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SUMARIO PRIMEIRA PARTE © DIREITO ROMANG ~ HISTORIA E FONTES Introdugto re serene HE 1, EPOCA DA REALEZA: PER[ODO DO DIREITO ROMANO ARCAICO - Jv/S CIVILE OU DIREILO QUIRITARIC... a 1.1 Evolugio sécio-politica da Roma antiga... a 1.1.1 A fundagio de Roma... a 1.1.2 A importincia da retigifio na sociedade romana... 29 113 As diferentes classes socials 3 LIAL Os patricia: 2 1.1.3.2 Os clientes 3 1.1.33 Os plebevs 3a LI34 Os escravos 5 1.1.4 Instituigdes politicas da. Realcaa .... 33 DAL DBI eerrerre serene 5 L142. 0 senado somano - 7 1.143 As assembléias popolares (conus). 37 12 O Direito Romano arcaico: jus civile ow direito quiritério B 1.2.1 A importincia da classe sacerdotal, ne 12.1.1 O Colégio dos Augures.. a 1.22 © jus civile-ou direito quiritfrio...... 39 2.1 Direitos exclusivos dos patricios . 40 2.2 Direito nl escrito (jus non seriprum) . 41 1.2.3 G descontentamento dos plebews az 1.3. Fontes do jus eivile ou direito quiritirio “4 13.1 Ocostume pcabanieataates 4 a4 1.32 As leis régins (leger regiae) .. i KY DIDATICOS Kemauledes te ditto reraia Lua Antonio Rel. S50 Paula : er 2000, Volumes} publicadas nesta Colegto, vide p. 295, PadesInfemaconais da CstslopasSo ma Pubcarte (CHF) (Cimara Brasitcira do Livre, $P, Brash ne 42 fice romans tf tis_Amronio, Rolin. — S50 RT Didicon) 0 ec dso 4. Diveto rimano. 1 Tile. 1 Sire sss eDUss4a7) ‘hes pare caldog scemitiws 1. Davao ranana GD) RT DIDATICOS LUIZ ANTONIO ROLIM INSTITUICOES DE DIREITO ROMANO EDITORA REVISTA DOS TRIBUNAIS 8 INSTITUICOES DE DIREITO. ROMANO 2. EPOCA DA REPUBLICA: PER[ODO DO DIREITO ROMANO PRE-CLASSICO ~ DIREITO PRETORIANO E DIREITO GENTES......, ase 21 Evalugio s6cio-politica de Roma na Republica i 2ZLI Instituissce politicoadministrativa .... s 2.11.1 Magistratura ordinsria - 21.02 Magistrate exteaordinsria 2113 0 senado roman sou. i raemee 21.14 As assembléias populares (coma). 22 0 Direito Romanono perio da Replica: odirto preteriane 01 direito hanendic & 221 O diteito pretoriana 222 O direito das gentes (js gentinan 2.3 Fontes do Direite Romano pré-cldssico 23.1 © costume .... a 23.2 A Lei das XU Tébuas 23.21 Tribuno da plebe 2.33 As leis comiciais.. 2.34 Edito dos magistrados 235° Senatos-consultos .. 3.1. Perfodo da Principade (de 27 aC. a 284 dC) 311.1 Bvolugio edcio-poltia . 3:12 Institbigses poltico-administraivas &o Priscipade 3121 O principe. 3.1.22 A magistratun . 3.1.2.3 0 sensdo 3.1.24 As assembléins populares (comita).. 3.2. 0 direito jurisprudenciat 3.21 Jus respondendi ex auetoritate prin 3.22. Jurisconsutis farosos 3.23 Escolas doutrintrias... 33 Fontes do Direito Romano wo Principado Se@e2saungeny BUe = sszseeaag aaa 332 333 334 3.4.5 336 34 A influéncia grega no Direito Romano 341 39 Periodo do Daminato (de 284 a 565 dC). 35.1 352 353 4. 0 DIREITO CopIFICADO 4.1 Codificagses pré-justiniandias aul SUMARIO costume... - - Ale Ens eng AS consttuig6cs impériais (conssinuionts on. 333.1 Rescripea (reescritos) i 3332 Decremm 33.3.3 Editos impedais 33.34 Mandasa (mandaios) .... Scnutos-consullos Editos dos magistrados Jurispraddncia... A influéncia de Arist6teles...... Evolugto sdei-politiea.... Instituigées politicas do Dominaxo 3.5.21 Cargos da magistratuca, 3322 0 senado 3.5.23 As assembléias populares ‘ Fontes do Diteito Romane no pérfodo do Dominato.. 353.1 ConstituipSes imperiais (teges) 353.2 Jurisprodéncia 35.33 Costume .. Corificaybes particutares 4141.1 Fragments Vaiieana . . 44.1.2 Collatio Legum mosaicaram et romananuns (Com- ‘paragdo das Jeis romanas e mosaieas) 0. ALLL Livro de direito siro-romano 14 Consultatio veteris ewiusdame jurisconsultl (Rte- perro de consultas dads por um antigo Jurisconsuttoy ... 4.1.1.5 Cédigo Gregoriano (Codex Gregorianus) ..... ALL6 Cédigo Hermogeniano (Coder Hermagenianus). ‘Codificagdes offciai..... 2 4.12.1 Ciidiga Teodosiano (Coder Theodosianus) 4.1.22 Leis romans “bérbaras* 10 WWSTITUIGOES DE DIREtTO ROMANO 42 Codittcagae justiniandia silt BY 4.2.1 © Corpus turés Civils — 0 421.1 O nove Cédigo de Justiniano ou Couex Venus (Cédiga Velho)... 2 re a 4212 Quingucginte decisiones (Cinqienis decistes) 92 421.3 0 Digesro cu Pandecias - 92 4204 As faztlvtas 2 9a 42.16 At Novelas 93 43. As grandes invades 93 5. 0 DIREITO ROMANO POS-CLASSICO (476 4 1453.0)... 95 5.1 A Idade Médix no Império Romano do Oriente. 95 5.1.1 Direite bizantino ou direto justinianeu 2 95 © SLB Pardfrase de Te6tite (Paraplirasis Intiturionen) .. 6 513. Exloga legum comperdiaria : 96 SLA AS Basics a 96 52 A Idide Média no Ocidente 5.2.1.2 © Direito Romano o discito “bérbayo” $21.3 Tentative de Justiniano ow, 101 $22 0 dircito medioval: 0 costume do feudo . 101 5.2.2.1 Os ondétios ou jufzos de Deus 103 5.23 A inflncia da Igreja 10s 52:1 A influensia de Sania Agostino no Diteito Romano . 105 $232 A lgneja na Idade Média. 106 $233 0 direlto canénico..., : 107 ‘6 © RENASCIMENTO DO DIREITO ROMANO ... 109 6.1 Renascimento do Direito Romano na Europe ocidental 109 6.1.1 Escola dos Glosudotes ou de Bolonha . a 6.1.2 Escola das Plis-losadores (Bartoistas).. - 1a 6.1.3 A presenga de Santa Tomas de Aquino no renascim $9Ditio Rome, 6.1.3.1 Guilheere de Oekhamn (1290-1349) 119 1. 2 SUMARIO 62. O “segundo” renascimento do Dircito Romano... G21 Fontes do direito no Absolutisme...... 6.22 Escola Humanista af 623 Escola dos Préticos (sécules XVI © XVI). 624 Escola de Direita Natural (Escola Naturalists ou Jusnal alist... a epee 625 Escola Histdriea (principios do século XIX)... 626 Escola de Pandeetor ou Romanistas (séeulo XIX). A RECEPCAO DO DIREITO ROMANO PELOS DIREITOS - NACIONAIS.. . 7.1 A mecepgto do Direite Romano no Ocidente <7. A resepsla da Dircite Romane pelo dieeito pormgues 7.3 A reeepgio do Dircito Romano pelo direite brasileia SEGUNDA PARTE INSTITUIGOES DO DIREITO ROMANO CONCEITO DE DIREITO (JUS). 1.1 Conceito de dire 12 Ojureofas 13 Dial fastos & dias nefeste. “14 O conceito ds justiga 15. Diteito objetivo e direito subjetivo.. 16 Clussificapo do direita objetivo .. , 16.1 Quante & forma: jus serinaun © fur non sertpnun 1.62 Quanta ao inieresse: direito publico ¢ direito privadh.. 1.621 Jus elvile (aieito civil) e dirt pretoriano ou DIREITO DAS PESSOAS .... 21. Pessoa fisica oa natural. Conceito 21.1 Pressuspostos de existéncia da pessoa natural 2.1.2 Os direitos do nascituro 2.13 Extingta da pessoa tisiea 214 Capacidade jurdica © capacidade de fat il ng Ms 16 7 Ww WW 118 19. ng 122 125 129. 19 130 130 Bt BI 131 131 132 132 133 133 135 13s Bs 136 137 Be. - INSTITUIGOES DL DiREITO ROMANO 245 Cousas resteiivas da capacidaue de fate. oom 13s BAS Aidade ne 138 248.2 © sexo... wenn 139 215.3 Enfermidades fisieas ¢ monic oe 140 21.5.4 Frodigalidade .... . ui 245-5 Quirascausas testritivas da capacidacs de Tuo. tay 3 0 STATUS NO DIREITO ROMANO: 9 STATUS UBERTATIS... 143 31 0 sews 19 Direito Romano... say 32 Stews tibercaris. Conceite 33 A escravidio 18 isa is as 242 Open I 439 Manumissdo ou alforria._ 147 35.1 Formas solenes de manumiscto 147 3S.LL Per vindicta.. 147 35.1.2 Pela censo, lar 35.1.3 Por testamenta.... i 148 4.52 Formas nto solenes de manummiaie i 148 35.2.1 Inter amicus 148 143 3 ry 49 SUMARIO 13 LZ Latino. i 5 a iB 4.2 Aquisiglo do status civiratis.. 133 43 Perda do srams civitats ts BSTATUS FAMILIE essai a 135 SA Status fonifice ¢ 9 familia romana. © siaius fanuliae na socio. ade LOMA nnn onenpirann 155 5.2 As pessoas sul juris © alien juris 156 157 5% Parentesco. Agnatos.¢ cognates... ‘CAPITIS DEMINUTIO... 6 Copitis deminuti, Conceito.... 6:2 Capitis deminatio maria... 63. Copitis deminutio media 64 Copits deminuio minting... 9 CASAMENTO NO DIREITO ROMANO... 161 7.1 0 casamento no Diteito Romin. Histécico . 161 7.2 Bspéeies de easamento: cxm manu © sine manu 162 72.1 Casamento cum manu, 162 7211 Confarreatio..... 162 7212 Coemptio... 163 2213 Usus. 163 722 Casamento sine mance 163 7.3. As esponsdlias (spensalia) re 7.21 Aras esponsalicias (arrhze sponsaliciae) 7A Requisitos para @ casamento, 74.1 Jus comin 75. Impedimentos matrimoniais 7.5.1 Impedimentos absolutos.. 7.52 Impedimentar-relativos. oo 7.6 0 matriménio nos primeiros séculos da Fra Crist 76.1 AlleragSes introduzides por Just 1.7 DissolugSo do casamenco... 7.2.1 Dissolupo do easamento cian manu 7.42 Dissolujso do casamento sine manu , 167 SUMARIO 15 “4 INSTTUGOES DE DIRETO ROMANO 18 0 rpidion. stn vines 189 12 Res extra patrimomnen on 180 78 0 divércio.... pa on stcnen 168) M211 Res divint juris. 82 79.1 O divécio no seta jostnianew - m M212 Res hainaa jtis ve . 183 49.14 Divercio par mito consentimento tenant 11.22 Res in patriot swe sens 3 cr Seay VL 22M Ree maNcipl ese 13 79.12 Divércio unilsters! ou por culpa do eutro 1.22.2 Res moc mascipi 1B SORE em i mn 1.22.3 Kes corporate... 1A 29.L4 Divito bone prot... yi m 11224 Res incorporates... Isa 7.9.14 Repidio sem justa causa (pun sine usta 11225 Ret mabites (coisas méveis). tet ‘ sets ado on a 11.226 Res inimobides (coisas imdvels)....... ie aa M1227 Res fungibifes (coisas fungiveis) 134 eo 1.228 Res infimgibiles (coisas infungiveis) con 185 . Er esigil in 11229 Res divisiites (coisas divisive 185 232: Tusk estamereis 1L22.10 Res inafvsibiles (coisas indivisiveis)........ 183 eoenne TIE as : : £23 Tutela dstva ou honcediia i ig 11.2.2.11 Res principales (coisas principals) 185 83 Poderes ¢ devercs 6 tnor... Be U22.N2 Res ace8t0ris wosoorn senses (IM 9, CURATELA on vs 12, DIREITOS REAIS SOBRE COISAS PROPRIAS 186 Si Ciel Coa ia 12.1 Propsidade, Concetta, Hise... scene 186 99: Cussas da civiete id 122 spices de propedade cnn ST 9.21 Loacon de 1p 9 gtaure os 122.1 Propricdade quiitcia (domintame ax jore guirtium)..._ 187 9:22 Pridigos ie 12.22 Propriedade pretrisna ou bonitiia.. 188 93 Poderes e deveme do - ° is 12.23 Propriedade provi swoon 189 9A Curmtela dos menores de vinte © cinco ands .. i” Pcie ia aap aiacien eae mo 05 Gime themes dc crush, ia 12.3 A propriedsde no direito justinianeu...., o 189 G6 hows cage in 124 Dire inecentes ao direito de prapriedade 189 124.1 Jus uiendi ou nst.. wi 189 10. PESSOAS JURIDICAS ... enn 12.4.2. Jus frend. 8 190 | 101 Pessoas juridieas. Conceito. 1243 sux disponendi (ues abstendi - 190 102. Universias personarum 180 123 Propriedade ¢ dominio... tet 190 1021 Cocparagses de dieia pibieo 180 _ 1246 Limitasdes ua direito de propriedade 191 10.2.2 Corporagées de dlreito privado “ 180 12.6.1 LimitagSes de interesse palblico iat 103 Universizas rerum (conjunto ov agrupamento de coisas) BI 12.62 Limicagtes de interesse peivado 91 104 Heranga jacemte (heredinas javens) 181 12.7 Condominio. Co-propriedade it 191 11. DIREFTO DAS COISAS a. . 182 13, MODOS DE AQUISICAO DA PROPRIEDADE....... 193 TLL Canceito de coisa (res), sete 182 1 Modos convencionais de aquisig¢io da proprigdade even 193 182 13.1.1 Maneipadéo (mamipagt) enn ~ 1B 11.2 Chesisieagto, 16 INSTITUICOES DE DIREITO ROMANO. 15.42 in fure cersio {cessio cm julzo ou abondano da colea ponte o jui2) tintin HB HED Tindi¢20 (Wadia). moewsvwwrtunnnrrenc IQR 132 Mados mio cenveaciomis de auisigdo da propiedad 196 13.2.1 Ocupagto i er - 196 IS20.1 Rex audtins Sa Sa 196 W312 Res derelita oo... i 197 13.2.2 Acessto a 198 132.28 Acessio enue coisas mévsis gy 13.222 Acessio de coisas iméveis enire $i 199 13.23 Especiticagzo 2 200 13.24 Adjudicagie 201 1325 Usuecapio... 201 15.2.5.1 Requisitos parm a usueapito 202 13252 AA preeseriprio tongi temporis 203 253 A pracseripiio tongissimé temparis 203 1326 A defesa da propiiedade 0. 1326.1 Ago reivindicatsria (reivindicatioy 132.62 Agio negara (sctio negaroria) 1 13263 Cautio damai infecei wenere 204 13264 Operis movi munciatio (nunciagso de obre nova) an 204 14, POSSE 7 206 14.1 Coneeito de posse 206 142 Elemenios da posse 207 143 Modalidades de posse 27 207 207 208 14.4 Aquisiglo da posse. 208 1.5 Perda da posse . 208 6 Provepio da posse 200 14.6.1 Interditos de marutengio da posse. 209 146.161 Intendito nti possidetis. M4612 Interdito atta nn. 14.62 Interditos de récuperagio da pocse 146.21 Interdito unde sumo. 0 1462.2 Imtetdto de clamlestin porsesriene .... 349 14623 Interdito de precariog.... an 15. DIREITOS REAIS SOBRE -COISA. ALIA woos. 12 eT CEE nomenmmaianmuai ce Hy 152 Seeviddes prediais: Conceilo, Classifcasio........ 212 152.1 Serviddes prediais wranas (servitues, praedionom PB QMO REE) nnn et vow 21 15.22 Servidoes risticas ee 2a 1522.1 Servidso de passagem... _ m4 1522.2 Servitus aguacdactus..... 26 15.223. Servidus oquae hausienday ~ 24 15224 Servimus arena fondiendae enum 24 153 Servidées pessonis, Conceito, Classificasto . 214 153.1 Usurto .. us 1532 Uso.. 215 153.3. Mabitagaio. 21s 153.4 Servigos de escravos e de animais 25 154 Supertici, 216 5 216 cvtccnmenee QUT 16. DIREITOS REAIS DE GARANTIA SOBRE COISA. ALHEIA... 218 16.1 Alienaso fduciaria (fducia ccm creditore) 162 Penhor. 163 Hipotece 163.1 Ploralidade de eredores hipotecdsion 11. DIREITO DAS OBRIGAGOES, TRL Conceito de Obra G80 A eee 172 Elementos essencials das ebrigagtes 17.3. Modalidades de obrigagtes, 17.3.1 Obrigagto de dir (dare) 173.2 Obtigastio de fazer (facere) 173.3 Obvigagio de no fazer (uch facere) - 17.3.4 Obsigogia de prestar (oraestare) .... 