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A Verdade Sobre os "Protocolos dos Sábios do Sião"

Coletânea organizada por eBooksBrasil

A Verdade sobre os Protocolos dos Sábios de Sião


RUI JUNG NETO
rujung@sispro.com.br
© 2000 Rui Jung Neto

Quem foi Gustavo Barroso?


Fonte Digital:
ABL
www.academia.org
Copyright: Domínio Público

Parecer do MP/RS em apelação de


Sentença Absolutória Proferida em
Crime de Racismo Contra o Povo Judeu
Carlos Otaviano Brenner de Moraes
Documento Público
Fonte Digital:
http://jus.com.br/pecas/racismo.html
ÍNDICE
Introdução

A Verdade sobre os Protocolos dos Sábios de Sião

Quem Foi Gustavo Barroso?

PARECER DO MP/RS EM APELAÇÃO DE


SENTENÇA ABSOLUTÓRIA PROFERIDA EM CRIME
DE RACISMO CONTRA O POVO JUDEU (LEI
7716/89)
INTRODUÇÃO
Idéias se Combatem com Idéias.
Mentiras se Combatem com
Verdades.
Alguém, com o nickname de Ka'aba, fato que causou
indignação entre adeptos do Islã, editou e colocou na Rocket-
Library.com o título Os Protocolos dos Sábios do Sião.
Na eBooksBrasil, que pretende reunir em uma eBiblioteca
Pública os eBooks disponíveis em RocketEditions em
português, colocamos o link para a edição e enviamos um e-
mail de boas-vindas ao editor. Sem censuras, respeitando
todas as manifestações de pensamento, mesmo as que
abominamos, como é a Política da Casa.
Porém recebemos diversos e-mails condenando a
publicação e o link. No site depositário da edição, a Rocket-
Library, Jeff Foster, destacado membro da comunidade,
postou um comentário, do qual transcrevo apenas a parte que
motivou a edição desta RocketEdition:
“Very few people in the West still find it credible, but
it still gets a lot of circulation by demagogues in the
less-educated parts of the Muslim world, Asia, Africa
and Latin America. (..) If the keepers of the
RocketBook Library are going to practice censorship,
here is a good place to start.”*
Sem entrar no mérito dos juízos de valor emitidos sobre os
"menos educados", apenas lembramos, ao ler o comentário,
que o site do editor está hospedado nos EE.UU. em um site
em francês [http://www.multimania.com/kaaba/], idioma de
país reputado como "do primeiro mundo", que já deu ao
mundo o Caso Dreyfus...mas também Zola, Pétain...mas
também a Resistência.
Pessoalmente, há muito tempo atrás, li e desgostei deste
livrinho. Como li e lamentei que não tivessem levado a sério,
quando foi publicado, o Mein Kampf. Mas abomino mais do
que essas idéias a de censura. Para que haja censura, é
necessário que haja um censor, ou corpo de censores, que se
arroguem, ou a quem seja dado, o poder de substituir meu
bom senso e minha livre análise dos livros.
Houve época em que um título para ser publicado exigia
um Imprimatur e um Nihil Obstat. E a penalidade era a
fogueira. Houve um tempo em que um Privilégio Real era
buscado. E, aqui mesmo, nessa terrinha descoberta por
Cabral, tivemos nossos DIPs e SNIs, com Censores Federais
(além dos estaduais e municipais não empossados) vendo e
lendo o que diziam, depois, que nós não poderíamos ver nem
ler.
Os Protocolos dos Sábios do Sião, ePublicados por quem
receia, penso eu, publicá-los (não retornou meu e-mail, nem
assina seu nome), pode ser encontrado na web em diversos
sites e em diversas línguas. Uma Editora, cujo responsável
respondeu a processo por racismo, ao defender o que chama
de "Revisão", pode ser encontrada na web
[http://www.revision.com.br], com todos os livros que
pregam idéias autoritárias, racistas, nazistas, stalinistas,
peronistas, castristas...até bonarpistas. Gustavo Barroso e
Plinio Salgado? Claro! (Encontrei até o raríssimo A História
Secreta do Brasil, de Gustavo Barroso, que só localizei,
quando precisei dela para minha tese, na Biblioteca da
Faculdade de Direito do Largo de São Francisco). O site tem
o domínio .com.br – e, se for proibido por aqui, bastará que
passe a ter um .com.fr, ou qualquer outro. E não tenho nada
contra o fato de estar na web, pelo contrário.
Há nele um erro (e grave!) para o qual alerto: O título "Os
Protocolos dos Sábios do Sião" é atribuído, na coluna Autor,
a Gustavo Barroso... Erro que não comete sozinho: a biografia
da Gustavo Barroso disponível no site da A.B.L. e
reproduzida aqui também o comete*.
Na edição colocada na Rocket-Library, o nome de Gustavo
Barroso, aliado ao fato de ter sido presidente da A.B.L.,
também é utilizado para dar maior credibilidade ao livro.
(Para que o leitor possa conferir facilmente o que a A.B.L.
tem a dizer sobre ele, reproduzimos aqui sua biografia
disponível lá.)*
E onde fica a verdade? Boa pergunta.
Gustavo Barroso de fato foi presidente da A.B.L. e um
ardoroso pesquisador da História Brasileira. Sua História
Secreta do Brasil, com capítulos publicados na antiga revista
"O Cruzeiro", é rica em documentos, tanto quanto em
comentários que julgo equivocados, pois é verdade também
que o autor foi fascinado pelas idéias autoritárias de então. No
que, também é verdade, foi secundado por muitos outros
patrícios aos quais a vida deu tempo de se redimirem, como
Miguel Reale, Tristão de Athayde, Gofredo da Silva Telles e
muitos mais.
Não foram poucos também os que defenderam Stalin e o
stalinismo, como Janer Cristaldo aponta em Engenheiros de
Almas, obra que também está nas estantes da eBooksBrasil.
As idéias que defendiam, de um e de outro lado,
morreram? Não. Muitos dos que as defendiam não estão mais
entre nós, mas outros as defendem hoje...e não só no Brasil e
na América Latina. Na América Latina, temos nosso
Fujimori, eleito duas vezes em eleições supostamente livres, e
a Europa tem a Áustria e seu governo, eleito em eleição não
contestada.
Se essas idéias e os que as defendem existem no mundo
real, por que estranhar que se façam representar também no
mundo virtual? Ou alguém acredita, realmente, que fazendo-
as silenciar, tais idéias desapareçam?
Eu não. Quero mais que venham à luz do dia, se
explicitem, para que todos vejam um dia quão falsas eram e
como ridículos foram os que nelas acreditaram.
Como, um dia, também assim julgarão aos que gostariam,
hoje, de colocar peias à internet e às novas tecnologias,
controlá-las, taxá-las, para manterem seus controles e/ou
privilégios. Isso, claro, se eles não vencerem e conseguirem o
que intentam...
Tenho mais é que, aqui, publicamente, agradecer ao que
contribuiu com o polêmico título à Rocket-Library.com, por
ter permitido um teste de liberdade de pensamento à
eBooksBrasil, eBiblioteca Pública.
Nela o link ficará...e, se porventura for retirada da Rocket-
Library.com, sinta-se o eEditor à vontade para colocar seu
título direto na eBooksBrasil ou em seu site, se preferir, com
link também na eBooksBrasil. Nós só o retiraremos a pedido
do próprio editor, nunca por solicitação de quem quer
liberdade para o seu pensamento, mas não para o dos
outros...por mais equivocados que sejam estes pensamentos
(como pessoalmente acho que é o caso).
O respeito à liberdade de expressão não nos impede,
contudo, pelo que se vê, da crítica e do exercício de nossa
própria liberdade de expressão. Esta coletânea foi editada
para que os leitores que prestigiam a eBooksBrasil com seus
downloads possam ter mais informações para formar seu
próprio julgamento.
Aproveito para expressar meu agradecimento público a
Rui Jung Neto, autor do texto que dá título à edição, por ter
autorizado sua reprodução.
Teotonio Simões
livros@eBooksBrasil.com
A VERDADE SOBRE
"OS PROTOCOLOS DOS
SÁBIOS DO SIÃO"
A FALSA CONSPIRAÇÃO DO
JUDAÍSMO E DA
MAÇONARIA
RUI JUNG NETO

