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CARLOS ARI SUNDFELD GUILLERMO ANDRES MUNOZ (Coo AS LEIS DE PROCESSO ADMINISTRATIVO (Lei Federal 9.784/99 e Lei Paulista 10.177/98) Paulo, SP - CEP 04003.010 287-6404 6 AS LEIS DE PROCESO ADMINISTRATIVO lidade das leis. © processo de constituei estes autores, que antes de uma lei ser declarada inconstin temo dever de buscar, em via interpretativa, uma concordan com a Con: a importancia da obra que 0 cuidado com que sao tratados os temas que compoem ambas as legislagbes, examinados por se lecionado rol de juristas brasi i se olvidando 0s insignes coor nadores de provocar uma incursao no direito c pre autorizadas de Tuan Paso CAsAR PASCUAL CAIELLA e José Luis Saib, os dois primeiros, expoentes da doutrina sruguaia e os dois dltimos, nomes que enobrecem a cultura juridica argen. Por tudo isso, jd se prenuncia o sucesso deste trabalho, reitere-se, uma feliz iniciativa de dois homens que muito tem feito pelo Direito Pablico em seus Pafses, merecendo de todos nds, estudiosos do direito, um respeitoso Prof. Romeu Feuire BACELLAR FiLH0 Piblico do Mercosul iro de Direito Administrativo I-INTRODUCAO AO PROCESSO ADMINISTRATIVO Processo e procedimento administrative no Brasil (CaRtos Art SUNDFELD 1. Significado das leis de processo administrative O direito administrativo brasileiro sofreu, em 1999, um impacto cujos efeitos devem se fazer sentir nos préximos anos, podendo-se antever sua significativa transformag&o. A razio & o surgimento de duas leis gerais so bre processo (ou procedimento) administrativo. A primeira foi a Lei Paulista n. 10.177, de 30 de dezembro de 1998, couja entrada em vigor ocorreu 120 dias apds (art. 93) e que se aplica no Ambito da Admit jportdncia decor io 86 da dimensao da mAquina estatal paulista e dos interesses econd- micos com qu: nbém da referéncia que significa para os outros Estados € para 0 préprio Governo Federal.’ A outra é a L dessa Lei, Lago ap6s a Cons que a melhoria da Admin ras, de Leis de Procedimenco Adm io de 1990, atendendo a uma ubens Aprobatto Machado, ¢ Pro- o para estudar a Lacerda, A Comissao aprovou a idéin de suger uma strativo, usando minha minuta. A px. sto ¢encaminhada ao Governador. Tanto © o pela Comissto, como a detalhads exposigdo de motivos, publicados na RDP 99/188-208, ressalvando-se um ero g (Ed, RT,S. Paulo). Seguiu-se uma tram derevero texto, para incorporar sugesibes oriundas de con io da Justiga, Manvel Alceu Affonso Pereira, Fleury 0 interna longa, no curso da qua tive casio blica determinad 1s AS LEIS DE PROCESSO ADM ISTRATIVO ar de imediato, com Em termos singelos, tata-se de um conjunto de normas objetivando, de um limitar os poderes dos administradores piblicos, desde os Chefes do Executivo e seus auxiliares diretos até a coma fixagio de prazos ec: suas competéncias; e de outro, proteger 0s indi tivamente ao controle judic de instituir regras estruturais quanto ao regime dos atos administrativos ~ casos de inv preservagi para produgio, etc. — cuja auséne icos de tradigdo variada.