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18 Considerac6es Eticas e Sociais na Testagem Tanto em suas pesquisas quanto nas aplicagées praticas de seus procedimentos, os psicélogos ha muito tempo se preocupam com questées de ética profissional. Um exemplo concreto desta preocu- pagio é 0 programa empirico sistematico seguido na década de cinqiienta para desenvolver o primei- ro cédigo formal de ética para a profissao. Este amploempreendimento resultou na preparagao de uma série de padrées oficialmente adotados pela Associagdo Psicolégica Americana (APA), publica- dos em 1953. Esses padres sofrem revisio e aper- feigoamento continuos, o que leva a uma publica Gao periddica de edigoes revisadas. A verso atual, Ethical Principles of Psychologists and Code of Conduct (APA, 1992)!, compreende um preambu- lo e seis princfpios gerais destinados a orientar os psic6logos para os ideais superiores da profiss4o. Ela também apresenta oito padres éticos com re- gras obrigatorias para psic6logos trabalhando em contextos diversos. 0 Cédigo de Etica” é implementado pelo Co- mité de Etica da APA, que investiga julga queixas contra membros desta associagao. As regras e os procedimentos para a operagao desse comité, as- sim como seus relat6rios anuais, so publicados °N, de R. O c6digo esté dispontvel na Intemet, na pagina da APA: www.apa.com. no American Psychologist, a revista oficial da As~ sociacao Psicolégica Americana (ver, p. ex., APA” Comité de Etica, 1995, 1996). Um manual indis~ pensdvel com comentdrios e ilustragGes sobre aplicacéo dos padrées éticos foi preparado pelos antigos membros do Comité de Etica que fizeram a tiltima revisio do Cédigo de Etica (Canter, Ben- nett, Jones & Nagy, 1994). Uma outra colecao titil de leituras histéricas e contemporaneas sobre éti- cana psicologia, incluindo discussées de dilemas éticos em uma variedade de ambientes, foi recen- temente compilada por Bersoff (1995). 0 volume de Pope e Vasquez (1991), Ethics in Psychothera- ‘py and Counseling, inclui um capitulo sobre ques- toes de avaliacdo que oferece bons conselhos prati- cos. Weiner (1995a) escreveu recentemente um capftulo muito ttil sobre como antecipar desafios éticos e legais na avaliacdo da personalidade Adécada de noventa testemunhou uma rapida_ proliferacao de agées legislativas nos niveis federal eestadual, decisées de tribunais e orientages pro- fissionais de uma diversidade de pontos de vista, muitos das quais relacionam-se com a pratica da psicologia em geral e com 0 uso dos testes psicol6- gicos em particular. Varios destes desenvolvimen- tos j4 foram discutidos em capitulos anteriores no contexto de questées e praticas especificas de testa- gem. Com excessiva freqiiéncia, 0 efeito combina- TESTAGEM PSICOLOGICA 433 do destas injungdes envolve confusdo, inconsistén- cias e conflitos para o praticante. A atengao centra-se cada vez mais nos prove- dores de servigos psicolégicos que precisam equili- brar os principios éticos de sua profissao com man- datos legais e reguladores, e também com as politicas institucionais das organizagbes em que trabalham. Correspondentemente, a Associagao Psicolégica Americana, por meio de seus varios es- crit6rios e comités, tem tentado orientar e infor- mar seus membros, monitorando desenvolvimen- tos pertinentes e promulgando padrées, orientagGes e declaracdes sobre questdes que tendem a apre- sentar problemas para os psicdlogos praticantes. O General Guidelines for Providers of Psychologi- cal Services (APA, 1987a) e 0 Specialty Guidelines for the Delivery of Services (APA, 1981 — atual- mente em revisdo) foram promulgados para aju- dar aqueles envolvidos na pratica profissional da psicologia em diversos contextos. Uma orientagao adicional sobre questées especificas € oferecida em outros documentos, tais como 0 Guidelines for Child Custody Evaluations in Divorce Proceedings, pre- parado pelo Comité de Pratica e Padrées Profissio- nais (APA, COPPS, 1994), e varios outros mencio- nados neste capitulo. Além disso, desde o final da década de oitenta, a APA vem preparando uma sé- rie de volumes que resumem e analisam as leis que afetam os profissionais da satide mental em cada estado; cerca de doze desses volumes foram publi- cados e, em alguns casos, j4 foram atualizados (ver, p. ex., Caudill & Pope, 1995; Petrila & Otto, 1995; Shuman, 1990, 1993; Wulach, 1991) O Comité de Testes e Avaliagao Psicolgica da APA (CPTA) dedica-se especialmente a considerar os problemas referentes a pratica de testagem e ava- liago, e a oferecer conselhos técnicos relativos a essas prdticas a outros grupos da APA. Ele produ- ziu varios documentos, que sero mencionados mais tarde neste capitulo, com orientagGes sobre praticas e problemas relacionados aos testes. O CPTA também revisa o trabalho do Comité Con- junto de Préticas de Testagem (JCTP), um grupo estabelecidlo pela APA por outras organizagoes pro- fissionais preocupadas com a testagem. Por sua vez, o Comité Conjunto desenvolveu um Code of Fair Testing Practices in Education (JCTP, 1988) e outros produtos destinados a melhorar a maneira ‘como os testes so aplicados e a impedir seu uso inadequado (ver, p. ex., Eyde et al., 1988, 1993) Atualmente, o JCTP esta preparando uma declara- cdo sobre “Direitos e Responsabilidades dos Tes- tandos” Avisao da perspectiva do testando e certos as- pectos do papel dos usudrios de teste foram consi- derados no Capitulo 1. Neste capitulo, dirigimos a nossa atencao para questdes éticas e sociais que afetam o uso dos testes em varios contextos. Além de questdes referentes & competéncia profissional, nés discutimos brevemente as responsabilidades dos editores de teste, 0 direito do testando a privacida- de, a questo do sigilo e a testagem de individuos de backgrounds e niveis de habilidade diversos. Apesar de tratarmos em certa extensio do impacto da legislaco, uma consideracao detalhada da multiplicidade de aspectos legais relativos 4 prati- ca da testagem est bem além do nosso alcance. Por isso, 0 leitor interessado é encaminhado as v4- rias fontes mencionadas neste e em outros capitu- los deste texto (ver, especialmente, Capitulos 9 e 17). QUESTOES ETICAS NA TESTAGEM E NA AVALIACAO PSICOLOGICA Desde a década de setenta existe uma grande preo- cupag%o no apenas com problemas éticos, mas também com questées mais amplas de valores em todos os campos da psicologia aplicada e te6rica (Bersoff, 1995; Diener & Crandall, 1978; Jacob & Hartshome, 1991; Pope & Vasquez, 1991). Na area da testagem, andlises cuidadosas e provocativas do papel dos valores e dos principios éticos subjacen- tes de varias prdticas foram apresentadas por Eyde e Quaintance (1988) e por Messick (1980b, 1989, 1995). Em um nivel mais especifico, 0 Cédigo de Etica da APA contém muitos elementos aplicaveis 4 testagem psicolégica. Um dos padrdes — Evalua- tion, Assessment, or Intervention — refere-se dire- tamente ao desenvolvimento e ao uso de técnicas de avaliag&o psicolégica. Um outro — Forensic Ac- tivities — contém uma segio dedicada especifica- mente as avaliacbes em contexts legais. Além dis- so, 0 padrio ético sobre Privacidade e Sigilo, embora mais amplo em alcance, também é alta mente relevante para a testagem, assim como a maioria dos outros princfpios gerais e varios dos padres éticos (APA, 1992). Algumas das questdes discutidas no Cédigo de Etica estao estreitamente relacionadas a pontos tratados no Padrées de Tes- tagem citado no Capitulo 1. De fato, 0 contetido 434 ANNE ANASTAS! & SUSANA URBINA do Padrées de Testagem ajuda a definir 0 uso pro- fissionalmente responsavel dos testes. Além da APA, outros