Em uma fraternal conversa após um ágape (jantar entre


Irmãos), um Irmão comentou sobre o Livro "Os Protocolos
dos Sábios do Sião", perguntando se algum de nós já o havia
lido. Ao responder, declarei que não e que não o leria por
sabê-lo uma "bobagem" sem fundamento. Sei que os queridos
Irmãos compreenderam minha observação de forma não
agressiva mas, para não ficarem com a impressão de que meu
comentário era do tipo "não li e não gostei", resolvi escrever
esta Peça de Arquitetura.
Ao contrário do que muitos Irmãos e profanos (não
maçons) pensam, os Protocolos foi originalmente publicado
em 1905 por um russo chamado Sergei A. Nilus.
Esta triste obra, que não passava de um apêndice de um
livro anterior do mesmo autor, seria por ele reeditado sempre
em russo entre 1911 e 1919. Em 1919, um alemão sob o
pseudônimo Gottfried zur Beck, patrocinado pela nobreza
alemã, traduziu-o, acrescentou vários comentários e notas e
publicou somente o apêndice, como um alerta aos príncipes
europeus contra a conspiração Sionista que ameaçava os
Tronos e as Igrejas Cristãs. Desta versão em alemão foram
traduzidas outras para o Inglês, Espanhol, Francês, Português,
etc., espalhando-se pelo mundo.
Naquela época a Europa era palco de grande agitação
política e religiosa que levou à Primeira Guerra Mundial, a
Revolução Bolchevique e a deposição de várias famílias
nobres, principalmente na Europa Central, a mais atrasada.
Os judeus eram então vistos como uma séria ameaça por
seu poder econômico, cultura, idéias que pregavam (Marx,
etc.) e pelo fato de não seguirem o Cristianismo.
A Maçonaria, liberal e democrática, pregando a
fraternidade entre os homens, assustava aos déspotas e
fanáticos religiosos e políticos de todas as correntes.
Não poderia haver caldo de cultura melhor para que
originalmente Nilus, um agente da polícia secreta do Czar, e
mais tarde para todos os interessados em atacar os judeus e a
Maçonaria, divulgassem um livro que os atacava e
comprometia, assustando a população e os governantes menos
informados.
Infelizmente, nas décadas de 30 e 40, auge do nazismo e
do fascismo, este livreco voltaria a ser reeditado, sendo
inclusive utilizado por Hitler na sua tristemente célebre obra
Minha Luta.
Estas versões e reedições realimentaram o ódio aos judeus,
apresentados como conspiradores contra a sociedade cristã,
justificando todas as perseguições e represálias. A Maçonaria
também era perseguida por ser apontada como um
instrumento de infiltração e dominação do judaísmo.
Curiosamente, os Protocolos originais de Sergei A. Nilus
não mencionava a Maçonaria mas sim, vagamente, as
Sociedades Secretas. A Maçonaria passou a ser citada ao
longo das traduções, adaptações e enxertos na simplória obra
do policial russo.
Mas qual a verdadeira origem dos Protocolos ?
O autor, Nilus, afirma ser uma transcrição da reunião
secreta realizada pelo Movimento Sionista na Basiléia, Suíça,
em 1897. Seu propósito era expor aos judeus ali reunidos um
plano para conquista do mundo. Este plano vazou graças ao
trabalho de um espião do Czar da Rússia, que com risco da
própria vida conseguiu apoderar-se de uma cópia (parece
brincadeira mas é esta a estória contada pelo autor).
O irônico é que o Congresso realmente aconteceu, foi
público, acompanhado por jornalistas de diversos países,
reuniu 204 delegados judeus vindos do mundo inteiro,
visando organizar como movimento político o Sionismo, para
"assegurar ao povo judeu um lugar na Palestina, garantido
pelo Direito Público".
Nada tinha portanto de secreto ou conspiratório, a não ser
para quem lutava contra um Estado judeu e contra a
Liberdade.
E o mais curioso é que os Protocolos foram desmascarados
pelo Times em uma reportagem publicada nos dias 16, 17 e
18 de agosto de 1921, que relatava que seu correspondente
em Constantinopla encontrara uma caixa com livros
pertencentes a um antigo oficial da polícia política do Czar.
Entre eles, um volume escrito em Francês, do qual faltavam
as primeiras páginas, que tinha enorme semelhança com os
Protocolos. O livro original fora publicado em 1864 pelo
advogado parisiense Maurice Joly, intitulado Diálogo nos
Infernos entre Maquiavel e Montesquieu, ou A Política de
Maquiavel no Século XIX.
Trata-se de uma crítica ao governo do Imperador Napoleão
III. O russo Nilus simplesmente transformou o diálogo
fictício, mas calcado em irônica crítica às práticas políticas do
II Império Francês, em um monólogo no qual as respostas de
Maquiavel (na verdade ações praticadas pelo imperador)
passam a ser planos para conquista do mundo pelos judeus e
maçons. O plágio é tão evidente que começa de forma abrupta
no texto da página do livro encontrado pelo Times, na qual
faltavam as primeiras folhas, evidência de que o autor copiara
precisamente aquele exemplar incompleto, deixando de fora
as primeiras páginas.
Muito mais poderia ser escrito, inclusive reproduzindo
trechos dos dois livros comparando-os e provando que os
Protocolos são uma cópia mal feita de uma obra escrita para
criticar as falhas de um governo autoritário e que foi utilizada
para acirrar o ódio contra o povo judeu e, por extensão, contra
a Maçonaria identificada como inimiga pelos tiranos e
fanáticos.
Creio no entanto, ter atingido meu objetivo de esclarecer
os fatos e recolocar os Irmãos no caminho da Verdade. Para
aqueles que quiserem buscar mais informações, recomendo
consultarem a bibliografia que utilizei neste texto e que
justifica minha afirmação inicial de que os Protocolos são
uma bobagem, porém perigosa pela divulgação e repercussão
que ainda hoje alcançam.
Nossa Ordem já foi acusada de ter sido criada pela Igreja
Católica, pelos Jesuítas, pelos Judeus, etc. Um dos motivos é
a nítida inspiração no Antigo Testamento: O Templo de
Salomão, a Lenda de Hiram, as Palavras e Sinais, etc. Todas
estas passagens foram agregadas no Século 18, para
embelezar e dar mais simbolismo às nossas cerimônias e
rituais. Assim, são evidências da influência bíblica e não do
domínio judeu (ou da Igreja) na Maçonaria.
Vale recordar que nos Séculos 18 e 19 muitas Lojas não
admitiam judeus por eles não aceitarem a religião Cristã.
Mas, como dizia nosso Irmão Kipling, isto já é outra
história...
RUI JUNG NETO
rujung@sispro.com.br
Bibliografia:
Maçonaria X Satanismo – páginas 119 a 175 – Editora
Maçônica "A TROLHA", 1ª edição, 1995. Autor: Padre
Jesuíta José A Ferrer Benimeli – Professor Catedrático de
História Contemporânea na Universidade de Zaragoza,
Espanha.
O Pe. Benimeli, infelizmente já falecido, foi um grande
pesquisador sobre Maçonaria. Em Português encontramos
ainda: "Maçonaria X Satanismo II" e "Gafes & Mancadas
Maçônicas e Antimaçônicas", este em conjunto com o
também Padre Jesuíta Valério Alberton, um entusiasta
defensor da Maçonaria, ambos da Editora A Trolha.
Quem Foi Gustavo Barroso?

GUSTAVO BARROSO

“Gustavo Barroso (G. Dodt B.), advogado, professor,


político, contista, folclorista, cronista, ensaísta e romancista,
nasceu em Fortaleza, CE, em 29 de dezembro de 1888, e
faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 3 de dezembro de 1959.
Eleito em 8 de março de 1923 para a Cadeira n. 19, na
sucessão de D. Silvério Gomes Pimenta, foi recebido em 7 de
maio de 1923, pelo acadêmico Alberto Faria.
Filho de Antônio Filinto Barroso e de Ana Dodt Barroso.
Fez estudos nos externatos São José, Parthenon Cearense e
Liceu do Ceará. Cursou a Faculdade Livre de Direito do
Ceará, bacharelando-se em 1911 pela Faculdade de Direito do
Rio de Janeiro. Redator do Jornal do Ceará (1908-1909) e do
Jornal do Commercio (1911-1913); professor da Escola de
Menores, da Polícia do Distrito Federal (1910-1912);
secretário da Superintendência da Defesa da Borracha, no Rio
de Janeiro (1913); secretário do Interior e da Justiça do Ceará
(1914); diretor da revista Fon-Fon (a partir de 1916);
deputado federal pelo Ceará (1915 a 1918); secretário da
Delegação Brasileira à Conferência da Paz de Venezuela
(1918-1919); inspetor escolar do Distrito Federal (1919 a
1922); diretor do Museu Histórico Nacional (a partir de
1922); secretário geral da Junta de Juriconsultos Americanos
(1927); representou o Brasil em várias missões diplomáticas,
entre as quais a Comissão Internacional de Monumentos
Históricos (criada pela Liga das Nações) e a Exposição
Comemorativa dos Centenários de Portugal (1940-1941).
Participou do movimento integralista. Embora não
concordasse com o rumo dos acontecimentos a partir de 1937,
manteve-se fiel à doutrina filosófica do integralismo.
Estreou na literatura, aos 23 anos, usando o pseudônimo de
João do Norte, com o livro Terra de sol, ensaio sobre a
natureza e os costumes do sertão cearense. Além dos livros
publicados, sua obra ficou dispersa em jornais e revistas de
Fortaleza e do Rio de Janeiro, para os quais escreveu artigos,
crônicas e contos, além de desenhos e caricaturas. A vasta
obra de Gustavo Barroso, de 128 livros, abrange história,
folclore, ficção, biografias, memórias, política, arqueologia,
museologia, economia, crítica e ensaio, além de dicionário e
poesia. Pseudônimos: João do Norte, Nautilus, Jotanne e
Cláudio França.
Sua atividade na Academia Brasileira de Letras também
foi das mais relevantes. Em 1923, como tesoureiro da
instituição, procedeu à adaptação do prédio do Petit Trianon,
que o Governo francês ofereceu ao Governo brasileiro, para
nele instalar-se a sede da Academia. Exerceu alternadamente
os cargos de tesoureiro, de segundo e primeiro secretário e
secretário-geral, de 1923 a 1959; foi presidente da Academia
em 1932, 1933, 1949 e 1950. Em 9 de janeiro de 1941 foi
designado, juntamente com Afrânio Peixoto e Manuel
Bandeira, para coordenar os estudos e pesquisas relativos ao
folclore brasileiro.
Era membro da Academia Portuguesa da História; da
Academia das Ciências de Lisboa; da Royal Society of
Literature de Londres; da Academia de Belas Artes de
Portugal; da Sociedade dos Arqueólogos de Lisboa; do
Instituto de Coimbra; da Sociedade Numismática da Bélgica,
do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e de vários
Estados; e das Sociedades de Geografia de Lisboa, do Rio de
Janeiro e de Lima.
Obras – CONTOS, CRÔNICAS E NOVELAS
REGIONAIS: Praias e várzeas (1915); Idéias e palavras
(1917); Mosquita muerta (1921); Mula sem cabeça (1922);
Pergaminhos (1922); Alma sertaneja (1923); Mapirunga
(1924); O anel das maravilhas (1924); Livro dos milagres
(1924); O bracelete de safiras (1931); Mulheres de Paris
(1933); Fábulas sertanejas (1948). ROMANCES: Tição do
inferno (1926); A senhora de Pangim (1932); O santo do
brejo (1933), FOLCLORE, CRÍTICA, ERUDIÇÃO E
FILOLOGIA: Terra do sol. Natureza e costumes do Norte
(1912); Casa de marimbondos (1921); Ao som da viola
(1921); O sertão e o mundo (1924); Através dos folclores
(1927); Mythes, contes et legendes des indiens du Brésil
(1930); As colunas do templo (1933).
HISTÓRIA, ENSAIOS E EPISÓDIOS HISTÓRICOS:
Tradições militares (1918); Tratado de Paz (1919); A ronda
dos séculos (1920); Coração da Europa (1922); Uniformes do
Exército (1922); Antes do bolchevismo (1923); En el tiempo
de los Zares (1924); O ramo de oliveira (1925); Almas de
lama e de aço (1928); A guerra do Lopez (1928); A guerra do
Flores (1929); A guerra do Rosas (1929); A guerra de Vidéo
(1930); A guerra de Artigas (1930); O Brasil em face do Prata
(1930); Inscrições primitivas (1930); Aquém da Atlântida
(1931); Brasil – Colônia de banqueiros (1934); História
secreta do Brasil, 3 vols. (1936, 1937 e 1938); A destruição
da Atlântida, 2 vols. (1936); Espírito do século XX (1936);
Os protocolos dos sábios de Sião (1936); Os civilizados
(1937); O livro dos enforcados (1939); O Brasil na lenda e na
cartografia antiga (1941); Portugal – Semente de impérios
(1943); Anais do Museu Histórico nacional, vols. I a V (1943-
1949); História do Palácio Itamarati (1953).
HISTÓRIA REGIONAL E BIOGRAFIAS: Heróis e
bandidos. Os cangaceiros do Nordeste (1917); Osório, o
Centauro dos pampas (1932); Tamandaré, o Nélson brasileiro
(1933); Caxias (1945).
LÍNGUA E DICIONÁRIO: A ortografia oficial (1931);
Pequeno dicionário popular brasileiro (1938).
MEMÓRIAS E VIAGENS: Coração de menino (1939);
Liceu do Ceará (1941); Consulado da China (1941); Seca,
Meca e Olivais de Santarém, descrições e viagens (1947).
POESIA: As sete vozes do espírito (1950).
PENSAMENTO: Luz e pó (1932).
POLÍTICA: O integralismo em marcha (1933); O
integralismo de norte a sul (1934); O quarto império,
integralismo (1935); A palavra e o pensamento integralista
(1935); O que o integralista deve saber (1935); O
integralismo e o mundo (1933); Integralismo e catolicismo
(1937); A maçonaria: seita judaica (1937); Judaísmo,
maçonaria e comunismo (1937); A sinagoga paulista (1937);
Corporativismo, cristianismo e comunismo (1938).”
Fonte: ABL
PARECER DO MP/RS EM
APELAÇÃO DE SENTENÇA
ABSOLUTÓRIA
PROFERIDA EM CRIME DE
RACISMO CONTRA O POVO
JUDEU
(LEI 7716/89)
Elaborado pelo então procurador de Justiça Carlos Otaviano
Brenner de Moraes, hoje corregedor-geral do MP/RS. Este
parecer foi vencedor de três prêmios: Melhor Arrazoado
Forense, concedido pela Associação do Ministério Público do
RGS; Direitos Humanos – Personalidade, pelo Movimento de
Justiça e Homem Comunidade, pela B'nai B'rith do Rio
Grande do Sul.
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL
PROCESSO Nº 695 130 484
APELAÇÃO – PORTO ALEGRE
APELANTES: MAURO JUAREZ NADVORNY E
FEDERAÇÃO ISRAELITA DO RGS
APELADO: SIEGFRIED ELLWANGER
RELATOR: DES. MOACIR DANILO RODRIGUES
PARECER DO MINISTÉRIO PÚBLICO

