGEM MARIA, QUE TE MANDO QUE VAS A UM ‘TAL LUGAR’, DANDO-LHE LOGO OS SINAIS DELE “E FAZ Ai CAVAR E ACHARAS Ai UMA IGREJA, QUE EM OUTRO TEMPO FO! COMECADA EM MEU NOME, UMA IMAGEM MINHA, FAZCORREGER A IGREIAE A IMAGEM FEITA EM MINHA HONRA, E ISTO FEITO FARAS UMA VIGILIA, PONDO O MENINO QUE CRIAS EMO ALTAR: F SABE QUE GUARECERA E SERA SAO DE Topo"» D. Eas «TANTO QUE FOI MANHA, LEVANTOU-SE LOGO E FOI AQUELE LUGAR QUE LHE FORA DITO, E MANDANDO Al CAVAR, ACHOU AQUELA IGREIA E IMAGEM, PONDO EM OBRA TODATAS COUSAS QUE LHE NOSSA SENHORA MANDARA, A QUALAPROUYE, POR ‘SUA SANTA PIEDADE, TANTO QUE 0 MENINO FOI POSTO SOBRE O ALTAR, SER LOGO GUA- RHCIDO # SAO DAS PERNAS.» & Este exemplo esta longe de ser Gnico. Uma outra tradicao, igualmente com milltiplas versoes, evoca a demanda dos restos mortais de Sao Vicente Una Hisronin PaAtQureLoata POrTaUESA [4] te oem a ndeaboalpariode eam épatron Nav wepaesonranno AS ARMAS DE LISBOA live Carmesin is Arquivo Manipal dbo 305 “ O16e Osram os Sucpaaate scare EDDSMOSSOS ANTEPASSADOSHOMANOS e sua trasladacdo para a cidade de Lisboa, no reinado de D. Afonso Henriques. 0 Santo fora martirizado em Valéncia, mas 0 nosso primeiro rei soube que ‘05 seus restos mortais tintiam sido trazidos em segredo para 0 cabo que ainda ostenta © seu nome no ocidente algarvio. Seguindo 0 testemunho fixado por Frei Jodo de So José, em 1577, ficamos a saber que, apis a Conquista de Lisboa, 0 primeiro monarca portugués teria acordado a paz com os mugulmanos, com o {ito de recuperar as reliquias do marti. Uma expedico maritima rumou ao cabo algarvio e, cavando em certo lugar que mostrava vestigios de habitacdo antiga, encontrou as santas reliquias. Na viagem para Lisboa, conta a tradi¢ao, dois corvos acompenharam a barca {que transportou 0 precioso espilio, Assim ganhou Lisboa o seu emblema, # 08 lishoetas o martir valenciano coma patrono. @ Se recuarmos ainda mais no iempo, encon- tramos na biografia que Plutarco dedicou a Quinto Serlério, o general que protagonizou um dos episddios hispanices das guerras civis romans, um curioso relato. Segundo 0 ‘autor grego, durante 0 ano de 80 a.C., Serta- rio teria aberto um antigo timulo, no Norte de Africa, que diziam ser do gigante Anteu, fitho de Gea lterral @ Poseidon (o deus dos mares), morto por Hércules. No seu interior encontrou um gigantesco cadaver, Nesta pequena histéria, encontramos ingredientes anilogos aos do episidio da igreja enterrada ou do resgate das reliquias de Sao Vicente tl Cansttanis Tous deaseal hoes, haa ten Para romanos € gregos, parecia natural a identificac3o de vestigios do passado cam _fealidaces confecdas dos relatos mitoligicns + {4 Em ambos casos, estamos perante suciedades que tém no universo religioso os seus referenciais, identificando-os com as realidades tangiveis que, de outra modo, nao sabiam expticar. Pode dizer-se que temos aqui presentas alguns dos elementos essenciais da Arqueologia: a nocao de que ‘eviste uma Historia enterrada que pode ser averiquada & de que essa His toria esquecida pode ser lida & interpretada a luz dos paradigmvas, concei- tos 2 conhiecimentos existentes em cada época, i Mas, quando tradicionatmente falas das remotas origens da Arqueatagia como isciplina cientitica, é sobretudo ao periado do Renascimento europeu que costumamos remonter, pelo seu particular gosto pelo passade romano, Some on 1 ‘ANTA DAG Carga Algo da andes. ‘eo lesere Vera eke ‘in OAreheslog fortis, WL. ‘Anquvehisicodo doves Naina quel. Os TEMPOS DA SAGRADA Let EScRITA E DOS NOSSOS ANTEPASSADOS ROMANOS Para os europeus do século YVI, 0 passado nao era uma realidade ignota, ‘OQ mundo cristao ocidental tinha na Biblia a sua referéncia cultural, mas também histé- ica. Ao contrario do que hoje sucede, o texto biblico era entendido literalmente e nao.em sentido alegdrico. Assim, todos aceitavam que a Terra, as formas de vida eo préprio Homam tinham sido eriados em seis dias, por accao dwvina. Era possival determiner, através de criterivsa andlise do texto biblico e de complexos célculos, a data exacta da Griagao. Tera sido 0 arcebispo inglés John Ussher a estahelecer, jd no século Yi, a data de A004 antes de Cristo para as Origens. Literalos, académicos e clentistes aceitavam pacificamente essa data € consideravam que o mundo nao podenia ser anterior, nao sé ‘no-século XV, mas também nos seguintes, © Por outro lado, a literatura cléssica ndo se tinha perdido, nem se perdera o ‘dominio das suas linguas [mais da latina do.que da gregal, Fol tambémumaépoca ‘em que se identiicaram e divulgaram vérias obres de autores antigos alé entao pralicamente desconhecidos, ao mesmo tempo quea extensdo da obra impressa Ppossibilteu uma maior eirculscdo dos textos, anteriarmente conlinada avs ‘manuscritos eristentes nas lirrarias dos diferentes mosteiros. Assim, qualquer \terato poderia saber que os fenicios tinham navegado alé ao Ocidente e fundado ‘uma cidade em Cédiz, em 1100 a.C, como a tradgéo iterdria grega asseverava, ‘que 08 mesmos gregos tinham as suas coldnias na Peninsula lbérica e, por fim, ‘que os romianos estendaram o seu Império até estas paragens, a partir dos fins O19 i “APontsa tviann ‘DACA DE HOE ‘Gartive ort, ustragio dl, dive nivel stu abs fon pra yp meas cen ‘beara roma equate faints caaprensy Ae conchas reterdeoutras nj maine ais tosis omar Agra camabateesliana tankéma cirnciode infomagteolre sms fants xdaes aman 020¢ cease 9 do século tl aC,, em conflite com os que aqui habita materials dessas presencas, que ser viam coma factores de nobilitagao de ( Jeste modo, pela conjugacao de ambas