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1º trimestre de 2009

Lição 8

O PERIGO DO ARDIL GIBEONITA

Leitura bíblica (Js 9.1-6, 15,16)

TEXTO ÁUREO

“Não durmamos, pois, como os demais, mas vigiemos e sejamos sóbrios” (1 Ts 5.6).

VERDADE PRÁTICA

Precisamos estar vigilantes quanto àqueles que, com artifícios ardilosos, infiltram-se na
igreja visando impedir a concretização das promessas de Deus na vida de seu povo.

INTRODUÇÃO

Desde que Josué assumira o comando dos filhos de Israel, a nação eleita já tinha
superado grandes obstáculos. Já haviam vencido as águas impetuosas do Jordão,
desbaratado Jericó com seus muros imponentes e subjugado os corajosos habitantes de
Ai. Os reis da terra da Canaã estavam assombrados com as proezas dos hebreus. Parecia
que nenhuma arma podia prosperar contra Israel, nenhum inimigo podia se suster diante
da Nação santa. E a ordem de Deus era clara: os habitantes de Canaã teriam que ser
eliminados, sem exceção. Mas eis que surge um inimigo diferente, usando armas mais
sofisticadas. O que os seus compatriotas não puderam alcançar pela força, os gibeonitas
tentaram pela astúcia. E funcionou. Josué e os anciãos de Israel deixaram-se enganar
pelos artifícios dos heveus, engano que traria deletérias e permanentes conseqüências ao
povo de Deus. Nesta lição, trataremos do perigo do engano e da falsa aparência no meio
do povo de Deus.

I - OS HABITANTES DE CANAÃ

Quando os filhos de Israel chegaram à terra de Canaã, esta região era habitada por um
povo misto, descendente de Cã, um dos três filhos de Noé. Aliás, o nome da região vem
de Canaã, um dos quatro filhos de Cã. No capítulo 10 de Gênesis, a Bíblia mostra que
os filhos de Cã são: Cuxe, Mizraim, Pute e Canaã (v 6). “E Canaã gerou a sidom, seu
primogênito, e a Hete, e ao jebuseu, e ao amorreu, e ao girgaseu, e ao heveu, e ao
arqueu, e ao sineu, e ao avardeu, e ao zerameu, e ao hamateu, e depois se espalharam a
família dos cananeus” (15-18). Seis desses povos se juntaram numa confederação para
guerrear contra Josué. No livro Josué, um líder que faz a diferença (cap 5), o pastor
Elienai Cabral faz um levantamento muito claro das principais características desses
povos. Reproduzimos a seguir o levantamento feito pelo dileto pastor, com apenas
algumas adaptações.

1. amorreus. Os “amorreus” eram um povo montanhês que vivia em terras altas a oeste
do mar morto, até Hebrom (Gn 13.18; 14.7,13), vindo a habitar, posteriormente, no
planalto, a leste do Jordão, desde Arnon até Jaboque (Nm 21.13,27). Eles tinham grande
domínio das montanhas de sua habitação e, por conseguinte, difíceis de serem
surpreendidos e vencidos. Era um povo famoso pelas suas guerras (Nm 13. 29). Este
povo tinha como característica principal a pilhagem e a destruição que suas tropas
faziam com as cidades e reinos conquistados por eles. Quando atacados, reagiam com
ferocidade e utilizavam o fogo como elemento destruidor (Nm 21.28).

2. cananeus. A palavra cananeu na língua hebraica refere-se à terra baixa. A Bíblia diz
que os cananeus eram especialistas em artefatos de ferro (Jz 4.1-3). Afirmam os
lingüistas que os cananeus tinham um idioma o qual falavam e escreviam, muito
relacionado à língua hebraica. As provas dessas afirmações são oferecidas por
arqueólogos que descobriram um dialeto cananeu escrito em inscrições feitas nas minas
de turquesa no Sinai. Eram inscrições adaptadas de hieroglíficos feitos por símbolos
fonéticos do dialeto cananeu. A civilização cananéia é identificada pela existência de
uma biblioteca de literatura religiosa encontrada num local chamado Ugarite. A
religiosidade pagã dos cananeus é uma mistura de mitologia e tinha como deus principal
a Asera, mãe de Baal, deus da fertilidade.

