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MASARYKOVA UNIVERZITA V BRNĚ

Filozofická fakulta

Ústav románských jazyků a literatur


Portugalský jazyk a literatura

Lucia Bíziková

Importância das línguas tupis para o português


brasileiro

Bakalářská diplomová práce

Vedoucí práce: Mgr. Iva Svobodová, Ph.D.

Brno 2008
Prohlašuji, že jsem bakalářskou diplomovou práci vypracovala
samostatně s využitím uvedených pramenů a literatury.

V Brně dne …………………………………….


Agradecimento

Agradeço a Mgr. Iva Svobodová, Ph.D. tanto pelos seus conselhos e apoio,
quanto pelo tempo dedicado à orientação do meu trabalho. Sou grata também a todos
aqueles que me ajudaram a arranjar os materiais necessários para elaborar este tema,
sendo eles PhDr. Simona Binková, CSc. (Centro de Estudos Ibero-Americanos, Praga),
Dr. Eunícia Barros Barcelos Fernandes (PUC-RJ), Prof. Jonathan Morris, e outros.
ÍNDICE

ÍNDICE ............................................................................................................................ 1
INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 5
1. BREVE HISTÓRIA DA FORMAÇÃO DO PORTUGUÊS BRASILEIRO .......... 6
2. AS LÍNGUAS TUPI ................................................................................................ 9
2.1. Alguns dados básicos ....................................................................................... 9
2.2. Classificação das línguas indígenas ............................................................... 10
2.2.1. Tupi na classificação de Loukotka ......................................................... 12
2.2.2. Classificação segundo Rodrigues .......................................................... 14
3. KAMAIURÁ.......................................................................................................... 15
3.1. Povos do Alto Xingu...................................................................................... 15
3.2. Linguagens da região ..................................................................................... 16
3.3. Língua Kamaiurá ........................................................................................... 18
4. INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS INDÍGENAS NO LÉXICO DO PORTUGUÊS
BRASILEIRO ................................................................................................................ 20
4.1. Nomes indígenas na nomenclatura brasileira ................................................ 20
4.2. Palavras indígenas no vocabulário brasileiro................................................. 23
4.2.1. Gladstone Chaves de Melo .................................................................... 23
4.2.2. Antenor Nascentes ................................................................................. 24
4.2.3. Luísa Galvão Lessa ................................................................................ 25
4.2.4. Paulo Hernandes .................................................................................... 26
4.2.5. Sílvio Elia............................................................................................... 27
4.3. Vocábulos incorrectamente qualificados como tupinismos ........................... 28
5. EXTINÇÃO DAS LÍNGUAS INDÍGENAS ......................................................... 31
CONCLUSÃO ............................................................................................................... 33
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................... 35

4
INTRODUÇÃO

O objectivo do trabalho apresentado será aludir a importância das línguas


indígenas na variedade brasileira do português, sobretudo a das línguas tupis.
Escolhemos este tema para realçar o factor que tem tanto enriquecido o idioma no
Brasil e que é muitas vezes esquecido.
Visto que ainda hoje há, no Brasil, mais de 180 línguas indígenas, dirigiremos a
nossa atenção às línguas tupis que do ponto de vista histórico foram as mais divulgadas,
tiveram o maior contacto com o português e assim têm nele deixado o maior legado.
O nosso trabalho compor-se-á de cinco capítulos principais, dos quais três são
repartidos em outros sub capítulos que procuram tratar alguns aspectos mais específicos
de cada conjunto.
O primeiro capítulo dedica-se a história do português no Brasil. Esboça os factos
principais de contacto entre os colonizadores e os povos indígenas. Refere-se aos
elementos que mais influenciaram o português brasileiro.
No capítulo seguinte falamos sobre as línguas tupis. Apresentamos as
informações básicas sobre os falantes dessas línguas, quer do passado, quer do presente
e completamo-las por alguns dados estatísticos. Incorporamos nele também as
classificações de dois linguistas mundialmente reconhecidos.
O terceiro capítulo é dedicado a uma das línguas da família Tupi-Guarani,
Kamayurâ, o idioma da região de Alto Xingu. Caracterizamos os povos e as línguas
desta zona. Tentamos delinear os factos mais importantes sobre a língua de povo
Kamayurâ. Temos escolhido este grupo e a sua língua por uma simples razão de ser o
único acessível dos restantes do grupo linguístico Tupi.
O quarto capítulo descreve a influência das línguas indígenas, na maior parte das
tupis, na variante brasileira do português. Os sub capítulos demonstram a sua influência
tanto na nomenclatura, quanto no vocabulário diário e incluímos neles exemplos de
vários linguistas. Além disso anexamos uma outra parte que trata de falsos tupinismos,
palavras incorrectamente classificadas como oriundas de Tupi.
E, por fim, no último capítulo dedicamo-nos à extinção das línguas indígenas
salientando a importância de preservá-las e incluindo dados das pesquisas recentes
sobre as línguas vivas, as em vias de extinção e as extintas.

5
1. BREVE HISTÓRIA DA FORMAÇÃO DO PORTUGUÊS
BRASILEIRO

O português foi trazido para o Brasil pelos navegadores lusitanos em 1500.


Naquela época havia mais de 1 000 línguas indígenas de várias famílias linguísticas no
território brasileiro. O contacto de cada uma destas famílias com o português variava.
Por exemplo, o numeroso povo da família Jê foi-se deslocando para o interior do país e
assim chegou a conhecer o português apenas nos fins do século XVII. As comunidades
das famílias Aruak e Karib permaneceram isoladas por mais tempo ainda,
principalmente aquelas amazónicas.
A língua Tupi-Guarani foi conhecida como a língua mais divulgada. Esta
subclassificava-se em três grupos essenciais; o amazónico chamado também de
Nheengatú, o Tupi usado no litoral, denominado língua geral, e o Guarani ou
Abaneenga, que era falado na zona do sul. Os três grupos mencionados foram
divididos, consequentemente, em dialectos.1
O estabelecimento das capitanias hereditárias em 1532 deu início à colonização
efectiva dos portugueses que começou pelo litoral brasileiro. Naquela altura o território
entre a Bahia e o Rio de Janeiro foi ocupado por distintas etnias da família Tupi e
Guaraní, semelhantes tanto do ponto vista cultural como também linguisticamente.
Precisando os colonos comunicar com os nativos, foram obrigados a aprender os
dialectos e idiomas deles. Os grupos mais abertos ao contacto com os portugueses
falavam a língua Tupinambá, que serviu de base para a língua geral criada para a
melhor comunicação entre os colonizadores e os indígenas. Os que mais estudaram a
língua geral foram os jesuítas porque a língua servia-lhes para a evangelização dos
nativos. O jesuíta, padre José de Anchieta documentou-a no seu livro de 1595 titulado
Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil. A língua geral foi o
primeiro factor que tinha influido o português trazido para o Brasil pelos navegadores. 2
Uma outra influência marcante na variedade brasileira do português foi a das
línguas africanas trazidas pelos negros, no período da escravatura. Os escravos
precisavam de aprender o português para poderem comunicar com os seus donos.

1
Diégues Júnior, M. Etnías e Culturas no Brasil. Rio de Janeiro: Ministério de Educação e Cultura,
1956, pág. 41.
2
Rodrigues, A. D. A originalidade das línguas indígenas brasileiras [online]. 1999
[cit. 2008-07-24]. Disponível em:
< http://www.unb.br/il/lali/publicacoes/publ_001.html >.

6
Também eles aprendiam a língua geral baseada em línguas indígenas já que esta foi a
língua mais divulgada naquele tempo. Tradicionalmente a língua falada em São Paulo
era a língua geral enquanto o português servia, por exemplo, para os fins de ensino
escolar.
Nos finais do século XVII levantou-se, no Brasil, uma grande onda de imigração
dos portugueses que habitaram os novos centros económicos fundados em
consequência da exploração do interior do país e o descobrimento do ouro e das pedras
preciosas. Com a elevação de número dos portugueses, o uso das duas línguas, do
português e da língua geral, nas famílias diminuía-se. A partir da segunda metade do
século XVIII, a importância do português cresceu até ao ponto em que se tornou a
língua predominante e finalmente o idioma oficial. Este estatuto foi garantido pelo
decreto de Marquês de Pombal datado de 17 de Agosto de 1758, que não só declarou o
português a língua oficial, mas também proibiu o uso da língua geral. Naquela altura o
português já tinha sofrido várias mudanças, o que corresponde a etimologia natural de
todas as línguas. Porém, a variante brasileira tinha se evoluído de uma maneira
diferente em comparação com o português europeu.
O tráfico negreiro diminuiu depois de 1822, o ano da proclamação da
independência do Brasil, e, finalmente, terminou por volta de 1888.
Durante o Romantismo, na segunda metade do século XIX, havia tendências dos
autores brasileiros de distinguir o Brasil, a antiga colónia, do império europeu. Para isso
servia a figura do índio, que se tornou o símbolo da brasilidade, e também as
expressões das línguas indígenas, como foi o caso exemplar das obras do romancista
José de Alencar.
Já no começo do século XX, os modernistas reavivaram a ideia do regresso aos
raízes nacionais, publicando vários manifestos e obras que tratavam do tema da criação
de uma identidade própria dos brasileiros. Entre outros conta-se o escritor Mário de
Andrade e o seu trabalho chamado Gramatiquinha da Fala Brasileira.
Desde a época da colonização portuguesa no Brasil, o português recebeu muitas
influências. A língua geral foi-se tornando uma língua isolada o que foi ainda mais
intensificado quando chegaram ao país os imigrantes da Europa e da Ásia e com eles
também muitas línguas, como por exemplo, as línguas alemã, italiana, francesa,
japonesa, cujo contacto com o português foi uma das razões da diversificação da língua
portuguesa.

