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  • A Invencao Do Nordeste - A Música Do Nordeste

    Enviado por

    Luciano José de Freitas
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    trecho de livro mostrando a construção do conceito de "nordeste", a partir de suas manifestações culturais dentro e fora da região.

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    A Invencao Do Nordeste - A música do nordeste

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    Lula realiza, na década de trina, estos sobre oflclre da regio, de onde extra seus temas eo realismo magico de seus quados, que len. bram a imagética do cordel, no qual figura do bo também una figura ‘ental asim como éconstantea hununizagaode anlmaise da natiters, além da exstencia dos mal-assombrados. Este & outro tema constante na Pintura de Lula, que ao lado de objetos de casa grande faz surgi sempre lum fantasma a espritar, como a denunciar a morte daquela sciedade Fragmentos de sua memeria infantil, como o grande religio da saa de Visitas, as cadeiras de espldar alto do av, as grandes camas patiareas, © porta-chapéus, 0 guarda-lougas, a grande escadaria que levava sos ttuise todas aquelas de origem estrangeiea. Dat sua enorme acolhia rum momento de nacionalismo intenso,fazendoo faquentar os sales ow Anco mos cavias ( ai sistas em cio ep de tempo. ba ser. “mc do Nordese" por se primera qu alae coma em tome det ie Usa oo cmo moc miganes ordi come ple ientca de bao om oNotte aura estan decont demecadoe, ao exo tmp, ira deta eb repre on tetera ne ar ios No € 6 to gue vat tir uma excl do Nowe, mat leas o proprio 0 da vr de Laine, fama des expres gue ii odes opus pa iment rari qe ager, rma dest de dr enteviteSaare, tho vata Nore Osa acts doe poe ot um sm faa gue apron bs pesos ou prove staat ‘cyrei. efuncon como un der mes dese renee Simin de eter Rone ent mscagessoores naps €discuivs que peiten conte toro de fla Se qu pesados prc O cag pre Meta © ign cons tm stan poe lar snug, unsere aun cecinnt Prsio ue pritecsiniar ll em canes rao lo, ‘am rege de excita em i ni si as pss ucla ma aa Ahedizapenen. Amin de Gonzaga, an ssumir ete soon rovers Ua aller stn oie deta en ness ones © migrate noes wn do melo rules pte a larzao om art mi Ears pars es ls manele ec ‘tui, ees no ev cst a pte ar ae smi, ts pra faer danger min, a i ofp, ‘aun struments debasing, ‘harden cu resting plo contac tae an nd, ‘acai se toma aa eras ec uc pate O cane tio inp una ov daca sal eared inns ‘Stet Ttaarna tne comoace oct suis Suvi mise, um tain par euro aera soe taht com amino avo du ot Oat de pas bol diner dents migrants so epg utann mo do nove re desta eum ek de nepal ao nee e clr. concenrago da pritica musical em istiuigies como o8- di ea gravadoradimin os espagos produtives e raion de prtcas ‘musi, canta aqua tam, por exemploos artistas de ru de oxigen ‘ordetna. A dacipina do corpo para o trabalho industrial pases pela realimentar a memcia do migrante- Nao € por se liga a estes stones margnalizades, no entanto, como quer Municirmo Ferretti, que apa ‘© seu auge, entre 1946 e195, a misia nordestina vai ser também mar eee cen © Pea ue eens dae cen lores contin csreede¥oends scalps see “O que marginalzou a midska feta por Gonzaga fo er se wlenicade ome umr mica regional, como expresso de ma repo que ea vista como o-espago arasido, fora de mova, do pls rego marginalzads: Bel pripra forma como se desenvolvei a cconomia do pas como fl estada discos © sacesso de suas miscas entre os migrates participa da prs Priaslidiieagio de uma idenidade regional enre individu que 30 igualmente marados, nests grandes cidade, por esteretpos como 9 sto “balano" em S80 Fauloe © do “paraiba” no Rio. Els comegam, 56 na grande cidade do Sul, a se perceberem como igus, come “land com o mesmo sotaque, tendo os mesmos goto, costumes e valores, ‘que no ocorsa quando estavam na propia regio. Mais do que at ‘no conscente de seus ouvints a8 cangbes onan mexiam com 0 {nconsciente desses nordestinos em transit nas grandes cdades, Asensacio sonora presente az pedagos de pasado, raza temps es pacos fazendo o Nowdeste surgi no Sul uo Sul no Nordeste ou ainda, ‘o Noneste parecer na Para, em Pernambuco." Uma misica que gar subjetividades dispares, que vai prostuzi ‘um “sentir ondestinointtuir uma cert "visio nordestna” das formas dos sentimentos, cantando