3. Heteus. Descendentes de Hete, quarto filho de Cam. Habitavam nas regiões centrais
da Palestina. Era um povo sem fixação certa, porque vivia em constante migração. Este
povo foi listado como um que devia ser banido da terra de Canaã. Posteriormente vimos
os heteus tomarem parte de uma guerra contra Israel (Js 9.1,2).

4. Heveus. São antigos moradores da terra de Canaã (Jz 3.1-3) e eram conhecidos pelas
sutilezas criadas nas suas guerras, armando ciladas para os seus inimigos. Viviam nas
montanhas do Líbano, desde o monte de Baal-hermom até à entrada de Hamate (Jz 3.3),
que ficava na faixa das colinas do Líbano e do Hermom. Os heveus eram um povo
astucioso, não necessariamente violento. Sua atividade econômica consistia no
comércio de várias especiarias.

5. Girgaseus. Pode-se dizer que eram uma ramificação dos heveus, uma vez que
estavam, segundo os historiadores, muito ligados a eles. Os girgaseus viviam em uma
região de Canaã que era muito argilosa, ou seja, arenosa. Daí o significado do nome
“girgaseu” que é “terra argilosa ou arenosa”.

6. Jebuseus. Os jebuseus habitavam a região mais tarde associada à tribo de Benjamim,


especialmente a cidade de Jerusalém que, na época, chamava-se Jebus, (Js 18.28; Jz
19.10). Eram descendentes do terceiro filho de Canaã (Gn 10.16) e viviam nas
montanhas ao redor de Jerusalém, entre os heteus e os amorreus (Nm 13.29).

7. Ferezeus. Eles aparecem como um povo agrícola na terra de Canaã, cujo nome pode
significar “aldeões” ou “rústicos”, porque habitavam em lugares não murados, ao ar
livre. Era um povo pobre que se preocupava apenas com as coisas que podia tirar da
terra para sobreviver.

Obs. Gn 10.15 não menciona os ferezeus entre o grupo de cananeus.

II - A CONFEDERAÇÃO DOS REIS DE CANAÃ

1. O pavor e a reação dos reis cananeus. Após as vitórias espetaculares de Josué sobre
os habitantes de Jericó e Ai, Os demais reis da terra de Canaã concluíram que deviam
agir imediatamente se não quisessem ter o mesmo destino daqueles. Imagino que, como
acontece nos dias atuais, quando líderes de várias nações se reúnem para tratar de
assuntos comuns a todos, os reis de Canaã se reuniram em algum lugar em caráter
emergencial, e Adoni-zedeque, rei de Jerusalém, abriu aquela sessão dizendo: “Bom,
imagino que todos sabemos o motivo por que estamos aqui. As notícias que estão nas
páginas dos últimos jornais não são boas. Os hebreus intentam se apossar de nossas
terras, dizendo tratar-se de uma promessa de seu Deus feita a eles. Por onde este povo
tem passado, o terror se abate sobre todos, devido às proezas que vem realizando em
nome de seu Deus. Não podemos mais esperar. Precisamos agir rapidamente. É bem
verdade que temos nossas diferenças; mas, em um caso como este, em que nós e nossos
filhos estamos sob ameaça, deixemos de lado todas as nossas diferenças e nos unamos,
ou então seremos todos destruídos. Precisamos sair da defensiva já e partir para o
ataque”. Formou-se, então, uma coalizão entre heteus, amorreus, cananeus, ferezeus,
heveus e jebuseus para lutar contra Israel. Não sabiam aqueles reis que à frente de Israel
estava o príncipe do exercito do Senhor (Js 5.14). Nada nem ninguém, pois, poderia se
suster diante de Josué. O G6 (grupo dos seis) começaria atacando a cidade de Jibeão,
cujos moradores vão se aliar à nação santa. Ali aconteceu o primeiro e decisivo
confronto (ver Js 10.6-14).

