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13 Eventos a que o clinico analitico-comportamental deve atentar nos primeiros encontros: das vestimentas aos relatos e comportamentos clinicamente relevantes rd Maria Zilah da Silva Brand ASSUNTOS DO CAPITULO Rice Re > Eventos relevantes que ocorrem antes do atendimento. Eventos relevantes durante os encontros iniciais. > > Expectativas do cliente e do clinico, > Anilise de comportamentos clinicamente relevantes (CRBS). As publicages sobre a fase inicial dos proces- sos terapéuticos analitico-comportamentais geralmente abordam a relasio entre o clinico ¢ seu cliente ¢ os procedimentos tipicos de avaliagéo clinica ¢ sua fundamentagio. O propésito deste capitulo é relatar um conhe- cimento construfdo através da experiéncia clinica das auroras sobre 0 comportamento informal dos profissionais, sua cquipe ¢ seus clientes, presentes desde 0 momento em que o cliente chega & clinica psicoldgica até o int- cio do processo propriamente dito > PRE-TERAPIA — OS BASTIDORES DE UMA SALA DE ESPERA Entrando na clinica de anélise de comporta- mento, a sala de espera é a primeira parada, onde as primeiras interagdes sn vivo se estabe lecem, © que acontece li pode ser altamente revelador dos comportamentos do clinico ¢ dos clientes O cliente pode estar ansioso para enten- der qual a forma adequada de se relacionar no contexto terapéutico, com as secretdrias e pes- soas presentes na sala © com o impacto que seus problemas causario no profissional. Também pode estar preocupado, ¢ com ra- zo, com a competéncia do clinico para ajudé-lo, Nese contexto, nao é dificil apare- cerem pensamentos ¢ fantasias sobre 0 aten- dimento ¢ sobre as pessoas ¢ interagbes que acontecem na sala enquanto ele aguarda a sua vez. Pensar sobre 0 que os outros estio pen- sando dele ¢ quais os problemas que os trou- xcram ali é 0 mais frequente. As fantasias po- dem ser do julga mento e da avaliagio que as pessoas da sala fazem dele, neste momento, Com o pasar do tempo, o cliente tende a relaxar, e suas interagdes e capaci- dade de observar 0 ambiente melhoram; © que vivencia nos bastidores da clinica pode influenciar vérios comportamentos que ocotrerio na sessio: pode predispé-lo a agir de uma determinada maneira em vez de outra, pode melhorar ou piorar suas dificuldades iniciais. Como exemplo, temos 0 caso de uma cliente que, embora jé tivesse melhorado com a terapia, relatou que ter tido a oportunidade de observar os profissionais da clinica e seus estagisrios aflitos ¢ ansiosos as vésperas de um, congresso, em fungio de deixarem tarefas para a iiltima hora, fez com que ela achasse normais os seus préprios sentimentos de an- gtistia e ansiedade as vésperas de sua defesa de tese e de outros compromissos agendados. “Percebi que isto é normal, até os terapeutas tém!", disse ela. A avaliagio funcional do caso desta cliente havia revelado dificuldade em li- 0 que [0 cliente] vivencia nas bastido- res da clinica pode influenciar varios comportamentos que ocorrerdona sessa0: pode predispd-lo a agir de uma deter- minada maneira ao invés de outra, pode melhorar ou piorar suas dficuldedes inicias, 129 Clinica analitico. omportamental dar com critica, desaprovagio, erros seus ou dos outros. Ela apresentava esquiva ¢ com- portamentos socialmente inapropriados fien- tea varias situagdes que poderiam levar a isso. A experiéncia de bastidores favoreceu mu- dangas. Outro exemplo, que pode elucidar como os comportamentos da sala de espera podem ajudar na identificasio dos comporta- mentos clinicamente relevantes dos clientes (CRBs), como sao denominados por Koblen- berg ¢Tsai (1991), ¢ 0 caso de Eric, nome fic- ticio do cliente que, embora sua queixa en- volvesse assédio