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CONCEPCOES DE LINGUAGEM E 0 ENSINO DE LINGUA PORTUGUESA Maria Liicia Cavalli Neder (Letras - 1L- UFMT) Nos tiltimos anos, tenho voltado minha atengio e estudos para o ensino da linguagem no primeiro e segundo graus. Alravés de resultados de pesquisa, apresentados em minha tese de mestrado, intitulada "Ensino da Linguagem: a Configuragao de Um Drama’, cheguei a conclusio que a metodologia utilizada pelo professor @ um dos determinantes do fracasso escolar, um dos maiores problemas hoje, sem dtivida, da educagio brasileira. ‘Ao trabalhar com a perspectiva metodolégica, no deixo de considerar que outros determinantes concorrem, também, para esse problema mas, sem dtivida, ela tem peso e consequéncias sérias para 0 ensino da linguagem, principalmente nas primeiras séries do primeiro grau. A metodologia é vista como construgiio do saber pedagdgico pelo professor, a partir de suportes tedricos a respeito de fundamentos da educagao, da ciéncia com a qual trabalha e, ainda, de sua prépria pratica. No caso do professor de lingua portuguesa, 0 suporte tedrico que tenha sobre linguagem é fundamental para o encaminhamento de seu ensino, mesmo que ele néio tenha consciéneia disso. Nesta trabalho, pretendo discutir a natureza da linguagem, objeto do ensino do professor de lingua portuguesa e apresentar diferentes concepgdes que agrupei em minha tese, baseando-se em Geraldi (1974), em trés grandes tendéncias: 1 - Linguagem como expressiio do pensamento; 2 - Linguagem, como meio objetivo para a comunicagao; 3 - Linguagem como processo de interagio verbal. Pretendo, ainda, categorizar os tipos de ensino derivados dessa diferentes tendéneias, tentando demonstrar a influéncia delas no ensino de lingua portuguesa. Da adogao de uma concepedo ou outra, 0 ensino tomara rumos diferenciados, consubstanciando-se em priticas que concorreréo em maior ou menor grau para o problema do fracasso escolar. on LLINGUAGEM: NATUREZA E CONCEPCOES A linguagem, faculdade humana universal, 6 um fenémeno complexo que tem sua especificidade num modo de funcionamento que se dimensiona no tempo e no espago das praticas dos homens (Orlandi, 1988:102). Aquele que fala faz renascer do seu discurso 0 acontecimento e a sua experiéncia do acontecimento. Aquele que ouve apreende o primeiro discurso e, através desse discurso, 0 acontecimento produzido, Assim, a situagio inerente ao exercicio da linguagem que é a de troca e do didlogo confere ao ato do discurso dupla fungiio: para o locutor, representa a realidade, para 0 ouvinte recria a realidade. Isso faz da linguagem o proprio instrumento da comunicacdo intersubjetiva. (Bakhtin, 1986). A linguagem interpreta 0 mundo, mas submetendo-o a sua propria organizagio, Ela nao é simplesmente uma cépia do real 6, sim, # representago que o homem faz desse real. Essa representagio se opera mediante a capacidade que o homem possui de representar 0 real por signo e de compreender esse signo como representante do real. Essa capacidade que 0 homem tem de estabelecer uma relagio entre algo e algo diferente é 0 que o faz um ser racional. Como 0 simbolo nao tem relagiio direta com aquilo que simboliza, o homem precisa aprender o sentido do simbolo para interpretélo na sua Tuncao significativa. Uma das diferengas entre 0 homem e © animal est4 justamente nessa capacidade de representagdo simbélica, fonte comum do pensamento e da linguagem. Isso pinca-o A categoria de “Homo Sapiens.” Todavia, nao basta colocar frente a frente dois “Homo Sapiens quaisquer para que os signos se constituam. E preciso que esses individuos estejam socialmente organizados, que formem uma unidade social para que o sistema de signos possa se constituir. E indispensavel