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Focus Group — pesquisa qualitativa: resgatando a teoria, instrumentalizando o seu planejamento Mirian Oliveira Henrique MLR. de Freitas ‘Como as pessoas consideram uma experiéncia, uma idéia ou um even to? A resposta a essa pergunta exige do pesquisador a aplicacio de algu- ‘ma técnica ou algum método que se aproxime da realidade de cada pes- soa, 0 que pode ser feito mais adequadamente reunindo pessoas em grupos, criando condicées ambientals de manifestagao mais espontnea de cada uma e propiciando a interacdo de todas. Tal situago aponta 0 Focus Group (FG) como um dos meios a ser privilegiado na busca de resposta a essa questo, ( Focus Group teve origem na sociologia, Hoje, & amplamente utii- zado na tea de marketing e também tem crescido em populatidade em outros campos de aco. Dentro da ciéncia social, foi Robert Merton quem publicou o primeiro trabalho utiizando o Focus Group; Paul Lazarsfeld e outros, mais tarde, introduziram essa técnica na area de marketing (Morgan, 1988) ( Focus Group é um tipo de entrevista em profundidade reaizada em ‘grupo, cujas reuniées apresentam caracteristicas definidas quanto a propos- ta, tamanho, composicio e procedimentas de conduc. O foco ou o obje to de andlise é a interagao dentro do grupo. Os participantes influenciam uns 20s outros pelas respostas as idéias e colocagdes durante a discussao, estimulados por comentarios ou quest6es fornecidos pelo moderador (pes- quisador ou outra pessoa). Os dados fundamentais produzidos por essa téc- nica séo transcritos das discusses do grupo, acrescidos das anotacées ¢ reflexes do moderador e de outrols) observador(es), caso existalm) AAs caracteristicas gerais do Focus Group s8o o envolvimento de pes- soas, as reuniées em série, a homogeneidade dos participantes quanto ‘a0s aspectos de interesse da pesquisa, a geracao de dados, a natureza ‘qualitativa e a discussio focada em um t6pico que € determinado pelo propésito da pesquisa (Krueger, 1994), (0 Focus Group é recomendado para orientar e dar referencial & in- vestigagdo ou & ago em novos campos, gerar hipéteses baseadas na percepcao dos informantes, avaliar diferentes situagées de pesquisa ou populagées de estudo, desenvolver planos de entrevistas e questionérios, fornecer interpretagGes dos resultados dos participantes a partir de estu- dos inicais, e gerar informacées adicionais a um estudo em larga escal. ecebide om margo8 2! vorsio en outubo'97 Mian Ova, Engenboira Cri e Mestre em Engenharia, ¢ Doutoranda do Programa de Ps: ‘Graduagéo em Adminisrapdo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Fax (051) 316-2901 mal: mifano@conex.combr Honique MLA. de Feta, Door om Gestéo, 6 Prolessr @ memo do Grupo de Estudos em ‘Sistemas de informagées e de Apoo& Decisio {(GESID) do Programa de Pés Graduario em ‘Administragao da Universidade Federal do Rio ‘Grande do Sul e Pesquisedor do Consetno Nacional dd Deservotimento Cientica e Tecnaligo (CNPa). Fax (051) 916-3901 E-mail: tas @potoweb.com br Revista de Administra, Séo Paulo v.33, 2.3, . 89-81, juotsetembro 1998 notes & comunicagdes No entanto, existe algumas situagdes em que o seu uso como metodo de pesquisa nao é recomendével: por exemplo, quando o assunto é constrangedor para os par- ticipantes; quando o pesquisador nao tem controle sobre quais s80 0s aspectos criticos do estudo; quando sio ne- cessirias projecdes estatisticas; quando outro método pode produiir resultados com melhor qualidade ou mais econo- ‘micamente; ou quando o pesquisador nao pode garantir a confidencialidade da informacao. Segundo Morgan (1988), um teste para verificar a adequabilidade de seu uso consiste em perguntar quao ativa e facilmente os participantes discutiriam o tépico de interesse da pesquisa. O uso do Focus Group é par- ticularmente apropriado quando 0 objetivo é explicar ‘como as pessoas consideram uma experiéncia, uma idéia ou um evento, visto que a discussio durante as reunibes ¢ efetiva em fornecer informacées sobre o que as pessoas pensain ou sentem ou, ainda, sobre a forma como agem. © objetivo