* ‘io temos, no Brasil, experincia com leis gerais sobre procedi (ou processo) administrative. Por isso, os operadores jurfdicos, e mesmo 03 oda Astes- da Silva Ramos, c Pietro, InoeEacio Marires Coelho, Diogo de gueiredo Moreira Neto, Almiro do Couto Silva, Adilson Abreu Dallai José Joa 10 de Passos. Paulo Modesto e Carmen Lica Antunes Rocha, A exposigio isso, datados de 26.8 96, foram publicados na RDA 157 (Rio de Janeiro, Ed. Renovar) 3. Para 0, € ideal a consulta colegao de ens pa 0b a coordenagio de Javier Barnes Veaque7 (EI Procedimie ! Derecho Comparado, Madi, El de la Junta de Andalucia, 1993) ¢ versando PROCESSOE PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVONOBRASIL 19 professores de direto administrativo, sentimos dificuldade em dimensionar adequadamente sua utlidade e significado, Estou certo, porém, que, quando cconseguirmos fazé-o, nosso direito administrativo nunca mais seré o mesmo, Nio se trata, seja ro caso federal como no estadu sobre 0s trdmites exigidos em certos processos da Administragdo. A deno- rminago, aqui, engana, tendo em vista a tend8ncia de os letores f uma associagdo com a experincia anterior, de textos normativos tratando de processos administrativos especificos. Mas isso seria um equtvoco. Uma lei geral de processo administrativo nao regula apenas os chamados pro cessos administrativos em sentido estrto, mas toda a atividade decisoria da Administragdo, sem excegbes, independentemente do modo como ela se expressa, Na visio brasileira mais comum, processo administrativo é um Conjunto de irimites exigidos em certas situagbes especiais, especialmente na demissio de servidor (processo disciplinar), no langamento ou autua¢o twibutéria, bem como em sua impugnagio (processo fiscal ou tributério) Quando pensamos na aco administrativa como um todo, normalmente nZ0 Vinculamos a ela aidéia de processo. Ejustamente a essa visio que uma lei geral de processo (ou provedimento) administrativo se ope radicalmente O pressuposto légico de uma lei assim é ode que, na Administracio Pibli- ca, decidir é fazer processos isto 6, toda aatividade deciséria€ condicio nada por principios e regras de indole processual.‘* de mais uma lei ‘Malhetzos Editores, 2000 p. 173). fica aterminologia dest texto, no qual ‘doutrinadres sustentam ser fundamental flar em “processo” admit para afirmar com énfaseaincidéacia, na esfera administ processuais (devido processo, ampla defesa, dizelto ao cont temem eles que a expressio “procedimento administrativo” sejafraca para esse Embora concorde com a preocupaclo, peas contudo, que ouso doutrndrio da expres: i Ho tem maior efito prético. Ora, saber se, em certo eressado, et, sto divides euja solugio no se obtém com a Aefetiva presenca, naquee caso, de al citar a incidéncia dos prinefpios) nem essa resposta pode ser obtida por simples: 20 [ASLEIS DEPROCESSO ADMINISTRATIVO 2. A paulatina absorcdo da idéia de processo no Direito Administrativo brasileiro Para compreender a realidade juridica existente em certo momento & indispensével conhecer o espirito da época, que se revela em um complexo de elementos: nos textos normativos que vao surgindo, na literatura juridica, nas polmicas que concretamente chamam a atengiio das pessoas, nos medos escondidos em suas opinises, nos problemas enfrentados, nas decisbes judi- ciais, nos eventos marcantes, nos lugares-comuns, ¢ assim por diante As nogdes de processo e de procedimento administrativo, embora nfo sejam nenhuma novidade no direito administrativo brasileiro, até ha pouco nao tinham significado prético maior. Isto porque elas normalmente no ‘entravam em linha de conta naqueles textos, polémicas, decisdes, ete. Mas isso vem se alterando no decorrer do tempo. (O exame das mais influentes obras de introdugio ao direito adminis- trativo o comprova. Ruy Cire Lima, jurista atuante a partir da década de 1930, iu toda a sua refinada teoria de direito administrativo sem socorrer-se desse conceito, que foi referido apenas no contexto do tema cespecifico da Justica Administrativa, e mesmo assim para lamentar seu atra- soi por isso, no mencionou as falhas de ordem processual como causas de nulidade da deciso administrativa, ficando elas vagamente abrangidas entre 0s casos de “preterigo de solenidade reputada essencial & sua valida- ‘gularidades procedimentais comomeros exemplos de “solenidades” ou “for- ‘malidades” desatendidas.