a “verdade nordestina” com seu timbre de dor, tornandoa sua propria forma de cantar um indice de regionalidade. ‘io introduzidos em sua misia signs sonores que buscam produ ‘uma sensacio de proximidade da “realidade regional”, preseniicando-a por meio de aboios gritos «salar de chcotes, tne de chocalhos,latidos de cies, mugidos de vaca, cantorias,pinicar de violas. As letas, como os propriosarranjs, suscitam lembrangas,emogses ideas ligadas este spago dstante ¢abstrato nomead de Nordeste-” ‘Amica de Gonzaga fala tmicamente de uma terra ques entranha ra alma eno corpo do ouvinte, arastando sew ouvido, sa cinta, ses ‘quads, arastando seus pés. Nordeste da dor, que geme nas tadas, Nor deste da alegria que danga no fore, Nordeste sens no efregar-se dos corpos no xe. Msicas que agenciam, na verdade, diferentes experién- cas visuaise corporis, produzindo diferentes decodificages, diferentes Nordestes*" Cespago desenhado por suas cangSesé quase sempre o do Nondeste «no Nondeste, oda serio, Est espaco abstrato sige abordado por ses temas ¢ imagens ji cristalzadas, ligados d propria produgio cultural popular asec, a reliradas, as expericias de chuva, a devocio aos Santos 0 Padre Cicero, cangage,avalenta popular a questio da hon +, Um Nordeste do povo sofrido, simples, resignado, devoto,capaz de srandes sacrificios. Nordeste de homens que vivem sults 3 natureza, ® seus ciclo, quae animaizados em alguns momentos, mas em outros, ‘apazes de produit uma riea cultura. Regio, fruto de uma verdadeit colagem ce manifestages da cultura popular: versasde poetas populares (Chegada de Inverno,Pefune Naciond, aboio de waqueitos(Algado, Fire 1s Gado), refrbes de cocos (Sir Jagan Bol) trechos decantgas de nina, «antoras (Xo, Pao), preg de cite (O Circo), fragmentos de literatura coral como provérbioseditos populares (Cintun Fina, Cat, Vou Cas 8), lendas (Leas de So Jad) f6rmulas de passa fogucira (Qué que tu qué. crengasesuperstiies (0 Kote das Meninas, Acta, histris humorisieas (Derranaro 0 Ga, Frn de Mané Vit). [Em vérios momentos, a misica de Gonzaga tansmite uma visio bbem-humorada da “vida matuta”, em que o proprio nordestina ri dest mesmo, se autodeprecia, assume o papel de buldo,embora este humor mbm vitime o homem da cidade e 0 sulista, Alii, este tipo bufio, rondestino rende, desde a dada de quarenta, no rio eno cinema, € desde a década de sessenta, na televisio, um dos ipos mais constantes nos _Programase filmes de humor. Tipos montados sobre tatos os xterestipos construdos em relacio ao nordestino nas grandes cidade do Sul, onde preconceitotoma-se risvel por isso mesmo, mais impregnante ainda ‘© nordestin passat encarnarsozinho o esteretipo ligado a0 “matuto”, a0 ea, gestado nas décadas anteriores. ‘Sua musica contribu para reforgar a percepeio do Nordeste como, ‘uma unidade eum espaco parte no pats, uma homogeneidade pensada em oposigio ao Sul la efora nio 86 a identidade regional entre set ppblico, masa identidade entre eles e sua “regiGo”, entre ele eu pov, Vivendo “fora de sua tera”. Esta identificacio regional éfacltada pela _generlidade espacial com que opera sas cangies. Um espace abstrato, sertio, Nordeste, Norte em oposic ao Sul, “tea iilizada”, “cidade srande”, Espagos aos quais os migrantes de diferentes Estados podem ‘sssociarasua prriavivncia espacial singular. topografia do Nondeste feta por Gonzaga a do visjnte, para quem asestradascompridas foram ‘sempre uma reaidade. Ele demarcou as fronteiras do terrtorio nordes- ‘ino, instituindo a sua musica, asus Hinguagem, os seus ritmo, as suas dances em nivel nacional, como uma regio rural para quem as cidades sempre si ignoradas: 1 fis tis noite qui pr norte lamps AA Aswranca uvindo 9 roo do truvo tate ase vorts peu meu eto, ‘Ala eu v9 mvimbora Weuid da pra.” (© tema dasaudade éconstanteem sua musica, Saudade da terra, do ugar, dos amore, da familia, des animats de estima, do soja, ONor- este parece sempreestarno passido, na meméria, evacadasaudostment para quem esténa cidade, mesmo que esta sja na regio, © Nordeste & ‘te sertio miticoa que se quer sempre volar Serto onde tudo parece ‘star como antes, um espaco sem histéria, sem moderidade,infenso a \ midangas Un espgo peso a tempo clic danaturers vidi ene seca nverme Stn mis sempre uma viagema ese “xpaoaftve” {Gr cou no puma, perebido mews com velocdade movimento, mais como fixe. Eapago