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A sociologia e a moderna teoria dos sistemas Boexey, Walter. Trad. de Octavio Mendes Cajado. Universidade de Sio Paulo, Editora Cultrix, 1971. 307 p. A influencia da matemitica nas eiéneias sociais constitui sempre um tema polémico e atual. Desde que se estabelecen a ruptura entre ciéncias hu- manas ¢ filosofia & pretensio dos cientistas sociais maior cooperagao centre as areas das chamadas ciéneias exatas com a area das ciéneias hu- manas ¢ sociais. Essa discussio tem sido colocada sobretudo tendo em vista a defasagem geracional entre as ciéncias de uma maneira geral Enquanto aquelas possuem longa tradigio ¢ sofisticagio metodolégica, rada através de varios e varios séculos, as ciéncias sociais nascem jas ciéneias naturais ¢ sob sua influéncia, influéncia essa que tem se refletido até nossos dias. Hoje, na area das ciéncias sociais, temos acompanhado com atengao © desenvolvimento de duas ciéncias — especificamente a economia e a lingufstica — que passaram a gozar um status especial e privilegiado em relagio as outras ciéncias sociais na medida em que conseguiram.ultra- assar a barreira que as separava das ciéneias exatas e lograram formu- Er, também, de certa forma, um meétodo positive, prépro a suan and: lies Resta-nos perguntar porque a sociologia, ¢ até certo ponto outras cigneias sociais, ndo seguiram o exemplo da economia e da lingnistica na formulagio de sistemas de andlises mais ajustadas as necessidades de verificagdo cientifica, pois essas ciéneias adquiriram uma posigio. meto- dolégica especial no’ ambito das ciéncias sociais, conseguindo empregar férmulas precisas e eficazes no tratamento de seus objetos, tanto quanto qualquer fisico ou matemitico. A isso Walter Buckley responde quando formula sua critiea a todas as escolas anteriores. O caminho de maior aproximagao das ciéncias exatas é 0 proposto por ele. Fundamentalmente, sua obra A sociologia ¢ a moderna teoria dos sistemas esti dividida em duas partes, A primeira, contendo inteligente critica aos modelos de tipo organismico de equlibrio mecinico. Isto porque podemos afirmar ge oF site solocltumis ex trgos fendamentae Saks em x \¢80 0s sistemas fisicos e aos organismos biolégicos. “Que um ou outro desses modelos inspirasse a teorizagao nas fases iniciais da sociologia cien- tifica, ¢ assaz compreensivel” — diz Buckely; mas a tentativa de fundir tanto’ os modelos meciinicos quanto 0s orginicos na mesma estrutura teérica, como hoje se faz, nao é apenas contestivel, em vista dos seus imimeros pontos de incompatibilidade, sendo também retrégrada em face dos moderos progressos na metodologia sociolégica. Os recursos dos funcionalistas & analogia organismica leva-os, além disso, a dar énfase exagerada aos aspectos normativos mais estaveis, superdeterminados € sustentados, do sistema social, as expensas de outros, igualmente impor- tantes, sem’ os quais é impossivel a andlise dindmica 10 RAP. 3/73 Assim como a personalidade humana é capaz de abrigar ponderaveis, incompatibilidades no que concerne as idéias, crengas, atitudes e ideolo- ¢gias, sem que isso influa na eficdcia do seu funcionamento, também os sistemas socioculturais podem abarcar largas diversidades e incompatibi lidades, embora se mantenham surpreendentemente persistentes por lo gos periodos. Um sistema social nao possui uma estrutura fixa, “normal Em contraste com o sistema organismico, os sistemas sociais caract zam-se primordialmente pela propensio a mudar sua estrutura durante sua existéncia culturalmente continua. E a partir dessas eriticas muito bem formuladas © objetivamente cen- tradas que Walter Buckley propoe, na segunda parte do livro, a substi- tuigio de todos os modelos que levaram as formulagdes da Escola Fun- cionalista, pelo que se designou chamar teoria dos sistemas, caleado, prin- cipalmente, nas teorias de informagio, eibernética e nas modernas teo- rias de comunicagio. O funcionalismo, enquanto método de anilise, no forneceu a possibilidade de captar simultaneamente