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Ce fics aaa) JANEIRO DE2016 SINTESE NACIONAL Angola 0 governo do presidente José Eduardo dos Santos continuaa violar os direitos humanos em Angola, apesar dos varios compromissos assumidos para melhorar o seu historial. Em Margo, 0 governo angolano disse que iria aceitar varias das recomendacGes resultantes da Revisao Periddica Universal do pats, realizada pelo Consetho de Direitos Humanos das Nages Unidas em Outubro de 2014. No entanto, no mesmo més, aprovou uma lei restritiva que regulamenta o trabalho das organizacdes nao governamentais (ONG). AS forcas de seguranca continuam a reprimir os meios de comunicagéo independentes, os activistas de direitos humanos e outros criticos do regime através da instauracao de processos criminais por difamacao, detengSes arbitrarias, julgamentos injustos, intimidacao, assédio e vigilancia. Dois proeminentes activistas de direitos humanos foram condenados a penas de prisdo na sequéncia de julgamentos iniquos, o que envia uma mensagem inequivoca de tolerancia zero comas vozes dissidentes. As forcas de seguranca detiveram arbitrariamente e fizeram uso de forca excessiva contra criticos do governo, Além disso, também impediram diversos protestos pacificos e outros encontros contra o governo. Em Junho, a policia deteve 15 activistas que se haviam reunido para ler e discutir livros sobre resisténcia pacifica. Na provincia do Huambo, em Abril, a policia matou um ntimero desconhecido de fiéis de uma seita religiosa, durante uma operagao que tinha como objectivo prender o lider da seita. Liberdade de Expressao Aliberdade de expresso em Angola continua sujeita a fortes restrigdes devido a repressao do governo, censura e autocensura dos meios de comunicacao estatais e dos 6rgaos de comunicacao privados, controlados por oficiais do partido no governo. Houve ligeiros avancos em 2015, quando alguns érgos de comunicacao, incluindo a televisdo estatal TPA e o canal privado Zimbo, comecaram a permitir que a oposi¢ao e grupos da sociedade civil participassem nas suas discussdes semanais em directo sobre humanos, seguranga e activismo juvenil. No entanto, as discussbes piblicas sobre estes temas de natureza sensivel continuam a ser extremamente raras. 0 governo continua servirse regularmente da legislacdo em matéria de difamacao e de outras leis abusivas para silenciar os jornalistas. Em Marco, o ministro da justica e direitos humanos, Rui Jorge Mangueira, acotheu positivamente as preocupagdes expressas pelo Conselho de Direitos Humanos relativas ao diteito a liberdade de expressao em Angola, que as actuais disposigdes sobre difamacao presentes na constituicao do pats cumpriam os padres internacionais. 0 governo angolano defendeas disposicdes constitucionais sobre difamacao, caldinia e delitos semelhantes, afirmando que protegem 05 interesses do lesado e ndo violam ou restringem o direito a liberdade de expressao. mas insi Os blogues e as redes sociais continuam a ser os principais canais de debate aberto em ‘Angola. Em Julho, varios individuos, incluindo José Gama, que as autoridades acreditam estar ligado ao site de noticias Clube-K, e Rafael Marques, editor do sitede notic ‘Angola, foram intertogados pelos servicos de informacao a propésito da origem e do contetido de alguns artigos sobre o procurador-geral publicados nos respectivos sites. Os artigos sugeriam que o procurador-geral, Jodo Maria Moreira de Sousa, utilizarao seu gabinete para, de forma deliberada e ilicita, visar uma empresaria. jas Maka Em Maio, Rafael Marques, um proeminente ornalista angolano e activista de direitos humanos, foi condenado a seis meses de prisdo com pena suspensa durante dois anos por difamar criminalmente sete generais de alta patente do exército angolano num livro publicado em Portugal em 2012.00 tribunal proibiu Rafael Marques de republicar o livro e de traduzilo, 0 activista havia acusado os queixosos de envolvimento em tortura, violagGes e assassinatos. Apesar de o prazo