"Queremos afirmar desde já que não temos a intenção de


incriminar o povo alemão. Se a massa anônima do povo
alemão tivesse aceitado voluntariamente o programa do
Partido Nacional Socialista, não teriam sido necessárias as
SA nem os campos de concentração ou a Gestapo."
Eram dez horas da manhã do dia 20 de novembro de 1945.
Com essas palavras, ressaltando que não pretendia de
qualquer modo atentar contra a raça alemã, para não incorrer
em uma outra e criminosa discriminação racial, o acusador
público americano Robert Jackson instalou solenemente, em
Nuremberg, Alemanha, o Tribunal Militar Internacional que
iria julgar os 23 réus – os sobreviventes da alta cúpula do III
Reich que foram capturados ou se entregaram aos aliados ao
final da Segunda Guerra, o maior conflito da humanidade. As
acusações: conjuração contra a paz, crimes contra a paz,
crimes de guerra e crimes contra a humanidade.
Do recurso
Trata-se de apelação da sentença absolutória proferida em
favor de Siegfried Ellwanger, acusado da prática do crime
previsto no art. 20, caput, da Lei nº 7.716, de 5 de março de
1989, com a redação que lhe foi dada pela Lei nº 8.081/90,
que é a seguinte: "Praticar, induzir ou incitar, pelos meios
de comunicação social ou por publicação de qualquer
natureza, a discriminação ou preconceito de raça, cor,
religião, etnia ou procedência nacional: pena de reclusão
de dois a cinco anos".
O recurso é interposto pelos Assistentes da Acusação,
regularmente admitidos no processado, Sr. Mauro Juarez
Nadvorny e a Federação Israelita do Rio Grande do Sul,
representada pelo Sr. Samuel Burg.
Da imputação
Descansa a imputação no fato de que o apelado, na
qualidade de escritor e sócio dirigente da Revisão Editora
Ltda, com sede em Porto Alegre, de forma reiterada e
sistemática, tem editado e distribuído ao público, mediante
venda, obras de autores nacionais e estrangeiros que
"abordam e sustentam mensagens anti-semitas, racistas e
discriminatórias, procurando incitar e induzir a
discriminação racial, semeando em seus leitores
sentimentos de ódio, desprezo e preconceito contra o povo
de origem judaica" (fl. 2). De acordo com a denúncia, os
livros de sua responsabilidade, em termos de edição,
distribuição e comercialização, são as seguintes: O Judeu
Internacional, de Henry Ford, 2ª reedição, 1989; A História
Secreta do Brasil, de Gustavo Barroso, 1ª reedição, 1990;
Protocolos dos Sábios de Sião, apostilado por Gustavo
Barroso, 4ª reedição, 1989; Brasil Colônia de Banqueiros,
de Gustavo Barroso, 1ª reedição; Hitler – Culpado ou
Inocente, de Sérgio Oliveira, 2ª edição, 1990; Os
Conquistadores do Mundo – Os Verdadeiros Criminosos
de Guerra, de Louis Marschalko, 3ª edição. Obra de sua
autoria, sob o pseudônimo S.E. Castan: Holocausto Judeu ou
Alemão? – Nos Bastidores da Mentira do Século, com mais
de vinte e nove edições. A peça reproduz vários trechos
destas obras que expressam as mensagens anti-semitas,
racistas e discriminatórias imputadas.
Do fundamento absolutório
A absolvição está fundamentada no inc. I do art. 386 do
CPP. "Os textos dos livros publicados não implicam
induzimento ou incitação ao preconceito e discriminação
étnica ao povo judeu. Constituem-se em manifestação de
opinião e relatos sobre fatos históricos contados sob outro
ângulo. Lidos, não terão, como não tiveram, porquanto já
o foram e, por um grande número de pessoas, o condão de
gerar sentimentos discriminatórios ou preconceituosos
contra a comunidade judaica ... As outras manifestações
apresentadas pelas obras, com relação aos judeus, outra
coisa não são, senão simples opinião, no exercício
constitucional da liberdade de expressão" (fls. 861 e 862).
Portanto, sob a ótica da sentença, o réu não obrou com dolo,
suas ações não incitaram nem induziram à discriminação
racial, desprezo ou preconceito contra o povo de origem
judaica e, ao realizá-las, exercia direito constitucional de
opinião.
Das preliminares de nulidade
Argúem os apelantes a nulidade da sentença por falta de
fundamentação e desvio no objeto da causa. Desenvolvem
raciocínio procurando demonstrar que a Dra. Juíza não leu as
obras, residindo aí o porquê da falta de fundamentação. A
Promotoria de Justiça discorda da alegação de desvio e
observa que a fundamentação somente é exigível no caso de
sentença condenatória.

Antes de qualquer outra consideração, é de se registrar que


seria injustificável tivesse sido proferido sentença sem a
prévia leitura das publicações incriminadas. Na oficialidade
do processo, naquilo que de capa-à-capa contém, até a
chegada dos autos a essa Câmara, as publicações realmente
não estavam apensadas, mas isto não exclui a possibilidade de
que a Dra. Juíza tenha lido alguma ou todas as obras. Caso
contrário, o feito teria sido decidido com certa dose de
desdém, com desprezo aos relevantes valores que lhe
subjazem, em uma outra postura discriminatória ou
preconceituosa, que seria grave pela fonte de que emanaria, o
próprio aparelho judiciário, em seu primeiro grau de atuação.

Independentemente disso, porém, vale notar que o devido


processo legal não foi respeitado. Este princípio-garantia
constitucional pressupõe decisões fundamentadas do Poder
Judiciário (1), sob pena de nulidade, e fundamentar significa
o magistrado dar as razões, de fato e de direito, que o
convenceram a decidir a questão daquela maneira. A
fundamentação tem implicação substancial e não meramente
formal, donde é lícito concluir que o juiz deve analisar as
questões postas a seu julgamento, exteriorizando a base
fundamental de sua decisão (2). Em se tratando de processo
penal, mais avulta a inadmissibilidade de motivação implícita,
aliunde ou per relationem. Absolutamente indispensável, na
sentença condenatória, a demonstração da correlação entre o
fato punível e o modelo legal. Na sentença absolutória, não
menos imperiosa a indicação das razões justificativas ou
excludentes da autoria, da criminalidade ou da tipicidade (3).

A afirmação é de Mário Guimarães: "Não se compreende


possa um juiz aplicar a pena a alguém sem dizer por que
motivo o faz. Igualmente, quando absolve, em face de uma
acusação, que é afinal repelida, a sociedade e o próprio
réu precisam saber o que, na verdade, se apurou" (4). E
Heleno Cláudio Fragoso a complementa: "a motivação se
constitui também em garantia para o Estado, já que a este
interessa seja aplicada e corretamente administrada a
justiça" (5).

Daí que, vênia da Dra. Promotora, sua posição é isolada e


insustentável à luz dos princípios reitores do processo penal.
A sentença, como decisão do Poder Judiciário, deve ser
fundamentada, para condenar ou absolver (art. 93, IX, da CF).

E a motivação é de extrema precariedade. Não passa de


um discurso puramente teórico, com frases ou expressões de
efeito, sem o enfrentamento exegético e valoração dos trechos
postos pela denúncia frente à norma incriminadora e ao
sentido protetivo que esta veicula: "Os textos dos livros
publicados não implicam induzimento ou incitação ao
preconceito e discriminação étnica ao povo judeu.
Constituem-se em manifestações de opinião e relatos sobre
fatos históricos contados sob outro ângulo ... Os fatos
históricos, é sabido, não possuem uma só versão.
Interpretá-los ou relatá-los sob ângulo diverso da maioria,
questionando fatos até então não questionados, ainda que
a conclusão seja desfavorável a um determinado povo, não
pode ser considerada conduta criminosa, na forma do art.
20 da Lei 8081/90. A irresignação da comunidade judaica,
com relação as obras do acusado é perfeitamente
compreensível, porquanto é a sua própria história,
sofrendo outra interpretação e avaliação, do que aquela
narrada nos compêndios de História até agora publicados,
dando-lhe a condição de povo sofrido. As outras
manifestações apresentadas pelas obras, com relação aos
judeus, outra coisa não são, senão simples opinião, no
exercício constitucional da liberdade de expressão" (fls.
861/862).