* Tito Prates da Fonseca, conquanto afirmasse, & mesma época, que “o ato administrativo aperfeicoa-se através de uma série de operagGes, de momentos que, em seu conjunto, constituem 0 procedi- ‘mento administrativo” nao deu destaque, entre os pressupostos de validade do ato, aos requisitos procedimentais propriamente ditos.” sulta 2 denominagto empregada pela hhaverrotuado algo como “procediment <éncia ou nto dos citados principios) 6, Refiro-me a sua obra mais i especificas (devera, nfo ¢ 0 fato de (0 como “processo” que determina a inc pias de Direto Administrative, cuja 1" edigio data de 1937, e na qual afirma que “o nosso processo administrative Podemos dizer que ainds no se constitu; ao menos em consondncia com os progres fos eleangados pelo pa depois de sua Independ2ncia", cons reformas é nalgumat matérias; énecess rio que se generaizem, a fim de ce ra do processo juridico do pais, © nosso processo ed PROCESSO E PROCEDIMENTO ADMINISTRATI Em 1964, quando da I* edigZo de seu Direito Adi que depois se tornai i utilizado manual dessa matéria nos 20 isso tanto para os professores como para os priticos, Hely elles citou 0 procedimento administrativo como um dos fatores que concorreriam para a formagao e validade do istrativo,® mas contentando-se com a descriggo Apenas para edig5es posteriores, 0 ulo sobre o controle da Administragao, a teorizagdo do direito XX, langou seus Elementos de Direito A Thanga da obra de Hely Lopes Mei ais detalhado.”” O juristairia voltar sunto apés 2 edigo da Constituico de 1988, quar respeito,"* posterio 0 de Dir vo,"* vindo depoi devido processo no rol dos prince Bvider ratura geral de dire Porém, mesmo antes, ele jd tinka crescido significativamente. Dentre os autores de textos didaticos modernos consagrados, duas importantes jur tas anifestando especial predilegdo a respeito Figueiredo, Profa. Titular da Pontificia Universidade Cat Jo, em cujo Programa de P6s-Graduagio leciona a disci 10.§. Paulo, Ed. RT, p,16l (cf. 254 ed, pp. 146 « 5), Ob. city p. 425 ess. (cf. 25" ed, pp. 637 € 12. A alteragdo ocorreu em 1975, na (cf. 254 ed, pp. 609-¢ 55.) 13.5, Paulo, Ed. RT, p. 46, onde sto menc Mais aiante, o autor dedica anda uma pégina vo € A descrigto de suas fases(p. 70). 14.0. izado pelo IDAP — In ‘por ele coordenado, parac qual elaborou o estudo, io de 1988, coordena lo, S. Paulo, Ed. RT, 1991, p.9 ess. ‘asSou a integrar a obra a partir de sua S* edigdo, em 1994 (8. Paulo rs, p. 243 ¢ 583 ef. 128d. p. 346). I" edigio de od. 85 de Celso Ant Curso, langada em 1999 (S. Pau- n ASLEIS DE PROCESO ADMINISTRATIVO mica publicada sob o titulo Processu e posteriormente atuou como re o ganhando nos manusis brasileiros foi con- seu respeito. No de~ s que mais impacto provoce: para demissio dos funciona /0s 20 processo dis a process 109 (pp. 1922212) 40 de obra coletiva denominada Proc A autora i responsive pela coord ais, 8. Paul, tagto, pate 1, 5.172, de 25 de outubro noeitoseaspectos processus, t0u da tomada da decisio, de sua suspensio, revise, 235, de 6 de margo de 1972), 0 Conselho de Con 8451, de 23 de dezembro de 1992), etc, Como se pode imaginar, ‘do tema gerou grande interesse por estes procedimentos, Sscedem no mercado rescendo pouco a por PROCESSOE PROX MENTO