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Matilde Ribeiro yay POLITICAS DE PROMOEAO— DA IGUALDADE RACIAL NO BRASIL (1986 - 2010) Pierre Salama Garamond Copyright © 2014, Maaide Ribeiro Dieion cede pra ets edigko 3 Editora Garamond Leda. Rut Candido de Olivers, 43/Sala 101 - Rio Compeid Tio de jmezo - Bra -29.261-115 ‘Tel: (2) 2504-9211 ‘sttora@garamond.com.be Revide (Clara Perna Euionio Bees ‘Editors Garamond / Laie Oliveira sete fuera de Vs Rb, ‘at Fagmet do wt Bit de es Li ‘crs caraLocachonaruaLicacto suupreno Raton: GOS OME DE UVROY My ne Pais pri dei rane Bi (8620107 NS RS “i Reef Gad 2014 SSpiatem Ini Snoreat ars ‘pide en. 2. Bal ages mins. 3 Dh cach + Real 4 rail - Condes soc | Tl, iiaT68 ‘cpp. s05 $$$ cots ‘Tod of divi merwot A spiadusfo afosearinds des puso, por aiuer co ja otal ou paral. commit ielagbo da La 9.610798 As sobrinhas Jessica, Priscila e Julia e aos sobinhas Kayodl, Felipe e Luiz Guilherme, ue,com a alegria, teimosia € curiosidade préprias das criangas, me inspinmn a ter pacidncia ¢ eriatividade, aumentando a crenga de que tudo passa, inclusive, 0 que nos entristece, como as injusticas ¢ os desencantos ‘Com isso, toma-se possivel gerar energias positivas para inpulsionar 0 devir dos dias, em todos os campos, mas on epecal na vide pollica e na busca dle novos conhecimentos. Coettuto | Relacées raciais no Brasil: aproximacoes tedricas e histéricas Considerando ee eae een racial € como nesses contextos ve tem dado a Bem demeeas da idensidade negra. £ importante conratar gue o Dra da mesma form que + maiora don pes da Améiica Lata © Caribe, cxacreriase 3 Vnnou At cite buopels fis cnae eomeyetacs 5 Pi ara Mem (194) ans Gone 010. fern a roc de hepa ox eps ex ters rei efi como ira (ee como descobinetn, ‘eos que oa jvirin ingens Poranc dai or dan ies tema decotrimentn spa quando pe deco dfx soe. 9 ) ssinerv, axa" 40 | rca men smi eu me GOs se) ‘beanqueamento implementado nos dive:ios paises, por uma poli- tica de povoamento baseala na imigragio. Para Maria Aparccila Bento (2002), deve-se observar que os cetudos sobre a questdo racial bralera tatam-na comp problems do negro brailer,em geral de muaneira urilatera."Ou bem se nega a discriminagio racial, em fangdo de uma inferioridide negra, apoiada num imaginirio no qual o'negro" aparece como feio,ma- lsfco os incompetent, oa se recoahecem s desgualdates acini explicadas como uma heranca neg do periodo escravocrata" (Beno, 2002, p. 46), A extadiors conclsi que os estudos silenciam sobee 0 brainco € nio abordamn a herangs branca da excrvidio, « também nia reconhecem « branquinide como geradora de pri- vilégios que slo coucrctos, garantindo melhores posicionamentos seciais, econdmicos politicos pars os brancos em detrimento dos snegros. As perspectivas de branqueamento como projeto nacional sur- piu, no Brasil"como forma de conciliar a cena na superioridade ‘branca com a buuca do progresivo desaparecimento do negro,cuja presenea era eh cehe anes smal para o pais A diferenga ds Gliiodedclgaue WELL Raizes do racismo, do mito da democracia racial e da valorizacdo da identidade negra “Tendo como referéneia 2 realidade do territério brasileiro no periodo da invasio, Antonio Carlos Oiiviert e Marco Antonio Villa (1988, p. 45) apresentam a Carts do ahamento do Brail,escrita por sarsoenamuno | 4 ero Vaz de Caminha, que ressles os soguinter aepector: Ena terra, Senbor, parece-me que, ds ponts que mais 20 sul deste porto temos vita, seri tamanhs que haverd nels bem vinte ou vinte ¢ cinco léguas por cores {.J. Nels até agors no pudemottaber que haja ouro, nem prataynem cols alguma de ‘mecal ou ferro, nem o vimor, Porém 3 terra em si € de muito ernie oprowitils, tudo daré mele, por cowss das Aguas que tem. Porm, 9 melhor ate que delat pode Hn we parece que sé alr asa gente B eta deve ser principal mente que Visa Abe ela eve Langa (grifos mews), Accolonizagio ‘Hii nas partes grifadas um enunciado do que se coneretizari na situagdo de coloniragio, destacando-se doit supectos ~ wma terra que rudo die a intengio de“talvar esa gente". A rlagio com 19 tertitério © os seres humans 2¢ fez totalmente por interesses de spropriagio de um mundo novo, tudo era visio 4 partir da ogica de dominio dos exploradores, como conquista apenas por urn dos lados ~ 0 europeu. Iniciam-e, 1 partir dh Cart de schamento do Bra, afirmages guanto as perspectivas parrimonialisas, tendo a apropriagio das terns como bem que passa pertencer aos exploradores, em de trimento dos que aqui viviam (os