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JORGEN HABERMAS ESTUDOS ALEMAES Série coordenada por EDUARDO PORTELLA. EMMANUEL CARNEIRO LEAQ. MONIZ SODRE, GUSTAVO BAYER Consciéncia Moral e Agir Comunicativo Ficha catlogrfica elaborad pela Equipe de Pesquisa da ORDECC Habermas, Jorgen Hi14""Conscignsia morale ssi comunicatvourgen Haber mas; traugio de Guido A. de Almeida. — Rio de Janeiro: Tempo Brsilero, 198. P. Biblioteca Tempo Universtrio n. 84. Estudos ‘lems “Tradugio de:Moralbewussisci und kommunikatives Handel t 1. Série sofia? Eistemologia —Ciéncias Soci 1 Titulo pu 6s ISBN 45.242-008-6 tempo brasileiro ‘Ro de Janeiro — RJ — 1989 BIBLIOTECA TEMPO UNIVERSITARIO — 84 ‘Colesio dirgida por EDUARDO PORTELLA Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro ‘Traduzido do original alemiio Moralbewusstsein und Lommunikatives Handeln Copyright © Subskamp Verlag Frankfurt am Main Capa de: AntOnio Dias © Yolanda Espinoso — desenho representando o Deus Hermes. rogramagio Editorial: Katia de Carvalho rogramagio Textual: Daniel Camarinha da Silva Direitos reservados as EDICOES TEMPO BRASILEIRO LTDA. Rua Gago Coutinho, 61 — Tel: 205-5949 Caixa Postal 16.099 — CEP 22 221 io de Janeiro — RI — Brasil Nota biobibliogréfica: Jurgen Habermas n 192, lecionou flosofia em Heidelberg de 1961 a 1964 e flosfa ¢sociologia cm Frankfurt-sobre-o-Meno de 1964 @ 1971. De 1971 a 1983 digi em Starnberg 0 Instituto Max Planck para Pesquisa das Condgdes de Vida do Mundo Teeicor CGiemfico. & partir de 1983 voliow a lectonar na Universidade ‘Fohann Wolfang Goethe em Frankf. ‘Publcou ene ouros: Student und Polk (Estdante e Poit- a, em colaboragdo com Ls. Friedeburg. Ch. Ocler eF. Wels) 1961," Stukturwandel der Offentichkeit (Mudanga Exircural da Esfera Publica, 1962; Theose und Praxis (Teoria ¢ Prtica), 1963: Erkennnis und Intereste(Conhecimento Increse) 1968: Tech nik und Wissenschaft als Ideologie (Teenca e Ciencia como Ideo~ logia), 1968; Proesttewepung und Hochschuireorm (Movimento de Protestoe Reforma Universiti), 1969; Zt Logik dx Sor Wwissenschafl (Para a Ligice da Ciencia Social), 197, edigdo ame Plada 1982: Theorie der Gesellachat oder Soialtchnologe — ‘Was lestet die Systemforschung (Teva da Sociedade ou Teenolo- sia Social De que ¢ Capes a Invesigacdo de Sistemas, em con- Junto com Niklas Lukmann), 1971; Palosophisch politische Profile (Perfs police flosefieas, 1971 edigéo ampliada 198: Legtima- tionsprobieme im Spitkapitalismus (Problemas de Legitimagdo no Captalismo Tardo), 1973; Zat Rekonsrution des Historischen Materiaismus (Pare « Reconstusdo do Materilismo Histrico), 1976; (org), Stchworte zur Geistigen Situation der Zeit" (Verbe tes paraa "Simagao Iniclectual da Atalidade’) 1980; Kleine pol- tische Schriften LIV (Pequenos Etertos Police), 1981; Theorie des Kommunitaiven Handelns Teoria do Agir Comunicaivo), 1961; Moralbewussisein und kommunikatives Handein(Conscien. cia Morale Agir Comunicaivo. 1983; Vorstulin und Ergiazun- fn zur Theore des Kommunikatven Handel (Estudos Prelim Mares e Complementos& Teoria do Agir Comunicativo), 1984; Der Pilosophische,Diskurs der Modeme (0 Discurso Plosofico da Modermidade), 1983. Nota Preliminar do Tradutor Na presente tradugio, “Diskurs" foi verido por “Discurso” (com inicial maidscula), enquanto “Rede” foi vertido como "fala" ‘ou *discurso” (com miniscula). “ Diskursv foi tradusido sempre or “discursivo" (com miniscula), uma vez que pode se refer ieja a “Diskure™, seja a""Rede” ‘A opedo de traduzir “‘Diskurs" por “discussao" (como nas Iradugées francesas, que usam "discussion" fol deixada de lado pelas seguintes razées: 1) 0 alemdo também possul “Diskussion” € 4 traducao nao deitaria mais ver quando 0 original usa 0 termo técnica "Diskurs"e quando 0 termo comum Diskussion"; 2) hd uma acepedo de “discurso” que corresponde exatamente, como veremos, a" Diskurs"; 3) seria preciso traducir “‘diskursiv” ora por "discursive" ora’ por "discussional”. Outras altemativas, como 0 recurso a “didlogo’, padecem das mesmas dificuldades. 'Na linguagem comum, “Diskurs"” é um termo antiquado que significa algo como uma conversacio animada ou uma discussao ‘minuciosa ou ainda 05 arrazoados ou explanagdes que um dirige 120 outro. O Sprach-Brockhaus limita-se @ defni-lo genericamente ‘como sindnimo de "Gesprach” (conversa, dilogo). Wahrig é mais especifco ¢ defineo como "lebhafte Erarterung, Unterhaltung”” (explanacdo, conversagao animada) — alls, de maneira quase ldéntica a "Diskussion", que ¢ definida por sua vez como "leb- hajte Erdrterung, Meinungsausiausch” (explanacdo, troca de opi- rides animada). O “Lexikon der deutschen Sprack” (Uilsein) define-o, por sua vez, como 0 mesmo que .