ADMINISTRATIVONO BRASIL 23 Realmente decisiva, por Direitos do art. $*da Cor izou 0 devido proceso liberdade ou de seus bens sem 0 devido proceso leg: a LV determinou expressamente sua a "Je cujo inciso icagdo naesfera administrativa (“aos jal ou administrativo, e aos acusados em geral tradit6rio e ampla defesa, com 0s meios e recursos a rudéncia constitucional do Supremo Tribunal Fe- eral assimilou uma série de solugSes concretas atinentes & incidéncia do princfpio no campo administrativo, Cito exemplos para que se verifique a riqueza dessa jurisprudéncia c de seus ef¢ @Em virtude do art. 5%, LV, da CF, a anulagio de ato administrativo ue tenha repercutido no campo de interesses individuais depende da ins- taurago de processo administrativo contraditorio, que enseje a oitiva dos que terdo sua situagdo juridica alcangada (RE 158.543-RS, em RTJ 156) 1042), Mas essa regra nao vale para a simples retificacao de ato de aposen- tadoria (RE 185.255-AL). da CF, 0 licenciamento sumério ‘oqual no regime passado era tido 138 dos ats, 22, XXVI urgimento de nova Lei de Lieitagdes, de atualizagdo icagdo dos livros, exes, artigos 1, © debate mais profundo do tema pelo angulo da 22. A Consituiglo de 1969 ga ‘la inerentes, em favor dos “acusados” (art. 169, § 15) sem esclarecer se anorma devia splicar-se apenas na esfera judicial ou também administrtiva, O tema gerou debate, somando-se consistente dostrina no sentido de que a Administragdo Piblica também estavasujita a0 devido processo legal, Masa jurispradéncia no deu sus adesio acssa Ieitura (Consultee RT 296/555), em atitude que exigiy uma resposta consttucional, 0 LV da CF 88. Em aplicasio desse novo dispositivo, a orientagio evidentemente se inverteria,e iss0 nfo s6 em termas de ditito adm endo mencionar que, com base nele, 0 STF jé afirmou até ser so, sem defesa, de associado de cooperativa (RE 158.2154). ‘de um modo todo brasileiro de ser da literatura juridica, os, , eenquanto manifestem erescenteinteresse pelo tema do processo istrative, dio pouca ou nenhuma atengio & jurisprudéncia, mesmo 4 do STF, vdo suas teorise como se ela nfo exists. 24 ASLBIS DE PROCESSO ADMINISTRATIVO por constitucional (RE 140.195-SC, 168.081 RS) 2m virtude do art. 5%, LY, da Cl imposigao de penalidade ambiental € do acusado, nao sendo suficiente a 157.905-SP). Em virtde do art. S* LV, da CF, deve ser pessoal anotificaglo admi- nistrativa, exigida em lei, de proprietéio de imSvel objeto de interesse para futura expropriago para reforma agréria (MS 22.164-SP e 22.320-SP), «) Essa noificazdo deve ser prévia, de modo a assegurar eficazmente 6 direito de acompanhar o levantamento fisico do bem (MS 22.164-SP, 22.319-7 e 22.385-MS; v. uma aparentectenuaso no MS 23.370-GO), ‘ilim virtude do art. 5, LY, da CF, é indispensével motivagdo para indeferr requerimento de prova em processo administrativo disciplinar (MS 21.726-RI, em RTJ 156/510). XE compativel com o art. 58, LV, da CF, a exigéncia, pel (@ prévio do valor da mul recurso administrativo, se ao inteessado € garantido dreito d se antes da imposigio da sanglo (RE 169.077, 210.235 e 210.246-GO; ADIn 1,049, 1.922 ¢ 1976) fy incompatvel com o a. St, LV, da CF, ostabelecimento de prazo de apenas 180 dias para decadéncia do direito de impugnarjudicialmente decisdo em processo administrativo fiscal (ADIn 1.922) G.Nao decorre do art. 5*, LV, da CF, a exigéncia de participagio do interessado em procedimento (a sindicincia) meramente preparatério de processo administrativo (MS 21.726-RJ, 22.055-RS e 22.888-PR). dispensabilidade da atuagdo de