os aspectos dindmi- cos e estiveis da estrutura social. Isto porque suas abordagens ficaram presas ao capital intelectual dos ‘séculos anteriores, enfatizando © equi- ibrio e 0 consenso nos sistemas sociais estudados. Para Buckley, o tra- tamento cientifico, somente levando em consideragao os aspectos estivois da estrutura social, coloca-se inadequado © nio vem mais contribuindo para maior desenvolvimento das ciéneias sociais. Sua critica 6 a catapulta de sua teoria, porque partindo de uma and- lise critica das abordagens metodolégicas anteriores, Buckely voltar-se-i posteriormente para a definigao, ow melhor, explicitagao da sia teoria dos sistemas ~ buscando auxilio também nas modernas andlises das ciéneias politica: A tori da realimentagio nio empuna o “tnt” para o fundo juadro, mas € capaz de lidar, especificamente, com 0 “atraso” e 0 “ganho” entre acontecimentos colidentes. O grande “atraso” pode ser conceituado como um afastamento das metas comuns tio anterior & ocor- réncia da corregio realimentadora que sé uma reagio violenta, como por exemplo, uma revolugdo, poder trazer o sistema social a um estado mais vidvel, orientado para as’ metas ‘A apreciagio cabal da fungio e da natureza da realimentagio per- mite ‘unt ataqe relativamente objetivo ao problema de avallagho «da corregio do “atraso” no sistema (p. 89) ‘© modelo de sistema que, acertadamente, Buckley define como socio- cultural — pois elimina a dicotomizagio entre socicdade ¢ cultura — é visto como um sistema adaptativo e multivariado. Um sistema est sem- pre elaborando padrdes de valores, de agdes ¢ de interagées. O enfoque que é dado na teoria dos sistemas de Buckley, mesmo langando seus tenticulos nas modernas teorias da cibemética e da comunicagio, no abandona 0 antigo acervo metodolégico das ciéncias sociais. Por outro lado, se estamos de acordo, e bem compreendemos o esforgo tedrico e as intengdes de Buckley na primeira etapa de sua obra, 0 mes- ‘mo nao poderemos afirmar em relagio & segunda parte — onde, propria- Resenhe bibllogrdfica am mente, esti exposta toda a teoria — que sem chegar a ser i nao delimita um caminho preciso em termos de maior sistematizagao me todoligica. Porém, a ansénea, sent por nds, dessa sistematizagio nao el imina 0 grande mérito de sua obra, que se inscreve como pega indispensivel a0 progress das ciéncias sociais. Pois o futuro das ciéncias € fundamentalmente das ciéncias sociais justifiea plenamente o estimulo a0 desenvolvimento de teorias eriticas como a apresentada por Walter Buckley em A sociologia ¢ a moderna teoria dos sistemas. Aurasin V. Racer AMERICA LATINA — SEUS ASPECTOS, SUA HISTORIA, SEUS PROBLEMAS Luiz Souza Gomes Uma visdo geral do Continente e andlises especiticas das diversas regioes, enfatizando acontecimentos e caracteristi- cas que afetaram a América Latina como um todo. Eventos € peculiaridades regionais s4o sempre tratados com pru- déncia e contencao, de forma a nao desvirtuar o intento pri- meiro que foi o de oferecer uma andlise geral do continente. Estudam-se aspectos geogréficos, Pré-Histéria e fatos his- t6ricos da América Latina, bem como seus caudilhos e revo- lucionérios, farrapos ou farroupilhas e a guerra das quatro nagées. Ha todo um capitulo contendo histérico dos congressos e conferéncias, a partir do Congresso do Panama convocado por Bolivar, em que se procurou configurar a unidade ame- rieana, ‘So ainda objeto de exame a Alianca para 0 Progresso e a revisao da politica pan-americana empreendida pelo Brasil, conhecida como OPA (Operacao Pan-Americana). Quando cresce em complexidade 0 panorama politico, eco- némico e social do continente, uma obra como a do Prof. Luiz Souza Gomes exerce um’ papel indispensavel junto a estudantes e leigos: 0 de oferecer uma visio clara, ordenada e didatica dos fundamentos sobre os quais assentaram e desenvolveram-se os intrincados problemas da América La- tina Contemporanea. Um langamento da Fundagao Getulio Vargas. 2 RAP. aira

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