2. O respeito pelo nome de Josué. O Senhor, como havia prometido a Josué,


engrandeceu-o diante de todo o povo de Israel (Js 3.7; 4.14), e isso fez de tal forma que
o temor dele caiu até sobre seus inimigos. A promessa de Deus era: “Assim como fui co
Moisés, assim serei contigo”. De posse dessa promessa, Josué transformou-se num
excelente estrategista de guerra (Js 8.3-22). Os reis de Canaã nunca tinham conhecido
estratégias tão eficientes, embora excêntricas, como a que Josué usara em Jericó. Viram
a forma espetacular como o grande líder se insurgiu contra os habitantes da cidade de
Ai. E o mais interessante: ouviram sobre a devoção de Josué a um Deus grande, capaz
de abrir o Jordão, ou antes, o mar Vermelho ao meio para fazer passar o seu povo. Por
tudo isso, o temor caiu sobremodo sobre aquele povo. É obvio que o respeito a Josué
devia-se ao fato de o Senhor Deus estar à sua frente, operando grandes sinais por meio
dele. Aliás, é pertinente perceber o sentimento dos cananeus nas palavras de Raabe.

Bem sei que o Senhor vos deu esta terra e que o pavor de vós caiu sobre nós, e que
todos os moradores da terra estão desmaiado diante de vós. Porquanto temos ouvido que
o Senhor secou as águas do mar Vermelho diante de vós quando saíeis do Egito, e o que
fizestes aos dois reis dos amorreus, a Seon e a Ogue, que estavam dalém do Jordão, os
quais destruístes. Ouvindo isso desmaiou o nosso coração, e em ninguém mais há ânimo
algum, por causa da vossa presença; porque o Senhor vosso Deus é Deus em cima nos
céus e embaixo na terra (Js 2.9-11).

Os anos de dedicação ao Senhor e a Moisés contribuíram muito para conferir honra e


respeito ao bom nome de Josué. Aliás, respeito e honra não é algo que se impõe, mas
algo que se conquista. A fé do servo de Moisés em Deus fê-lo tornar-se um líder de
grande projeção para todo o povo (Js 1.16-18). Vale aqui transcrever o comentário do
pastor Elienai Cabral sobre o bom nome de Josué.

O grande sábio Salomão declarou que mais “digno de ser escolhido é o bom nome do
que as muitas riquezas; e a graça é melhor do que a riqueza e o ouro”(Pv 22.1). Josué
tinha um bom nome que se destacou pela fidelidade a Deus e a Moisés. Quando ele e
Calebe deram seu relatório diferente dos demais, enfrentaram resistência. Eles tentaram
convencer a Israel de que deveriam entrar na terra prometida, mas ninguém deu muita
atenção ao seu relatório. Eles ainda não tinham construído um nome que influenciasse
suficientemente o povo para decidir entrar na terra. Aquele povo temia o futuro e
estavam acomodados com as coisas do presente. Porém os anos se passaram e Josué
conquistou o seu espaço de liderança, porque era um homem temente a Deus; era
correto nas suas atitudes e procurou viver de acordo com um padrão que o tornou
conhecido e influente. Ele ganhou bom nome porque sabia obedecer a Deus, sendo
servo, guerreiro e líder do povo. Diante do desafio do Jordão, por sua liderança
convenceu o povo de que Deus estava com ele e lhe daria vitória. Seu caráter era um
referencial. Ele valorizava o que era certo, mesmo que, politicamente, não agradasse a
todos. Essa postura tornou-se conhecida entre todos e tornou-se uma imagem positiva
de influência. Por isso seu nome ganhou respeito, não só entre o seu povo, mas
expandiu-se entre as nações (CABRAL, Elienai. Josué: um líder que fez a diferença.
Rio de Janeiro: CPAD, 2009, p 94).