Se substituídos fossem os textos incriminados


reproduzidos pela denúncia, a motivação poderia ser mantida,
tal como está, funcionando como decisão padrão, já que a
eles não se refere uma só vez. Nem mesmo art. 20 a Lei nº
8.081 possui (o art. 20 é da Lei nº 7.716/89).

Os pontos questionados na causa, e que mereceriam o


enfrentamento sentencial, dizem com a dignidade do homem
e da raça judaica, execrada pelas obras. Não se esgotam em
fatos históricos que permitam ou mereçam revisão ou
reexame sob ótica ou ângulo diversos, nem na específica
história dos judeus.
Basicamente dizem com atributos pejorativos, juízos (e
não fatos) infamantes do homem e da raça judaica. Por
exemplo, dentre outros: Horda de judeus; judeus desafetos do
bem e protagonistas de uma incessante luta contra toda e
qualquer forma de organização social, política e econômica;
autocratas encarniçados.

Uma vez imputados na denúncia, deveriam ser


analiticamente examinados pela sentença, inclusive para
verificação da regularidade no exercício do direito de opinião
que simplistamente proclamou, correlação indispensável
mesmo em sede de decisão absolutória. O sistema processual
é alicerçado na paridade das partes. O processo penal é
instrumento de realização da Justiça e a Justiça não está
unicamente no interesse do acusado.

O prejuízo desta precária e incompleta fundamentação é


manifesto, apesar do pedido de absolvição feito pela
Promotoria em suas alegações escritas. O Assistente também
é interessado na averiguação da verdade substancial e tem
direito à decisão justa (6).

Com efeito, o parecer do Ministério Público é pela


declaração de nulidade da sentença. Toda a vez que houver
infringência a princípio ou norma constitucional-processual,
que desempenhe função de garantia, o ato processual
inconstitucional, quando não juridicamente inexistente, será
sempre nulo, sanção que decorre da própria Constituição ou
dos princípios gerais do ordenamento, devendo a nulidade ser
decretada de ofício, independentemente de provocação da
parte interessada. É que as garantias constitucionais-
processuais, ainda que aparentemente postas em benefício da
parte, visam ao interesse público na condução do processo
segundo as regras do devido processo legal (7). Há, ainda, a
cominação expressa de nulidade na CF (art. 93, IX) e lei
processual (CPP, art. 564, III, alínea m).

Quanto à outra preliminar, o parecer é pela rejeição. Não


houve o alegado desvio, devido ao entrelaçamento dos temas,
e disso bem se encarregou a Dra. Promotora em demonstrar.
Do error in judicando
Dentre os ingredientes do juízo absolutório, está o de que
os livros, "lidos, não terão, como não tiveram, porquanto
já o foram e, por um grande número de pessoas, o condão
de gerar sentimentos discriminatórios ou preconceituosos
contra a comunidade judaica" (fl. 81).

A sentença não revela, porém, a base concreta de tal


assertiva. E aí mais uma vez peca em termos de
fundamentação. É de se supor, em face desta injustificável
omissão, tenha procurado expressar que as obras, apesar de
lidas por um vasto número de pessoas, não produziram, como
resultados fenomenológicos, sensíveis no mundo da realidade,
sentimentos discriminatórios ou preconceituosos contra a
comunidade judaica, em evidente error in judicando. É que
o crime não exige a produção de resultado material.
Consuma-se com a simples realização da conduta típica.
Irrelevante tenham sido ou não aflorados nos leitores os
sentimentos discriminatórios ou preconceituosos a que se
refere. A Lei nº 8.081, de 21 de setembro de 1990, foi editada
com a finalidade de estabelecer os crimes e fixar as penas
aplicáveis aos atos discriminatórios ou de preconceitos de
raça, cor, religião, etnia ou procedência nacional, praticados
por meio de comunicação social ou por publicação de
qualquer natureza, buscando preservar o tratamento
igualitário que a ordem jurídica se propõe a assegurar.
Tratamento igualitário que é princípio estrutural das
democracias modernas, no sentido de que "todos são iguais
perante a lei, sem distinção de qualquer natureza" (art. 5º,
caput, da CF). Para assegurá-lo, a própria Carta estabeleceu
que "a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos
direitos e liberdades fundamentais" (art. 5º, inc. XLI).
Nesse vinculante contexto constitucional é que surgiu a Lei,
com a nítida e necessária tendência de punir as práticas
discriminatórias de qualquer natureza, como meio
asseguratório e protetivo do princípio da igualdade e de
maneira mais ampla do que originariamente feito pela Lei nº
7.716/89.

Especificamente em relação ao crime definido no art. 20,


que é o delito imputado ao réu, as ações nucleares de
praticar, induzir ou incitar devem ser desenvolvidas pelos
meios de comunicação social ou por publicações de qualquer
espécie ou natureza, compreendendo-se por meios de
comunicação social todos os que servirem a "manifestação
do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob
qualquer forma, processo ou veículo" (art. 220, caput, da
CF). Praticar é levar a efeito; fazer, realizar, cometer,
executar; expor ou exprimir por palavras; dizer, proferir.
Induzir consiste em causar, inspirar, incutir; sugerir,
persuadir. Incitar significa instigar, impelir, mover;
estimular, instigar, açular, excitar; provocar.

Crime formal ou de mera conduta, cuja característica é o


da consumação antecipada, configura-se independentemente
da produção de qualquer resultado fenomenológico. "Basta,
para o aperfeiçoamento do crime, a realização de
qualquer ato caracterizador da prática, induzimento ou
realização de discriminações ou preconceitos através dos
meios de comunicação e de publicações de qualquer
natureza" (8), sendo indiferente que se concretizem ou não
as finalidades de discriminação e de preconceito de raça, cor,
religião, etnia ou procedência nacional. Discriminação como
ato ou efeito de discriminar, de separar, de apartar, de
segregar uma raça, cor, religião, etnia ou procedência
nacional, como política de segregação, de isolamento de um
grupo social. Preconceito como conceito ou opinião formados
antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimento
dos fatos, geradores de suspeita, intolerância, ódio irracional
ou aversão a outras raças, credos, religiões, etnias etc.

Assim, em termos de adequação típica da conduta e


consumação do delito, o importante é a aptidão ou
potencialidade das abordagens veiculadas nas obras em
termos de malferimento da igualdade constitucional e, de
modo especial, a probabilidade de lesão aos valores
protegidos pela norma.

Esta probabilidade de lesão, ou lesão potencial, que é a


alma da ilicitude, é pura valoração acerca do caráter lesivo de
uma ação humana, relação entre o fato e o valor como objeto
da tutela. Aliás, é a noção de lesividade que fundamenta e dá
conteúdo ao tipo. As condutas previstas no art. 20 são
sancionadas não porque anti-jurídicas, mas porque
juridicamente desvaloradas pelo Direito. A norma traduz o
desvalor do Direito à conduta. Quando o legislador define o
ilícito penal, significa postura axiológica negativa referente à
conduta descrita. O Direito Penal é na sua essência tutela de
valores, complexo de normas predispostas à garantia das
exigências ético-sociais domi-nantes. Fora do resguardo aos
valores, o Direito Penal perde a razão de sua existência e se
transforma fatalmente num instrumento de terror ou num
meio técnico de profilaxia social (9). Lesividade que não se
esgota nem se confunde com o dano material provocado pela
conduta (10). É uma noção normativa pura, intelectiva (11).
Exatamente por isso, diz Carnelutti, "a ilicitude resolve-se
em um juízo da lesividade do fato praticado, pois uma
antijuridicidade sem conteúdo não tem razão de ser"(12).

Nesse ótica, percebe-se, em definitivo, a irrelevância do


aspecto a que a sentença deu tamanho destaque, pois, ainda
que milhares de pessoas possam ter lido as obras incriminadas
sem se sentirem tomadas por preconceito contra a
comunidade judaica, o que releva notar é a potencialidade dos
textos em induzir ou incitar o leitor a sentimento
discriminatório ou preconceituoso em relação aos judeus,
como povo, raça, etnia, procedência nacional. O art. 20
contém um tipo de crime de perigo. Perigo como probalidade
de lesão ao bem jurídico tutelado. E os trechos denunciados,
lidos e avaliados no conjunto de cada obra, materializam a
tese acusatória quanto à potencialidade discriminatória e
preconceituosa:

" ... Agora, porém, compreenderam os alemães, que


foram explorados por uma horda de judeus, que haviam
preparado tudo para tirar enormes proveitos da miséria
geral do povo teutônico. Onde quer que se pudesse
especular com as necessidades do povo, ou que se
apresentasse ocasião de obter ganâncias intermediárias,
seja em Bancos, sociedades de guerra, empréstimos
públicos, ou em ministérios que formulavam os
gigantescos pedidos de apetrechos bélicos, alí apareciam
os judeus" (O Judeu Internacional, Henry Ford, 2ª reedição,
pág. 23).

Horda como bando indisciplinado de malfeitores, amigos


e construtores do mal. Grupo malfazejo movido pela
ganância e especulação, no sentido mais sórdido que possam
estas expressar, para fazer desabrochar no espírito do leitor os
sentimentos de discriminação e preconceito devido à ambição
ilícita e desmedida da raça, usuária de meios degradantes e
baixos para alcançar fins ignóbeis e infames.

"... Num mundo de Estados territoriais organizados, o


judeu tem apenas duas fórmulas: derrubar os pilares de
todos os sistemas nacionais dos Estados ou criar o próprio
Estado nacional" ... "O judeu é adversário de toda ordem
social não judaica" ... "O judeu é um autocrata
encarniçado" ... "A democracia é apenas o argumento
utilizado pelos agitadores judeus, para se elevarem a um
nível superior àquele que se julgam subjugados. Assim
que conseguem, empregam imediatamente seus métodos,
para obter determinadas preferências, como se estas lhes
coubessem por direito natural" ... "Porque todo judeu é
impelido pela mesma tendência, que se enraíza no sangue:
o anseio de dominação" ... "Os métodos de ação das
classes baixas judaicas não visam somente a libertar-se da
repulsão social, mas anelam francamente o poder. É essa
vontade de dominar que caracteriza seu espírito" ... "não
existe raça alguma que suporte a autocracia mais
voluntariamente do que a raça judia, que deseje e respeite
mais do que esta o poder" ... "O judeu é um caçador de
fortunas, principalmente porque, até este momento, só o
dinheiro lhe tem proporcionado os meios de conquistar
certo poderio" ... "O supremo intuito que eles denotam
consiste em solapar toda ordem humana, toda constituição
de Estados, para erigir um novo poder, em forma de
despotismo ilimitado" (O Judeu Internacional, Henry Ford,
2ª reedição, 1989, págs. 24, 25, 65, 75 e 79).