174 Fontes des obrigapcs Ni. OBRIGACOES QUE SE ORIGINAM DOS CONTRATOS 18.1 0s contratas no Biseito Romano areaico.,....... 24 18, 39) INSITUIQOES, DE DIRETTO ROMANO MLD Nerwm 24 13.12 Spee nn “ 25 182 Classifieagie dos contralos 225 18.21 Contralos verbais : 3 225 182.11 Stipuiorio .. cere 26 IQA Dodie dictions coreennnnes 226 182.13 Promissia fice libers| : 226 2 Contras literals set 226 1822.1 Naming ranseripricia 27 182.22 Chiragraphune ~ OT 18.223 Ssnpraphiom. fs - m7 18.3 Eleniéntas de validade dos contratas CONTRATOS REAIS IB.1 Conceito de conteatos reas... 19.2 MMO 192.1 Cases espésiais de miitua 193 Comedate 4 mn 2300 184 Depésito.... 230 T94.1 Modalidades de deposit - 231 19411 Depésite nccesstiriow... 21 194.12 Depésica irregular. _ 2 19.4.13 Depésito-sequestro BI 19.5 Penhor..... . 232 19.6 Pid 196.1 Fidueia eum ereditore 19.62 Fiducia cum amicun.... 232 CONTRATOS CONSENSUAIS. 23 20.1 Conceit., 23 20.2 Contato de compra vends .. 233 202.1 Blementas do contrato.de compra.¢ venda 24 202.11 A coisa objeto da transept... _ BM 20.2.12 O prego (pretium)... m4 202.13 0 consentimento das pares 235 20.22 Am ou sinal 235 20.23 Obrigardes do vendedor..... soon 288 20.24 actos adjctos 20 contrat de compen e venda 236 ‘W2AL Pacto comissstio (lex eammiseria) . 236 24 suMAKIO M242 Mico de adutienpo (paca by dim widictio).. 20243 Icio de preferncia (acu prethymeseos). 202.44 Pucta a prova (uacrent aigplicentite) nn 2024.5 Vaeto de retiovenda (paciom de retraven- hey 3 203 Conirato de locagia, Conceito © espécies 203.1 Laeagio de coisas carte ret) oon consann 203.2 Locagio de servigos (locasio aperarum) 2033 Locagio de obra (locatio oparis facievii).. 204 Contrato de soviedade, Canccito . 20.4.1 Elementos do contrato de sociedad... 20.4.2 Extingto da contrato de sociedad 20:5 Contrato de mandate... 20.5.1 Obrigagtes do mandatério. 2052 Extingio do mandato. CONTRATOS INOMINADOS 21.1 Conceit 22 Classificacto.... 214 Comato de permuta 214 Oacstimatiuns ou contrat extimat6ria.. 21.5 0 precarium ou comtrato de precio. 22.1 Conceito de pactos. Espécies 22.2 Pactos pretorianos (pacta praetoria BLA Recep scrnn 22.2.2 Facto de juramento 22.2.3 Pacto de constinig 223 Pactos legtimas, Cénecito.. 22.31 Pacto de compromisso (compromissum)... 22.3:2 Promessa de doaglo (pectum donationiz) 22.3.3 Promeséa de date (pactun dots)... 224 Pactos adjetos. Conceit.... OS QUASE-CONTRATOS 2 23.1 Quase-contratos. Conceit 19 236 236 a7 2 aT 27 a8 20 INSTITURSOES DE DIREITO ROMtana 232 Bape de quase COM 208 foc co 3321 Gtsilo de negécios (negotionm gesna) 2322 Enriquecimento injusio.... 23.221 Condtctia. Modalidades ..... o- 251 2325 Comunhlo acidental communis incident) eT 2524 A administagio da tutels © da curntely.. ne 251 2 OpRERTO E © QUASE.DELITO COMO FoNTES DE OBRIGACOES ... Z - seen crmuemms 25 24.1 Delta. Conceito © espécies 22 24.2 Delitos publicos sh 253 24.3 Delitos privados a 258 243.1 Carneteristicas dos deliis privades 254 743.2 Espécies de delitosprivados previstos palo fur cide. an 243.21 Fume i ~ a 322 2 255 283.23 Daman injuria dati » 256 : 243.24 Injéria o - 256 243. Espécics de delitos privados previsce polo discl preteriano .. 257 257 257 258 238 260 260 261 261 262 362 26222 Fideipromissia,.... 22S Fidetessio acest 266 2 SUMARIO. 2 269 Ours modalidades Ue gOrami9 PSEA oe ac Bl 363.1 Maridaican pectoniae credeacoe se 264 763.2 Pacio de consitute de divide alhets (debi alien) 266 2633 Cliusuta penai : 267 os os 267 264 AMS (09TH) ao TRANSMISSAO DE OBRIGACOES 27. Coneeite ¢ histéxico sa . 22.2 Formas de rinsmissio de obrigagdcs_ 272.1 Novagio por substituigio do credor . 20.22 Mandatum in rem suam EXTINCAO DAS OBRIGAGOES... ei ID 28.1 Conceita, 270 382 Modos de extingo das ebeighjaes ipxo jure 2 28.2.1 Soluile per aes et libram a 2822 Accepritario.. 2 2823 Pagamento (sofia) a, vs 221 2424 Dagio em pagamento (bencfciam dationis in soln tun z stoma 2D 2325 Consignagia em pagamento (obsignci!a) mm 38.26 Novagio (novarie) Be m 283 Modos de extingio das obrigagSes exceptionis ope”. 23 283.1 Compensagiio . ares si 23 283.2 Traniagio 274 28.3.3 Pacto de nko pedir, 2m am ‘2834 Praereriptio longi temporis DIREITO DAS SUCESSOES - 29.1 Histérico do direito des sucesstes 29.2 Suosssto testamentiria 2921 O testamento no jur civite 29.22 Espécies de testamenio no jus civile BIZ Testamennam ealas comitiis 29222 Tettamentum tn pracinct.. 29223 Testamenium per aes et tibram 252.3 0 testamento no direito pretoriang 9.2.3.1 Testamento pretariano, 29.232 Testamento holsgrato., 29.24 0 testamento no diteito justiniancu 29 22 INSTITUIGOES DE DIRETTO ROMANO 29.25 Condigies de validade dos testamemtos. oem 299 29.26 Capscidade juries do herdeitd nine 299 292.7 A insitwigho do herdeico svn 280 29.2.8 A substituigsa do heedcivo. es *) 29.29 Invalidade dos testarmemtOS..c.osesnsennn 281 9.2.10 Liberdade para tesias He mI 293 Codicilo 2a 2A Colagao.. m 282 29S Legados 283 29.5.1 Formas de Tegado : 283 29.5.1.1 Legado per vindieationem 203 29.5.1.2 Legado per demnationam .. 283 295.13 Legado per pareceptione Dt eo. 283 296 Heranga jacente.. eres 283 297 Heranga vecante . si 24 284 298 Monic ou espélio 30. SUCESSAO LEGITIMA OU AB INTESTATO .......0. 30.1 Conceite 30.2 A sucessio legitima no jus civile 30.2.1 Heredes sui. 285, 30.22 Agmadas..... 286 30.23 Gentiles (genti).... 287 287 303 Sucessto legfima no direito pretoriana 303.1 Bonerum possessio unde tiberi 303.2 Bonorum possessio unde legit. 303.3. Bonorwi possessio unde cog 303.4 Ronaruos poscessio unde vie oF nor... 30.4 Sucessio legitima na perfodio dp Dominato .. 905 Sucessia legitiona no direito justiniancu MSL Descendentes... 5305.2 Ascendentes 30.3 Colaterais privilegindos ‘$4 Colaterais ordinérios 3055 O c&njuge sobrevivente....... BIBLIOGRAFIA ...... VOLUMES PUBLICADOS NESTA COLECA . PRiMea Parte © DIREITO ROMANO ~ HISTORIA E FONTES Introdugia 1. Epoca da Realeza: periodo do Direito Romano atcaico — jus civile ou direito quiritério 2, Epoca da Republica: periode do Direito Romano pré-clissico = direito pretoriano e dieito das genes 3. Bpoca do Impérie: periode do Direito Romano clissico - direito Jjurisprudencial 4. O direito codificado 5. O Dircito Romano pés-cléssico (476 a 1453 dC.) 6. 0 renascimente do Direito Reman 7. A recepeio do Direito Romano pelos direitos nacionais INTRODUGAO E impossivel dissociar © dircito da Histéria: ambos caminham Juntos, interligados, entrelacados pelas mais variadas mutapdes da vide em sociedade. O dircito, essencialmente dindmico, adapta-se sempre as transformagses s6cio-polftico-culturals havidas no decorser da histéria .Nio hd pois, um criério Unica, xo e presstabelecide para @ estudo de suas fontes ¢ instituicées ovo romano nos diversos perfo- 0 depois, com 0 éstudo das fontes (° "Ilo s« pode confundir « sciedade © a cidade-estado arctica coch 4 vida poltca ecivilda Roma de Augusto ou de Tustin. NEose pode confuca S.chrito cll antiquissimo com pretarano ex imperial, ou os juni Steredotes, inventorese intrpoetes de rgidas fonmuls negocialsc proce Svofe, Som os jursconsuitos tarde-republicanos c “clicicas” ou tom ey rofessores de Berto”. BRETONE, Mario, HistBria do direlts ronan Lisboa : Editorial Estampa, 1990. p31 26 INSTITUIGOES DE DIREITE: KOMANO dos. Assim, numa andlise sincrBnica, dividimos esse nosso trabalho em (rés grandes peciodos da histéria somana: 1 — Periado do Direito Romano arcaico Epoca da Realera (de 753. 510 aC) Il ~ Periodo do Direito Romano pré-clissico Epoca da Repiiblica (de 510 a 27 aC) Il — Periodo do Direito Romano cldssico 1 ~ Epoca do Principado (de 27 a 284 4.0.) 2 - Epoca do Dominato (de 284 a $65 d.C.) IV ~ Periado do direito justinianeu ou direite bizantino (de 565 a 1453 d.C. — de Justiniano até a queda de Constantinopla) 1 EPOCA DA REALEZA: PER[ODO DO DIREITO ROMANO ARCAICO ~ JUS CIVILE OU DIREITO QUIRITARIO SUMARIO: 1.1 Evolupio sécio-polfca da Roma antiga: 1.1.1 A fundagio de Roma; 1.1.2 A impontioeia da religido me sociedade romana; 1.1.3 As diferentes classes sociais; 1.1.4 Instituigbes potitieas da Realers ~ 2.0 Direito Romano arcaico: jur civile ou direito Quirtério: 1.2.1 A impondncia da classe sacecdotal; 1.2.2 O jus eivile Ou dliretto quirtério; 1.2.3 © descontentamento dos plebeus — 1.3 Fontes do jur civie 0 direito quintérie; 13.1 © costume; 1.3.2 As leis régias (leges regiae).—- LI Evoluso sécio-politica da Roma antiga LUD A'fuidagso de Roma Inexistem elementos convincentes que possam reproduzir de forma exata a tealidade histérica da’fundagio de Roma, pois desse importante fato nfio restaram documentos ou textos escritos..O que dele Sabemos foi obtido através de tradigSes literdias livres, ransmitidas oralmente'no decorrer dos séculos. “S6 uma minima Parte daquilo'que acontecesi ¢ que fol dite foi também escrito, ¢ s6 uma minima parte do que fol escrito permaneceu”, nos diz Gocthe.! ‘Conta a lenda que, em meados do ano 1184 a.C., Enéias, filho da deusa Venus © de Anquises, dlimo rei de Trsia, chegou 2 regifo do © GOETHE. Maximen und Refiexionen (910), Werke 12. 6, e6., Haribuirg, 1967. p. 494. 28 INSTITUIGOES bE BreeaTO ROMANO Licto e 1d so estabeleceu, instauranda um regime monarquico. Um de aco eacttentes, © rei Numitor, teve uma fia, Réia Silvia, que se Por ings gatas Marte, tendo com ele dois flhos: Rémulo ¢ Ree For intrigas de Amilio, um tio-avé usurpador da coroa, ambos foram abandonalos as Aguas do rio Tibre e recelhidos or ua foba, que, assim, da morte certa Algum tempo depois, um casal de pastores, Faustulus ¢ Aca Larentia, encontrou as dees criangas e passou acrid. a8 como se filhos fossem, até a adolescéncia. Os BéIc05, entia fortes & vigorosos, foram i procura de Amilio, o ri usurpador, mataram-no © Gevolveram 1 coroa a0 tio-avé Nunitor, Este cn Bratidio, os MastPenou com uma grande fea de terras situadas no regio do Monte Palatino, onde Rémulo fundou Roma, Umm dia Rémuto estava construindo um miro Para proteger a idade © Remo, passando pelo tocal, achou que aqucte muro nig odode mit RET mesmo uma simples chuva, ¢ passou sr de recat. EPOCA DA REALEZA 20 pa denominada Magna Grécia, se cnconirava uma aldeia Efega cujas habitantes havism chegado A regio por volta do século IX nce Os latinos acabaram unindo-se aos ssbinos tanto ara fins religi- ‘sos ¢ comerciais como para fazerem frente as ameagas de invanio a, ovo etrusco. Vieram se unir a eles, posteriormemte, as demais aldesns que viviam nas outras colinas, formando-se, entio, uma espécie de ‘Telleregio" ou "Tiga conhecida como septimonsinim, unio des povos que habitavam os "sete montes”. Durante todo esse perfodo Roma foi governada por quatro res: dels de origem latina (Réimulo © Numa Pompilio) e dois de origen ina (Tuli Hostilio ¢ Anco Méccio), Os eiruscos, vizinhos do norte, que par id se haviam instalado por rola do ane 900 a.C., jd haviam fondado inimeras cidades por tela Por volta do ano dé 625°a.C:, 6 Vale que ini ‘as sete colinas foi drenado e pavimentado, transformado-se num local (forum) de eorree ‘io, de reais & de ctemagio ou'sepultaniento dos mortos, pasanto 4 scr 0 centro comercial e politico"de Roma. . T12 A importincla da’ réligido na sociedade romana “Todos os paves da Antiguidade descnvolveram esse sentimento religioso,criando deuses cspecificos para cada necessidade humane O- omanos nko fagiram a essa negra imutdvel e tinham deuses para todos eS fostos¢ para todas as horas: Martc, para a guerra, Venu, para 9 ‘amor; Diana. para as colheitas; Baco, para as bebedeiras de fos de 30 INSTITUKOES DE DIREITD ROWAN semana, & assim por drante. Ninguém saia de casa sem anter pedir a Protesio a seu deus predileto (mais ou menos @.que acontcce hoje, com Imuitas pessoas que mo saem de asa sem antes consultaro hocoecope), O romano primitivo era também extremamente supersticioso: ¢6 sala de casa com o pé direito, s6 cortava 05 cabelos durante a lua che: Pendurava no pescago amuletos ¢ fazia inscrigées mégicas nas paredes de sua casa para garantir a protego dos deuses. “Ele conhece formulas para cvitar doengas, ¢ outras mais para curi-i ispens4vel repeti-la vinte vezes e cuspir, de cada vez, de mancira diferente”? Para espantar os fantasmas que essombravan a sua moradia, 0 Proprietirio Ievantava-se A meia-neite © andava descalco por tady a casa, fazendo estalar 0 dedo médio da mio, Ao mesmo tempo, colocava vagens pretas na boca e as langavs, uma a uma, por toda a residneia dizendo: “Aqui tens 0 que te dou: por essas vagens me resgato” (Dizein {que 0s fantasmas apanhavam as vagcnse iam embora...). Equem assim agia nfo ert 86 0 pobrezinho ignorante, “e homem do povo, o homem de espirito débil que a miséria © a ignordncia conscrvavam na Supersliso, (mas também )o patricio, o homem nobre, poderoso e rico. Esse patricio (que era) alternadamente guerciro, magistrado, cénsul, agricultor ou comerciante; por toda a parte, e sempre, ele € sacerdote © tem o stu pensamento fixe nos deuscs” ? Vivendo em ‘constante ‘contacto :com a ‘natureza, .os romanos companhavyam com atengo as mudangas difrias do tempo: acolhiamn com satisfagiio a chuva que beneficisiva as colheitas, amendrontavam. S€ com as tempestades e temiam os raios ¢ trovies. Face a face com 0s inexpliciveis e atemorizantes eventos naturais (e ainda sem a concepgiio de um tinico Ser Criador), passaram a atribuir-lhes natureza divina, nuldplicando, dessa forma, os seus deuses, © Os' romans que morriam também adquiriam certo grau de divindade;'sé tivessem sido bons, ‘virtuosos ¢ honiestos em vida, eram cultuados cbr sandade e alegria depois da morte. ‘Se tivessem sido esonéstos, comniptos @ prepotentes, logo cram desprezados e coloca. dos no rol das divindades esquecidas. 