sexual no trabalho, apresen- tava comportamento de respeito exemplar nas sess6es, gerando dtividas com relagio & inadequasio comportamental. O relato da secretiria, porém, indicou que na sala de es- pera ela se sentia acuada perante 0 comporta- mento agressivo do cliente, que ameagava pa- rar a terapia e ir embora caso a profissional se atrasasse para atendé-lo ou nao o agendasse no hordrio pelo qual ele tinha preferéncia. A secretéria chegava a interromper a sessio an- terior & dele para pe- dir para a profissio- nal nfo se atrasar. O Asala do esp pode se constituir ‘numa variével inde pendente importante ‘ produzir mudanga ‘no comportamento dos clientes, antes mesmo de comega- rom as sessdes de torapia; ela também di dicas a0 ciico sobre o comporta- ‘mento da cliente «,prineipalmente : ode colaborar para Em resumo, 2 | TC gnifeagte dor sala de espera pode se gomportamentas cl constituir em uma _ nicamenterelevantes varidvel independen- caer eae te importante e pro- conhecimento dessas atitudes deu condi- g6es para o clinico intervit diretamente no “aqui ¢ agora” da relagio terapéutica, evocando 0s com portamentos relevan- tes na sessio. 130 Borges, Cassas & Cols, duzir mudangas no comportamento dos clientes, antes mesmo de comesarem as ses- sées de terapia; ela também dé dicas ao clini co sobre o comportamento do cliente ¢, prin- cipalmente, pode colaborar para a certifica~ gio dos comportamentos _clinicamente relevantes deste, jf observados na sessio. Na sala de espera, podemos ainda ob- servar a interagio cooperativa entre os clien- tes quando hé necessidade de ajuda mucua para resolver problemas corriqueiros como, por exemplo, o do estacionamento que fecha mais cedo, precisando que alguém da sala tire © carro do outro que esté em atendimento; hé também clientes que ertam 0 horitio ou sio vitimas do engano das secretérias ¢ se encon- tram na sala de espera para decidir quem vai set atendido ¢ quem vai embora; clientes que se conhecem ¢ se encontram casualmente na sala de espera ¢ séo obrigados a assumir um para 0 outro que esto fazendo terapia, ¢ que acabam tecendo comentérios sobre seu trata- mento; hé os inimigos que se encontram ¢ descobrem que fazem terapia com a mesma pessoa e que um jé falou do outro na sua ses- so; ¢ muitos outros casos delicados ou engra- gados que nos surpreendem pela fexibilidade ou inflexibilidade de repertério comporta- mental do cliente para resolver estas quest6es inusitadas de relacionamento e que se consti- tuem em oportunidade tinica de observagio. direta do seu comportamento, Uma hist6ria sobre os bastidores da elf nica psicolégica ¢ como esses fatos afetam 0 comportamento do clinico ¢ do cliente que esté sendo atendido, e dos que aguardam sua sesso, aconteceu em uma tarde de 2004, quando uma das autoras estava atendendo um cliente com queixa de pouca confianga nos outros, baixa autocstima ¢ pensamentos “paranoides”, ea secretéria da clinica liga para a sala da profissional para avisar que o delega- do da cidade ¢ varios policiais haviam reco- nhecido o cliente que estava com ela como 0 assaltante de varias salas daquele prédio, ¢ que cles invadiriam 0 local para pegié-lo. A profissional ouviu em siléncio, disse calma- mente para o cliente que cla precisava falar com a secretiria, foi até a sala de espera ¢ dis- se para 0 delegado que ele estava enganado, que garantia que ele nao era a pessoa procura dae que no permitiria que ele falasse com 0 cliente. Permitiu apenas que olhasse a sala sem falar com 0 cliente e com a concordancia deste, Os clientes da sala de espera apoiaram a profissional, que questionou sobre docu mentos para fazer tal invasio na clinica, de- monstrando empatia O cliente demonstrou melhora ao con- fiar na