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© ROMANCE 1 A cultura do romance Franco Moretti Corg,) traducao Denise Bottmann COSACNAIFY gh Naiars mocernidae: conde'o Mestre ¢ encontra como prisionciro vitima, 04 spiritual busca da Verdade, éa-antitese daquele mundé visto que sé trata da Russia pos-revolucionaria, mas pode-se imaginé-la apontan- do para uma outra sociedad de massa, mesmo que menos opressora do que a © ponto de vista de sitire, com efeito, extremamente elevado: 0 de ho, eeserito pelo Mestre e 3 vem a conhecer através de diversas fontes (0 relato de Woland, que fot testemunba dos fats; 0 sono de Ivan Bezdomnyi, que sofre uma transformacio desde seu aparecimento no infcio do romance; 0 manuserito do Mestre, prodi- sgiosamente teconstitufdo por Woland), um Evangelho que se torna uma espécie neste Evangelho, Jesus smente divina,e Plats, verdadeiro aparece como figura humana, jade humana, capaz de v coafronto com aquele que enviou para a mor poder. plebe eo poder como enfidades coletivas, os: tenquanto dotados de liberdade sio os portadores do Mal e do Bem: 6 deménio uma espécie de provocador e experimentador que, como uma subdivindade sujeta & divindade suprema que tem sua emanagio no bondoso lesus, cumpre ima mlssio cm Moscou para salvar Mestre ¢ seu minuscrto, divertindo se em demonstrar que o "homem novo’ pretensa resultado da ventade revolucionéria, inio é menos miserivel do que o homer antigo. ( Mestre ¢ Margarida se'encerra corn a dissolugio do passado (0 mundo de jos protagonistas, Jesus e Platos,saldos do tempo, prosseguem no logo iniciado no romance do Mestre, naquele além-iempo enquanto, Mikhail Bulgakov cot vivera o Mestre antes de ascender & cidade celestial com que havia sonhado.- CLAUDIO MAGRIS © romance é concebivel sem o mundo moderno? Em uma pagina de dri, Croce escreve que "e autor de romances Moravia? foi yuele dia, A nota traz sua inconfundivel malicta,aquele huewor fe- Fino, sagaze penetrante, que tlver permanegs o génio maior e mais duradouro de don Benedetto; caprichoso qualificagio, “autor de om Jbéme sobretudo {uma ede cebaixamento de Moravia ‘ede sua fara, como se nome "Mora a necessidade de especifiar sua profiseio ou algor imo qualquer, para canfe soa como uin lagi, Isladamente nevtrs, como urns informacio de passaporte, parece quase redut icagdo de uma atividade hhonesta e respeitive, ao menos pela boa vontade, mas .daem un nivel pouco elevado da vida do esplrto; maise exercicio | do que uma criagiode poe- 1oce gostou de alguns romances so romance permaneccu, fundamentalment, estranho [Nao por acaso, pois o romance é expressio daquela .quele mando moderno qusele celebrava como progresso ‘modernidade radical, ‘ecomoafirmagio do esp rerdade,o lberalismo josos assim por diante ~ mas que a as transformagdes da sens sua relagio com © mundo, & fade e da propria subjet parodistica, por vezes degradada mas sa ¢ radicalmente nova odissea, ‘© romance nasce e eresce quando se desfaz a ci espeltio de esiruturas perenes~ ou a0 menos de long ieagio agriria e aor set, que sio e permanecem as categorios essenciais da fant de sea modo de enxergar e viver 0 mundo e de acather sua e 9, Croce exalta a borgues ine do gosto de Croce, smo ageitie e criou € e peemanece completamente es rosa do mundo” que, como poderia seu caro Hegel, const Iighncia desabuseds ~ co! anira pela qual os homens vivem a ies & um contemporineo aguerrido de aginaro romance sem o mundo moderno? O romance £0 ‘como a onda sem o mi re, €a mutivel expressio dele, como 10 da boca sio a expressio de um rosto. Decerto, o termo por alguns aspectos i ta epoca medieval, e hi os romances gregos, mas se poderia 4 arabivalente simbiose de crise epigonal do universo épico remodelados ¢ recompostos ntigos valores e srrojada construgio da realidades mistura de estratégios narra- sivas populares, serial ef mica contamminagio de géneros ~ € exper altos ¢ baixos, De resto, fim do mundo antigo parece, cada vez mais, um espelho do fim do modemno (também do p n novas estruturas, det joderno?) e da elusive iiminéneia de algum outro, eradicalmente diferes sabemos definir nen Co vomance conceive semomundo madens? 