grupos e associagdes pro- fissionais relacionados desenvolveram seus proprios cédigos e orientagdes éticas. Entre as mais perti- nentes, do ponto de vista da testagem, esta a decla- ragdo intitulada Responsabilidades dos Usudrios de Testes Padronizados (Responsabilities of Users of Standardized Tests — a “Declaragio RUST”), adotada em 1989 pela American Counseling Asso- ciation (ACA). Um outro documento titil é 0 Prin- ciples for the Validation and Use of Personnel Selection Procedures, desenvolvido pela Socieda- de de Psicologia Industrial e Organizacional (SIOP — 1987) para um objetivo mais especializado (ver Capitulo 17). Um evento significativo que esclareceu o lugar da testagem na sociedade moderna foi a publica cio de Ability Testing: Uses, Consequences, and Controversies (Wigdor & Garner, 1982). Este livro de dois volumes € 0 relat6rio final de um projeto de quatro anos que examinou 0 uso de testes pa- dronizados de habilidade em escolas, na admissao A educagiio superior e na testagem para empregos. Iniciado em uma época de amplo debate ptiblico sobre o valor da testagem, o projeto foi dirigido por um comité multidisciplinar sob os auspicios do National Research Council. Desde a década de oi- tenta, foram publicados outros estudos e relatérios importantes referentes a 4reas de problemas na tes- tagem (ver, p. ex., Hartigan & Wigdor, 1989; Office of Technology Assessment, 1992). Em geral, os achados desses varios grupos substanciaram econ- firmaram as concluses bem-estabelecidas e fre- qiientemente reiteradas sobre as contribuigGes e os potenciais usos inadequados dos testes de habili- dade. O crescente e disseminado envolvimento do governo na aplicagao de testes psicoldgicos e ou- tros instrumentos de avaliagao levou a criagao do Board on Testing and Assessment (BoTA), estabe- lecido em 1993 com 0 apoio dos departamentos de Defesa, Educagao e Trabalho dos Estados Unidos (ver Apéndice B). O BoTA é uma atividade do Nati- onal Research Council. Seus principais objetivos so ajudar os criadores de politicas a compreender e avaliar os testes e outros instrumentos usados como ferramentas de politica publica. 0 Board con- centra-se em questées colaterais que afetam a tes- tagem e a avaliagao em muiltiplos contextos, e pu- blica relatérios sobre tépicos como os Goals 2000, uma iniciativa da legislagao em educagao (Feuer & Kober, 1995), e 0 plano de melhoria para a Ge- neral Aptitude Test Battery (BOTA, 1995), assim como as implicagSes educacionais e de avaliagao das mudangas que esto acontecendo na natureza do trabalho (Black, Feuer, Guidroz & Lesgold, 1996) QUALIFICACOES E COMPETENCIA PROFISSIONAL DO USUARIO O principio sobre competéncia do Gédigo de Etica declara que os psicdlogos devem “oferecer apenas os servigos e usar apenas as técnicas para os quais estao qualificados por formagio, treinamento ou. experiéncia” (APA, 1992, p. 1599). Com relacao aos testes, o requerimento de que sejam usados apenas por examinadores apropriadamente qualificados €um passo para proteger o testando do uso inade- quado dos testes.’ As qualificages necessdrias evi- dentemente variam de acordo com o tipo de teste Assim, é necess4rio um perfodo relativamente lon- go de treinamento intensivo e experiéncia supervi- sionada para 0 uso adequado de testes de inteli- gencia individuais e da maioria dos testes de personalidade, ao passo que um treinamento bem menos especializado € necessdrio para testes de re- alizago educacional ou proficiéncia na fungZo Convém observar que estudantes que realizam tes- tes em aula com finalidades instrucionais geral- mente nao esto preparados para aplicar estes tes- tes a outras pessoas ou para interpretar apropriada- mente os escores. Examinadores bem-treinados escolhem testes que sao apropriados tanto para o objetivo especit co para o qual eles esto testando quanto para as pessoas a serem examinadas. Eles também conhe- cem a literatura de pesquisa disponivel sobre o tes- te escolhido e sao capazes de avaliar seus méritos técnicos com relag&o a caracteristicas como nor- mas, fidedignidade e validade. Ao aplicar o teste, eles so sensiveis 4s muitas condigoes que podem afetar o desempenho no teste, tais como as ilustra- das no Capitulo 1. Eles s6 tiram conclusdes ou fa- zem recomendagées depois de considerar o escore (ou escores) de teste 4 luz de outras informagoes pertinentes sobre o indivfduo. Acima de tudo, eles devem saber o suficiente sobre a ciéncia do com- portamento humano para evitar inferéncias injus- tificadas em suas interpretag6es dos escores de tes- te. Quando os testes so aplicados por assistentes ou técnicos, ou por pessoas que no possuem um treinamento profissional em principios psicomé- tricos e praticas de avaliagao adequadas, é essenci- al que um psicdlogo qualificado esteja disponivel, pelo menos como consultor, para oferecer a pers- pectiva necessdria para uma interpretagdo apro- priada do desempenho no teste. Quem é um psicélogo qualificado? Obviamen- te, com a diversificagao das disciplinas e a conse- qiiente especializagao do treinamento, nenhum. psiclogo € igualmente qualificado em todas as areas, mesmo no campo mais estreito da testagem e da avaliacdo psicolégica (ver Capitulo 17). Re- conhecendo este fato, o Codigo de Etica exorta os psicdlogos a “reconhecer as fronteiras de suas com- peténcias especificas e as limitagdes de sua perf- cia” (APA, 1992, p. 1599). As implicacGes desta obrigacao ¢tica so explicadas com detalhes no principio da competéncia, que foi citado anterior mente. Um passo significativo, tanto para a melhoria dos padrdes profissionais quanto para ajudar o ptiblico a identificar psicélogos qualificados, foi a aprovagao de leis estaduais de licenciamento e cer tificagZo para os psicdlogos. Todos os Estados, as- sim como 0 Distrito de Coliimbia, agora tém essas leis; a maioria das provincias canadenses também aprovou leis regulamentando a pratica da psicolo- gia (para um resumo dessas leis, ver APA, 1993, p. xlii-sdv). Embora os termos “licenciamento” e “‘cer- tificagdo” sejam freqiientemente utilizados de for- ma intercambidvel, na psicologia a certificacao refere-se tipicamente a protegao legal do titulo de “psicdlogo”, ao passo que o licenciamento contro- la a pratica da psicologia independentemente do t{tulo pelo qual o praticante é identificado. As leis de licenciamento, portanto, precisam incluir uma definigao da pratica da psicologia. A maioria dos Estados comegou com leis de certificagdo mais sim- ples, mas tem havido um continuo movimento rumo ao licenciamento. Em qualquer tipo de lei, os requerimentos sao geralmente um doutoradoem psicologia, um periodo especificado de experién- cia supervisionada e um desempenho satisfatério em um exame de qualificagao. Os estatutos de li cenciamento costumam incluir razdes para agdes TESTAGEM PSICOLOGICA 435 disciplinares contra os psic6logos, que podem va- riar de multas e reprimendas a suspensao e revo- gagdo da licenca. Muitas jurisdigdes incorporaram os requerimentos éticos da APA aos seus estatutos, direta ou indiretamente, de modo que as violac&es do Cédigo de Etica constituem razio para algu- ma forma de aco disciplinar, A APA também de- senvolveu um Model Act for State Licensure of Psychologists (APA, 1987b), para servir como um prot6tipo para o planejamento da legislacao esta- dual que regula a pratica da psicologia. Em um nivel mais avangado, a certificagao da especialidade cabe ao American Board of Professi- onal Psychology (ABPP — ver Apéndice B). Reque- rendo um alto nivel de treinamento e experiéncia em especialidades designadas, o ABPP certifica di- plomados