indfgenss) dos que passaram 3 ane primitiva, mas 0 que predominou de fato foi a escravizagao 3 dominasio, Portugal, cuja cto rae 5A dos in clo al nies Por- tanto, a chegada de Pedro Alvares Cabral representa a inclusiio de Bas insigSo se Sx: pot eneio de relages social de conay exploragdo ea ocupagio do territério,a partir de interesses antae snicos, Segundo Jicab Gorender (2010), invasio a sequin ma ver que pastado e presente se interligam, pois os negros ¢ o& -jndigenas c, enixe eles, as mulheres, io os mais pobres entre os pobres. Abuias do Nascimento eens partir do actimulo de sua ea pibice are 6 fcal fiat oa Pnca bie Rio de Janeio, em 24/5/2011) preme linico trabathador no demecessrio lembrar mais uma vez os vastos campos que | ot afticanos irrigaram com seu suor, ot evocar os eanaviais, ‘os campos de algodio, as mins de ouro, diamante © pra, as muitas outras fates da forma do Bras alimentadas com _—tangue martrizado dos escravos. O negro, longe de ser um in- ‘vasor ou um estrangeito,é a verdadeira alma e compo desse pais. ‘Entretanto, spesar deste fato histérieo ierefutivel, ot aficanos seu descendentes nunca foram teatados como igusis pela ‘minoria branea que completa 0 quadro demogrifico do pats, ‘mesmo nos dias de hoje. Esa minoria manteve um monopélio exclusive de todo o poder, bem-estar, side, educacSo e renda nacionais (Nascimento, 1980, p. 149). Os dois Brass Em se tratando da demarcacio de poder de um grupo racial Hida, sobre outro, Hélio Santos (2001) alegs que podem ser identifica ‘Anda, a0 buscar conhecer os procesos de colonizigio ¢ de excravizacio, hi a eel. hoses. Gia lll aoa. dos deis Bris imagem sienbélica que trata da auséncia de harmo nis, que, por sua vez, leva a0 convivio da superabundincia com a absoluta eseassez de tudo: Ease ic dia tu oie arate to ot ques raciaisalocados em cada tum deses dois manos ~ 0 do muito ¢ o do maa. [.] No primeiro Bri, que poderia ser Minoan | 4 14 | eaten ney nme tno ae 0) m dnt ng ate ee a ee "ai Aen Det Dent i Sachi pint nr sua coy cabal (Vis Te, 198) o deamon da ede que 2 ‘lise ‘ale ate eprsidente i Avocado Brailes de Bgunderes Negron SoS ie eee eae ee (AIPN) integra » Cenuo de Desemafrineato do Nepwo de Pad (Coens) TE | armen ex rogaine aA no Bk hast) nhecimento ¢ a redistribuigio como instrumentor democtiticos, visando a jusiga social. ‘A autora defende que 0 reconhecimento representa um alar- gamento da contesagio politica ¢ um nevo entendimento da jase tiga social: questdes de representagio, iden snesse aspecto conitinal umm avango 1 redutores paradigmas economicis uldade cm conceptualizar males cuja or economia py 6 nat ierarquiss institucionalizadas © conceito de fd deve ter por base 4 extrunury eco nnémica da sociedade capitalist, onde a injustiga surge na forma de ‘Ray fe le nor pe ty Urry oN ih a Sexe de prnsenees conbeida come Toor Cotcr. Atte oul deeds ery A ul Laue Lech de Cidca cm «Socal de New Seo Usirey MarutmXommo | 79 desigualdades semelhantes 3s da classe, € se exprevsa na mi dletei- buigdo dis riquezas e/ou actimulos,englobando nia x5 a desigual- dade de rendimentos, mas também a exploragio, no mercado de trabalho © em outras esferas da vida, Dest forma, o caminho para a consergio da justiga social religdes sociais. ‘A considerar us dimensdes do reconhecimento ¢ redisribui- ‘a, Fraser (2002, p, 11) indica a importincia de conceber a justiga focal de maneira bifocal, usando dias lentes diferentes simulta neamente ~ como distribuicia juste © reconhecimento reciproco. Portanto, para se ter justiga, & importante o tratamiento do reco- ahecimento ¢ da redistribuigao de mancira conjunta; A pair do momento em que se adota exe tese, entreanio, a quarto de como combini-tos torna-se urgent Sustento que ‘of aspectos emancipatérios dis dua probleméticas precsam ses inter em um modelo abrangenteesinguat A xf, ¢m parte, € elaborar um conceitoamplo de jut #2 acomodar tanto as reivindicagSes defensives de igualdade socal quunto a eivindicages defersiveis de eeconhceimento da diferenga (Fraser, 2007, p. 103) so | raf tiara ci in ya ‘A partir das comsideraydes de Fraser; constatam-se como e- cessirias mudangas que visem a garantia de reorganizagao da #0- Gedade de maneira simbélica © estrutural, Em eitudo sobre as formuligdes de Fraser, Susana de Castro (2010) argumenta que na at para a sociedade, “nio defende em seus textos um modelo dis- teibutivo liberal, mas sim uma via média, entre as politica socia- listas transformadorat © a8 politica: eformistas Uberais” (Castro, 