Você está na página 1de 11
Reflexdes do Poeta n’Os Lusiadas oz critica da sua consciénc! e da sua emocao que, como os bons classicos de Roma e Grécia interrompe o tom épico Lamento e queixume Palavras de feigo didactica, de quem sente amargamente moral a ingratidao e severamente critica ‘ou os desconcertos do mundo © Poeta tece consideragées e critica a sociedade do seu tempo. -fragilidade da vida humana, face aos grandes perigos enfrentados no mar e na terra (I, 105-106) -desprezo a que as Artes @ as Letras sdo frequentemente votadas pelos portugueses (V, 92-100) -valor das glérias e das honras, quando obtidas por mérito proprio; os modos de atingir a imortalidade, através dos valores elevados e genuinos (VI, 95-99; IX, 92-95) -magoa causada pela ingratiddo da sociedade (VII, 78-93) critica ao materialismo, que corrompe (Vill, 96-99) -decadéncia da patria; a “austera, apagada e vil tristeza” (X, 145) ~pedidos de inspiragao, ndo s6 as Tagides, mas também a Caliope - dedicatérias e exortagdes ao Rei D. Sebastiao Reflexd4o sobre a fragilidade humana ou os limites da condi¢ao humana (Canto |, 105-106) Os perigos que espreitam o ser humano (0 herdi), tao pequeno diante das forgas poderosas da natureza (tempestades, o mar, o vento...), do poder da guerra e dos traigoeiros enganos dos inimigos. Camées interroga-se sobre a possibilidade de um "bicho tao pequeno” encontrar um porto de abrigo sem atentar contra a ira divina. Terrivel => inseguranga e fragilidade WET mCi cette tn a i — Exaltacio Gu Ret eas) Critica ao desprezo das artes (Canto V, 92-100) poeta sente vergonha pelo facto de a nagao portuguesa nao ter capitdes letrados, pois quem nao sabe arte também nao a pode apreciar. Aqueles, apesar de serem de terra de herdis, nao reconhecem o valor da arte. Por isso, s60 patriotismo eo MEE puro goston motivam © poeta. ADVERTENCIAS: . Se a nag&o portuguesa prosseguir no costume da ignorancia néo teremos homens ilustres nem corajosos. . © embrutecimento dos espiritos desmotivara futuros cantores dos feitos portugueses. a Reflexdo sobre a Fama e a Gloria (Canto VI, 95-99) © homem sera capaz de triunfar se desprezar as “honras e dinheiro” e vencer os “apetites” pelas quais a fortuna o domina, subtraindo-lhe a vontade. Obstaculos a fama e gloria (imortalidade): Viver a sombra da gléria dos antepassados (w..5-6, est.95) Os luxos e requintes supérfluos (w.7-8, est.95) Os manjares, os passeios, os apetites (est. 96) Melos/Actos para atingi-ta: A busca esforcada (vwv.1-2, est.97) A disponibilidade para a guerra (v.3, est. 97) As navegagées arduas por regides indspitas, a custa de sofrimento (wv.3-8, est. 97) A vit6ria sobre as limitagdes pessoais (vv.1-4, est.98) ADVERTENCIAS: . 86 a honra e a gléria alcangadas por mérito préprio poderdo ser valorizadas. . A virtude @ a honra como os inicos meios de aquisigso da experiéncia ¢ do, conhecimente ~ Ideal Renascentista A magoa causada pela ingratidao da sociedade (Canto VII, 78-87) © poeta queixa-se da ingratidao de que é vitima. Ele, que sonhava com a coroa de louros dos poetas, vé-se votado ao esquecimento e a sorte mais mesquinha, ndo Ihe reconhecendo, os que detém o poder, o servigo que presta a Patria. Esta reflexdo pretende ser uma Intervengao pedagégles: 0 poeta canta e louva os Portugueses, embora os censure e acuse de ignorancia e de desprezo pela cultura, alertando-os para os perigos resultantes do menosprezo da cultura. Mais do que a injustica sentida, © poeta lamenta sobretudo a indiferenca e a insensibilidade daqueles que nao do valor ao reconhecimento que Ihes é feito n’Os Lusfadas. Critica ao exercicio do poder (Canto VII, 84-86) ADVERTENCIAS .O homem deve exercer correctamente o poder em defesa do bem comum e das leis divinas e humanas. Critica ao materialismo e ao poder do ouro (Canto VIII, 96-99) Camées faz uma severa critica ao poder corruptor do dinheiro e do «ouro». =) ADVERTENCIAS /CRITICAS . Condenagao do efeito corruptor da riqueza facil, que tanto sujeita os ricos, como os pobres. Aspiragao a imortalidade (Canto IX, 90-95) Num tom de magistério, 0 poeta incita os Homens a alcangarem a verdadeira gloria ea fama, que ndo se conseguem pela cobiga, ambigo ou tirania; mas pela justica, coragem é heroismo desinteressado. Estas estrofes dao continuidade a reflexao do Canto VI, 95-99. ADVERTENCIAS O caminho da virtude como meio para alcancar a imortalidade / RECOMPENSAS MORAIS - 0 “verdadeiro valor” LamentagGes do poeta (Canto X, 145-146) © poeta recusa continuar a cantar por considerar que canta para “gente surda e endurecida’, ou seja, gente que ndo tem capacidade para apreciar a exceléncia do seu canto épico: “N6 mais, Musa, né mais, que a Lira tenho / Destemperada e a voz enrouquecida,” (w.1-2, est.145) “No gosto da cobiga e na rudeza / Dua austera, apagada e vil tristeza,” (w.7-8, est.145) Atripla adjectivagao, na sua posigdo pré-nominal, destaca e reforga as caracteristicas da tristeza, atribuindo-lhe um valor subjectivo. Camées refere-se ao comportamento gereneralizado das hierarquias que detinham o poder em Portugal e que faziam do povo portugués um povo austero, apagado e inerte. ‘Tristeza: Austera = severa / Apagada = inerte / Vil = imoral Camées nao entende o motivo pelo qual a patria nao sente orgulho, nem reconhece o valor dos seus filhos mais ilustres e letrados e, por isso, dirige-se a D. Sebastiao, lembrando-Ihe que tem ao seu servico “vassalos excelentes”. 10 Luis, 0 poeta, salva a nado o poema Era uma vez um portugués de Portugal O nome Luis ha-de bastar; toda a nacao ouviu falar. Estala a guerra e Portugal chama Luis para embarcar. Na guerra andou a guerrear e perde um olho por Portugal, Livre da morte, pés-se a contar 0 que sabia de Portugal Dias e dias, grande pensar, juntou Luis a recordar. Ficou um livro, ao terminar, muito importante para estudar. la num barco, ia no mar e a tormenta va d’ estalar. Mais do que a vida hé-de guardar, 0 barco a pique, Luis a nadar. Fora da agua, um brago no ar, na mao 0 livro ha-de salvar. Nada que nada, sempre a nadar, livro perdido no alto mar. "Mar ignorante, que queres roubar: a minha vida ou este cantar? A vida 6 minha, ta posso dar, mas este livro ha-de ficar. Estas palavras hdo-de durar, por minha vida quero jurar. Tira-me as forgas, podes matar, a minha alma sabe voar. Sou portugués, de Portugal, depois de morto ndo vou mudar. Sou portugués, de Portugal, acaba a vida e sigo igual. (..) O livro é este, é este o cantar - assim se pensa em Portugal. Depois de pronto, faltava dar a minha vida para o salvar." 1“ ‘Almada Negreiros (Madrid, 1931)

Você também pode gostar