‘Erarterung, (wissens- ‘chafiliche | Unterhaltung, Wortwechsel"(explanagéo, conversagdo (cienifica} altercacdo) ¢ dé os seguintes exemplos: “sich langat- ‘mige Diskurse mit ankOren missen” (ter que acompanhar “Dis: lurse” prolizos ou compridos e sie hatten des Ofteren angeregte, lebhafte Diskurse miteinander” fzeram-se muitas vezes “Diskur- se" animados, cheios de vivacidade). Dessas definicées e exemplos resulta que a palavra ‘Diskurs" cexprime wrés aspecios semanticos distintos: 1 0 aspecto intersubjetivo de uma relagdo dialogal e eventwal- ‘mente polémica, que serve para classificar 0 "Diskurs™ como um Caso da conversacdo ou da discusséo, debate ou disputa de opi- 2) 0 aspecto subjetivo da vivacidade ou da animagao com que ‘os arrazoatdor réo feitos pelos partiipantes ¢ acompanhados por 3) 0 aspecto ldgico conceitual (igado a “explanacio") e ar- ‘gumentativo (ligado a “discusséo" ow “debate de opinides”). “Habermas, por sua ver, introduz “Diskurs” como um termo tecnico para referi-se a uma das duas formas de comunicagéo (Kommunikation) ou da “Rede” (discurso, fala) e que consistees- ecificamente na comunicasdo, fala ou discurso destinado @ fun- ‘damentar as pretensdes de vaidade das opinibes € normas em que se baseia impliciamente a outra forma de comunicagéo, fala ou discurso, que chama de “agir comunicativo" ou “interagao" (cf. Vorbereitende Bemerkungen zu enter Theorie der kommunikativen Kompetenz, p. 115 ¢ 117). Habermas retém, pois, para seu termo téenico, apenas 0 aspecto intersubjeivo (que serve para ‘classfcé-lo como uma espécie do género “comunicagéo”) € 0 as- ecto légico-argumentativo (que serve para determiné-lo como 0 aso especifico da fundamentagao de pretensdes de valides pro- blemarizadas) “Discurso” em portugués (como seus correspondentes nas lin ‘was latinas em geral) parece conotar apenas 0 aspecto ldgico- ‘conceituale argumentaivo, sem nenhuma implicacao intersubjeti- va Eo caso.em que "discurso" tem o sentido de um arrazoado ou de uma exposigao metddica sobre um certo assunto (como, Por fexemplo, um discurso sobre o método, sobre as letras e as artes, fete). Esce uso corresponde, alls, a um uso classico na filosofia, fem que “discursivo” se entende por oporigdo a "inuitivo" (e, ‘ndo, individual ou monoldgico) ou seja, no sentido da expressio dde nossos pensamentos em proposigdes ¢ silopismas (cf. a defii- ‘io de “dlscurso” na Logica Menor, de J. Maritain, p. 105, ena ‘Logica de Kant, ed. Jasche, Introducdo ¥). “Em outro sentido muito comum, “discurso” é também usado ‘no sentido de uma peca orator (acepeao I no diciondrio de Auré- lio) ou no sentido linguisico da oragdo ou da fala (acepeéo 3 no ‘Aurdlio, que corresponde, em aleméo, néo a "Diskurs", mas a “Rede” — por exemplo — “os dscursos do chanceler Adenauer” = "die Reden des Kanclers Adenauers", “discurso diretoe indre- “direkte und indirekte Rede”. , porém, em portugués (e, de resto, também em francés, f. a 1#acepeao de "discours” no Petit Robert) uma acepgao bem Conhecida em que “discurso” tem os trés aspectos semanticos ‘mencionados acima, logo o intersubjetivo inclusive, que é 0 que Conta para o uso técnico do termo em Habermas. Esse uso corres- onde a acepgio 6 do Aurélio, que é expicada da seguinte manei- ra: “Fam, Fala longa e fastdiosa, de natureza geralmente moral ante: toda ver que chega tarde, 0 pai faz-Ihe um discurso". Na definigdo, Aurdio destaca apenas 0 aspecto subjetivo e ndo tema taza’ aspect ligico da concatenagdo dos pensamentos (impli, no enianto, nas caracterizagdes “longo” ¢ “'moralizante™). de {ando totalmente de lado 0 aspecto intersubjetivo, que no entanto ‘ressala claramente do exemplo. Mesmo que ndo se trate de uma discussio ou debate de opinides, a intengdo de fundamentar em face de outrem uma opinido — tedrica ou pritica — parece ser ‘onstttivo daguilo que a palavra exprime nessa acepedo. Eis por (que é possivel complerar, agora, a traducao dos exemplos do Le- xtikon alemdo, com toda propriedade, da seguinte mancira: “ter, ‘que acompanhar dscursos prolixos ou comprides”, "fzeramse ‘muitas vezes dscursos animados, cheios de vivacidade ‘Por que enido —o leitor hd de perguntar —ndo detsar de lado as surllezas grafico-semanticas e traduair “Diskurs™ muito sim- plesmente por ““discurso"'? Pela igualmente simples razio que "rdiscurso" tem outras acepedes além daquela que coresponde a “Diskurs". Por iss0, se quisermos usar “discurso” para traduzir ‘Diskurs”serd preciso distinguir a situacdo em que nos referimos ‘20 uso concatenado da linguagem em geral ito 6, “Rede”, "fax a" ow “diserso")e a situagdo em que nos referimos especifica- ‘mente ao discurso organizado argumentativamente ¢ numa inten- ‘o polémica ("Diskurs”, "Discurso". O uso da matiscula serve Drecisamente para isso. ‘A KarlOtto Apel, a0 completar a sexta ‘década de sua vida, em gratido por seis decénios de ensinamentos 1 2 3 4 SUMARIO [A Filosofia como Guardador de Lugar ¢ como Intrprete «17 Ciéncias Socinis Reconsirutvas versus Citnias Socais Compreensivas os... : o 7 Notas Programiticas para a Fundamentagéo de uma Ftica do Discurso st Consciéncia Moral e Agir Comunicativo «2+... 13 {Indice onoméstico : B PREFACIO As trés contribuigdesincludas neste volume devem sua origem 1 diversos ensejos, mas tém uma unidade temitica. 