tradi- ado es oscritas, sabia fe que havia um pa femoto ndo abrangido pela literatura latina e que a Biblia documentava de n por no tratar da re ota finisterra europeia. Sdo estas as referéncias que devemos ter presente djuando lemios os autores quinhentistas, num tempo marcado por especial fascinio pol Antiguidade. €justamente este fascinio que teva os eruditos de Epoce, habitual nados humanistas, a procul janar, € por vezes forar, antiguidades romanas. E auténlicas ou falsas, ers utilizadas para ilustrar noticias colhi jas na literatura antiga. Unna lapide andé se lia o nome de Felicitas hia via a forte prima pata oconhecimento de uma antiga cidade romana. mas antesa llustrapao material da eS eta | lizagao, cone 9s latinos, De resto, ¢ neste caso, as descricde ogra 15 autores antigos, que situavam 0 vetho a no estuario do Teja, ndo deixavan quaisquer dividas de que aria outrora no lugar ond acidade de Li {6 0 conhecimento histérico vo passadc atura a mindo os vestigios materiais um c: acessirio, como duran muito tempo sucedeu. Numa época em que as nocdes de autoria, originalidade, plagioou fa hojetér » nav tinliam asmmesmasconotag a proliferacao de falsos monumentose documentos. Nao édespiciendaestarmen- = “"* *"helaae at Uma Hosroma sy AnguEoLoalA PORTUGUESA Go 2s falsiicacdes, porque a ideia da mais remota antiguidade da Peninsula [<] ' Lanne rowan Inérice esteve durante muitas décadas marceda por uma destes obras forjadas, Anmenoisien, ‘cin Strato ® Fol um dominicano de Viterbo, Giovanni Nanni, mais conhecido como Anrio de Viterbo, Cleo parte, que apresentou fragmentos de uma suposta hisléva, devidamente transerita, enotada € comentada, alribuica a um sacerdote babilénio de nome Beroso, que teré de facto existe, "urauniiias mas cuja obra se perdeu. Dada estampa nos finais do século Ve dedicada aos Reis Caté- “*Hectbvekata,nio dedi a vhs det licos, Fernand e Isabel, a obra celebra nos monercas espanhais o retorno de unidade cristé 8 Peninsula Ibérica. Constituiu uma referéncia recorrente entre os cranistas peninst- teres, embora logo na época varios autores tivessem questionado.a sua aulenlicidade. Annio fou, se preferirmos, a pseudo Beroso) atrihuiu a colonizacdo da Peninsula tbérica a Tdbal = filha de Jafet © neto de Noé - que aqui teria aportade quando taixaram as Sques do nas fag unaverque en ete cane a fat ait BP psniourecyerrane ss a etn aad lana ie amar sayfa de nore, Pogue cuealin Ls, novssna i exatisoma dept. enantio ares Sen AbmhatnOrtts Ca ws Blots Naina de Poa 3021 Osrnros 4 Le ‘Shauna Li Beers ‘p03 Nos baensstoosrouanes Dilvio, Tlibal teria sido o primeiro rei da Hispania, suicedendo-the o seu filho Ibero, 20 qual ‘se sequi uma extensa lista de monarcas ficticios, O estudrio do Sado era identificado como 6 local onde chegara Tubal, que aqui teria tundado a primeira cidade: O nome de Setdbal conteria, na sua origem, 2 menglo a0 neto de Noé e as velustas ruinas da sua primeira instelaco encontravam-se nos areais da peninsula de Tréia. ‘B Estas talsiticacdes,na época, foram relativarnente frequenies. Interessa-nos reler, sobretuda, o-clara intuito de ligar a monarquia hispanica d retigiso Cato- lica, desdeas suas mais remiolas origens, e a atrivuic30 a Tubal da sua funda- ao. Entre os humanistas portugueses, 0 pseudo Beroso conheceu sorte desigual, rejeitado por alguns, sobretudo por aqueles que mais directamente estudavam 0 passado romano, mas aceite por outros, que tratavam de um modo mais genérico do estudo do passado. Nao sera de todo alheio ao tema 0 facto dea tradigdo estabelecer uma Unica monarquia Hisparica, um tema sen- sivel na cultura portuguesa de Quinhentos, onde sempre se contrapds a idela de Lusitania 4 abrangente denominagav de Hispania, preferida pelos humanis~ tas castelhanos. De facto, esta iltima era a designacao dada pelos romanos a Peninsula ibérica, sendo a Lusilania somente uma das suas provincias, a mais ocidental, mas de modo algum coincidente com o reino de Portugal. {© 0 remoto passado de Portugal: Tibal, o Povoador Para melhor se entender de que modo esta tradican se incorporava no discurso erucito, vejarse a obra de Fernando Olicira, capelao da Casa Real portuguesa, autor do que tem sido considerado 0 primeiro ensaio de uma Histéria de Portugal, um manuscrita datado de cercade 1581, massérecentementepublicady. Na abordagem as ongens, 0 autor sacorre-se dda conjugacao do pseudo Beroso ~ provavelmente nao lido no original, mas através do cro- nista espanhol Floriano del Campo - com ume andlise de falsas etimologias, apoiada pela abservacao dos restos de antigas ruinas, que conferiam verosimilhanga as suas ideias «DAS POVOACOES E NOMES DE TERRAS DANTES DO DILUVIO GzRAL [.] NO QUAL [.] PERECE- RAM TODAS AS MEMORIAS DAQUELE TEMPO, NAO TEMOS NOTICIA ALGUMA NEM SABEMOS (QUE GENTE MOROU EM PORTUGAL, NEM COMO SE CHAMAVA. E, POR 1850, DIZ SALOMAO NO ECLESIASTES QUE NAO HA ENTRE NOS MEMORIA DAS COUSAS PRIMEIRAS, POREM, DEPOIS DO DILUVIO SABEMOS POR CERTA PAMA E ESCRITURAS DE BONS AUTORES, QUE UM NETO DE Noi cHamaDo TUBAL, PILHO DE JAFET, FOI 0 PRIMEIRO QUE COMECOU A POVOAR A HESPA: NHA |.] VEt0 TOBAL A ESTA TERRA, DUZENTOS ANOS DEPOIS DO DILUVIO, GUNDO 2 ROSO, K VEIO POR MAR, POROUANTO VINHA DAS ILHAS, QUE ELE 2 SEUS IRMAOS |. POVOARAM SEGUNDO SE Li NA SAGRADA EScRI- ‘TURA. PELO QUE SE DEVE CRER, SEM DUVIDA, 0 QUE DIZ FLORIO DO CAMPO # OUTROS, QUE TUBAL VEIO APORTAR AO RIO DE SETU BAL Diz ESTE AUTOR, RONISTA DOS REIS DE CASTELA, QUE SETUBAL QUER DIZER ASSENTO DE TUBAL |.) ALEM DO RIO ACHAM- E ALICERCES DE EDIFICIOS ANTIGOS DE CUJO