em dreas como psicologia clinica, de aconselhamento, industrial/organizacional e esco- lar, entre outras, por meio de conselhos separados de especialidade. Os registros da APA contém uma lista dos atuais diplomados em cada especialida- de; a lista também pode ser obtida com 0 ABPP. Como uma federagao de conselhos constitufdaem_ particular dentro da profissdo, 0 ABPP no possi a autoridade legal das agéncias que administram as leis de licenciamento estadual e certificagio, Na Ultima década, mudangas no sistema de satide e outras mudangas no mercado profissional aumentaram a urgéncia da questo das credenci- ais para a pratica da psicologia. Conseqiientemen- te, a Associagao Psicolégica Americana tomou va- rias medidas para lidar ordenadamente com os muitos conflitos potenciais inerentes 4 atual atmos- fera. Uma dessas medidas foi a criagao do APA Co- llege of Professional Psychology (Sleek, 1995), que outorga credenciais para varias proficiéncias den- tro da psicologia por meio de um procedimento que envolve exames e também pré-requisitos edu- cacionais e experienciais. Uma outra foi o desen- volvimento de um proceso por intermédio do qual podem ser formalmente reconhecidas as especiali- dades e as proficiéncias na pratica da psicologia (APA, Joint Interim Committee for the Identificati- on and Recognition of Specialties and Proficienci- es, 1995a, 1995b). Futuramente, sem dtivida, se- guit-se-4o outras orientag6es relativas & questao especifica das qualificagies dos usuarios de testes, assim como novos procedimentos para o creden- ciamento de especialistas em avaliagao. 436 ANNE ANASTASI & SUSANA URBINA RESPONSABILIDADES DOS EDITORES DE TESTES Acompra de testes geralmente € restrita a pessoas que satisfazem certas qualificagdes minimas. Os catdlogos dos editores de teste mais importantes especificam requerimentos que precisam ser satis- feitos pelos compradores. Normalmente, estao qua- lificados os individuos com um grau de mestreem psicologia ou seu equivalente. Alguns editores clas- sificam seus testes em niveis referentes 4s qualifi- cagées do usuario, variando de testes de realizagao educacional e proficiéncia vocacional, testes de inteligéncia grupais e inventdrios de interesse a instrumentos clinicos, como testes de inteligéncia individuais e a maioria dos testes de personalida- de. Também sao feitas distingoes entre comprado- res individuais e compradores de instituigdes au- torizadas de testes apropriados. Estudantes de psicologia que podem precisar de um determina- do teste para uma tarefa de aula ou pesquisa de- vem apresentar uma autorizagdo de compra assi- nada pelo professor, que assume a responsabilidade pelo uso adequado do teste.3 As tentativas de restringir a distribuicao de tes- tes 8m um objetivo duplo: a seguranga dos mate- riais de teste e a prevengao do uso inadequado. Entretanto, convém observar que embora os distri- buidores de testes possam fazer tentativas honestas de implementar estes objetivos, 0 controle que po- dem exercer necessariamente ¢ limitado. Em al- guns casos, talvez n&o seja possfvel investigar e ve- rificar as qualificagdes alegadas dos compradores de teste (ver, p. ex., Oles & Davis, 1977). Além dis- $0, as qualificacdes formais constituem apenas uma triagem grosseira. £ evidente, por exemplo, que um_ grau de M.A. em psicologia—ou mesmo um Ph.D., uma licenga estadual ou um diploma do ABPP — necessariamente nao significa que o individuo esta qualificado para usar um determinado teste ou que seu treinamento é relevante para a interpretagao adequada dos resultados obtidos com esse teste. A maior responsabilidade pelo uso adequado dos tes- tes recai basicamente sobre cada usuario ou insti- tuigao envolvida. Uma outra responsabilidade profissional refe- re-se 4 comercializagao dos testes psicolégicos pe- los autores e editores. Os testes nao devem ser libe- rados prematuramente para uso geral. Também nao devem ser feitas afirmacoes relativas aos mé- rites de um teste na auséncia de evidéncias objeti- vas suficientes. Quando um teste é distribuido cedo apenas para fins de pesquisa, esta condicao deve ser claramente especificadae a distribuicao do tes- te, correspondentemente restrita. O manual do teste deve fornecer dados adequados para permitir uma avaliagao do préprio teste e também informagées completas relativas a aplicac&o, pontuagao e nor- mas. O manual deve ser uma exposigaio fatual da- quilo que se sabe sobre o teste, e no um estratage- ma de vendas destinado a apresentar o teste sob uma luz favordvel. E responsabilidade do autor e do editor do teste revisar o teste e as normas com freqiiéncia suficiente para impedir que se tornem obsoletos. A rapidez com que um teste fica desatu- alizado, evidentemente, varia muito de acordo com asua natureza. Os testes que precisam ser seguros pelo fato de serem usados em decisdes de selegao, colocagao ou diagnéstico nao devem ser publicados na midia popular, em parte ou na sua totalidade, devido a raz6es Obvias. Qualquer publicidade dada a itens especificos de um teste tenderd a invalidar o futuro uso do teste com outras pessoas. Além disso, a pu- blicagao de testes na midia popular pode levar a auto-avaliagées psicologicamente prejudiciais por parte de membros do ptiblico em geral. Uma outra pratica que € quase sempre nao-profissional € a testagem por correspondéncia. Este procedimento no somente nao apresenta nenhum controle das condigdes de testagem, como também em geral en- volve a interpretagdo dos escores na auséncia de outras informag@es pertinentes sobre o individuo. Com algumas possfveis excegies, tal como 0 uso de inventdrios de interesse ou valor com individu- os bastante sofisticados e bem-motivados, os resu!- tados de testes realizados nestas condigées podem ser piores do que intiteis.* Convém observar que desde a década de oiten- ta os editores de teste comecaram a tomar medidas para garantir que os testes publicados e distribut- dos por eles sejam adequadamente usados, e seus escores, corretamente interpretados. Para isso, eles tentaram expandir e melhorar a comunicagao com seus clientes a respeito de testes especificos e au- mentar 0 entendimento do ptiblico sobre a testa- gem em geral. Os editores de teste participaram com. APA outras organizagées nacionais dos projetos de Qualificagées e Treinamento do Usuario do Co- mité Conjunto de Praticas de Testagem (Eyde e¢ al., 1988, 1993). Além disso, eles estabeleceram a Association of Test Publishers (ATP — ver Apéndice TESTAGEM PSICOLOGICA 437 B), uma organizagao cujos membros se empe- nham em promover a integridade dos servigos e dos produtos de avaliagdo e aumentar seu valor para a sociedade. A ATP publicou recentemente a segunda edig&o de Model Guidelines for Preem- ployment Integrity Testing (ATP, 1996). PROTEGAO DA PRIVACIDADE Uma questo que surge especialmente em relagao 0s testes de personalidade é a da invasao de priva- cidade. Em um relat6rio intitulado Privacy and Behavioral Research (1967), 0 direito a privaci- dade € definido como o direito da pessoa de decidir por ela mesma quanto quer compartilhar com os outros Os seus pensamentos, sentimentos e fatos sobre sua vida pessoal; esse direito também ¢ ca- racterizado como “essencial para garantir a liber- dade e a autodeterminacao” (p. 2). Namedidaem que alguns testes de tragos emocionais, motivacio- nais ou de atitudes sao necessariamente disfarga- dos, o examinando pode revelar caracteristicas no curso desses testes sem perceber que esta fazendo isso. Para a efetividade da testagem, talvez seja necessdrio manter 0 examinando na ignorancia das maneiras especificas