7
Até hoje perdura a questão da divergência das variedades brasileira e europeia do
português. A forma brasileira mantém a estrutura gramatical quase idêntica à variedade
europeia. No que diz respeito ao vocabulário do português brasileiro, este continua
idêntico, na maior parte ao europeu, mas já dele podemos deduzir que foi influenciado
não só pelas línguas indígenas e africanas, como também pelo francês, espanhol,
italiano e inglês. A diferença mais notável é evidente, sobretudo, no campo da fonética
e apesar dela existem ainda algumas divergências semânticas entre as duas variedades.3
O processo de evolução da língua, que traz consigo mudanças, é natural. Quando
dois grupos linguísticos se afastam do ponto de vista geográfico, como foi o caso da
antiga colónia e do império, podem se separar também linguisticamente. Por isso é
possível que a variante brasileira um dia chegue a ser considerada uma língua distinta
do português europeu.4

3
Dietrich, W, Noll, V. O Português do Brasil: Perspectivas da pesquisa atual. Madrid: Iberoamericana,
2004, pág. 22.
4
Com Ciência. A história do português brasileiro. Linguagem: Cultura e Transformação [online].
Agosto 2001, no. 23 [cit. 2008-07-23]. Disponível em:
< http://www.comciencia.br/reportagens/linguagem/ling03.htm >.

8
2. AS LÍNGUAS TUPI

2.1. Alguns dados básicos

O Tupi foi o grupo indígena predominante que tinha o maior contacto com os
colonizadores. Na época da chegada dos europeus no Brasil, os povos tupis viviam no
norte e no sul do Amazonas, na costa leste atlântica e na bacia dos rios Paraná e
Paraguai. Ao longo do tempo as línguas tupis foram-se espalhando cada vez mais para
o interior, que foi a consequência das bandeiras exploradoras organizadas pelos
portugueses e por obra e graça dos jesuítas.
Actualmente, o maior número dos povos do tronco Tupi vive no noroeste do
Brasil, nos estados Pará, Rondônia, Amazonas e Mato Grosso. A família linguística
mais divulgada é Tupí-Guaraní. O maior número dos falantes pertence à língua
Guarani. O seguinte quadro detalha as informações5 sobre os povos tupis e as suas
línguas:

Número
Ano da
Povo Estado Família linguística dos
pesquisa
falantes
Ajuru Rondônia Tuparí
Amanayé Pará Tupí-Guaraní 192 2001
Amondawa Rondônia Tupí-Guaraní 83 2003
Anambé Pará Tupí-Guaraní 132 2000
Apiaká Pará Tupí-Guaraní 192 2001
Arara Rondônia Ramarama
Araweté Pará Tupí-Guaraní 293 2003
Aruá Rondônia Mondé
Asurini do Tocatins Pará Tupí-Guaraní 303 2001
Asurini do Xingu Pará Tupí-Guaraní 106 2002
Avá-Canoeiro Goiás e Tocatins Tupí-Guaraní 40 1998
Aweti Mato Grosso Awetí 140 2006
Baré Amazonas Tupí-Guaraní
Cinta Larga Mato Grosso e Mondé
Rondônia
Diahui Amazonas Tupí-Guaraní 50 2000
Gavião Rondônia Mondé 436 2000
Guajá Maranhão Tupí-Guaraní 326 2004
Guajajara Maranhão Tupí-Guaraní 13 100 2000

5
Informações obtidas do Instituto Socioambiental (ISA), associação sem fins lucrativos que tem como
objectivo defender direitos humanos e sociais, disponíveis em:
< http://www.socioambiental.org/pib/portugues/quonqua/ondeestao/quvivonde.shtm >.

9
Número
Ano da
Povo Estado Família linguística dos
pesquisa
falantes
Guarani Espírito Santo, Tupí-Guaraní 26 000 – 30 000 2003
Mato Grosso do
Sul, Paraná, Rio
de Janeiro, Rio
Grande do Sul,
Santa Catarina,
São Paulo
Juma Amazonas Tupí-Guaraní 5 2002
Kaapor Maranhão Tupí-Guaraní 800 1998
Kaiabi Mato Grosso e Tupí-Guaraní 1 000 1999
Pará
Kamayurá Mato Grosso Tupí-Guaraní 355 2002
Kambeba Amazonas Tupí-Guaraní 156 2000
Karipuna Rondônia Tupí-Guaraní 21 2000
Karitiana Rondônia Arikém
Karuaia Pará Mundurukú 115 2002
Kocama Amazonas Tupí-Guaraní 622 1989
Macurap Rondônia Tuparí
Munduruku Pará Mundurukú 7 500 1997
Parakanã Pará Tupí-Guaraní 753 2001
Parintintin Amazonas Tupí-Guaraní 156 2000
Sakurabiat Rondônia Tuparí
Sateré-Mawé Amazonas e Pará Mawé 7 134 2000
Suruí Pará Tupí-Guaraní 185 1997
Suruí Rondônia Mondé 765 1992
Tapirapé Mato Grosso Tupí-Guaraní 438 2000
Tembé Maranhão e Pará Tupí-Guaraní 820 1999
Tenharim Amazonas Tupí-Guaraní 585 2000
Tupari Rondônia Tuparí
Turiwara Pará Tupí-Guaraní
Uru-Eu-Wau-Wau Rondônia Tupí-Guaraní 170 2003
Waiãpi Amapá Tupí-Guaraní 525 1999
Xetá Paraná Tupí-Guaraní 8 1998
Xipaia Pará Juruna
Yudjá Mato Grosso e Juruna 278 2001
Pará
Zo’é Pará Tupí-Guaraní 152 1998
Zoró Mato Grosso Mondé 414 2000

2.2. Classificação das línguas indígenas

A classificação linguística dos indíos brasileiros nunca foi uma tarefa fácil. Desde
os meados do século XVI podemos encontrar as primeiras tentações de sistematizar as
línguas indígenas conhecidas naquele tempo pelos jesuítas. Estes designaram apenas
dois grandes grupos, o primeiro era o Tupi, sendo o segundo o Tapuia6. Todas as
línguas não tupis foram incluídas entre tapuias.

6
Termo tupi com significado de bárbaro ou inimigo.

10
Esse sistema dual enraizado pelos jesuítas foi válido até ao século XIX, até a
altura em que C. F. P. von Martius7 subclassificou os índios em nove grupos; Tupi e
Guarani, Jê/Tapuia, Guck/Côco, Grens/Guerens, Pareci/Poragi, Goitacás, Aruaque,
Lenguas/Guaiano, Índios em transição para a cultura e a língua portuguesa. Todos estes
grupos foram criados não só com base em língua, como também em outros aspectos
culturais.
Já nos fins do século XIX, K. von den Steinen8, sugeriu uma nova classificação
dividindo os indígenas em oito grupos; Tupi, Jê, Caribe, Nu-Aruaque/Maipure,
Goitacá/Waitaka, Pano, Miranda, Guaicuru/Waikuru.
Também P. Ehrenreich9 tentou implantar um novo sistema, no âmbito do qual os
povos indígenas sul-americanos foram classificados em três províncias etnográficas. A
primeira dessas era o Brasil, sendo subdividido em três famílias linguísticas; Tupi-
Guarani, Aruaque e Caribe.
Os trabalhos dos dois últimos alemães mencionados serviram de base para as
futuras propostas.
Nas últimas décadas surgiram distintas classificações feitas por linguistas de
vários países. Ultimamente os linguistas ao sistematizarem essas línguas têm procurado
seguir os métodos utilizados no resto do mundo. Numa das entrevistas10 o professor A.
D. Rodrigues11 tenta esclarecer o processo de qualificar as línguas indígenas com estas
palavras:

“As línguas indígenas são classificadas numa maneira análoga aquela como se
classificam as línguas no resto do mundo. Isto é, as classificações são geral, classificações
genéticas, em que se agrupam línguas a que se pode atribuir uma origem comum. Os grupos
linguísticos mais comumente constituídos são as chamadas famílias linguísticas, que podem
conter de uma até algumas dezenas ou centenas de línguas que têm a mesma origem, tal como,
por exemplo, na Europa, a família latina que envolve o português, o espanhol, o francês,
italiano, romêno, etc. Ou a família germânica com o inglês, alemão, holandês, dinamarquês,
faroese e assim por adiante, né? São famílias linguísticas, de línguas que têm a mesma origem
no passado. Assim também se classificam aqui as línguas. Nesse sentido temos no Brasil hoje
entre quarenta e cinquenta famílias linguísticas distintas. Algumas destas já é possível agrupar
em conjuntos maiores, de natureza genética também quer dizer que por hipótese têm a mesma

7
Carolus Fridericus Philipp von Martius (1794–1868), viajante e naturalista alemão que visitou o Brasil
entre 1817–1820 para registrar e colectar as informações sobre a flora brasileira.
8
Karl von den Steinen (1855–1929), etnólogo alemão, realizador de duas expedicões ao Brasil.
9
Paul Ehrenreich (1855–1914), realizador de três expedições ao Brasil, autor germânico dos estudos
sobre mitologia e línguas indígenas brasileiras.
10
Parte da entrevista retirada da gravação do programa Línguas indígenas de série de programas Vozes
indígenas no Brasil da Radio Nederland, disponível em:
< http://cgi.omroep.nl/cgi-bin/streams?/rnw/smac/2004/prog_2_l_nguas_ind_genas_20050412.wma >.
11
Aryon Dall’Igna Rodrigues (*1925), professor e coordenador do Laboratório de Línguas Indígenas da
Universidade de Brasília (UnB).

