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Quirón está nos trazendo a possibilidade de reconciliar nossos instintos e nossa espiritualidade

que, desde a Antigüidade, foram dissociadas. A cura prometida por esse planeta envolve nossa
capacidade de agir de modo integral, com o coração, a mente e o espírito, através da compaixão.
O signo e a casa onde se encontra nos mostra como essa dissociação nos tornou mais frágeis e,
por isso abertos para a ferida incurável. Para se encontrar um equilíbrio onde temos Quiron,
precisamos aprender a liberar o passado e ter coragem para nos abrirmos a uma nova consciência
que se esforça para encontrar o caminho até nós. Só assim podemos deixar a dor para trás e
encontrar a cura, para nós e para quem estamos conectados.

Quiron em Áries

Quando associado ao Guerreiro de Fogo, Quiron irá criar dificuldades para a afirmação pessoal, o
que acaba causando medo com relação às coisas novas e à ambientes estranhos. Ao mesmo
tempo, há um impulso para agir heroicamente, como se precisasse cumprir alguma missão para
justificar sua existência. Nesse abismo que se abre entre o medo de se expor e a “obrigação” de
agir se encontra a ferida e a dor intolerável de se saber sozinho e sem proteção para expressar o
que realmente se sente e se deseja. Geralmente se tenta fugir desse buraco lutando pelos desejos
e necessidades dos outros, o que só faz com que o vazio da falta de motivação interior cresça.
Quiron em Áries ensina a pessoa a olhar para o Universo, descobrindo e aceitando o tamanho de
sua insignificância. E como a cura de Quiron se apresenta sempre como um koan zen, é assim que
se pode mergulhar no vazio e encontrar a imensa vitalidade que se encontra na essência
existencial de Áries.

Quiron em Touro
Touro é o signo do prazer e da segurança que nos dá o plano físico, através do qual podemos
concretizar nossos valores internos. Quiron aqui geralmente se associa a uma sensação de
inadequação e fragilidade com relação ao corpo físico e aos recursos pessoais. Os instintos
sexuais e territoriais parecem perigosos, e, na tentativa de controlá-los, a pessoa vai se afastando
cada vez mais de seus instintos básicos e se sentindo mais e mais sem valor ao tentar
corresponder aos valores de outras pessoas, estranhos à sua própria natureza. Uma dificuldade
comum de se encontrar quando Quiron está em Touro é o da compreensão simbólica das coisas, o
que leva a pessoa a ver tudo de maneira muito concreta e paralisante. E assim, a vida material e
o corpo físico parecem ser fonte de dor e sofrimento, e a pessoa acaba se limitando porque tem
que estar sempre acumulando recursos externos para sobreviver ou rejeitando o prazer que a
vida material pode fornecer. Esses dois caminhos levam à avareza e aprofundam o vazio da
ferida. É preciso que se aceite a dor por ser rejeitado ao não corresponder aos valores dos outros
e por muitas vezes não conseguir concretizar as coisas exatamente como gostaria, para então
reconhecer o valor dos diferentes dons ao seu redor e juntar vários recursos para construir algo
no mundo material. Assim é possível se curar encontrando segurança interna por participar da
construção de um mundo melhor e mais bonito e não por se possuir algo externo sem ressonância
interna.

Quiron em Gêmeos
Quando Quiron encontra com os Dioscuros, ele separa os irmãos, não há alguém para conversar e
a sensação de isolamento é profunda. Ninguém parece escutar ou entender a pessoa, e se busca
desordenadamente absorver todas as informações ao redor na tentativa de compreender o mundo
e ligar todos os fragmentos de pensamentos dispersos dentro de si. E assim, se perde tanto a
percepção do que são pensamentos pessoais quanto do poder das palavras, deixando que padrões
de pensamentos destrutivos confirmem crenças errôneas. Isso muitas vezes leva ao medo de se
perder a cabeça e desenvolver algum tipo de patologia mental. Assim como Santo Agostinho teve
que aprender que é impossível fazer com que o oceano caiba em um buraco na areia da praia,
Quiron mostra em Gêmeos que por mais que se saiba, por mais que se compreenda, nossa
cabecinha humana ainda é muito pequena para entender sequer a superfície do Infinito, mas,
mesmo assim, esse é nosso principal instrumento para buscar a verdade. Ao aceitar a frustração e
a dor de não poder expressar o que há de mais profundo e significativo da alma é possível
conhecer o poder curador de expressar o que se sente, não para que os outros nos entendam,
mas para podermos tocar a solidão dos outros com nossa expressão e pensamentos. A solidão
compartilhada pode se tornar menos opressora.