como as respostas a um teste serao interpretadas. No entanto, a pessoa nao deve ser submetida a um programa de testagem sob falsos pretextos. E importantissimo que 0 exa- minando compreenda claramente o uso que sera feito dos resultados do teste Embora as preocupagdes com a invasao de pri- vacidade tenham sido expressas mais comumente em relaco aos testes de personalidade, elas logi- camente se aplicam a qualquer tipo de teste. Um teste de inteligéncia, aptidao ou realizagio certa- mente pode revelar limitagdes em habilidades e conhecimentos que 0 individuo preferiria nao re- velar. Além disso, qualquer observac%io do compor- tamento de um individuo— como em uma entre- vista, em uma conversa casual ou em outro encontro pessoal — pode produzir informagies que 0 individuo preferiria esconder e que talvez deixe escapar involuntariamente. O fato de os testes psi- colégicos serem destacados com freqiiéncia nas discussdes sobre invasdo de privacidade provavel- mente reflete concepgdes erroneas predominantes sobre os testes, assim como seu freqiiente uso ina- dequado como a tinica base para decisdes sobre os individuos. Se todos os testes fosserm reconhecidos como medidas de amostras do comportamento, sem nenhum poder misterioso de penetrar além do comportamento, os medos e as desconfiangas populares diminuiriam. Da mesma forma, se os testes somente fossem interpretados dentro do con- texto de avaliacdes completas, sempre que estives- sem em jogo decisées importantes para o indivi- duo, 0 peso indevido colocado em um determinado teste seria menor. Também devemos observar que toda a pesqui- sa comportamental, quer empregue testes ou ou- tros procedimentos observacionais, apresenta a possibilidade de invasao de privacidade. Podem surgir conflitos de valor que precisam ser resolvi- dos em cada caso.> O problema obviamente nao é simples, e tem sido assunto de extensas delibera- Ges. Nenhuma regra universal pode ser formula- da para proteger a privacidade pessoal; s6 podem ser oferecidas orientagdes gerais. As solugdes preci- sam ser desenvolvidas em termos das circunstan- cias especificas de um caso e & luz da consciéncia ética e da responsabilidade profissional de cada psicdlogo. Um fator relevante é 0 objetivo para o qual a testagem € realizada — se para aconselhamento individual, decisdes institucionais relativas a sele- go € a classificagao, ou pesquisa. Por exemplo, em situagées clinicas ou de aconselhamento, os clientes normalmente esto dispostos a se revela- rem a fim de conseguir ajuda para seus proble- mas. Independentemente da finalidade da testa- gem, a proteg&o da privacidade envolve dois concei- tos-chave: relevancia e consentimento informado. As informagoes que o individuo é solicitado a reve- lar devem ser relevantes para os objetivos declara- dos da testagem. Uma implicagao importante des- te princfpio é que todos os esforgos possiveis deve. ser empenhados a fim de se determinar a validade dos testes para a finalidade diagnéstica ou prediti- va especifica para a qual so usados. Desenvolvi- mentos legais recentes, tais como 0 caso Soroka vs. Dayton Hudson (ver, p. ex., Merenda, 1995) e o Americans with Disabilities Act de 1990 (PL. 101- 336), salientaram a importancia de se manter no minimo necessario a invasdo das investigagdes na testagem de pré-emprego, e de se garantir a rele- vancia demonstravel dessas investigagdes para o desempenho na fungdo (ver, p. ex., Bruyére & O'Keeffe, 1994; D.C. Brown, 1996; Herman, 1994, Capitulo 2). No caso Soroka, candidatos a empre- gos contestaram o uso de um teste de triagem afir- 438 ANNE ANASTAS! & SUSANA URBINA mando que suas perguntas sobre crengas religio- sas e preferéncias sexuais — tiradas do MMPI e do CPI — eram invasivas e discriminatérias. Embora © caso fosse encerrado sem uma regulamentacao definitiva, varios construtores de teste — incluindo os autores da tiltima revisao do MMPI e do CPI — ja removeram esses itens de inventdrios de auto- relato (ver Capitulos 13 ¢ 17). Oconceito de consentimento informado tam- bém requer esclarecimento, e sua aplicagao nos casos individuais exige o exercicio de consideravel. julgamento (AERA, APA, NCME, 1985). Embora 0. atual Cédigo de Etica contenha um padrio expli- cito exigindo o consentimento informado apenas para a terapia, e nao para a avaliagdo, esta exi- géncia esté implicita em outros padrdes referentes a avaliacdo e ao diagnéstico em contextos profissi- onais, e também em varias outras partes do cédi- go. Além disso, os regulamentos estaduais dos con- selhos de psicologia, a lei aplicada aos casos, as regras institucionais e/ou os padrées predominan- tes de pratica tipicamente requerem o consentimen- to informado no contexto das atividades de avalia- doe de intervengao (Canter ef al., 1994, p. 67).0 testando certamente deve ser informado sobre o objetivo da testagem, os tipos de informagGes pro- curadas e 0 uso que serd feito dos escores. No en- tanto, nao é necessdrio que ele veja os itens do tes- te antecipadamente ou saiba como as respostas serdo pontuadas. Os itens do teste também nao de- vem ser mostrados aos pais, no caso de um me- nor! Estas informagées normalmente invalidari- am o teste. Estas e outras perguntas especiais que podem surgir em relagao ao consentimento infor- mado e a questées relacionadas em situagGes de testagem e avaliacao sao consideradas no capitulo do Padrées de Testagem sobre os direitos dos tes tandos. CARATER CONFIDENCIAL Como a protecao da privacidade, & qual est rela- cionado, o problema do sigilo ou do cardter confi- dencial dos dados do teste € multifacetado. A ques- tao fundamental €: quem deve ter acesso aos resultados do teste? V4rias considerag6es influen- ciam a resposta em situagGes especificas, Entre elas esto a seguranca do contetido do teste, os riscos de um entendimento errneo dos escores de teste e anecessidade de varias pessoas conhecerem os re- sultados. Existe uma crescente consciéncia do direito dos individuos de ter acesso aos achados em seus lau- dos. O testando também deve ter a oportunidade de comentar 0 contetido do laudo e, se necessdrio, esclarecer ou corrigir informagoes fatuais. Os con- selheiros esto atualmente tentando envolver mais os clientes como participantes ativos em sua pré- pria avaliagao. Para isso, os resultados de teste de- vem ser apresentados de uma forma facilmente compreensivel, livre de jargao ou rétulos técnicos, orientada para o objetivo imediato da testagem. Salvaguardas adequadas devem ser observadas con- tra 0 uso inadequado e a mé interpretacio dos achados de teste. As discusses sobre o cardter confidencial dos registros de teste normalmente tratam da acessibi- lidade a uma terceira pessoa, que nao o individuo testado (ou os pais de um menor) e 0 examinador. 