que © locutor e 0 ouvinte pertencam a mesma comunidade linglifstica, E mais, faz-se necessario, ainda, que esses dois individuos estejam integrados na unicidade da situagio social imediata; quer dizer, que tenham uma relagiio de pessoa para pessoa sobre terreno bem definido. (Bakhtin, 1986) Estudar a teoria dos signos tornase, portanto, imprescindivel para a compreensio da linguagem, Os signos nao existem somente como parte de uma realidade, eles podem também refletir e refratar uma outra realidade, eles nD podem distorcer essa realidade, ser fiel ou apreendéta de um ponto be vista especifico ete. Todo signo esté sujeito aos critérios de avaliagdo ideoldgica. O dominio do ideolégico coincide com o dominio dos signos: séo mutuamente correspondentes (Bakhtin, 1986) Por isso, estudar 0 signo implica compreendé-lo como signo jdeol6gico. Pensé-lo sobre outro viés 6 tirar sua caracteristica fundamental Sem signos niio ha ideologia, de onde se conelui que tanto a linguagem quanto a ideologia, no sentido de visio de mundo, séo de natureza semidtica (Frigotto, 1990). Para Bakhtin (1986) a ideologia & é concebida como sendo o reflexo da estrutura social, assim toda a modificagao da ideologia encadeia uma modificagio na lingua. A jdeologia é percebida como uma concepcao de realidade social, que veicula, esconde, articula e organiza os interesses da classe, Assim, a lingua se estrutura no contexto da ideologia, nas relagées s materiai aciais Nessa questdo da concepcao dos signos e, por conseguinte, da concepeao da linguagem, enquanto uma atividade social que nao pode ser pensada fora dos planos das relagdes sociais, como apenas um dado social, é que resicem as divergéncias fundamentais entre as varias teorias da linguagem. Para alguns, a ideologia é um fato do pensamento interior, sendo © signo uma representagao de sta realizado. Para outros, 0 pensamento se reduz a nada: € simplesmente reagdes psicofi- sioldgicas fortuitas que, por acaso, resulta numa criagdo ideol6gica significante e unificada (Bakhtin, 1986). Afesté um dos equivocos de algumas concepgées de linguagem que apresento mais a frente, pois, geradas com base nos prineipios acima, situarn 0 signo fora das relagées dos individuos socialmente organizados, Os signos s6 aparecem, na maioria dos estudos, no terreno interindividual. f preciso, entretanto, que se pense o signo almente, contextualmente. Situé-lo fora da disc 0 para um lado subjetivo. ‘Todo signo, como diz Bakhtin (1986); resulta de um consenso de individuos socialmente organizados no decorrer de um processo de interacdo. Razio pela qual as formas dos signos siio condicionadas tanto pela organizacao social de tais individuos como pelas Condigdes em que a interagio acontece. _ Pensar o signo apenas como resultado da consciéneia in- “vidual ou como “reacdes psicofisioldgicas fortuitas" sem levar em mpre soci 73 conta as condigbes gerais em que foi gerado, é, na realidade, deixar de percebélo como signo ideoldgico, realizado no processo da interagaio social. Importa, pois, que se pereeba a linguagem como um produto da realidade e, a0 mesmo tempo, parte constitutiva desta realidade, Bakhtin, por exemplo, situa a linguagem aa mesmo tempo como um processo social © um produto social, isto é, uma prética social que se funda em determinacdes materiais e, enquanto parte das relacbes sociais, lambém as influencia. O enfoque dado, até esse momento, ao signo leva em conta sua natureza semidtica, por isso, abarea todas as linguagens possiveis, enquanto fenémenos de produgao e sentido. Todavia, como ponto hasico para este trabalho € o ensino de lingua portuguesa, deter me- ei mais especificamente, daqui em diante, 4 linguagem verbal. Como uma das formas sociais de comunicacéo e de