advoge 10 processo administrativo (AG (AgRg) 207.197-PR). Em virtude do art. 5°, LV, da CF, ¢ indispensével que 0 advozado dativo nomeado em processo administativo de expulséo de estrangeiro efetivamente se oponha & medida (HC 79.746-SP). Essa sumdria exposigdo mostra que a absorgdo dos prinefpios proces suais como sendo préprios do direto administrativo ja pode, a esta altura, ser considerada como operada no Brasil, tanto pela stica constitucional, como doutrindriaejurisprudencial. Faltave, porém, uma Lei Geral de Pro- e330 (ou Procedimento) Administrativo, que pudesse vulgaizar essa con cepeio, tornandoa lugar-comum,retirando-a do dominio exclusivo de ju Fists e espalhando-a nas mios da burocracia Para isso surgiram a Lei de Sio Paulo n. 10.177, de 1998, e a Lei Federal n. 9.784, de 1999. 1.664, 191.480-7, 247.349- no processo administrativo de spensivel a notificago pessoal nago pelo Diario Oficial (RE (D.Nao decorre do art. 5°, LV, da CF, a PROCESSOE DIMENTO ADM STRAT ONOBRASIL 25 3. Ambito de aplicagto das les de processo administrativo Embor is, ada Unio e ade Si suas respectivas emontas, como dest trativo”,™ seu ambito dé praxe ad ‘administrativos". As. cfeio das com, ulo, apresent regulam, raciio en previu, em seu art regular “os atos e procedimentos ad legal especifica". Assim, a Lei pretendeu vo a atos e procedimentos administrat vel A atividad strativa estadual como um atos ¢ procedimentos da Adi io do Est ‘Ademais, bus« da méquina estat rmidade de comportamento no’ lgago de atos, a apresentaco de recursos, a aplicagao de sangSes, a anulagdo de atos, a exp ertidSes, a apurago de universal imposta disparidade de isso é danoso para o ef decorrente de sua ten: fos que correspon: se a todos os atos e procedi lescritos, independentemente de ra, referia-se a uma “Lei de Pro nica sada tambs para envio 20 Ls formidade com 0 antepro} 26 AS LEIS DE PROCESSO ADM ISTRATIVO. Comissio responsével pel do tema: “O regramento ¢ tes i contrato admi Ses em que ak egral deverd ocorrer nos casos la Administragao nao tenham regulagao especi P: procedi \gum preceito da Lei deixe de incidir em relagio a ato ou wento a que, em principi é ia de simples Decreto (ou joma int ode fazé-lo. As normas da Lei Paulista de Processo Administrativo preva- scem sobre as regras relativas a ntos especificos se elas estive- specifica para compor 0 regime juridico das situagdes sm que se deixard de aplicar, den- vos, apenas aqueles que seat com as regras legais expeciais ria desse ‘azet incidir der bem o significado da ay g gue niio tena sido objeto de tratam espectfico, sempre que as normas da lei ger rias as da lei especial. Naqui of atos e procedimentos ro envolverem especialidades, a ponto de no ulares ou de nfo se chocarem com preceitos muito gerais so dentemente no h: Lei Pa 25, Consaite-se a RDP 99/189. PROCESSO E PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVONO BRASIL 27 € til um exemplo. O Capitulo II do Titulo TI desta Lei cuida da invalidade dos atos", prevendo as hipsteses de invalidade (art. 8), 0s re- 108 da motivagao (art, 9%), 0s limites & invalidagdo administrativa (art 10) ¢ os casos e requisites da convalidagao (art. 11). Em principio, ceitos podem ser aplicados no campo disciplinar, pois sfo construidos -m termos Suficientemente genéricos para ndo confrontar qualquer especia idade de atos particulares previstos na lei n. 10.261, de 28.10.68 (0 ainda vigente Estatuto dos Funcionétios Pablicos Civis do Estado, cujos arts, 268 e ss. cuidam do processo disciplinar) Ademais, deve ser afastada a