10"7 (0 primeico romance em sentido prbprie €oincomensarével Dom Qs segundo Dostoiévsh, seria sufiiente sozinho, pas abu ide seu modelo, sSeulos mais tarde, o romantismo invent ve como expressio por exceléncia da modernidade. Em Dom { epos ea confianga no epos testa o proprio fim ea prope 8 | v de aventurar-se peas estradas esburacades do raundo, como se este fosse 1s de poesia ede signifieado. © romance nasce com ess ntada e paradoxal resistencias &a epopeia do desen: icida descoberts ena narragi dda poesia e da epopeis. “consiste no fato dea obra floresta encantada, che Aesilusdo e com essa desenc do triunfo da prose, 0 eco ea ressonan “0 grande estilo pico’, escreve He! se sozinha ¢ apresentar-se como autOno Homero é am, nenhum e muitos. O viver em um mundo poético, ou se) ‘como as florestas do uses, Ea condigio ‘do mundo, como Hegel a chama, na qual os valores, Jmposto exteriorme ra qualquer cise. 1 sujit se sente em harmoniosa ¢inocente unidade consigo mesmo «com avid que Ihe parece repleta de sentido, Avariedade das cosas parece anifiends ava ordem superior uminads por um sigaicado quelles confere wm valor ins de barbeiro no elmo de Man insubstituivel e transforma as descartavels bi brino, come queria Dom Quixote, tinico eirrepetvel ‘Essa condigio originariamente postica acaba, segundo He dade do trabalho, um estigio adulto que presereve fins obj viduo deve propender mesmo contra 2 sua individualidade,adequando-se 30 = ou sea, a restrigdo de seu des os, aos quais 0 in capacidade de espe ‘Quando se instaura essa cisio, as determinagdes univers ‘mara ~ diz Hegel - nfo fazer mais parte da alma do i ite ele como uma coagio estranha, como una “ordenacio prosaies’ das cols. vA abstragio ea natureza mecinica do trabalho parecem desautoriar 0 sueito Icio ~ a sua exiginia de viver uma vida verde! ce contrapor aus poesia do: ramente suo, experiéncla irrepetivelments in vo 1a de rlagbes sociais, na qual see ‘meio a ser empregado pelo mecanismo social para finalidades que lhe escapam. Hipérion, o heréi do romance-poema de Hélderlin que sonha o renascimento da lade, ou seja, 0 nascimento de uma nov de uma vida cortada pela raiz, do homem que era - e deveria e deveri volt ser ~ tudo e que, a9 conteétio,é nada (0 romance nasce do triunfo da “prosa do n do mundo’ rede an lo quese poe — eépercebida e 1do na historia, mudenga subverso~ las eda narragio de: afitmada losoficamente ~ como guinada de pet sada sociedade eda relagio entre oshomens, suas como guinada met storia, de que a verdadeira metafisiea éum elemento Fundante. A modernidade € essencial, entre outas coisas a ideia de dominio di ‘ria eda natureza, do projto capaz de muds 0 fim a que se proponba, esse projeto comporta a sensugdo conereta ~ que sempre ir oumentaraté se exasperar em nossos dias ~ de uma mutabildade vertiginosa de tudo o que se mostrava ~a0 men icodohomem como eterno e imutivel.O préprio homem, pouco a pauco ~ ou sj percepges, sua conse logica, seu ser -, surges mut 1s pabxdes, suas sm, por conseguinte 0 préprios cinones eideas de poesia ebeleza. Ja dessa transformagio universal, qne envolve e destr6i todo classicismo, todo Bele podtica eterno, e io «ter que, sobre os moderaos, brie ainda © mesmo sol de Homero, Nio feotender por que nio era para quem a ale que busca um sentide que nio hi, 6a tanto, acreditava e esperava que o romance mostrando con fosse a nove epopeia burgues jjuvenl da poesia do coragio, inseria-sejudiciosamente “na concatenegao do mun 0 sujeito, superada a exigéncia do, subordinando-se a realidade pros entre oindividuo ec flux do mundo deveria, luzir,portanto, passando pelasforcas caudinas' do desencanto e da depressio 1 Na isteia do Roma publican, eptédio em que oF ramnos so sabjugdos sb davas condiges,apésa segunda guerra snitea (86-3048), (Oramance é cneabiel senso mundo mock ade so iva, um epilogo positive, ao recanhecimento de uma total gual seintegear 8 a uo que o progresio h tagio consciente do duro preco ~ a exautoragio do indi que re significado A vids dos in- ads. tes que “epopela mode: 0 romance moderna seré 4 antiepopeia do desencantamento, da vida fragmentiria e desagregada, Talvez centre um sujeito sem valores e u mente 20 seu inesgotivel des Defoe ~ em primeira higar M desfrutam seus sempre selutar As persona ndestrutivel ~ cor 5, 8 comes! 