'Na primeira delas, desenvolvo teses em prol de uma diviséo de trabalho entre as investigagGes flosoficas eas investigagées empi- ricas, eses estas inspiradas no exemplo da epistemologia genética dde Jean Piaget. Na segunda, sirvo-me da teoria do desenvolvi ‘mento moral de Lawrence Kohlberg como um modelo para aclarar © entrosamento entre explicagdes causais e reconstrugées hipotéi as. A terceira destnava-se orginariamente ao volume comemora- tivo de Karl-Outo Apel; seu objetivo é ajudar a tormar mais claro 0 onto de partda da ética do Discurso. Finalmente, gostaria que o ‘ensao-titulo fosse entendido como uma expressio da boa vontade ‘em praticar (a partir de um dos lados) a divisio de trabalho propos- ta A dedicatsria explica-se 4 si mesma: entre 0s flésofos vivos, singuém determinou mais duradouramente meus pensamentos do aque Karl-Ono Apel Frankfurt-sobre-o-Meno, em Maio de 1983, 1H. — A FILOSOFIA COMO GUARDADOR DE LUGAR E COMO INTERPRETE* *Conferéncia proferida por ocasiio de um congresso promovide pela Astociagho Hegeliana Internacional, para a comparagio de todos de fundamentagio transcendentas e dialéticos, em Stul- ‘art, Junho de 1981 (Os mestres-pensadores calram em deseréit, Para Hegel isso é erdadehé mato tempo, Popper desmasearouo ta dade do ‘Quarenta como inimigo da sociedade at ‘mesmo vale, uma ‘ver mais, para Marx. Os Uitimos a abjurélo como um flso profeta tna dada dos Setenta foram 08 Novos Filsofos. Hoje, até mesmo ‘Kant vé-se colhido por essa fatalidade. Se vejo as coisas correta- mente, €a primeira ver que ele se vé tatado como mestre-pensa- dor, isto 6, como 0 mago de um paradigma falso, de cujo dominio intelectual temos que nos desvencilhar. E possivel que, aqui, & maioria esteja com o ndmero daqueles para quem Kant ainda ‘Kant, Mas basta langar um olhar por cima do muro para ver que reputagéo de Kant esté ficando mais pélida — e passa, uma vez ‘mais, para Nietzsche. 7 De fato, Kant introduziu um novo modo da fundamentagéo na {losofia. Kant considerou 0 progresso do conhecimento aleangado ra fisica contempordnea como um fato signficativo que deveriain- teressar aos filsofos, nao como uma ocorréncia no mundo, mas ‘como uma confirmacéo das possibilidades do conhecimento huma- rn, A fisica de Newton precisa em primero lugar, ndo de uma ex- plicagio empirice, mas da expliagio no sentido de uma resposta transcendental & questio: como € possivel em geral 0 combeci- mento empirco? Kant chama transcendental a uma investigagao ‘oltada para as condigées a priori da possiblidade da experiéncia, ” Para ce, trats-se ai de comprovar que as condigSes da experiéncia possivel sio Menticas as condigoes de possibilidade dos objetos da Cxperincia. A primeira tarefa consiste, portanto, na analise dos ‘onceitos de objetos em geral, conceitos esses que jé empregamos desde sempre de modo intitvo. Esse género de explicagio tem o fariter de uma econstrusio néo-empirica daquelas operacdes pré- vias de um sujeito cognoscente que no comportam alternativa hnenhuma experiéncia poderia ser pensada como possvel sob ou tras pressupostos. O que esta na base da fundamentagio transcen- ‘ental nao 6, pois, a idsia de uma derivagio a partir de principio, mas antes aida de que podemos nos certficar do carter insubs- tituivel de determinadas operacées intuitivamente executadas desde sempre segundo regras. ‘Ora, Kant calu em deserédito porque, valendo-se das funds rmentagies transcendentas, eriow uma nova diseiplina: a teria do Cconhecimento, Pois, a0 fazer isso, definiu a tarefa, ov melhor a missio da flosofia de uma maneira nova e,aliés, mais exigent. ‘io sobretudo dois o$ aspectos sob os quas essa vocagao do flé- ‘sofo tornou-se duvidosa, 'A divida prende-se imediatamente ao fundamentalism da teo- rin do conhecimento. Quando a flosofia se presume capaz de um ‘conhecimento antes do conecimento, ela abre entre sie as cién- ‘ias um dominio proprio, do qual se vale para passar a exercer fun. {g0es de dominagio. Ao pretender aclaar de uma vez por todas os fundamentos da ciéncia e de uma vez por todas definir os limites do experiencidvel, a filosofia indica is cigncias o seu lugar. Ora, parece que esse papel de indicador de lugar excedeu as suas forgas. ‘Mas isso ni € tudo, A flosofa transcendental ndo se espota na teoria do conhecimento, Com a anlise dos fundamentos do conbe- Cimento, a critica da razio pura assume também a tarefa de riticar ‘abuso de uma faculdade cogritiva que, em nés, est talhada & ‘medida dos fenémenos. Kant coloca no lugar do conceito substan cial de razo da tradigdo metafsica 0 conceito de uma razio que se Gividiu em seus elementos ¢ cija unidade de agora em diante 56 {em carter formal. Com efeito, ele separa do conhecimento te6- rico as faculdades da razio prica e do poder de julgar e assenta ‘cada una delas em fundamentos prdprios. "Ao fazer isso, ee aribui também & flosofia © papel de um juiz supremo perante a culture em seu todo. Ao demarcar os limites, Como Max