5 CATAO. De ret. rust. 160. ay ‘COULANGES, Fusiel de. A cidade artipa Estados sobre 0 culto, 0 direito © 8's tnbtiniipSes da Grécia ¢ de Roma. 12. ed. S80 Paulo : Hemus, 1996. 2 opm. * EPOCA DA KEALEZA 31 Cada familia tinha seus proprios deuses, qué cram cul Ituados como propricdade exclusiva, "Contavam-se milhares de Jupiters diferentes. havia toda uma multidso de Minervss, de Dianas, de Junos, muito pouco se parecendo umas com as outras. Elaboradas pelo trabalho livre decada um dos espiritos, todas essas concepgdes eram, de algum modo, sua propriedode, acontecendo, portanto, que esses deuses se mostravam aes homens durante multe tempo, independentemente uns dos outros, cade qual ganhando sua lenda particular e seu culto “ Sea familia prosperava na politica e nos negécios, o3 seus deuses, por sgonait toca, pooeazn 4 2er oustertan poderasos protctores iriam grande prestigio junto & populag, de tal forma que toda a cidade também queria adoid-los e prestar-lhes culto para conseguir (9s mesmos favores. "Em meio a tio arraigada religiosidade, nenhum romano podia scupar qualquer cargo piblico, fosse o de rei ou de magistrado, se mio fosse pela vontade dos deuses. Quando vagava algum cargo publico, um sacerdote passava toda @ noite anterior consultanda os astros (ouspicia) para descobrir a ventade dos deuses. Enquanto olbava para 6 céu, repetia mentalmente @ nome dos candidatos.'No dia seguinte, perante a assembléia do'povo, ele comiinicava os nomes daqu¢les que haviam sido indicados pelos deuses para.o cargo, e 0 povo entfa votava. Sc o nome de algum candidato fosse ornitido, era porque os deutes rio oqueriam naquela fungio. * be ecto is & * Aséntecia,’ por vezes,” de os ‘sacerdotes ‘iticartin’ nowiés “de ‘Bessoas que eram odiadas e detestadas por’ todos, mas mesmo assim eles © povo tinha de votar, pois ido existiam: ‘outros candidatos, “O Povo a quem se apresentassem candidatos que Ihe fossem odiosos podia, quando muito, para expressar a sua cera, retirar-se sem volar, tis no recinto fieavam sempre cidadios suficientes para a vétagto” Esso’ modo de‘ eleigko foi abservado ‘até os primieiros ‘séculos da Toda a vida romana, portanto, quer sécio-poltica, quer conémi- 2, ¢ notadamente o Scu direito, foi diretamente mareada pelo sentimen- to religioso de seu povo, ¢ a religido foi a base da constituigio de sua eciedade ¢ 0 alicerce de todo @ seu ordenamento jurk “ COULANGES, Fustel. 06. cit, p. 98. © TITO LIVIO. 1, 42; 43. s2 INSTITUIGOES DE LMEITO ROMANO. 41.3 AS diferentes closses saciais A seciedade romana, nos primeitos séculos, era constituida por Dessa forma, surgiu em Roma o denominado pertodo da Princi- ado, com os poderes enfeixados nas mfos de um principe que governava com @ ajuda de funcionérios por ele mesmo nomeados ou demitidos. No peri do do Principade, © senado ¢ os demais cargos da imgistratura, préprios do'regime republicano, continuaram a exisiin, mas com atribuigées'drasticamente reduzidas, are O regime do Principado durdu até o Século I d.C. Em 264.4. insialou-se ¢m Roma © Doininate, um regime de monarquia absoluta ‘gue vigorou até 565 da era cristi, - 442 Instituipées poltico-administrativas da Principado. 3.42.1.0 principe © O principe tinha amplos poderes na paz © na guerre 0 de Convocat © senate romano, o de publicar €dites, interptetar o direito fe responder Bs consultas juridicas a ele formuladas. Junlamente com fo'senado, tinha 0 diveito de julgar as apelagdes ¢ recursos, Come © ULPIANO. B. 1.4.1, pr. chefe do exéreito, cabia-lhe nomear todos @s seus comandantes © decidir sobte a paz ou a guerra mas provincias romanas, Tina. também, 0 direito de indicar os nomes dos candidatos 105 cargos da magisirowra (commendoatio). $1.22 A magistrarere Durante 0 periodo de Principado continuaram a existir os mesmos cargos que compunham 8 magistratura somana, mas tados com suas antigas striboigdes seasivelmente diminuidas: a) Consulado - Tomou-se "uma sombra va do consulado repu- bican", diz Emilio Costa, "pois privado de qualquer poder fora da Ilia, mestoo no ertéo italiana, nao dispuna de esmando militar e seus poderes civis (eram) limitads pela porestas tribunicia do Principe™* No auge da Repéblica o consulado tinha a duragdo de um ano; ‘9¢ prazo foi dimminuldo para quatro meses, depois para ts e, por Altime, pass0u a ter duragéo bimiestral. ) Pretura ~ A pretura persist, ainds, durante todo 0 Principado. O pretor urbano continuoa a ter o jurisdictio nas lides entre cidadios Fomanos © 0 preter peregrino continuou a resolver a3 desaveogas havidas entre cidadios romangs ¢ entre, estrangeiros,cntre si. ©) Censura ~ Foram retiradas todas as atribuigies dos antigos eensores, restando-Ihes somente a fungio de »coordenaiéin os Feoenceamentes realizides pelos magistrades municipal. : 4) Questura — Durante 0 Principado os quistes foram trans- formados em simples auxilisres ou secretérios do principe (givdestores Drincepix). . ‘ ©) Bdilidade curl ¢ da plebe ~ Pasiara smpdenagern de mamtimenteg, outa ge eo f Triburate da plebe — Esse important{ssimo targo no’ periodo da Realeza teve suas atribuigSes judicantes transferidas para o principe, Festando-Ihe somente fungdes de ordem administestiva como, por exemplo, a vigilincia de sepulturas. = ‘sey eicarregados da " COSTA, Emitio. Storia del diritte romano pubblico. p. 287. w INSTITUIGORS DE DEVE ROMANO. 5123 O senade O senado continvou eom posigho de destaque durante 0 Periodo sp frineiwade, tendo, no tempo de Augusto, o némere de senadores diminuide para 600 senadorcs, cleitos entre ‘os ex-magistrados.> Depois ave o imperndar Tibério suprimiu as assembléias papus lames (comitia cenuriata), 0 poder legistative Passou 2 ser exclusiva te Senade romano. Os senadores repartian com imperader a fungio G¢ Julgar os recursos ¢ passaram a supervisionas » eririo pablico e as Servigos administratives tanto de Roma como day provincias, 3124 As assembleias populares (comitiay das antigas assem. bieias populares foram sendo transferides, pouco Pouco, para o ‘prseipe ¢ para 0 senado romano. A nica aividade desore .assembldias poderes a0 Principe. AAs assernbigias populares foram defiaitivamente suprimidas pelo imperador Tibéria,’ 1 Hot Beburaes natn, Ja ehimetdios de Roma vigotou'o jus civile, amiém deno- minado dirsito quirtério, um misto de religiay de direito, preso 2 uma rigida fotmatidade e'tutelando somente i EPOCA BO IstrEnio i magia romanes, em sepecil os pretores, jd na epoca da Repiblies. Na epoca do Impéno, nottamente’ no. petfoda. do Puncipado, desenvolveuse 0 direito juritpridcuciad, originady dn intensa atividade juridica des jurisconsultos romanos, com frutifera produgio juridica nesse_periodo, ‘A fase do direito jurisprudencial teve inicio aproximadamenté no ano 100 2€., com o jurisconsulta Quinto Miicio Cévola, ¢ se prolongou aié yor volta do ano 400 d.C: Foi uma época de intnsa atividade eriadora do direltn ¢ wm periodo de universlizasia do sistema jurtdico romano. Até meados do século If aC. os juristae provinhamexclusivamen- te du arstosacia pertencendo, mi quasetotabidad, clase tena, composta pelos patricios. Eram os “juristas aristocriticas". No fim da Repiblica, porém, comegaram a surgir pessoas de grande saber juridico: tas outa camadas soca e, também, provenientes de outrasrogibes cdo Império, Bxsas pessoas erain procuradas tanto Por paticulares como pelo préprio principe para aconsclhamentos juridicos, Assim, “o jurista aristocratieo da Replica cedcu lugar, pouco a pouco, 30 jurista- funcionsrio ¢ conselheiro do principe”! 324 Ju respondendi ex auctoritae principis | 2. © imperddor ‘Augusto coaféri ‘a Agans jrisconsultos 0, jug respondendi omantieae principis, ou sej suloridade para emitcem Barectres em seu préprio nome, com forga cbigaéra eit Juiz. A Goncessto dessepriviltgi fez.c0m que os parcoeres dos jursconsulfon adams forge de Ih, passtrdow sex apcadoe ples utes em sus decisbes. 86 os veredictas dos juisas ‘mrad form dy ndo tums imediata incidncia prdtica,..e eles orientavatn ou vineol ten oc ‘wibunais em suas decisis.” tai bb cats ~ Bssa intensa.atividade jurfdice dos iurisconsulios romanos fez Sutgir essa nova modalidade de dircito, mais ampl eqmmais racional< sbrangente, que persist através dos séculos-o direito jurisprdenetal BRETONE, Miri. Ob. cit,.p. 161. et acveli bale (© Idem, p. 163. No apogeu do Dirlto Romano (steulas fe IH dC.) Impésio Comanches fame cer ano eee eebou 0 jus respondendi ex auctarivaie princlpis, 2 INSTITUIGORS LH DIRECTO ROMANO 3.2.2 Jurisconsultos fanosos Dezenas de jurisconsultos famosos despontaram nese perfoda do Pircita Romano clissico, entre cles Papiniano (Aemilius Papinianys , Paulo Paulus), Ulpiano (Domitius Ulpianus), Modestino (Hevennicg Modestinus). Galo (Gaius), Sabino, Salvio Juliana, PompSnio ete que detxaram clissicas monografias ¢ estudos sabre diversas inst tuigdes de Direito Romano, Varios outros jurisconsultos famosos despentaram nesve perfoda ddo Dircito Romano elftsico, todos exarande parcceres sobre ee means Yatiados assuntos. Ninguém foi impedido de exprimir opiniges ou de Enteve’ livros juridicos © que tomou extremamente profieua esse ‘época da jurisprudéncia romana, 325 Escolas doutrindrias mse mais a simples elubes de discussic ‘onde @s juris prudenies ensinavam — oralmente e sem textos ~ grupos de discipulos reunides & sua votta.™ A “Escola Proculeiana™ foi fundada por Marcus Antistius Labeo, aseidoéan S0a.C., que recosouweargode cénsul para melhorsededica, Casino do dircito. A “Escola Sabiniana” fof fundada por ius Atelon Capito, ue ocupouc cargo de cinsul em $C, e formaraniclassa dost manbres coments de direitona épocaclissic3,tendoopiniéesdivergenies sobre virios aspectos do dircita piblico © privado” 4.3 Fontes do Direlto Romano no Principado © eestume, a Ie, os senatos-consullos, os élitos dos magistrados, AS consttuipdes imperiis ¢ a jurisprudéncia foram as fontes do dieite Tomano nesse periods, © CRUZ, Sehastiio. De "Solutio “I, Coimbra, 1972. © Ua. das divergtocins era m relaiva ao infclo dx poberdade: enquante ot Scbinlaber Ghtendiam que para se eomprovar a poberdede do homeo ena Famean A uma inspeslo corpora! (ingpeetio corporis) of procalslanns fixavam aos 14 anos, POCA DO DAPERIO B 53d O costume Q costume passou a ser considerado uma fonte secundaria do direito na $poca do Principado, tendo em vista a concentragic de poderes nas mos do principe. 352 A lei i iéncia das © poder legislative ainda continuo a ser compet assemblias populares, alé estes serem suprimidas pelo imperador Tibério. A partir de entio, as leis passaram a ser da iniciativa exclusiva do imperador, época na qual se tornaram a principal fante de direito. 333 As constisulgoes imperiais (oonstituiiones) As consticuigtes imperiais cram medidas de ordem legislativas ‘emanadas diretamente do imperador, tais como dacisdes, pereceres € consultas."°Na realidad, quem elaborava ¢ssas constituigdes. imperiais eram ¢s membros do. “Consetho do principe” (consilium principis), composto por juriscansultos romanos. ssid ituigBes imperiais foram, pouco a. pouco, crescendo iijrtodnnn etter keos ouanitd wiosiomnie fonte de diteito, na época do Dominate, ‘As constituigées imperiais emanadas dos principes eram dos Seguintes tipos: S531 Reseripta (reescritos) Eram paréceres dads pelo principe em resposta a indagagtes to farmulans por particulares ou pela eomunidade, Eram divididas ‘cm duas categorias: : : 4) Subscriptiones — Respostsi’ a quesitos jurldicos formu iretamente 20 principe por particuilares ou pela, comunidade. Essas Tespostas (subscriptiones) ow eram dadas diretamente ao inleressado ou (°° “A constitwigs0 de principe 0 que o imperador conslitai por decreto. por édito ou ohn se duvidou que isso nia tenha forga de Kei. ja {ue © prtprio iimperador recebe © poder em virtude de uma fi". GAIO. 15, ISSTIRNCOES be (a Kestaxe Publicadas para conhecimento. pe: hecimenio Beral. Ax concn a ce uma pelitéo neriio) assinoda pelp interessado, Epistuta— Era res on Tsposta,em formnde carta, dadaa umaqy erica farmelada por um Funcionicio, por use magistrado ou pels a6 ede eibeamicial. As consultas (consudéniio on iggestic) cram fonm PAE Dorteo peters As reer pete ne liam ter forga de fej as cram formuladas 3352 Dectemun 33.3.3 Edivos imperiais urarge Catteéia dos éditos dos mogisttados, ue vigoravam somente depots gig op Suites itnperiais nto perdiam sus oes mesing ‘8° © Principe ou imperador tivesse deixats sen cargo.!? F334 Mandita (mandatosy 2.3.4 Senaios consultos Durane"y Principado ‘ i Senado romano ainda exa dotentor di grandes poderes, repartindo com o Principe a incumbéncia de dicigit Mi ¢ a Bética, e ordenci a © ede nci que pagasse a {fate us a sun pobreza eta manifesn Ep Fate BO Wm proces da Betica, (0 Eiito de Corscala (212 dC): “Couto Be : 180 8 todos quantos se aclem no orb g ‘idedooia romans semgueninguémifique semen crevecacdaset Ws POCA DE KAPEBIO do a isso, suas decisies, os senatas- os destinos da nagi9 romana, De consultos, eontinuarmn a ser fante do Direito Romano." 