0 principio subjacente é que esses registros do devem ser liberados sem o conhecimento e 0 con- sentimento do testando, a menos que esta libera- do seja ordenada pela lei ou permitida pela lei para objetivos validos. Quando os testes so apli- cados em um contexto institucional, como em um sistema escolar ou ambiente de emprego, o indivi- duo deve ser informado no momento da testagem sobre 0 objetivo do teste, sobre como os resultados sero utilizados e sua disponibilidade para o pes- soal institucional que precisa legitimamente de- les. Quando os resultados do teste sao solicitados por pessoas de fora, como quando um empregador em perspectiva ou uma universidade solicita os re- sultados de teste de um sistema escolar, 6 necess4- rio um consentimento separado para a liberagao dos dados. Os mesmos requerimentos se aplicam aos testes aplicados em contextos clinicos ou de aconselhamento, ou para fins de pesquisa. Uma orientagZo adicional sobre esta questo est dispo- nivel no Statement on the Disclosure of Test Data (APA, 1996), formulado pelo CPTA para ajudar os psicélogos a lidar com questies referentes a libera- cao dos registros de testes. Além disso, o Commit- tee on Legal Issues (COLI) da APA desenvolveu cer- tas estratégias para os psicdlogos que em seu trabalho precisam lidar com intimagGes ou teste- munho obrigatorio referentes aos registros ou da- dos de teste dos clientes (APA, COLI, 1996). TESTAGEM PSICOLOGICA 439. Um outro problema relaciona-se com a reten- co dos registros nas instituigdes. Por um lado, os registros longitudinais sobre os individuos podem ser muito valiosos, nao apenas para fins de pesqui- sa, mas também para entender e aconselhar a pes- soa. Como acontece tao freqiientemente, estas van- tagens pressupdem 0 uso e a interpretacao adequados dos resultados de teste. Por outro lado, adisponibilidade de registros antigos abre o cami- nho para usos inadequados, como inferéncias in- corretas a partir de dados obsoletos e acesso nao- autorizado para fins diferentes daquele da testagem_ original. Seria claramente absurdo, por exemplo, citar um QI ou um escore de realizagao em leitura obtido por uma crianga na terceira série quando a avaliamos para admissao & universidade. Da mes- ma forma, quando os registros s4o mantidos por muitos anos, existe 0 perigo de serem usados com finalidades que o testando (ou seus pais) jamais imaginaram e nao teriam aprovado. Para impedir esses usos inadequados, quando os registros so mantidos para um uso longitudinal legitimo no interesse do individuo ou para objetivos aceitdveis de pesquisa, o acesso a eles deve estar sujeito a um controle muito rigoroso. Cada instituigao deve for- mular politicas explicitas referentes 4 destruicao, A retenciio e ao acesso dos registros pessoais. 0 Re- cord Keeping Guidelines (APA. COPPS, 1993) con- tém mais informagées sobre este t6pico. COMUNICANDO RESULTADOS DE TESTE Nos tiltimos anos, os psicélogos comegaram a con- siderar mais cuidadosamente como os resultados de teste poderiam ser comunicados de uma forma significativa e util para quem os recebe. As infor- magées certamente nao devem ser transmitidas rotineiramente; elas devem oferecer explicacdes interpretativas apropriadas. Niveis amplos de de- sempenho e descricdes qualitativas em termos sim- ples sao preferiveis a escores numéricos especifi- cos, exceto quando a comunicagao se dirige a profissionais treinados. Mesmos os leigos com boa instrugao confundem percentis com porcentagens, percentis com Qls, normas com padrdes e avalia- Ges de interesse com escores de aptidao. Mas uma interpretagao errénea mais séria relaciona-se com as conclusdes tiradas dos escores de teste, mesmo. quando seu significado técnico é compreendido corretamente. Um exemplo conhecido é a popular suposigdo de que um QI indica uma caracteristica fixa do individuo que predetermina seu nivel vita~ licio de realizacao intelectual. Entre os possiveis receptores de resultados de teste, além dos prdprios testandbs, esto os pais de menores, os professores e outros funciondrios da escola, os empregadores, os psiquiatras e o pessoal de tribunal e de instituigdes de recuperagao. Em. toda comunicagdo relacionada com os testes, é de- sejavel levar em conta as caracteristicas da pessoa que vai receber a informagao. Isso se aplica no apenas & educacao geral dessa pessoa e a0 seu co- nhecimento sobre psicologiae testagem, mas tam- bém A sua possivel resposta emocional a informa- 40. No caso de pais ou professores, por exemplo, 0 envolvimento pessoal com a crianga pode interfe- rirna aceitagao calmae racional das informagdes fatuais Problemas similares s%io encontrados quando comunicamos resultados de testes aos préprios tes- tandos, quer criangas ou adultos.8 As mesmas sal- vaguardas gerais contra interpretagdes erroneas aplicam-se aqui, assim como na comunicagao para uma terceira pessoa. A este respeito, o Padrées de Testagem enfatiza a necessidade de que as pessoas que usam testes em aplicagoes clinicas e de acon- selhamento fornegam aos testandos explicagdes apropriadas e compreensfveis sobre os resultados do teste e quaisquer recomendagies deles origina- das. A consideragao das reagbes emocionais as in- formagées do teste € especialmente importante quando as pessoas esto conhecendo seus recursos e suas deficiéncias. Quando um individuo recebe os resultados de seu teste, ndo s6 os dados devem ser interpretados por uma pessoa adequadamente qualificada como também deve estar disponivel um aconselhamento para aquele que fica emocional- mente perturbado com essas informagées. Por exemplo, um estudante universitério pode ficar seriamente desencorajado ao ser informado sobre seu mau desempenho em um teste de aptidao es- coldstica. Um aluno talentoso poderia desenvolver habitos de preguica e indoléncia, ou poderia ficar pouco cooperativo e dificil de manejar, se desco- brisse que é muito mais brilhante do que seus pa- res. E claro que estes efeitos nocivos poderiam ocor- rer independentemente da corregdo ou da incorre- 440 ANNE ANASTASI_& SUSANA URBINA, Gao do escore em si. Mesmo quando um teste foi bem aplicado e pontuado e adequadamente inter- pretado, o conhecimento desse escore sem a opor- tunidade de discuti-lo melhor pode ser prejudicial para o individuo. Os psicélogos conselheiros preocupam-se espe- cialmente com o desenvolvimento de maneiras efe- tivas de transmitir informagGes de teste para seus clientes (ver, p. ex., Hood & Johnson, 1997, Capi- tulo 17). Embora os detalhes deste processo este- jam além do alcance da nossa presente discussio, duas orientages mais importantes sao de particu- lar interesse. Primeiro, 0 relato sobre o teste deve ser visto como uma parte integral do processo de aconselhamento e incorporado ao relacionamen- to total conselheiro-cliente. Segundo, na medida do possivel, os conselheiros precisam envolver seus clientes na interpretac&o dos resultados de teste & luz das perguntas especificas formuladas por eles. Uma consideragao importante no aconselhamen- to relaciona-se com a aceitagao do cliente das in- formagées que lhe sao apresentadas. A situagao de aconselhamento é tal que se 0 individuo rejeita alguma informagao, por qualquer razao, esta pro- vavelmente ser totalmente desperdigada. Por ou- tro lado, a aceitacao de achados de testes apropria- damente interpretados pode ter valor terapéutico para um cliente —em si e por si mesmo — especial- mente no contexto do tratamento cognitivamente orientado. TESTANDO POPULAGOES DIVERSAS © Cendrio. As décadas decorridas desde os anos cinqiienta testemunharam uma crescente preocu- pago ptiblica com os direitos das minorias étni- cas, das mulheres e dos individuos com deficiénci- as, e também de outros grupos minoritarios.9 Essa preocupagao reflete-se na legislacao dos direitos civis em niveis federal e estadual. Em relagado aos mecanismos que objetivam melhorar as oportuni- dades educacionais e vocacionais para os indivi- duos desses grupos diversos, a testagem psicolégi- ca tem sido um grande foco de atengao (Gifford, 1989a, 1989b). A literatura psicolégica contém muitas discussdes sobre 0 t6pico, cujo impacto va- ria do esclarecimento 4 confusao. Entre as contri- buigGes mais esclarecedoras esto varias proposi- Ses e orientagdes de associagées profissionais (ver, p. ex. ACA, 1989; APA, Board of Ethnic Minority Affairs, 1990; APA, Division of Evaluation, Measu- rement, and Statistics, 1993; Prediger, 1993; Sackett & Wilk, 