11
origem. Então nós temos dois grupos desses maiores, a que chamamos de troncos linguísticos.
O tronco linguístico Tupi, que abrange 10 famílias linguísticas uma das quais é a família Tupi-
Guarani, a mais conhecida, mas há outras nove também, e o tronco linguístico Macro-Jê, que
inclui 12 famílias no estado atual do conhecimento. As demais famílias linguísticas não estão
agrupadas em troncos, isto é, ainda não se tem elementos para dizer, que umas e outras têm
possívelmente a mesma origem.”12

Como o objectivo do nosso trabalho não é o estudo das classificações das línguas
indígenas, escolhemos apenas sistemas de dois linguistas do século XX para
demonstrarmos as diferenças entre divisões das línguas faladas pelos índios no Brasil.

2.2.1. Tupi na classificação de Loukotka13

Segundo o trabalho de Čestmír Loukotka14, o Tupi figura entre as línguas dos


tribos da floresta tropical. Esta classe reparte-se ainda em quatro divisões; a central do
norte, a central do sul, a central e a nordeste, sendo a divisão norte-central a que
pertence ao tronco Tupi.
Para uma melhor orientação expomos o seguinte quadro15:

Divisão Tronco Grupo Dialecto


Tamoyo
Ararape
Temimino
Tupiniquin/Margaya
Tupinamba
Tupina
Caeté/Caité
Amoipira/Anaupirá
Abaeté
Tupi
Central do norte Tupi Maromomi
Potiguara/Petigaré
Viatan
Tobajara/Miarigois
Cahicahi/Caicaze/Caicai
Jaguaribára
Tupinambarana
Nhengahiba/Ingahiva
Nheéngatu/Niangatú/Lingoa geral
Guarani

12
Radio Nederland. Vozes Indígenas no Brasil: Línguas indígenas [online].
[cit. 2008-07-14]. Disponível em:
<http://cgi.omroep.nl/cgi-bin/streams?/rnw/smac/2004/prog_2_l_nguas_ind_genas_20050412.wma>.
13
Čestmír Loukotka (1895–1966), linguista e americanista checo, autor de vários trabalhos dedicados às
línguas dos índios sul-americanos e à sua classificação.
14
Loukotka, Č. Classification of South American Indian Languages. Los Angeles: UCLA, 1968.
15
Para simplificarmos o quadro indicamos apenas os troncos da divisão central do norte, os grupos do
tronco Tupi e os dialectos do grupo Tupi.

12
Divisão Tronco Grupo Dialecto
Línguas
guaranizadas das
tribos primitivas
Kamayurá
Tapirapé
Grupo do Norte
Pará
Guiana
Grupo do Sul
Tupi Amazonas
Chiriguano
Mawé
Mundurucú
Yuruna
Itogapúc
Arikém
Macuráp
Mondé
Kepkeriwát
Arawak
Otomac
Guamo
Taruma*
Central do norte Piaroa
Tinigua
Máku*
Tucuna*
Yagua
Kahuapana
Munichi
Cholona
Mayna
Murato
Auishiri*
Itucale*
Jíbaro
Sabela
Záparo
Chapacura
Huari
Capixana*
Koaiá*
Purubora*
Trumai*
Cayuvava*
Mobima*
Itonama*
Canichana*
Central do sul
Central
Nordestina

*
Assim marcadas são as línguas isoladas, no sistema de Loukotka pertencentes aos troncos.

13
2.2.2. Classificação segundo Rodrigues

Uma outra classificação, mais recente em comparação com a de Loukotka (1968),


foi feita por Aryon Dall’Igna Rodrigues16 em 1986. Este agrupou as línguas do tronco
Tupi em famílias linguísticas da maneira indicada no seguinte quadro:

Tronco Famílias Línguas


Akwáwa
Amanayé
Anambé
Apiaká
Araweté
Asuriní do Xingu/Asuriní do
Koatinemo
Avá-Canoeiro
Guajá
Guarani
Kaapór/Urubu-Kaapór
Tupí-Guaraní Kamayurâ
Kayabí
Kawahíb
Kokáma
Língua Geral
Amazônica/Nheengatú
Suruí do Tocatins
Tapirapé
Tenetehára
Wayampí/Waiãpi/Oiampi
Tupi Xetá
Zo’é/Puturú
Arikém Karitiána
Awetí Aweti
Juruna Juruna/Yuruna
Xipaia
Mawé Mawé/Sateré-Mawé
Mondé Aruá
Cinta-Larga
Gavião/Ikôro
Mondé
Surui/Paitér
Zoró
Puroborá
Mundurukú Kuruáya
Mundurukú
Ramarama Káro/Arara
Tuparí Arujú/Mayoró
Makuráp
Mekém
Sakirabiár
Tuparí

16
Rodrigues, A. D. Línguas brasileiras – para o conhecimento das línguas indígenas. São Paulo:
Edições Loyola, 1986.

14
3. KAMAIURÁ17

Os kamaiurá são originalmente habitantes da área situada ao redor da lagoa


Ypawu que se encontra no estado de Mato Grosso. Segundo o estudo18 de L. Seki19, em
1991 havia duas aldeias constituidas em conjunto por 300 indivíduos pertencentes a
este povo tupi.

3.1. Povos do Alto Xingu

O termo geográfico Alto Xingu designa uma parte da bacia do rio Xingu, área
cujas fronteiras são determinadas no norte pela cachoeria Von Martius, no sul pelo
planalto Matogrossense, no leste pela serra do Roncador e no oeste pela serra Formosa.
Em 1961 deu-se a origem ao Parque Indígena do Alto Xingu que parcialmente abrange
também esta zona.20
Em geral, o território do parque subdivide-se em duas partes definidas
geograficamente e, ainda, sócio-culturalmente – a parte sul denominada também como
Alto Xingu e a parte norte que recebe o nome de Baixo Xingu. Alto Xingu estende-se
na área desde o sul do parque até a região Morená, onde convergem os afluentes dos
rios Culuene, Ronuro e Batovi.21
Os habitantes dessa zona são pertencentes a dois grupos do tronco Tupi, Aweti e
Kamaiurá, três são da família Aruak, os Mehinako, Yawalapiti, Waurá e mais quatro da
família Karib, sendo eles Kuikuro, Kalapalo, Matypu e Nahukwa. Há muito tempo os
grupos uniformizaram a sua cultura, porém até hoje diferenciam-se no campo de
identidade étnica e língua. Os povos do Baixo Xingu permanecem distinguidos não só
linguisticamente, mas também culturalmente.22
A adaptação cultural dos grupos no Alto Xingu reflecte-se em várias esferas.
Encontram-se entre elas a maneira de construir casas e aldeias, a organização familiar
(famílias extensas), a subsistência (a caça é superada por pesca, as bebidas fermentadas

17
O termo Kamaiurá na classificação das línguas de Rodrigues e de Loukotka varia da nomenclatura de
L. Seki, Rodrigues apresenta-o como Kamayurâ enquanto Loukotka utiliza o termo Kamayurá.
18
Seki, L. Gramática do Kamaiurá: Língua Tupi-Guarani do Alto Xingu. São Paulo: Imprensa Oficial,
2000.
19
Lucy Seki, linguista e pesquisadora brasileira, actualmente professora titular da UNICAMP e
colaboradora do Departamento de Lingüística do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL).
20
Seki, L. Gramática do Kamaiurá: Língua Tupi-Guarani do Alto Xingu. São Paulo: Imprensa Oficial,
2000, pág. 31.
21
Ibid., pág. 31.
22
Ibid., pág. 32.

