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O amigo que me enviou o seu livro disse-me que ele era renascente, isto ,
filiado na corrente da R[enascena] P[ortuguesa] mas eu no creio. . .
E faz muito bem. Se h gente que seja indigna [?] da minha obra essa.
O seu amigo insultou-me sem me conhecer comparando-me a essa gente.
Eles
so msticos. Eu o menos que sou mstico. Que h entre mim e eles? Nem
o sermos poetas, porque eles o no so. Quando leio Pascoaes farto-me de
rir.
Nunca fui capaz de ler uma coisa dele at ao fim. Um homem que descobre
sentidos ocultos nas pedras, sentimentos humanos nas rvores, que faz
gente dos montes e das madrugadas (. . .) como um idiota belga dum Verharen,
que um amigo meu, com quem fiquei mal por isso, me quis ler. Esse ento
inacreditvel.
A essa corrente pertence, penso, a Or[ao] L[uz] de Junqueiro.
Nem poderia deixar de ser. Basta ser to m. O Junqueiro no um poeta.
um [. . .] de frases. Tudo nele ritmo e mtrica. A sua religiosidade uma
coisa. A sua admirao da natureza outra coisa. Pode algum tomar a srio
um tipo que diz que (. . .) da luz misteriosa juntinho ao altar de Deus. Isto no
quer dizer nada. com coisas que no querem dizer nada, excessivamente nada,
que as pessoas tm feito obra at agora. preciso acabar com isso.
E Joo de Barros?
Qual? O contemporneo. . . A personagem no me interessa. Detesto-a,
como o futuro e o destino. A nica coisa boa que h em qualquer pessoa o
que ela no sabe.
s. d.
Pessoa por Conhecer Textos para um Novo Mapa . Teresa Rita Lopes. Lisboa: Estampa,
1990: 359.
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