Referindo-se aos judeus como inimigos mortais de toda a


ordem social não judaica, autocratas encarniçados
comprometidos com a quebra dos sistemas nacionais dos
Estados e protagonistas deliberados de uma falsa adesão e
defesa da democracia, a obra os coloca como perigosos
agentes da anarquia, que inspirados na negação da autoridade,
e por congênita deficiência moral, buscam romper o
equilíbrio das estruturas política, social e econômica,
colocando sob risco os fundamentais interesses da sociedade e
do Estado, pela confusão ou desordem gerada por essa
situação, para conseguirem o poder soberano, ilimitado e
absoluto, próprio dos déspotas tirânicos e opressivos, poder
sem restrição nem neutralização, como dominação poderosa
da classe, que é baixa, dissimulada, vaidosa e arrogante. Sem
a menor dúvida, por mais liberal que se queira ser na
interpretação de tais textos, há afronta aos princípios da não-
discriminação e do não-preconceito racial, com correlata
exposição destes valiosos interesses constitucionalmente
protegidos à perigo de dano.

"... Que os outros lavrem a terra: o judeu, quando


pode, viverá do lavrador. Que os outros suem nas
indústrias e ofícios: o judeu preferirá assenhorar-se dos
frutos de sua atividade. Esta inclinação parasitária deve,
pois, formar parte de seu caráter" (O Judeu Internacional,
Henry Ford, 2ª reedição, 1989, pág. 171).

Mais uma vez, a marca inconfundível das obras, de dis-


criminação e preconceito com a raça judaica, mostrando-a
não só ga-nanciosa ou anárquica, mas, como se disse antes, de
caráter profun-damente vil, como que por defeito de
nascença, que sabe e quer en-ganar, manhosa e
maldosamente, agindo do mesmo modo que o animal que se
alimenta do sangue de outro, para viver, sem trabalhar, à
custa do esforço e da miséria alheia. Raça chupim e
arrimadiça.
Em Os Conquistadores do Mundo – Os Verdadeiros
Criminosos de Guerra (de Louis Marschalko, 3ª edição),
numa clara evidência da articulação em discriminar, já no
prefácio, novas e veementes referências ao caráter repulsivo,
simulado e parasitário dos judeus:

"Qualquer pessoa que esteja de olho no mundo e nos


negócios deste, poderá perfeitamente compreender esse
plano (totalitarismo perfeito e absoluto), que já tomou
forma ... A humanidade está dividida não apenas pelas
raças naturais, criadas por Deus, e pelas nações. Hoje em
dia, até as nações estão divididas. A Alemanha esta
dividida em Oriental e Ocidental, o mesmo acontecendo
com a Coréia: do Sul e do Norte. A China e a Indochina
estão divididas ou separadas, enquanto a Europa está
dividida pela Cortina de Ferro. As populações são
separadas e divididas em pessoas brancas e de cor,
capitalistas e bolchevistas, empregadores e empregados,
gente rica e classes operárias, católicos e protestantes,
supressores e suprimidos, vencedores e vencidos. Mas,
como veremos adiante, toda essa divisão, toda essa
desordem, todo esse caos, é dirigida pela mesma vontade
férrea, pela mesma força secreta que age segundo o
interesse dos líderes de uma raça de 15 milhões de
pessoas ... São elas que instigam multidões furiosas a
fazerem greves e passeatas, enquanto ao mesmo tempo
elas dão aumento de salários e promovem a inflação ...
Elas são as arqui-inimigas dos ideais patrióticos; pregam
contra a soberania dos Estados e contra a discriminação
racial, enquanto que durante todo esse tempo elas
representam um nacionalismo racial de uma veemência
até hoje sem paralelo na história de todos os países do
globo terrestre" ... "Esse diabólico nacionalismo tribal
tem o poder mundial na mão" ... "O judeu jamais foi um
internacionalista; ele foi, isto sim, o representante
consciente de um nacionalismo tribal que visava dominar
todos os outros países do mundo" (págs. 9/10 e 18 – as
transcrições da denúncia estão grifadas).

Na mesma linha editorial, com o indisfarçável ânimo de


afetar a dignidade do judeu e de sua raça, passagens não
desvincu-ladas do contexto discriminatório das obras, do tipo
"Povos antijudaicos do mundo, uni-vos, antes que seja
tarde demais" (Os Conquistadores do Mundo, pág. 112),
"Como o sírio, o judeu não passa sem prestações. É uma
inclinação racial" ... "Judeu sem prestação não é
judeu" ... " ... Um dia, os povos compreenderão a
verdadeira origem de todos os seus males e, então, as
bichas vorazes e nojentas serão duramente castigadas" ...
"O nosso Brasil é a carniça monstruosa ao luar. Os
banqueiros judeus, a urubuzada que a devora" (Brasil,
Colônia de Banqueiros – Gustavo Barroso, 1ª reedição, págs.
34, 37, 46 e 95), "Em vista de seu número relativamente
pequeno, os judeus, sozinhos, certamente não podem
vencer a população no meio da qual vivem como
parasitas, mas inventaram um modo de suicídio para os
cristãos, provocando habilmente entre eles discórdias
intestinas e uma desorganização maldosamente
preparada" ... "Para os judeus, o único direito é a força ...
Todas as religiões serão abolidas, salvo a de Moisés. Para
mostrar seu poder, os judeus esmagarão e escravizarão
pelo assassínio e o terrorismo cada um dos povos da
Europa" (Os Protocolos dos Sábios de Sião, Gustavo
Barroso, 4ª reedição, pág. 95). Em Hitler - Culpado ou
Inocente?, de Sérgio Oliveira, dentre várias outras
manifestações preconceituosas, é dito que os judeus seguem o
Torah, cujo teor aponta para o ódio a tudo que não for judeu,
para a desarmonia, desigualdade e desentendimento entre os
povos. Em Holocausto: Judeu ou Alemão? – Nos Bastidores
da Mentira do Século, de autoria do réu, sob o pseudônimo
S.E. Castan, a expressão máxima da discriminação, baseada
em inversões dos fatos que marcaram a história deste século,
pretensamente mascaradas com dados relativos a fatos
verdadeiros (13).

Em uma síntese, os livros publicados e editados pelo


apelado tentam negar o holocausto, atribuindo aos judeus,
como substrato da ação dos Aliados, e exatamente pela
congênita perversão de caráter, a falsificação de documentos
e a montagem de fotografias e filmes, simulando episódios
que não teriam ocorrido na Alemanha e nos territórios por
esta ocupados, em uma criminosa distorção da realidade
histórica, realidade que é pública e notória, oficialmente
reconhecida pela própria Alemanha, e veiculam, explicita e
implicitamente, nas linhas e entrelinhas, mensagens de cunho
nitidamente anti-semitas, discriminatórias e preconceituosas.

Ainda a respeito desta potencialidade lesiva das obras


incriminadas ao bem jurídico protegido pelo tipo, cumpre
ressaltar que os autos reúnem manifestações de repúdio
emanadas de diferentes setores da sociedade civil (Associação
Nacional dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira –
fl. 75; Associação Riograndense de Imprensa – fls. 76/77;
Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes
Marítimos Fluviais e Aéreos – fls. 78/79; Instituto Solano
Trindade – fl. 80; Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias
Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Porto
Alegre - fl. 81; Associação Gaúcha de Escritores - fls. 82/84;
da Secção do Rio Grande do Sul da Ordem dos Advogados do
Brasil – fl. 87; Movimento Negro Brasileiro e Movimento
Popular Anti-Racismo – fls. 109/126) e de diversas pessoas
vinculadas ao judaísmo, que pelo fato de serem judias não
perderam a condição moral para depor (fls. 44/47; 53/59;
139/153). São dados concretos que não poderiam ter sido tão
facilmente desprezados pela decisão apelada.

Desse modo, e que no pertine ao mérito da sentença, não


há como mantê-la com base na falta de produção de dano ao
bem jurídico protegido. Não se deve permitir a confusão entre
dano (ofensa material e sensível) e lesão (ofensa potencial e
negativa-mente valorada pelo cotejo da norma com as
concretas exigências sociais de tutela).
Da ausência de dolo
O dolo, como vontade de realização da conduta proibida
pelo tipo, revelador de um estado de psíquico-espiritual do
agente, geralmente é demonstrado com o auxílio do raciocínio
(14). O delito do art. 20, apesar de unicamente previsto na
modalidade dolosa, admite o dolo direito e eventual (15). A
conduta do réu, na global análise que se impõe em face das
circunstâncias concretizadas, e no que se inclui a valoração do
próprio bunker que edificou, talvez debochadamente com o
nome Editora Revisão, é nitidamente dolosa, e por dolo
direto. Sua obstinada atuação voltada ao anti-semitismo e ao
nazismo, feita através das publicações que promove e pelos
sentimentos espúrios que procura difundir, é amplamente
conhecida no Brasil e no exterior (16), e não se concilia à
simples luz do razoável com propósitos diversos daqueles que
o tipo penal em questão pretende evitar. A propósito, o
parecer do Ministério Público integralmente endossa as
alegações finais da Assistência da Acusação, que, lastreadas
em circunstanciado exame dos trechos, torna irrecusável
compreensão diversa, seja por inexistência de dolo, seja pela
existência de dolo diverso e não compreendido pelo tipo em
questão (fls. 802/803).
Do direito ou liberdade de opinião
Correlata à crítica sobre o terceiro e último elemento
formador da convicção absolutória expressada no julgado
recorrido – direito constitucional de opinião, pela afinidade
que com este tema encerra, complementando o que acima foi
dito a respeito do agir doloso do réu, sua sistemática e
agressiva postura discriminatória e preconceituosa para com a
raça judaica, revelada até mesmo no decorrer do processo, dá
a medida exata do elemento subjetivo. As inverdades sobre
fatos notoriamente conhecidos pela humanidade e as
deformações de episódios históricos incontroversos,
constituem-se em provas definitivas do ânimo de incitar e
induzir à discriminação e ao preconceito racial. Não há outra
conclusão plausível. E o dolo, como dito por Mittermayer, é
detectado pelo uso do raciocínio.