15
são ausentes), a aparência (uso de certos tipos de roupa, de enfeites, a maneira de cortar
cabelo e de depilação do corpo), a vida espiritual (xamanismo, mitologia dual – sol e
lua, danças mascaradas), etc. Esta unificação é o efeito de contacto de longa duração
entre os povos do qual surgiu “um complexo sistema de relações inter tribais, incluindo
trocas económicas, matrimoniais e cerimoniais.”23
No entanto, existem entre eles algumas divergências. As mais evidentes
encontram-se nas línguas e na orientação da manufactura e podem ser observadas, tal
como as outras, por exemplo, no sector de alimentação, da vida social, etc.24
Todos os grupos, deste modo, conseguem manter a sua pertinência às origens.
Juntamente constituem uma comunidade em que não há um povo superior aos outros.
Em comparação com as tribos meridionais, as setentrionais, em geral, não são
uniformes em nenhum dos aspectos culturais acima mencionados. Assim, os grupos do
Baixo Xingu mantiveram a sua heterogeneidade.25

3.2. Linguagens da região

Ao contrário dos estudos etnográficos, reparamos num certo atraso no


desenvolvimento dos estudos linguísticos. Há muito pouco tempo que se deu início às
pesquisas metodológicas no campo da linguística onde os linguistas voltaram aos
estudos das línguas individuais com base nos quais podem prosseguir com trabalhos
comparativos.
Se bem que as diferentes línguas do Alto Xingu tivessem coexistido por muito
tempo e os povos se tivessem uniformizado culturalmente, os grupos mantiveram suas
línguas originais sem que se formasse um “código comum a todos os grupos ali
residentes, línguas mistas ou língua franca”26. A língua própria representa um factor de
reconhecimento muito importante na identidade de cada grupo, o que provam as
seguintes palavras da professora Seki: “Os grupos do sul do Xingu são monolíngües,
isto é, a cada povo corresponde uma língua, registrando-se apenas duas excepções: os

23
Seki, L. Gramática do Kamaiurá: Língua Tupi-Guarani do Alto Xingu. São Paulo: Imprensa Oficial,
2000, pág. 36.
24
Ibid., pág. 36.
25
Ibid., pág. 36.
26
Ibid., pág. 41.

16
Yawalapiti e os Trumai, que em consequência de condições específicas se tornaram
multilingües.”27
O sistema de comunicação entre as tribos abrange uma série de sinais não-verbais,
entre eles gestos mímicos, sinais visuais, mas também música e cantos, entre outros.
Este código representa os meios compreensíveis a todos os grupos nos encontros
intertribais visto que nas cerimónias cada grupo fala a sua própria língua. Não pode
ocorrer a utilização do idioma que não é próprio ao indivíduo mesmo que o
compreenda. Porém a linguagem verbal neste tipo de encontros é muito formalizada.
Essa atitude conservadora das tribos no campo linguístico impedia quer o
desenvolvimento de língua franca, quer os vestígios de um idioma no outro. No
entanto, nota-se uma certa influência na parte lexical das línguas que “parece altamente
restrita a elementos culturais, nomes de personagens mitológicos e de cerimônias.”28 De
exemplo pode servir o Kamaiurá que deixou vários vestígios no vocabulário do Trumai.
No passado houve o despovoamento, resultado de conflitos, de epidemias e de
outras causas que provocaram a destribalização na região sul do Xingu. Os índios
restantes integraram-se nas tribos parentes linguisticamente. Assim desapareceram,
entre outros, dois grupos tupis, o Anumaniá e o Manitsawá.29
O português também está enquadrado na lista de línguas do Alto Xingu. Depois
de trazido pelos colonizadores para esta zona, estendia-se pouco a pouco entre os povos
sul-xinguanos. O processo de divulgação dele não foi igual em todos os grupos e
dependia de vários aspectos como, por exemplo, a duração de contacto entre os nativos
e os portugueses, a posição do grupo em relação aos núcleos urbanos, o sexo, a idade
ou a posição no grupo. O conhecimento do português diferenciava a nível tanto de
grupos quanto de seus membros. L. Seki acrescenta:

“Em nível de grupo, todos incluem indivíduos que têm pelo menos algum conhecimento
do Português, porém o número de falantes, bem como o grau de domínio da língua varia de
grupo para grupo. Em nível individual, encontram-se desde pessoas que não falam a língua, até
aquelas que têm dela um bom conhecimento.”30

27
Seki, L. Gramática do Kamaiurá: Língua Tupi-Guarani do Alto Xingu. São Paulo: Imprensa Oficial,
2000, pág 39.
28
Ibid., pág. 42.
29
Ibid., pág. 43.
30
Ibid., pág. 41.

17
A língua portuguesa utiliza-se sobretudo na comunicação entre os indígenas e “os
brancos”. Outro emprego do português nota-se actualmente nos encontros intertribais,
quando ele serve de código neutral. Muitas vezes, nessas situações os sujeitos bilíngues,
isto é aqueles que dominam não só a língua própria do seu grupo, mas também o
português, desempenham o papel de ajudantes de chefes que não têm nenhum ou
apenas pouco conhecimento do português. Seki explica: “(...) os grupos locais não
fazem uso do Português na comunicação entre seus membros, excepção feita ao
Trumai, grupo em que as crianças já aprendem o Português como primeira língua.”31
Por via de regra, o idioma usado na comunicação intertribal é o aborígene, ainda que
haja no grupo muitos indivíduos falantes português, o facto que acontece no Juruna 32e
Kamaiurá.33
O Kamaiurá figura entre os povos que mais sofrem a influência de contacto com o
português. Seki comprova a grande importância do idioma do grupo com estas
palavras:

“(…) a língua Kamaiurá demonstra um notável vigor, sendo usada na


comunicação entre os membros do grupo nos distintos contextos e situações, inclusive
naqueles que envolvem elementos culturais do “branco”, como nos treinos de futebol,
no manuseio de gravador (todos os controles são designados por termos Kamaiurá) ou
em jogos de cartas”34

3.3. Língua Kamaiurá

As primeiras informações sobre a Kamaiurá surgiram nos fins do século XX e


foram publicadas por Steinen e Schmidt, etnólogos alemães, como listagens lexicais.
No entanto, os primeiros estudos linguísticos datam só dos anos sessenta. Eles tratam,
especialmente do aspecto fonológico do idioma.35
Conforme a classificação de A. D. Rodrigues36, a Kamaiurá pertence ao tronco
Tupi e, também, à família Tupi-Guarani. O resultado da vastidão desta família
linguística é a ocorrência das línguas tupi-guaranis nos países como Peru, Bolívia,

31
Seki, L. Gramática do Kamaiurá: Língua Tupi-Guarani do Alto Xingu. São Paulo: Imprensa Oficial,
2000, pág. 44.
32
Juruna é a língua pertencente ao tronco Tupi, à família Juruna, falada no Baixo Xingu.
33
Seki, L. Gramática do Kamaiurá: Língua Tupi-Guarani do Alto Xingu. São Paulo: Imprensa Oficial,
2000, pág. 44.
34
Ibid., pág. 44.
35
Ibid., pág. 47.
36
Disponível no capítulo 2.2.2.

18
Venezuela, Colômbia, Guiana Francesa, norte da Argentina e Paraguai. No Brasil há 21
dessas línguas espalhadas em 12 estados.37
Do ponto de vista morfológico, as classes morfolexicológicas da Kamaiurá são
divididos em substantivos, pronomes, demonstrativos, verbos, advérbios, posposições38,
partículas e ideofones. Um dos importantes atributos desta língua é um frequente uso de
partículas, que podem expressar, conforme os operadores, a quantificação, identificar o
aspecto, o modo e o género.39 L. Seki prossegue na característica da língua: “Por suas
características morfológicas, o Kamaiurá inclui-se entre as línguas de relações puras e
complexas, e pela técnica de expressão dos conceitos está entre as línguas aglutinativo-
fusionantes.”40
Posto que a finalidade do nosso trabalho é demonstrar a importância das línguas
tupis e não o estudo de língua Kamaiurá, a intenção deste capítulo foi apenas esboçar
concisamente algumas informações sobre uma das línguas pertencentes a este grupo.

37
Seki, L. Gramática do Kamaiurá: Língua Tupi-Guarani do Alto Xingu. São Paulo: Imprensa Oficial,
2000, pág. 44.
38
Elemento ou partícula colocada depois de uma palavra com a mesma função que em outras línguas é
exercida pelas preposições (as posposições são muito frequentes nas língua indo-áricas).
39
Seki, L. Gramática do Kamaiurá: Língua Tupi-Guarani do Alto Xingu. São Paulo: Imprensa Oficial,
2000, pág. 45.
40
Ibid., pág. 45.