Weber drs mais tarde, das esferasaxiolépicas culturais 8 dda cigncia eda técnica, do direitoe da moral, da arte e da critica da arte, segundo caracterstcas exclusivamente formais, ¢ 20 legit imivias a0 mesmo tempo dentro de seus limites, filosofia se com ‘porta como suprema instincia juridca no somente em face das igncias, mas perante a cultura em seu todo.” Hii, portanto, uma conexio entre a teoria do conhecimento {fundamentalisia, que confere i flosoia 0 papel de um indicador de lugar para as ciacias, e um sistema de conceitos ahstérico, sis- tema este que € enfiado sobre a cultura como um todo e 20 qual a filosofia deve o papel nio menos duvidoso de um uiz a presidir un tribunal sobre as zonas de soberania da ciéncia, da morale da arte ‘Sem a certfcasdo transcendental-floséfica dos fundamentos. do ‘onhecimento, também ficaria solta no ara iéia de que 0 fil6sof0 poderia decidir quaestiones juris relativamente as pretenses do resto da cultura... Se renunciarmos a idéia de que o flésofo possa cconhecer algo sobre © conhecimento que ninguém mais poderia Jqualmente conhecer isso significa que nio devemos mais partir da suposigdo de que sua vor possa tera pretensio de ter ouvida pelos que possat Ser concemidos por ea chemlem (ou possim chegar). enquanto Participants de um Discurso prion, eum acorde quo 4 val dex dessa norma. Esse principio ticoxdacursivo (By ao qual Vo ine a proposto da fadamentago do princi da univeraizayo (U,japressupse que «esol de normas pode ser fundamentada No inomento € desta pressuposiio que stata. Inrodua (0) ‘como uma regra de argumentagao que possiilita 0 acordo em Dis- ‘cur80s priticos sempre que as matérias possam ser resradas no in- teresse igual de todos os concernidos, E s6 com a fundamentacio {desse principio-ponte que poderemos dar 0 passo para a ética do Discurso. Todavia, deia (U) uma versio que exclui uma aplicago monolégica desse principio; ele 36 regra as argumentaées entre diversos partcipantes e contém até mesmo a perspectiva para ar- ‘gumentagdes a serem realmente levadas a cabo, a8 quais estio ad- ‘mitdos como partcipantes todos os concerndes, Sab esse aspec- to, nosso principio de universalizagao distingue-se da conbecida proposta de John Rawls. Este gostaria de ver assegurada a consideragio imparcal de to- ‘dos os interesses afetados pela iniciativa do sueito, que julga mo- ralmente, de colecar-se num estado origindro fiticio excluindo 05 Aliferenciais de poder, garantindo liberdades iguais para todos © ‘deixando cada Um na ignorincia das posigdes que ele proprio as- sumiria numa ordenagao social futura, no importa como organiza ‘da. Como Kant, Rawls operacionaliza de tal maneira 0 ponto de vista da imparcialidade que cada individuo possa empreender por si 6-8 tentativa de justificar normas basias. Isso vale também para (0s flésofos moras eles proprios. Consequentemente, Rawls en- tende a parte material de sua propria investigagao, por exemplo o desenvolvimento do prineipio do beneficio médio, nio como uma Contribuicdo de um participante da argumentagao para a formagio discursiva da vontade acerca das instituigdes basicas de uma so- ciedade capitalista avangada, mas justamente como resultado de ‘uma “‘teoria da justica" para‘ quai ele tem uma competéncia a te tulo de especialista. ‘Mas, quando se tem presente a fungio coordenadora das ages ‘que as pretensies de validez normativas desempenham na pritica ‘comunicativa quotidian, percebe-se por que os problemas que de- ‘vem ser resolvidos em argumentagGes morais nio podem ser supe- ‘ados monologicamente, mas exigem um esforgo de cooperasio. ‘Ao entrarem numa argumentagi0 moral, os partcipantes prosse- ‘guem seu agir comunicativo numa atitude refiexiva com o objetivo dd restaurar um consenso perturbado. As argumentagies morais servem, pois, para dirimir consensualmente os conflitos da asi. (Os coniitos ne dominio das interagdes governadas por normas re- ‘montam imeditamente a um acordo normativo perturbado. A re- praragio 56 pode consistir, consequentemente, em assegurar O re- 8 conhecimento intesubjetivo para uma pretensio de valdez ini- cialmente controversa ¢ em segue cesproblematizada ou, entio, ‘para uma outra pretensio de valdez que veio substituir a primeira, Essa espécie de acordo dé expressio a uma vontade comum. Mas, ‘se as argumentagées morais devem produzir um acordo desse gé- ‘ero, no basta que um individuo reflta se poderia dar seu assen- timento @ uma norma. ‘Nao basta nem mesmo que todos 0s indivi- ‘duos, cada Um por si levem a cabo essa reflexao, para entio regis- tear os seus votos. O que € preciso é, antes, uma argumentagio “eal, da qual participem cooperaivamente os concernidos. ‘SO tum processo de enfendimento mituo intersubjetivo pode levar a ‘um acordo que € de naturezareflexiva;s6 entio os participantes ‘podem saber que cles chegaram a uma conviceio comum. [Nessa perspestiva, também o Imperativo Categérico preva de reformulagio no sentido proposto: "Ao invés de prescrever 