III - O ARDIL DOS GIBEONITAS (9.315)

1. O perigo da astúcia do inimigo

Os gibeonitas eram heveus habitantes de Gibeom (Js 9.7), cidade governada por um
concílio de anciãos (Js 9.11). Dados históricos mostram que os heveus eram um povo
ardiloso e conhecido pelas armadilhas que preparavam para os seus inimigos. Aliás, era
comum povos antigos e beligerantes apelarem para a astúcia, quando a força não era
suficiente para vencer um exército inimigo. O povo de Gibeom soube das espetaculares
vitórias de Josué contra Ai e Jericó. Ainda mais assustados estavam pelo fato de que
fenômenos sobrenaturais acompanhavam as batalhas, prova da presença de um Deus
terrível entre eles. Pelos cálculos que fizeram, não tinham nenhuma chance de subjugar
os israelitas. Sabiam que seriam mortos com seus filhos e mulheres, pois a ordem de
Deus era clara: deveriam ser banidos da terra prometida (Dt 7.1-6). Concluíram, então,
que o único meio de se salvarem era forçar a nação eleita a fazer um pacto de não
agressão com eles. Para isso aproveitariam a empolgação dos filhos de Israel com a
recente vitória sobre Ai. Estes ainda comemoravam. Quem sabe haviam se estribado por
um momento na própria destreza, esquecendo que à frente daquela batalha estivera o
anjo do Senhor para guerrear e orientá-los, como foi feito contra Jericó. O gibeonitas
então entenderam que era hora de agir. Agir rápido, pois Israel estava sob forte emoção.
E a razão diz que decidir sob forte emoção é extremamente arriscado.

Pode-se, em plena guerra, subestimar os ardis do inimigo? Paulo, falando de nosso


arquiinimigo, salientou que nós não ignoramos os seus ardis (2 Co 2.11). Por isso, o
mesmo apóstolo nos adverte a que vigiemos e oremos em todo o tempo (Ef 618). Mas
Israel descuidou-se. E pagou um preço alto por isso.

Os homens vão nos surpreendem sempre, às vezes por sua força, às vezes por sua
fraqueza, ora por sua sagacidade, ora por sua ingenuidade. Ao ler sobre este fato fico me
perguntando como foi possível o grande líder Josué precipitar-se tão ingenuamente em
um acordo com seus inimigos, incorrendo em três erros, no mínimo primários para um
grande líder.

a) A tentação das palavras lisonjeiras. Note que os gibeonitas se apresentaram a Josué


dizendo “nós somos os teus servos” (9.8). Quando instados por Josué a dizerem quem
realmente eram, eles continuaram: “Teus servos vieram de uma terra bem distante por
causa do nome do Senhor, teu Deus; porquanto ouvimos a sua fama e tudo quanto fez
no Egito; e tudo quanto fez aos dois reis dos amorreus que estavam dalém do Jordão…”
(9.9,10). É inescapável o apelo que fizeram ao orgulho dos filhos de Israel,
apresentando como motivo de sua vinda os extraordinários feitos do Senhor, o de que
Israel mais se “orgulhava”. Parafraseando os gibeonitas: “Rapaz, que Deus tremendo é
esse vosso. A gente acompanha a notícia de seus feitos desde o mar Vermelho,
passando pelas suas proezas no deserto. Ouvimos de como Ele abriu o rio Jordão e
venceu os reis de Jericó e de Ai! Nós não víamos a hora de nos encontrarmos convosco
e fazer parte do vosso povo tão especial, e servir a este Deus invencível”. Funcionou.
Faltou a Josué a clarividência de Paulo, para entender que nem todos que falam bem de
nós são dos nossos (ver At 16.17,18). Na verdade, não era devoção, admiração ou temor
ao Senhor que motivavam os gibeonitas, mas medo de perder a vida.