FUNDA- MENTO NAO TEMOS NOTICIA ALGUMA». © 0 texto no poderia ser mais explicito, A Biblia € constantemente convocada para preencher os silén- cios de outras fontes, ou até para os justificar; 0 pseudo Beroso, em primeira mao ou na leitura que dele faziam outros, é usado como fonte credivel; uma intuitiva etimologia de um nome de lugar e os vesti- gios de antigas ruinas fornecem a necessaria com- provagao do argumento, Uma Hisréna 3023 ‘a AnquEo.ocia Iv] Fan Buexanvo ot Biro (ssox6r) Eigesad Vr eah der aettise sao» Gemma 0 Blots Publ de Evo 8 De um modo geral, so estas es grandes referéncias das meis antigas Histdrias de Porlugal, 180 56 a de Oliveira mas também a bem conhecida Monarchie Lusitana, publi~ cada em 1597, da autoria de Frei Bernardo de Brito, monge alcobacense e cronista-mor ido feino de Filipe ||, Nesta obra, onde nao devemos procurar grandes rigores criticos, "por de todo nao existirem 3 época, encontramos a mesma ideia do passado remoto: “NOSSAS ESPANHAS, COM TODOS OS REYNOS E PROVINCIAS QUE ENCERRA DENTRO DE _ 51, TEVE POVOADORES ANTES DO DILUVIO: MAS QUAIS ESTES FOSSEM, E OS COSTUMES, EORDENS DA SUA VIDA NAO HA QU2 DESVELLAR EM OS RETER PORQUE COMO/A Escei- __TURA SAGRADA PASSA ISTO EM SILLENCIO, NAO HA LOGAR ONDE DESCOBRIR COUSAS TAO REMOTTAS » I Contudo, para la da credulidade com que use 0 pseudo Beroso e outras Noticias fantasticas, sublinhe-se que encontramos em Bernardo de Brito uma abertura 4 observacao directa e uma pesquisa de vestigios materials surpreendente, indicando a emergéncia de um novo modelo de conheci- mento, que procurava olhar para la das paginas impressas ou manuscritas. Cite-se, a titulo de exemplo, um caso colhido do Livro primeira da Monarchia Lusitana, relacionado com as primeiras campanhas militares romanes no Ocidente: «COMO 0 EXERCITO VITORIOSO NAO AIA ORDINARIAMENTE RESIS- ‘TENCIA, NEM BRUTO A TEVE EM GANHAR 0 QUE RESTAVA DAQU2LA TERRA: SHNAD FOY HUMA CIDADE QUE VALERIO MAXIMO CHAIMA CINANIA, 0S MORADORES OS QUAIS LHR TIVERAM AS PELLAS MUITOS DIAS, NAO SO COM DEFENDEREM 05 MUROS VALEROSAMENTE, MAS FAZENDO ALGUMAS SAiDAS, EM QUE MATAVAO MUITA SOLDADESCA ROMANA |...| MUYTO DESEJEY DESCU- BRIR 0 LUGAR, & SITIO DESTA CIDADE, & O NOME QUE AGORA TINHAO SUAS RELIQUIAS, 8 DEPOIS DE IMUYTAS DILIGENCIAS VIM A DAR COM AS RUINAS ‘DE CINANIA, LEGOA Y MEA DISTANTE DE GUIMAROLS [ste], EM UM LUGAR Ua ioerime 3025 ALTO QUE FICA 8% RES [..] OS NATURABS DA TERRA COM POUCA CORRUPCAO CONSE NOME ANTIGO, CHAMANDOLHE CINANIA\, Nas suas indagacies, o {rade alcobacense encontrou a Citania de Briteiras, mais tarde uma incontornével referéncia da Histéria da Arqueologia portuguesa. Refira-se, porém, que esta pesquisa das ruinas de Cinania constitui apenas mais um exemplo dessa llustragao com vestigios materiais de um discurso baseado em lerlos literarios, 4] crit UmaHistOn 3027 15 0 que podemos ler nestas primeiras Hislérias gerais de Portugal censti-[¥] inmotion Cannon Sete tects fcaitet 4 ines tennant psa oe anterior sua frag por Oliveira ou Bernardo de Brit, De facto, num inte- fresenaraaie in outsole opesen 0 stinom ope mcr lomo vt tula a doutrina estabelecida sobre 0 mais remoto passado, seguramente ressante manuscrito datado de 1571, Da Fabrica que talece hé cidade de Lisboa, onde o artista Francisco de Holanda procurou persuadir 0 rei D. Sebastiaa oracle dedi ‘omo.ecpl a a realaar um conjunto de obras de enobrecimento da cidade, podemios, jmasniauins os Hs coneronotecte enconirar a mesma sequéncia «histérica», com a genealogia dos monarcas Sein diclaiweoey alt Sie bamararos to oes jee" ngntars omar iia la hispanicos transmitids pelo monge de Viterbo: «De Luso, awniquissiMo ‘REI DOS BRIGOS, TOMOU 0 NOME LUSITANIA |... E PRIMETRO REINOU TUBAL, ‘DOS BISNETOS DE Noi, EM ESPANHA; E TAGO QUE DEU NOME AO NOSSO RIO TEIO», ir ‘By Francisco de Holanda transmite ums ideia das origens de Lisboa “Dee _que mescla vSrias tradicbes - como a que ligava a cidade a Ulisses 2 que, diga-se. nem foi cria¢éo dos humanistas, pois tem uma ‘otiger) lendana, estabelecida em perioda romano - embora, por fim, fage questao de sublinhar © cardcter cristéo da capital do fein; wQUER A FUNDASSE ULISSES, QUER HERCULES GREGO, ~ QUER OUTRO CAPITAO GREGO OU CARTAGINES |...) ELA t MAIS _ ANTIGA QUE ROMA. |...) E EDIFICADA POR 0 SENHOR DEUS, QUE COM MAIS RAZAO SE PODE DIZER QUE A EDIFICOU, MAIS QUE OS __HOMENS, COMO AQUELE REI E SENHOR A QUEM TODAS AS COI ‘VIA JA EM SUA ETERNIDADE QUAL HOJE A YEMOS CHEIA DE | -RELIGIAO B SACRAMENTOS™, I $5 Otexto de Holanda & precinso para os arquedloges, por apresentar varias noticias sobre construgdes romanes ainda vislveis na época, O fascinio pola munde antigo faz-se, neste caso, peta admirapao das suas realizacdes materiats, que se deveriam emu- lar e superar: Era esse o rguinento exposto ao reie as elites da apoca, em motdes nao muita lisonjeiros para o resto do pais: «POIs QUE OS GENTIOS, SENDO LISBOA GENTIA, TANTO A HONRARAM £ 0S ROMANOS QUE DE TAO TONGR SENDO ESTRANGEIROS TINHAM CUIDADO DOS SEUS EDIFICIOs E NOBREA, QUANTO MAIS 0 DEVE FAZER VOSSA ALTEZA # OS CIDADAOS DELA, POIS QUE NAO TEM CUTRA COISA MAIS NOBRE EM SEUS REINOS, NEM HA MAIS PORTUGAL QUE LISBOA”, 18 Omanuscrito revela vestigios da Antiguidade ainda observaveis na capital do reino: «NESSES TEMPOS ERA LISBOA AINDA GENTIA E PAGA E NAO CONHECIA O SEU VERDA- ‘DEIRO FUNDADOR DEUS, MAS ADORAVA OS iDOLOS, COMO EU MESMO V1 SENDO MOCO PELOCIPO DO{DOLO ESCULAPIO, FM NOSSASENHORA DA PORTA DO FERRO, 0 CIPO SOBRE 0 QUAL ESTAVA 0 {voLO DE ViNUS, QUE ESTA EM SANTO EsT?VAO 1 OUTROS». Insiste