19
4. INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS INDÍGENAS NO LÉXICO
DO PORTUGUÊS BRASILEIRO

Após a chegada dos europeus na costa brasileira, os portugueses foram obrigados


a aprender as línguas aborígenes para possibilitarem a convivência com os nativos
assim como a colonização do território. Os que também precisavam de conhecer e
dominar as línguas indígenas foram os missionários jesuítas chegados ao Brasil no
começo de 1549. Estes usavam-nas para catequizar as tribos e assim convertê-las aos
valores europeus. Uma das línguas tupis, Tupinambá, servia de base para a criação da
língua geral, a língua mais usada pelos habitantes do Brasil naquela época, quer pelos
índios, quer pelos portugueses que assim conseguiam comunicar com os nativos.
Mesmo que o português afinal tivesse conseguido superiorizar as línguas dos índios,
um grande legado indígena nele foi deixado, no vocabulário, tal como na pronúncia ou
na construção de frases.
Existem informações que comprovam o facto de os portugueses, no périodo da
colonização, a partir de 1532, terem aproveitado os nativos e os seus conhecimentos
sobre o ambiente nas viagens ao interior do país, conhecidas como bandeiras. Durante
as expedições, os colonizadores aprendiam com os índios a toponímia e o vocabulário
da fauna e da flora. Já que o primeiro contacto conseguido pelos portugueses foi o
contacto com as tribos tupis, muitas dessas palavras, posteriormente incorporadas em
português, são oriundas de suas línguas. A procedência dos nativos, que faziam parte
das bandeiras, explica o porquê nas zonas nunca povoadas pelos tupis existia uma
presença notável dos topónimos baseados nesses idiomas.

4.1. Nomes indígenas na nomenclatura brasileira

Apesar de a influência das línguas indígenas ter sido grande, os linguistas nem
sempre conseguem identificar a origem de palavras. Porém, sabe-se que foi a língua
geral em que se baseou a nomenclatura do português do Brasil. Existe a pressuposição
de que os bandeirantes e os jesuítas foram os primeiros a conhecer os topónimos usados
pelos nativos e foram eles que começaram a aplicá-los na língua quotidiana, por
exemplo, para denominar novas realidades extralinguísticas relacionadas, sobretudo,
com a nomenclatura da fauna e da flora. Algumas palavras foram assumidas ou em

20
outros casos o radical tupi formou a base dos processos de formação de palavras
(derivação e composição). 41
Para o nosso objectivo será suficiente mencionarmos apenas uma parte do
vocabulário toponímico.
Em primeiro lugar introduzimos as denominações de selva por um simples
motivo. A atenção dos colonizadores centrou-se, sobretudo, nela e nas suas formas
diferentes, denominadas pelos índios por diferentes substantivos. Muitos deles
contiveram o radical de origem indígena caa (mato, planta, folha) como os compostos
caaete (mata verdadeira), caatinga (mata branca, clara), capão (souto ou bosque
denso), capoeira (mata que era, mata secundária).42
Como o segundo exemplo expomos os nomes dos rios que foram, tanto no Brasil
como em outros países da América Latina, conservados. A maioria de grandes rios
recebeu mais nomes que foram de diferentes origens. Muitos rios, cujos nomes eram
oriundos de português, foram substituídos por nomes de origem indígena. Entre as
palavras usadas para denominar os rios, o radical mais comum é hy43 (água) junto com -
xy, -ri, -he, -ie e -gy como nos exemplos Piauí, procedente duma espécie de peixe;
Ituxy, rio com queda de água; Cayari, rio do vale; Serigy, rio do caranguejo. Outro
vocábulo, de origem tupi, que se pode observar neste grupo é waya com significado de
vale. Podemos encontrá-lo em Paraguai (parauá é uma espécie de papagaio). Nos
processos de formação de palavras, a água e os nomes de cores eram muito
importantes: Carinhanha, correndo rápidamente; Ucaquiári, rio branco. Em outros
casos os nomes dos rios foram derivados dos nomes de animais aquáticos,
nomeadamente dos peixes (Piraí, rio do peixe). Interessantes são os nomes formados
segundo o olhar de caçador como Parapanema, rio inútil. Algumas designações criadas
dos nomes próprios de nativos, tribos ou chefes são Tocatins, Xingu, Pacatuna. 44
Analogamente aos nomes dos rios, também algumas povoações foram
denominadas por nomes das tribos (Manaus, Cametá). Contudo, as designações de

41
Lind, I. De Portugal ao Brasil: um pequeno estudo de toponímia brasileira. Lisboa: Casa Portuguesa,
1963, pág. 60.
42
Ibid., pág. 63.
43
Hoje em dia pode ser escrito como hi ou hí.
44
Lind, I. De Portugal ao Brasil: um pequeno estudo de toponímia brasileira. Lisboa: Casa Portuguesa,
1963, pág. 67–69.

21
povoações baseadas em nomes de chefes ocorrem no Brasil em menor número em
comparação, por exemplo, com outro país latinoamericano, a Colômbia.45
Seguimos com os nomes dos lagos que, em alguns casos, provêm de várias
espécies de peixes, tartarugas e outros animais aquáticos. Ao mesmo tempo há aqueles
como Upacaray em que de prefixo serve a palavara upa/upaba, denotativo de lago.46
Há muitas palavras derivadas da palavra de origem tupi ita que significa pedra ou
rocha. Luísa Galvão Lessa47 explica a grande frequência desses vocábulos como a
consequência do facto de a pedra ou a montanha ter sido muito importante na marcação
dos caminhos dos bandeirantes paulistas nos séculos XVII e XVIII. Num outro grupo
de vocabulário derivado da mesma palavra incluimos substantivos que contém o radical
que designa minerais desconhecidos pelos indígenas antes da chegada dos europeus
como o ferro ou o ouro. Os nomes dados às montanhas demonstram, além de outras
coisas, uma grande força de imaginação (Arasoiaba, Morro de Chapéu) e alguns
acontecimentos impressionantes (Serra de Maranquara, no vale da batalha).48
No caso das palavras Carioca, habitação dos brancos; Taumirim, pequena
povoação ou Taubaté, grande povoação, serviu de base a característica principal de
cada um deles. Por vezes ocorrem os vocábulos de tom lóbrego como Jabaquara, cova
dos fugitivos; Marampariba, está tudo doente ou Panaíba, pobreza, porém eles não são
muito comuns.49
Algumas palavras que têm origem em língua geral tornaram-se parte do
vocabulário utilizado pela nobreza brasileira, o que comprova o facto de estas palavras
terem sido consideradas de valor igual às portuguesas.
Muitos dos vocábulos oriundos de línguas índias sofreram uma modificação para
serem mais compreensíveis para os portugueses, perdendo assim a sua forma original.
É interessante que muitos termos baseados em línguas indígenas como Tupi foram
formados não só pelos aborígenes, como também por raça branca. 50
Ao longo do tempo foram criados nomes híbridos, o que foi a consequência do
contacto existente entre as línguas. Assim nasceram termos como Narandiba, que tem

45
Lind, I. De Portugal ao Brasil: um pequeno estudo de toponímia brasileira. Lisboa: Casa Portuguesa,
1963, pág. 77.
46
Ibid., pág. 70.
47
L. G. Lessa, membro da Academia Acreana de Letras e Academia Brasileira de Filologia.
48
Lind, I. De Portugal ao Brasil: um pequeno estudo de toponímia brasileira. Lisboa: Casa Portuguesa,
1963, pág. 70.
49
Ibid., pág. 73–74.
50
Ibid., pág. 76.

22
como radical a palavra laranja. Entre outro tipo de híbridos podemos contar os
substantivos derivados por meio da sufixação, sendo o sufixo de origem portuguesa,
por exemplo Cajueiro (de Caju) ou Cupinzal (de Cupim).51

4.2. Palavras indígenas no vocabulário brasileiro

O vasto legado do Tupi no léxico do português brasileiro é inegável. No entanto


nos trabalhos dos etimologistas pode-se observar uma certa instabilidade. O professor
Gladstone Chaves de Melo52 tenta explicar esta insegurança: “Língua aglutinante e
incorporante, infelizmente mal conhecida por quase todos os que a ela se têm dedicado,
o tupi, nessas condições, se presta muito à fantasia e ao trabalho de imaginação dos
etimologistas.”53 Portanto muitas vezes acontece que para um vocábulo são elaboradas
várias análises diferentes. Em outros casos o vocábulo é incorrectamente classificado
como oriundo de Tupi. O professor traz algumas expressões para exemplificar esta
incorporação errada entre as palavras de origem tupi; canga de facto descende do
chinês, canjica é provavelmente o derivado ou diminutivo de canja que provém do
malaio, catana, o termo provado ser japonês ou Mecejana que procede de português.54
Muitos resultados das pesquisas etimológicas são disputáveis, razão, pela qual
incluímos os desfechos dos trabalhos de vários linguistas sobre as palavras de origem
indígena que figuram no vocabulário brasileiro.

4.2.1. Gladstone Chaves de Melo

G. CH. de Melo incorporou no seu trabalho55 um grande número dos topónimos


da geografia brasileira, antropónimos, vocábulos ligados à fauna e flora, quer
assumidos, quer baseados em Tupi:

Geografia Andaraí, Brocoió, Cabuçu, Caju, Carioca, Catete, Catumbi,


Gamboa, Guanabara, Guaratiba, Jacarepaguá, Inhaúma,
Ipanema, Irajá, Itapiru, Maracanã, Pavuna, Tijuca, etc.

51
Lind, I. De Portugal ao Brasil: um pequeno estudo de toponímia brasileira. Lisboa: Casa Portuguesa,
1963, pág. 77.
52
Gladstone Chaves de Melo (1917–2001), porfessor e linguista brasileiro.
53
Melo, G. Ch. de. A Língua do Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1971, pág. 49.
54
Ibid., pág. 49.
55
Ibid., pág. 43–45.