legal para apresentar acusagdes formais ter terminado em Junho de 2014, 0 processo judicial continuou a decorrer. A procuradori geral arquivou uma queixa apresentada por Rafael Marques contra os generais e associados em 2012 e nao investigou as alegacdes. Em Junho, um grupo de 15 proeminentes activistas, a maioria dos quais é membro do Movimento Jovens Revolucionatios de Angola, foi detido em Luanda, a capital, no seguimento de uma reuniao onde leram e discutiram livros sobre métodos nao violentos de protesto. Duas outras activistas do sexo feminino foram igualmente interrogadas em Agosto, ndo tendo sido detidas. Todos os activistas foram acusados de preparagao de rebelido e atentado contra o presidente da repiiblica e as instituicdes do Estado. Caso sejam considerados culpados, podem vir a enfrentar penas de prisao pesadas. Pelo menos quatro dos activistas fizeram greve de fome para protestar contra a sua detengao e encarceramento, Henrique Luaty Beirdo pds fim a sua greve de fome apés 36 dias de protesto, em resposta aos pedidos de familiares e amigos. A data do julgamento foi agendada para Novembro. Alguns dos 15 activistas detidos foram mantidos em prisdo preventiva mais de 90 dias sem acusa¢ao formal, o que ultrapassa os trés meses permitidos pela legislacao angolana. Os jornalistas que fizeram a cobertura dos protestos em Luanda e outros lugares, incluindo o enclave de Cabinda, célebre pela sua riqueza petrolifera, foram igual mente assediados e detidos por agentes de seguranca do Estado. Em Agosto, Nelson Sul d’Angola da Deutsche Welle foi brevemente detido pela policia em Luanda, no seguimento de uma visita aos 15 activistas presos. Também em Agosto, Coque Mukuta da VOA foi detido em Luanda, quando familiares e amigos dos 15 activistas detidos tentaram realizar uma marcha pacifica. A policia apreendeu o seu equipamento. Direito a Reuniao Pacifica O artigo 47.2 da Constituicao de Angola permite que os cidadaos protestem sem autorizacao prévia, desde que informem as autoridades com a devida antecedéncia. No entanto, 0 governo continuou a responder a todas as manifestacdes pacificas contra o governo com forca excessiva e detencdes arbitrérias, alegando que alguns dos protestos haviam sido organizados por pessoas que tinhama intencao de desestabilizar o pats. Em 2015, no houve registo de nenhuma manifestacdo ou marcha pacifica contra o governo que tenha sido autorizada pelas autoridades. Todasas tentativas dos apoiantes dos 15, activistas do Movimento Revolucionério detidos de realizar vigilias ou marchas pacificas foram proibidas. Muitos dos que tentaram organizar protestos acabaram por ser detidos, encarcerados e julgados em processosjudiciais injustos. Em Marco, Ado Bula Tempo, advogado especializado em direitos humanos e presidente do Conselho Provincial de Cabinda da Ordem dos Advogados de Angola, foi acusado de rebeliao por ter planeado uma manifestacao pacifica contra a corrup¢ao. Foi libertado em regime de liberdade condicional e aguarda julgamento. Em Setembro, Marcos Mavungo, um proeminente activista de direitos humanos que fora detido em Marco, foi condenado a seis anos de prisdo por tentativa de organizagao de um protesto contra a ma governacao e as violaces de direitos humanos na provincia de Cabinda. Em Outubro, as autoridades de Cabinda impediram aAssociagao Justica, Paz e Democracia (AJPD) de realizar workshops sobre transparéncia na inddstria petrolifera. Conduta das Forcas de Seguranca ‘As forcas de seguranca continuam a ser implicadas no uso excessivo de forca. Em Al partido da oposi¢ao, Unido Nacional para a Independéncia Total de Angola (UNITA), acusou as forcas de seguranca angolanas do assassinato de centenas de membros de uma seita religiosa crista, a Igreja do 7.