particilarmente no tema do abastecimento de dgua 4 cidade: «E DEVE DE TRAZER A Lis- 30a Agua LIvRE OVE DE DUAS LEGUAS DELATROUXERAM OS ROMANOS A BIA, POR CON: DUTOS DRBAIXO DA TERRA SUBTERRANEOS, FURANDO MUIYOS MONTES E COM MUITO GASTO E TRABALHO [..] E ALI ENTRE DUAS PENEDTAS ASPERISSIMAS DE DOIS MONTES FITERAM UM MURO LARGUISSIO E FORTE, QUE LEE REPRESAVA A AGUA DE UM VALE EM ‘UMA LAGOA OU ESTANQUE» Esta é a primeira noticia da barragem romana de Belase do fespectivo aqueduto que abasteceria Olisio. {@ Um outro apontamento refere o sistema vidrio e respectivas obras de arte que o serviam e careciam de reparacdo: « NAO PUDERA FI CRER RSTAS COISAS S# QUANDO PARTI DE LISBOA INDO A Rott, 10G0 EM SACAVEM NAO ACHARA A VIA ROMANA E A PONTE QUEBRADA NO R10, E NAS CHARNECAS pe MONTARGIL |...) AS CALCADAS DE SCILICE, E EM CASTELA NOS BARCOS ua meson ‘a AuquoLecta 307 D/ALCONETE & NA ANTIGUALITA DE CAPARA, F DEPOIS FM ARAGAO, LERIDA. § CATALUNHA;E DEPOIS EM FRANGA NA CIDADE DE Nimes (..] # PORTO DA LiGURIA E TOSCANA SEMPRE ACHANDO A MESMA CALCADA QUE ACHEL SAINDO DF [ISROA ATE ENTRAR EAL ROMA». Nesie caso, parece evidente pelos relatos de Holanda |e por outros seus contemporaneos e posteriores} ‘que muitos trocos das vias se conservavam e ainda eram usados. 0 autor lamenta o estado de algumas ponles, destruidas e inutilizaveis. Contudo, pela observacao que realizou, péde apresentar esquissos para a sua reedili- ‘cacao, em boa parte baseados no modelo da hem conservada ponte de Alcantara, em Espanha, de que deixou importantes desenhos: «PARA cuIo aretro, Lites ‘DOU AQUI 0 DESENHO DESTAS PONTES PARA REEDIFICAREM A DE SACAYEM, EAS OUTRAS DO RIO TRIO. E ESTA A PONTE DALCANTARA DE CASTELA, QUE FO! PORTUGAL, SOBRE 0 MESMO RIO TRIO», E notivel a referencia 6 uma Alcantara que foi Portugal, compreensivel se considerarmos que o autor assume a equivaléncia entre a antiga provincia romana da Lusitania eo reino de Portugal, como em outros pontos sublinha: «f SALAMANCA, E MERIDA. COLONIA QUE ERAM AMBAS PORTUGAL, COMO DECLARA PLinio [0 AUTOR LATING] FALANDO EM LUSITANIA». 8 O manuscrito de Francisco de Holanda s6 no século XX foi resgatado 0 esquecimento, ¢-@ informaco que contém devidemente valorizada, Interessa-nos aqui sublinhar alguns Pontos mais interessantes, designadamente, ofascinio pelo pascado ~ patente no reconheci- mento das suas realizagGes materials, devidamente identificadas e descritas - ¢ o registo explicito das principals ideias sobre o passado portugués, a saber, a fundacdo por Tubal, a lista genealigica dos reis hispanicos do pseudo Beroso e a identificacao do reine de Portugal com a antiga Lusitinia romana. Sublinhe-se, também, o discurso catolicodo autor, apesar de todo 0 fascinio pelo passado pagao, ya serena sk ARaUIDNDOA 3031 PORTUGUSA [vl ‘Buero oe AxDné be BeeeNDE eto cute fr. 9 8 Fetosamio cura (© 0 passado romano: a cidade e o reino estes, merece especial destaque André nto por no eborense, culto e cosmopolita; uma das grandes referén- ol de ne ais do século XVI portugués, eriador do adjective lusiada - estabelecidoa partir pu reli sitano, como equivalente erudito 2 portugués, em 1831 - que viria a imortalizar-se quatro dicadas mais tarde no poema pico de Camdes. Sobre Resende escreveu 0 eru- sinonleoniten vet dito Gaspar Esteco, em 1625: «Fo! RESENDE NA AVE! PRIMEIRO SEM SEGUNDO ATEGORA», SUACAO DAS COUSAS ANTIGAS ee Pails toca Je entre a vasta obra de Resende, dois titulo: primeira relevaneia se desta- cam: Historia da antiguidade da cidade de Evora, Libri Quator de Antiquitatibus Lusitaniae, As Antiquidades da Lusi ténia em quatro livros, publi- caro postumamente em 1593, au seja, apenas parte de uma abra que seria mais extensa. A prim ra constitu a lfpica monografa laudaloria da terra halal, enquanto a segunda aprecenta uma outrs ambico, buscando o todo nacional, N3o creio que seje relevante o facto de a primeira ter sido escrita 2mm portuguds @ a segunda em (atim, ja que os leitores de Resende seriam s eruditos que na dominavam perfeitamente o latim: Padera mesino dizer-se que @ obra latina se destinave 2 um pUblico mais vasto, Um qualquer eruidito inglés, francés, alemao ou italiano leria sem dificuldade de de Ey Antiquitatibus, mas no teria a Historia de Evora, 1B sia Ultima merece particular atencao por ser a mais antiga, mas também gor sera obra acabad, uma ver que @ ra se editou sem a revisdo final do autor, No volume dedicado & sua terra nalal, Resende apresenta um dscurso conciso,ebjectivo e sisternatico. Comega pelo nome da cidade: «HAVENDO, POIS, DE ESCREVER ANTIGUIDADES DESTA CIDADE, A PRIMMEIRA COUSA QUE SE OFERECE £0 NOME PER QUE ANTIGAMENTE SE CHAMAVA [..] © VERO NOME £ EBORA. ASSIM O ESCREVE PLINIO,ASSI POMPONIO MELA ASSIM ANTONINO PIOEIA ‘SEU ITINERARIO; ASS] OS LIVROS MAIS EMENDADOS DOS CONCILIOS 2 ASST ‘ESTA EM UM LETREIRO ANTIGO EM CASA DOCAPITAO DE GINETES 2 EM TRES (QUE EU EM MINHA CASA TENHO F EM OUTROS NA RUA DA SELARIA, MEIO QUEBEADO, E EM UMA COLUNA PER QUE SE CONTAM AS MILHAS ALEM DA. TOUREGA, PER A ESTRADA ANTIGA QUE IA PARA ALCACER». Estas $30 a5 fon- tes, as provas, que sustentam a denominacio da cidade om tempos antigos. ‘Vern, depois, um tema da maior relevancia: «SEGUIU-SE, APOS 0 NOME, DIZER ‘QUEM FOI 0 FUNDADOR, PORQUE PER O FUNDADOR SE COLIGE E INTENDE A ‘MUITA ANTIGUIDADE [...] EM ISTO NAO POSSO EU SATISEAZER AOS LEITORES, POR- ‘QUE NEM 0 ACHO AUTENTICO, NEM DETERMINO #AZER O QUE ALGUNS COSTU- MAM, ENTRE 05 QUAIS FLORIANO DEI CAMPO QUE SE ATREVEU, COM NOME ‘DE CRONISTA, FAZER E PUBLICAR ORIGENS E ANTIGUIDADES FABULOSAS. EU [NOM ESCREVERET SALVO O QUE ACHAR POR AUTORES DIGNOS DE F#,OU POR LESCRITURAS DE PEDRAS OU 0 QUE DE NOSSOS OLHIOS INDA PODEMOS VER». IB Resende demarca-se de um modo claro dos autores ja comentades. Rejeita as «ANTIGUT- DADES FABULOSAS» € critica 0s que delas se usam sem critério, nomeadamente o croniste espanol, que nas obras de Oliveira ou de Brito tem estatuto de autoridade inquestionvel. Ceborense remata com a clara exposicdo do seu método: autores dignos de FS, eseriturss de pedras eo que os nossos olhos ainda podem ver, ou seja, a conjugacao da erusicao lterdria coma observacao cirecta de inscricdes e de outras realidades. E justamente este método que faz de André de Resende uma das primeiras referéncias consistentes para o conhecimento Unatosream, PAARQUEOLOGLA ORTUGUISA 3033 {4} Tsrirua DE rosaD0 (epee pasxado cdadicromano}deMértola. ‘Museu de Mértob Campo rugs seni unas oie Resende quand» dere teense ‘rami eto onder, serndssdatunateante ‘sips sen aba ‘Os rnos na Owe ‘Saceaa Lis Escatca DOS NOSSOe retassAD08 ROMANS dos vestigios da época romana em Portugal, e de tal modo é importante este método que fica bastante claro aquilo que realmente observou e o que sé indirectamente conheceu, sobretuda fas paginas d’As Antiguidades da Lusitania, onde sé ocupa de temas que em muito transcen- dem os limites da sua cidade de origer. 1 A Historia da antiguidade da cidade de Evora, e o rigor eritico de Resende, surge maculada pela apresentacdo de varias inscrigbes forjadas, desde 0 suposto epitétio de um romano que ali combatera contra Viriato as inscricdes de Sertério ou ao pedestal de uma estdtua dedicada a Julio César, Contudo, essa é somente uma parte da questao, uma vez que junto das falsificacdes avulta um nutrido acervo de outras. inscrigdes indubitavelmente auténticas, Sublinhe-se, ainda, que este gosto particular pela antiguidade paga nao anula a atencao do autor 4 tematica crista, nao faltando.o capitulo ix que expressa- mente trata «Do tempo em que Evora recebeu a fé de Nosso Senhor Jesus Cristo», com 0 relato do martirio de S20 Mancos e a utilizacao de epigrates latinas para demonstrar a grande antiguidade do cristianismo local, uma delas auténtica e ainda hoje conhecida e outra, o suposto epitafia de um bispo ebo- rense do século , de mais duvidosa atribuic&o. 18) Em As Antiguidades da Lusitania, André de Resende ensaia uma mais ampla abordagem, asantiguidades romanas e podemos encontrar uma clara aplicarao do método atrés enun- ciado. Depararno-nos, uma vez mais, com a sua recusa em deixar-se seduizir por histérias fantasticas: «NAO B FACIL DIZER QUEM TERIA DOMINADO A LUSITANIA ANTES DE CARTAGI- NNESES E ROMANOS [...] TUDO ISTO # BASTANTE OBSCURO E MACADOR POR ESTAR ENTREMEADO DE FANTASIA». A obra propriamente dita reparte-se por quatro livros e é sobretudo ‘nos terceiro e quarto que se encontra expresso.a extraordinario labor de Resende na obser- aco @ registo de antiguidades. 0 terceiro livro dividé-se em duas partes, uma dedicada 405 povos que domninaram outrora Lusitania, com a mencionada recusa em abordar oY , , bf jf) iftoria oak, Santiguidade 0a ct “AC Fectaper meettre dade de Ende Ta. AndreeveRee AF fendes da imprelfam e mendada pelo Rey melind autor 035 036 e Senet @ crigens fantésticas, e a segunda consagrada as vias. Sobre estas Uilimas, oaulor menciona # transcreve varios marcas millérios que permitem perceber os trajectos das antigas esira- das romanas. Nestes casos, associam-se as releréncias colhidas na literatura latina com a obst agdo directa dos letreiros antigos, cuidadosamente lidos e transcritos. 0 quarta livra ocupa-se das cidades, com uma relagdo geral dos antigos aglomerados romanas, com pleno recurso.aos textos, as epigrefes e a cbservacio directa {8 As paginas o'As Antiguidades da Lusitania revelam um esforgo sistematico de identiticardo das antigas cidades romanas do espaco portugués, sequindo 0 expediente de cruzar a informacio da literatura latina com as inscrigdes ‘Aleitura das epigrates nao consttuia problema para Resende, om conheceder da lingua @, para além do mais, acostumado aos habitvais forrulérios destes textos, que conhecera em outras paragens que Irequentou. A obra é um imenso repositério de informacdo, ainda que o autor oscile entre as situacdes directa mente observadas € aquelas que conheceu somente em segunda maa, entre os 280s em que acertadamente identifica antigos lugares e outres em que mani festamente erra, muitas vezes por seguir deduces exclusivarente do ddaminia do senso comum, nem sempre o melhor erie, @ De entre as situacoes directamente observadas, sim deserita: registe-se 0 caso de Mértola, «Miktius A QUEM CHAMAMOS MERTOLA, SITUA: DA SOBRE © 810 GUADIANA ESTA CHEIA DE GRANDE NUMERO DE MONUMENTOS DA AN’ GUIDADE COMO CIPOS, COLUNAS ESTATUAS QUE Gonos F MouROS, POR SEREM UNS F OUTROS DE INTELIGENCIA PERFEITAMENTE BARBARA, UTILIZARAM LARGAMENTE PARA fo Aniin Cun. Masea pina de Be 4 REPARAR AS MURALHAS EM VEZ DE PEDRA DE ALVENARIA», Apesar desta descricdoe da explicita mengao a0s cipos, ndo delxou registo de qualquer inscricdo local Interessantes sdo as observacdes real zadas no sitio da Vila Velha, junto de Alvor, no Algarve, Resende parte em busca de uma povoacéo que na ebra do gedgrafo Pompénio Mela é dasignada como Porto de Anibal e que Resende nao hesita em situar algures no ocidente algarvio. Discute a topagratia do itoral eas condi¢des de navegabilidade do rio Arade e da ribeira de Alvor, para logo concluir que na foz desta Uttima se conserva "UMA PEQUENA ILHA, BASTANTE ELEVADA PLANA NO CIMO, ONDE