10- os 0s demais como valida uma maxima que eu quero que seja uma lei universal, tenho que apresentar minha maxima a todos os de- mais para 0 exame discursivo de sua pretensio de universalidade 1D peso desloca-se daquilo que cada (individuo) pode querer sem contradigo como lei universal para aquilo que todos querem de ‘comum acordo reconhecer como norma universal.” De fato, {ormulagao indicada do principio da universalizagao visa a realiza- ‘80 cooperativa da argumentagio de que se trata em cada caso. Por um lado, s6 uma efetiva partiipagéo de cada pessoa concer- rida pode prevenir a deformagio de perspectiva na interpretagio ‘dos respectivos inteesses proprios pelos demais. Nesse sentido ‘ragmatico, cada qual € ele proprio a instincia tltima para a ava- liagdo daquilo que € realmente de seu préprio interesse. Por outro lado, porém, a descrigdo segundo a qual cada um percebe seus in- teresses deve também permanecer acessvel & critica pelos de- mais. As necessidades séo interpretadas & luz de valores eulturais: ‘€ como estes sio sempre parte integrante de uma tradigéo parti- Tada intersubjtivamente, a revisio dos valores que presidem & interpretagio das necessidades nio pode de modo algum ser um assunto do qual 0s individuos disponham monologicamente” (6) Excurro. — Uma ética do Discurso sustenta-se ou cai por terra, portato, com as duas suposigdes sequntes: (a) que as pre= tensbes de validez normativas tenam um sentido cognitivo e pos- ‘sam ser tratadas como pretens6es de verdade; (b) que a fundamen- tagio de normas e mandamentos exija a efetuasio de um Discurso real e no sejapossvel monologicamente, sob a forma de wma ar- ‘umentacio hipotéica desenvolvda em pensamento. Antes de Prosscgur 0 exame da contovéria ene 0s cepicos © os copnt- Wists eticos, gostaria de abordar uma concep desenvolvidnre- entemente pe: Ernst Tugenghat, que se opoefrontalmente sexta “Tugendhat atémse, por um lado 3 intigso que enunciamos 2b & forma do principio da universaizasao: uma norma 56 vale como jusificada quando € “iguslmente boa" para cada um dos concerni- dos, Ese isto € unio o caso € algo que os proprios concerns ddevem constatar num Discurso real. Por outro lado, Tugendhat re ‘haga a hipstese (a) recusa para a hipotese (uma interpreta ético-dscursiva, Muito embora queiraescapar as concusdes do epicismo axiligico, Tugendhat compare hiptesecépica bi fica de que a valides JeGnticn das normas nao se deina compreen- der em analogia com a valiez veiativa das proposgoes. Mas, © a valder deOntic das normas tem um sentido Votive e nao cogni tive, 0 Discurso pric tem que serit também para oura coisa ‘qu noo alaramentoargumenatvo de uma petenso de vaidez Controversi. Tugendha enn o Discurso como um dispositive Sssegurando por meio de regras da comunicagio qe too 08 com Cems disponham da mesma chance de partcpar da consitigao de um compromisso equtaivo (fir). A necssidade da arguments. So explica-se por rans que lm a Yer com a possibltagso da Partcipasdo eno do conhecimento Inialmentc, quero esbogar problematic «parti da qual Tugendhat desenvoive essa tse" ‘A problematica. ~ Tugendbatdistingueregras semantcas que ‘estabelecem 0 significado de uma expressiolingisticn, de Tearas Dregmatcas que determinam a mancra pela qual fans e ouvinte {mpregam comunictivamente tis expressbes. As. proposigdes aque, como 95 componenesilocucionérios de nossa linguagem, $6 yodem ser empregadas comunicativamente cxigem uma andlise Progmética ~ quer sum numa siuagio de fala actual ou apes Fem pensamento”. Outras proposes podem ser despojada aparentemente sem perda de significado, de suas pressupoigdes Drapmiticas © cmpregadas monologicamente; elas servem prin ‘Ramente para o pensamento e nao para acomunicagao. A essa es- pésie pertencem as proposigdes asertoricase inencioais: seu Signifiado pode ser expliitado exausivamente com o auxiio de ‘uma andlisesemntca. Em consonincia com uma tradigao remon- tando a Frege, Tugendhat parte da suposizae de que avaldez ver » tativa das proposigdes € um conceito seméntico. De acordo com ‘essa concepsdo, a fundamentago dos enunciados também € um assunto monoldgico; assim, por exemplo, a questio se um predi- ado pode ser atrbuido ou niio a um objeto é uma questao que todo sujeito capaz de julgar pode decidir por si proprio com base em regras seminticas. O mesmo vale para a fundamentagio de proposigies intencionais. Para isso no ¢ preciso nenhuma ar- umentagao onganizada intersubjtivamente, mesmo que, de fato, ‘devamos levar a cabo cooperativamente semelhantes argumenta- {8e8, isto €, sob a forma de uma (roca de argumentos entre varios Participantes. Ao contrario, a justicagio de normas (diferente- ‘mente da fundamentagio de proposigdes) & uma questio no ape ‘has Contingentemente, mas esrencialmente comunicativa, A ques- tio se uma norma controversa¢ igualmente boa para todo partic- ppante & uma questao que precisa ser decidida segundo regras pragmaticas sob a forma de um Discurso real. Com a