profissional e permitir que 0 policial entrasse sem se sentir ameagado por ele; os clientes que assistiram ao episédio foram para as suas sessies modificados pela experiéncia e pela garantia de sua seguranga na sesso. A profissional se sentiu satisfeita por agir espon- tancamente, controlada por reforsadores na turais envolvidos em ajudar o cliente. A ideia de desmistificar a sala de espera da clinica psicolégica veio como consequén- cia da aprendizagem de fazer terapia ¢, por- tanto, foi modelada por contingéncias advin- das do comportamento do cliente. Hoje, 20 mesmo tempo em que visamos destacar seu potencial terapéuti- co, a ideia faz. parte de um procedimento de quebrar regras ¢ conceitos que produ- zem tensio, ansieda- de, medo de fazer te- rapia ou do analista perfeito idealizado pelos clientes. Quem faz andlise € “normal” como qualquer um de nés, clinicos ou leitores deste capitulo. Todos, sem excegio, temos problemas "psicolégicos” no decorrer da vida, em alguns momentos, em fungio de algumas circunstancias, ¢ essa percepsio do coletivo ameniza um possivel constrangimento de estar em andlise. Quem faz andlise @ “normal” como qualquer um de nés clinicos ou letores. Todos, sem exceeao, temos problemas “psicolégicos” no decorrer da vida, om alguns momentos, em fungao de al mas circunstancias. ‘Nao poupar o cliente das complicagées normais de uma sala de espera ¢ sempre uma deciséo dos clinicos, que devem discutir essa experigncia com ele, ¢ nio pode ser confundi- do com negligéncia ou exposigio constrange- dora do sofrimento 0 papel do cinco & atonuar osofimento do cliente levando- tros. ~aaver os eventos externos que estio gerando sofrimento edandoforgaa para suport sua dor e mudar suas agdesna medida do possive, para gerar contingéncias dif rentes que possam produzirsentimentos mais agradaveis do cliente aos ou- O papel do elt nico é atenuar 0 so- frimento do cliente, levando-o a ver os eventos externos que esto gerando. sofri- mento ¢ dando forsa a ele para suportar sua dor e mudar suas agées, na medida do possivel, para gerar contingéncias diferentes que possam produzir sentimentos mais agra- daveis, > 0 QUE DIZEM AS APARENCIAS? Dizem popularmente que as primeiras im- presses sio as que ficam. O que dizer da apa réncia fisica do elinico ¢ do cliente? Seré que cla tem algum papel relevante na relagio terapeuta-cliente? Pensamos que a apresenta- sio fisica (aparéncia) do clinico é importante ¢ pode influenciar nas percepgées ¢ anilises que o cliente faz do profissional: sendo este muito vaidoso, por exemplo, pode provocar medo no cliente, de ‘Aapresentagao nao ser tio impor- fisica (aparéncial do tance para ele, eaque- clinico & importante . erie les muito desleixados e analises que cliente faz do profissional. podem passar a im- pressio de que esto dando conta nem da prépria vida. Quanto ao cliente, as vestimentas po- dem ser vistas como uma das formas de sua insersio no mundo ¢ podem mudar de acor- 131 Clinica analitico. omportamental do com suas necessi- dades de aceitagio pelo grupo. Elas tam- bém podem oferecer ao analista dicas so- bre o estilo de vida Quanto a0 clionte, as vestimentas podem ser vistas como uma das formas de sua insorgao no mundo podem mudar de acorda cam suas, nocessidades de aceitagao pelo ‘grupo. Elas também podem oferecer a0 analista dicas sobre estilo de vida do lente e sobre o impacto que desoja ccausar no clinico, do cliente ¢ sobre 0 impacto que este de- seja causar no clini- Pensamos, na verdade, que é im- possivel para clini- cos c clientes se apre- sentarem, por muito tempo, disfargados completamente daquilo que realmente sao, em termos de seus padrées comportamen- tais. As diferentes situages se repetirio ¢ trardo novamente 