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Mulheres heroicas: Njinga-Mbandi e Deolinda Rodrigues, masculinidades femininas como estratégia de resisténcia e subversio ‘Angola tem a particularidade de a figura de maior relevancia da sua Histéria ser uma mulher, a guerreira e rebelde Njinga Mbandi®, soberana do Ndongo e da Matamba, nos séculos xvt ¢ xvir. O espaco que Njinga Mbandi ocupa na historiografia afticana moderna é pouco comum numa disciplina cujo cinone continua a ser masculino. No perfodo da luta anticolonial e no pés-independéncia foi considerada simbolo maior da resisténcia ao colonialismo portugués. Mulher da ctnia mbundu, fugiu 4 norma do seu tempo ¢, pela singularidade das suas préticas, transformou-se em «figura heroica», num mito. O trabalho empitico desenvolvido com antigas guerrilheiras ¢ ex- -combarentes em Angola demonstrou que muitas das mulheres que Jutaram ¢ pegaram em armas na hist6ria contemporanea deste pats apontam o exemplo de heroinas fundadoras da resisténcia angolana ‘como Njinga Mbandi (1582-1663) ou a guerrilheira Deolinda Rodri- gues (1939-1968), heroina da Luta de srtac¢io do MPLA, como fonte de inspiracio para as suas lutas ¢ resisténcia. Separadas por um arco temporal superior a trezentos anos, Njinga Mbandi e Deolinda Rodrigues lutaram contra 0 mesmo inimigo, o colonialismo portugués. > grata do nome Ninga ou Nainga nde conser entre estudoses O etnlingusta Yamane ‘udanda @astoridora Ros Cruze siva defender, no saguimento do rabalo de Mauro Franco “Seta sobre onomastesngolense publeado em 1976 pe MINA, ques deve esrever Njlngnporaue ‘ainga 6s varanseeango orm eran ola moun Pars oda Mata, Nga amber (vrsponde saisiatra dina ns cara rm portugues, snga> 2012 11-25) MARGARIDA PAREDES rios e montanhas ~ citcunserevendo territorialmente um corpo simbélico, a dos “povos d Angola’, gerando uma “comunidade imaginada” a partir dessa solidariedade politica e de convergéncia de interesses» (Mata 2012: 11). Masculinidades e feminilidades da female-king Njinga Mbandi ara refletir sobre a rainha Njinga Mbandi, os escrivores, historiadores cientistas sociais basciam-se em fontes primdrias, narrativas elaboradas por estrangeiros, homens brancos e europeus, designadamente os padres capuchinhos italianos Giovanni Antonio Cavazzi de Montecuccolo, con- fessor da rainha, ¢ Antonio Gaeta, que também conviveu com Njinga no final da sua vida, assim como o soldado portugués Cadornega, homens «com interesses institucionais ¢ particulares nos assuntos descritos. Tais textos obrigam-nos a pisar um terreno a priori minado e estamos, por- tanto, sempre a estudar relagées de poder e de género em cada frase liday (Havik: apud Pantoja 2012: 119). As descrigées destes homens vio mar- car as representagées de Njinga até & atualidade e nesta reconstrugio € reflexio sobre o passado de Njinga, 0 olhar emocéntrico € no masculino marca o debate a partir de categorias ocidentais bindrias como «mulher» e chomem, «feminino» ¢ emasculino», «feminilidades»e emasculinidades»." A partir do olhar e das fontes ocidentais, Njinga Mbandi tornou-se tum exemplo do poder exercido por uma mulher, de resisténcia e negocia- fo politica e, sobretudo, de construgao ¢ transformacéo da identidade de géneto, a0 reinar, nao como rainha, mas como female king e monarca cross-dressing. Esta reflexio é inspirada no trabalho de Nwando Achebe sobre 0 rei Ahebi Ugbabe na Nigéria colonial e na elaboracio de If Ama- diume, em Male Daughters, Female Husbands, onde esta cientista social defende que na cra pré-colonial as relagécs de género eram mediadas ‘te binarao de gdnro& problematizad plas eicasnlgeranss Oyérérk Oyu (2010 |noa7, Hf Amadiame (1987) Wer Naw (201 1, como vst no subcapl A aa de tat m COMBATER DUAS VEZES pela flexibilidade de um sistema de género que separava o género do sexo biolégico (Amadiume 1987: 15), sendo que «o