suposigio, totalmente equivocada, de que a simples existéncia, em lei espectfica, de alguma referencia a processo ‘ou, ainda, a previsdo, nessa lei, de q lamento, seria suficiente para afastar a aplicago da Lei Geral de Processo Administrativo, Exem| co com o Cédigo de Defesa do Consumidor ~ CDC (Lei Federal n. 8.078/90) e sua aplicacdo pela Administragdo paulista, O pro- cesso administrativo para aplicacdo das sangSes dos arts, 55 a 60 do CDC no foi objeto de disciplina pelo proprio Cédigo, o qual se limitou a exigit arealizagio de procedimento, com ampladefesa. Ademais, nao ha, no CDC, Gispositivo conferindo a0 Poder Executivo Federal competéncia para edi- tar decreto regulamentar sobre esse processo, com o efeito de afastar as normas processuais dos outros entes da Federacao, editadas no uso de suas competéncias préprias. Portanto, nio existe um regime processual admi- nistrativo de “direito do consumidor” com nivel ou base legal autSnoma que possa excluir a aplicacdo de regras gerais a respeito de processo admi- nistrativo de ambito estadual. Sendo a Fundago Procon de Sio Paulo uma centidade estadual ~ que, ademais, exerce atividade administrativa prépria do Estado, nao sendo érgao delezado da Unido ~ cabe-Ihe obedecer & Lei Estadual de Processo Administrativo sempre que seus processos administrativos, inclusive os sa art. 1? da Lei. O eventual regulamento do CDC e¢ normas processuais nao prevalece sobre a Lei Paul 26. O Decreto Fede! com seus ans. 33.055, lea no uso de sua competéncia consiucional geaérica para regulamentar sd0& sua fel aplicacéo (CF, art. 84, IV), A Fundagao Procon de Séo lizarprocessos para aplicar © CDC, sem, no enta Rep js federais, vi Aids, cotejando contradigfo entre eles, os quais se inclusive dizer que, em gera, Decreto e a Lei sio complementaes, nao antag6ai Ey ASLEIS DEPROCESSO ADMINISTRATIVO Com relago a seu campo de incidéncia, a Lei Federal de Processo, no aut, 1, enuncia como seu objetivo o de estabelecer“normas bisicas sobre 0 processo administrativo no ambito da Administracéo Federal dinetaeindi- reta, visendo, em especial, 8 protezo dos direitos dos administrads e 20 melhor cumprimento dos fins da Administraglo”. A chave da qual resulta a amplissima aplicabilidade da Lei ¢ a ausEncia de qualquer delimitacao do conceit de “ vo". Na Lei, ndo hé, de fato, qualquer definigdo a respeito. O “processo” a que ela se refere no € o provesso ina, ode langamento tributéio, ode licitago, ode reg ea, ode licenciamento ambiental, ode autuagao ~ nao 6, portanto, apenas 0 3rocessos sem essas cara apo, do concursoe da seley ‘art. 50, Le IV), de representa- ede “proces- 69; “os processos administrativos es aco a reger-se rips aplicandose thes apenas sbsidariamenteospecetos desta Portanto, valem, em relagdo a ele, as mesmas ponderagbes jé feitas 10 de incidéncia, isto é, quanto aos entes e rgios atingidos, hé também se iplomas, nfo obstante a redagao distinta. A Lei ", caput © § 1% mpbe sua observancia pela “Adi eve ser seguido 0 ar 63,1V e Y, ‘expressamente do Decreto, mas que séa pla defesae que, inclus do acusada © per devendo ela prevaleser (art, 63, I PROCESSO E PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVONOBRASIL 29, cidéncia da Lei é 0 exercicio da fungo adm de de administragao ~ riéo exatamente o Poder, ente ou orgav envolvido. A, Lei Paulista, em seu art, 1°, menciona “os atos e procedimentos admit tivos da Administracao Publica centralizada e deseentralizada do Endo de So Paulo” (caput), entendendo i zada “toda pessoa j pelo Poder Pai 4.08 atos adh listrativos