4 tona os comportamen- tos previamente observados, Assim, as apa- réncias deverao ser suplantadas pela anélise do comportamento. > AS EXPECTATIVAS DOS CLIENTES E CLINICOS NAS PRIMEIRAS SESSOES A expectativa do cliente com relagao & andlise ¢ a0 clinico ¢ outra variavel importante a ser considerada no inicio do trabalho. O cliente pode estar tio ansioso que no ouve ou nko observa o comportamento do clinico, agindo em fungio de suas expectativas ¢ nao da interagao, Para exem- plificar, imagine uma cliente que chega primeira sessio. fa- lando muito sobre AAs expectivas do cliente em relagao ‘0 trabalho clinico dove ser considera da pelo profissional. Assim como 0 clinica deve estar proparado para observar as mais diversas formas de agir que os clientes podem apresentar neste primeiro momento, sua queixa, € clinica quase nao consegue interromper para te- cer comentérios ou fazer perguntas. Ao 132 Borges, Cassas & Cols, terminar a sessao, a cliente diz: “Eu nao vou continuar a terapia porque quero uma psicé- loga que fale, ¢ nfo uma que fique s6 ouvin- do’. E claro que ela foi embora sem deixar a profissional responder Coneluimos que cada cliente, assim como cada primeira sessio, é nico ¢ néo achamos, previamente, um melhor modo de nos comportar como analistas; toda flexibil dade é pouca perante a diversidade do reper- tério comportamental de nossos clientes > OCLINICO FRENTE A FRENTE COM O CLIENTE © conhecimento analitico-comportamental crescente tem desenhado uma tendéncia de intervengio clinica de aumento da comple- xidade da andlise, que transcende a énfase nas técnicas tradicionais ¢ desafia o clinico a se comportar com os clientes, tornando contato direto uma oportunidade para a ocorréncia de mudangas comportamentais relevantes. Como visto, a sua relagio com seus clientes comesa, in retamente, antes da ocorréncia do primei- 10 contato pessoal. Apés isso, uma série de condutas pessoais deve ocorrer, favore- cendo 0 estabeleci- mento de uma rela- 0 clinica, ao longo dos primeiros encon: tros, deveré encan- ‘rar o momento certo har, com cliente, a ‘compreensdo que 0 ‘comportamento dele por mais bizarro que pareca, foi o mais, adaptativa qu pode emitir diante de sua histria. Ainda nessa diregdo, 0 stiiepausiarhe co deta com os cliente a desenvol (eratatagtoenge clientes que deve ser julgamento de seus oportunidade para ‘comportamentos, 0 que abriré caminho para andlise mudanga das con: ‘ingéncias das quais ‘ocomportamento & fungao, expressio de senti- mentos, confianga ¢ esperanga de melho- ra, na qual seja veicu- Jada uma teoria expli- cativa coerente sobre os problemas ¢ as intervengées propostas. Nes- ta diresio, deve-se compartilhar a compreen- sio de que o comportamento-queixa ou com- portamento-alvo do cliente ~ por mais espan- tos0 ou doloroso que se apresente— representa a melhor adaptagio comportamental que ele pode fazer as contingéncias até 0 momento, ajudando-o a quebrar a fantasia de determina- ‘si0 interna de problemas psicolégicos, geran- do (no cliente) sentimentos de aceitagio e néo julgamento, ¢ abrindo caminho para a anilise ¢ mudanga de contingéncias que afetam a sua conduta. Enfim, é hora de acolher, ser empati- co dividir o conhecimento de que todo com- portamento é modelado por contingéncias fi- logenéticas, ontogenéticas ¢ culturais. Skinner (1953) lembra que 0 impacto inicial do elinico frente ao cliente esté relacio- nado ao quanto ele consegue se constituir em uma fonte de reforsamento social. Posterior mente, 0 poder do clinico aumentaria 4 | Q elinico dave constituir-se como uma fonte de reforgamento social através de uma aude @ncia no ounitva Com esse com- portamento, 6 medida que o cliente observasse nele a ca pacidade de ajudé-lo a