Tamanho o exagero nas inverdades históricas, criadas por


sua inteligência ou pela de outros, cujas obras publica, e a
vora-cidade nos assaques contra os judeus, homem e etnia,
que somente podem ser entendidas em um contexto
deliberadamente criminoso, atentatório de um dos bens mais
valiosos que o ser humano pode titular, bem que a
Conferência de Puebla disse ser inviolável, a dignidade do ser
humano e da raça a que pertence, e que a CF erigiu em
princípio fundamental, sem que haja mínimo espaço a uma
discussão rotulada pelo sugestivo título do revisionismo (17),
de que se vale o réu para fazer crer que seu único propósito é
o de revisar a história, como se esta trágica passagem da
história, aliás o maior conflito da história de humanidade e o
momento decisivo da história do século XX, fosse passível de
revisão em suas principais circunstâncias e, especialmente,
em seus efeitos sobre a dignidade humana (18). Revisar o que
é notório, fazendo-se de conta que o racismo (19), as idéias de
eugenia (20) e o anti-semitismo (21) não tenham dado corpo à
ideologia nazista, ideologia excludente e condenatória (22), é
querer acobertar inverdades e preconceitos. Nada além disso.
O anti-semitismo como ideologia e, depois, o extermínio dos
judeus (23), funcionaram como elementos centrais na
configuração ideológica e na organização do Estado nazista.
O genocídio de seis milhões de judeus, fato histórico que não
permite discussão ou revisão, era e foi prioridade do nazismo,
levado a cabo como uma linha de produção da morte, medida
em termos de custo e benefício (24). Na visão nazista do
mundo, não havia lugar para os judeus, e o espaço foi sendo
reduzido cada vez mais, até que significou a morte. A tese
principal de Mein Kampf, um tratado sobre sua filosofia
política, concluído por Hitler durante a prisão na fortaleza de
Landsberg (25), era simples: o homem era um animal
combativo; portanto, sendo a nação uma comunidade de
combatentes, ela era uma unidade de combate. Qualquer
organismo vivo que deixasse de lutar por sua existência
estava fadado à extinção. Um país ou raça que deixasse de
lutar estava igualmente condenado. A capacidade de luta de
uma raça dependia de sua pureza. Daí a necessidade de livrá-
la dos elementos contaminadores estrangeiros. A raça judaica,
por sua universalidade, era necessariamente pacifista e
internacionalista. O pacifismo era o mais letal dos pecados,
pois significava a rendição da raça na luta pela vida. O
primeiro dever de todo país, portanto, era nacionalizar as
massas (26). Surgiram, assim, o racismo, a eugenia, o anti-
semitismo e o anticomunismo como instrumentos de
concreção de um Estado totalitário e lastros de uma política
de exclusão e mais tarde de eliminação dos judeus, a terrível
Endlösung, que também serviram para implementar as
políticas e os alvos que definiram a IIª Guerra Mundial (27).

Do mesmo traço ideológico se revestem as publicações de


responsabilidade do acusado, em que pesem os disfarces que
lhes busca dar, em clara adequação de suas ações ao tipo
incriminador que dá embasamento à pretensão punitiva
deduzida na denúncia. Jescheck, certamente o maior escritor
de Direito Penal da atualidade, secundado pelos não menos
renomados Maurach e Welzel, adverte de que, quando o
agente não tenha querido atuar juridicamente, em
conformidade com o Direito, não lhe pode ser reconhecida
uma causa de justificação, mesmo que, por acaso, de sua
conduta resulte algo valioso, pelo que não se há de aceitar
tenha o réu atuado ao abrigo de um direito constitucional de
opinião.

Se esta cegueira jurídica (28) não fosse o bastante para


afastar a hipótese de exercício de um direito constitucional, há
de se considerar que inexiste direito que comporte exercício
ilimitado, direito que prescinda de regularidade em seu
exercício (29).

A CF assegura o direito de manifestação do pensamento


(30) (art. 220 e §§), como direito inerente ao status libertatis
do indivíduo em suas relações com os outros, no que se
distingue da liberdade de pensamento, que é direito do
indivíduo sozinho, de per si, e da inviolabilidade da
correspondência, que é a liberdade de não emitir o
pensamento (31). É a liberdade de opinar, de criticar, de
discutir, de propagar crenças, de pregar opiniões (32). É esta
liberdade conhecida em todos os tempos, em todos os
quadrantes, em todas as latitudes, desde Sócrates quando
preferiu beber cicuta a abjurar o seu direito de expender o
próprio pensamento, de difundir suas idéias, até a célebre
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, hoje
bandeira de todos os povos cultos, fruto do liberalismo
francês (33).
Mas nem por isso está imune a uma limitação em termos
de exercício, como condição da própria licitude da conduta. É
a própria Carta consigna que: "Os direitos e garantias
expressos nesta Constituição não excluem outros
decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados
ou dos tratados internacionais em que a República
Federativa do Brasil seja parte" (art. 5º, inc. LXXVII). Pelo
Pacto de San José, ao qual o Brasil aderiu, conforme Decreto
nº 678, de 6 de novembro de 1992, publicado no D.O.U de 9
de novembro do mesmo ano, "a lei deve proibir toda a
propaganda a favor da guerra, bem como toda a apologia
ao ódio nacional, racial ou religioso que constitua infração
à discriminação, à hostilidade, ao crime ou à
violência" (Cláusula 13).

É elementar a noção de que todo o direito tem o seu limite


lógico na fronteira dos direitos alheios. A ordem jurídica não
pode deixar de ser um equilíbrio de interesses. Não é lógico
nem razoável a possibilidade de uma colisão de direitos,
autenticamente tais. O exercício de um direito degenera em
abuso, e torna-se atividade antijurídica, quando invade a
órbita de gravitação do direito alheio.

Relativamente ao direito de opinião, em quase todo o


mundo civilizado tem sido objeto de regulamentação especial
(34), que lhe traça limites (35), não podendo, por outro lado,
ficar alheio a uma interpretação sistêmica do Direito, e aqui
surge o princípio constitucional da isonomia, que é
indesjungível da lei, nos casos de conflito (aparente) com
outro direito constitucional, pois inexistem contradições entre
dispositivos internos da Constituição, e a CF assegura que
"todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza" (art. 5º, caput), que "a lei punirá qualquer
discriminação atentatória dos direitos e liberdades
fundamentais" (art. 5º, inc. XLI), como meio garantidor de
um dos objetivos fundamentais da República Federativa do
Brasil, que é o de "promover o bem de todos, sem
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação" (36), e também dispõe que
"a prática do racismo constitui crime inafiançável e
imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da
lei" (art. 5º, inc. XLII).

A partir desse espírito de tratamento igualitário, e como


condição de seu resguardo e efetivação, proíbe-se a prática de
discri-minações e preconceitos de raça, cor, origem étnica,
preferência religiosa e procedência nacional.

Havendo o conflito entre normas constitucionais, entre a


que impõe o dever de não-discriminar e a que consagra o
direito de expressar o pensamento, deve-se buscar a
conservação do valor de não-fazer e, nesse passo, a liberdade
de pensamento não pode desprezar outros direitos
fundamentais, sendo primordial a tutela do interesse público
prevalente (37). Nenhum direito fundamental, calcado na
Constituição, possui, em verdade, valência absoluta frente a
outros direitos também fundamentais (38).

A CF garante a livre manifestação do pensamento. Mas


esta disposição é sobre a liberdade de pensamento em si e não
sobre os crimes que por seu intermédio possam ser cometidos,
adverte Marrey Neto (39).

Aliás, a garantia da CF ao direito de opinião não atinge os


excessos que em nome dessa liberdade sejam praticados,
muito menos quando em detrimento de outros valores
constitucionais. O direito à opinião termina exatamente na
fronteira do território inerente à dignidade do ser humano, que
dá fundamento e conteúdo ao princípio constitucional da
igualdade.

Quando direitos fundamentais estão em conflito com


outros bens ou direitos constitucionalmente protegidos, é
mister a ponderação dos bens e direitos a fim de se obter, se
possível, uma concordância prática entre os vários bens e
direitos protegidos em nível jurídico-constitucional. Estas
tarefas de ponderação e concordância prática são formas de
concretização das normas consagradoras de direitos
fundamentais (concretização-restrição) (40).

Na busca de solução concreta do conflito entre o direito de


opinião e o dever constitucional da não-discriminação e do
não-preconceito, não se pode descurar da teoria das
limitações horizontais, através da qual se percebe que o
exercício de direitos pressupõe uma reserva de amizades e de
não prejudicialidade, como limites dos pressupostos jurídicos
e fáticos desses mesmos direitos (41). Aplicada à espécie,
como caso concreto, e observados os pressupostos que
propõe, a teoria das limitações horizontais conduz o
intérprete à conclusão da supremacia do direito à não-
discriminação e ao não-preconceito sobre o direito de opinião.

No cotejo entre o direito de opinar (titulado pelo réu), e o


direito à não-discriminação e ao não-preconceito (neste caso
titulado pelos judeus como gente, raça, etnia), é forçoso
convir que a regularidade no exercício do direito de opinião,
em detrimento daquele outro, somente se as informações
fossem verdadeiras, conhecida-mente verdadeiras, inevitáveis
para passar as mensagens (42) e desde que estas não
afetassem a bens jurídicos tutelados, o que não se verifica, até
mesmo porque, em sua maioria, as obras finalisticamente se
prestam para veicular opiniões desairosas à raça e não
propria-mente informações sobre os fatos em que esta raça ou
etnia se viu envolvida ao longo de sua trajetória na história da
humanidade.

Sanções devem ser reservadas para as situações em que a


evidente intenção da opinião é a de discriminar raça, credo,
seg-mento social ou nacional, muito embora disfarçada de
revisionismo.

Como conseqüência, a licitude da resolução deste conflito


está na supremacia valorativa do dever de não-discriminar,
considerando-se, para tanto, que a própria Constituição do
Brasil estabelece restrição no exercício do direito de opinião e
suas formas de exteriorização, quando potencialmente capaz
de malferir o princípio isonômico ou da igualdade, na medida
em que expressamente proíbe os preconceitos de raça, cor,
etnia, por motivos religiosos e de procedência nacional. Essa
franca limitação constitucional inclusive permite a prévia
censura judicial. Prevê a lei a busca e apreensão do material
destinado a divulgar a postura discriminatória ou preconcei-
tuosa (art. 20, § 1º, incs. I e II da Lei nº 7.716/89, c/c o art. 1º
da Lei nº 8.081/90) (43)(43).