signi. ficago, que se diferencia das demais por ser uma linguagem de sons, articulada, a linguagem verbal deve ser estudada a luz dos principios acima apresentados, visto que é linguagem verbal que aparece mais nitidamente 0 aspecto da natureza ideolégica do signo, sendo a palavra o fendmeno ideolégico por natureza. A palavra 6 6 modo mais puro e sensivel da relacdo social. Se nasce com caréter monossémico, ao se contextualizar, passa a expandir valores, conceitos e pré-conceitos, portanto, a ter caréter polissémico, As palavras, no contexto, passam a indicar ideologias, cumprindo um amplo espectro de fungdes persuasivas As quais faltam a normatividade e o carater pedagégico (Citelli, 1988). Perder de vista esta questiio da significado da palavra é reduzi- Ja apenas a sua realidade fisica, acompanhada do processo fisiolégico de sua produgio. O que faz da palavra uma palavra 6 a sua significacao (Bakhtin, 1986). A transmissiio de significados constitui © fluxo intersubjetivo pelo qual circula a cultura, A experiéncia vivida, o real sentido percebido ou compreendido, 0 mundo real ou imagindrio, das teorias cientificas ou dos mitos, enfim, da vigilia ou do sonho, é mediado de homem a homem por estes concretos capazes de impressionar nossos sentidos: os signos (Epstein, 1986). Logo, 0 que importa num processo de interagao verbal é que 0 locutor seja capaz de utilizar um signo adequado as condigdes de uma situagio conereta dada e 0 locutor seja capaz de compreender sua significagao numa enunciagio particular. Nesse momento cabe, entéio, perguntar: Qual o papel da lingua enquanto um suporte material para a realizacio desse processo de 14 interlocucio? A lingua como um sistema de normas sociais somente existe se relacionado a consciéncia subjetiva dos individuos que participam da coletividade regida por estas normas. Isso nao implica que a lingua existe para a consciéncia subjetiva do locutor unicamente como sistema objetivo de formas normativas e intocéveis, ele se serve da lingua para suas necessidades enunciativas. O que importa nao é o aspecto da forma lingiiistica, mas aquilo que permite que a forma lingiistica figure num dado contexto, aquilo que a torna um signo adequado as condigdes de uma situagdo concreta dada. Para 0 locutor, a forma lingiiistica nfo tem importéncia enquanto sinal estavel © sempre igual a si mesmo, mas somente enquanto signo sempre varidvel e flexivel. Da mesma forma, ao receptor, para quem o essencial na tarefa de decodificacao no consiste em reconhecer a forma utilizada, interessa compreendéla num contexto concreto preciso (Bakhtin, 1986). Na pratica da lingua, a consciéncia lingtiistica do locutor e do receptor nada tem a ver com o sistema abstrato de formas normativas, mas apenas com a linguagem no sentido de conjunto dos contextos possiveis de uso de cada forma particular. A forma lingiiistica apresenta-se sempre aos locutores em situages precisas, 0 que implica sempre um contexto ideolégico preciso. A lingua no seu uso pratico é inseparivel do seu contetido ideologico ou relativo a vida. Portanto, se separar a forma lingiiistica do contetido ideolégico 86 se encontraréo sinais e n&o mais signos da linguagem. A separagio da lingua de seu contevido ideolégico constitui um dos problemas a ser considerado nas concepgoes de linguagem oriundas de correntes lingiiisticas, que nao levam em conta esse principio. Embora pudesse ir analisando e criticando as diferentes con- cepgdes de linguagem que no estio calcadas nos referenciais até aqui descritos, preferi agrupéas, juntamente com as que se sintoni- zam com esse referencial, em trés grandes linhas, que denomino tendéncias e que, para efeito didatico, sera apresentadas separada- mente, PRIMEIRA TENDENCIA; LINGUAGEM