diminuir seu sofri- mento, pelo decrés- cimo de suas reagées emocionais desagra- diveis e pela mudan- apresentar aqueles ' | ue comportamentos: ga de contingéncias sociaimente punidas Reconhe- aversivas e que podem estar cendo oclinico como | ‘lacionados a0 oo cin compartamenta- audiéncia néo puni- “aye tiva cficaz, € prové- vel que o cliente passe a apresentar, frente a cle, os comportamentos que sao passiveis de punigio que podem fazer parte dos seus comportamentos-alvo. Ainda, o cliente ten- deria a aumentar sua aceitagio das interpreta~ sgdes do analista ¢ a responder mais apropria~ damente a quaisquer outras intervengées que dele adviessem. Esse fendmeno, contudo, néo é unidi- recional, como muitos jé observaram. A me- dida que a relagdo terapéutica se torna mais segura, assim como ocorte com os clientes, os clinicos também tendem a reagir aos com- portamentos destes, em sesso, de acordo com seus padres comportamentais. Um ana- lista que tende a ser mais exigente ou menos afetuoso, mais sério ou bem-humorado em suas respostas, mais frequente ou intensa~ mente responderia nessa diresio, a exemplo de como reage em outras relas6es sociais das quais faz parte. E, se isso ¢ 0 que é provavel, no é 0 que deve acontecer sem autocritica ¢ observagio dos efeitos por parte do clinico, ja que seu comportamento, na interagio com 0 dliente, tem como fungéo promover sua melhora, O. autoco- nhecimento do pro- fissional, sua capaci- dade de auto-obser- vagio continua, a habilidade para ser fonte sincera de re- Oautoconhecimento do profissional, sua capacidade de auto-observagio continua, aha: bilidade para ser fonte sincera de reforgamento social, de stabelecer relag6es confiaveis e comprometidas, sua amplitude flexibilidade compor- tamental¢tolerancia ‘emocional, parecem quesitos pessoais altamente relevantes para o proceso. forgamento social, de estabelecer relagdes confidveis ¢ compro- metidas, sua ampli- tude © flexibilidade comportamental ¢ tolerincia emocional parccem, portanto, quesitos pessoais alta- mente relevantes para o processo. Kohlenberg Tsai (1991) trazem uma proposta behavio- rista radical de criagio de uma psicoterapia que tem como foco a relagao terapéutica , de inicio, propée aos clinics que criem ou intensifiquem, em set cotidiano, opor- tunidades para de- senvolver esse reper- rio, Colocam ain- da que as reagdes privadas do profis- sional ao cliente e seu As roagdes privadas o profssional ao cliente e seu com: portamento também merecem atenga cuidadosa, ja que podem ser uma bo fonte de informagao sobre comportamer tos clinicamente re- levantes do client, 133 Clinica alitico-compartamental comportamento também merecem atengio cuidadosa, jd que podem ser uma boa fonte de informasio sobre comportamentos clinic: mente relevantes do cliente. Sentimentos de tédio, ittitagéo ou raiva por parte do clinico podem indicar que, se o cliente esta se com- portando com cle da mesma mancira como tende ase comportar com outros de seu entor- no, pode estar cliciando nestes sentimentos equivalentes. Isso se as respostas do clinica es- tiverem sob controle primordial dos compor- tamentos que o cliente apresenta naquele mo- mento! Portanto, fica aqui um dos fatores que endossam a importincia da psicoterapia pes- soal do clinico e da sua supervisio para os aten- dimentos, Esses so contextos para 0 aprendi zado da discriminagio dos estimulos que con- rolam seus comportamentos e das fungdes que seus comportamentos assumem nas inte- rages com os demais, e permitem o desenvol- vimento de habilidades de “usar” respostas pri- vadas, discriminativamente, em beneficio do proceso dlinico e do cliente. Agindo dessa forma, mais cedo do que © esperado, o clinico pode identificar