b) Agiram sob forte emoção. Haviam saído de uma derrota vergonhosa, por causa do
pecado de Acã, para uma vitória espetacular depois do sacrifício deste. A perda de
alguns homens na guerra contra Ai, acrescida da morte de Acã com toda a sua família,
causou, sem dúvida, grande comoção sobre o povo. Logo em seguida, o Senhor os
lidera numa espetacular vitória sobre Ai. Transitaram brevemente entre um extremo e
outro. Este misto de emoções - luto e júbilo - causa um grande desgaste emocional,
levando a um estado considerável de vulnerabilidade. O ambiente estava propício às
ações ardilosas do inimigo. Em momentos de forte emoção, é perigoso tomar qualquer
decisão sem consultar ao Senhor. E por falar em consultar ao Senhor…

c) Não consultaram ao Senhor. O versículo 14 (cap 9) é taxativo: “Então, aqueles


homens israelitas tomaram de sua provisão e não pediram conselho à boca do Senhor”.
Talvez o tempo que tomassem para a oração seria o suficiente para descobrirem a
trapaça. Mas Josué e os anciãos não oraram. Entraram presunçosamente em um
irrevogável concerto com os gibeonitas. E o fizeram jurando pelo nome do Senhor, o
qual eles nem sequer consultaram (V 18). Que tragédia: esta decisão trouxe para dentro
da comunidade Israelita aqueles que, segundo a ordem de Deus, deveriam ser destruídos
(ver Dt 7).

2. Os ardis ocultam males destruidores (9.3,4). Aqueles homens, aparentemente bem


intencionados, escondiam a sua verdadeira identidade, com o propósito de escaparem de
uma sentença que já havia sido determinada para eles. A medida de suas iniqüidades já
havia enchido (ver Gn 15.15). Deus não os pouparia (ver Dt 7.1-6). Até porque o Eterno
sabia que, se alguns daqueles povos fossem poupados, serviriam como pedra de tropeço
e inspiração de idolatria para Israel. Sem dúvida, eles ponderaram que os israelitas eram
um povo que tinha a justiça e a lealdade em alto conceito, e que serviam a um Deus
justo. Então eles procuraram enredar Israel no seu próprio conceito de justiça e lealdade.
Sabiam, é claro, que logo a sua verdadeira identidade seria descoberta, ” mas”,
cogitaram, “apenas depois de fazermos um pacto com Israel, o qual, seguindo o seu alto
conceito moral, não poderá invalidar”. Notemos, então, que a intenção por trás do ardil
era primeiramente levar a nação santa a desobedecer à ordem de Deus, o que abre as
portas para males destruidores; segundo: enredar Israel no seu próprio conceito de
justiça. Tanto é que, descobrindo Josué que havia sido enganado, apesar da indignação
do povo, nada pôde fazer contra os gibeonitas, pois os anciãos de Israel já haviam feito
aliança com eles, havendo jurado em nome do Senhor. Seria cômico se não fosse
trágico: mais tarde Israel se sentiu na obrigação de defender numa guerra aqueles a
quem receberam ordens claras de Deus para destruir (Js 10.6-11). Por muitos anos
depois, Israel ainda sofreria as conseqüências de sua decisão inconseqüente, pois, em
muitas ocasiões, os heveus causaram grandes angústias aos filhos de Abraão (Jz 3.1-3; 2
Sm 21. 1, 2).

3. A estratégia dolosa dos gibeonitas. Agir com dolo é planejar, deliberadamente, cada
etapa do próprio ato criminoso. Os gibeonitas foram precisos. O primeiro passo de sua
estratégia era fazer Josué acreditar que eles eram moradores de uma terra distante. Se
errassem aqui, estariam perdidos. A Bíblia mostra com detalhes a maneira ardilosa e
“inteligente” como teceram a rede que enlearia Israel. “Tomaram sacos velhos sobre os
seus jumentos e odres de vinho velhos, e rotos, e remendados; e nos pés sapatos velhos
e remendados e vestes velhas sobre si; e todo o pão que traziam para o caminho era seco
e bolorento” (Js 9.4,5). Em seguida, fizeram a nação santa acreditar que eles estavam
encantados com o Deus de Israel. Foi uma conjugação de aparência e lisonja.

Tomemos cuidado! Os nossos inimigos sabem tecer suas redes. Lembra a arapuca que
Balaão armou para os filhos de Israel? (ver Nm 22.5-24.25; Dt 23.4; Jd 11). E o que
armaram para Daniel na Babilônia? (ver Dn 6). Para encerrar, veja a armadilha que
Semaías perpetrou para Neemias (Ne 6.10-13). Estes dois últimos escaparam porque
não se deixaram levar pela falsa aparência das coisas, pois buscavam sempre a
orientação de Deus.