Quiron em Câncer
Câncer mostra nossa capacidade de dar e receber amor, criando vínculos afetivos capazes de nos
dar segurança emocional em nossa caminhada pelo mundo. Quando Quiron está em Câncer, as
raízes não são capazes de nutrir, às vezes porque a própria raiz está doente, às vezes porque o
solo onde nascemos já não tem mais nutrientes para oferecer. Como esse aprendizado em geral é
feito através da mãe em uma fase do desenvolvimento em que ainda não temos consciência de
sermos um ser separado daquilo que nos nutre, quando Quiron intervêm nessa relação a
incapacidade nutritiva da mãe ou do ambiente em que nascemos é incorporada à alma, e assim a
pessoa se sente sempre faminta, mesmo quando cercada de abundância. É comum achar
insuportável entrar em contato com as próprias necessidades afetivas de nutrição, então se passa
muito tempo aprendendo a controlar as emoções e sentimentos - que são vistas como
“sentimentalismos” ou “bobagens” - ou criando vínculos pouco saudáveis por não conseguir
diferenciar o que é veneno do que é nutrição real. Busca-se nutrir ao outro como maneira de fugir
ao buraco nutritivo interno, mas qualquer ameaça de separação acaba fazendo com que a ferida
doa ainda mais. É preciso de muito cuidado e carinho para se achegar à zona dolorida de Quiron
em Câncer, encontrar a criança ferida e subnutrida e conquistar a sua confiança para que
expresse seus sentimentos espontâneos e pueris de modo a que se possa começar um lento
processo de auto nutrição verdadeira. O reconhecimento da própria fragilidade emocional aplaca a
dor da solidão que existe em nosso âmago, e então é possível tocar e ser tocado pela sutil força
da vida, capacitando a reconhecer e recuperar a magia da existência ao seu redor e em todas as
pessoas que encontrar pelo caminho, sem apegos, com amor, pois se aprendeu o verdadeiro valor
dos vínculos afetivos.

Quiron em Leão
Em Leão encontramos a força de sermos filhos do Deus, herdeiros legítimos de nosso lugar único
no mundo, geradores de vida e de paixão pela vida. Quiron rompe dolorosamente a conexão com
o centro divino e criativo, e não há como reconhecer-se naquilo que se cria, nem há um pai divino
que proteja e mostre o caminho. Assim a auto expressão é sempre acompanhada por dor e
insegurança, e se deixada livre pode gerar bastante destruição. O conflito interior gerado por essa
ferida pode criar muito ressentimento, pois por mais técnica que a pessoa desenvolva para se
auto expressar, sempre faltará a alegria, a espontaneidade e o amor pela vida que deveria
acompanhar essa expressão. É preciso desenvolver coragem para expor a alma ferida para então
descobrir como recriar essa conexão profunda com o Deus também ferido que habita sua alma.
Então se será capaz de encontrar o divino em todos que encontra, e ajudar a que cada um
descubra esse caminho interno.

Quiron em Virgem
Esse é o signo da colheita, onde se conquista a independência e a autonomia através do trabalho
útil e da percepção inteligente de como aproveitar melhor a si mesmo para produzir bons frutos
no mundo. Pois quando Quiron age através de Virgem, sempre há uma enorme inundação ou uma
terrível seca quando o trigo está prestes a ser colhido. Assim, ao mesmo tempo que não se
consegue parar de plantar, a esperança de conseguir usufruir do próprio esforço parece cada vez
mais utópica, e, é preciso parar o trabalho automatizado e começar a escutar o que os deuses
estão querendo, pois não vai adiantar tentar controlar a vida, por mais esforço que se dispense
nisso. Através dessa ferida, Quiron mostra a diferença entre um emprego, automatizado e que
visa apenas a sustentação física, e um trabalho vocacionado, onde a pessoa se dá por inteiro,
aceitando as próprias imperfeições e dificuldades, além de todo o caos inerente aos movimentos
da vida. As dissociações básicas de Virgem entre corpo e mente, puta e santa, espiritual e
material, precisam encontrar sua síntese em nome de uma maior integridade para se encontrar
alívio da dor. Nesse trabalho alquímico consigo é que se encontrará a compaixão capaz de fazer
frutificar até as terras mais desérticas.