neste trabalho ¢ descrever os potenciais uusos do Focus Group, as suas vantagens e desvanta- gens em relacdo a outros métodos de pesquisa, ass como discutir 0s aspectos relevantes para a condugao de uma pesquisa com a sua utilizagao. Primeiramente sio abordadas as vantagens e desvantagens do Focus Group como um método qualitativo de pesquisa. No topico seguinte € discutido o seu uso associado a ou- tros métodos de pesquisa. Em sequida so apresenta- das as etapas para a realizacao do Focus Group e algu- mas consideracées finais. FOCUS GROUP NA PESQUISA QUALITATIVA: VANTAGENS E DESVANTAGENS [Na pesquisa em gestao, especialmente em marketing, © Focus Group e outros métodos qualitativos séo conside- rados, com frequéncia, como utlizéveis preliminarmente ‘ou como uma ferramenta exploratéria, devendo seus re- sultados serem verficados por meio de um trabalho quan- titative, em uma amostra representativa. Do ponto de vis- ta da ciencia social, ee ¢ utiizavel pelo seu proprio con- tetido e como um complemento para métodos tanto qua ltativos quanto quantitativos. Atualmente, para a ciéncia social as duas principals tecnicas de coleta de dados qualitativos s8o a entrevista individual e a observaco participante em grupos. O Focus Group, como uma entrevista em grupo, combina elemen- tos dessas dias abordagens. Aaplicacao dessa técnica, nesse caso, permite coletar dados em curto espaco de tempo e em quantidade ade- ‘quada, embora nao se possa argumentar com plena con- viccdo sobre a espontaneidade das colocacées emitidas pelos participantes. Apesar disso, algumas das informa- es registradas via Focus Group serao potencialmente de grande valia, visto que dificilmente seriam coletadas através da simples observacdo da realidade. Focus Group propicia riqueza e flexibilidade na co- leta de dads, normalmente néo disponiveis quando se aplica um instrumento individualmente, alm do ganho em espontaneidade pela interacéo entre os participantes. Por outro lado, exige maior preparac3o do local, assim como resulta em menor quantidade de dados (por pessoa) do que se fosse utilizada a entrevista individual. No quadro a seguir sio apresentadas as vantagens ¢ desvantagens do Focus Group, de forma geral, em relacio aos demais métodos de pesquisa Vantagens e Desvantagens do Focus Group Pe Pree . Fonte: Elsbora part de Kreger (19) © Morya (188). ‘Apesar das desvantagens enumeradas (especialmente quanto & espontaneidade e a dificuldade de reuniéo, assim, como ao razoavel esforco de preparagao e de planeja- mento}, a aplicacdo do Focus Group possibilita a coleta de dados interessantes, os quais aportam uma conviecdo 20 pesquisador ou analista e lhe fornecem subsidios para a elaboracao de hipéteses ou a construcao de instrumen- 2 evista ce Administrapdo, Sao Paulo v33, n3, 83.51, julho/sotomro 1998 FOCUS GROUP — PESQUISA QUALITATIVA: RESGATANDO A TEORIA,NSTRUMENTALIZANDO 0 SEU PLANEJAMENTO tos ou mesmo de referenciais ou frameworks que permi- tirdo avancar as investigagées. USOS DO FOCUS GROUP NO DESENHO DA PESQUISA © objetivo do Focus Group @ obter 0 entendimento dos patticipantes sobre o t6pico de interesse da pesquisa, nao importando se é utilizado sozinho ou em conjunto ‘com outros métodos, nem mesmo se busca questées ou respostas. Como ja discutido, ele pode ser considerado como um método de pesquisa com contetido proprio ou como uma técnica de coleta de dados que pode ser usada ‘em conjunto com outros métodos. ‘Como um método com conteado proprio, o Focus Group pode ser usado para explorar novas reas de pes- quisa e examinar questdes de pesquisa bem conhecidas a partir da perspectiva dos participantes. (© Focus Group, em conjunto com outros métodos, também pode ser usado como uma pesquisa pretiminar para preparar quest6es especificas em um grande projeto ou como uma pesquisa para esclarecer resultados de ou- tos estudos. Cada vez mais os pesquisadores esto reconhecendo ‘as vantagens de associar métodos qualitativos e quantitat- ‘vos (Freitas, Cunha & Moscarola, 1996; Stumpf & Freitas, 1996), resultando em misturas metodolégicas que