justificagao as normas entra em jogo, por conseguinte, um conceito genuina- mente pragmatic. Para a continuagéo da anlise de Tugendhat, importa sobretudo suposigio de que as questdes da valider sio questées exclusva- ‘nente seminticas. Dada essa pressuposigéo, 0 sentido pragmtico da justificagao de normas néo pode se referi a algo como a "Vale ddez" de normas, — em todo 0 caso, no quando essa exprestio & tntendida em analogia com a verdade de proposigdes. Uma outra soisa tem que se ocultar por tris disso: a idéla de uma imparciali- dade que se refer antes a formagio da vontade do que & formagéo ao juizo. ‘© que € probiemitico nessa abordagem € a pressuposigio se- ‘manticsta,pressuposigdo essa que nio posso discutir aqui em de- talhe, O conceito semantico da verdade e, sobretudo, a ese de que ‘ controvérsia em torno da validade de proposigGes s6 pode ser ‘ecidida foro interno segundo regras semntias resultam de uma andlise que se orienta pelas proposigdes predicativas de uma lin- ‘muagem sobre coisas ¢ acontecimentos." Esse modelo é inade- ‘quado poraue proposigdes elementares como: "Esta bola & verme- Tha’ representam componentes da comunicaséo quotidiana sobre cuja verdade normalmente nenhuma controvérsia surge. Temos ‘que procurar exemplos analticamente fecundos nos pontos onde surgem controvérsias substanciais e onde as pretenses de verdade sio sistematicamente colocadas em questio. Mas, se temos em % Vista a dindmica do aumento do saber e, sobretudo, o crescimento do saber te6rico e se examinamos a maneira pela qual, por exem- plo, as proposigées existenciis gerais,proposigGes condivionas r= ‘ais, proposigées com indice temporal ete. sao fundamentadas na ‘comunidade de argumentacio dos cientistas, as idcia sobre 8 veri= Feagio derivadas de uma semntca da verdade perdem sus plas bilidade* Séo justamente as controvérsias substancials que no Se deixam decidir com argumentos cogentes baseados na aplicaglo ‘monoligica de regras seminticas: fo, aliés, por causa disso que TToulmin se viv levado a sua abordagem pragmatica de uma teoia. da argumentagao informal. 0 argumento. — Se partimos, agora, da referda pressuposigio semanticsta, coloca-se a questio: por que sio de todo necessérios 19s Discursos reais para a justificagio de normas? O que € que que- remos dizer quando falamos em fundamentagio de normas, se 5¢ proibem todas as analogias com a fundamentagéo de proposivses? ‘As razées — responde Tugendhat — que surgem nos Discursos pritios so razdes pré ou contra a itengio ou decisio de aceitar ‘um determinado modo de agir. 0 modelo fornece a fundamentagao para uma propesicao intencional na primeira pessoa. Tenho boas razées para agir de uma determinada maneirs, quando é do mew in- teresse ou quando é bom para mim realizar fis correspondentes, Em primeiro lugar, pois, tratase de questées do agirteleldgico: 0 que quero fazer?” ¢ “O que posso fazer?”, nio da questo ‘moral: “O que devo fazer?”. Tugendhat poe em jogo 0 ponto de vista deontolégico 20 ampliae a fundamentagio das intenges pro- prias de cada um de modo a abranger a fundamentaséo das inten- {8s coletivas de um grupo: ‘Com que modo de agir em comum ‘Queremos nos comprometer?™, ou: "A que modo de agir comum ‘queremos nos obrigar?". Com isso, entra em cena um elemento pragmatic. Pois, quando 0 modo de agir carente de fundamenta- ‘80 € de natureza coletiva, os membros do coletivo tém que chegar ‘uma decisdo comum. Eles tém que tentar convencer-se mutua- mente de que-é de interesse de cada ui que todos ajam assim. Em semethante processo, cada wm indiea a0 outro as razbes por que cle pode querer que um modo de agir seja tornado socialmente obrigatério, Cada pessoa concema tem que poder convencer-se de que a norma proposta é, nas citcunstincias dadas, “igualmente ‘boa para todos. E'¢ a semelhante processo que chamamos jusa- ‘mente de Discurso pritico, Uma norma que passa a vigorar por o essa via pode-se chamar “justiicada", porque a decisio alcangada fangumentativamente indica que ela merece 0 predicado “igual: ‘mente boa para cada um dos concernidos” 'Se se entende a justificagso das normas nesse sentido, também ficaré claro — 0 que pensa Tugendhat —o significado dos Dis- cursos priticos, Eles no podem ter um sentido primariamente ‘cognitive. Pois a questio a se resolver racionalmente, a saber, se tum modo de agit em cada caso, do interesse proprio, esta ques- ‘eda individuo tem que respond2-la, 20 fim e ao cabo, por si ‘6: as proposigdesintencionais, com efeito, devem poder ser fun- damentadas monologicamente segundo regras semanticas. En- ‘quanto empreendimento intersubjetivo, a argumentacio s6 é ne- ‘essiria porque € preciso, para a fxagéo de uma linha de ago co- Tetiva, coordenar 48 intengoes indviduais e chegar a uma decisio ‘comum sobre ess linha de ago. Mas é s6 quando a decisio re- sulla de argumentagses, isto ¢, se ela se forma segundo as regras pragmiticas de um Discurso, que a norma decidida pode valer ‘como justificads. Pois € preciso garantir que toda pessoa concer- ‘ida tenha a chance de dar espontaneamenie seu assentimento. A orma da argumentacéo deve evitar que alguns simplesmente sugi- ram ou mesmo prescrevam aos outros o que é bom para cles. El ‘deve possiblitar, no a imparcialidade’ do juizo, mas a ininfluen- ciabilidade ou a aulonomia da formagéo da vontade. Nesta medi 4a, as regras do Discurso tém clas proprias um contesido normati- vor elas neutralizam 0 desequlfrio de poder e cuidam da igusl- dade de chances de impor 0; interesses proprios de cada um. "A forma da argumentagao resulta assim da necessidade da parti cipagio e do equllibrio de poder: “This then seems to me the reason why moral ques- tions, and in particular questions of political morality, must be justified in a discourse among those concerned. The rea- son isnot, as Habermas thinks, that the process of moral reasoning is in itself essentially communicative, but i is the other way around: one of the rules which result from moral reasoning, which as such may be carried through in ‘solitary thinking, prescribes that only such legal norms are ‘morally justified that ae arived at in an agreement by eve~ ‘ybody concerned. And we can now see that the irreduci- bly communicative aspect is nota cognitive but a volition- al factor. tis the morally obligatory respect for the au- fonomy of the will of everybody concerned that makes it necessary to require an agreement” (MS, 10 8.) ‘CE 1860, pois, que me parece ser a razio por que as ‘questbes moras €, em particular, as questdes de morali- dade politica tém que ser jusificadas num discuso entre as pessoas concernidas. A razio disso no é, como Habermas Pensa, que 0 processo da argumentagao moral seja em si mesmo essenciamente comunicativo, mas € 0 inverso: lima das regras que resultam da argumentagio moral — ‘que, enquanto tal, pode ser levada a cabo no pensamento Soltirio — prescreve que $6 so moralmente justificadas as normas legis as quais se chega num acordo de que par- ticipem todos os concernidos. E podemos ver agora que 0 aspecto iredutivelmente comunicativo no é um fator cog- nitivo mas volitiv, Eo respeto moralmente obrigatorio pela autonomia da vontade de todos os concernidos que oma necesséria a exigencia de um acordo.") Essa concepeio moral ainda seria insstisfatGria mesmo que sceitéssemos a pressuposigéo semanticista em que ela se apoia. Pois ela nao pode dar conta daquela intuigao que € muito difieil de ‘negara idéia da imparcalidade, que as éicas cogntivista desen- volvem sob a forma de principis de universalizagao, nio se deita Teduzir a idéia de um equllrio de poder. O exame da questo: se € Tiitoatrbuir a uma norma 0 predicado destacado por Tugendhat Tou-se sem objeto, porque abandonamos a falsaidentifiagio das pretensées de validez normativas e assertéricas mostramos (it 3." secs) que a verdade proposicional ea corregao normativa as ‘sumem papéis pragmaticos diversos na comunicacio quotidiana. O céptico nio se deixou impressionar com isso renovou su divida afirmando que as pretensoes de validez associadas a mandamentos fe normas nio se deixam fundamentar. Essa objegao eaduca se se audmite o principio da universalizapao (introduzido na 4.* ecg) € Se € possivel comprovar (como acontece na 5 secgio) que, NO ‘caso deste principio moral se trata de uma regra de argumentagio ‘comparivel ao prinpio da indugo e nao de um principio d part- ipacio dissimulado, Nesse estidio do dig, 0 céptico exigiré luma fundamentagio para este princpio-ponte também. Contra & objegdo da falécia etnocéntrica, vou moblizar (na 6.* secgdo a se- suit) proposta feta por Apel de uma fundamentagdo transeen- ‘ental-pragmitica da ética. Modificare 0 argumento de Apel (na 74 secgao) de tal modo que eu possa abandonar sem prejuiz0s a pretensio a uma “fundamentacao itima". Contra as objeses que © céptico quiser apresentar de novo nesse sentido, seré possivel (na 8° secyio) defender o principio da ética do Discurso mos- trando como as argumentacdes moraisestio inseridas nos contex- tos do agi comunicatvo. Essa lgagio interna entre a moral e & eticidade nio limita a universalidade das pretensoes de validez ‘morais; ela subordina, porém, os Discursos priticos a retrgses, fs quais os Dircursos teéricas ado estio submetidos da mesma (6) A exigéncia de uma fundamentagéo do principio moral nio parece descabida, se levamos em conta que, com o Imperative Ca- % tegérico, Kant (com os sus seguidorescopiivitas com suas var ragées do principio da universalizaao) expresso a uma inti- {0 moral cuo aleance € questiondvel. Certamente, apenas as Tormas de a que, em cad ca, encaram interesses univers lniveiscorespondem ax nosis las de justia, Mas ext "moral point of view" "pont de vista moral”) poderaexprimir as iis Imoraisparculares de nossa cultura ocidentl. A objesio que Paul Taylor evasiou contra a proposta de K. Baier pode ser estenida a todas as formulapes do prinepio da universalizagéo. Em face das ‘vidéos antopologias,temos que