23
Prenomes e Apelidos Araci, Baraúna, Cotegipe, Caminhoá, Guaraciaba, Iracema,
Jaci, Juraci, Jurema, Jupira, Jucá, Moema, Piragibe, Sucupira,
Ubirajara, Araripe, Sinimbu, Bartira, Coema, Graciema, Inaiá,
Iraci, Irani, Jacira, Jandaia, Jandaíra, Jandira, Iara, Oiticica,
Jataí, Guarani, etc.
Fauna araponga, acará, caninana, capivara, coati, curiango, curió,
gambá, irara, jacaré, jacu, juburu, jaó, jararaca, juriti, lambari,
nhambu, mandi, paca, piranha, sabiá, sanhaço/sanhaçu,
maitaca, maritaca/baitaca, súva, tamanduá, siriema, tanajura,
tatu, umbu, urubu, saracura, surubi, sucuri, tejuaçu, sagui,
cotia, etc.
Flora abacaxi, brejaúva, buriti, carnaúba, capim, caruru, cipó,
grumixama, jacarandá, jabuticaba, peroba, pitanga, canjarana,
caroba, jequitibá, mandioca, aipim, imbuia, ingá, ipê, sapé,
taquara, tiririca, timbó, gabiroba, araticum, maracujá, caju,
caatinga, etc.

Segundo o autor, a área com o maior número dos topónimos oriundos de Tupi é o
Estado de São Paulo por motivo de ter sido o “(…) centro de irradiação das Bandeiras,
importante núcleo de catequeze e uma das regiões onde a língua bárbara foi por mais
tempo empregada no Brasil-Colônia.”56 Acrescenta ainda que os antropónimos indicam
o nacionalismo ou manifestam a influência literária.

4.2.2. Antenor Nascentes

O lexicógrafo A. Nascentes57 enquadra o Tupi nos elementos exóticos do léxico


português. No seu dicionário58 incluiu as seguintes 23 palavras de origem tupi-guarani:

abacaxi, abanheêm/abanheenga, aimoré, ananás, arara, boa, copaíba, guarani, hévea,


ipecacuanha, jacaré, jaguar, jibóia, mandioca, petúnia, sagüi, sarigueia, tamanduá,
tapioca, tapir, tatu, tucano, tupi.

56
Melo, G. Ch. de. A Língua do Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1971, pág. 44.
57
Antenor de Veras Nascentes (1886–1972), professor, filólogo, lexicógrafo e ensaísta brasileiro.
58
Nascentes, A. Dicionário etimológico da língua portuguêsa. Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1955,
pág. XXIX.

24
4.2.3. Luísa Galvão Lessa59

L. G. Lessa traz os seguintes exemplos da presença das palavras de origem


indígena existentes no vocabulário do português brasileiro junto com os seus
significados:

Capiau gente do mato, matuto, acanhado


Capixaba nome dado ao morador do Espírito Santo
Cupim térmita, cupim
Itaberaba/Itaberá pedra que brilha
Itaberabuçu pedra grande que brilha
Itabira pedra levantada
Itacolomi/Itacurumim pedra em forma de criança nos braços da mãe
Itacuruça cruz de ferro
Itaimbé/Itambé pedra, com borda/precipício
Itajuba/itajubá pedra amarela/ouro
Itajutinga ouro branco/prata
Itajyca pedra/ferro duro, estanho
Itamaracá pedra que soa, sino
Itamembeca pedra ou ferro mole/chumbo
Itamiju pedra pequena amarela/topázio
Itanema pedra fétida, o cobre, o azinhave
Itaobi pedra verde, esmeralda
Itayngapema borduna de pedra/espada
Jururu melancólico, tristonho
Lengalenga muita conversa, conversa fiada
Mocó roedor da família dos cavídeos; na gíria, casa rústica; diz-se
também da pessoa caipira, jegue, cafona
Nhen-nhen-nhen o mesmo que lengalenga, forma apocopada de nheeenga-
nheenga, usada nas regiões onde houve influência guarani
Oi saudação tupi

59
Lessa, L.G. A presença das línguas indígenas no uso diário brasileiro [online].
[cit. 2008-07-11] Disponível em:
<http://www.agenciaamazonia.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=1050&Itemid=15
6>.

25
Saúva espécie de formiga
Sururu mexilhão; revolta, motim
Tapera aldeia abandonada; casa em ruínas
Tiririca planta que se espalha; diz-se também da pessoa zangada,
brava por algo
Toró tempestade, chuva forte
Tororó fonte, bica; conversa fiada
Tracajá tracajá, tartaruga da Amazônia

Os exemplos acima incluem também alguns neologismos, que são as expressões


desconhecidas nesta língua indígena, derivadas ou formadas das palavras tupis, criadas
ao longo do tempo. Entre elas podemos contar as seguintes palavras: itajutinga,
Itayngapema, itamaracá, itacuruça, itamembeca, itamiju, itajyca, itanema.

4.2.4. Paulo Hernandes60

Este fenómeno é demonstrado por P. Hernandes com as seguintes expressões61 nas


quias figuram, entre outros, alguns topónimos e antropónimos:

Cidades, bairros, lugares e Aracati, Aracaju, Arapiraca, Butantã, Guarapari,


fenómenos naturais Guaratinguetá, Igaraçu, Iguaçu, Itaberaba, Itaim, Itaipu,
Itambé, Itu, Itatiaia, Ituiutaba, Jacutinga, Jundiaí,
Mandaguari, Manhuaçu, Manhumirim, Pacaembu,
Paracatu, Paraíba, Paraná, Piracanjuba, Piracicaba, Piraí,
Piratuba, Taguatinga, Taquaritinga, Tucuruvi, Ubajara,
biboca, caatinga, capão, capoeira, coivara, piracema,
pororoca, tapera, toca, toró, voçoroca, etc.
Baías, rios, lagos e lagoas Araguaia, Guanabara, Guajará, Itabapoana, Jacuí,
Paraguai, Paranapanema, Ivaí, Uruguai, Jequitinhonha,
Mirim, Mojiguaçu, Paranoá, Sapucaí, Paranaíba, Parnaíba,
Tapajós, Xingu, Taquari, Tamanduateí, Tibaji, etc.
Serras Borborema, Cariri, Ibiapaba, Parima, Paracaima, etc.
Prenomes e apelidos Araci, Coaraci, Guaraci, Guaraciaba, Iara, Iracema,
Itajiba, Itiberê, Jaci, Jaguaribe, Jandira, Jucá, Jupira,
Juraci, Jurandir ou Jurandi, Jurema, Moema, Oiticica,
Pitanga, Sucupira, Ubirajara, Ubiratã, etc.

60
Paulo Antonio Outeiro Hernandes (*1942), professor de Lingüística, Língua Portuguesa, Semântica e
Lexicologia, redactor, revisor de textos.
61
disponível em < http://www.paulohernandes.pro.br/vocesabia/001/vcsabia012.html >.

26
Habitantes de cidades ou capixaba, carioca, potiguar
estados
Fauna araponga, arara, ariranha, caninana, capivara, curiango,
curió, cutia, gambá, irara, jaburu, jacaré, jacu, jararaca,
jataí, jibóia, juriti, lambari, mandi, maracanã, paca,
piramotaba, piranha, quati, sabiá, saúva, seriema, sucuri,
surubim, tamanduá, tatu, urubu, urutu, etc.
Flora abacaxi, araçá, buriti, cabiúna/caviúna, caju, capim,
carnaúba, caroba, cipó, cupuaçu, guabiroba/gabiroba (e
outras variantes), imbuia, ingá, ipê, jaboticaba, jacarandá,
jatobá, jequitibá, mandioca, peroba, sapé, taioba, taquara,
timbó, tiririca, umbaúba, etc.
Comidas e bebidas beiju, moqueca, pamonha, quirera, tapioca, tucupi, uca

Objetos, aparelhos, arapuca, curare, igaçaba, jacá, tacape, tipiti, urupema


utensílios, armas
Doenças, crenças e catapora, jururu, sapiroca, sapituca; Caipora, Curupira,
crendices Iara, Saci, urucubaca

Além das palavras acima mencionadas, no vocabulário brasileiro são frequentes


também as expressões compostas ou derivadas delas, por exemplo amapaense,
cajueiro, capinzal, guarda-mirim, ingazeiro, manauense, sabiá-da-praia, tocantinense,
urubu-rei.

4.2.5. Sílvio Elia

S. Elia62 comprova a influência tupi no português no seu livro El portugués en


Brasil63 com estes exemplos:

Fauna apiacá, araponga, arara, ariranha, bacurau, biguá,


boipeba, canindé, carapanã, capivara, gambá, guaiamun,
guará, inambu, irerê, jaburu, jabuti, jacaré, jacu, jaguar,
jandaia, jararaca, jibóia, juriti, lambari, maracajá, mocó,
muriçoca, paca, patativa, pirarucu, sabiá, sanhaço, socó,
suaçu, suçuarana, sucuri, surubim, sururu, tamanduá,
tangará, tapir, tatu, traíra, tucano, urubu, urutu

Flora abacaxi, açaí, aipim, ananás, babaçu, buriti, cacau,


carnaúba, caju, capim, cipó, cajá, catuaba, copaíba,
embaúba, ingá, jabuticaba, jacarandá, jenipapo, jequitibá,

62
Sílvio Edmundo Elia (1913–1998), ensaísta, filósofo, linguista, professor e membro da Academia
Luso-Brasileira de Letras.
63
Elia, S. El portugués en Brasil: historia cultural. Madrid: MAPFRE, 1992, pág. 191.