1994). Além disso, orientagdes sobre prati- cas adequadas de avaliacao com populacées diver- sas esto cada vez mais disponiveis (ver Capitulo 9; Dana, 1996a; Sattler, 1988, Capitulos 19 & 20; Suzuki ef al., 1996; Valencia & Lopez, 1992). Os telat6rios preparados sob os auspicios do National Research Council, do Office of Technology Assess- mente de outros grupos semelhantes — citados em. uma segao anterior deste capitulo —tém examina- do as controvérsias sobre testes 4 luz do atual con- texto social e apresentado idéias equilibradas so- bre as funges da testagem. Grande parte da preocupagao centra-se na di- minuic&o dos escores de teste devido a condiges culturais que podem ter afetado o desenvolvimen- to de aptiddes, interesses, motivagAo, atitudes e outras caracteristicas psicolégicas dos membros dos grupos de minoria. Algumas das solugSes propos- tas para o problema refletem entendimentos err6- neos da natureza e da fungao dos testes psicolégi- cos. As diferencas nos backgrounds experienciais de grupos ou individuos inevitavelmente se mani- festam no desempenho no teste. Cada teste psico- l6gico mede uma amostra de comportamento. Na medida em que a cultura afeta o comportamento, sua influéncia deve ser e sera detectada pelos tes- tes. Se pudéssemos excluir todos os diferenciais culturais de um teste, estarfamos diminuindo sua validade como uma medida do dominio de com- portamento que ele foi planejado para avaliar. Neste caso, 0 teste no forneceria o tipo de informagao necessdrio para corrigir as exatas condigées que prejudicam o desempenho. Os principios teéricos subjacentes e os procedi- mentos de testagem para diferentes populages es- peciais foram discutidos mais detalhadamente nos Capftulos 9 ¢ 12. No Capitulo 6 foi feita uma and- lise técnica do conceito de “viés de teste”, em rela~ do a validade do teste. Neste capitulo, o interesse centra-se primariamente nas questées profissionais e nas implicages sociais da testagem dos grupos de minoria. Regulamentos Legais. Desde 1960, houve grandes progressos na testagem educacional e para emprego de grupos minoritarios. Esses progressos incluem aces legislativas, ordens executivas e de- cisdes de tribunais. A legislagao referente a testa- TESTAGEM PsiCOLOGICA 441 gem educacional foi citada e revisada nos Capitu- los 9 e 17; uma revisdo das atuais tendéncias e ques- tes na testagem realizada por determinagao ex- terna é apresentada por Linn e Gronlund (1995, Capitulo 18).1° Na esfera de emprego, os tribunais desempe- nham um papel cada vez mais importante na in- terpretagao e na aplicagao das leis dos direitos ci- vis. As implicagdes de varios casos famosos de tribunais foram amplamente discutidas na litera- tura de pessoal e na testagem por pessoas com for- macio em psicologia, direito ou ambos (ver, p. ex., APA, CPTA, 1988; Bersoff, 1983, 1984; Bruyére & O'Keeffe, 1994; Hollander, 1982; Merenda, 1995; Meyers, 1992; Wigdor, 1982). A legislacao federal mais pertinente é oferecida pelo Titulo VII do Civil Rights Act de 1964 (PLL. 88-352 ~ também conhe- cido como o Equal Employment Opportunity Act) com suas subsegiientes emendas, 0 Civil Rights Act de 1991 (PLL. 102-166) eo Americans with Disabi- lities Act de 1990 (PL. 101-336). A responsabilida- de pela implementacao e pela imposico dessas leis cabe principalmente a Comissao de Oportunida- des Iguais de Emprego (Equal Employment Oppor- tunity Commission — EEOC), que desenvolve e dis- tribui orientag@es para esta finalidade. Em 1978, no interesse de um procedimento simplificado e de uma melhor coordenagao, as Uniform Guideli- nes on Employee Selection Procedures foram con- juntamente adotadas pelo EEOC. pela Comissaio de Servigo Civil (agora o U.S. Office of Personnel Ma- nagement) e pelos departamentos de Justiga, Tra- balho e Tesouro.!! O Equal Employment Opportunity Act probe a discriminagao por motivos de raga, cor, religiao, sexo ou nacionalidade nos procedimentos de sele- ao que levam a decisées de contratagio. Estes re- gulamentos se aplicam aos empregadores (tanto privados quanto governamentais). 4s organizacées trabalhistas, as agéncias de emprego e aos conse- Ihos de licenciamento ¢ certificagao. Quando o uso de um teste ou de outro procedimento de selegao resulta em um indice de rejeigo substancialmen- te mais alto para os candidatos de minoria do que para os candidatos de nao-minoria (“impacto ad- verso”),!? sua utilidade precisa ser justificada por evidéncias de validade para a fung&o em questo, Historicamente, os requerimentos para uma validacao de teste aceitavel foram estabelecidos pelo Padres de Testagem. pelo Principles for the Vali- dation and Use of Personnel Selection Procedu- res (SIOP, 1987) e outros documentos da profis- so. Entretanto, nas duas tiltimas décadas, tém havido varios casos em que consideragoes legais externas intrometeram-se nas praticas psicométri- cas, especialmente em relagao aos direitos civis. Um desses casos € 0 acordo conhecido como a “Regra de Ouro” (ver também Capitulo 7). Esse acordo pés fim a uma disputa entre a Golden Rule Insu- rance Company e 0 Servigo de Testagem Educacio- nal (Educational Testing Service ~ ETS) referente aexames preparados pelo ETS parao licenciamento de agentes de seguros. 0 acordo determinava que fosse dada prioridade ao uso de itens de teste com as menores diferencas intergrupo quando estives- sem presentes indices diferenciais de respostas cor retas para grupos de maioriae de minoria. Embo- ra pretendesse promover justiga e minimizar 0 impacto adverso, 0 acordo da Regra de Ouro pro- vocou um inflamado debate relativo as suas supo- sigdes sobre a natureza do viés dos itens e 4 exten- so em que as evidéncias empiricas justificam o procedimento sugerido pelo acordo (APA, CPTA, 1988; Bond, 1987; Linn & Drasgow, 1987; Rooney, 1987). Na discusso da ago afirmativa, as Uniform Guidelines de 1978 salientam que mesmo quan- do os procedimentos de selegao foram validados satisfatoriamente, se indices de rejeigdo despropor- cionalmente altos resultam para as minorias, de- vem ser tomadas medidas para reduzir esta discre- pAncia tanto quanto possivel. A aco afirmativa implica que uma organizagao faz mais do que sim- plesmente evitar praticas discriminativas. Psicolo- gicamente, os programas de ago afirmativa—que passaram a ser crescentemente atacados na arena politica nos tiltimos anos — podem ser considera- dos como tentativas de compensar os efeitos resi- duais das desigualdades sociais. A pratica da nor- matizacdo de subgrupo, implementada pela GATB na década de oitenta a fim de produzir indices com- paraveis de encaminhamento de emprego para candidatos brancos, negros e hispnicos, apesar de grandes discrepdncias em seus escores de teste (Ca- pitulo 17; ver também Hartigan & Wigdor, 1989), foi um exemplo de aco afirmativa destinada a reduzir o impacto adverso de um teste de pré-em- prego. Essa pratica, entretanto, gerou tal contro- vérsia que levou A aprovacdo do Civil Rights Act de 1991 (PL. 102-166), banindo explicitamente qual- quer forma de ajustamento de escores baseado em raga, cor, religido, sexo ou nacionalidade. Naesfe- 442 ANNE ANASTASI & SUSANA URBINA ra da testagem psicoldgica, reconhece-se que as ramificagdes deste Ato “tém um alcance muito maior do que o Congreso imaginava” (D.C. Bro- wn, 1994, p. 927) e poderiam restringir imensa- mente 0 uso de testes de personalidade e de testes de habilidade fisica que usam normas separadas para homens e mulheres (ver, também, L.S. Got- tfredson, 1994; Kehoe & Tenopyr, 1994; Sackett & Wilk, 1994). De fato, alguns autores e editores de teste j4 tomaram medidas