4. O perigo da convivência com o engano. Pior do que ser enganado uma vez é a
sensação de estar habitando nos meio de enganadores. O salmista Davi já dizia: “Livra-
nos, Senhor, porque faltam os homens benignos; porque são poucos os fiéis entre os
filhos dos homens. Cada um fala com falsidade ao seu próximo: falam com lábios
lisonjeiros e coração dobrado” (Sl 12.1,2). Veja a preocupação de Paulo com o perigo
do engano: “…em perigo dos da minha nação, em perigo dos gentios… em perigo entre
os falsos irmãos (2 Co 11.26). Depois de haver feito um pacto com os gibeonitas, Israel
foi forçado a conviver com eles. Isso não era nada confortável. Já experimentou
conviver com alguém em quem você não confia pelo fato de já ter sido enganado por
ele? Pois é, o fermento já havia sido lançado no meio da massa. E o apóstolo Paulo
disse que “um pouco de fermento faz levedar toda a massa” (1 Co 5.6). Israel teria que
carregar aquele fardo por longos anos. Para nós, que somos os destinatários de tudo
quanto foi escrito, o que é para o nosso ensino (Rm 15.4), fica o conselho do apóstolo:
“Não durmamos, pois, como os demais [ os israelitas?], mas vigiemos e sejamos
sóbrios” (1 Ts 5.6).

IV - A FARSA DESCOBERTA (9.16-22)

1. Israel descobre o erro cometido. Ao cabo de três dias, a verdade sobre os gibeonitas
veio à superfície. Aqueles “moradores de terra longínqua” eram, na verdade, vizinhos
de Gilgal, das cidades de Gibeom, Cefira, Beerote e Quiriate-Jearim. Sinceramente
acredito que os gibeonitas não se surpreenderam com a rapidez com que Israel
descobriu a farsa, já esperavam por isso. Como já dissemos algures, eles queriam
apenas forçar um pacto de não agressão, o qual, por uma questão de fidelidade, a nação
santa dificilmente quebraria.

É notável aqui a indignação do povo. Havia murmurações e, provavelmente,


questionamentos: como puderam os príncipes de Israel cometer um erro primário e tão
infantil como este? A história sempre se repete porque o homem ainda é o mesmo.
Ainda hoje somos surpreendidos por grandes líderes tomando atitudes infantis e
tresloucadas no seio de muitas igrejas. Tantas vezes nos deparamos com situações em
que a congregação está estupefata diante de decisões que se mostraram danosas. E, se os
crentes se mostram surpresos, é porque nunca esperavam tal comportamento de um líder
que pautou toda a sua vida em um relacionamento estreito com Deus e que nunca havia
descuidado de buscar as orientações divinas.

2. Josué teve de honrar o acordo com os enganadores. Segundo um ditado popular,


um erro não concerta o outro. Apesar de agora saber que os gibeonitas o haviam
enganado, Josué não podia invalidar o acordo que fizera com eles em nome do Senhor.
Seria agravar ainda mais a situação. Então, apesar da pressão do povo, os príncipes de
Israel se mantiveram firmes e leais ao concerto que haviam feito. “Estão todos os
príncipes disseram à congregação: Nós juramos-lhes em nome do Senhor, Deus de
Israel; pelo que não podemos tocar-lhes” (Js 9.19). Eugene Merrill faz uma observação
que vale a pena reproduzir.

É claro que os gibeonitas eram alvo do herem [anátema], juntamente com os demais
cananeus, e por isso deveriam ser destruídos (Dt 20.16,17). Em vez disso, despercebido
como estava Josué, o pacto teve que vigorar e os gibeonitas com seus amigos heveus de
Quefira (Tel Kefireh), Beerote (Nebi Samwil?) e Quiriate-jearim (Qiryat Ye’arim)
conseguiram sobreviver, e todas as vilas que ficaram nos oitos quilômetros de Gibeão
foram permitidas viver (Merrill, E. H. História de Israel no Antigo Testamento. Rio de
Janeiro: CPAD, 2001, pp. 112-3. In CABRAL, Elienai. Lições bíblicas - livro de Josué:
as conquistas e as promessas do povo de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 4º trim de 2008,
p. 61).