com- portamentos clinica- mente relevantes dos Amodelagom do compartamentos dosojéveis, através de reforgamento diferencial, & sempre aindicagao mais apropriada para intervengaona clinica analtico- -comportamental, clientes na sua inte- ragdo com eles. Estar frente a comporta- mentos clinicamente relevantes que deve set fortalecidos no deve gerar nenhuma diivida sobre o fato de que o clinico deve se comportar de forma a fortalecé-los. A mode- agem de comportamentos desejiveis, através de reforgamento diferencial, é sempre a indi- cago mais apropriada para intervengio na clinica analitico-comportamencal. Jé quando esses comportamentos fazem parte da classe do comportamento-alvo que devem diminuir —cujo apontamento poderia ajudar o cliente a identificar os demais que fazem parte da mesma classe cm outras situagdes -, para 134 Borges, Cassas & Cols, muitos cinicos, pode indicar uma oportu- nidade tnica de con- fronto. Contudo, isso pode ser uma ar- madilha! Confiontar sempre implica apre- sentas, de alguma forma, uma estimu- lagio aversiva. O co- nhecimento do. re- pertério global do cliente, a escolha da estratégia ¢ do mo- mento mais adequa- do sio cuidados que tendem a minimizar a aversividade ¢ aumentar a probabilidade de apresentagio de uma boa resposta clinica por parte do cliente. A avaliasio sobre a adequa- 0 do confronto é sempre funcional ¢ poste- rior, através da observacio das consequéncias. Por veres, confrontar pode exigir do clinico autorrevelagio, 0 que deve ocorrer sempre em beneficio do cliente ¢, portanto, na intensida- de ¢ intimidade adequadas Confrantar sempre implica apresentar, de alguma forma, ‘uma estimulagdo aversiva. 0 conh ‘mento do repertério global do cliente, a ‘escolha da estra gia e do momento mais adequado cuidados qua ‘tendem a minimizar aaversividade ‘aumentar a probabi- lidade de apresen- ‘tagao de uma boa resposta clinica por parte do cliente > AVALIACAO/INTERVENGAO: OLHOS E OUVIDOS ATENTOS! O inscrumento geral- Pats cheancue mente utilizado nos odlinico deve car rescues encontros iniciais & a comtrés aspects entrevista, que gera nos encontros informagées verbais também respostas no verbais, coocorrentes, as quais o elinico ana- Ittico-comportamen- tal deve estar atenden- Iniciais: adesao ao procasso clinico; ‘estabelecer-se como ia ‘gadora e formular hipéteses analtico- -comportamentais do. sobre os comporta- mentos do cliente, Zaro ¢ colabo- radores (1980), entre ‘outros, traziam para a clinica comportamen- tal a proposta de observacéo informal do comportamento do cliente no setting elt nico. A forma como © cliente relatava ou omitia, detalhava ou dispersava as infor- mages requeridas pelo analista deveria ser observada e anali- sada quanto A sua fungio ¢ relagio com os comportamentos- -alvo, Kohlenberg e Tsai (1991) intensifica- ram a proposta, acrescentando que, além de observar ¢ analisar os comportamentos do dlicnte na relagio, 0 clinico poderia discutir com ele tais constatagées, transformando a sessio de andlise em um instrumento de ava- Quando a relagao terapeuta-cliente representa uma amostra significativa das demais relagdes do cliente com outros em situagdes extraconsultério, os ganhos obtidos ali, por generalizagéo estender-se-do para outros contextos. liao e intervengao clinica que por si produ- zitia mudangas comportamentai: relagio entre o profissional ¢ o cliente. Quan- do a relagio terapeuta-cliente representa uma amostra significativa das demais relagées do cliente com outros em situagées extraconsul- tério, os ganhos obtidos ali, por generalizasio © equivaléncia, estender-se-io para outros contextos através da > AGINDO PARA QUE A FAP POSSA SER REALIZADA Os comportamentos de interesse, para a FAP so 0s que fazem parte