Para expressar a derradeira manifestação sobre a tese


sustentada pelo réu, parafraseando Rudolf Von Ihering,
consigna o Ministério Público que, se um direito concreto se
vangloria da sua existência para pretender um exercício
ilimitado, sem fronteiras, faz recordar o filho que levanta a
mão contra a própria mãe, insultando a idéia do direito,
porque a idéia do direito será eternamente um movimento
progressivo de transformação com vistas ao bem comum, à
realização do homem e dos mais caros interesses da
sociedade, objetivos inatingíveis quando atingida a dignidade
do ser humano, gratuita, leviana e criminosamente,
considerado o ser humano em sua individualidade ou como
membro de grupo, raça, etnia.

As Nações Unidas, em Assembléia Geral realizada há mais


de trinta anos (20 de novembro de 1963), à unanimidade,
aprovou a declaração sobre a eliminação de todas as formas
de discriminação racial, recomendando aos países
subscritores a efetivação de medidas concretas especiais à
proteção deste interesse superior, pois qualquer incitamento
ou quaisquer atos de violência praticados, quer por pessoas ou
organizações, contra qualquer raça ou grupo de pessoas de
outra cor ou origem étnica serão considerados como uma
ofensa à sociedade e puníveis em conformidade com a lei (art.
9º).
Do parecer
Diante do exposto, reafirmando o posicionamento quanto à
questão preliminar, o Ministério Público opina pela
declaração de nulidade da sentença, devido à falta de
fundamentação, em flagrante violação da regra constitucional
de que as decisões judiciais serão fundamentadas, sejam elas
condenatórias ou absolutórias. O processo é uma relação. À
exemplo de uma moeda, possui duas faces. Acusação e
Defesa, sociedade e cidadão.

Relativamente ao mérito, se a Colenda Câmara não acolher


a preliminar de nulidade, o parecer é pelo provimento da
apelação, para que o réu seja punido pelas graves ações
praticadas ao longo das publicações apontadas na denúncia,
subsumíveis na norma incriminadora, objetiva e
subjetivamente, sopesando-se, no respectivo apenamento, o
alto grau de sua culpabilidade. Sua postura de vida, quase
condição de vida (o emprego do pseudônimo S. E. Castan
talvez para acobertar a descendência étnica – Ellwanger; a
criação da Editora Revisão, como verdadeiro bunker de
proteção aos ideais segregacionistas que oxigenizam suas
ações; as manifestações públicas, orais e escritas; e as
relações próximas e contactos que habitualmente mantém
com os movimentos de ideologia racista – os autos possuem
vários documentos comprobatórios), fruto de consciente e
voluntário ânimo racista, discriminatório e preconceituoso,
que tem de provocado desvaliosos sentimentos no seio da
comunidade judaica (também em outras – manifestações de
repúdio antes indicadas), é juridicamente proibida e
socialmente intolerável, recomendando apenamento severo.
Em uma culpabilidade normativa, consideradas as condições
pessoais de saúde mental, pleno conhecimento da ilicitude e
poder-agir-de-outro-modo, a censura é de peso, proporcional
à intensidade do ânimo ativo juridicamente repreensível. Não
há como juridicamente admitir, a pretexto de exercício da
liberdade de opinião, tenha ou possa o réu impunemente
promovido as publicações segregacionistas, na medida em
que a segregação racial é expressamente vedada e
incriminada pela Constituição e legislação penal brasileira.

As eventuais discriminações feitas pelos judeus a outros


povos, ou à sua própria gente, por racismo contra os negros,
preconceito religioso contra os palestinos cristãos ou por
inconfor-midade com a dissidência de militares; a
procedência ou improcedência das críticas ao movimento
sionista; a correção ou incorreção das ações políticas e
governamentais dos líderes Begin, Sharon e Eltan, ou das
ações dos membros do Estado Maior do exército israelense;
as críticas que se possam fazer à política desenvolvida pela
Confede-ração ou Federações Israelitas (fls. 337/338;
419/425), ou os prece-dentes absolutórios relativos às mesmas
obras, emanados de autori-dades judiciárias de outros países
(fl. 287), não afetam nem prejudicam o exame da conduta
imputada a Siegfried Ellwanger, ou S. E. Castan, à luz do
direito brasileiro e dos valores fundamentais cultuados por
nossa sociedade, como se à raça judaica não se pudesse
endereçar a máxima de Kant: "Não deixeis calcar
impunemente o vosso direito aos pés de outrem" (44).

E o juízo de censura a Siegfried Ellwanger, ou S. E.


Castan, não permite, modo algum, a chamada à memória,
para fins comparativos, dos episódios históricos envolvendo
Giordano Bruno ou Galileu, como quis ele fazer através da
publicação juntada à fl. 289.

Esta colocação foi unicamente da Defesa, pessoal e


técnica, como expediente defensivo, pois o ponto nuclear da
demanda está na propositada violação da igualdade, da não-
discriminação e do não-preconceito, como regras de direito
natural, historicamente consa-gradas nos textos
constitucionais do Brasil, feridas pela realização das ações
hipotizadas no art. 20 da Lei, imputadas e imputáveis ao réu.