Quiron em Libra
A Balança, em busca de harmonia com aquilo que é diferente de si mesmo, tem que aprender a
lidar com os conflitos inerentes à relação com o Outro quando Quiron está aqui. Esse planeta
carrega em si a dor de conciliar opostos, e em Libra isso é feito através dos relacionamentos. O
mais comum é que se atraia exatamente o oposto daquilo que se acredita ser: se a pessoa se
identifica com a Vítima, vai atrair o Carrasco, se se identifica com o Salvador, vai atrair o
Marginalizado, se se identifica com o Curador, vai atrair o Doente. Essas relações, porém, são
desiguais, e a pessoa se sente solitária e infeliz, repetindo sempre o mesmo padrão de
relacionamento até começar a perceber que está projetando no outro aquilo que não quer ver em
si mesmo. Muitas vezes a pessoa com Quiron em Libra acredita que pode evitar a tensão
emocional e a dor que acompanham o confronto desses relacionamentos se colocando como um
observador neutro, o que só irá criar mais dor e fazer crescer o isolamento que se tenta escapar.
A estratégia de diplomacia libriana para manter uma aparência harmônica não funciona aqui, e é
preciso assumir os próprios sentimentos negativos, as raivas e medos, além de entender que é
preciso momentos de solidão e encontro consigo mesmo quando envolvido em um relacionamento
com um Outro, para poder ser honesto emocionalmente em lugar de projetar o que não se quer
ver em si mesmo. O processo de construir uma relação onde as individualidades são assumidas e
respeitadas pode fazer com que a ferida seja curada, pois o lado sombrio de cada um é entendido
e honrado, em vez de se tentar, sem sucesso, simplesmente eliminá-lo.

Quiron em Escorpião
Escorpião traz em si os segredos de nascer e morrer inerentes à vida, e Quiron aqui trará as
pulsões de Eros e de Thanatos para a consciência, nos obrigando a encarar toda a dor que a
vulnerabilidade de nossa existência na dualidade causa. É comum em momentos de mudança,
quando algumas coisas têm que morrer e ficar para trás para que algo novo comece, que a
pessoa fique obcecada pela própria morte. Nos envolvimentos emocionais e sexuais Quiron em
Escorpião também trará esse conflito doloroso de amor e morte, onde os impulsos destrutivos e
os amorosos entram em combate e a pessoa tem que reconhecer toda a raiva, ciúmes, medo e
outras coisas tenebrosas que surgem na intimidade com o outro, mesmo que apenas em fantasia.
Escorpião é um signo hiper sensível ao lado mais obscuro do Ser Humano, e Quiron aqui exige o
reconhecimento e a integração desse lado para aliviar a dor das feridas profundas causadas por
abusos - físicas ou emocionais - sofridas na infância, e assim aprender a lidar com o poder dessas
energias sem manipular nem se tornar impotente ao lado destrutivo do outro, pois as duas
distorções causarão dor. Quando se consegue penetrar nas trevas sem se identificar com elas
nem tentar modificá-la, é possível também entrar em contato com toda a alegria, esperança e
positividade de maneira mais intensa sem o medo de perdê-la, pois se descobre que a vida é
impermanente e enfrentar as dificuldades do nascer, morrer e renascer nos tornam mais
profundos e inteiros. Ajudar outras pessoas a percorrer esse caminho faz com que a essa dor seja
mais tolerável.

Quiron em Sagitário
A busca pelo significado da vida sagitariana é mostrada em toda a sua solidão quando Quiron faz
seu altar aqui. Geralmente o ambiente religioso ou filosófico em que se cresce é muito distante da
profunda devoção interna por algo maior que a consciência. As incoerências entre o que as
pessoas pregam e a maneira como agem também vai criando a ferida de Quiron em Sagitário, e a
pessoa se sente como que “ferida por Deus”. Não vai adiantar tentar divinizar algo externo - seja
um deus, uma crença, um lugar, uma coisa ou uma filosofia -, pois isso só fará com que a ferida
seja aprofundada. Não há como fazer barganhas com Deus quando precisamos passar por Quiron
para chegar a Ele. Os aspectos limitadores e doloridos de nossa existência humana precisam ser
incorporados à busca pelo significado da vida, se conscientizando de todos os preconceitos e
sofrimentos que foram impostos ao Ser Humano em nome de Deus, todas as ameaças à vida que
foram construídas pelos dogmas religiosos, toda a sombra humana que foi projetada no divino. A
ferida que o Homem fez a Deus precisa ser reconhecida e sentida por Quiron em Sagitário para
que, na compaixão por Deus nasça a compaixão por si e por toda a Humanidade, e se consiga
alívio da dor.