admit que 0 e6digo moral Que as teoras moras Kanianasinerpretam € apenas um entre mui- tos: “However deeply our own conscience and moral out look may have been shaped by ity we must recognize that ‘ter Scites inthe history ofthe world have ben able {uneton on the bass of other codes. To cai that per- Son who i a member of those societies and who know if tmorl code, nevertheless doesnot have true moral conic tions i, it seems to me, fandamentally correct. But such a claim cannot be Jusifed on the ground of our concept of the moral point of view for tat isto assume thatthe moral code of literal western society isthe only genuine moral ve (Por mais profundamente que nossa propria conscién- cia € perspectiva moral possam ter sido moldadas por ele, temos que reconhecer que outras sociedades na historia do mundo puderam funcionar com base em outros Codigo... Pretender que uma pessoa que perienga a essas sociedades conkesa seu cédigo moral nio tem, no entanto, verdade- as conviegées moras ¢, parece-me, fundamentalmente correto. Mas essa pretensio no pode ser justficada com, base em nosso conceito do ponto de vista moral, pois isso ‘presumir que o cédigo moral da sociedade liberal ociden- tal é tnica moralidade genuina.") Hi, portanto, uma suspeita fundamentada de que a pretensio de universalidade que os cognitvistas éicos erguem para o pine’. pio moral por eles preferido em cada caso se deve a uma “facia ftmocéntrica. Eles néo podem, pois, furtar-se & exigéncia de fun- damentasio do eéptice 100 [No que conceme a Kant, este baseia a fundamentagio do Im- perativo Categorico, na medida em que nio recorre simplesmente & lm "fato da razio™, nos conceits, dotados de conteddo normati- ‘vo, da autonomia e da Voniade livre; com isso, expoe-se & objecio {de uma peiio princpli. Em todo 0 caso, a fundamentagao do Im- perativo Categérico esti tio entelagada com a arquiteténica do Sistema Kantiano que nio seria ficil defendé-la a parti de outras premissas. Quanto aos te6ricos contemporineos da moral, estes to hepa » proper um fant ano ince ol ‘mas limitam-se, como se pode ver por exemplo na concepgao rawl- Sana de‘um equi fefesivo Geflecive equbum)® uma reconstrugio 0 saber pré-tedrico. Isso vale também para a pro- posta constrtvista da edficagzo metédica de uma linguagem para [rgumentagdes morals; pois introdugio, normalizadora da igus: gem, de um principio moral tra sua forga de convicgdo exclusiva- ‘mente da explicagio conceptual de intuigdes encontradas. "Nese estdio da argumentacio, nio chega a sec uma dramati- zagio dizer que 0s copnivisias se viram em dificuldades com a ex ‘géncia de uma fundamentacéo do principio da universalizagio* ‘Assim, céptico sente-se encorgjado a radicalizar sua divide ‘quanto & possibilidade da fundamentagao de uma moral universalis- 12, afirmando sua impossibilidade. Tal € sabidamente o papel que H. Albert assumiu com “"Tratado Sobre a Razio Critica’®” a0 ‘anspor para 0 dominio da flosofia pritica 0 modelo epistemol6- {0 do exame criico desenvolvido por Popper, para tomar o lugar ‘do pensamento tradicional da fundamentagio¢ justificagio. A ten- tativa da fundamentago de principios morais enreda o cogntivista, tal € tese, no “trlema de Manchhausen”, que consiste em ter de cescolher entre ts alternativasigualmente inaceiveis, a saber, ou ‘admitir um regreso ininito, ou romper arbitrariamente a cadeia da \erivacio ou, finalmente, proceder em citculos. Esse trilema, t0- ‘davia tem um valor posicional problematico. Ele s6 aparece com & pressuposigo de um concelto seméntico de furdamentardo, que se orienta pela relasio dedutiva entre proposigSes © que se apoia tunicamente no conceto da inferéncia lgica. Essa concepgio dedu- tivista da fundamentacéo €, manifestamente,seletiva demais para a ‘exposigio das relagdes pragmiticas entre atos de fala argumentat- ‘os: 0s principios da indusao e da universalizaglo s6 sio introdu- 2idos como regras da arpumentagdo para langar uma ponte sobre © hiato ldgico nas relagdes nio-dedutvas. Por iso, nao se deve es wot ‘erar para esses principios:ponte eles proprios uma fundamentagio Sedutiva, que € a tnica admitida no trilema de Minchhausen ‘A partir desse ponto de vista, K, O. Apel submeteuo faliblsmo ‘a uma metacritca convincente ¢ invaldou a objesio do trilema de Miinchhausen.” Nao preciso abordar detalhadamente esse pont. Pois, no contexto de nossa problemitica, cabe sobretudo a K. 0. Apel o mérito de haver desabstruido a dimensio entrementes s0- terrada da fundamentago ndo-dedutiva das normas étcas basias. ‘Apel renova o modo da fundamentacio transcendental com os imeios fornecidos pela pragmatica linguistics. Ao fazer isso, utiliza © conceito da contradigdo performativa, que surge quando um ato 4e fala constatativo “Cp se baseia em pressuposiges nio-contin- feates cujo conteddo proposicional contradiz 0 entnciado asserido ‘pb. Partindo de uma reflexdo de Hintikka, Apel iustra 0 signifi:

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