COMO EXPRESSAO DO. PENSAMENTO. Essa primeira tendéncia busca explicar a linguagem a partir das condigdes de vida psiquica individual do sujeito falante. Apoiase na enunciag’io monoldgica como ponto de partida para sua reflexao a respeito da linguagem c a apresenta como um ato puramente individual. A expresso é tida como categoria geral de nivel superior, que engloba o ato de fala, a enunciagao; se forma no. psiquismo do individuo, exteriorizando-se, objetivamente, pi outro com a ajuda de algum cédigo de signos exteriores (Bakhtin, 1986) Supde, portanto, um certo dualismo entre o interior e 0 exterior, com primazia explicita do contetido interior, j4 que todo ato de objetivagéo procede do interior para o exterior. ‘A expressio, isto 6 a linguagem, se constr i no interior, sendo sua exteriorizagao apenas uma tradugdo. £ a atividade mental que organiza a expressiio, modelando e determinando sua orientagio. esente o preceito da inter Nao esta pri muito menos a situa enunciacio. © exterior, isto é, as condigdes sociais constituem-se, para e: tendéncia, material passivo do que esté no interior, no psiquismo do. individuo. Essa tendéncia esta sinteli seguintes proposigées: io entre dois individuos, ‘0 social que determina as condigées reais da da por Bakhtin (1986:72 © 73), nas 1- A lingua € uma atividade, um processo ininterrupto de construgao (energia) que se materializa sob atos individuais de fala; 2 As leis da criagao lingiifstica sao essencialmente as leis da psicologia individual; 3 - A criagdo lingiifstica 6 uma criagdo significativa, andloga a criagio artistica; 4 A lingua, enquanto produto acabado ("ergon") enquanto sistema estavel (léxico, gramitiea, fonética) apresentase como um depésito inerte, tal como a lava fria da criagio linguistica, abstratamente construfda pelos lingiiistas com vista i pratica como instrumento para ser usado. Para os te6ricos dessa tendéncia, a linguagem ¢ uma faculdade 16 givina, O homem jé nasce com a capacidade de exteriorizar seu pensamento que é gerado no seu psiquismo. De sua capacidade de Brganizar © pensamento, dependeré sua exteriorizacéo. Se o homem qa consegue Uma organizacao légica para o scu pensamento, sua Iinguagem estara afetada, isto é, desarticulada, desorganizada, O pensamento deve ser organizado, portanto, obedecendo a uma Reterminada légica, Isso significa que, se o individuo nao se utilizar dessa logica, dificilmente tera condigdes de organizar seu pensamento. Equivale dizer que se ele nfio consegue se expressar fom logicidade € porque nio é capaz de pensar. Assim, presume-se que ha regras a serem seguidas para se alcancar a organizacio légica do pensamento e, conseqitentemente, da linguagem. Essas regras constituem-se modelos formais a serem seguidos por todos aqueles que querem se expressar "bem" e, por isso mesmo, sao passiveis de serem aprendidas. So elas que se constituiréo nas normas da gramatica derivada dessa tendéneia, apresentada logo mais adiante como gramatica do tipo 1 SEGUNDA TENDENCIA: LINGUAGEM COMO MEIO OBJETIVO PARA A COMUNICACAO © centro organizador de todos os fatos da lingua para essa tendéncia situase no sistema lingtiistico, a saber: o sistema de formas fonéticas, gramaticais ¢ léxicas da lingua. A lingua 6 considerada como um espectro imével, onde cada enunciacéio 6 unica e no reiteravel, mas em cada enunciacao encontram-se elementos idénticos aos de outras enunciacdes no seio de um determinado grupo de locutores. So esses tracos idénticos que garantem a unicidade de uma dada lingua e sua compreensao Por todes os lecutores de uma mesma comunidade. (Bakhtin, 1986:77) © sistema lingiiistico é percebido como um fato objetivo externo a consciéncia individual e independente desta. A lingua ©pde-se ao