27
jerimum, macambira, macaxeira, mandioca, mangaba,
maracujá, oiti, peroba, piaçava, pitanga, pitomba,
samambaia, sapé, sapucaia, sucupira, araponga, taioba,
timbó, tucumá, ubá, umbu, urucuri

Estados do Brasil Pará, Ceará, Piauí, Paraíba, Sergipe, Paraná, Goiás,


Amapá, Roraima

Cidades capitais e Maceió, Aracaju, Niterói, Curitiba, Cuiabá; Corumbá,


provincias Uberaba, Sorocaba, Bauru, Itapetininga, Pirassununga,
Macaé, Miracema, Araruama, Caruaru, Araraquara

Rios Tocatins, Parnaíba, Paraná, Paraguay, Uruguay, Iguaçu

Ilha Marajó

Baías Guanabara, Ubatuba

Cabos Jericoaquara, Mucuripe

Serras Ibiapaba, Cariris, Mantiqueira

Montanhas Araripe, Borborema

4.3. Vocábulos incorrectamente qualificados como tupinismos

A etimologia de muitas palavras é polémica. Um dos linguistas que tentou


esclarecer a origem das palavras consideradas incorrectamente de origem tupi, foi
Sílvio Elia64 baseando-se nos trabalhos de vários cientistas, quer brasileiros, quer de
outras nacionalidades.
Segundo o historiador Teodoro Sampaio65 o vocábulo minhoca tem origem em
mi-nho-ca, palavra tupi com significado de ‘arrancado’ ou ‘extraído’. O filólogo
Gonçalves Viana66 sugeriu uma teoria contraditória conforme a qual a palavra procedia
da África, do quimbundo munhoca considerado por ele como o diminutivo de nhoca
(cobra). Uma outra explicação deste vocábulo foi feita por Carolina Michaélis67 que o
julgava ser oriundo de latim medieval, do verbo de origem céltica minare que significa
‘cavar’. Está certo que a palavra não pode ter procedido da língua indígena por uma

64
Elia, S. El portugués en Brasil: historia cultural. Madrid: MAPFRE, 1992, pág. 192–196.
65
Teodoro Fernandes Sampaio (1855–1937), geógrafo e historiador brasileiro, autor do trabalho O tupi
na geografia nacional. São Paulo: Editora Nacional, 1987.
66
Aniceto dos Reis Gonçalves Viana (1840–1914), filólogo e poliglota português, estudou, entre outras,
Quimbundo e Tupi.
67
Carolina Wilhelma Michaëlis de Vasconcelos (1851–1925), filóloga, historiadora literária e professora
universitária portuguesa de origem alemã, membro da Academia das Ciências.

28
simples razão, isto é: foi encontrada já nos textos portugueses dos séculos XIV e XV
enquanto que o Brasil só foi descoberto em 1500. 68
Conforme as afirmações de T. Sampaio, poderíamos constatar que boa provém de
mboy, serpente ou réptil, e aplica-se a cobras de grandes dimensões como a jibóia. O
facto que contraria a teoria da origem tupi é que esta já existia antes no latim com a
significação de serpente, o que comprova também Antenor Nascentes que constata, no
seu dicionário, que o vocábulo foi derivado do latim boa, “que com êste sentido
aparece em Plínio69, H. N., VIII, 14, relacionando-se com bos, boi (tão grande que possa
engulir um boi)”70
Entre os falsos tupinismos podemos contar a palavra noitibó ou oitibó, ave
nocturna. Gabriel Soares de Sousa71 consigna que os índios denominam, por meio da
dita palavra, o pássaro pardo agoureiro que emite o som oitibó. A palavra é usada neste
modo sem a’n’ inicial e é considerada como substantivo onomatopeico. T. Sampaio
concorda com esta explicação, porém mantém a forma noitibó. São vários os linguistas
que consideram a palavra onomatopeica, mas apareceram também outras teorias. Entre
outras a de Paulino Nogueira72 que deriva o vocábulo de oiti e de bu como grito da ave
que habita as copas das árvores oiti.73
Piaga, vocábulo com significação igual a ‘pajé’, designa o chefe espiritual de uma
tribo. Antônio Geraldo da Cunha74 sustentou a teoria de que o termo foi introduzido na
língua literária em 1846 pelo escritor Gonçalves Dias. Este empregava-o nos seus
poemas e ainda por cima incorporou-o no título de um deles. Ao longo do tempo a
palavra foi usada por outros escritores como, por exemplo, Castro Alves, Junqueira
Freire ou Machado de Assis. Batista Caetano75 considerou piaga como um erro de
impressão. Afirmou que o feiticeiro ou curandeiro segundo algumas escrituras sobre

68
Elia, S. El portugués en Brasil: historia cultural. Madrid: MAPFRE, 1992, pág. 192–193.
69
Gaius Plinius Secundus (23–79), sábio romano, autor de História Natural/Naturalis historia. Madrid:
Letras Universales, 2002.
70
Nascentes, A. Dicionário etimológico da língua portuguêsa. Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1955,
pág. 72.
71
Gabriel Soares de Sousa (1540–1590), colonizador e navegador português, autor do Tratado descritivo
do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1938.
72
Paulino Nogueira Borges da Fonseca (1842–1908), jornalista, professor, pesquisador, membro
correspondente do Instituto Histórico Brasileiro e sócio de várias associações literárias e científicas.
73
Elia, S. El portugués en Brasil: historia cultural. Madrid: MAPFRE, 1992, pág. 193–194.
74
Antônio Geraldo da Cunha, lexicógrafo brasileiro, membro do Instituto Nacional do Livro, autor do
Dicionário histórico das palavras portuguesas de origem tupi. São Paulo: Edições Melhoramentos,
1978.
75
Batista Caetano de Almeida Nogueira (1826–1882), linguista brasileiro, membro do Instituto Histórico
e Geográfico Brasileiro, autor dos Ensaios de ciência (1876).

29
Paraguai, era denominado como paiié que também aparecia escrito, entre outras
possibilidades, como paye, piaye, piache. B. Caetano pressupunha ser meramente uma
falta de impressão, sendo confundida a vogal ‘y’ com a consoante ‘g’, o que deu origem
à palavra piage , da qual evoluiu a palavra piaga. No entanto, é necessário mencionar
uma outra explicação, a de A.G. da Cunha que relaciona piaga com as tribos caribes,
argumentando com o facto de que a forma piache pode ser encontrada na língua dos
índios caribes de Venezuela e das Antilhas Menores que se aparentava-se com a Tupi.
Segundo ele foi, provavelmente, uma simples adaptação de um termo de uma língua
para outra em vez de um erro do impressor.76
Um outro tipo de problema etimológico apresenta o caso de inúbia, trompeta de
guerra. De acordo com A. G. da Cunha existe documentação do século XVII em que
está mencionada como uma corneta usada pelos brasileiros, porém sem procurar a
origem da palavra inúbia. Contudo, como afirma T. Sampaio, o termo yanubiá foi
utilizado por Jean de Lery77 para designar uma trompeta usada pelos tupinambás no Rio
de Janeiro, decompondo-o em ya-nu-biá – “o que soa agradavelmente”. Deduza-se
então que inúbia deve ter a origem tupi.78
Estes são apenas alguns dos exemplos de falsos tupinismos. Com o correr do
tempo os etimologistas esclarecem a origem de cada vez mais palavras. Há casos em
que eles impugnam as teorias segundo as quais as determinadas expressões são
oriundas de Tupi, mas acontece também que descobrem algumas outras provenientes
desse grupo de línguas.

76
Elia, S. El portugués en Brasil: historia cultural. Madrid: MAPFRE, 1992, pág. 195–196.
77
Jean de Léry (1534–1613?), viajante francês que andava pelo Brasil no século XVI.
78
Elia, S. El portugués en Brasil: historia cultural. Madrid: MAPFRE, 1992, pág. 196.