° Dia Luz do Munds, liderada por José Kalupeteka em Cala, provincia do Huambo.A policia disse que nove agentes da policia e 13 dos guarda-costas de Kalupeteka foram mortos durante o confronto, mas negou a ocorréncia de um massacre. As autoridades permitiram que a comunicacao social e deputados visitassem a tea, mas apenas sob escolta policial. As autoridades recusaram os pedidos de grupos locais de direitos humanos, deputados da oposi¢ao do Parlamento e do Alto Comissariado das Nagdes Unidas para os Direitos Humanos para a abertura de uma comissao independente para investigar os acontecimentos. Em Outubro, Kalupeteka foi formalmente acusado de crimes de homictdio, desobediéncia civil e posse ilegal de armas. ‘Aquando da redaccao deste relat6rio, ainda aguardava julgamento, Num caso raro de responsabilizacao de agentes de seguranca, sete agentes de policia e de seguranca do Estado foram condenados em Marco a entre 14,¢ 17 anos de prisdo pelo lato de dois organizadores de um protesto, Isafas Sebastiao Cassule e Ant6nio Alves Kamulingue. Os dois homens foram raptados, torturados e assassinados em 2012 apés terem organizado uma manifestacao de ex-guardas presidenciais e veteranos de guerra devido a queixas de salérios e pensdes por pagar. assas Sociedade Civil Uma nova lei que regulamenta as ONG em Angola, o decreto presidencial n.° 74/15, entrou em vigor em Margo e restringe gravemente a independéncia da sociedade civil. Exige que as organizacdes da sociedade civil se registem junto de varias autoridades, incluindo 0 Ministério dos Negécios Estrangeiros, antes de poderem comecar a operar, que obtenham uma «declaracao de idoneidade» emitida pelo governo, que realizem actividades que estejam em linha com as politicas do governo, que se sujeitem a supervisao por parte das autoridades, que apresentem contratos de financiamento para aprovagao prévia, que permitam que as autoridades determinem os programas e projectos que deverdo realizar e 0 local onde os projectos deverdo ser realizados. Durante a 57.2 sessao ordinatia da Comissao Afticana de Direitos Humanos e dos Povos em Banjul, o secretério de estado angolano das relagdes exteriores reuniu-se com grupos angolanos e intermacionais de direitos humanos e comprometeu-se a resolver as «zonas cinzentas» do decreto. Em Setembro, o director da Open Society Foundation em Angola, Elias Isaac, foi interrogado pela policia angolana sobre alegacdes de que a organizacao havia financiado 0 Site Club-K, que assume uma postura critica do governo. Isaac ja fora acusado no passado por membros do partido no poder de financiamento de protestos contra 0 governo. A Open Society Foundation negou todas as acusacées. Actores Internacionais Fundamentais A riqueza petrolifera e o poder militar de Angola continuam a fazer do pais uma poténcia influente em Aftica. José Eduardo dos Santos continua a desempenhar um papel importante na regiao, em particularnos conflitos na regio dos Grandes Lagos de Africa. Em 2015, a Franca aclamou Angola como uma presenca estdvel na regido e os Estados Unidos elogiaram a Presidéncia de Angola na Conferéncia Internacional sobre a Regiao dos Grandes Lagos (International Conference on the Great Lakes Region, ICGLR). Além disso, ainda mantém o lugar de membro nao permanente no Conselho de Seguranca da ONU, cujo mandato s6 terminaré em 2016. 0 governo angolano nao foi receptivo as criticas dos parceiros internacionais. Em Maio, na sequéncia das dentincias do alegado massacre no Huambo, o gabinete do Alto Comissariado da ONU para os Diteitos Humanos (ACNUDH) instou 0 governo angolano a Westigacao verdadeiramente séria, independente e minuciosa» dos realizar «um: acontecimentos. 0 governo acusou 0 ACNUDH de violar os seus préprios procedimentos e exigiu um pedido oficial de desculpas. Em Setembro, na sequéncia de uma resolucao do Parlamento Europeu sobre os direitos humanos em Angola, que urgiu as autoridades a investigar e p6r termo as detencdes e encarceramentos arbitrarios e a tortura pela policia e forcas de seguranca,o pais negou as alegacdes e disse que a resolucdo se baseava num relatério parcial e subjectivo realizado por uma deputada europeia em visita privada ao pal

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