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REGULAGAO BANCARI CONCEITO E TIPOLOGIA ARMINDO SARAIVA MATIAS™ 1. Nog&o de Regulagio Gostarfamos, hoje, de poder contribuir para a clarificagdo de alguns conceitos jurfdico-econémicos, de uso corrente, em torno da nogao de re- gulacao. O primeiro conceito de regulagao, 0 conceito mais simples, menos denso e, por isso também, mais abrangente, é o de um conjunto ou com- plexo de princfpios e normas que tenham por finalidade a prossecugao de um determinado objectivo!. Todavia, um conceito assim definido, de tao impreciso e incaracteris- tico, de nada adiantaria, postulando outros elementos, como sejam, 0 tipo de normas, a respectiva fonte, o fim a prosseguir. E destes elementos resul- tard uma infinidade de outros conceitos, tantos quantos os elementos dis- tintivos e caracterizadores. A regulacao podera, por exemplo, revestir natureza meramente téc- nica, visando a melhor produgao de certo bem, mas também poderé ter por objecto a «normatizacg4o» de uma determinada actividade social, prosse- guindo o melhor desempenho desta. * Professor da Universidade Aut6noma de Lisboa. Advogado especialista em direito financeiro (O. A.). | «The expression «Regulation» is frequently found in both legal and non-legal con- texts», como refere Ous ANTHONY, Regulation: Legal Form and Economic Theory, Oxford Portland Oregon, 2004, p. 1. 400 Direito Econdmico —$_— $$ =a E se transportarmos este conceito basico para 0 campo da economia, podemos, entao, confrontar diversos outros conceitos, mais recortados 3 mais definidos?3-4, De entre eles, esté ji consagrado nos ordenamentos juridicos 0 con. ceito de regulagaio da economia. E, ainda assim, uma nogio demasiado ampla que, no limite, poderia coincidir com a de direito de economia ou com a de direito econémico, tal como muitos o definem>. Nesta concepcao, regulacao da economia significaria «intervencio, directa ou indirecta do Estado» nas actividades privadas para realizar fing. lidades piiblicas®7. A intervengao directa consistiria na actuagaio do Estado como agente econdémico, através das suas empresas € dos seus instrumentos de produ- cao ou de prestagio de servigos. Ja na intervengao indirecta, 0 Estado se limitard a incentivar, promo- ver, enquadrar a actuag4o dos agentes econdémicos. Ainda assim, é de dis- tinguir uma dupla actuacio: aquela com que o Estado fomenta as activi- dades, através de incentivos, beneficios fiscais, e uma outra em que 0 Estado apenas regula o comportamento dos agentes. Aquela modalidade de intervengio indirecta na economia chamamos fomento econdémico8; reservaremos para esta tiltima modalidade de inter- vencao indirecta a designagdo de regulagao econémica. 2 J. NorToN, C. CHENG ¢ I. FLETCHER, International Banking Regulation and Super- vision: Change and Transformation in the 1990's, Graham and Trotman, Londres, 1994, p.50 ess. CayseeLe. P., Regulation and Financial Market Integration, Steinherr, ed., 1991, p. Bess, 2 Para 0 conceit de regulagio no Ambito do mercado de valores mobilidirios, ve. CASTILLA, MANUEL «Regulacién y Competencia en los Mercados de Valores», Civitas, Madrid, 2001, p. 257 € ss. + SANCHEZ AnpRES, A., «A modo de Prontuario sobre una Reforma Polémica: La Ley 24/1988 del Mercado de Valores», in RDM, 192 (1989), p. 276: 5 Saratva MATIAS A., Para um Conceito de Direito Econémico, FDL, policépia, Lisboa, 1981, p. 140 e ss, especialmente p. 156. © Moreira, VITAL, Auto-regulacdo Profissional e Administracao Priblica, Almedina, 1997. p. 34. 7 Francs, J., The Politics of Regulation, Oxford, Blackwell, 1993, p. 5. 8 Era esta a designagao que, por contraposicZo as «medidas de policia» e de acordo com a doutrina administrativa tradicional, adoptévamos, j4 em 1978, in «Aspectos da Inter- vengao do Estado nas Actividades Econémicas Privadas», Temas de Direito Econdmico, Associagiio Académica da Faculdade de Direito de Lisboa, 1978/1979. Regulacao Bancaria: Conceito ¢ Tipologia 401 A regulagao econémica sera, entéo. um complexo de princfpios e de normas que enquadram, orientam, promovem ou determinam as activi- dades dos agentes econémicos, inseridos em determinado sistema, econd- mico e de mercado, independentemente da natureza, ptiblica ou privada, dos agentes. 2. Regulacio da economia e regulacio bancdria Esta nogdo, ainda muito ampla, de regulagiio, coincide, a nosso ver, com a do direito da economia, mas nao com a nog&o de direito econdmico. O direito da economia sera 0 conjunto de todas as normas que regulam a economia, a no¢io de direito econdmico é mais qualificativa: abrange ape- nas as normas juridicas reguladoras da economia na perspectiva da orga- nizagao e do desenvolvimento econémico. Referindo-nos 4 regulagdio da economia, queremos, pois, abranger to- das as normas com valor juridico que tenham por objecto a actividade eco- némica. Todavia, quer a especificidade das matérias quer os fins a prosseguir permitem, com vantagem, determinar 4reas ou zonas dentro daquele campo regulatério. E 0 caso da regulacdo bancéria}0-11-12 A regulagao bancaria hé-de, assim, ser caracterizada pelo objectivo que prossegue, isto €, 0 melhor funcionamento da actividade bancéria. Procede-se, deste modo, a um recorte da actividade bancdria dentro da actividade econémica, do sector bancdrio dentro do sector financeiro. Se ° Neste sentido, também, Patricio, SIMOES, «Os Cédigos de Conduta nas Entidades Financeiras Sujeitas a Supervisdo», in Cadernos de Auditoria Interna, ano VI, ed. Banco de Portugal, Lisboa, 2003, p. 61 e ss '° Desenvolvidamente, TATTERSALL, JOHN, «The Regulation of Banking ~ An Intro- duction», in A Practitioner's Guide to the FSA Regulation of Banking, 2002, p. 1 © ss.: Muscu, Freperi,

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