Durante a Antiguidade várias batalhas foram travadas em quase toda a região que
hoje conhecemos por Europa. A luta imperial pela anexação territorial pode ser
considerado como um dos marcos da história que ficou registrada sobre as civilizações
antigas do ocidente, dentre elas destacamos a Greco-Romana. Nesse movimento de
expansão territorial dos impérios, vários dos pequenos camponeses foram expulsos de
suas terras e em muitos casos ainda eram submetidos ao trabalho escravo. Estava
difundida a idéia de que ao concentrar territórios, concentrava-se não somente riquezas,
mas poderes plenos para controlar a população e governar destemidamente.
Portanto, observando ao longo da história verifica-se que esse processo de
concentração territorial foi se aprofundando e, com o advento do modo de produção
capitalista1, a concentração fundiária tornou-se indispensável para a manutenção desse
sistema no qual a sociedade ainda hoje está organizada. Se por um lado aumentou as
desigualdades com a concentração de terras, por outro vimos surgir com o tempo
diversos movimentos organizados que lutavam pela igualdade de acesso a terra. Como
nosso objetivo é apenas tratar dessa questão no Brasil, vamos apenas fazer um recorte
temporal que nos permita compreender o aparecimento desses movimentos e como a
educação vai fazer parte da pauta de reivindicações.
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Para um melhor entendimento deste período de ascensão do modo de produção capitalista e a relação
com a concentração de terras é indispensável a leitura d’ “A assim chamada acumulação primitiva” , escrito
por Karl Marx em o Capital, Livro Primeiro, Capítulo XXIV.
Em terras brasílicas: a expropriação dos nativos e o desenraizamento forçado.
A organização dos trabalhadores rurais de fato só ocorreu no Brasil por volta dos
anos 1930 e 1940. Os primeiros sinais foram dados com a crise que se abateu na
agricultura, devido a recessão de 1929, a lavoura de Café, por exemplo, não conseguiu
vender toda sua produção. Outro fator importante foi o processo de incentivo a
industrialização promovida pelo governo de Getúlio Vargas, o que favoreceu a um maior
empobrecimento das populações campesinas que levou os trabalhadores a se
mobilizarem. Nos anos 1940, as lutas dos trabalhadores urbanos influenciados pelo
movimento anarquista, conseguem conquistar toda uma legislação trabalhista (CLT) e o
direito de organização sindical. Nessa mesma década surgem no campo entidades que
reivindicavam regionalmente os direitos dos agricultores. Na década de 1950 registraram-
se várias greves de trabalhadores agrícolas em alguns estados brasileiros que
invariavelmente lutavam por aumentos salariais, direito a férias e pagamento de salários
atrasados. Destacamos que neste período estas organizações ainda não eram
regulamentadas, ou seja, não havia reconhecimento pelo Estado de que tais entidades
fossem representantes dos trabalhadores. Apesar de haver sinais de organização dos
trabalhadores do campo, ainda não podemos falar em uma consolidação do movimento
camponês já que o que temos neste período entre os anos 1930 e 1940 são pequenos
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Essa tese é defendida por vários historiadores, dentre os quais destacamos a obra de Caio Prado Júnior
intitulada “A Formação do Brasil Contemporâneo”, no qual atribui o sentido da colonização brasileira à
necessidade de expansão do capitalismo mercantil europeu.
movimentos isolados de contestação, ou seja, ainda não havia uma organização nacional
dos trabalhadores do campo.
Nos anos 1950 são criados alguns movimentos que tiveram destaque nacional,
entre eles destacamos o MASTER (Movimento dos Agricultores Sem Terra –RS), as
ULTAB’s (União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil) e as Ligas
Camponesas (no nordeste) . Estes movimentos vão lutar principalmente pela extensão
dos direitos trabalhistas conquistados na cidade para o campo - que teve vitória no ano de
1963 com o Estatuto do Trabalhador Rural -, pelo direito a sindicalização rural e por
condições dignas de trabalho. A partir de 1960 as Ligas Camponesas começam a articular
suas lutas de caráter nacional, com a posse de João Goulart o discurso radicaliza e
passam a exigir a “reforma agrária, na lei ou na marra”. Diante das agitações populares,
os setores da burguesia brasileira sentindo-se ameaçados articulam um golpe junto com
as forças armadas e, em 1964, Jango é deposto e se instaura uma violenta ditadura civil-
militar que perdurou durante mais de 20 anos. No período ditatorial todos os movimentos
foram colocados na ilegalidade, alguns foram desmantelados com a repressão e noutros
as lideranças formaram novas entidades para fazer a luta armada contra os golpistas.
Contraditoriamente é nesse período que vai se fazer a lei mais progressista para o
campo, o Estatuto da Terra de 1966, porém ressaltamos que na prática quase nada foi
posto em prática por este Estatuto.
Agronegócio* Campesinato**
Centralização Descentralização
• controle centralizado da produção, • maior ênfase na produção,
processamento e mercado; processamento e mercado
locais/regionais;
• produção concentrada,
estabelecimentos agrícolas maiores • produção pulverizada (maior número
e em menor número, o que acarreta de estabelecimentos e agricultores),
um menor número de agricultores e controle da terra, recursos e capital.
de comunidades rurais.
Dependência Independência
• abordagem científica e tecnológica • unidades de produção menores,
para produção; dependência de menor dependência de insumos,
experts; fontes externas de conhecimento,
• dependência de fontes externas de energia e crédito;
energia, insumos e credito; • maior auto-suficiência individual e da
comunidade;
• dependência de mercados muito
distantes. • ênfase prioritária em valores,
conhecimentos e habilidades
pessoais.
Agronegócio Campesinato
Competitivo Comunitário
• competitividade e interesse próprio; • maior cooperação;
• agricultura é considerada um • agricultura é considerada um modo
negócio; de vida e um negócio;
Escassas, compreendendo
Constantes, baseadas na
a manutenção do
Atividades posse de terra e
acampamento e
desenvolvimento da
Produtivas agricultura, com obtenção
ocasionais serviços
assalariados para
de renda.
terceiros.
Calcada na “economia de
Similar à dos bairros
guerra”; solidariedade
rurais tradicionais, ainda
Sociabilidade em processo constante de
entrecortada pela
prevalência das garantias
consolidação.
individuais.
Independência relativa,
Dependência absoluta,
variando de acordo com o
Relação com o tanto para a
grau de controle que o
sobrevivência material
MST movimento exerce sobre
quanto para o êxito na
a atividade produtiva e
obtenção de terras.
sua organização.
Bibliografia
MARX, Karl. "A assim chamada acumulação primitiva." Cap. 24 de O Capital. São Paulo,
Abril Cultural, p. 261-294.
PRADO JR., Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo: Brasiliense, 1981.
Capítulo I: O sentido da colonização.
TURATTI, Maria Cecília Manzoli. Os Filhos da Lona Preta. São Paulo: Alameda, 2005.