Nós vemos a responsabilidade dessa aliança pesar nos ombros de Israel até nos dias de
Saul e Davi (2 Sm 21. 1-9). Analise esses versículos com cuidado e veja a seriedade do
juramento feito em nome do Senhor.

Depois do erro cometido, a melhor atitude é reconhecê-lo, assumi-lo e procurar


amenizar as conseqüências dele. Foi o que fizeram humildemente Josué e os príncipes
de Israel. Pouparam os gibeonitas da morte, imposta a seguinte condição: seriam
rachadores de lenha e tiradores de água para toda a congregação e para o altar do
Senhor. Começaram a viver uma situação análoga à escravidão, de qualquer maneira,
uma condição melhor que a morte.

3. Os gibeonitas atuais na igreja. Sendo a igreja de Cristo o novo Israel de Deus e


militando para tomar posse da cidade que lhe fora prometida, ainda hoje é alvo de ardis
perpetrados pelos gibeonitas atuais, cuja roupagem pode não ser rota e cujo pão pode
não ser velho, mas continuam vindo disfarçados para enganar o povo de Deus. Paulo
avisara a Timóteo que, nos últimos tempos, espíritos enganadores se introduzirão na
igreja e semearão doutrinas destruidoras (ver 1 Tm 4.1). É preocupante o que estamos
vendo nos dias atuais, muitos líderes e pregadores comprometidos consigo mesmos,
desviando o povo de Deus da verdade do evangelho por suas mentiras e operação do
erro. É a época do vale tudo pelo sucesso. E, no afã de atingirem seus objetivos, muitos
desprezam a exegese bíblica e usam e abusam de seu antônimo, a eisegese, introduzindo
nas santas Escrituras aquilo que ela nunca disse, a fim de atingirem seus propósitos. A
igreja de Cristo, como nunca, precisa estar atenta. Vale reproduzir aqui o comentário do
pastor Elienai Cabral sobre esses falsos mestres.
De vez em quando nos deparamos com os disfarces de algumas pessoas que se dizem
pastores, pregadores e líderes, os quais trazem para dentro da igreja os seus costumes
mundanos. São pessoas que fingem ser possuidores de unção especial, que ostenta uma
falsa espiritualidade e acabam por contaminarem o povo de Deus (Tt 1.16). A mistura
no seio do povo de Deus, como fermento na massa, sempre será maléfica (1 Co 5.5-7).
Essa mistura do verdadeiros com o falsos irmãos é perniciosa (2 Co 11.26). No
ministério cristão aparecem os lobos cruéis vestidos de ovelhas (At 20.29) e “obreiros
fraudulentos” (2 Co 11.13). Esses “rachadores de lenha” não fazem o trabalho por amor,
mas porque não podem fazer outra coisa, por isso, podem ser aqueles que procuram
“rachar” (dividir) o Corpo de Cristo, produzindo dissensões e divisões (CABRAL,
Elienai. Josué: um líder que fez a diferença. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, p 98).

CONCLUSÃO

A Bíblia diz que tudo quanto foi escrito, para o nosso ensino foi escrito (Rm 15.4). Os
tempos mudaram. Mas o novo Israel de Deus ainda luta para conquistar a terra
prometida (Gl 5.16; Hb 11.14-16). E os gibeonitas ainda estão aí, vestindo outras veste,
é claro, usando outros artifícios, porém com o mesmo objetivo: enredar o povo de Deus.
Devemos estar, pois, atentos, buscando sempre a orientação de Senhor para que não
incorramos no mesmo erro em que Josué e os anciãos de Israel incorreram. Satanás,
nosso adversário, está ao nosso derredor, bramando como leão procurando a quem
possa tragar (1 Pe 5.8). Sejamos sóbrios e vigiemos

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