forta- lecem 0 deseniho da pesquisa, Nesse contexto, 0 Focus Group pode (Morgan, 1988; Krueger, 1994; Greenbaum, 1993}: + preceder um método quantitative — auxilia o pes quisador a aprender o vocabulério e descobrir 0 pensa- ‘mento do piblico-alvo, além de fornecer indicios de pro~ blemas especiais que podem ocorrer na fase quantitati- va. Os estudos quantitativos que sucedem o Focus Group capacitam 0 pesquisador a fazer inferéncias bem-focadas sobre determinada populagao; + ser utilizado a0 mesmo tempo que procedimen- tos quantitatives — quando o objetivo é atriangulacéo, (ou seja, 0 uso de dois ou mais métodos diferentes — de forma complementar — para uma mesma questo de pesquisa; + suceder um método quantitative — nesse caso, 0 Focus Group pode explorar ou esclarecer questes que tenham emergido na andlise dos resultados do método quantitativ. Enfim, pode-se afirmar que o posicionamento do Focus Group no desenho da pesquisa é definido pelo objetivo de sa aplicagao, Merece, pots, ser precedido de reflexdo sobre papel que desempenharé no roteiro de estudo e sobre a expectativa de uso dos seus resultados. Nos itens a seguir, bbaseados na abordagem de Morgan (1988), so apresen- tados alguns dos motivos que podem levar a associagso. do Focus Group com outros métodos de pesquisa. Focus group e entrevista individual 0 Focus Group pode contribuir para um projeto cons truido em torno de entrevista individual, especialmente na fase de planejamento do roteiro dessa entrevista. Nesse caso, a idéia 6 usar pequeno ntimero de grupos explora: torios em estagio inicial da pesquisa para, mais tarde, ori- centar a construcéo das questées da entrevista. Essa situa So apresenta maior utilidade quando o t6pico ou a poptr lagdo n&o foram extensivamente estudados no passado ou ‘quando o pesquisador é novo na area. Pode-se, também, utilizar a vantagem de tempo do Focus Group em relacao a entrevista individual para com parar diferentes grupos de participantes. Uma rodada pre- liminar com Focus Group forneceré a base para a selecso dos grupos para as entrevistas mais detalhades. ‘Outra forma de associar © Focus Group com a entre- vista individual € conduzir os grupos como um adicional, para as entrevistas. Tal atitude permitira a0 pesquisador explorar questdes surgidas na anélise das entrevistas, vi sando esclarecer reas que ainda apresentam pontos de vista obscuros. Focus groupe observagéo participante principal auxilio oferecido pelo Focus Group para um projeto baseado em observacdo participante é a per- cepcao do pensamento dos membros do grupo concen trado sobre o topico objeto da investigagdo, em tempo ‘bem menor. Isso pode ser especialmente itil no inicio de ‘um novo projeto, por fornecer experiéncias tipicas da area, perspectivas do que sera observado. Quando 0 Focus Group for utilizado precedendo a observaco participante, seu objetivo seré auxliar na cect so entre situagées alternativas para a realizacéo dessa ‘observagio. Por ser itil como um meio de implementar ‘um método de comparacao, faclita a escolha ou a deciséo do pesquisador quanto & forma de trabalho a ser sequida. No caso da utilizaco do Focus Group depois da reali- zacho de certa quantidade de observagées participantes, ‘seu objetivo seré auxiliar na comparagao das observacoes J registradas. Nesse caso, as reunides devem ser feitas ‘com 0s envolvidos em cada uma dessas situades de ob- servagéo. Focus groupe survey Na literatura especializada @ recomendado 0 uso de Focus Group paraa concepcao de questionarios, Ele pode ajudar na construgao dos mesmos, fornecendo evidencias Revista de Administracdo, So Paulo 33, n.3, .88-81, julnsetembo 1998 85 otas& comunicapdes de como os respondentes posicionar-se-8o quanto ao t6- pico em questo, No entanto, seu uso mais importante em relacdo a uma survey é quando a antecede visando garantir, dentro do possivel, que 0 pesquisador tenha um quadro completo do pensamento dos participantes. Focus Group pode também ser aproveitado em ou- tras fases da pesquisa survey, além das preliminar e exploratéria. Deve-se, nesse caso, ampliar 0 pré-teste