e as leis de processo ‘Embora néo seja a unica preocupacao dos formuladores e aplicat 10 das decisdes, as quais conven: s. Hsse regime envolve dois aspect As questées sul tetido (0 que 0 ato pode ou io pode disp 0 (que faios justificam uma deciso com tal ou qual contetido) ¢ finalidade (que objetivos podem ‘ou devem ser perseguidos com a decis0), sem contar a mais geral, que é a da fonte normativa que regula isso tudo (de um lado, quais so as normas a ideradas na determinago do contet porque se decide, o que se decide ¢ para que se decide, Mas nao € s6, As normas também cuidam, ¢ com destaque, do como se decide. Entram em jogo, entdo, as questdes adjetivas. Quem decide? 1u podem ser tomadas? Quem pode ‘ou deve interferir? Como 6 a impugnacdo ou revisio das decisdes? hhoje sobre o sentido que, para o direito admi podemos constatar que vida em torno do pro- ccesso judicial). Ocorre, entretanto, que a elaboragio teérica concernente 08 aspectos adjetivos da decisio administrativa 6, por ora, menos rica do 30 AS LEIS DE PROCESSO ADMINISTRATIVO que a dos processualistac com referéncia a decisdo judicial. Mas a diferen ga€ de grau, ndo de natwreza. Na medida em que se vai co dos aspectos adjetivos envotvi vos ¢, ainda, na medida em cjue esses diferentes aspectos deixam de ser consi- derados em separado, um um, passando a ser vistos como um conjunto, é natural que a idéia de processo se afirme como adequada para descrever esse fe Tango do Pode sro prosecute rica der as Rede is te ecis Firea tr tuoi quando cit fate Io) 008 Tee es de parca dos rea inerveictesm gral Miso Pubic ju, Tibunas 0), 4s remistosformais és decites(inotvao,jlgeento em sess {sua impugn (mata wera em gra Todos estes spetoe so Cbjeto de uma ora gral, psu da cxsenia de va espctes proces suse da inna vara do cone nele envol pode prov Sitos ec E vidvel cogitar do desenvolvimento de uma teoria geral sobre os as- pectos adjetivos das decistes administrativas que venha a Ter a mesma sbrangéncia da relativa as decisdes judiciais? Tem sentido trabalhar com a possam parecer, ands administrativistas brasil endentes. Mas a verdade é que as questies adjet v0,€ ria geral do processo adi vo vem sendo esbogadas ha mi simples 10d competéncia ~ Ao teorizar sobre as decisbes da Adminis- ica, os administrativistas desde o inicio trataram da comperén indo, por exemplo, se um ato devia ser editado pelo te da Republica — no fundo estavam ocu- pados com 0 mesmo fenémeno que processualistas quando debatem se, em certo caso, a competéncia € do juiz singular estadual ou do Supremo Tribunal Federal. Daf se poder dizer que, ao examinar temas as se ocupam de direito io € simples, e liga-se ao grau de expectativa e cor essualistas visualizan strago como uma Pirdmide unitéria, que résponderia aos comandos centralizados do Chefe do Poder Executivo ~ donde a quase irrelevancia de 0 caso concreto ser dccidido pelo agente tal ou qual. Mas isso vem mudando radicalmente, na toa e diferencia, que- Jos centros auténo- ‘mos de decisdo: Conselhos Administrativos para tratar de temas tributérios ¢ previdencirios, Conselhos Profissionais para a regulagao das carreiras regulamentadas, Conselhos representativos da comunidade para assuntos socialmente sensiveis (casos, por exemplo, do Conselho Nacional de Edu- capo e do Meio Ambiente) e, agora, as importantissimas Agéncias Regu- ladoras. Portanto, a discusséo prévia a respeito do ente ou érgio admi trativo competente para certo assunto tende a tornar-se um assunto tio fre-

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