1 suas energias Vita, que se afm idade de valores, usados ¢ descartados como roupas. cruel eda con= indiferenca e permutal Essa "epopeia moderna” esté fundada na confianga em que da! corréncia universal nasga uma liberdade maior ‘deusa do mundo modetno, governado pela a, rege portantoo ordenamento do universo romanesco como 0s deuses do Olimpo — ¢, acim deles, 0 destino ~ regiam o universo da pica? Também nesse caso, a ordem das cosas e seu Sito final nio esti, porém, garantidos. O mesmo Adam Smith, de resto, usa a metéfora da mao invisivel como demonstrou Giorgio Gilbert ~ menos do que se acreditava (trés veces) € te otimista nos incondicional incontestivel em seu agin, mas do que se costuma supor, De acardo com diagnéstico de Fichte, etomedo e evocado genialmente por sis muito mais tarde, o romance surge como o géneroliteririo de uma épocs, a moderna, que Fichte define épaca da culpa, da“ dade” ou da liberdade vazia, do feroz confito que desagrega toda ordem, da luta egocén- ttica e cruel de todos contra todos, daanarquia dos particulars desenraizados de qualquer totalidade, 09 “Mesmo que Fichte aredite no advento final de wma era resgatadae liber iedade inesperada e& por esse se mento culpada de uma contradigao desacorde que nasce a maior ate moderna e sande romance moderno. O sentimento de culpa, a joralmente, e ind sente a idade moderna como uma contradit minosidade’, isolado, a0 sew agir privado, pelo qual é ngistindo ode viverem um mundo eaido eo proprio mento ¢ percebldo come culpado: como ocorrerd com as personagens de Kafka, que sesentirSo culpadas exatamente porque incapazes de remir sua condigie de faqueza ede vaidade, porque incapazes de resist a0 mecanismo do mundo que as ameaga, 0 individuo experiments o sent a existencia, 7 smo culpa. de culpa nie menospreza o progresso e suas conquista aces nostilgieas ¢ falsas do antigo, mas realga.o nexo est centre o progresso ea violencia das transformagées que o ralizam, 0 perigo que iduo, que corre o risco de ser destronado ¢ tragado ems um ano- A arte arroga-se a propr préprio enredamento desta ul dade de em nesta, propria falta de atualidade epocal. O moderno surge ‘marcado pela falta de um cOdigo stico eestético, de! efundante que d's iervo dese exo ¢ desart dessa desconesio ea reprodu, Ele é urbano ea ‘ma do moderne, logo aparece como alegoria da eaducidade, de um tummultuoso rogresso, que transforma o mundo e consti realidades cclépicas, mas também cesobretudo acumula ruinas. © romance é com frequi ridade; 0 que mais cont istura de celebragao e critica da moder ques ass, esta tims se tora sua respiragio, a cit- culagio de seu sangue. O romance é simultaneamente a cruel epresentagio ea undo modern, o consumo. O romance ¢0 nero literirio burgués por excelénciae burguesia& criadorae protagonista do mundo moderno e de seu nexo de produgio ¢ consumo; el produ e consome romances, em um ciclo ¢em um ritmo que torna di izer ~ como, de resto,em us sea demanda que condiciona aofertaou romance conceive sem ommundomodeina? 102) lade vice-versa.“A burguesia escreve Gillano Baton, “vive diretamentes instal *variabilidade da vida histories” destacada por Simm idade ~ insece a literatura no me- canismo do consume e da concorrén nexcado, ralidade deliciosamente moderna, Ei seu genial ensaio"’Sobre oestudo da poesia grega’ (3797), Friedrich Schlegel observa que o Belo eo objetivo do clssicismo foram substituldos pelos sodernos “interessante novo e excéntrico, que devem estimular com surpresas ada ver mais excitantes o gosto de consumidores cada vex mais sfisticados & .gbeseestimulosde intensidalecrescentes, como portanto, necessitados des tno uso de uma droga que reclama doses matores e novas combinagdes. 