para fornecer procedi- mentos de pontuagao alternativos que eliminam a separacao de normas por género (ver, p. ex., Gough & Bradley, 1996) Uma outra tentativa bem-intencionada de aca- bar com as barreiras e abrir oportunidades para todos, que preocupou os empregadores € outras pessoas interessadas em praticas adequadas de tes- tagem pré-emprego, foi o Americans with Disabili- ties Act (ADA) de 1990 (PLL. 101-336). As provisdes de emprego do ADA impedem os empregadores de utilizar testes médicos ou de perguntar sobre uma histéria de abuso de substdncias ou condigées psi- quidtricas passadas antes de ser feita uma oferta de emprego. As orientagées e os regulamentos do EEOC referentes a exames médicos e investigagdes de transtornos pré-ernprego (1994, 1995) até o momento deixaram em aberto a questo de quais testes psicoldgicos e de personalidade so permis- siveis em situagGes de pré-emprego. Futuramente, é provavel que continuem sur gindo inconsisténcias entre as injungées profissio- nais, legais e éticas (ver, p. ex., D.C. Brown, 1996). Elas sem diivida dificultarao a aplicagao de testes para a tomada de decisdes nas chamadas dreas “de alto risco” em empregos e na educagao. Em gran- de extensao, esta situago representa um avango, porque sublinha a necessidade de um reconheci- mento explicito de que os valores sempre esto en- volvidos em todas as tomadas de decisdes impor- tantes, quer na arena cientifica ou na pratica. Na palavras de Messick, “os valores s4o intrinsecos ao significado e aos resultados da testagem e sempre foram... Isso torna explicito 0 que até ento era latente, a saber, que os julgamentos de validade do julgamentos de valor” (1995, p. 748). No en- tanto, até as pessoas bem-intencionadas e sensatas podem discordar nitidamente, e realmente discor- dam, em relacao aos valores. Af esta a dificuldade. Fatores Relacionados ao Teste. Ao testar pessoas diversas, é importante diferenciar os fato- res que afetam tanto 0 teste quanto 0 comporta- mento de critério daqueles que influenciam ape- nas 0 teste, Sdo estes tiltimos, os fatores relaciona- dos ao teste, que reduzem a validade. Exemplos desses fatores incluem experiéncia prévia com tes- tagem, motivagdo para apresentar um bom desem- penho nos testes, rapport com o examinador, én- fase excessiva na rapidez, e qualquer outra varidvel que afete o desempenho em um determinado tes- te, mas que seja irrelevante para o dominio de com- portamento amplo que esté sendo considerado. Devemos tentar reduzir a operagao desses fatores relacionados ao teste quando testamos pessoas com. backgrounds culturais diferentes ou pessoas com deficiéncias (ver Sattler, 1988, Capitulos 19 & 20). Procedimentos de orientagao adequados sobre como fazer o teste, pratica preliminar e outras medidas planejadas para esta finalidade so alta- mente desejaveis (Capitulos 1 e 9). O contetido especifico do teste também pode influenciar seus escores de maneiras que nao es- tao relacionadas & habilidade que o teste deve ava- liar. Em um teste de raciocinio aritmético, por exemplo, 0 uso de nomes ou figuras de objetos fa- miliares em um meio cultural especifico seria uma desvantagem restrita ao teste. Uma outra maneira mais sutil pela qual o contetido do teste pode afe- tar espuriamente o desempenho € por meio das res- postas emocionais e das atitudes do testando. His- t6rias ou figuras representando cenas de familias de classe média suburbana tipicas, por exemplo, podem alienar uma crianga criada em uma favela de baixa renda. A perpetuagio de esteretipos de sexo no contetido do teste, como médicos ou pilo- tos do sexo masculino e enfermeiras ou comissdri- as de vo do sexo feminino, também pode ter efei- tos prejudiciais. A luz destas consideragdes, a miaioria dos editores de teste atualmente se esforga para eliminar contetidos de teste inadequados. De fato, a revisdo do contetido de um teste com refe- réncia a possiveis implicagdes negativas para os testandos de minorias é uma etapa comum no pro- cesso de construgao de teste (ver, p. ex., E7S Stan- dards, 1981/1987). A testagem de pessoas com backgrounds cul- turaise historias experienciais diversas, assim como de individuos com deficiéncias, é uma preocupa- go geral em todo o Padrées de Testagem. Esta orientagio geral se reflete em varios padroes indi- viduais de desenvolvimento e uso de testes. Além. disso, capitulos especiais, com seus proprios con- TESTAGEM PSICOLOGICA 443 juntos de padres, tratam de questées na testagem de pessoas em condigdes de desvantagem e com diferengas lingiifsticas, que representam segmen- tos consideraveis da populacao dos Estados Uni- dos. Interpretacaéo e Uso dos Escores de Teste. As consideragdes mais importantes na testagem de grupos diversos — como em toda a tes- tagem — referem-se a interpretagao dos escores de teste. As dtividas mais freqiientes relativas ao uso de testes com membros de grupos de minorias ori- ginam-se de interpretagGes erréneas dos escores. Se um testando de uma minoria obtém um escore baixo em um teste de aptidao ou um escore desvi- ante em um teste de personalidade, é essencial in- vestigar por que isso aconteceu. Por exemplo, um. escore inferior em um teste de aritmética poderia resultar de pouca motivagao para a testagem, de uma baixa habilidade de leitura ou de um conhe- cimento inadequado de aritmética, entre outras razBes. Também devemos examinar 0 tipo de nor- mas a serem empregadas na avaliacao dos escores individuais.!3 Os testes siio planejados para mostrar o que um individuo é capaz de fazer em determinado mo- mento do tempo. Eles nao nos dizem por que ele apresenta aquele determinado desempenho. Para responder a esta pergunta, nds precisamos investi- gar seu background, suas motivagbes € outras ci cunstAncias pertinentes. Os testes também nao po- dem nos dizer quao capaz uma crianga com desvantagens culturais ou educacionais poderia ser caso tivesse sido criada em um ambiente mais fa- vordvel. Além disso, os testes nao podem compen- sar a privacdo cultural eliminando seus efeitos dos, escores obtidos por ela. Pelo contrdrio, os testes devem revelar esses efeitos para que possamos to- mar medidas reparadoras adequadas. Esconder os efeitos das desvantagens culturais rejeitando os tes- tes ou tentando criar testes que sejam insensiveis a esses efeitos s6 pode retardar o progresso rumo a uma genuina solugao dos problemas sociais. A tendéncia a categorizar e rotular, como um substituto facil para o entendimento, ainda é ex- cessiva. As categorias diagnésticas da psiquiatria classica, por meio das quais os pacientes recebiam r6tulos como “esquizofrénico parandide” ou “ma- nfaco-depressivo”, sao um exemplo bem-conheci- do dessa tendéncia. Conscientes das muitas defici- éncias de tal sistema de classificagdo, os autores dos manuais diagnésticos de psiquiatria mais re- centes descrevem os varios tipos de transtornos e vinculam os rétulos as condigées ¢ nao ao indivi- duo que delas sofre (ver, p. ex., Associaco Psiqui- Atrica Americana, 1994). Além disso, os préprios psic6logos também recorrem cada vez mais a des- crig6es de personalidade. Diferentemente dos r6- tulos diagnésticos, essas descrigdes centram-se nas origens e no significado individual dos comporta- mentos desviantes, e proporcionam uma base mais efetiva para a terapia. Mas os rétulos tradicionais ndo sao facilmente desalojados. Um outro tipo de tendéncia de categorizagao é a interpretagao errénea do QI. Segundo uma con- cepeao popular errada, 0 QI é um indice de poten- cial intelectual inato e representa uma proprieda- de fixa do organismo. Como vimos no Capitulo 12, esta