A invisibilidade da mulher negra em Joinville: formação e inserção ocupacional
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No que diz respeito às estratégias, o concurso público, o aumento da escolaridade e a inserção na área da saúde e da educação são elementos centrais. Foram realizadas entrevistas com sete mulheres negras que atuam em centros de educação infantil do município de Joinville, postos municipais de saúde e uma maternidade estadual.
Praticamente todas as entrevistadas eram de origem pobre, com dificuldades de prosseguirem com sua escolarização por conta de questões econômicas e sociais, o que as levou muitas vezes a inserirem-se em cursos de graduação de pouca qualidade, mas com mensalidades mais acessíveis. A pesquisa evidenciou que a inserção na educação e na saúde necessariamente não se dá por opção e sim como uma forma de fugir do serviço doméstico e do serviço fabril, além de indicar que todas em algum momento de suas trajetórias foram vítimas de discriminação racial.
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A invisibilidade da mulher negra em Joinville - Vanessa da Rosa
1. TRABALHO, EMPREGO E INSERÇÃO OCUPACIONAL
1.1 O TRABALHO E SUA DIMENSÃO HISTÓRICA
Pensar a categoria trabalho em nosso século e sua centralidade, ou não, implica analisar as transformações que vêm ocorrendo no mundo do trabalho, bem como as estratégias que os diversos sujeitos sociais vêm buscando para produzir sua existência, além da análise de sua dimensão histórica e social.
De acordo com Aued (1999), o trabalho é um dos principais assuntos das sociedades industrializadas, sendo peça principal da organização social. Por mais que reconheçamos que esta característica é essencial em nossas vidas, a autora acentua que o trabalho nos moldes que conhecemos hoje, remunerado e como principal meio de sobrevivência individual, é algo relativamente recente, com cerca de dois séculos de existência.
Considerando o caráter histórico do trabalho, retomamos inicialmente a concepção ontológica do trabalho na perspectiva de Marx:
Antes de tudo, o trabalho é um processo de que participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano com sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza. Defronta-se com a natureza como uma de suas fôrças. Põe em movimento as fôrças naturais de seu corpo, braços e pernas, cabeça e mãos, a fim de apropriar-se dos recursos da natureza, imprimindo-lhes forma útil à vida humana. Atuando assim sôbre a natureza externa, modificando-a, ao mesmo tempo modifica sua própria natureza. Desenvolve as potencialidades nela adormecidas e submete ao seu domínio o jogo das fôrças naturais (1984, p. 202).
Marx entende o trabalho como uma atividade exclusivamente humana, intencional, pensada e planejada mentalmente antes de sua execução.
Porém, o trabalho nessa dimensão, no sentido de edificar e libertar o homem, praticamente extinguiu-se a partir da égide do capitalismo, do trabalho assalariado e da divisão do trabalho, transformando a força de trabalho em mercadoria. O que percebemos hoje é o trabalho que aliena o próprio homem, o trabalho que está somente a serviço do capital e da produção de mais valia.
Marx salienta que:
A força de trabalho nem sempre foi uma mercadoria. O trabalho nem sempre foi assalariado, isto é, trabalho livre. O escravo não vendia sua força de trabalho ao possuidor de escravos, assim como o boi não vende o produto de seu trabalho ao camponês. O escravo é vendido, com sua força de trabalho, de uma vez para sempre, a seu proprietário. É uma mercadoria que pode passar das mãos de um proprietário para as de outro. Ele mesmo é uma mercadoria, mas sua força de trabalho não é sua mercadoria. O servo não vende senão uma parte de sua força de trabalho. Não é ele que recebe salário do proprietário da terra; antes, é o proprietário da terra que dele recebe tributo. O servo pertence à terra e entrega aos proprietários frutos da terra. O operário livre, pelo contrário, vende a si mesmo, pedaço a pedaço (2004, p. 27).
O trabalho no decorrer da história sofre diversas transformações, passando de forma de produção de subsistência ao trabalho assalariado. Este se torna imprescindível para o capital, que só pode multiplicar-se quando trocado pela força de trabalho, criando, consequentemente, o trabalho assalariado. Assim, cria-se o emprego e transforma-se a força de trabalho em mercadoria.
Marx (1982), no Manifesto Comunista, afirma que para que a classe burguesa possa dominar é necessário a acumulação de riqueza nas mãos de particulares, além da formação e multiplicação do capital. A condição do capital é o trabalho assalariado, que assenta na concorrência entre os operários.
De acordo com Aued (1999), há uma grande confusão entre trabalho¹⁰ e emprego. Os termos têm sido utilizados como se fossem sinônimos, além do que, estamos inseridos em uma sociedade paradoxal, ou seja, que produz mais, com menor emprego de trabalhadores, isto é, com menor emprego de trabalho vivo
(p.15).
Não estar ocupado, na atual sociedade, é motivo de grande preocupação. É cada vez mais visível o tormento de quem está desocupado, pois os anos 90 do século XX rima com estar desempregado. Estar nesta condição não é ter o tempo livre para o lazer, é tensão diante de um futuro incerto, é medo, sentimento de fracasso e sensação de ser descartável
(Idem, p.16).
1.2 INSERÇÃO OCUPACIONAL E EMPREGO
É comum, atualmente, uma grande confusão entre ocupação e emprego, sendo estes dois conceitos utilizados, na maioria das vezes, como sinônimos. De acordo com Singer (2003), emprego implica em assalariamento. É uma relação que só existe quando alguém ou uma empresa dá
emprego a uma pessoa. Na verdade, o que ocorre não é uma relação de doação. Não se trata de dar ou não emprego, mas sim de uma relação de compra e venda, em que o emprego resulta de um contrato onde o empregador compra a força de trabalho do empregado, ou seja, compra sua capacidade de produzir.
Por fôrça de trabalho ou capacidade de trabalho compreendemos o conjunto das faculdades físicas e mentais, existentes no corpo e na personalidade viva de um ser humano, as quais ele põe em ação toda a vez que produz valores-de-uso de qualquer espécie. (...) Assim, a fôrça de trabalho só pode aparecer como mercadoria no mercado, enquanto for e por ser oferecida como mercadoria pelo próprio possuidor, pela pessoa da qual ela é a fôrça de trabalho. (...) Ele e o possuidor do dinheiro encontram-se no mercado e entram em relação um com o outro como possuidores de mercadoria, dotados de igual condição, diferenciando-se apenas por um ser o vendedor e o outro o comprador, sendo ambos juridicamente pessoas iguais (MARX, 1984,