género era flexivel ¢ fluido, permitindo 3s mulheres tornar-se homens» (Achebe 2003: 53, tradugio nossa). Seguindo 0 quadro teérico de Amadiume vamos argu- ‘mentar que na era colonial, no inicio da entidade moderna chamada Angola, a resisténcia de Njinga Mbandi aos portugueses (séculos xvi! xvi) té-a-4 conduzido, através de um processo de apropriacio e recria- céo mimética da culcura do adversétio, muito comum em guerras de resisténcia, a governar como female king ¢ monarca cross-dressing, &ima- gem do inimigo e do soberano do Muenu-Puru®, Para os europeus dos séculos xv/xv1, as pessoas eram definidas pela sua identidade religiosa e nao pela diferenga racial, como na contempo- rancidade (Grosfoguel & Mielants 2006: 3). Njinga teve de lidar com um discurso colonial que construfa 0s «outros» subsarianos sem deus, sem alma, reduzidos & animalidade, © que justificava a escravatura, @ conquista ou 0 exterminio quando recusavam a conversio ao caroli- cismo (Grosfoguel & Miclants 2006: 3). As identidades masculinistas, teligiosa e militar definiam os valores civilizacionais dos portugueses no inicio do Império, uma xoutridade» que, configurada no masculino™, teri servido de modelo a Njinga. Para reinar, Njinga Mbandi apropriou-se da estrutura Ngola do poder patriarcal™, assumiu o comando dos guerreiros imbangalas nas batalhas, o manuscio de armas ¢ 0 espirito guerreiro, exerceu miltiplas violéncias no exercicio e manutengio do poder, no todo qualidades masculinas € viris destinadas aos homens. A singularidade destas priticas onde emer- ‘gem modernidades alternativas obriga a uma reflexo dentro do campo de estudos de género eA preocupacio de encontrar respostas para todas estas transformagées de identidade de género. © ue Puts Reruns Sima duertor nor depts nm do fcule XIK em 1083, So chegara Angel as primes “cians tlm de oat de Chr, ances, conde sso de Tago de Linda em Cdinds. ot gras apoderado do poder em seonees mal ehcdedae, segundo ka MBale 2029) em cadet tetas czas, Tomo) 13 MARGARIDA PAREDES Este texto ird refletir sobre a8 masculinidades e feminilidades™ da rainha Njinga Mbandi e sobre as performances de género que lhe per- mitiram a manutengio das estrururas de poder e das posigoes de auto- ridade que assumia. Homi Bhabha diz-nos que Lacan identifica 0 mimetismo como uma técnica de camuflagem praticada na guerra (Bhabha 1998: 174), eacres- centa que a mimicry representa «um compromisso irénico» de quem vive a condigéo in-between (uma posicio de pratica e negociacéo) ¢ uti- liza a performance como estratégia ambivalente de resistencia. Camu- flagem, resisténcia, interpretacao do «outro» através da mimesis como sustenta Kramer, «magia empéticas ou «poder magico de replicar» como defende Taussig (1993: 2) e ainda a compulsio para se transformar no «outro» como Walter Benjamin defende (Taussig 1993: xviii), sio pis- tas tobricas que podem conuibuir para pensar as respostas singulares de atragio ou hostilidade de Njinga Mbandi 3 confrontagio com 0 «outro» © A agressio militar portuguesa. Revisitemos os momentos fundadores de Njinga a Mbandi de Ngola a Kilwanji Kya Samba: nascida em 1581 em Kabaza, descendente de Njinga Nkuvu, filha de Ngola Kiluanji Kia Samba ¢ Nguenguela Kakombe, neta de Ngola Ndambi, irma de Ngola Mbandi, Kambu ¢ Kufunyji, sobrinha de Tata Mbamba (Mata 2012: 11). © seu pai, 0 Rei-Soldado do Ndongo, iniciou-a na arte da guerra e nos enredos da diplomacia. Quando o rei Ngola morreu, 0 irméo foi designado rei e Njinga foi indicada para conduzir uma missio diplomatica junto dos portugueses como embaixadora dos reinos de Ngola e Matamba, em 1622. O facto de o irméo ter assassinado 0 seu filho ‘inico nao a demo- vveu da missio que lhe foi confiada. No regresso mandou decapitar um tio, rei de um reino vizinho, que pretendia submeter-se aos portugue- ses ¢, quando chegou & Matamba, face as hesitagées do irmao em rela- ‘sé0 4 autoridade do Muene-Putu, mandou envenené-lo, Estes parece © imponsivel separ mascullidadesefeinaes, dado que so catepoislacioni. 