EXISTIU OTRORA UM OPIno [CIDADE ANTIGA]. SUBSIS- TEM POR TODO O LADO MUROS, DESDE AS FUNDACOES ATE MBIA ALTURA DE ALVENARIA E DAl PARA CIMA DE TATPA COMO A CONSTRUCAO PUNICA. TOnO 0 ALTO DESSE'TERRENO PLANO, CHEIO DE ENTULHO, PAREDES, PEDACOS DE CERA MICA TELHAS, TEM A VISTA RUINAS DE EDIFICIOS, PORQUE ELE ENTRETANTO. DESAPARECEUDEVIDO A MUITA ANTIGUIDADE, CONSTRUIRAM 05 NOSSOS ANTE PASSADOS ALVOR, ALI PERTOY. Estas observacdes foram seguramente feitas no local, tal € a riqueza de detethes que o conduzem & conclusio de estar perante 0 roferido Porto de Anibal, «por CAUSA DA SITUAGAO DO LOCAL DONDE US NAVI0S. PODIAM SE® DEFENDIDOS PERFFITAMENTEo. Por se supor fer sido 0 grande comandante cartaginés a dar o nome ao porto, Reseride estabelece a relacdo enireas construcdes de taigaeo mundo cartaginés, quando, ra realidad, essas parades de terra ainda visiveis poderiam muito bem ser da épaca muculmana, § Do mesmo Algarve, temos também noticias incorrectas, como @ que situa a velha cidade de Ossonoba em Estéi - onde se erquiam bem visiveis os imponentes edificios da vile de Milreu, um sitia rural romano -e no no lugar onde se ergue Faro. Ainda na du de cidade romana de Bals, mesma regido, 9 aulor equivoca-se, também, na localiz escrevendo: CONJECTURAMOS QUE A OUTRORA CHAMADA BALSA # AQUELA A QUE NO calsgtmaois 9087 cae de inperado Aap a mmamens potters ao bedentitac ncn Museu Nail de Aula Inatto doo Maseus [ CenseracarDso ‘deDocumeriario Fog iee Pesca NOSSO TEMPO SE DA O NOME DE TAVIRA E QUE BA ‘MAJOR CIDADE DO ALGARVE». Sabia-se que Balsa esta~ riana parte oriental do Algarve, na érea onde se localiza a cidade de Tavira, @ mais relevante, no tempo de Resende. Consequentemente, a cidade seria a antiga Balsa, mesmo que nada mais pudesse ser invocado em favor desta ideia Em outros lugares, Resende identifica, uma vez mais por observa¢o directa, ant: ‘gos aglomeradys rormanos, como é ocaso da suposta Mirobriga, junto de Santiago do Cacém: «MEROBRIGA DESAPARECEU,POREM, E NAS PROXIMIDADES VEIO TOMAR O SEU LUGAR A POVOACAO DE SANTIAGO, COM O.COGNOME DE CACEM|..] AS MURALHAS COM TORRES, EM CERTAS PARTES BEM CONSENVADAS MAS NOUTRAS MEIO DESTRUIDAS, 0 AQUEDUTO, A PONTE NO VALE QUE CORRE A MEIO, A FONTE DE AGUA CORRENTE COM UMA LAPIDE QUADRANGULAR, ADVERTIRAM-ME DA ANTIGA CIDADE, © Inte alguns dos seus contempordneos era primitivoassentode Tubal, Estabeleceu a associa ssante € também aatencdo que Resende dedicou a Trdia, na for da Satio, que para Gio entre o lugar @ a cidade de wCETOBRIGA, A QUE PTOLEMEU CHAMAVA CETOBRIX», sublinhando que dela «EXISTE AGORA UM LEVE VESTIGIO [..] CORERTO PELAS AREIAS, A Nio 828 QUANDO SAO PosTOS A DESCOBERTO EDIFCIOS, UMAS VzES, 508 A AGUA, VIOLENCIA DO MAR QUE INVADE AS TERRAS, OUTRAS VEZES PELOS VENTOS QUE LEVAN- TAM AS ARKIAS™, Afastande-se das fantasiosas otimalogias que relacionavam o nome do descendente de Noé com o topdnimo mioderng, prelere insistir na relacdo entre o antigo home eo actual: «O NOME TEVE A SUA ORIGEM EM"CRTUS” BEM "BRIGA’, VISTO OUE"BRIGA" Ua Mason 3039 ba Angurotocin PORTUGUESA Ootitertedemde apt det, Hemwrotiea Mail dion rue dec oa eth ert temp), Fes irc Regional de Chics dolre/Oetiriocinra Ce Prairie beeen Poetics ey Ps ses eer rey Sera ee or fare en es rs Peet sa 1 a me pete eer ee cre gia) Bi i Be pe ao Pera oct ari SIGNIFICA CIDADE NA VELHA LINGUA DOS HISPANOS |... QUANTO A PRIMEIRA PARTS. DESTE NOME COMPOSTO £ ELA CONSTITU{DA PELO VOCABULO "CETACEO”. E SABTDO QUE A PALAVRA CETACEO SE APLICA A PEIXES GRANDES |... E POROUE NA CIDADE DE QUE ESTA MOS A FALAR ERA CELEBRE A PESCA F SALMOURA DESTES PEIXES [..] CHAMOU-SE-LHE CrrOpeica |.] SUBSISTEM AINDA HOIE NO LITORAL DE TROIA OS PROPRIOS TANQUES DE SALGA FEITOS NA ANTIGUIDADE DE ARGAMASSA SIGNINA. [UM REVESTIMENTO FEITO DE. CALE AREIAJ», Embora a investigagéo actual no aceite esta interpretacan etimaldgica do nome ¢ continue em aberto a controvérsia sobre a real localizacdo de Cetobriga, por se conhecerem abundantes vestigins ramanos no subsolo de Setibal, desconhecidos nos tempos de Resende, 8 assinaldvel 0 modo como o autor conjugou, uma vez mais, a infor macao literdria com os dados arqueolégicos observados. André de Resende empenhou-se também na demonstracao de que a cidade de Beja era @ herdeira da romana Pax Julia, um (ema relevante, uma vez que a tradi¢ao espanhola pretendia localizar a antiga urbe em Badajoz. Em As Ant- guidades da Lusitania, limitou-se a reafirmar o que ja publicara antes, aduzindo grande cdpia de inscricdes latinas e outras antiquidades conhiecidas na cidade baixo aleniejana. A titulo de exemplo, veja-se uma inscricao consagrada ao culto imperial, apresentada por Resende, e compate-se com a fotografia da mesma, para se poder ajuizar da ctidadoso cntério de transcri¢ao adoptado. Ainda de Pax Julia, Resende assinala a existéncia de outras realidades - como uma cabeca de estatua do imperador Vespasiano, entretanto perdida, dez cabecas de touro, um aqueduto subterrane: wutras antiguidades - numa demonstracéo de sélido conhecimento do (oval. ‘Bi Ao percorrer a obra de Resende, a escassez de noticias sobre escultura romana que enicontramys nao dena de surpreender, 0 autor refere um conjunto de estatuas de Mértola, luma outra estatua feminina, ja sem cabeca, levada de Trdia para Satibal, as esculturas de aga Farm eazgorotoote ul Oe Osram sacra lesen OGNEHSOS ARTRSSANOS ALANS, Bejae poucn mais, Resulta estranha esta escassez por, nesta época, ter crescido um poucd por toda a Europa pritica do caleccionisma de obras da Antiquidade. Aparentemente, esse