ne cessério para avaliar o instrumento da pesquisa. Se os pesquisadores no estiverem familiarizados com o t6pico objeto da investigagéo ou se a linguagem das questées for tum problema, seré ento aconselhével montar um grupo para discusséo dos itens cruciais do questionério antes do pré-teste em campo. A facilidade em detectar se os pat ‘ipantes entenderam a questéio como o pesquisador a en- tende é uma das vantagens do uso do Focus Group para o pré-teste, O préteste com Focus Group néo s6 possibilita identificar os problemas, mas também permite explorar, imediatamente, como resolvé-los. Nos estagios mais avancados da survey, quando os da- dos ja estiverem coletados e a anzlise tiver iniciado, o Focus Group podera servir como uma forma adicional de coleta de dados, buscando explorar aspectos da andlise. Isso pode ser especialmente importante quando os resultados consti tuem um quebra-cabeca para o pesquisador. Focus groupe experimento Embora praticamente inexista reconhecimento do po- tencial valor do Focus Group na pesquisa experimental, de fato constitui uma das aplicacdes-chave das pesquisas experimentais de Merton (apud Morgan, 1988). De for- ma andloga & associag3o com a pesquisa tipo survey no desenvolvimento das questdes do instrumento, o Focus Group pode ser usado preliminarmente para definir ma- nipulagdes da variével independente e medir as varisveis, dependentes quando associado a um experimento, (0 Focus Group também pode servir para fornecer efe- tivo substituto para a especulagao, na tentativa de explicar resultados anormais. Outra vantagem de combinar o Focus Group com os experimentos esté em aumentar a inter- pretacéo de como os efeitos induzidos de maneira experi- mental realmente operam. Como ocorre na combina¢o com outros métodos, 0 objetivo é comparar as interpreta- .gSes do pesquisador e dos participantes sobre o evento, ETAPAS PARA A REALIZAGAO DO FOCUS GROUP Neste t6pico serio abordadas questdes do tipo como realizar o Focus Group e o que fazer com os dados pro- duzidos por ele. Pode-se dividir 0 Focus Group em trés etapas: plane jamento, conducdo das entrevistas e andlise dos dados. O planejamento é critico para o sucesso do Focus Group, pois nessa fase 0 pesquisador considera a intencdo do es- tudo e 0s usuérios da informagdo, além de desenvolver tum plano que guiaré o restante do processo da pesquisa, incluindo a elaboragao das questées e a selegao dos parti- cipantes. A fase de conducao consiste na moderacio das reunides. Apés essas sessdes, na fase de anélise, sio rea lizados as transcrigées, 0 tratamento dos dados ¢ a elabo- racao do relatério. Planejamento para a realizagao do focus group Cuidados com o planejamento da atividade néo garan- tem bons resultados, mas uma abordagem desatenciosa ppara o desenho e a execucdo muito provavelmente produ- 2rd resultados inadequados. Os dois fatores mais comuns que afetam a habilidade de planejar o Focus Group s80 0 orcamento ¢ as restriges de tempo, mas existem ‘outros menos ébvios (Morgan, 1988) O planejamento comeca pela reflexdo sobre o propésito das reunides ¢ € seguido pela organizagao desses pensa- ‘mentos de maneira lagica e seqiiencial. Nessa reflexo de- ‘ver ser respondidas perguntas do tipo: “Por que tal estudo deveria ser conduzido? Que tipos de informagées seréo pro- duzidos? Que tipos de informacées sio de particular impor- tancia para a pesquisa? Como essas informacées serao util zadas? Quem deseja essas informacées?” (Krueger, 1994), A partir da definigao do propésito do Focus Group, pas- ‘se ao detalhamento de aspectos relacionados com ai sua tealizacdo: “Como localizar 0s participantes? Considerar as ‘pessoas em categoria inica ou em diferentes categorias? Se ‘optar por categoria Unica, imaginar como elas senti-se-Bo: que cuidados devem ser tomados? So necessirios incenti vos? Quais? Onde seria o melhor local para a discusséo? Quais seriam boas questées para serem feitas? Que tipo de pessoa deveria moderar as sess6es?” (Krueger, 1994) No planejamento do Focus Group deve-se desenvol- vver um plano cronolégico, incluindo as