4 COMBATER DUAS VEZES ser os momentos fundadores que abriram os caminhos do poder e con- duziram Njinga a uma vida de resisténcia e luta como female king. Mais tarde mataré ofilho do seu irmao Ngola Mbandi, apunhalando-o. Mor- reua 17 de dezembro de 1663, com 82 anos de idade. ‘Njinga Mbandi chegou 20 poder do reino do Ndongo apossando-se ado titulo ¢ insignias ¢ enfientando as linhagens adversirias aliadas dos portugueses» (Pantoja 2012: 131). Historiadores como Miller e Thor- ton scforsam nos seus trabalhos a ideia de que «os mbundu possuiam “um forte sentimento contra as mulheres assumirem algum titulo poli- tico e explicitamente proibiam qualquer mulher de assumirem a posi- éo de Neola, [...] e, para reforcar a sua posicéo Njinga teria mudado de género para ganar legitimidade no titulo de Ngola’» (apud Pantoja 2012: 131-142). Para se impor identificava-se com o espirito poderoso de Ngola Mbandi através da possessio (Skidmore-Hess 1995: 323) e er adotado préticas masculinas. O ritual e o espitito da possessio legitima- vam a transformagio da identidade de género, de mulher para homem. «Perante a visio dos testemunhos europeus renascentistas, masculinos € religiosos, tal comportamento parecia insélito para uma mulher ¢ assim passou a rainha a receber o epiteto de virill» (Pantoja 2012: 132). ‘Njinga Mbandi autointitulava-se rei e nao rainha e vestia-se em trajes de homem, segundo os registos de Cardonega ¢ Cavazai (apud Pantoja 2012: 139). O historiador Américo Kwononoka defende num artigo intiulado «Njinga Bandi, Fonte Inspiradora da Mulher Angolana> (2012) que a rainha «usava indumentdtia masculina e vivia rodeada de cinquenta ou sessenta valentes guerreiros trajados com roupas femini- nas, como se fossem suas concubinas» (2012: 62). «Ela vestia-se como: tum homem e forcava os seus “maridos” a vestirem-se como mulheres» (Skidmore-Hess 1995: 319, traducio nossa). Selma Pantoja (2000: 116) identifica como poliandriao facto de Njinga ter «um séquito de homens famantes],escolhidos entre os sobas, fa quem] obrigava a vesti-se como mulheres ¢ Ihes dava um nome ferninino». Subvertendo papéis e rela- bes de género, nesta cross-identification como homem, Mbandi assumia 2 poligaimia do sistema de parentesco da cultura mbundu. us MARGARIDA PAREDES ara lutar contra os portugueses, Njinga Mbandi aliou-se & comu- nidade de guerreiros itinerantes imbangalas, com origem no Leste, € adotou as leis do quilombo, recebendo 0 titulo de tembaza através do casamento com chefes Jagas, primeiro Kaza e depois Kassanje, casa- mentos que confirmaram a alianca, Tornou-se entio uma ingambala através da conversio aos rituais religiosos Temba Ndumba, como 0 Maji a Samba, que tornava os soldados invenciveis, conquistando 0 con- trolo do exército de Kassanje ¢ assumindo-se como chefe (Skidmore- -Hess 1995: 317). A comunicagao com os heréis mortos permitiu que Njinga fosse possuida por estes espiritos poderosos ¢, ao ser possuida por espiritos masculinos, transformava-se num homem (Skidmore-Hess 1995: 321-322). No entanto, a «masculinidade heroica» da female king, ‘que nenhuma fonte contesta, dependia da subordinagio de outras mas- cculinidades subalternas (Halberstam 1998: 1), como era 0 caso dos guerreiros jagas vestidos de mulheres. Podemos questionar se a mis- so de um exército de female warriors nao era a de inferiorizar o ini- migo; seja como for, a subversio de género, que é sempre um principio de status e néo & simétrico, representa uma resposta a0 invasor nos seus proprios termos, ou seja, os da nio submissio. Rosa Cruz e Silva (1995: 22) lembra que «poucos foram os momentos de paz neste rei- nado, os interregnos na guerra foram efémeros, ¢ a razéo principal de zodo o sofrer