10 Schlegel teoriza a arte da vanguarda contemporancs: ment agbes necessariamente cada vez mals radicais ea pro- “dugdo messifcada, como processas indispensivels aos novos tempos. O eomance = pense-se na contaminagio do romintico promovids por Schlegel ~apropria-se do moderno, ¢integra-se,em diversos niveis, mais refinado © Inventor do con ‘com suas exp radicalmente do consumo, dest tno mecanismo do “interessante”: do interessante por atacado. ente grandiose, inda se apropria do novo sentimento do tempo carac tno tornando-o sua estrutura profundasa conscigncia peculiar, nova em relagao | tradigdo precedente, do efemero, da caducidade, do tempo entendido como smelancolia. O grande tema da moda ~ presente em Manon Lescaut, bem como fem tantas paginas de Goethe, para mencionar s6 alguns exemplos ~ combina idade tornados substincia do vi as da literatura romanescs ico do moder- seduglo e caducidade, eros, ar do, Por esse camino surgirao obras-pF © vermelho ¢ 0 ‘odisseias extraordinérlas do individuo moderno expat te sajelto a umn tempo que no chega 2 cumprir-se, a uma vida que é um mero dlssipar da vida mesma. ‘© romance também é impensével com a ascensio da burguesia.O dinhelto se orna um protagon tspeciaimente narrativa; grande romance inglés setecentista~ para dar um exer penas ~articula sue aventura também levando em conta nova qualidade do lade efluidea que transforma ja transcendénea wa Fungo do dinheiro, q ada satura, 10 de sua circulagio, de sua mot mina frontelrase ergue oxtras, compe eforja grilhoes. Odinheiro Sconfundir-se coms vida, com as pulsies parece escoreer como sangue ns ldo individuo lberto da tradigao ¢ eatrogue ao mundo, que 0 eleva ow ails. Em uma passagem do Fausto goethiano, Marx via uma das pri s0es da nova natureza demoniaca do dinheiro e esstncia do caph na das primeiras m9, no qual 6 dinheiro nio se transforma a pessoa, tor deuma pe idade universal, que pode converter uma coisa ~ também afetos « valores ~ em outra qualquer. De Defoe a Goethe ou a Balzae, para enas ita a oferecer bene, mas se sobrotudo instrumento "se um modo de-ser e torn ata alguns nomes, odinheiro ¢ os seus diversos, até opostos, empregos ~ 0 con 10 ~ so insepariveis do quadro de sedugio e violencia roe desencontro entre © individuo ea realidade, ‘A nova concepgao do dinheito é indissolivel do genera lteritio por exce: le pensamento, da era terestana Wg, uma Visio de mundo, mas permanece ~ apesar dese ui propriedade ageiria; nunca é investida, nunca se torna uma subs como para as personagens de Balzae ou para Fausto, com sua emanci devastadora atividade empresari io é por acaso que a literatura austrianca oltece eros, quase niio conheca o romance, A cultura austria grande em outros gé- que no século xix, lrequentemente, permaneceatrasada em relagio is grandes flosafias da mode lade, permeadas pela féno progresso imanented histéria, torna-se uma cultura de vanguarda quando essa modernidade forte ~ com suas filosofis elstemiticas que em a confinar €ordenar em grandes: em crise. A cultura austriaca torna-se ent nteses a totalidade do mundo entra tum posto avangsdoeum sismégrafo sensibilissimo da crise ~ Viena como “estagio meteoraldgica de fim do romance é cones Sem oemundo mederns? die Karl Kraus -, um laboratério da in uunidade, a comesar pelo proprio indi determinagio, do caos probabilistico que marcam a cs A literatura austriaca terd entio grandes romances-antitromance; no afrescos sociai, mas afrescos da desintegragdo do tecido sociale de toda wnidade, inclusive do eu ~as obras-primas de Musil, Kafka ede outros grandes. A ntissima & fenomenologia do moderno, tanto mais quanto pretensdes globsi; ninguém entendeu como Karl Kraus, por exemplo, o poder ico e a transformagzo dos meios de informagéo, mas exatamente por isso ieagio relutava a ctor ques leitura dos jor sminivel andlise que decompae cada juo; umm abservatério da incerteza, dain igo contemporinea. 