habito nunca se consolidou verdadeiramente entre as elites e 05 eruditos poriugueses. E certo que Resende tinha uma coleccdo de antiguidades, varias falsificadas por sua inicis- tive, ¢ temos também conhecimento de outros eruditos que teria ume ou outta anligui- dade na sua posse, mas nada de semethante ao que se conhece em outros paises onde estas colecgdas constitulam patriménio familiar, passando de gerago em geracko, d mente estimado e acrescentado. (8 Guer por se ter tornado pratica corrente entre as elites europeias, quer por se verilicar este costume entre algumas das grandes families espanho- las, seria espectavel que também em Portugal estes habitos se registas: sem, tanto mais que remonta aus meados do século XY a noticia da primeira coleccao deste tino. A informacao deve-se a Vilhena Barbosa: «NO PRINCI- #10 DASEGUNDA METADE DO SECULO XV, D. AFONSO, MARQUEZ DE VALENCA, FILHO PRIMOGENITO DE D, AFFONSO I, DUQUE DE BRAGANCA, INDO ACOM- PANHAR AITALIA E ALLEMANHA A IMPERATRIZ D, LEONOR, FILHA D'EL-REL D, DUARTE, # ESPOSA DO IMPERADOR DALEMANHA FREDERICO Ill, COM- PROU E REUNIU DURANTE A SUA LONGA VIAGEM MUITOS OBIFCTOS D/ANTIGUIDADE & DE HISTORIA NATURAL, COM OS QUAES, NA SUA VOITA A PATRIA, ORGANISOU UM MUSEU, QUE SEU PAR AUGMENTOU COM VARIOS CIPPOS, LAPI- DAS E FRAGMENTOS DARCHEOLOGIA ROMA- WA, DESCOBERTOS NO ALENTEION, E esta a tinica noticia de que dispomos. Nada mais nos elucida sabres composi¢do cu destina da colecedo. [r] Dini enorenoten rons ‘tan Cf erecta, Foo: Antins Cua Noes ginal dea oaraaosmn 0b sean tert 9 especial importancie ao tema da batalha de Ourique e ac lugar exacto onde esta se teria, desenrolado. A tradicao estabelecia que se teria dado um grande recontro entre a haste de D. Afonso Henriques ¢ ums coligacdo de.rais mouros, nos campos do Baixo Alentejo, e que estes teriam sido vencidos - pela tenacidade lusa e, sobretudo, pela sebrenatural intervencio divina a favor dos portugueses - alguros nas imediacdes da vila de Ourique, na conlluéncia das ribeiras de Terges ¢ de Cobres. Resende relata a visita a0 local de 1D Sebastian & a intencao assumida por este, embora nao concretizada, de ali erguer um arco triunfal com inscri¢ao evocativa. IB Assim, e-em jeito de balanco, pode dizer-se que uma ideia de Portugal enquanto entidade politica autdnoma perpassa na obra destes autores, quer nos que dedicam maior alen¢io & antiguidade romana, quer nos que se o¢u- pam da Histéria geral do reino. Neste particular, é bem sintomatica a cons- tante insisténcia na ideia de Lusitania, claramente expressa er Resende ou em Bernardo de Brite. 0 legado classico fascina como exemplo, como factor de enobrecimento de terres 2 lugares ¢ como esparo de reivindicacd¢ histrica, sendoas inscricdes, onde se podia ler no bom latim dos antigos, a desejada prova da verdadeira localizacdo de lugares conhecidos pela literatura, Comeca entao 0 sistematico inventério das antiguidades, com destaque para as inscricdes, por registarem riomes de genles € lugares, Mas esse passado Erba pouemerdepise roafa des hams ey itt le ipa oman mga enone dosent ive se mscgescotnaavama er im dg gueo rmemaquandoretatoa {amas fener, [4] Dasento oe una ata ‘FUNERARIA ROMANA ENCONTRADAEM TROIA,, Gainnora en page hstvn ote Nacinalde Argued Eniceare sepuvenat DECoRvcHE Musee taro de Angela InsitodosMiseas eda Cmseracio/Div deDocunerncie Fotogieaycd Peso romano néo ofusca, de mado algum, aideia de que 0 reino de Portugal teria sido um lugar onde cedo se alitmou a religiéo verdadeira, (EiSublinhe-se o progressive estabelecimento de uma abordagem critica da informacao. A formula de Resende «EU NOM ESCEEVERFI SALVO 0 QUE ACHAR POR AUTORES DIGNOS Di FE, OU POR ESCRITURAS DE PEDRAS OU O QUIF DF NOSSOS OLHOS INNA PODEMOS VER constitu’ um verdadeiro manifesto, que as falsiticagdes, de algum modo, maculam. O conhecimento do passado, se ainda se faz cum base nos “AUTORES DIGNOS DE FE», comeca jaa atender ao que se encontra nas \ESCRITURAS DE PEDRAS» e n0 que «DE NOS- SOS OLHOS INDA PODEMOS VER». A valoriza~ g2oda busca de novas fontes ea importéncia da observacav directa constituem as grandes novidades que conferem acrescida dignidade ans vestgios materials do passado. As grandes linhas esboradas por estes autores vio continuar nos séculos sequintes, ao lado de novas abordagens ou de crescente sofisticacdo critica. Por sso, apesar das tragilidades analiticas e das falsificacbes, costuma-se inscre- vera obra dos humanistas europeus no «cédigo genético» da Arqueotogia. A ANTIGUIDADE COMO ARGUMENTO DE LEGITIMACAO POLITICA: A REAL ACADEMIA DA HisrOrta PoRTUGUEZA Na Europa do século Xvill proliferam as academias, instituicdes tormais ‘U informals criadas no séio das alites, agrupando erudites que se rednem para expor & debater temas deinteresse comum, literarios, filosdfices, historicos ou cientificos, De entre estas acadernias, algumas fundaram-se sob a égide das monarquias reinantes, transfor~ mantlo-se em verdadeiros agentes de legitimacéo politica. Portugal nao constituiu excep- cao e viu nascer também algumas agremiacdes deste tipo, como a Real Academia da Histéria Portugueza, tundada no reinado de D, Jodo V e com o alto patrocinio régio, com 0 encaigo de escrever a Hisldria eclesidstica e secular do reino e as suas conguistas, Nao se trataré aqui da maior parte das actividades da Academia, mas algu- masmerecem destaque. Em primeira lugar, Real Decretode 14 de Agosto de 1721, induzido pelos académicos e destinadoa assegurar quese «CONSERVEM. (0S MONUMENTOS ANTIGOS, OUE PODEM SERVIR PARA ILLUSTRAR & TESTIFI- CAR