335 Edivos dor magistradas (0 Principada foi um periode de excecio na esirumra da Republica romana, mas todos as cargas da magistratura continuaram a existit, apesar de terem suas fungSes paulatinamente modificadas ¢ diminuidas, Os pretores tiveram suas atribuiges de ministrar a justiga divididas com 0 principe, fato que contribuiu para a decadéncia dos éditos dos :magistrados como fonte de diteite. A essa época a dircito pretoriane lha mais.a forga de criar o direite: pracior jus facere non potest (0 pretor no pode eriar 6 direito mas sim ebservar 0 direito antigo) A partir de entis, 0s protores limitaram.se a copiar os éditos das seus antecessares, 336 Jurisprdéneia Conforme visto atima, a jurisprudéncia alcangou seu sige no decorrer das s€calos II ¢ III da era cristd com 0 sungimento de brilhantes Jurisconsultas que vieram imprimir novos destines ap Direito Romano, ‘Temou-sé, nesse periodo, a principal fonte da Direito Romano, em sua modalidade de direito jurispradencial. © periode de Principado foi a época da “Jurisprudéncia clissiea”, que. vigorou até .0 ténming da dinastia dos Severcs, por volta da século HT AC. , 34. influéncin grega no Direito Romano, _ O Direito Romane ¢ vin direito auténomo, snico, seu wunicamente da forga eriativa de seu povio 6u influéneias dos direitos dé autros povos? Ha caatrov fas entre os romanistas. Alguns o consideram original, einqu: enteidém que foi grande a” influéncia “da” Yilosofia “Brey @ Senatusconsultum Cloudianum (52 d.C.): "(.) or forga do senatos- até a época de Justiniano! . : Foram consultados cerca de 1.625 Livros, ¢ Jidos cerca de trés milhdes de linhas. Foi escrito em latin rego, dat dupla denomi- nagio, Digesto-cu Pandectas (Digesto, do lati ligerere, que significa por em ordem, © Pandectes, do prego 2, QUE .Significa Srecalho. tudo")... : - 42.14 As Tostitatas ts 2 ‘Trata-s¢ de um manual Para 05 ¢studantes da escola de dircito de Constantinopta, contenco um resumo das principais lege ¢ jura Forom dedicadas “9 juventude dosejosa de estwdar Jeis” (cupidae legum Fevenuti)¢ pablicadas, com forga de lel, em 30 de dezembro de $33, Clenris das Massas): ) grupo sabiniane (que canrém materi! reirade ay Panne du Civile romano); b) grupo edictal (ccalendo fragmentos do dicetio. ‘eciann Ou ite honardro}; 6) grupo papindano ox grupo da caststicn cerca rn fragmentos de obras de Papinno; e d) appendic ou vara, que ‘contin Fragmentos.de doze outeas obras secundtriss © pigetra copinenne 93 42.15 0 Gédigo nova (Codex Justinianus repetitae praelectionis) Durante 05 trabalhos de compilagio do Digesto © das Jnstiautas ficou constateda a desatvalizagio do: primeira Cédigo de Justiniano ~ 0 Cédigo Velo. Como ineuito de sanar essns iregularidades, Justiniano henve por bem determinar a organizagaa de um outco codigo aiuali- ado, surginda, entdo, o Codex repetitae praclectionis ou Cédigo Novo, como é chamado. Ele €, portanto,uma reedigdo do Novus Justinionus Cadex (Codigo Verws) publicado em 529 4.C. r 4.2.1.6 As Novelas As novelas contém as leis (constituigées impetiais) promulgadas direlamente por Justiniano, apés » promulgagée do Digesto. Foram _ Fedigidas em grego e latim. © Corpus Juris Civitis permaneces vigindo no Impétio Romano do Oriente até 1453, No Ocidente, contudo, permaneceu completamen- te desconheclds durante quase toda a Idade Média, escondida cm ~_ biblioteeas emposiradas de alguns mosteizos A patir de meados do século IV da nossa era as crises internas do Impérie Romano se viram agravadas pela intensa atividade dos denariinados povos “barbara v= £” Wisando a fartaleeer o império, 0 imperador Teoddsia I (379- 395) resolveu desmembré-lo, novamente, em duas partes — Império jiROmino do Oriente © Império Romane do Ocidente — e, tentando HBS or eimporizar com oa godos, que ameagavain as fronteiras do norte, "*Pemmhitiu que eles se fixassem em territ6rio romano e que soldados *“godos passascem a fazer parte do exército romano: algum -tempo depois, um grande nimero dé “bisbaros” j4 esiava ocupando os mais altos esealges nas IegiSes, romanas ¢ muitos dos carges piblices na ‘administragio do Império. Tal fato acarretou wm debilitamento do Sentimento patriética que antes unia os exércitos romanos, enfraquc- cendo as legiées, que passaram a lutar sem a mesma dedicagio valentia de antigamente. 94 INSTITUICOHS DE DIREERO: ROMANO O pove romano também estava descontente, tanta pslos aumentos exorbitantes de impostos coma pela crescente inflagio e escandalosa desorganizasao adininistrativa. A sitaagio chegou a tal Ponto que os PrOpries romans, espoliados.e sofridos, passacam a ansiar pela invasée de outros povos na esperanga de que a situaglo melhorasse No ano de 401 d.C. os visigados venceram 3s enfraquecidas legides romanas ¢ invadiram 0 nome da Itiha, chegando a Milko c Verona. Em 406 os burgiindios conguistaram parte da Gaia, Em 416 € 418 os visigodos conquistaram a Peninsula Thériea ¢ os vindalos se fixaram na Espanha ¢ na Africa. Em 476 os hérulos, comandados por ‘Odoacro, depuseram Rémulo Augustulus, 9 tiltimo imperador romano do Ocidente, 5 _ © DIREITO ROMANO POS-CLASSICO (476 @ 1453 4.0.) SUMARIO: 5.1 A ldade Média no Irmpéio Romana do Oriente: §.1,1 Direito bizentino ov diveito justinianeu; 5.1.2 Pacdfrase de Tedstto (Parophrasis Insitusiorsin); 5.1.3 Egioga leptin compendiaria: 5.4 ‘As Basflicas 5.2 A Idade Média no Ocidente: 52:1 A decadéacia da Diteito Romano; $2.2 direita medieval: 0 costume do feude: $2.3 A iifluneia da Tgreja. S11 A Tdade Média no Império Romano do Oriente SJ Direito bizanting ou direito’justinianen 21 Apés a queda de Roma em 476 A.C. e o consegients csfaccla- mento da parte ocidental do império, 0 Tmpério Romano de Oriente, com sede em Constantinopla, se manteve ainda cocéo e forte até 1431, quando foi invadida pelos twrcos. Até essa data 0 Dirrito Romano Fentinuou a ser o Gnico direito aplicado em todo o Império bizantino, 05 seus princfpios bisicos, suas doutrinas ¢ ensinamentos (juvra) € todas 45 suas leis e constimigées (leces) estavam contidos no Corpus Juris ‘Clvilis compilado por Justiniana, ¢ tinham vigéncia obrigatéria em toda @ regio abrangida pelo Império Romano do Oriente Sempre existiram profundas diferengas sociocultutais entre Roma ¢ Constantinopla, apesar de constituirem um império tnico ¢ sob um Boverno.-Os usas e os costumes eram distintos © divergentes, os Eshctitos religiosos se chacavam frontalmente © cada povo se expres- Sava em Lingua diferente: 0 grego era o idioma principal na pane eriental ¢ o latim a lingua falada no Ocidente, O ordenamento juridice. # teger os destinos de todo o Império, no entanto, tanto na parte 96 INSTIIUIGJES DE BIRT: ROMANO ocidental coma na oriental, sempre fei o Direito Romano, em gue pesem as diferengas que havia entre es. povos, © dircito que vigorava no Impétio Romano do Oriente, enttetanto, foi paulatinamente sendo adaptado as influéncias & peculiaridades cullurais da regite, resultanda no denominada direito bieantino ou | Justinianen ~ nfo mais aquele Dircito Romano ¢lassico auténtico, mas 4 uma modalidade dele acentuada pelas peculiaridades da vida oriental, “um direito que representa uma evolugto do diritojustinianeu, no qual fe acentuam, decisivamente, as influéncias orientais Com o passar do‘tempo, as normas tipieamente romanas contidas no Corpus Juais Civilis foram sendo ultrapassadas pelas concepedes | sociopoliticns daguela época e regio: “No Corpus Juris Civills havia normas de dirsto romano clissico em desuse ao lado de preceiton Juridicos vigentes™ co Digesto, especificamente, erk muito, extensoe de ‘lificilcompretasio,o que tormavaenfadanhoe complicadoo teu estudg, Por esses motivos, apés a morte de Justiniano o texto original do Corpus Juris Civilis comegou a ser simplificado adaplado is conveniéncias da ¢poca bizantina, tendo surgido, entéo, os denomina, Gos tnaices © comentérios a respeite de seu conteddo, dentre os quals se destacam: S12 Parifrase de Teéjito (Paraphrasis Institutionum) ‘Trata-s¢ uma tradueo comentada, em grego, das instituras de Justiniang, 5.13 Bgloga logum compendiaria Trala-ss de uma compilacio abrevisda © mais acessivel da Jegislagdo justinianéia, determinada pelo imperador Leio e publicada no anc 740 dC. . 5.4 As Basilicas Basilio, que folimperador da Maced6ni no perfodo de 867 « 886, 4 prelendendo atualizar 0 Corpus Juris Civili e expurgi-lo das normas (0 MOREIRA ALVES, José Carlos. Ob. cit, p. 56 © Idem. Ob. cit, p. 57 © DIRETTO ROMANO POs-CLASSICD 97 ¢ principios em desuso, determinou uma compilagto nesse sentido, Sew fitho Leio, cognominado “e Filésofo", terminou o trabalho, denomi nando-o Basflicas em hamenagem ao pai. Essa obra € composta de 60 livros eseritas em grego © reproduzem wechos do Cédigo de Justinian, das Institwias, do Digesto e das Novelas, As Basilicas tiveram grande repercusso no Império Bizantino, nuladamentcem fins do séoulo X. Posteriormente surgiram as Eteélios, que eram comen- trios 20 texto original das Bastlicas, © Direito Romano conti no Corps Juris Civilis, portanto, parcialmente modificado na modalidace de direito bizantino ou direito Justinian ew, vigorou em todo 0 Império Romane do Orfente até 2 queda de sua capital, Constantinopla, diante dos turcos, no dia 29: de maio de 1433, data que se convencionou fixar como o fim da Idade Média ¢ inicio da denominada Idade Moderna, For um paradoxo da Hist6ria, entretanto, durante todos os longos anos da dade Média o Corps Juris Civilis nio exerceu qualquer influéncia sobre o dircito feudal, consuetudindrio ¢ rudimentar, que entio vigorava na Europa ocidental; esse importante documento jurl= dico permaneceu esquecido numa estante empoeirada de algum mos- {rire cristo durante séculos. “# um paradoxo que a obra de Justiniano, {que estaria destinada a exereer maior influéncia na Europa ocidental 0 Digesto ou Pandseras ~ nurica estivesse éstado vigente nd Ocidente ¢ tivesse permarecido tantos séculos praticamente desconhecida até 0 século XT", comenta a respeito Sebastizo Cruz? 52 A Idade Média no Ocidente G2I' A decadéneia de Ditéto Rarano fs: "Nos wltimos séeulos do Império Romano do Ocidents, as eonse- ‘qbéncias ‘da decadéhcia ide suas ‘instituigdes Politicas’ também se ‘fizeram’sentir em seu sidfcma Juridico. O'Direite Romano, gue tinha lcatigade seu maior ésplendor na época do Principado,, ‘foi a6§ poucos ‘Sendo vulgarirado, mesclando-se com os us66 ¢ costumes dos povos dnvasores. Os jurigconsultos, extremamente fecundos nos séculas Ile 1 CRUZ, Sphere, Dit romano (us Fmamm).p 9, chanio}. 3. Welt Aniroduceinhistbrica af derecho romain, Ii, foram ese: Dominate, © a di INSTITUIGOES BE DMO KOMLaNO Juridices c na etaboragia de fel Frojetou, contentando-se os que 03 sucederamem epetir osensinaincates de scus antecessores, Faliava-Ihes, no entante, a autorida S.