dos Mbundu foi que o ideal preconizado pelos seus Reis contrariava a submission. Cavazzi notou que as mulheres Ingambala também combatiam nas batalhas, apesar de serem raras no comando (Skidmore-Hless 1995: 318) ‘«Os mbangalas ficaram famosos nas fontes pela “ferocidade” e quando a sainha Nzinga se apropria dos simbolos e da instituicgéo quilombo», aos olhos do mundo ocidental ela torna-se diablica (Pantoja 2012: 134). ‘A diabolizacio da mulher & uma construgio da ortodoxia catélica em relagio as mulheres que fogem & norma teligiosa e por isso séo percecio- nadas como dominadas pelo diabo, sobretudo as que pertencem a rei- nos «birbaros» alvo de conversio. 6 COMBATER DUAS VEZES ‘As masculinidades coloniais associadas & superioridade militar ¢ & violéncia da conquista dos territérios em Africa pressupunham, para 0 portugueses, a inferioridade do coutro» afticano ¢ 0 dominio dos nativos. A historiadora americana Skidmore-Hess, citada por Pantoja (2006), defende que a Mbandi «teria incorporado vérias dentidades de género na sua imagem piiblica. ‘A primeira corresponderia 4 década de 1620, quando é uma representante da realeza mbundu negociando a paz.com os portugueses ¢ movendo-se do feminino para a 4rea da antoridade masculina, Jé no final da década, sua segunda fase corresponde a sua adocio dos rituais dos quilombos [mban- gla], incorporando todas as autoridades da regio, tanto feminina como masculina. Finalmente, na década de 1650, Nzinga identifica-se como a mulher eristé no centro do poder do Estado» (Pantoja 2012: 143). A perspetiva de Skidmore-Hess, com Njinga deslocando-se de uma identidade de género para outra, aponta para o que Stuart Hall (2006 [1992]: 13) identifica como «celebrago mével da identidade, formada ¢ transformada continuamenter em resposta 3 interpelacio dos siste- ‘mas culturais que nos rodelam. Mbandi, econhecedora da mentalidade portuguesa [e dominando a lingua portuguesa ¢ a escrital reafirmou ¢ impés a sua forga a0 desempenhar o papel de embaixadora do Ngola» (Pantoja 2012: 141) junto do vice-rei portugués. E sobejamente conhecida a ceriménia diplomatica em que a ainda princesa Njinga como embaixatriz. do rei e seu irmio Ngola Mbandi ‘organizou um séquito real protocolar e sumptuoso para negociar com © governador de Angola, Joio Correia de Sousa, tendo sido recebida numa sala onde a tinica cadeira estava destinada 20 governador, que deixou & disposicéo da princesa, para assento, uma pequena almofada tno chao em cima de um tapete. Njinga Mbandi percebeu a relagio de poder no arranjo da sumptuosa cadeira de veludo ¢ talha dourada ¢ ignorou a almofada, sentando-se no dorso de uma escrava que aban- donou no fim da audiéncia, afirmando que néo era licito uma princesa 7 MARGARIDA PAREDES usar © mesmo assento em ceriménias protocolares. Njinga, inteligente ¢ célere, reconverteu em seu proveito a tentativa de a relegarem a uma posicéo de inferioridade. A negligéncia com a escrava centra esta atitude na cadeira, simbolo da superioridade cultural europeia, & qual a princesa reage impondo a igualdade e o respeito pela sua autoridade de embaixa- dora. Esta foi seguramente uma evidéncia do poder e rapidez de agen- ciamento de Mbandi numa evos-cultunal situation adversa. Inocéncia Mata (2012: 39) assinala que 0 confronto era civlizacional ¢ que néo havia da parte dos portugueses 0 reconhecimento da diferenca. ‘Skidmore-Hless refere que os portugueses, a partir deste incidente, comegaram a interpretar as agbes de Njinga como espitito de decisio mas- culino. Pouco habituados a ver uma mulher dominar 0 espaco puiblico ea ser ator politico, atribuiram essa aptidio de subverter as relagbes de poder a capacidades investidas de um estatuto privilegiado, as capacida- des masculinas. Skidmore-Hesse (1995: 24) sugere ainda que Njinga desejava adqui- rir conhecimento sobre os portugueses ¢ as suas