8 nica imaginivel -contrapés-se, com Mus mento de que as coisas também poderiam muito bem ser de outro modo, ‘Mesmo esse romance novador edestruidor das esteuturas narra sem o processo de fragmentagio e decompost {que invadiu todos 0s campos esobretudo o eu, tornado uma “anarquia de atoms” (Nietasche), um “outro” (Rimbaud), uma “homem sem qualidades" (Musi), ou idade de micieos e aributes desprovidos de um centro wnificados, em, “Todo nosso ser, escreve Musil, “io surge no mundo moder ‘uma mult tum conjunto de qualidades sem o hor passa de um delirio de muitos” Na Teoria do der o que ocorren a épica, o sentido no é mais dado, eve ser construido ~ quando nio se mostra a impossi como ocorterd progressivamente, No frontispicio do romanc estar, como epigrafe recapitl de Ibsen segundo a qual pretender viver ~ viver verdadeiramente ~ & para rmogelomania,a busca da verdadera vida, € necessir frase Ibsen queria dizer que as que somente a consciéncia do quanto ela sea temerira ed sproximar-se dessa vida verdadeira, 103 ‘O romance & a peripécia dessa busca, a odissela de sua deslusto ou chegida, apesar de tudo, & plenitude de s ido da desageegagao da épica, ee - pri Leo grande romance oitocemtista ~ & também reconstrucio d qualidade dela, de uma toalidade de vida, © romance-epopeia nio nasce da “prosa do munda" como queria Hegel, de ‘ou até pré-burguesa, aleangar o todo uni social, masa refit pré-industrial A épica moderna, ou seja, a arte capaz de rio da vida aeimia das zado em uma toalidade natural, ou se, sociedade ¢ em uma ideologia que Ihe corresponden No literatura americana, para dar um outro exempo, a total fade épica ndo mas pelo romance, afae- ou psicolégica eaberto& "visio int como a pequena Pearl te, de Hawthorne, Epopeia no romance burgués, mas 0 James ~ da sujeigdo 8 cas ubordinado lidade 3 vulgaridade e a0 pros apenas as determinagSes sociais, mas também aoe proble- interrogagdes sobre o destino, a culpa ea liberdade, Essa Epica, ainda proxima da natures snatureza da técnica e telhado para o futuro” “ltimo paraa vidas no 0 possul fo fagocitada pela segunda ¢ frequentemente incompleta “deixa 0 = porque tatela em busca deum sentido Jo Guimaries Rosa, epopeia de um ir ena poeiea de suas perip bém nesse caso o fim objetivo que transcende- individuo nio éa mediagio soc das relagbes de trabalho, tampouco é a negacio subversiva,irbnico-vanguardists, dessas relagbes wo da unidade da vida, confianga romance &coneeivl vem omundo made? (© romance é um paradox as lacerages do moderno & idade, De Hugo Dickens, a Tolst6i ou a Dostoitvski o romance, nascido como fragmento da desagregagéo da épica, parece produzir aquela unidade e totalidsde de vida que © moderna, de quem ele provém como Eva da costela de Adio, tende 2 despeda se narra palxdes, debate grandes n fornece informagdes e noticias, é um mapa de negatividade (categoria subs- re 0 Individuo e a vida, ama langa de Aquiles que fore ¢ cura; étecido mente ctiads pelo moderno), a dissoclagio ‘a sua incompatiblidade, (© romance do eu, desde Anton Reiser de Moritz, 60 somance da n cu, de sua repressio e de sua am moderno ~ ou melhos, daqueles que vivem e represen ‘com mi malisculo, de sous projetos de dominio da terra e da Historia ~ sio, de ‘algum modo e de diferentes formas, de acordo com os periodos e os contextos indo e sem histéri, de Frédéric Moreau a Oblomov, odo ores herdis do romance modernidade ‘eulturais, personagens sem ‘de Niels Lyhne ao escrivio Bartleby de Josef K. a Peter Kien. Grande mundo épico isolado fragmento inacessivel convivem por vezes no mesmo autor, como em ‘esereveu Moby Dick mas também "Bart [Nada e ninguém escrutou a fundo o abismo, o impass 0 eserivao formanddo em uma