* Além delcs, nenhum outro jurista se fos grandes jurisconsultos de Epocas passaden Nesse contexto foram se confundinda a Brecisio © 0 rigor dos Conceitos e instituigées do diteito romana Classico. Tomou-se cle um “direito vulgar, esdrixulos sister i Passasse a falar um latim Tinguas e dialetos estranhos, © DIETTO ROMANO FES-eLAssiEN Ololim chissico ainda existin, mas era falado cada vez, mais rarament fgurando somente cm documentos oficiais. “Uma nova linean tomando fonma, algo abscuramente, no seio do povo, a qual, coated cnusava hommes as pessoas cultas que, sendo cada vex mais ravas ene consequentemente mais exigentes''® A decadéncia da lingua tatina chegau' a tal Ponto que © commen dante romano Syagrius, a frente do exéscite romano na re, io do Vale 0 Loire, dirigia-se: a sua tropa “romana” falando alemao 52.1.2 0 Direite Romano € © direito “bérbaro” ‘Com as invasSes dos “batbaros” no século V, © 0 eonseaente Eesaparecimento da Império Romano do Ocidemte, 0 choque ete Dircito Romano eos demais direitos dos povos invasores foi inevitivel Cada povo invator trazia consigo 0 proprio direite, geralmente Iodimentar no escrito, transmitido oralmente de geragda it peragdo, © das forgas divinas." Quando num mesmo territério coabitam ‘duas populagtes coin sistemas juridicos diferentes, chsina-nos John Gilissen, duas -solugies ‘io teoricamente passiveis: oa o vencedoe impie 0 préprio direito’ae Povo vencido 6u, (par sor culturalmerite inferior ou por conveniéncia), aceita que 0 povo vencido continue a viver' segundo 6 direito’ PrGprio (sistema da personalidnde das les), convivendo,'veicidas ¢ Voncene res, cada qual com seu prépri Le © dircito trazidu pelos povos german: tudingri © LOT, Ferdinand, Ob. cit, p. 404 O Adem. Ob. ety pA oe Apenas alguns poucos textos escrtos dess Eppa si a Lex Solica, Lex Atamanorum, Lex Frisicnium, tad “essen Tepes nic sp Neriadcitch esdigos, longe disso; no sic séquer leis, no sentido ateal de tering; sSo mais regisuos escritos de ‘Céatas Tegras juridicas, com origem no sete meas oficiais parausodos agentes da autoridede dos metmbros des Tribunais” GILISSEN, John Introdupao... p. 172 ws WSLIUICONS Mm DMO ROMAN Individuo isolado, sem fevarem conta a sua condigio de membro da s0¢iedade, au scja, a pessoa era regida pelas leis cle Sua nacionalidade, independenteinente do lugar onde estivesse, “Possucm os invasores luma concepgio do direito diversa da dos romanos. Os direitos entee © povas teuténicos adscrevem-se aos individuas, como pessoas, sem tomar em conta a sua ¢andigda de membros do Estado; © direite fax pane de sua persenalidade € acompanha-o-onde quer que seja, sern que se modifique ua sua esséncia © scm que se possa abandond-la" ©Direita Romano, escrito, com prineipios ¢ instituigécs racionais, muito melhor esiruturado que os demais, continuol 4 ser observado na integra pelos povos mais ramanizados, taiz como os que habitavayn a regia’ das peninsulas Tbérica e Itélica, assim ‘como os do centro-sul da Franca, do sudoeste da Alemanha, da Suiga e da Austria Esses poves continuaram a viver secunduin legem romanam ainda durante vérios sfculos. Exemplo dessa cosxisténcia pacffica entre o Direito Romane e a direito dos povos invasores oconeu nas regides da Peninsula Ibérica ‘enas situadas ao sul da Franca, Na Espanha ¢ Portugal, Alarico, rel fis visigodos, nao impds a observancia de seu dircito aos povos conguistados mas publicou a Lex Romana Vésigotiorum (Brevidria de Alarice) para observancia especifica pelo povo romano -vencido, A populayao visigoda continuon a ser regida pelas leis © costumes Proprios, NaBorgonha, sul da Franga, com a Lex Romana Burgundionurn, promalgada por Gondebaldo, ¢ na Itdlia, com @ Edito de Teodorico —. sumbas eminentemente romanas ~ ocorreu o mesmo .fenémeno. Os Tomanos, embora submetidos ao domfnio dos invasores, continuaramn 8 ser regidos pelo Direito Romane compilado nesses leis “brbaras” (Gistema da personalidade das leis), O mesmo nfo ocomeu nas regides sitmadas mais ao norte da Europa, menos romanizadas, tais como as de norte da Franca, norte da Alemanha, Inglaterra etc, Li, 0 direito nBo escrito © consuctudinkrio trazido pelos povos invasores foi aos poucos sobrepujando o Dircit Romano, que paulatinamente foi sendo esquecido em toda a regi "Esta fronteira (norte-sul) que separava 05 povos romanizados marcari GETTEL, Raymoad G. Hicibria das idftas poiticar p. 123, spud Walter Vieira doNasimenro, Lipdes de histiria do direlto, 5. ed., Rio de Janeiro : Forense, 1990, p, 175 10 © DIRLITO REMAND MOE-CLASICN na Idade Média © nos tempos modemos 9 separagio entre as “paises de dicta consuetainario", mais influenciadas pelo direito germvnico, 05 ‘parks do dizeito escrito’, que pecmanceerain sob a influgneta romana." 5.2.43 Tentative de Justiniano Em 533 4.C. 0 imperador Justiniano, do Império Romano do Oriente, ainda tentou salvar a parte ecidental do impécio, reconquis- tando as lerras invadidas pelos "birbaros", © conseguiu expulsar os invasores do norte da Africa, da Sardenha, Sieflia, da Ttdlia c das costas ds Espanha. De imediato, obrigou a observincia do Direito Romano em toda aquela regio reconguistada, proibindo cerminantemente a vvigéneia de qualquer outro ordenamenta juridico estrangeiro, Esse doniaic bizanting ne ocidente, no entanto, durou powco, Trés anos apes ‘2 morte de Justiniano a Itilis foi novamente invadida, i ie pelos i i se Longobardas. A partir de entio, diversos pequenos paises foram formando na que restara do antigo Império Romano do Ocidente. 522 O direits medieval: 0 costume do feudo Naépoca medieval « atividade legislativa desapareceu no Ociden- te. Os reis, distantes da vida dos feudos, no eram mais capazes de iar administrar dirctamente os destinos de seus sdditos € 0 ie de normas de-conduta’e de punir os infratores passbu ager exclusi dos suseranes, agora senhores supremos em suas tras, "Embora (oTei) esteja no topo da Hicrarguia feudal, no tem muito poder sobre ela; a talor parte do reino éstd nas mios dos grandes senhores. tais como @ conde de Flandres, 0 duguc da Normandie, 0 conde de Chaimpagne. ‘0 Direito Romans foi senido esquccido em toda a re substitufdo pelas normas nascidas do costume de cada pove invasor, Nadla mais cra coctito, nem mesmo'as decisies das juires ou clausulas 89 GILISSEN, John. Ob. cit, p. 168, GILISSEN, John, Ob, cit, p. 190. tue INSTITUTES DE DIRETTO ROwANO Propriedsde, O “dircito” que da feuto"® ce Wanwiek, presta conias de 1.000 libras e 10 palafnéne para que he Sela Pertitide contiause vidva por tanto tempo quanto 0 desejar, ¢ nfo ser ebrigada a casar pela voniade do pei" Todos os feudes eram di @ seus herdeiras. s servos dependiam tatalmente do senor das tern fe ras € a el deviam obediéncia lealdade, Ambos, por sua ver fa in lealdade serie © Geviam defendt-lo com a vida, xe nécessirio fosse, Nason Sui © denorninado “sistema de lealdades”. O-conceite de “proprie: dade” foi desaparecendo, deixando lugar & “propriedaide feudal". ” suserano nio trabathava suas terras, nfo colhit c tab Plantava nem colhia. Os servos “arrendatéios" & que tinham a ebrigesag de fazé-lo; além "0 dhico direito escrito que existia na é ico (i istia na €poca era 0 dircito candnico (dire “ les, yas regulamentando apenas as relays enure os eclesfcacns 0 Prantlaions of reprias from the original sances of en original zoxces of european Mistery, Vel To Ub 22 (Departamento de Misdcia da Univeesidete de Perilvania, 0 DIREITO ROMANO POS-CLASSICD 103 primeira que deveria ser salva, Chegava o tempo-da cotheita, quando a ceifa tinha que ser rapidamente conclulda? Entio,o camponés deveria deinar seus campos ¢ segar o campo do senhor, Havia qualquer produto poste de lado para ser vendido no pequeno metcade local? Entio. deveriam ser 0 gro ¢ 0 vinho do senhor os que o camponés conduzia ao mercado € vendia — primeiro."!* Q “titulo de posse" da drea arrendada era transmitida aos hendsiros do servo mediante o pagamento de uma taxa. Leo Huberman cite um trecho dos anais do Tribunal do Feudo de Bradford, datado de 1349, que diaia @ seguinte: "Rabest, filho de Roger, filo de Richard, que possufa um terreno de 3 hectares de terra anendads, estd mario. Elogo ‘Tohn, sewirmdo ¢ herdeiro, tomou posse das terras (acrendamento), para sie seus herdeiros, de acordo com « costume do jeudo (..) ¢ paga 20 senbor 3 shillings de multa por entrada". 52.21 Os ordatios ou jules de Deus A justiga passou a ser aplicada segundo o costume do povo ¢ a ontade de Deus”. Alids, 08 juizes nem mesmo sabiam Jer os parcos textos juridicos. “A parte alguns clérigos, ninguém sabia ler ow -sscrever; havia poucas escolas; os jufzes (por exemplo, 03 vassalos, ‘eunidos num tribunal feudal) eram incapazes de ler textos juridioos, A justiga era feita, a maior parte das vezes, apelando para Deus, com 2 ajoda dos ordilios ou de dueles judiciérios”. 1" Ordalios ‘eiam of “juttos de Deus", ou seja, acreditava‘se que ‘Deus’ sempre protegia o inacénte, cvitando que ele sofresse ou que Ihe ‘weorre’se qualgiier mal. Assim, o juiz, antes de exarar uma sentenca, submetia 9 acusado ou it “prova do fogo" ov & “prova da agua”. Pela {Prova do fogo" o acusado era obrigado a segurar nas mos nas uma bara ‘de ferro incandescemte. A seguir sux inio ‘era“enfaixada’ sem Qualquer medicamento, Se depois de alguns dias a mio nfo estivesse infeccionada, o acusado era absolvido, porque Deus o tinh protegide, (2 HUBERMAN, Lee. Historia ds rgneta de harem. 20. ed, Rio de Jnr: Zaha, pl "69 Trecho retirads dos anais do Tribunal do Fouda de Bradford (periodo de 1349-1358), efe. Leo Huberman, ob. cit, p. 17 © GILISSEN, John, Ob. cit, p. 191, 104 INSTITUIGOZS DE DIRE ROnaKO. A “prova da gua” consistia em colocar o braco di caldeirso.com gua fervente, Se nada Ihe sconteeene amet inocente, porque Deus @ havia protegido das queimadares, Se 5 acusado fosse um nobre ou gozassé de elevada pasigio social éra-lhe ae te indies im, Se1vo para submeier-sc, em seu lugar, As provas Muitas vezes os litigantes desistiam de ur mri resolviam eles mesmos as prépras desavengas,atanés do doce cee commu as litigants desistrem de encontrar o soberana (para. os jugar ¢esvolberem a meiocaminhotum arbitro para resolver acausa poidesne Prefeciam, por vezes, arcar, desde logo, cam os azares do combate Fingular (duelo), fazendo-o.a cavalo, com langue escudo, ou ap com lava, bordio ou porrete, conforme fossem fidalgos on pedes Em certas resides da Europa, a parte que perdia uma causa pod See eee, ete © préprio juiz sentenciante ‘para um . col lo nas maos de ii chet, clocano ss mos de Dent a deci fase tec, Outra forma de julgamento que se ‘ século XIV foi o da nquiigto nor eta same Heels oe . ‘ddvida seo ato ou ato submetido a julgamento estava cm consoninels com 05 costumes locais, ere reunido um grupo de pelo menor den ‘homens, escolhidas dentre os mais honrados da loealdade. Esse gr (representantes da turba) deveria “dizer 0 costume’, isto € deciaree © fatto estava ou no em consondncia com o costume da fexclo-vigente, Como se pode notar, durante todo 0 periodo medievo toda a solider, razfoc objetvidade do Direito Romano foram substita(dos por tum sistema rudimentar de aplicaglo subjetiva do direito, em que as provas racionals foram substtldas por provas imacionis,recrrendo. se a Deus para resulver os confitos individuals. A Europa “sepultada por muitos séculos em barbaridades, ignordacia, ‘aerials apenas em alguns clérigos © monges a quem nio era liciia nem permitido esmidar leuas profands, ese p6s 0 Dineito Civil de Justimmane em desuso’e quase geral esquecimento”” co GONZAGA, Te Bermrdio. A igus em end Sed, Sio Paulo: 1 HERCULANO, Alexandre. HistGria ce Portugal, cfs, Moacyr Lobo « Lulz Carlos Azevedo, Estudos de hissria do processe “Rector. "FIGUEIREDO, José Anasticio. Memérias da Uieratura porteguesa. Lisboa Academia Real de Ciencias, 1972.1 1, p. 262 © DIREITO: ROMANO FOS-CLAssiCo los 5.2.3 A influéncia da Igreja Para se entender 0 crescimento da Igcejae a grande influéncia que ela passou a exercer durante toda a alta ¢ a baixa Idade Média, necessdrio ¢ retroceder no tempo, até o ano 313 da nossa era, quando, pele Edico de Milao, o imperador Constantine permitix total liberdade de culo a9 cristianisme em tod © Império Romano, ‘Constantino, to logo assumiu © cargo de imperador, reunificou 6 império que antes fara dividide por Diveleciano ¢ transferiu sua capital part a cidade de Bizincie, no Oriente, que passou a ser denominada Constantinopla, em sua homenagem, Continuou as refor- mas administrativas iniciadas por seu antecessor ¢, influenciado pelo eristianismo, passou a incentivar o trabalho cvangélico da Tereja Catélica, protegendo-a de scus perseguidores. Mandou devolver 205 ccristios todos as bens que Ihes haviam sido anteriormente confiscads, mesmo que ji repouso obrigatério aos domingos, autorizou a manumissio de escravos mediante uma declarasio da Igreja © autorizou-a 0. receber doages Concedeu o poder de jurisdic civil aos bispos e avtorizou os ltigantes transferirem seus procesios de um tribunal eivil para um wibunal eclesidstico, sob a presidéncia do bispo. A Igreja Catélica, entao, de uma minoris perseguida passou, pouco a pouco, a ser uma maioria tédo-poderosa, influenciando de modo intenso a vida na Europa até inicio da Idade Moderna, A influéncia da Igreja no direito se fez notar de modo marcante. “B de ter-se presente que a influéncia dos dogmas cristios sobre a legislagio no inicio do IV sé. nfo transformaria a estrutura do tradicional ordenamento jurfdico, mas, de qualquer mode, € inconstestével que 0 pensamento e a moral da Igreja passaramn a integrar € a concorrer com os principios do direito: os tragos do cristianisrmo silo individuados a todo momenta nae leis de Constaritino."” 5.23.1 A influéncia de Santé Agostinko no Direito Romano Santo Agostinho (354-430) foi o primeiro a introduzir um con- cceito subjetivista a0 Direito Romano, Para ele somente seria jusia a Jet ‘80 TUCCT, José Rogério Cruz ¢ AZEVEDO, Luiz Carlos de. Lipton de historia do processa civil romano. $50 Paulo: RT, 1996. p. 133. INSIIUROES BI, bUeLO ROMANE Aoeat Conformasse com Lei Divina, pos a justiga ver daitetra provem ee Deus uo onierm inerente a0 anor de Deus ag a os homens te Prevenicme de um diteito puraiente none E Dews quem rao eel do homem, iso nascer as suns Ils, Sn Aig tcepacidade de dscernime aio pia excolher ern bem e 0 mal A le moral © a lel do amor erisito devers Portante, sempre estar Teds acima da lis temporais ummanas (oor dos pin (pias € regras do Direito Romano) nee sean’, Agostioha demonsirva, dessa fom, uma injustign do vomeage ate qu, Obviamente, deveria sempre een subordinado & outro fil6sofo Iuminar do ’ 988, Por volta do séeula XIN, Propiciou um renascimento dos conceitos objetivos da Direito Romano clissico, ic © HMETT® ROAANO hos-CLAssICa Tevanlado diane dos olhos do agonizante. Numa cultura assinalada pe espaniosas diversidades de dinleto, dircito, culinsria, posas ¢ mediek ceunhager.a Iprejaofereeia ums mierada comum, na verdad um abrip. universali @ mesmo credo, 5 mesmos oficios, at mesinas misce, realizadss com os mesmas gestos, na mesma erdem, paca o mesino fing de um a outro extreme da Europa? 