30
5. EXTINÇÃO DAS LÍNGUAS INDÍGENAS

O processo da extinção das línguas ocorre desde eras antiquíssimas em todo o


mundo, o Brasil não é uma excepção. Porém, nos últimos tempos, os linguistas
mostram uma grande preocupação na área das línguas indígenas. O facto de este tema
ser discutido em conferências linguísticas e etnológicas só demonstra a sua urgência.
Como exemplo pode servir a conferência celebrada na inauguração do
Laboratório de Línguas Indígenas do Instituto de Letras da Universidade de Brasília, a
8 de Julho de 1999 e o discurso do professor Aryon D. Rodrigues79, segundo o qual
chegámos às seguintes conclusões.
A pesquisa científica das línguas faladas pelos indígenas desde o descobrimento
do Brasil só se tem desenvolvido muito lentamente, facto que contribuiu para o
desaparecimento de muitas línguas e possivelmente até de algumas famílias linguísticas
inteiras. São alarmantes os números estatísticos, que falam por si.
Em 1500, ano em que chegaram os portugueses à costa brasileira, havia cerca de
1 200 línguas indígenas no território actual do Brasil. Hoje só existe por volta de 180,
ou seja apenas 15% delas. Assim pode-se observar a extinção de cerca de 1 000 línguas
em apenas 500 anos, isto é uma média de 2 línguas por ano.
Nota-se uma grande desigualdade em número dos falantes de cada língua
indígena, como afirma o professor:

“A população total dos povos indígenas é agora de cerca de 190.000 pessoas, mas destas
só cerca de 160.000 falam as 180 línguas indígenas. Isto implica numa média de menos de 900
falantes por língua. Como, naturalmente, a distribuição é desigual, algumas dessas línguas são
faladas por cerca de 20.000 pessoas ao passo que outras o são por menos de 20.”80

E pouco depois prossegue com as informações mais concretas:

“Há apenas uma língua com pouco mais de 30.000 falantes, duas entre 20.000 e 30.000,
outras duas entre 10.000 e 20.000, três entre 5.000 e 10.000, 16 entre 1.000 e 5.000, 19 entre
500 e 1.000, 89 de 100 a 500 e 50 com menos de 100 falantes. A metade destas últimas,
entretanto, tem menos de 20 falantes. Em resumo: das 180 línguas apenas 24, ou 13%, têm mais
de 1000 falantes; 108 línguas, ou 60%, têm entre 100 e 1000 falantes; enquanto que 50 línguas,
ou 27%, têm menos de 100 falantes e metade destas, ou 13%, têm menos de 50 falantes
(Rodrigues 1993c). Em qualquer parte do mundo línguas com menos de 1000 falantes, que é a
situação de 87% das línguas indígenas brasileiras, são consideradas línguas fortemente

79
Rodrigues, A. D. A originalidade das línguas indígenas brasileiras [online].[1999?]
[cit. 2008-06-23] Disponível em:
< http://www.unb.br/il/lali/publicacoes/publ_001.html >.
80
Ibid.

31
ameaçadas de extinção e necessitadas, portanto, de pesquisa científica urgentíssima, assim
como de fortes ações sociais de apoio a seus falantes, que como, comunidades humanas, estão
igualmente ameaçados de extinção cultural e, em não poucos casos, de extinção física."81

Conforme a pesquisa da SIL International82 publicada em duas edições de


Ethnologue83 podemos reparar na triste situação das línguas faladas pelos índios no
Brasil contemporâneo. Enquanto em 2000 o número das línguas vivas era 192, em 2005
este reduziu-se a 188. No decorrer de apenas 5 anos foram extinguidas 4 línguas. Para
concluirmos as estatísticas, a SIL Internacional publicou a lista das línguas em vias de
extinção84, 18 línguas na edição de 2000 (dos quais 7 são da família Tupi) e 30 na
edição de 2005 (delas 12 da mesma família).
Como diz A. D Rodrigues, existem vários meios para preservar as línguas
indígenas. Um deles é o processo de demarcação das áreas indígenas, que são
registradas em cartório. Isto serve para a proteção dos índios e para a preservação das
populações. Outra maneira é mudar o sistema de educação dos povos indígenas. Ainda
nos tempo recentes a língua portuguesa servia da língua de ensino, sendo que a lei
impunha que os indígenas recebessem a instrução básica em português e não em sua
própria língua. Assim estes deixavam de falar a sua língua materna. Actualmente, o
sistema tem-se tornado bilíngue e bicultural. Como conclui este tema o professor
Rodrigues: “(...) para evitar a extinção é necessário muita pesquisa científica, assim
como fortes ações sociais de apoio aos falantes.”85
A perda de cada outra língua indígena é um dano a mais à identidade brasileira.
Por isso é importantíssimo dedicar muita atenção a este problema.

81
Rodrigues, A. D. A originalidade das línguas indígenas brasileiras [online].[1999?]
[cit. 2008-06-23] Disponível em:
< http://www.unb.br/il/lali/publicacoes/publ_001.html >.
82
Originalmente chamada Summer Institute of Linguistics, organização sem fins lucrativos fundada nos
Estados Unidos da América há mais de 70 anos, estuda e documenta as línguas mundiais menos
conhecidas.
83
Ethnologue. Languages of the World, 14th Edition [online]. 2000–2005
[cit. 2008-06-10]. Disponível em:
<http://www.ethnologue.com/14/show_country.asp?name=Brazil>;
Gordon, R. G., Jr. Ethnologue: Languages of the World, Fifteenth edition [online]. 2005
[cit. 2008-06-10]. Disponível em:
< http://www.ethnologue.com/show_family.asp?subid=90616 >.
84
Assim chamadas são consideradas as línguas, quando já vivem apenas poucos falantes idosos destas
línguas, que não têm os descendentes para manter a sua língua materna.
85
Vale, G. do. Nossas línguas além do português [online]. [2002?]
[cit. 2008-06-23]. Disponível em:
< http://www.radiobras.gov.br/ct/falaciencia/2002/falaciencia_210602.htm >.

32
CONCLUSÃO

A linguista brasileira Luísa Galvão Lessa uma vez escreveu: “(...) há tanta
herança indígena que não nos damos conta de sua extensão em nossas vidas. Mas
sempre é bom lembrar o legado que tanto enriqueceu a cultura e os povos do Brasil.”86.
Isto é, o facto que justificou as nossas expectativas primárias antes de estudar o tema.
Encontrámos vários exemplos dos termos originários de línguas indígenas tal na
toponímia como entre as palavras utilizadas diariamente pelos falantes nativos. A maior
parte dessas expressões é oriunda das línguas tupis, facto que é explicado pela
inevitável importância delas desde o passado.
Nas fontes dedicadas aos topónimos brasileiros encontrámos uma curiosidade que
esclarece o processo de criação dos nomes como Santa Maria de Baependi e Nossa
Senhora do Bom Sucesso de Pindamonganhaba. Estes surgiram depois da cristianização
dos topónimos indígenas pelos jesuítas que a eles acrescentaram os nomes de distintas
capelas construídas perto das suas missões. No entanto, ambos dos exemplos
mencionados conservam somente a parte indígena dos seus nomes.
Embora as palavras derivadas das línguas indígenas sejam difundidas por todo o
Brasil, há áreas com maior número delas em comparação com outras regiões. A quota
preponderante dos nomes dos distritos baseados na linguagem indígena encontra-se na
Bahia e no Amazonas, que totalizam apenas sessenta distritos. Essas palavras não
aparecem muito em Minas Gerias, entre outros, e a menor parte delas observa-se no Rio
Grande do Sul.
Até aos dias de hoje não foram elaborados muitos os trabalhos dedicados à
importância das línguas indígenas para o português brasileiro. Porém, o número
limitado de recursos diferencia-se, por vezes, ora nas opiniões, ora na nomenclatura. O
segundo pode ser comprovado com o nome da língua alto-xinguana que se encontra
escrita por L. Seki como Kamaiurá, A. Rodrigues usa o nome de Kamayurâ e Č.
Loukotka a forma Kamayurá.
Outra questão polémica a qual encarámos foi a utilização da expressão ‘índio’. B.
Prezia87 disse para a Radio Nederland no programa Línguas indígenas88 que o termo

86
Lessa, L.G. A presença das línguas indígenas no uso diário brasileiro [online].
[cit. 2008-07-11] Disponível em:
<http://www.agenciaamazonia.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=1050&Itemid=15
6>.
87
Benedito Prezia (*1944), linguista, toponimista e pesquisador da história indígena brasileiro.

33
‘índio’ no século XVI significava ‘morador da Índia’ que hoje em dia é dito ‘indiano’.
Posto que os portugueses ao descobrir o Brasil julgavam ter aportado na Índia, eles
denominaram os nativos como índios. Prezia explica que seria mais correcto usar a
expressão ‘indígena’ que vem do latim e quer dizer ‘nativo’, ‘autóctone’. Ou, então,
chamar os aborígenes com nomes das suas próprias etnias. Entretanto, a maioria dos
materiais utilizados neste trabalho não segue a proposta do toponimista. Em vista disso
supomos que o termo ‘índio’ foi aceite pelos linguistas devido ao seu uso a longo
prazo. Assim, nós também, ao longo do trabalho temos utilizado ambas as expressões.
Ora índios, ora indígenas, esses povos foram a parte integrante incontestável no
processo da formação da variedade de português, como o conhecemos hoje. Por isso é
uma pena que se dedica apenas pouca atenção ao estudo de suas línguas e culturas.

88
Parte da gravação do programa Línguas indígenas da série de programas Vozes indígenas no Brasil da
Radio Nederland, disponível em:
< http://cgi.omroep.nl/cgi-bin/streams?/rnw/smac/2004/prog_2_l_nguas_ind_genas_20050412.wma >.

34
BIBLIOGRAFIA

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38

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