da classe funcional que tem relagio com 0 comportamento-alvo © que ocorrem na sessio. Tais classes sio iden- tificadas a partir das informagées coletadas ¢ sio denominadas comportamentos clinica- mente relevantes ou CRBs 1, 2€3. Os CRBsI fazem parte da classe de comportamentos “problemas”; 0s CRBs2 se referem aos com- portamentos de melhora, geralmente incom- pativeis ou alternatives aos primeiros, cn- quanto os CRBs3 sio as interpretagées ¢ a anilise apropriadas que o cliente faz a respei- to de seu préprio comportamento fora ou dentro da sessio. Os CRBs po- Podemos agrupar, 0 comportamentos clinicamente rel vantes que ocorrem nna sessdo, om t conjuntos: CRB1, dem aparece em respostas quefazem muitas situagdes, ¢ Parte da classede — uitas delas sio co- comportamentos problema’, CRB2, - Uns ao contexto clf- respostas alterna tivas as da classe “problema”, qua indicam melhor @ CRBS, interpre tagGes @ andlises do proprio cliente a tespeito de seus comportementos. nico, tais como a es trutura da hora clini- ca, a sala de espera, “crros” ou comporta- mentos nio intencio: nais do clinico, a ex pressio de seu afero, cuidado ou seu feed- back, etc. E. qualquer resposta s6 sera impor- rante por sua possivel relevancia clinica, e dis- cutir sua interagéo com o clinico nio € rarefa fécil para muitos clientes. Assim, os autores re- comendam que os clientes sejam introduzidos gradualmente neste processo, desde o infcio. Como ajuda, sugetem que os elfnicos: a) encorajem, valorizem as descrigées do cliente relacionadas com os estimulos pre- sentes no contexto terapéutico (por exem- plo, comentirios sobre 0 clinico, © pro cesso clinico, a relagio terapéutica, etc.): ) encorajem as comparagdes de comporta- _mentos que ocorrem na sesso com os que ocorrem na vida didria (por exemplo, a fala de um cliente de que a ansiedade que sentiu ao contar algo ao clinico foi similar a sentida ao falar com seu chefe), especifi- cando os estimulos de controle que sio comuns aos dois momentos; ©) encorajem o cliente a fazer sugestées, quel xas © pedidos diretos objetivos (cais como “por favor, ligue pra mim mais de- pressa da préxima ver”), respondendo rea~ listicamente as suas demandas e aprovan- do seu comportamento assertivos d) usem as descrigées do cliente sobre 0 que corre na sua vida como metéfora para ‘ico-comportamental 135 Clinica ai eventos que ocorrem na sessio, especifi- cando, por exemplo, se uma dada fala no uaz um significado encoberto, Se o clien te comenta 0 quanto seu dentista é in competente, 0 clinico pode investigar se cle nao esta achando o mesmo dele (ana lista), ajudando-o a ter uma resposta mais direta e aversiva. Na FAP, 0 clinico ¢ seu comportamento podem assumir as fungées de estimulo clicia- dor, reforsador ¢ portamentos dos clientes. Uma vez que com- portamentos clinicamente relevantes do cliente ocorram ¢ sejam modificados no con- texto clinico, eles poderio ser generalizados para situagées funcionalmente semelhantes importantes, de fato, para o cliente, Nio é a relagio do clinico com o cliente o que, em a- tima instancia, importa. lisctiminativo para os com- > CONSIDERACOES FINAIS Como vimos, 0 ambiente da clinica e da sala de espera ¢ os comportamentos da equipe ¢ dos clinicos, além de gerarem bem-estar a0 cliente, podem aumentar a probabilidade de sua adesio ao proceso psicoterdépico © aju- dar na formagio de conceitos “positives”! sobre a psicologia, a psicoterapia, a anilise ¢ © analista do comportamento ¢ os demais relacionados. Trata-se, portanto, de criar condigses antecedentes que como operasées motivadoras para compor- tamentos de vit, permanccer ¢ confiat, ¢, ainda, estabelecer 0 clinico ¢ seus comporta- mentos como estimulos discriminativos, eli- ciadores ¢ reforgadores para o desenvolvi- mento do repertdrio do cliente que 0 apro- xima de suas metas terapéuticas. Isso nao se faz simplesmente seguindo regras, mas es- tando sensivel as contingéncias. Parte delas se relaciona & compreensio de que 0 softi- mento que o cliente traz vai além da queixa. funcionem 136 Borges, Cassas & Cols, Vir & andlise nem sempre ¢ uma decisio f4- cil, ¢ muitos sabem que, na tentativa de so- fret menos, poderso passar por outra forma de sofrimento, por ter que revelar compor- tamentos ou experiéncias passiveis de puni- 40 social ou “reviver” cenas que geram res pondentes desagradaveis. Embora possa pa- recer um privilégio ter 0 apoio de um clinico, hha sempre um custo pessoal, financeiro ¢ mesmo social que acompanha cada cliente. ‘A nossa cultura ainda hoje julga senti- mentos como “certos ou ertados”, ¢ banaliza a dificuldade de cada um em “ter ou nio” & “controlar ou nao” os que sao indesejéveis. A impresséo que muitos clientes tém é que os mortais com quem convive, principalmente o analista, podem controlar seus sentimentos através de uma agio direta que incida direta~ mente sobre cles. Muitos aprenderam a confundir-se sobre o seu proprio autoconcei- to c agregar a si mesmos rétulos generalizados a partir de erfticas recebidas. Geralmente, os clientes se sentem infe- lizes e cheios de comportamentos de fuga ¢ esquiva, ¢ 0 clinico deverd bloqueé-los, 0 que deve ser feito de forma a minimizar 0 uso de cestratégias aversivas ¢ maximizar os reforga~ dores naturais imbricados na relagio terapéu- tica, uma vez que so esses que podem pro- mover inicialmente sentimentos relatives & felicidade. Enfim, no tivemos a pretensio de dis- correr sobre todos os aspectos que afetam as queixas psicolégicas ¢ nem encaminhar solu- {ges para todos os problemas que cercam as primeiras interagdes terapeuta-cliente no contexto clinico. Descjamos, sim, demons- rar que, quando nés, analistas do comporta- mento, recebemos um cliente, sabemos que hé muito mais em questio do que as regras terapéuticas, a teoria ou a queixa ouvida na primeira sesso. Também as nossas agbes ¢ suas consequéncias vio muito além das que sio plancjadas, observadas, controladas, des: critas ou desejadas! Nos mais diversos papéis que exercemos, nossas ages produzem mu- dangas em cadeia nas nossas relagées ¢ nas dos outros & nossa volta. Sabendo disso, pro- curamos sempre, como clinicos, propagar ¢ potencializar 0 efeito de ages “positivas” em todos os contextos. Esperamos ter cooperado com algu- mas observagées_ € cuidados que nos pa~ receram titeis, apren- didos nestas trés dé- E possivel uma con- vivencia humana intensa com poucos controles aversivos, e que o reforga: mento natural vigente nas nossas relagoes de amiza- de aumenta nossos sentimentos de alegria, autoestima autoconfiang: assim como a nossa competancia, cadas de experiencia compartilhada com outros colegas da andlise clinico-com- portamental do Bra sil. Nossa experiéncia de convivio, como grupo, tem demonstrado duas “verdades’ que teoricamente sempre apregoamos: que é possivel uma convivéncia humana intensa com poucos controles aversi- vos, ¢ que o reforsamento natural vigente nas nossas relagées de amizade aumenta nossos sentimentos de alegria, autoestima ¢ auco- confiansa, assim como a nossa competéncia Essas relagées, na verdade, tém-nos ensinado como ser melhores clinicos! > NOTA 1. Ao longo do capitulo, seré possivel identificar,algu mas vezes, o emprego do termo “positiva’. Como 0 termo é empregado pela anilise do comportamento para se referir 4 adigio de algo, vamos utilizé-lo entre aspas quando quisermos nos referie a um. valor, tal como: bom, agradivel, ec

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