A VERDADE DA MESMA HistOeta», 0 documento é extraordinaro, por constituir a primeira legistacéio genérica de prateccdo do pairiménio histérico produzida na Europa, quase um século antes dos monumentos se tornarem uma questio premente na cullura ocidental.A lei merece tence detalhada, ® Em primeira lugar, veja-se 0 que se protege: «NENHUMA PRSSOA [..] DESFACA, OU DES- ‘TRUA EM TODO, NENA BM PARTE QUALQUER EDIFfcIO, QUE MOSTRE SER DAQUELLES TEMPOS [DOS ROMANOS, GODOS, # ARABIOS] AINDA QUE EM PARTE ESTEJA ARRUINADO E DAMESMA SORTE AS ESTATUAS, MARMORES, E CIPPOS EM QUE ESTIVEREM ESCULPIDAS ALGUMAS owlnenoin aut uaa id sina cou antsonugion as rerRas RuRETRS Ceo Ba, Camnaron ae Arise Denice ds, ono ato tees See Hai Sua Sainte raled je parted arent ne ier hnetvemren tse op neon phere sieges am FIGURAS, OU TIVEREM LETREIROS FENICES, GREGOS [0S PENOS, MENCIONADOS NA PRI- MBIRA PARTE DO DECRETO MAS OMISSOS NESTE PASSO, SAO 0S CARTAGINESES), ROMANOS, Gozcos, ARABICOS, OU LAMINAS, OU CHAPAS DE QUALOUER METAL, OVE CONTIVEREM 0S DITOS LETREIROS, OU CARACTERES, COMO OUTRO SIM MEDALHAS OU MOEDAS, QUE MoS- ‘TRAREM SER DAQUELLES TEMPOS, NEMA DOS INFERIORES ATE AO PEINADO DO SENHOR REY D, SeBASTIAO, NEM ENCUBRAQ, OU OCULTEM ALGUMA DAS SOBREDITAS®, Wi Ou seja, protagia-se todos 0s edificios antigas, independentemente do seu estado de conservacdo, desde a mais remota antiguidade até 20 reinado de , Sebastido; mas também o patriménio mével, sobretudo se mosirave ter fiqu- as ov inscriedes. A imagem do passado encontra-se circunscrita a inlormacao transmitida pelos autores gregos ¢ latinos lfenicios, gregos, plinicos ¢ romanos} ou 20 conhecimento histérico mais recente lyodos e arabes], Refire-se, contudo, que 05 académicos nao falavam de realidades abstractas, mas de dados bem concretas, urna vez que se canheciam jd algumas inscri¢Ses ou legendas mone~ tarias em alfabetos pré-romanos, para além das epigrafes latinas e arabes. E igualmente interessante o limite fixado no reinado de D. Sehastiao para as medidas de protecrao, limite que deixa de lado a ¢poca da monarquia dual ¢ os tempos posteriores, por demasiado préximos. A delimitacSo encontra-se justii- cada nas razdes que presidem a este abrangente proteccao, estabelecida em nome do conhecimento do passado, porque outres monumentos *PORINCURIA E IGNORANCIA DO VULGO SE TINHAO CONSUMIDO PERDENDO-SE POR ESTE ‘MODO HUM MEYO MUY PROPRIO, E ADEQUADO PARA VERIFICAR MUITAS NOTI- CIAS DA VENERAVEL ANTIGUIDADE, ASSIM SAGRADA CONO POLITICA, B QUE SERIA MUY CONVENIENTE A LUZ DA VERDADE, E CONHECIMENTO DOS SECULOS PASSADOS, QUE NO QUE RESTAVA DE SEMELHANTES MEMORIAS, E DAS QUE 0 ‘TEMPO DESCOBRISSE, SE RVITASSE ESSE DAMNO», ngs Hosa su Arqvecunaia E notavel que a legislacao englobasse tudo o que futuramente pudesse vir a aparece. [v] Esta atitude prospectiva confare um valor genérico e universal ao decroto. Mas nao ¢ ORtALDueaero. DEI4 DF Acosra ox 1721 somente pelo conhecimento do passado que se determina a imperiosa necessidade de pro- AormiaPoruguea deni, teger. Invoca-se também o interesse nacional eEM OUE PODE SER MUITO INTERESSADA A “rsoptecvegneiom GLORIA DANACAO PORTUGUESA». Assinale-s¢ 0 reconhecimento explicite de uma continui- ota Mo Cada. dade historica entre o presente, 0 reinado de O Magnanimo, ea antiga Lusitania, ideia subli hada pelo rmonarca; «DESRIANDO El CONTRIBUTR COM 0 MEU PODER PARA IMPEDIR HUM PREJUIZO TAO SENSIVELE TAO DAMNOSO A REPU- TAGAO, E GLORIA DA ANTIGA LUSITANIA, CUIO DOMINIO F SORREANIA Foy DEUS SERVIDO DAR-Ma», {© Como era habitual no Direito, nas sociedades de Antigo Regine, as penas a aplicar eram diferentes, consoante 0 estado ea qualidade do infractor, mas eram genericamente penas pesadas, em conformidade com o interesse nacional invocado. Assinale-se também que 0 decreto estabelecia o quatro geral de actuarao, detinindo a quem competia estar atento e intervir na defesa destes bens - as camaras das cidades o vias -bem como os principio genéricos de actua Ao para quando surgissem bens méveis de valor venal, esiipulando a sua aquisi¢So «PLO SEU JUSTO VALOR», 12, Uma lai tao restritiva ndo deixa de suscitar interrogacbes sobre a sua elicacie prética, Aparentemente, {oi ineficaz e escassamente aplicada, mas.nao é facil uma ayaliacao obyectiva, 0 grande terramoto de 1755 ¢o incéndio que se lhe seguiu destruiu o acervo da Real Academia da Hist ria Porlugueza, impedindo-nos de saber quantas informacées e noticias teriam sido enviadas e quantas iniciativas teriam sido tomadas pela DOM JOAM VOR GRAG,A DE DEOS REY DE PORTUGAL, Sedo Agpveidqom ilo Mayen Aves Scoot de Guin, Neda Gongil, Novae, Commrcs de ihoply Arabi, Vas, & dito Piotr ws cally sahom Ala efrmadeLcy pr imalondoy & Kalin ls Chine db gale eee 1 Ee fo tera gets tod ety sven meeps er Aan ead Mion ater, Keri, ea yeqreanndsenmn lithe, Non i oven i beta gue tuples a tejonepopi be ‘4 peer oopintuto seman peace gt, God ant ae gaictony wea pets ae eta i eu et fir luted secede ee tahini egon atiga forages ntonu mieees ennai, ann ye oh Se donente doar tas ovata en ftiesprteedchonpsabietecdimnte pony Uo, tra Oe ras ‘delayed bn euth nt ee tg ‘ieaguille deen stn tla ce Cr aelos oe aceu ne annen users forte wuleshscteteen Monn Recs kSipes Eneeinea tipi apne een Fe si ape tonal nhc testes tna a ee ‘coigrinel iw tonveeatteatenyor everest ‘aninashiustonnsn, qesalonalriancsenpone ‘ile oeye dey Donan Sua deuce, Kecangoa Gdn Co ce Rey ey sie ee ‘wi pudgy Geoehre ‘etereopetee onde casio prt bt vd neonate cadens Dit, te resi Satriani set ilps in 305!

Você também pode gostar