visdo nfo é teoricamente defensavel nem apoi- ada por dados empiricos. Quando adequadamente interpretados, os escores dos testes de inteligéncia ndo devem estimular uma rigida categorizacaio das pessoas. Pelo contrario, os testes de inteligéncia — e qualquer outro teste — podem ser considerados como um mapa em que a atual posigao do indivi- duo pode ser localizada. Quando combinados com informagées sobre o background experiencial, os escores de teste devem facilitar o planejamento efe- tivo do desenvolvimento ideal do individuo. Objetividade dos Testes. Quando os este- re6tipos e preconceitos sociais podem distorcer as avaliagdes interpessoais, os testes oferecem uma salvaguarda contra 0 favoritismo e contra as deci- ses arbitrarias e caprichosas. A medida que o mo- vimento dos direitos civis ganhou impulso, varios observadores chamaram a atencAo para a funcao positiva que a testagem padronizada pode ter. Co- mentando o uso de testes nas escolas, J.W. Gardner (1961, p. 48-49) escreveu: “Os testes nao podiam ver se a crianga estava esfarrapada ou bem-vesti- da, e nao conseguiam ouvir o sotaque da favela. Os testes revelavam os talentos intelectuais em to- dos os niveis da populacao.” Se os testes fossem abolidos, a necessidade de fazer escolhas por parte dos individuos e das orga- nizagdes ainda continuaria. A tomada de decisdes teria de recuar para aquelas alternativas tao co- nhecidas como cartas de recomendagao, entrevis- tas e médias de notas. Atualmente, estas fontes de dados alternativas sao freqiientemente utilizadas em conjungao com os escores de teste, mas no 444 ANNE ANASTAS! & SUSANA URBINA em lugar dos testes. De fato, os testes padronizados foram introduzidos como um meio de compensar a ndo-fidedignidade, a subjetividade e o viés po- tencial desses tradicionais procedimentos. Estas alternativas 4 testagem geralmente se mostraram. menos exatas do que os testes para predizer 0 de- sempenho escolar ou no trabalho (Wigdor & Gar- ner, 1982, Parte I, Capitulo 1). Procedimentos al- ternativos desenvolvidos mais recentemente, como as técnicas de avaliagao de desempenho e portf6- lio, talvez demonstrem ser mais vantajosos quan- do comparados aos testes tradicionais. Até 0 mo- mento, todavia, a pesquisa sobre essas técnicas sugere que elas ndo sao nem mais validas nem mais justas para populagées diversas do que os testes padronizados que iriam suplementar ou substituir (ver Capitulo 17) Os ataques a testagem geralmente deixam de diferenciar entre as contribuig6es positivas da tes- tagem a justica nas tomadas de decisio e os usos inadequados dos testes como substitutos faceis para um julgamento cuidadoso. Examinando a testa- gem em seu contexto social, o Committee on Abi- lity Testing (Wigdor & Garner, 1982, Parte I) insi te que os testes nao devem ser considerados nem ‘como panacéias nem como bodes expiatérios para os problemas da sociedade, e que os objetivos soci- ais de aumentar as oportunidades para os mem- bros de grupos de minorias no devem ser confun- didos com a validade do processo de testagem. Em uma declaraciio conclusiva, o comité observou: “A busca de uma sociedade mais justa colocou a tes- tagem das habilidades no centro das controvérsias e the concedeu uma exagerada reputagao para 0 bem e parao mal” (p. 239). Esta declaragao ainda € verdadeira e — a luz da escassez de alternativas vidveis — provavelmente continuard sendo verda- deira por muito tempo. Em resumo, os testes realmente podem ser usa- dos de forma inadequada com as minorias, assim como com qualquer outra pessoa. No entanto, quando bem utilizados, eles tém uma fungao im- portante na prevenc&o de discriminagoes irrelevan- tes e injustas. Quando avaliamos as conseqiiénci as sociais da testagem, precisamos avaliar cuidadosamente as conseqiiéncias sociais de mao testar, e assim ter de confiar em outros procedimen- tos ainda menos justos do que a testagem para a tomada de decisdes. Além disso, ao determinar as conseqiiéncias da testagem, precisamos ter 0 cui- dado de diferenciar as conseqtiéncias do uso ade- quado dos testes das conseqiiéncias de seu uso ina- dequado, e de separar as conseqiiéncias diretas da testagem daquelas que sao mediadas por fatores externos a testagem (Tenopyr, 1995). De outra for- ma, nds tenderemos a descartar — devido a razdes totalmente erradas — um instrumento que, embo- ra sempre precisando ser melhorado, talvez se re- vele insubstituivel. NOTAS {Em uma tentativa de disseminar 0 Etbical Principles of Psychologists and Code of Conduct — a partir de agora refe- rido como Cédigo de Etica — tao amplamente quanto possi- vel, a APA enviard uma cépia gratuita desta publicagao a qualquer pessoa que a solicitar. 2Para uma discussdo sobre o papel do usuario de teste e sobre 08 projetos acerca das Qualificagdes do Usuario e do Treina- ‘mento do Usuario realizados por grupos de trabalho doJCTP (Byde ef al., 1993; Moreland ef af., 1995), ver Capftulo 1. A Associaco Psicolégica Canadense e a Sociedade Psicol6gica Britnica também tomaram medidas para desenvolver siste- mas que estabelecam as qualificagdes dos usuarios de teste (D.C. Brown, 1995). 30 Comité de Testes e Avaliagao Psicol6gica da APA (1995) preparou uma declaracdo que orienta o uso de testes psicolé- gicos seguros na formacio de estudantes de psicologia. “Uma politica referente a testes “realizados em casa" foi pre~ parada recentemente pelo Comité de Etica da APA em respos- ta a uma investigagio relativa 2 adequagZo de se enviar 0 ‘MMPI para aplicagdo em casa (APA, Comité de Etica, 1994, p. 665-666). 50 Ethical Principles in the Conduct of Research with Hu- ‘man Participants (APA, 1982) oferece certa orientagao a este respeito. ‘Ver, por exemplo, a critica de F Allan Hanson (1993) & testa- gem e ao seu papel na sociedade moderna. Embora este tra- tado esteja claramente fundamentado em uma ideologia oposta & testagem e bastante inflamada, talver seja interes- sante para os leitores a partir de uma perspectiva antropol6- gica. "Para uma orientaco sobre o consentimento na avaliag3o e em outras questdes éticas e legais na avaliagio psicologica de menores, ver Kamphaus e Frick (1996, Capitulo 4). 8a edicZo de setembro de 1992 do Psychological Assessment contém uma sego especial sobre 0 t6pico do feedback dos testes psicol6gicos aos clientes. Em um artigo espectalmente litil, Pope discute dez aspectos fundamentais do feedback, que segundo ele “pode ser 0 aspecto mais negligenciado da avaliagio” (1992, p. 265) °Embora as mulheres representem uma matoria estatistica na populaco dos Estados Unidos, legalmente, ocupacional- mente e de outras maneiras elas compartilham muitos dos problemas das minorias. Portanto, quando for empregado 0 termo “minoria” aeste respeito, ele inclui as mulheres. 1opiscussdes de algumas decisées significativas de tribunais na drea da avaliagao psicoeducacional podem ser encontra- das em Ayers, Day e Rotatori (1990) e Reschly (1988). As Uniform Guidelines estio desatualizadase precisam cla- ramente de um exame e de uma revisao. Uma versao revisa- da das Guidelines pode sair apés a publicagao do novo Pa- does de Testagem, que é esperado para o final da década de noventa (ver Capitulo 1). TESTAGEM PSICOLOGICA 445 As inconsisténcias nas maneiras de avaliar o impacto ad- verso em diferentes casos de tribunals foram analisadas por Lemer (19803; ver também Ironson, Guion & Ostrander, 1982). Uma segdo especial da edigao de dezembro de 1994 do Psychological Assessment foi dedicada a informagoes ¢ ori- ‘entagGes sobre varios aspectos da avaliago normativa.

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