52.33 0 direito candnica A Tgreja cra regia por um sistema juridiee proprio - 0 direito candnico ~ que passox a vigorar em paraielismo ao Dircito Romano, Durcito expect da Tgreja Catslica, criginow-se do termo grege tanoon (= regula, regra) c foi empregada nos primeitos séculee ae ereja para designar as decistes dos eoncilios. Foi considerdvel a sve influéncia cm toda a Europa ocidental, notadamenie nos séculos XIL @XIIT, quando se “instelou, realmente, um sistema dualista — um diveito ico ¢ um dircito religioso ~ que vai manter-se st€ o século X30") A influéncia do aireito eanénico se deve, dente outros molivos, 8 ter sido cle o tinico direito escrito na Europa acidental, enire o fim do século IX eo século XU, ¢ ao fatode ter sido atribufda aos tibunais cclesidsticos 2 vompettncia exclusiva em numeresos assuntos da vids Desde o infcio da Idade Médin a Tgreja passou a excrcet o poster Jursdicionsl sobre diversos assuntos. “Em matétia penal, especifica, mente, os imperidores romanos reconheceram, nos séculos IV e V, a competéncia dos bispas para todas as infeagGes puramente religiosas ov espinituals, isto ¢, para tudo aquilo que dissesse respeito f8, ao dogma, aos sacramentos, a disciplina no seio da Igreja. Os canonisins dirko mais tarde: a matéria a clavibws, aquela que diz respeito As ‘chaves” da Igreja’# : Do século X 90 século XIV os tribunais eclesidsticos foram Competentes para julgar, penal e civilments, todas os eclesissticos ° MUMFORD, Levis cidade na hsiéria, as ovigens, transformogsts ¢ serapectives. ko Paulo, 1982, p. 290, eitado por JoBo Bemnardina Gonzaga, A ingulsigao em seu mundo. 8. ed, Si Pauly : Saraiva, 1994 ® GILISSEN, John. Ob. cit, p. 126. °° Tem. Ob. cit, p. 139. fos INSTITUICORS DL DIKEITO BostARO (pessoas que pertencessem a hierarquia da Igreja), os eruzados © os membras das universidades (professores © alunos) uma vez que todas essas instituigdes pertentiam & Igreja alé 0 século XVI, Tinham também o poder de julgar as miserabiles pessonas, ou seja, 28 vidvas © Orfaos que Ihe pedissem protegio. Os tribunals ¢clesiasticos eram também competentes para julgar maiérias pertincntcs a casamentos, separaydes, divércios, legitimacto de fithos € 08 casos de no eumprimenta de juramentos, uma vez que eles cram feitos em nome de Deus " 6 O RENASCIMENTO DO DIREITO ROMANO SUMARIO; 6,1 Renascimento do Dircito Romane na Europa ocidental: GL Escola dot Glosadores ou de Bolonhs; 6.1.2 Escola das Pés~ glosadores (Barolistas), 6.1.3 A presenga de Santo Temis de Aquine fo renaseimenia do Direito Romano — 6.2 © "segundo" renascimenta do Dirsito Romano: 6.2.1 Fontes do direito ne Absoluiisma; 6.2.2 Excola Humanisia; 6.2.3 Escola dos Priticos (séeulos XVI ¢ XVID 6:24 Bscola de-Direito Natural (Escola Naturist ou Jusnaturalista} 62.5 Escola Hist6rica (principios do seul XIX); 6.2.6 Escala de Pandectar ou Romanists (#6¢ulo XIX). 6.1 Renascimento do Direito Romano na Europa ocidental __No inicio do ano 1000 ccorreu em toda a Europe medieval um ‘éxodo rural de grandes proporgées. Muitos dos antigos servos jd se dedicayam 4 artesania, confeceionande ¢ vendendo seus -prodotos. ‘Esses artesos, bem como aqueles que aspiravam a se dedicar a tal mister, passaram a lular pelos prépriog direitos. ¢ por.uma maior independéncia cm relagho a sens senhores, Afinal, dé coatai eles nto se consideravam mais simples servos da gleba, mas'sim “colaborado- res” dos senhores feudais. Passaram a se reunir nconfrarias, tambéra conhecidas come “comunas”, para melhor lutarem ‘pelos seus dircitos. Nesse contexte, a lealdade passou a ser para com & classe ¢ nfo mais para com © suserano. A Iota € consequenté fortaleciriiento dx ‘Classe burguesa foi num crescendo aié por volta, do século XV. E origindrio dessa época o termo “burgués” (praveniente do latim burgens = habitante dos burgos ou das comunas), palavra que passou a designar agueles que viviam nas cidades, exiginda cada vez mais 0 respaita por seus dircitos © pugnando por melhores condigies de to INSITTUIGGES DE DiREITO ROMANO Cmérclo. “O-termo covmunal ou comuna passou, ent, a Ser ull zado te Pata designar 0 juramento entre cles de sc defentletemn mutuaren oromen Pa indicar 0 local onde se zeclamava 9 direito de trabatnas sc rormeiciae livremente."' Asst fortlccidos, os burgu reves Passaram 8 lular pelo dircito de elabararem suas proprias tes, independentemenie das normas emanadas do senhor da feudiy Conscguisam tal intento ¢ 2s cides pastarim 4 Migorar, tambéin, 38 normas preconizadas por Heceaala vivin na zona rural, a transfer éomiclio para a¢ Cidades, Fassando a trabalfar como aprendiz até completar’o tempo de ser liberdade ede livre-comercio, fez frutificarum ‘Sentimento de valoragiio do ser humano como sujeito de direitos. Surgiu um novo coneeito de ‘ireito de propriedade”, quc, ainda de forma incipicmte, beneficiava Mersent eeenetities. © esbowo eum dinito ‘somanial ne coches comerou também a ser dlinctdo, ainda fundamenatn nos sciplinando, inicialmente, as causas entre depois, qualquer causa em que @ to foi denominado mereantil SCAFF, Femando ‘Facury. A sabttidade do to i ie a ‘Sio Panto = ‘Saraiva, 1990. pa SC Oee ia GALGANO, Francesco, Histeria del derechg mercandil. Barcelona - Ed © RENASCIMENTO BO DIREITO KOMANO Mt G1 Escala das Glosadores ow de Bolowha © Direito Romano permaneceu desconhecido ein grande parte da Europa ocidental durante quase toda Idade Média. No ano 1090, Imério, que era monge, professar de gratnstica e de dialética (magic? tn artibues) em Bolonha, descabriu tim manuscrito de Digesto muna bibliotece de Piss' © passou 2 estuda-lo por partes, inserindo notss cxpliativas entre as Hinhas ou nas margens do texto estudado. Coin essas motas ele procurava atwalizar e adaptar as normas de Diteito Remano aa dircite consuctudindsio © a0 direito candnico-entio vigen- tes. A Imério vieram juntar-se outros estudiosos formando-se, entio, tum grupa de estudos denominado Escola dos Glosadares, porque ai nots que eles inserian 8s margens dos textos eram chamadas glosas, palavra origindriado grego que significa “uma breve explicagio de uma palavra dificil”. As glosas mais curtas eram escritas entre as linhas do manuscrito (glosas intertineares) © as que eram mais longas eram scolocadas & margem dos mesmos (glosas marginais) Destacaram-se dentre os “glosadores”, além do proprio Imério, Bilgaro, Martinho, Hugo, Vacério, Azo e Actirsio, Este tiltimo escre- vou a Magna Gtosa, obra que continha ag principais glosas de seus aniecessores. O método de estudo do Direito Romano estudado pelos glosadores “acabou se espalhando, em breve, por toda a Europa, onde se eriaram idénticos estudos de jurisprudéncia, cm Paris, Oxford, Monipellicr, Valencia, Salamanes, Lisboa ¢ Coimbra.."" e a Europa medieval péde constatar que ‘o Direito Romano, ‘desconhecido ¢ ‘esquecido por tantos anos, era um direita completo, muito mais racional © evolufdo, que poderia servir de: modelo aos ordenamentos juridicos entio vigentee, A partir de entia, o Direite Romano passou a ser considerado um “direito comum" a todas 0s povos € comegou a preencher Jacunas sonhecemes hoje como contrato est relacionido“com 0 desenvolvimento da sociedsde capitalists.” FERRAZ JR, Tércio Sampaio. Revista do Advogodo-AASP n. 9, “ “Esse precioso manuscrito do Digesto. que dala dos fins do eée, VI, estore em Pis1. at 1408, ano em que foi trazido como woféa da derrota dessa cidade para a Biblioteca Lameneiana de Florenga, onds se encontra. Em viaude desses fatos € conhecido por tiitera pisana, mas sobretudo por liters Florentina.” Scbastite Crux, Direito romano... p. 96. *! LOBO da COSTA, Meacyr e AZEVEDO, Luiz Caras. Ob. cit, p. 84 12 INSTIFUIGOES DE DIRLITO ROMANO existentesnos diversos diceitos ocais, Emvalgumas regiées ele substitulu integralmente © diteite local existente © “em lugar de pravas “irracio- nais', entre as quais se conta a intervengio de Deus ou de outros «lementos sobrenaiurais para dizer quein tem razio (ordilios, julgamen. tos de Deus, juramentas etc.), (passouese) a estabelecer a verdade por meios ‘racionais’ de prova {inguétitas, testemunho, alos reduzidos 2 escrito ete) G12 Escola dos Pés-glasadares (Bariolistas) No século XI surgiu na Iiélia 0 movimento dos Bavtoléstas, também conhecidos por Cameniadores ou Pés-glosasiores. Liderados par Bartolo de Saxoferrato, era formado por estudiasos da direite que Teagiram contra 0 métoda dos glosadores, que cles considéravam demasiadamente analitica, ¢ defendiam uma nova forma de interpee- ta¢lo do Direito Romano, © Dircito Romano, para eles, deveria ser esudado no através de pequenas notas explicativas (gforas) mas sim, através de longos comentarios comparativos entre o Direito Romane slissice, 0 direito candnico c os direitos de cada regia. Desse estudo. comparativo deveriam ser retirados os prineipios gerais que deveriam ser aplicados na solurio do problema real. Seguiam, desta forma, os prinofpios da dialétca escoléstica, métode uiilizado na teolegia por influéncia de Santo Tomas de Aquino Esse métado preconizado pelos pés-glosadores para o estudo do direito foi seguido em numerosas universidades da Europa ocidental, entre a3 quais a de Praga, Viena, Heidelberg, ColGnia, Lovaina etc... influenciow es pesquisadores do Dineito Romano da época, notadamente na Ieflia. As obras dos pés-glosadores, entretanto, além do estilo gongbrico, demonstravam desconhecimento da histGria e literatura Latinas ¢ utili, zavam-se dos textos romanos sem levar em conta i época e circuns- tncias em que haviam surgido. ‘Apesar dessas falhas, a Escola dos Pds-glosadores & considerada 4 precursora da verdadeira ciéneia jurfdica modema ¢ foi um dos principals redutos do saber jurfdico daquela época. Nemo jurista nisi st Bartolista, era 0 que se dizia entio, ou seia, “ninguém é jurista se niio for Bartolista”. " GILISSEN, Jon. Ob. cit, p, 205. © RENASCIMENTG DO ONKEITO ROMANO: 1B 6.3 A presenga ce Santo Tornds de Aquino no renascituento do Direito Romano Santo Tomés de Aquino (1225-1274) € considersdo © maior fil6sofo da escolstica medieval. Profundo estudiosa do Dircito Roma- no, ele buscou harmonizar a fé cristh € a razio ¢ se afssion da concepgio subjetivista do direito, pregada por Santo Agostinho. Nessa época de renascimento do estudo do Direito Romano, iniciado pelos estudos da Escola dos Glosadores, Santo Tomas de Aquino fer ressurgir 0 conceito aristotélico de diceito come “arte juridica que tem come fim préprio a ‘medida da proporgao justa entre coisas exteriores: partilbadas entre pessoas"? Ele preconizava que 0 direito deveria ser essencialmente natural, objetiva, voltado para a conseeugio de uma Justa ordem social, ¢ que 0 conceito filoséfice de direite natural de “Aristdieles deveria ser 9 alicerce para a aplicago do Direito Romano, Santo Tornés de Aquino fez assim reviver, dentro do movimento renascentista do Direito Romano, a concepgio de que o dircito deveria set sindnimo de justiga Gusto = dircito). "No primeiro renascimento, ou seja, no século XI, Santo Tomis de Aquing, alicergade no conhecimento do,direito romano, tinba jf erguido a grande ponte sobre que haviase passara idade moderna, a li¢do aristotélica sabre o direito conforme « natureza.”? 