decoifcadopreferencialmente pel tata © tenon pel vst, Un expo do toe na nate eno corps Epa) hdetomen enaturza so seit sofrmento Nordet aida mpones oe 9 abla msn fr, em eps norma arnt { sobrevvénia 8 alee, Noneste de homens simples, lists de vidas cenradaa famine no trabalho. Homens supicantes ‘msagia Deuse Ss autoridade, revolts a ees oman icoque no campriam com pape taconl depots e austen» Sue miscar oper coms dcotin entre expo do eit © das aden O set 0 garda prea do verdant brs rovonde os menins ainda Brincm de red cs hemena sla bales, tne ainda existe fests tions de So Joo. Lar onde ina ‘anna cidade garda pend do valores tradiconai da vida longed natn a pends da fami, das almas mauladas. Local trabalho trite monthno. sett de Gonzaga Gum epapo qe, eno. ‘a nformado ds transforms hints eso acorn no PS, ‘recusa estas mudangas, f um espaco para onde se foge da civilizagio, da Cidade, “nde no seem dso ni An! see fos um pune / Anconteitio do Ho [Nadava conta a dgus/ nese desi Sins do mar ped Risch do Nasi Eu winhadisitinho pd Rischo do Nav Pra vero meu Binoy Fazer umascagadas eras pas deol / andar nas vaquaadas DDormir ao som do cea Eacorar com a pusarada Sem rid. sem noi Das tera vilzad.®? A musica de Luiz Gonzaga 6 atravessada pela ambiguidade entre uum conteide tradicional e uma forma moder. Enguanto as letras de suas cangGes mostravam um Nordeste tradicional, antimademo,antiut= ‘ano, seu ritmo, sua harmonia eram uma invengio urbana, moderna ‘Ao mesmo tempo que flava de um espaco que rejitava as relagies ‘mercantis burgueses, era eminentemente comercial, voltada para wm ppablico urbano, Uma misica que identificada como popula e egio- ral, wiveu por quase dee anos a condigio de indsiva tional at de exportagio e presencaindispensivel nos sales da “alta sociedad”. Era obaito a propria express da conciliagdo entre formas modeenas « contetidos tradicionais; era a expressio da separagdo entre estes dois ‘momentos da producio cultural, que caracterizava a vida cultural do nacional-populisma," ‘ua forma de cantarantretria, no operstia atualizando a for ‘do aboio do repente edo desafo nordestinos 0 so inovadar da san squase come, mento de percussto, sendo balangada, aber fechada com rapide, diferentomente de seu uso tradicional para tan valbas, quando era aberta ¢fechada lentamente,tomnam Gonzage, 20 lado de Noe! Rosa, Dorval Caymuni e Jackson da Pandero, importants ‘marco no rompimento com uma dada forma de interpretagao na mis brasileira” ua miisica apresentava aspectos muito modemos em termos de linguagem musical, como:0 uso das sons onomatopalcosrelagio entre ‘ossumsfonetcos das palavras eo sentido dotextocriandoumaaindade ‘coma experiéncia que cata o ouvinte, pr exemplo,osom do“ ‘ante no xaxado ou no xoe, produzindo a sensagio do deslizar des pés ds dangarinos no slio;arelacio entre voz eo que est send dito, bem «como o uso do ritmo para enfatzar a mensagem,nio senda ete exterior letra; o uso alternado de canto narragio, com pausas para digressdes sobre tema abordado, ‘Sua tematica sore permanente processo de atualizagio, tal como. fa teratura de conde; tend para acrénica do cotidiano, eo Nordeste, ‘© serto, parecem sempre assstra estas mudangas de fora e com muita apreensio. Séna década de sessenta, soba influéncia dos tropicalstas, {que o resgataram como uma express da evolugio da miss popular «em diresio& moderidade,¢ que Gonzaga passa aver" “falar” do lado ‘modemo do Nordeste, de sua musica e de sua propria carers, embora ra década de cinquenta tivsse feito misicas como Paul Afonso Algo, ‘as quai festjava a politica desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek, como a solucao para 0 “problema do Nordeste”, etenha visto a Sudene como o caminho para a redengio regional, bem de acordo com sua visio «risa do slvacionismo. © Nordeste ainda era Visto por ele como um es pacoasersalvo deseu problema natura no como um espago moderno, ‘que 6 ocorreu no final da década de sessenta.°™ Gonzags fo, pois, artista que, por meio de suas anges institui.o "Nordestecomo um espaco da saudade. Fmbora ndo aquele Nordeste com saudade da esravidio, do engenbo, das casas grandes; mas o Nordeste dda saudadedo sertio,desua tera de seu lugar Saudade de seuscheirs, Seu ritmos, suas fests, suas alegras, suas Sensactes corpora. Saudade

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