A advertência final é de Sebastian Soler: "Las penas más


crueles han sido fundadas en la afirmación de que un
sujeto era brujo o hereje. En nuestros propios tiempos
hemos visto fundar las más extremas medidas sobre la
base de la condición óntica de judío o de negro" (45).
Porto Alegre, 27 de dezembro de 1995
CARLOS OTAVIANO BRENNER DE MORAES,
Procurador de Justiça.
NOTAS
1. Cf. art. 93, inc. IX, da CF: "todos os julgamentos dos
órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e
fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade,
podendo a lei, se o interesse público o exigir, limitar a
presença, em determinados atos, às próprias partes e a
seus advogados, ou somente a estes". CPP, art. 381: "A
sentença conterá: ... III – a indicação dos motivos de fato e
de direito em que se fundar a decisão".
2. Cf. Nélson Nery Júnior, Princípios do Processo Civil, pág.
156.
3. Cf. Benedetto Pellingra, La motivazione della sentenza
penale, pág. 108.
4. O Juiz e a Função Jurisdicional, pág. 347.
5. Justitia 65/23.
6. Nesse sentido: R.Esp. 35.320-3-TO, 6ª Turma, Rel. Min.
Luiz Vicente Cernicchiaro, DJU, 08-08-94, p. 19.575.
7. Cf. Ada Pellegrini Grinover, Das Nulidades do Processo
Penal, pág. 21.
8. Cf. Fábio Medina Osório e Jairo Gilberto Schafer, Dos
Crimes de Discriminação e Preconceito – Anotações à Lei
8.081, de 21.9.90, Revista do Ministério Público do RGS, nº
34, pág. 194.
9. Cf. Giuseppe Bettiol, Direito Penal, p. 361.
10 A noção material de lesividade não diferencia o latrocínio
do homicídio em legítima defesa, já que em ambos há o
resultado material danoso à vida. A ilicitude é uma
qualificação do fato, qualificação que é global, vale para
todos os demais ramos. Ela se resolve num juízo de que o fato
é lesivo de um bem jurídico. Esta lesão realmente não tem
realidade perceptível aos sentidos. Sob o aspecto naturalista, o
homicídio cometido em estado de legítima defesa e o
homicídio premeditado não apresentam diferenças porque na
realidade naturalista o que se pode verificar em ambos os
casos é a causação da morte de um homem. Se dizemos que
falta no primeiro ilicitude porque a lesão do bem jurídico é
justificada enquanto no segundo esta lesão é ilícita, julgamos
o fato em relação às exigências da norma jurídica enquanto
norma de tutela de interesses. Mas a lesão como tal não é
perceptível de um ponto-de-vista sensível (Giuseppe Bettiol,
ob. cit., pág. 365).
11. Giuseppe Bettiol, ob. cit., pág. 365.
12. Teoria Generale, pág. 24.
13. Segundo o professor José Roberto Lopez, do
Departamento de História da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, autor de livro que discute o revisionismo
pregado pelo réu, um dos problemas do Holocausto: Judeu ou
Alemão?, "é que ele apresenta erros históricos misturados
com verdades indiscutíveis" (vide Zero Hora de 23 de julho
de 1992, fl. 363 dos autos).
14. Cf. Mittermayer, Tratado da Prova em Matéria Criminal,
pág. 181.
15. Cf. Fábio Medina Osório e Jairo Gilberto Schafer, ob.
cit., pág. 193.
16. De acordo com CD-ROM IIª Guerra Mundial, Agência
Estado e Estado de Minas, "A Universidade de Telavive, em
Israel, publicou em 1994 um relatório que alerta para o
quanto as aparências podem enganar: o Brasil, diz o
documento, é um dos lugares do mundo em que a
ideologia hitlerista mais cresce. O documento foi feito com
base em pesquisas realizadas em 1993, e aponta os grande
centros urbanos de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio
Grande do Sul (onde também são incluídas pequenas
cidades do interior, como focos do pensamento hitlerista.
Em São Paulo, o relatório de 92 páginas da Universidade
de Telavive refere-se às gangues de skinheads (cabeças
peladas). No Rio Grande do Sul, é destacada a ampla
circulação do livro Judeu ou Alemão: nos Bastidores da
Mentira do Século, de S.E. Castan. A "mentira" seria o
holocausto". Também a respeito de sua notoriedade e
influência no Neonazismo no Brasil, a Revista Isto É
publicou: "O ódio de S.M.C. contra judeus, negros e
nordestinos surgiu há pouco mais de três anos, quando
abandonou a gangue Carecas do Subúrbio, na qual estava
desde 1984. Passou a ler a biografia de Adolf Hitler e os
livros sobre o neonazismo. Entrou em contato com os
defensores do Führer no Brasil, como o carioca Armando
Zanine Júnior, 62 anos, presidente do Partido
Nacionalista Revolucionário Brasileiro, e com o gaúcho
Siegfried Ellwanger Castan, autor de livros que
desmentem o holocausto" (págs. 45 e 46, edição nº 1.201, de
7 de outubro de 1992, exemplar juntado a fls. 445/446).
17. Os devotos de Hitler, e no Brasil o réu é o líder do
movimento devido aos livros que publica, negam a existência
das câmaras de gás nos campos de concentração e a morte de
6 milhões de judeus que, como o réu, qualificam de parasitas
dispostos a dominar o mundo – Cf. Zero Hora de 30.7.95, fl.
944.
18. Como discutir o holocausto, o nazismo e o anti-
semitismo enquanto fatos? O que se dizer do pedido de
desculpas feito pelo ex-chanceler da Alemanha Oriental,
Lothar de Maizière, pelo massacre executado sobre a
população judaica? As obras incriminadas poderiam discutir
os motivos dos assassi-natos nazistas (como, por ex., há quem
sustente que tanto a teoria como a prática nazista tiveram
como ponto central a aplicação de uma política biológica –
Dr. Robert Proctor, higiene Racial – A Medicina na Época
dos Nazistas), ou a colaboração criminosa, por omissão, dos
Aliados no holocausto, ou a injustiça pela impunidade dos
crimes cometidos pelos Aliados – Hiroshima e Nagasaki, por
exemplo, sem que estivessem a atentar contra os princípios
constitucionais fundamentais da não-discriminação e do não-
preconceito. Aí sim estariam a revisar a história. O
historiador gaúcho Décio Freitas, autor de vários artigos de
alerta sobre os perigos do renascimento do nazismo, assegura
que os livros de Castan não têm compromisso científico. Para
o historiador, eles são uma propaganda neonazista travestida
de revisionismo histórico – Cf. Zero Hora de 31.7.95, fl. 948
dos autos.
19. Erich Goldhagen, do Russian Research Center, da
Universidade de Harvard, em um estudo sobre o assunto,
destaca que, para os nazistas, a história da humanidade era
entendida como uma guerra de raças em contraposição ao que
pregavam os marxistas a respeito da luta de classes.
Ocupando importantes funções dentro da economia, artes,
meios de comunicação e literatura, os judeus atingiram,
segundo os nazistas, seu objetivo para a conquista do poder
através do liberalismo e democracia em alguns países e, em
outros, sob a máscara do socialismo e do comunismo. Ainda
como práticas racistas, as leis de Nuremberg, proibitivas de
várias relações envolvendo judeus e do acesso destes a meios
de transporte coletivo, uso de bancos das praças públicas,
contas bancárias, direito aos seus bens etc.
20. Estavam em evidência as teses sobre eugenia e em nome
dela os médicos nazistas cometeram várias atrocidades. Para
os nazistas, os não-arianos eram inferiores. Inferioridade
racial. Robert Lifton, na obra The Nazi Doctors, cita o caso do
médico Eduard Wirths, de Auschwitz, que inoculava o bacilo
do tifo em judeus sãos, sob a justificativa de que estes,
naturalmente condenados a morrer, poderiam servir de
cobaias para teses de vacinas. Muitos morreram em
experiências médicas que incluíam a exposição a alta pressão
e congelamento. Muitos médicos nazistas obtiveram destaque
pela crueldade dos métodos de que se utilizavam para
assassinar. Josef Mengele, o Anjo da Morte, fazia
experimentos genéticos especialmente com crianças e
gêmeos, tudo para melhoramento da raça.
21. O nazismo construiu uma ideologia que excluía e
condenava à morte todos os que eram diferentes e pensavam
diferente do modelo (imaginário) de homem ariano. A
Segunda Guerra foi desencadeada também para impor uma
ordem mundial baseada nesse modelo, no extermínio dos
judeus e na idéia de que outros povos deveriam se submeter
aos alemães – Cf. Roney Cytrynowicz, O anti-semitismo no
nazismo, CD-ROM IIº Guerra Mundial.
22 Que digam os guetos, como o de Varsóvia, mundialmente
conhecido pelo levante, palco das mais variadas atrocidades à
dignidade. Fotografias ainda hoje ilustram a trágica cena dos
judeus humilhados aos substituírem animais de tração. E os
campos de extermínio, meios de consecução da chamada
Solução Final? Que dizer de Klaus Barbie, o Carniceiro de
Lyon, ou de Adolf Eichmann? Ben Abraham, em
documentário autêntico, Holocausto: O Massacre de 6
Milhões, mostra os crimes contra a humanidade e praticados
contra os judeus com eloqüência definitiva (CD-ROM IIª
Guerra Mundial). A propósito de Ben Abraham e de seu
documentário, consta dos autos cópia de sentença penal
condenatória proferida na ação que ajuizou contra o apelado,
por crime contra a honra (art. 140 do CP). Siegfried
Ellwanger, ou S.E. Castan, foi condenado porque, no livro
S.O.S. Alemanha, atribuiu a Ben Abraham os negativos
atributos de mentiroso e farsante, além de acoimá-lo de
deturpador dos fatos e divulgador de mentiras para inocentar
o sionismo dominador (fls. 630/649).
23. Por ex., revisar Auschwitz ou Belsen? No complexo de
Auschwitz, localizado no sul da Polônia, junto à cidade de
Oswiecim, na alta Silésia, as estimativas mais confiáveis
indicam que tenham sido exterminadas entre 1,3 milhão e 1,5
milhão de pessoas em câmaras de gás. Este foi o maior entre
os dois mil campos de concentração e trabalhos forçados
construídos pelos nazistas. Nele foram mortos cerca de 1,2
milhão de judeus, equivalente a 25% do total de judeus
mortos na guerra, 150 mil poloneses, 23 mil ciganos e 15 mil
soviéticos (Cf. CD-ROM II ª Guerra Mundial).
24 A indústria da morte instalada pelo nazismo começou a
operar a plena força com a invasão da União Soviética, em
junho de 1941. No início os nazistas obrigavam os judeus a
cavarem as próprias valas onde seriam enterrados.
Enfileiravam os prisioneiros à frente delas e os fuzilavam – a
técnica poupava o trabalho de carregar os corpos até o local
onde seriam enterrados, os judeus caiam diretamente nas
valetas. Depois foram utilizados caminhões com o
escapamento voltado para o interior de um baú montado sobre
o chassis, onde as vítimas eram asfixiadas pelo monóxido de
carbono. Em 1941 foram criados os campos de extermínio
equipados com câmaras de gás. Durante o julgamento pelo
Tribunal de Nuremberg, Rudolf Höss, um dos chefes mais
cruéis do campo de Auschwitz, prestou este depoimento: "Em
junho de 1941 recebi a ordem de organizar o extermínio de
Auschwitz. Permaneci em Treblinka para observar como era
feito o extermínio. O comandante de Treblinka (...) utilizava
óxido de carbono. No entanto, seus métodos não me pareciam
eficazes. Minha escolha era pelo cianeto de potássio. Nós
também conseguimos melhorar o procedimento em Treblinka,
construindo câmaras de gás que poderiam abrigar duas mil
pessoas de uma vez" (CD-ROM IIª Guerra Mundial).
25. Cf. Winston S. Churchill, Memórias da Segunda Guerra,
pág. 31, quando Hitler chegou ao poder, foi o livro mais
cuidadosamente lido pelos governantes políticos e militares
dos países Aliados.
26. Cf. Winston S. Churchill, ob. e pág. cits.
27. Sobre o assunto: Roney Cytrynowicz, Memória da
Barbárie – A História do Genocídio dos Judeus na Segunda
Guerra Mundial, A Vida Secreta dos Relógios e outras
Histórias, Integralismo e Anti-Semitismo.
28. Cegueira jurídico no sentido de ação sabidamente
contrária aos valores protegidos pelo sistema jurídico.
29. Cf. art. 23, inc. III, do CP – "Há, entretanto, limites
para que o exercício de um direito possa reputar-se lícito.
Esse limite vem definido na palavra regular, utilizada pelo
legislador pátrio. Só o exercício regular de um direito
justifica o fato, não o eventual exercício abusivo desse
mesmo direito. Admite-se, assim, que o abuso de direito
afaste a incidência da norma permissiva. Exercício
regular de direito é o que se contém nos limites impostos
pelo fim econômico ou social do direito em causa, pela boa
fé e pelos costumes. Assim, o exercício de um direito com o
intuito de prejudicar caracteriza o seu irregular exercício,
ou seja, o abuso de direito"(Francisco de Assis Toledo,
Ilicitude Penal e Causas de sua Exclusão, pág. 110).
30. Art. 220: "A manifestação do pensamento, a criação, a
expressão e a informação, sob qualquer forma, processo
ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o
disposto nesta Constituição".
31. Cf. Pontes de Miranda, Comentários à CF de 1967, vol.
V, pág. 139.
32. Cf. Sampaio Dória, Direito Constitucional, vol. I, tomo
II, pág. 721.
33. Cf. Darcy Arruda Miranda, Comentários à Lei de
Imprensa, pág. 103.
34. Cf. Nelson Hungria, Comentários ao Código Penal, vol.
VI, pág. 261.
35. Quando se pretende proteger os direitos de liberdade,
como, por ex., o de opinião, há de se distinguir entre os
direitos individuais para os quais a Constituição não prevê,
expressamente, qualquer possibilidade de limitação legislativa
genérica, e que, por isso, são restringidos apenas em razão da
salvaguarda de interesses prevalentes, e os direitos de
liberdade para os quais há, expressamente, esta previsão
constitucional, como no caso da Constituição do Brasil.
36. Art. 3º, inc. IV, da CF.
37. Cf. Garcia de Enterria, La Constituzione come norma
giuridica. La Cons-tituzione spagnola del 1978.
38. Cf. Silva Franco, Leis Penais Especiais e sua
Interpretação Jurisprudencial, pág. 1150.
39. RJD 9/240.
40. Cf. José Gomes Canotilho, Direito Constitucional, pág.
601.
41. Cf. Fábio Medina Osório e Jairo Schafer, ob. cit., pág.
190.
42. Nesse sentido, e relativamente ao conflito com o direito à
honra, de bem mais tênue proteção penal, vide RT 699/337 e
RJD 17/206.
43. Cf. Fábio Medina Osório e Jairo Schafer, ob. e pág. cits.
44. A Luta pelo Direito, Rudolf Von Ihering, pág. cit.
45. Derecho Penal,vol. 2, pág. 8.
eBooksBrasil
_______________________
Junho 2000
Tradução
“Muitos poucos no Ocidente ainda acreditam nele (no livro),
mas ainda tem ampla circulação graças a demagogos nas
partes menos educadas do mundo Muçulmano, Ásia, Áfria e
América Latina. (...) Se os mantenedores da RocketBook
Library vão praticar censura, aqui está um lugar para
começar.” – O texto integral pode ser encontrado na Rocket-
Library.com
***
pdf: eBooksBrasil.org — Maio 2008

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