Quiron em Capricórnio
Esse é o signo da Autoridade, do mestre que, através da experiência de vida, é capaz de mostrar
o melhor caminho para se alcançar o alto da montanha. Com Quiron aqui, a figura de autoridade
com a qual se cresce não pode mostrar o caminho e ter que se contrapor a essa figura traz toda a
dor do planeta. O medo por essa figura de autoridade destrutiva acaba fazendo com que se
despreze a própria vulnerabilidade e sensibilidade, que acaba tendo que se esconder em um
quarto escuro, criando uma paralisia interna dolorosa. Essa perversão pode criar a fantasia de que
assim se pode vencer a vida, seja endurecendo e acumulando poder a qualquer custo, seja se
abstendo dos valores sociais aceitos. Assim a dor vai aumentando até se tornar insuportável e se
tem que buscar o caminho interno da cura. Só quando se pode assumir a responsabilidade pela
parte machucada e expressar toda a raiva e medo que estava guardado ali, é que se pode
também construir a verdadeira estrutura que se busca, não mais para sobreviver, mas para
crescer de verdade. Nessa busca interna se encontra a falta de amor e orientação que existe na
base social que criamos, e só mesmo um Quiron em Capricórnio é capaz de assumir com
seriedade a importância que isso tem para a transformação da nossa espécie.

Quiron em Aquário
Aquário é o guardião das nossas esperanças em um sociedade justa, livre e fraterna. Pois com
Quiron aqui descobrimos toda a dor de não conseguirmos isso, e nos sentimos ameaçados pelos
nossos iguais. Há uma hiper sensibilidade aos ideais do inconsciente coletivo com esse
posicionamento, e isso significa que tanto os desejos coletivos de paz quanto a agressividade com
relação ao que é diferente ou que ameace o status quo estarão se debatendo no interior da
pessoa. Geralmente não há eco para as idéias inovadoras e se tem a tentação de se submeter
àquilo que a sociedade acredita. Adotar alguma ideologia externa ou se transformar em um
marginal social só fará a ferida ficar maior, como sempre. É no mergulho interno na própria
mente, nas próprias ideologias, que se encontrará a ferida que não se cura no nível coletivo e que
nos impede de sermos o que somos potencialmente. Estudar as várias sociedades humanas pode
mostrar que cada grupo tem uma contribuição importante a dar ao todo, e então o “não se
encaixar” perde a importância individual para ganhar a dimensão coletiva de que sempre vamos
estar perdendo enquanto não respeitarmos as diferenças, que cada ser humano que morre em
uma luta estúpida é um potencial a menos de crescimento que todos perdem. Carregar essa
ferida na alma é sempre muito doloroso, mas pode ajudar a fazer com que da desilusão com a
Humanidade nasça uma nova consciência coletiva, mais próxima das nossas novas necessidades.

Quiron em Peixes
Peixes traz o anseio emocional pelo retorno à Unidade, possível apenas através da transcendência
daquilo que é individual em nós. Quiron aqui vai deixar bem claro que somos um barquinho sem
motor em meio às tempestades de um oceano imprevisível. Não vai adiantar agarrar-se ao
barquinho e se manter separado do todo, nem tão pouco se atirar ao mar e desistir da viagem.
Aqui temos a ferida de Quiron, que não consegue se curar nem morrer. A dor só se alivia através
do sacrifício da vontade pessoal, de modo a penetrar nesse oceano para compreendê-lo e não
mais combatê-lo. Assim, tempestades externas podem ser reconhecidas internamente, e então
acalmadas. Com isso, aprende-se a reconhecer e aproveitar os ventos favoráveis, a ter paciência
nas calmarias, a ir mais fundo nas tempestades, acompanhando as tramas da vida com todo o
seu caos e sofrimento. Se pode, então, deixar de ser a vítima da vida para ser co-criadora dela,
pois podemos aceitar seus mistérios. Como disse o mestre pisciano, Jesus Cristo, quando a
tempestade amedrontou seus discípulos, “porque esse medo, gente de pouca fé?” É só levantar-
se, dar ordens aos ventos e ao mar para produzir a calmaria. A fração que somos carrega em si
uma imagem preciosa do Todo, e a ilusão da separação tem que ser vivida sem se esquecer disso.

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