crencas,€ por isso tentou uma aproximaggo cultural através do batismo ¢ da religido, assumnindo o nome Ana de Sousa e a identidade de género no feminino. «Para os europeus, o batismo transformou-a parcialmente. Ela jé no era apenas Njinga, mas também Dona Ana de Sousa. Para eles, ela nio era ape- nas uma mulher estrangeira, mas também uma filha espiritual do Gover- nador Joao Correia de Sousa» (Skidmore-Hess 1995: 28, tradugéo nossa). Para Homi Bhabha, «a ameaga da mimicry [mimetismo] é sua visio dupla que, a0 revelara ambivaléncia do discurso colonial, sambém desta- biliza sua autoridader (Bhabha 1998: 133). Njinga distinguiu-se ao con- verter-se a0 cristianismo (Skidmore-Hess 1995: 28), o que, no entanto, info levou ao apaziguamento dos conflivos politicos, nao Ihe restando coutra hipétese senao 0 confronto. ‘Mbandi parece articular a identidade feminina e as feminilidades nas épocas de paz, quando tentava uma aproximacio cultural aos portugueses us COMBATER DUAS VEZES «em sentido inverso, parece articular uma identidade de género no mas- caulino ¢ as masculinidades durante as épocas de confronto ou quando se preparava para a guerra. Se pensarmos que uma das carateristicas per- -manentes das sociedades ¢ culturas através do tempo € a ligacio entre ‘guerra, milicarismo e masculinidades, e que as guerras e os guerreiros sio das representagées mais poderosas das masculinidades, a transformagio de género da Mbandi para homem e comandante guerreiro Jaga esti car- regada de sentidos numa situacio de violéncia e guerra e num espaco de hegemonia masculina. Concluindo, Njinga Mbandi é um exemplo muito interessante de transformagao de género e de governacio como female king ¢ monarca cross-dressing numa época em que a ocupacio territorial e o dominio colonial portugués em Angola criavam uma situagéo de confronto per manente com os monarcas africanos. A separagio entre género ¢ sexo providenciou 0 espaco onde Njinga péde construir € constituir novas identidades. A transformagio de género female to male poderi ter sido 0 ‘meio que Njinga encontrou para, numa realidade de agresséo militar, se igualar as forcas estrangeiras e assim, empoderada por qualidades milita- res attibuidas aos homens, manter a guerra de resisténcia contra o invasor portugués numa base equivalente de confronto, uma guerra onde ambos 6s contendores articulavam masculinidades dominantes. Explorando a diferenga através da transformagio de género ¢ a alteridade através da mimesis, conseguiu expor as contradicies histéricas do status das mulheres da sua linhagem e néo s6 subverter l6gicas sociais dominantes da soci dade mbundu, como resistit 20s seus adversérios e responder 4 mascul nidade hegeménica dos portugueses, Através das suas originais priticas articulou mikiplas female masculinitis, ou seja, female king, female war- rior, female headman ¢ outras formas de masculinidades, subvertendo 0 poder politico e militar tradicional. Ao comandar os guerteiros jagas ™ Varo que card Rage cama de rane mimes, oa ae ans ee tmabanes & caterenga te procs nos dor anor coum dicta deers esons o caoninor pita clorzado mas tamm da cleizado pra slander 2018 102105. us MARGARIDA PAREDES nas batalhas, Njinga, reivindicando a identidade de rei, uma autoridade masculina, ¢ transformando-se em homem, revela que «masculinidades heroicas»jé eram produzidas em corpos de mulheres africanas (Halbers- tam 1998: 2) nos séculos xvi/xvit. Deolinda Rodrigues fora da ordem de género ‘Apés a heroicidade de Njinga Mbandi na histéria antiga de Angola, passamos a histéria contemporinea, para a guerriheira Deolinda Rodri- gues na Luta de Libertagio do MPLA, movimento a0 qual pertenceu e ‘onde combateu, ‘Abhistoriadora Marissa Moorman diz-nos que, no maguis, os homens dominavam, nio s6 em niimero, mas também cm termos de poder social:

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