atividades de de- senvolvimento das quest6es, identificacao das caracteristi- cas dos participantes, obtencéo da lista dos potenciais participantes, recrutamento dos participantes, realizacio das reunides, feedback do planejamento, transcrico, ané- lise e redacdo do relatoro. A seguir so abordados, com maior detalhe, aspectos relacionados ao planejamento do Focus Group: o nizme- 10 e 0 tamanho dos grupos, quem sero os partcipantes, nivel de envolvimento do moderador, contetido da entre- vista, selecdo do local e coleta dos dados. Quantidade e tamanho dos grupos A quantidade de grupos é uma das primeiras questoes do planejamento a ser discutida, por ser necessério pen- 86 Revista de Administracao, Sto Paulo v33, 3, .8201, juha/setembro 1998, FOCUS GAOUP — PESQUISA QUALITATIVA:RESGATANDO A TEORUAINSTRUMENTALIZANDO O SEU PLANEJAMENTO sar no grupo como a principal unidade de andlise na pes quisa Focus Group. Isso é verdadeiro no sentido estatisti- coe, também, em termos de praticabilidade. Nas pesqui- sas da area de marketing 0 némero de grupos varia ‘em funcSo das reunides estarem ou nao produzindo no- vas idéias. Se o moderador pode antecipar com clareza (© que sera dito no proximo grupo, entdo a pesquisa est encerrada, 0 que normalmente ocorre apés o tercel- 10 ou quarto grupo ou sesséo (Krueger, 1994; Morgan, 1988; Greenbaum, 1993). E recomendavel que 0s grupos tenham tamanho mé- dio, isto &, sejam constituidos por seis a dez pessoas. Na definigdo do tamanho do grupo deve-se ponderar para ‘que ele seja pequeno o suficiente para todos terem a opor- tunidade de partilhar suas percepcdes e grande o bastante para fornecer diversidade de percepdes. Quando nt ‘mero de integrantes exceder a doze pessoas, ¢ aconselhé: vel dividir o grupo. Em grupos pequenos 0 pesquisedor pode identificar o pensamento de cada participante sobre © tépico da pesquisa, embora corra o risco de ser menos pprodutivo e ter mats gastos. A dificuldade de gerenciamento do grupo aumenta quando ele € maior, normalmente exi- ¢indo envolvimento mais intenso do moderador que deve ter maior experiéncia para manter a disciplina e, princi- palmente, impedir 0 surgimento de conversas paralelas (Oppenhein, 1993; Morgan, 1988; Krueger, 1994; Mattar, 1994; Tull & Hawkins, 1993) Pode-se dizer, em {ungdo desses argumentos, que os limites extremos para a quantidade de participantes por grupo seriam de quatro, no minimo, e doze, no maximo. E adequado convocar cerca de 20% de pessoas a mais para haver garantia do nimero minimo, Esse percentual pode variar dependendo de onde os grupos sio conduzi- dos, quem séo os participantes e quao vital é o tamanho do grupo pata o desenho da pesquisa. Caso todas as pes- ‘soas convidadas para a sesso comparecam, consideran- do o recrutamento de nimero maior de participantes que co necessario, pode-se pedir para algumas (as excedentes) aque respondam por escrito 8s questdes do rote, em outa sala. Isso desconsiderando 0 caso de se dispor de condi- ‘goes para a realizacao de sessoes em paralelo, seja por falta de infra-estrutura, seja por falta de moderador prepa- rado pata tal, seja ainda porque o grupo néo seria forma- do adequadamente com aqueles excedentes. Participants A escolha de quem participaré do estudo deve ser feita conforme o propésito da pesquisa. Além disso, deve ser considerada a necessidade de segmentar os participantes ‘em categorias, por fatores tradicionais, como localizacso, geogratica, idade, tamanho da familia, status, sexo ete.) Uma alternativa para a obtencao da resposta 4 questo de rmisturar ou nao as categorias € a utlizagao de um grupo rmisto para pré-test: se os participantes néo diferirem sig- nificativamente, existir8o entéo poucos argumentos para separat os grupos. O conselho mais apropriado a respeito de tal aspecto é: cada partcipante deve ter algo a dizer sobre o tépico da pesquisa e sentirse confortével para falar com os outros. Contudo, iss0 néo significa que os participantes devem ter a mesma perspectiva, o que tor- natia a discussdo improdutiva, 'Na selegdo dos participantes salienta-e o viés da