2010, .2). “Tambérn Alex Myller Duarte Lima (2010, p.59), quando tefle~ te sobre as perspectivas transformadoras a sociedade luz das for- anulagdes de Fraser, argumenta que a estudiosa,em 1995, afirmava categoricamente 0 sociilismo como tuna saida promissora para as injustigas distebucivas contemporiness jf em 2003, hi uma nova sfirmagio de que muito do conteiido do socialismo se provwou problemitico, hapa aceasta outros objetivos progressstas” Na segunda diretriz, Fr ‘chama atengio para o hugar do re= 1 que as discusses contemporineas conhecimento, consideran ao poderiam levar 10 Marios ame | Bt [J eto de presupor uma pirimide estivel de stats, na qual ‘exe um local determinado pura cada individuo, Ao contri- fio, deveriam asumir um regime progressivo de lutas por ¢& conhiecimento, onde of indivichior extio multiplamente posi- clonadbos por eixos cruzados de suboitinagio de satus (Lima, 2010, p.67). Na terweira diretriz, & reafirmads por Praer a estrunra; para ‘cada tema de justiga & importante verificar quais os sujeitos rele~ ‘antes, Com as ransformagdes institucionais ¢ a importincia cres- ge sree tannic mace, oc pate hecimento como uma questio de status social — a0 que chama de""modélo de status". Desa maneira, 0 no reconkecimento nio No mod:lo de status evidenciam-se as formas de impedi- ‘meno Insiucional para a paridade de partcipagio, como, por F excmplo: a leis matrimoniais, que excluem a unio entre pessoas F do mesmo sexo, por serem ilegitimas ¢ perversas; as politicas de bbom-estar, que estigmatizam mies sokeiras como exploradors se- xulmente irresponsiveis € priticas de policismento tais como desenvolvimento a partir da igualdade de condigoes: Ein codos os casos, consequentemente, uma demands por 1 conthecimento & necessria, Mas note precssmeite 0 que iso Marre nabs | 83 {jastipa,orientads pela norma da paridade participativa, incl tanto ‘editribuigao quanto reconhecimento,sem reduzir um 20 outro” (raze, 2007, p. 120), ‘As petspectivas de paridade de patticipacio tém que ser de- smossdis do ponto de vss econbmico (raisribucie)¢ tam- 132 | Poutoisne owl essa wc Na (84 se) significa: vibando no valorizar a identidade de grupo,mas su perar a subonlinaglo, as reivindicagdes por reconhecimento Be te defen ealega que: © desenho institucional, isto &, 26 normas e regras que of- Sasa a teehee bell Meclauer gue dix schon 16 ser justo m medida em que todos os segmentos da 10 ciedade, jam eles de grupo majaritério ou de grupos mi- noritérion, tenham a possibilidade de participar de mancira © igualitiria na formagio déssas regras. Ess € 2 Gnica forma de combater os padrées culturais exchudentes que perpasam | as regras das instimigBes. NZo compete aos formuladores de politica pibliesinterferir nas crengat © no inmginirio dos in- dividuos.cles podem ser tio homofSbicos, racstas ou sexist ~ qianto queiram, no entanto, ob pades culeurais excludentes __devem ser banidos chs instituigées. Esse’ banimento dos pa- | dries culturais excludentes nio se dati apenas por bedo- tia ou benevoléncia dor dirigentes gestores piiblicos. Ns SA itstitucionais (Catv, 2010, pp. 3-4), Para a garantis da paridade de participagao, € imporeantissima {reflec sobre a necessidade de mudanga das normase regras que organizacio de mulheres negras nos a picsa da ne cai 16 | etnempe mons nese A oa virzndo 3 construgfo da democracia ¢ as ieee cauot 0 Movimento Negro e a organizacao das mulheres negras nas lutas por liberdade e justica social AAs tajetérias do Movimento Negro ¢ da organizagio de mu~ theres negras comespondem a dinimica ¢ ao desenvolvimento do pals. Portanto, para a compreensio desse proceso, & necessiria a ‘gonexio coma histéria ea meméria,e também com a elboragio teérico-politica sobre os movimentos sociais (em especial 0 1e~ © goo) e a redes de movimentos sociais, desde 0 periodo da excravi— dio sté a contemporaneidade. Segundo formulagdes de Fraser (2007, p. 120), pode-se con siderar 0 Movimento Negro ¢ a orginizagio de mulheres negras como porta-vozes das proposigdes e reivindicagées da populagio negn € propagadores das perspectivas de paridade de participagio, ‘enteadendo essa perspectiva como tum canal para justga social e | racial, buscando garantir redistribuigio ¢ reconhecimento, de ma- airs simultinea. Essa condugio historica ‘trugio da democracia, Nese a discriminagio também “vem sendo sistematicamente de manciada ¢ combatida pelos movimentos anti-racistas que com- e side ea,

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