mutagio antropotégica radi Alicia o proprio Nietasche, esti associado a0 hon Dostokéveki, Como Nietesche este timo efetivamente divisa em seu tempoe no futuro ~ um futuro que, em parte, ainda 0 € para nb 1m parte, jé E nosso presente - 0 advento do niilsmo,0 fim dos valores e dos sistemasde valores, com mba Vittorio Strada, tata-se de a diferenga que, para Nietzsche, cor tagio a ser festejada e pata Dostoiévski de Dostoiévski, em Tolstdie em tantos outros grandes autores do romance (ainda {que nio apenas do romance, obviamente, mas da literatura em geral) este timo Eocendrio do advento do nilismo, fato da modernidade; de seu triunfo, de sua catistrofe eda resisténcla ade. doenga. ser combatida, Em 1026 Aléin disso, no romance, a realidade moderna constitu a propria est A éescrigio que Musil faz da metrépole é radiografia do romance experimental, tentacul ‘io damos, portanto, especial inaportincia 0 nome da cade, Como tod metndpol de cosas e cle eventos e, de peemeio, mamentos de silGnci sbi ns, de uma prande pulsagio assemelhava-se a uma bexiga puante posta em ia edo eterno desencontro econfsio regulamentos tradigeshistricas, Essa estrutura miltiptacaracteriza também 0 protagoni lidades, o grande somanc Em! ‘outros exemplos ~ a complexidade, 2 organizagSo,a desconexio.o caleidoseépio a vida na metrépole tornam-se montagem e colager narra erespiro da natracio, Em Kat eo sé tada real mese do mundo moderne mas também se pOs como trumnento cognitivo privilegiado: no periodo entze 0 im do século x1x € ra novecentista, até hoje afro exctitores como Musil, Joyce, Prous v9, Mann, Broch, Faulkner e outros exigiram da narrativa um con i permitia confiar-Ihes, porque cio extrema que tornava cada uma inacessivel aos cultores is ainda ao homem médio, despedagaram todo sentido de Unidade do mundo, Somente um romance que assumisse0s problemas ientificos, ‘miostrando como os homens ine podealeancar sentido dar obtida edominads Por intermédio das mesmas formas experimentais do narrar, da desagregacio e recriagio das estruturas narcativas, ‘mundo que 0 enorme progresso das cincias fas, com sua espec de todas as oute lidade ede sua dissolugio, imitada mas tambe impossivel imaginar 0 o mundo moderno? & uma pergenta absurds, cuja resposta, absurdamente, correo risco de distender-se em um pa- orama e uma historia do romance moderno. Hoje, uma outra questio é posta 2 com maior legitimidade e sobretudo com mais inquletagio: nidade com m matisculo, acabou ou esta acabando, 6 pode ser comparada 20 sa. mais alta literatura ocidental pds-se, nos confrontos ‘como 0 outro lado da lua, como a zona deixada isombra do devire do uma grande aust outro, de a, era. exigencia de ago tredutive resgate messiinicoe revolucionéio ali satura inovaciora, 20 contrévio de que ‘corre com as nostalgas eacionaias de um romantismo amianeitado, eve teratura em geral~ foiessa vor do modern, a sua poesia, 0 seu sua contestag2o. Agora tudo isso parece findo; um karaoké em diveesos iveissuplantou toda utopia e toda revolugto e, como previra Nietasche, 0 pt6prio idea definigdo, ie, onde os imaterias bits - como so chamados ~ substitwem os dtomos, 0 que pode fazer ou sero romance? Por enquanto, genericamente, parece que reluta em tomar conhecimento dessa Jversio e antes parece recuar em relagio is grandes experimentagSes nar passado recente, A produgio romanesca média parece florescer vigose, a0 menos plano quantitativo, na absolutaignorancia do mundo ede sa transformagio, no ‘8 a sparelhos antiquados e obsoletos, Nesse sentido, o romance médio cada ver mais se assemelha ~ também na patina nobre de sentimentos perenemente huma- ‘nos ostentados e garantids como se nada ocorresse - aqueles génerosliterdtios juados que o grande romance moderne, a0 irromper violen cenvelhecidos & tamente em cena, haviavartido, Nesse recuo ou regres "poténciaestéril do existente enquanto tal’ como escrevia vay 1028

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