amos- tra, que no seré generalizavel. Morgan (1988) aconselha © pesquisador a “concentrar-se naqueles segmentos da populacao capazes de fornecer informagdes mais signif cativas". Dessa forma, 0 pesquisador deve ter 0 cuidado de nao interpretar os resultados obtidos como sendo re- presentativos do universo. Outra decisdo a tomar ¢ sobre 2 utlizagao de pessoas estranhas ou conhecidas em um ‘mesmo grupo. A regra geral dz ser melhor trabalhar com estranhos. Normalmente, as pessoas que se conhecer, socialmente ou do trabalho, apresentam difculdades em se concentrar imediatamente no t6pico da pesquisa e essa condigéo pode, também, inibir ou restringir sues percep «6s (comentarios) O recrutamento dos participantes pode consumir bas- tante tempo quando populagdes especializadas ou dese inhos experimentais forem usados. Deve ser desenwvolvido tum questionério para 0 recrutamento dos participantes Esse instrumento deve ter de quatro a seis questées de ‘caréter eiminatério, ou seja, que identifiquem se a pessoa convidada possui ou ndo as caracteristicas indispensavels para partcipar das sess6es. Nivel de envolvimento do moderador nivel de envolvimento do moderador é sempre tratado como um continuum. Em um dos extremos ele. @ baixo, desempenhando 0 moderador pequeno papel —fazendo a discussao do grupo progredir e observan- do para que seus comentarios, na medida do possivel, sejam néo-diretivos —; e no outro é alto, quando 0 moderador controla os t6picos discutidos e a dinamica, da discussio, (Os pesquisadores devem identificar © que querem ob- ter como material das entrevistas e, entio, decidir sobre 0 envolvimento do moderador segundo esses objetivos. O baixo envolvimento € importante quando os objetivos enfatizam a pesquisa exploratoria e também quando in~ cluem a anilise de conteido. Alternativamente, 0s altos niveis de envolvimento so mats apropriados quando ex! te forte agenda a ser cumprida, como comparar 0 pensa- mento de novos grupos de patticipantes com 0 que tem ‘sido encontrado em sessées prévias. Se os objetivos da pesquisa néo fornecerem uma resposta definitiva, a aten- Revista de Adminstrapi, Sdo Paulo 83, r.3, p.83-91, uholsetembro 1996 7 otas & comunicapces ‘go devers ser direcionada para os prés ¢ contras de cada intensidade de envolvimento (Morgan, 1988). problema mais comum do alto envolvimento é que © vis do moderador produzirs dados que reproduzirso esse viés. Um ponto a favor do alto envolvimento ¢ a faci- lidade de interrupgao das discusses néo-produtivas, pro- movendo a discussao do tépico de maior interesse do pes uisador. O alto envolvimento também tem a caracteristi- ca de assegurar que alguns tépicos desejados sejam abor dados. Finalmente, permite ajustes na discussio, depen- dendo do nivel de homogeneidade dos participantes. ‘Quanto ao baixo envolvimento do moderador, a maior vantagem é a facilidade para a avaliagao do interesse dos préprios participantes, mostrando se eles organiza na- turalmente suas discusses em torno das mesmas coisas relevantes para 0 pesquisador. A maior desvantagem do baixo envolvimento é que esses grupos, por serem relati- vamente desorganizados em seu contetido, sé mais dif ceis de analisar, o que é ainda mais evidente em grandes grupos. Implicito em toda essa discusséo esta o uso de um ou mais moderadores para conduzir as sessbes. Embora seja preferivel, com 0 propésito de comparacéo, a utlizago de um tinico moderador, isso no é possivel — nem dese- javel — em grandes projetos. Nesse caso, & aconselhavel que a primeira ou as duas primeiras sessdes sojam conduzidas por um moderador sénior e assistida pelos demais, e que esse moderador senior assista & primeira sesso dos demais moderadores (Krueger, 1994) pesquisador deve refletir sobre 0 grau de envolvi- mento do moderador, pois se estiver pensando em um formato altamente estruturado deve optar por entrevistas individuais e se o formato for altamente no-estruturado a escolha deve ser por observacdo participante. Conteido da entrevista Merton (apud Morgan, 1988) apresenta quatro aspec- tos a serem observados na entrevista