6.1.3.4 Guitherme de Ockham (1290-1349) Em meio is efervescentes idéiat dé liberdade, de livre-comércio # do fortalecimento da classc burgucsa, germinaram proficuamente os idéias do toblogo franciscano Guilherme de Ockham, que, seguindo as Pegadas de Santo Agostinho, conferia um carter mais subjetivo 20 direito, Para cle, o-homem devia ser considerado um sujeito de direitos € nfo apenas encarado comp um simples’ fruto da sociedade. Essas idfias de Ockham agasalharam pesicitamente 0 dircito burgus entZo incipiente ¢ cimentaram as bases para a implamtacio de um dircite eminentemente subjetivo que j& despontava. PEREIRA, Aleysio Ferraz, A influéncia da teologia no direito, Revirta Impulse m. 15, Editora Unimep, 1994. p. 17, ™ PEREIRA, Aloysio Ferraz, O diveite come eiéncia, Sia Paulo : RT, 1980.p. 13, 14 WNSTTUICOES BF DIRE Rowan “O dircito subjetivo, provinds de Ockham, tormar-se-ia pedra eee indvidualsmo burguts, desde Hobbes sté agora, A tocto ide direite subjetivo era, em Roma, inexistente ou de inima impor- fancia quando a comparamos a6 granditogiiente Papel que lhe estava Centade no sistema modem... Bsta nova épocs, cm que fleeces quilherme de Ockham ese langaram as bases ao direto subjeive, fay 4 vit6ria da teologia sobre a Filosofia greca-romana" 62 O “segundo” renascimento do Direite Romano print ane nas mii do tei, O monarca, que antes se transformtaea nang ar ctee er Pores isolado em seu castelo ¢ dividindo seu governo-com Palos sepals Poderes novamente concentrados em suas mags ¢ isvo pelos seguintes motivos: © comma lade te eringo © manutengio de um exércita nico, ser ieemed® do monarca. © eusto da manteaga de exércites Particulares sob as expensas de cada suscranc, 1 exemplo do que ° Média, se tomara extremamente elevado, [reo jiepossibilitow o: nobres de\ continuarein = manter, cade qual e © seu exército, wansferinda essa responsabilidade para * felomou aa tei o poder de edbrar tibutos; Sabo onare’ Passou a sero nico aplicador da justiga, passanddo 3 Ihe caber a ima palawra (apellatie} nas Hides enite steno Passou a ser da livre discrigio do monarea a csculha dos membros Ges kstados Gerais (Franca, Paises Baixos), Parlamcato (Ingle piers lamento (Inglaterra) on Ff, burBuesia foi pouco a pouco peritendo a posigho de destaque ‘tue havia alcangado no seio da sociedade; Pt % testaah ae rtalizow-e 0 entendimento de que o monatea era investido ¢m suas fungdes Por vontade divina; © © poder de legislar yoltou @ ser atributo exclusive dos sobe- aos, © Hem © aieito corno citncia. p13 ¢ 17, © RENASCIMENTO DO DIRELTO ROMANO 1S ‘Todas essas circunstincias fizeram com que o rei voltasse a ter enfeixado em suas maos poderes ilimitados no exereicig de sins siribuigtes legisIativas, executivas © judiciarias A pantir do seule XV, com o surgimento de iniimeras nagGes independentes, surgiv tatnbém o sentimemo de “patriglismo” > o conceito de umm “direita nacional" para cada povo, “Surgiram nagies, as divisGes nacionais se tormaram acentuadas, as literaiuras tiacionais fizeram seu aparccimento, ¢ regutamentagées nacionais paca a indéstria substitufram as regulamentagées tocais. Passaram a existr leis nario. Inguas nacionais © até mesmo Igrejas nacionsis.? Os homens passaram a dever fidelidade nfio mais 40 suserano ou a cidade mas sim a0 monarca que representava toda a nagdo. Amplantou-se, dessa forma, em toda a Europa, um regime de coneentragae absoluta dos poderes nas miios dos reis - o perfodo do Absolutismo que persistiu até fins do século XVII. G21 Fontes do direite no Absotutizma Até 9 século XII a tinica fonts do diveito feudal havia sido 0 costume, conforme visto acima..Como existiam diferentes costumes em diferentes regises, coexistiam também intimeros “direitos”, que cram aplicados por eada suserano em sua regio, A partir do fortalecimento do poder dos monarcase © conseqdente surgimento do regime absolutisia, a lei come;ou a suplantar 0 costume coma fonte da-direito local, Nao mais a lei do suserano, do senhor das ferras, mas sim a fei promulgada diretamente pelo monarca,-como dirigente supremo da nagio. Em cada Estado mulliplicaram-se os Preceitos Iegais emanados dirctamente do rei. #5 Como eram muitas as normas € os preceites, surgiu anecessidade te um estudo mais aprofundado do direito.de eada pals ¢ de uma reunificago de todas as normas jurfdicas existentes, escrilas¢ nio escri- fs. “Uma vez que a monarquia se fomara absoluta, em certos pafses, (odes 05 poderes estavam nas mags do principe, que procurava unificar © diceito de scu pafs,¢ suprimir os particulsrismos costumeiras com a ajuda de uma atividade legislativa que: invadia cada vez mais dom{nios."!" e° HUBERMAN, Leo. Ob. cit, p79. " GILISSEN, John Ob, cit, p. 302. 16 INSTITUICOES DE DIREITO ROMANO. Nesse contexto ganhou novo impulso 6 estuda do Direite Romano, notadamente do Digesie, com os estudiosos se reunindg em diversas correntes au escolas doutrindrias que vieram propiciar tum segundo “renascimento' do Direito Romano na Enrops. ociden tal, 622 Escola Hismanista No comego do sécwlo XVI surgiu na Alemanha a denominads Escola Humanista, tambem conhecida como Escota Culta ov Elegante, formada por pessoas cultas, conhecedoras do grego e do latir ¢ que eniendiam que © Direito Romano deveria ser estudado mais profunda. ‘mente ém suas origens, tal coms ele era aplicado nos tempos da Roma antiga. sem comparagdes com 0 dircita moderno. Os integrantes dessa escola buscavam a reconstituigdia do Direito Romano cldssico, estudan- doe pesquisande os dacumentos histéricos da Antigdidads, noladamente o Digesta, Desenvolveram, assim, um estudo do Direito Romano puro estabeleceram o sentido original ¢ verdadeiro de grande mimero de regras juridiess romanas. A Escola Himanista iniciou com Alciato (1492-1550), um pro- fessor italiane que foi o Primeiro a ensinare Direito Romano de acordo. som esse novo método. Scu principal representante, no entanto, fol Jacques Cujas, Cujécio (1522-1590), que teve grande influfneia sobre 0s juristas de seu tempo ¢ que “aliava di profund erudigho em filesofia © histéria o mais agudo senso juridico. Sey trabalho de pesquisa ¢ Imerpretagao dos jurisprudentes romanos foi completado por seu rivel Donean ou Donellus (1527-1591), que, preocupando-se mais com a ciéncia juridiea do que com o seu objeto, o fendmeno juridico (leis, costumes etc}, legou-nos uma exposigio generalizada ¢ sistematizada do direito romano, desenhando-Ihe uma fisionomia que Roma e seus Juiistas nfo The tinham dado”.!? A influtncia dos humanistas se estendeu também para a Franca ¢ a Itéliae esse perfods fol considerato coma 0 ti “segundo renascimenio” do extudo do Dire Romano sico. ( PEREIRA, Aloysio. Ferraz. © aireita como cinta, p. 3 0 RENASCIMIENTO Do RETO ROMANO nh 6.2.3 Escola dos Pritices tséeulos XVI ¢ XVH) Essa Ercola teve grande imperincia nes séculos XVI ¢ XWIl¢ tus integrantes pretendiam 0 usus modernus pandectarum, ou seja, a adaptapao da Digesta ou Pandecras a pritica forense da época 624 Escola de Direito Natural (Escola Naturalista au Jusnanuealisia) A Escala de Direito Natueal se desenvolveu na Europa nos séculos XVII c XVIII e teve como principais defensores Hugo Grocio (Hogo de Gract, 1583-1645), Thomas Hobbes (1588-1679), Heinécio, Tomasio c Leibniz, entre outros, Influenciades pelas idéias do lleminismo, preconizavam 9 estude do direito na natureza € na razdo, pregando regresso 26 equilibrio entre © dircito natural eo direito positive. Entendiam eles que o direito era um produto da razo humana ‘e que, devida a isso, deveria ser igual para todos os povos do mundo, em todos 0s tempos © lugares. Esse entendimente racionalista do direito veio a favorecer a idéia de uma codificagio de todas as normas juridicas, ou scja, 0 surgimento de um direito codificado, imutivel, baseado na razko natural das coisas. Nesse novo direito deveriam vigorar diversos Princfpios do Direito Romane clfssico, desde que nfio se chocassem om princfpios do dircita natural. Os préprios reis no poderiam subtmair-se a esse direito, fundamentado nas leis naturais, fundamen- ais, universais, permanentes, imutdveis, que decorrem da natureza humana; assim podia ser combatida a tendéncia para o absolutisme real, baseada no direito divino.!? 6.2.5 Escola Historica (principios da sécuile XIX) A Escola Histérica surgiv em prinefpios do século KIX © seus defensores entendiam que, ao contnirie do que pregavam os jusnaturalistas,o direito era urn produto hist6rico, um fenémeno social, fruto da consciéncia popular, e no unicamente naseido da vontade aubitréria de um legislador. O direito deveria, portant, ser investigado ¢ estudado diretamente em suas origens histéricas, dai defenderem eles GILISSEN, John. Ob. eit., p. 364, 1s. WSSTITUIGOES DE RETO. ROMANO lim fetoma ao estudo das origens iiistérieas do Dirsito Romano, gem as absirapges do direita natural, A Excota Histérisa teve como fundadotes Frederico Carles de faviuny (1779-1860. Gustavo Hugo (1764-1844), Puchia, Gans, Keller & outros 626 Escola de Pandectas on Romanistas (século XD 7 A RECEPCAO DO DIREITO ROMANO PELOS DIREITOS NACIONAIS SUMARIO: 7.1 A recepyo do Diteito Romano no Ocidnte = 7.2 A IPecprao do Direito Romano pelo dircito poriuguts ~7.3 A receprto 40 Direito Romano pelo diita brisileio, 7.1 A recepeio do Direito Romano no Ocidente Entende-se como recepeio do Direito Romano a sua adogio em diversos paises, ou em eardier definitivo, substituindo dipeity Local Pre-cxistente, ou como um dirsite suplementar, destinado apenas Suprir as Tacunas do direito em vigor em cada regio. “E a admisio voluntéria de partes essenciais ou principais de-um onfenamenio juridico esiranha (v.g., estrangeiro ou extinto) por um povo, sem que cate tena side deminado ou submetide por aquele povo a quem de alguma forma perteuce evse tal orenamento juridico.”! A partir do século XII, comegaram a surgir.no Ocidente os “estados nacionais”, pafses com lingua, literatura ¢ culturas proprias ¢, Conseqilentemente, com wm diteito préprio, Esse: direitos atinhamese ‘Precipuamente aos usos ¢ eastumes de seu respective pove— um direito consuetudinirio no escrito, Nesta época, 0 Dircito Romano jf era conhecido ¢ estudado nas Brandes universidades da Europa como um direito erudito, e a eccrén Gla, solidex ¢ objetividade de seus principios, normas e preveitos comegaram a ser camparados com aquelts direitos consuetudinarios "CRUZ, Sebastiao. Direito ramane... p. 95. no INSTITUICOES DE DIReITE KOXIANO passanda « servir de modelos para eles E, pouco a pouco, teve inicio © fendmeno da sua recepgao pelos demais direitos nacianais. A recepsio do Direito Romang por outros palses significa, pois, que ele passou a servir como alicerce, como base, coma uma “biblia juridies”, auxitiando a aplicagio ca direito nacional focal. Foi uma “fase de infiltragde que, muitas vezes, durow trés ou quaira séculos, do. século XIE ao XV, succdendo-se em viirios palses © reconhecimento legal do jus commune ~ 0 diteito romano tal come ¢ra ensinado nas universidades, como direito supletiva das Ieis ¢ costumes; servindo para precneher as lacunas do direito em vigor”? Mesmo publicagio dé “eddigos civis" nos diversos patses no diminuivt a importincia do Direito Romano, mas, muito pelo eentririo, consagrou-o, “Essa consagrago € feita pelos dois melhores ¢6digos civis da Europa: o Francés, de 1804, de quem Windscheid afirma — ‘éuma sintese admirivel dum bom manual de Dircito Romano’; ¢ 0 Alemido, de 1900, de quem Gierke diz — ‘sio as Pandekten de Windscheie wansformadas em parigrafos’. Como é sabido, estes dais eédigos vio depois influenciar os cédigos de quase tode 0 mundo. Do (Cédigo Francés receberam influéncia, dentre outros, 0 Cédige llaliana (de 1865), o Portugués (de 1867), o Romeno (de 1869), 0 Egipeis (de 1875), © Espanhol (de 1889), e vérios cOdigos das Américas do Sul ¢ Central; 0 Cédigo Alemio, 0 Cédigo Suigo (de 1911), o Brasileiro (de 1916), © Chinés (de 1929), 9 Grego (de 1940) cic. Conclusifo: desta maneira, 08 principios do Jus Rovriansm, direta ou indiretamente, em ‘maior ou menor grau, informam todos ou quase todos o zal 0 me q 18 eédigos da E de se ressaliar que nin foi o Direite Romano eldssico que foi adolado como direito supletiva nos paises da Europa, mas sim o direita jastinianeu, contido no Corpus Juris Civitis, com ax observagces & comentirios das glosadores & pés-glosadores. “A recepgiio efetuou-se principalmente através dos alunos que se tinham formada (sesebido formagdo juridica) nas universidades dz Bolonha € Perusa; € portanto ‘viam 0 direite como com os ollos de seus méstres' GILISSEN, John, Ob. cit. p. 35) © CRUZ, Sebaslido. Dircite romano... p. 91 © Hem, Ob, cits p. 95, 121 ‘A RECECAO DO DIREITO ROMANO PELOS DIREITOS NACIONAES ‘A recepgiio de Direita Romano foi raipida ¢ profunda em alguns Fsiadas c mais demorada em quires, € no foi simulianea. Na Ital Portugal, Espanba c sul da Franca — regides mais romanizadas, nas quais havia vigorado por longo tempa as denominadas leis “barbaras" (Lex Romana Visigothorim, Burguadionum ¢ Edito de Teodovice) ~ a recepgdié de Direito Romano se deu de forma incorestada ¢ rapida, suprindo facilmente as lacunas do dircite lacal vigente, Mesmo com 1s alteragdes ocorridas durante 4 Idade Média, a influéncia do Direito Romano nig havia desaparecide de todo na regtao, Na Itdlia a recepgao ocerteu em fins do século XI ¢ initio do século XI; na Franga, no século XII; e, na Espanha.e em Portugal, no século XIII, Nos pafses que integravam 0 Sacra Império Romano-Gerninico 8 recepriodo Diteito Romano também nko encontrou obstéculos. Essa pronta receprao teve seus motivos: Iméria, @ monge que havia descoberto um volume do Digesto na Biblioteca de Pisa e que fundara a Escola dos Glosadores, era consultor do imperador do Sacro Império Romano €, com a autoridade de seu cargo, langou a idéia de que os jimperadores do Sacro Império cram os sucessores dos imperadores romanos. Assim sendo ¢ logicamente, 0 Direito Romano deveria, também, ser o direito 2 reger os destinos desse Império, sucessor das glgrias do primeiro, Em contraposiga, esse também foi o motive do repudie inicial do Direito Romano no norte da Franga, norte da Alemanha ¢ na Inglaterra, paises que eram opasitores politicos do Sacro Impéne Romano-Germinico. Se eles recepcionassem o direito. des romanos come direito cormum, implicitamente estariam também reconhecendo 4 soberania de seus inimlzos politicos. 