de Focus Group: abordar 0 méximo de tépicos relevantes; fornecer dados to especificos quanto possivel; promover interacéo que explore os sentimentos dos participantes em alguma pro- fundidade; e levar em conta o contexto pessoal usado pe- los participantes para gerar suas respostas. Os t6picos da discussao devem ser cuidadosamente predeterminados e seatienciados, com base na analise da situaco. O objetivo aqui é construir uma entrevista que cubra o tépico particular, enquanto fornece observagses que satisfagam a ampla demanda de um efetivo Focus Group. A restrigao mais evidente a0 contetdo da entre- vista é a duragao da sess8o: entre uma e duas horas, Seria interessante planeiéla para uma hora e trinta minutos, ‘mas dizer aos participantes que durara duas horas. et evista de Adminstrag Para a conducdo das sessdes pode ser elaborado um guia de tépicos ou um roteiro de questées. No guia de t6picos devem ser listados aspectos ou questées formados apenas por palavras ou frases que lembrem ao moderador © t6pico de interesse. Essa forma parece mais espontinea para os participantes, bem como mais adequada quando ‘© moderador for 0 mesmo para todas as sessbes (pois as formas diferenciadas de abordagem podem causar vieses nos resultados). O roteiro de questdes deve apresentar uma seqjiéncia das mesmas (frases completas), para que se possa obter 0 exato contetido desejado, o que permite andlise mais cficiente por eliminar diferencas de inguagem; é mais apro- ppriado quando forem varios os moderadores das sessoes, (ory eeee ame ed oleh mR nea eee participantes sobre o tdpico de interesse da pesquisa, nao aga Re Ee er CRU mR ed eM ee a) Caen ee eres Para o Focus Group com alto envolvimento do mode rador seria til organizar os t6picos da discussdo em um roteiro que ele deveré seguir em ordem similar para todos os grupos, como em uma entrevista individual. A estrutura imposta pelo roteiro para a discusséo é valiosa para a ané- lise da interac&o do grupo e para as comparagées entre os ‘grupos na fase de andlise da pesquisa. Um bom roteiro cia uma progressao natural entre os t6picos, com alguma sobreposicao entre os mesmos — uma diviséo artificial da discussao frustraria 0 propésito de usar a sesso em grur po. Um valor adicional do roteiro seria assegurar consen- so entre os varios membros do time de pesquisa com rela- (G0 0s t6picos a serem cobertos e ao nivel de detalhe. O roteiro deverd ser preparado a partir de uma lista de ‘questdes a serem respondidas, as quais deverdo ser orga- nizadas em grupos de tépicos e ordenadas em uma se- aiiéncia légica. O moderador devera tomar cuidado para no seguir de modo rigido a ordem predeterminada dos t6picos no roteiro, pois isso seria uma abordagem impr6- pria para o Focus Group. Durante a introduco, 0 moderador devera fazer uma breve apresentacdo dos topicos de discussdo e colocar al gumas regras bésicas, como: somente urna pessoa falaré ‘So Paulo v3, n.3, .89-91, juolsetembro 1998 FOCUS GROUP —PESQUISA QUALITATIVA:RESGATANDO A TEORIA,INSTRUMENTALIZANDO O SEU PLANEJAMENTO por vez, ndo deverio existir conversas laterais, todos de- vero ser encorajados a falar etc. O grupo deverd ser co- municado que a sessao seré gravada ou filmada. A discus- sho deverd comegar com a auto-apresentacao de cada par- ticipante, 0 que também serviré como quebra-gelo, Os retardatarios poderdo causar problemas, por isso uma re- gra simples seria nao incluir os que chequarem apés 0 termino das apresentacdes. {A etapa seguinte sera a discussso propriamente dita ‘A transigao das apresentagées para as discussdes depen- dera do nivel de envolvimento do moderador: + baixo envolvimento do moderador — ele devera apresentar o primeiro topico, que sera seguido por dis- ccusséo ndo-estruturada até a introduco do segundo topi- co, @ assim sucessivamente; + alto envolvimento do moderador — nesse caso, 0 roteiro torna-se muito importante. O topico inicial, in troduzido pelo moderador, sera fundamental para 0 ini- cio da discussao e devera ser de cunho geral. A partir da

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