5 oe Esse fo} o motivo pelo qual Felipe Augusto, rei de Franga, proibju, em 1200, o casino do Direito Romano na Universidade de Paris. Felipe MM], sew sucessor, nio deixou por menos ¢, .cm,1278, ,proibiu os advogados franceses de se referirem 4 normnas do Direito Romano nos ‘casos em que o direito consuetudinsrio francés esiivesse em vigor. Na Alemanha a assimilagio do Direito Romano ocoreu nos séculos XVI e XVIL e se dew mais lentamente que nos denaais paises europeus. O direito que vigia em todo 0 see territdrio era o dircito nacional alemio, consuetudinério e nao escrito, que resistiu um pouce ‘mais para receber a influéneia do “direite comum” romano, Em 1495 122 INSTTTULEOES. BE aero. pontawo 2 Tribunal Imperial Alemie-aecitou a aplicacte do Corpus Juris Civils Somente quando ele mio se chocasse cor as leis Jackie Nos paises cslavos a infllraglo do Dircita Romana come dlicito supletivo foi mais ents ¢ dificil A Inglutceraresistu © nfo aderiu 3 influéncia do Direlto Reiano, © diteito anglo-saxio & um diteito eminentemente consuetadindrio, fruto de decisbes judiviais reiteradas, de piecedentes Judiciais, © nio i um diteito escrito. "O common tow é um fudge-made tans direito Jufaprosencial, claborado pelos jufzes reals ¢ mantida grees han ridade recenhecida aos precedentes judicidtios. Salve ne época da sua formasto, a lei ndo-desempenha quaiqucr papel na sua evolugao,"? Este & um dos motivos pelo qual o Dircito Romano un dire escrite — Pouca influencia exercey sobre-o dircito inglés, mesmo que supletiva- mente, 7.8 A reeepsio da Direito Romano pelo direito Portugués Os visigodas, apos terem conquistado a Itdlia © a Pentnsula Ibérice, nfo aboliram a aplicasio do dirtito romano vax regises vclahicag: Respeitaram a sua sua coeréncia, superiorigate racionalidade,¢ a Iegislagio romana continucu a reger os destin dc Powe congulstado. O imperador Alarica II promulgeu, em S06. Tee Romana Visigothorum (Lei Romana das Visigodoy) rag Brevidrio de Alartco, que'nada mais era de- que um extrato do Codigo Gregoriano, dos ciney primeiros livros do. Cédigo Teodosiana, partes do ‘Cédigo Hermogeniano ¢ contina, ainda, inimerog ‘Parecéces de jurisconsultas romamos.® A Lex Rumana Visigaiborum vigorou Por mais de 150 anos, ‘mantendo vivos os principios do Direito Romano em tods aquela © GILISSEN, John. Ob. cit, p. 203 “ “Rest compe estio contd lise lexis de fu (ito outrinal) selecio- tee? Céligo Teotosiano on de divers livos, como so cedars que & fez mo e022 do rcinado do senhor tei Alaico, porordene de ilustre vario, 0 le convém prover que no teu tribunal nfo se tema Jal Ou receber qualquer outra i ou formals do fas Pols se nano Tiree perencenanme” sco da ta eabega ou com pera dos Bens que se tains ar near aemntt” (Brevidiio ds Alutico ~ precscvipto) eamteddere roibigto ode usar out eireto)), PO Hwa 133, HS NACIONAL A RECHICAD BO DIKEITD ROMANO PLoS 1280, a1€ séculos depois do desaparecimente do grande lmpério dos Césares, No ano 600-da era eristi os mouros invadiram a Peninsula Ibérica € chegaram até o sul da Franga, amas souberam respeitar os costames € odircito do pave conguisiago. O dineito 14 em vigor, no emtanto, 44 nfo era mais exatemnente aquele contide na Lec Rovmana Visigorhormin mas Umi dircito bastante modificada pelos habitos ¢ costumes medievals do pove: “Seo direita romano nao desaparecera por completo, sofrera no decorser daqueles séculas o altivio dos direitos paralelos, oriandos estes mais das piiticas costumeiras, do que de disposigées escritas”? 'No seulo XII! Portugal surgit: como Estado auttnomo e indepen dente, mas o seu dircito continuow a ser o mesmo que vigorava no festante da Peninsola Ibérica; um direito feudal rudimentar, adaptado 208 sos e costumes medievais dé scu povo, apenas cam resquicios dos principios do Direito Romano contidos na desaparccida fei visigotica © conhecimenta juridico, nesse perfado da histéria portuguesa, ainda era Festrito a uma elite cults constituida especialmente por membros da Iereja,* que possula uma cultura juridica “baseada no conheciraento 0 cédigo visigstico, de formas notariais visigéticas, dos cdnones conclliares hispinicos ¢ das Erimofogias isidorianas @ em tradigOes juridicas eomunitérias de influéncia visigética e mogérabe"® Apés a guerra da reconguista, no século XIII, que expulsou os frabes do teritério lusitano, Portugal se fortaléceu como nagdo livre © indspendente. Nessa €poca, a cidade de Bolonha jf havia se tensfermado oun grande centro de estudos do Direito Romano, por Obrae graga da Escola dos Glosedores, comandada pelo monge Iméria Esudantes de toda a Europa, inclusive de Portugal, para ld acorreram ara se aprofundar no estudo, notadamente do Digesto e das Institvtas © LOBO DA COSTA, Moscys © AZEVEDO, Luiz Cirlos de. Ob. cit, p. 63. © *Lezo i Igreja da Porto os mens Decretos ¢ as Insliaigtes © Novela regunda estto (encardenadcs) mum Yolume'e a suma dos Decretos c das Instituigaos € do Cédige inserides noutro volume (..) Lego fh Igreja de Braga 0 sneu Céitigo © 0 Digesto Velho ¢ 0 Novo em trés partes como Esforgado + saligrio glasido.” (Testamento do bispo D. Femmando Martine, dstsdo de 08. 11.1185.) GOMES DA SILVA, Nuno E. Histdria do direito pornguts Lisboa, 1985, p. 156 © GILISSEN, John. Ob. cit, p. 369. 124 INSTITVYGOES HE BMMENTO. ROMANO, A coroa portugucea também investia na formagiio juridica, contratando Juristas glosadores ¢ ps-Glosadores como “conselheiros” na formago junidica da nagio lusitana O Direito Romano, dessa forma, ressurgiu em Portugal, mas, inicialmente, apenas como um direito enadito, supridor das. lacunas existentes no direito tradicional, ainda consuetudindria ¢ nao escrito. Durante o reinado de D. Diniz a influéncia de seus principios & preceitos se fez notar de forma mais intensa, notadamente nos contri- tos, escrituras © demais negécios da vida civil portuguesa “Apesar de jt ter sido introduzida em época anterior, é entretanto, 4 partir do reinado de D. Diniz que o direito romano adquire notori- ‘edade como fonte superior na formasie do direite lusitano, particular mente em virtude da fundagSo da Universidade de Lisboa (1.° de margo. de 1290), onde © direito de Justiniano passou a ser ensinado ao lado do dircito eandnice." Na Universidade de Coimbra passou a existir uma citedra espectfice de Direito Romano.!" A partir de entio, de forma lenta ¢ gradual, o Direito Romano passou a ser um dircite comum, com aplicago em temas portuguesas, Em 1446 foram concluitas e mandadas publicar pelo Rei Afonso V as denominadas Ordenegdes Afonsinas, uma compilagao do d ‘radicional portogués que veio a substituir os antigos florais, espécic dde carias através das quais s¢ concediam foros, privilégios e isengécs os siditos portgueses.” As Ordenapdes Afonsinas eram compostas " COSTA, Mosey: Lobo da © AZEVEDO, Luix Carlos de, Ob. cit, p. 67. ** “Ordenou el Rei Dom Jofo II que osletrades, que hou'vessem de tomar para Desembirgadares, extudastem rm Coiribra em dirite Canoniee ov Civ daze anos aa menos, oa tivessem oito anos, equatio de servigo de juizes de fora, Ouvidores, ou Corregedores, ow Procuradares da Casa da Suplicagto. E que os que hoavessem de piocusar, ou advogar, tivessein oitm anos na dia Universidade & que-oque visasseooficio de julgaz, ou provurar, ou advogar, nfo tendo o clio tempo, pagusse pela primeira vex cinguenia cruzidos, » ‘melade para quem o acusasse ¢ « outra metade para a arca da Universidade, E pela segunda vez concorreit ia anesimm pena, © nlo poderia visar os ditos ‘cargos, posto que reabusse de estudar 0: dito cito anos, daf a dois anas depois que os acabasse de estadar.” Leis exteanagantes, cf. Duarte Nunes de Leo, Lisboa, 1796. 6 FERREIRA, Waldemar. Histéria do direito Brasileiro, So Paulo: Freitas Bastos, 1952. Vol HL. 131, p. 293, 1 hn Ac et HRN Hitt whi) 4 RECEPCAG DO DIREITO ROSIANO PELOS DUUITOS NACIONMS 125 por cince livros, contendo todas as leis, regras ¢ normas até emtio istemtes, além de trechas do direito candnico « do Dircito Romano inteepretados pelos glosadores. O seu Titulo IX do Livra If deter minava que a5 Icis ¢ 0 dircito tradicional (os costumes) deveriam ser suprides por outras fontes de direito, tas coma os “santos cSnones, a Magna Glosa, de Accursio, ¢ 2 opiniio de Bartolo”, ou s¢ja, 0 Direito Romane interpretado pelos juristas pertencentes as Escolas dos Glosadores ¢ dos Pis-Glosadores passou a ser oficialmente reconhecido come um direito subsidifrio x0 direito portugués. As corientagSes contidas no Digesro persisticam, também, mas outras ordenagtes do reina: as Ordenacées Manvelinar (século XVI) ¢ at Ordenagées Filipinas (século XVID), A partir do século XVIII 9 Direito Romano teve reduzida sua influ€ncia, concomitantemente com a redugio da influéneia do direito canbnico, fato ess¢ motivade pela expulsio dos jesultas de tcrras portuguesas pelo Marqués de Pombal. Continuou, no enlanto, a ser considerado um diteito subsididrio, subordinado, enlretants, & Lei da Boa Rayo, que dispunha que ele seria aplicads “apenas quando estivesse conforme com os princfpios etemos do dircito natural, com ‘o espirito das Ieis nacionais e com as necessidades ¢ circunstincias da tempo”! ‘O adventodo liberatismo trouxe consigo uma idéiade codificapio do dircito, ocasionando uma sucessiva publicagiio de eédiges. “Sobre. vém, entio, sobretudo no dominio do direito privado, uma época positivisia, voltada para a exegese ou para a construgo dogmatica- conceitual do direito." 7.3 A recepcio do Direito Romano pelo direito brasileiro Desde 0 descobrimento © ai mesmo apés a independéncia, ircito que vigorou no Brasil foi o direito portugués, contida nas Ordenagies do Reino: Afonsinas, Manoelinas « Filipinas ~cédigos de Ieis que tinham rafzes eminentemente romanas, eanforme visto ante- riarmente. |! LIEBMAN, Insituti del diritto carmune nel processo civile brasiliana. a. 4, p. 499, © GILISSEN, John. Ob- cit, p. 370. bE preero ROMaNa lee O prlenamenta jurdico brasilelo tem, pois, as mesmas origens & earacteristicns do dircile portugués, padendo-se mesmo afirmar que = 35 normmas contidas na antign Lex Rovaana Visigothonin ou Brevidtis ate Alarica vigoraram no Brasil, de forma indirta, alavés dee Ooh nardes do Remo, quc aqui vigeram durante 0 periedo Brasil-Coldnie, eit csttutura do diteita civil brasiletto ~ seus principio, EEniOn, lassificagses, métodos e sitos processusis -. portantor san Chan ete ite Constrgees romanas. Dos 1.807 anigos do Cédign Civil cerca de 1.445 deles provém, diveta ou indretamente, do Direito Romano cantido no Digesio. Apés a indopendéncia,o dircito brasileiro foi eriando earacteri. ticas préprias, difecenciando-se as poueos do direito Portugués e dos demais direitos: europe no entanto, permanece nos ensinamentas contidos secularmente no Digesio, complica pelo im. Perador Justiniano, no longinque ano de 533 depois de Crave 4 Secunpa Part INSTITUICOES DO DIREITO ROMANO 1. Conceito de direite (jus) 2, Direito das pessoas 3. 0 staius na Dircito Romano: 0 status Hbertasis 4, Status civitatis ~ A eidadania romana $. Status feenitiae 6. Capitis deminutio 7. O casamento no Direite Romano 8, Tutela 9, Curatela 10, Pessoas juridicas 11. Dirito das coisas 12, Direitos reais sobre coises priprias 13. Modos de aquisig80 da propriedade ‘14. Posse 15. Direitos reais sobre coisa atheia 16, Dircitos reais de garantia sobre coisa alheia 17. Direito das obrigactes 18. Obtigagses que sé originam dos contratos 19. Contratos reais: 20. Contratos consensuais 21, Contratos inominados 22, Pactos 23, Os quase-contratos 24. 0 delito © 0 quase-delito come Fontes de obrigagies 25, Incxccugto de obrigasdes 26, Garantias de execueie das obrigagdes 128 JASTITUIGOES BE PIRETTO KOMANO 27. Transmissio de obrigagées 28. Extingdo das obrigagéies 29. Dirtito das sucessces 30. Sucesséo legitima ou ab intesiato 1 ‘CONCEITO DE DIREITO (JUS) SUMARIO: 1.1 Conceita de direlto- 1.2 O jure aes 1.3Dias fastos 8 dias nefasros — 1.4 © conceito de justiga ~ 1:5 Dirvito objetivo ¢ direto subjetivo ~ 1.6 Cissificagto de dizeito abjetive: 1.61 Quanto 2 forma: jus scripsum ¢ jus non scripsun; 1.6.2 Quanto ao interesse. pablico e direita privado. 1.1 Conceito de direite Os homens sempre tiveram preeeitos éticos, morais, religiosos € junidions a thes disciplinar a vida em soeiedade, Os remanos, certarncne fe, no fugiram a essa regra universal e uaduziam o conjunto dessas nonmas reguladoras da vida em sociedade pela palavra jus (o que é reto, © que € conforme a linha reta, 0 que & ordenado, consagrado).! “Diteitogaarte do bome do justo” (jusestars bonietaegui),definiu Celso (Dis. 1.1.1, pr-),e Ulpiano, deixandoentrever arelagio intima que existia entre dircitne moral, afirmot que ox deveres que direito nip nha aos individuos estavam contides, basicamente, em 185 ‘preceitos fundamentas (iia juris praecepta):honeste vere, alterum non laedere ‘0 dirsito, us, € tomato, em primcito lugat. om sentido gentrica ¢ ome tum objeto, E entendido como 0 justo, aquile {estado 2 e0ists quo aparece como justo: bona ét cage: € também o que ii importa Virias especies: dircito Em segunda lugar 0 téting diz tom ainda varias Sinificartes de menor importineia (locus én quo id red...) Mas em veorrelagdo cam o objeto luc, sobreleva, entre tudes 08 demals significados, as enquanio. conbecimento, discemimento do que ¢ jusio, apo de separar ‘© que 6 justo do que 6 injusta: & arte do justo: ars Boni at acani.” PEREIRA, Aloysio Ferrar. O-direito como ciéacta, Sio Paulo : RT, 1889. p. 23

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