individuo enquanto norma indestrutivel, peremptoria, que 0 individuo sé pode aceitar como tal. Todas as formas da lingua, consideradas num momento Preciso, ou seja, do ponto de vista sincrénico, sie indispensdveis 1 umas as outras, completam-se mutuamente e fazem da lingua um sistema estruturado que obedece a leis lingliisticas especificas. Estas leis, diferentemente das leis ideoldgicas, que se referem a processos cognitivos, & criagéio artistica, nao podem depender da consciéneia individual. Pode-se sintetizar como essencial para essa tendéncia as seguintes proposigée: 1 - A lingua 6 um sistema estavel, imutavel, de formas lingiiisticas submctidas a uma norma fornccida tal qual a conseiéncia individual ¢ peremptéria para esta; 2 - As leis da lingua sio essencialmente leis linguisticas especificas, que estabelecem ligacées entre os signos lingtiisticos no interior de um_ sistema fechado, Essas leis so objetivas relativamente a toda consciéncia subjetiva. 3 - As ligagSes lingtiistieas especificas nada tem a ver com valores ideolégicos (urtisticos, cognitivos ou outros). Nao se encontra, na base dos fatos lingiiisticos, nenhum motor ideol6gico. Entre a palavra e seu sentido nao existe vinculo natural ¢ compreensivel para a consciéncia, nem vineulo artistico. 4- Os atos individuais da fala constituem, do ponto de vista da lingua, simples refragSes ou variagoes fortuitas ou mesmo. deformagdes das formas normativas. Mas so justamente estes atos individuais da fala que explicam a mudanga historica das formas da lingua, enquanto tal, a mudanea 6 do ponto de vista do sistema, irracional ¢ mesmo desprovida de sentido. Entre o sistema da lingua © sua histéria nao existe um vineulo nem afinidades de motives. eles so estranhos entre si, (Balchtin: 82-83) Pelo exposto, pode-se afirmar que também essa tendéncia esta voltada para o estudo da enunciagéo monolégica isolada, reduzindo- se as relucSes imanentes no interior do terreno da enunciagao. Todos os problemas advindos das questées externas da enunciagio ficam excluidos no estudo dessa tendéncia, que vai além. dos elementos constitutives da enunciacio monoldgica. Seu aleance maximo é a frase complexa (0 periodo). Faxse necessario explicitar, aqui, que essa tendéncia teve origem num momento histérico em que as ciéncias humanas e 8 sociais estavam em busca de uma metodologia que permitisse uma gemarcagio do objeto, no sentido de uma anélise positiva semelhante as realizadas pelas ciéncias naturais. aussure, através de seu curso de Linguistica Geral (1916), jnaugura o movimento que vai ser conhecido como estruturalismo, passando, a partir dai, a linguistica a ser modelo de ciéncia e releréncia obrigatoria a qualquer retomada historica nessa area A pretensao do estruturalismo de fundar um método objetivo e cientifico da realidade social derivou numa visio formalista, limitando 0 estudo da lingua no seu funcionamento interno e separando-a do homem no seu contexto social. (Frigotto:20) Saussure, ao considerar o individuo como circunstancial no processo de comunicagao, excluiu-o do processo de produgao, isto é, daquilo que é propriamente social ¢ hist6rico. Numa reaciio inicial a essa corrente, outra matriz do pen- samento linguistic surge com N. Chomsky, com grande influéncia para essa tendéncia: a gramética gerativo-transformacional. Tendo como pressuposto que um conjunto de enunciados potenciais em qualquer lingua é numericamente infinito, Chomsky propds um método para explicar a geracio desses enunciados, tebalhande com dois conceitos fundamentais: a competéncia linguistica e@ desempenho linguistico. Segundo Frigotto (1990), a distingdo entre competéncia ¢ desempenho de Chomsky é semelhante a distingéio que Sussure faz entre langue e parole. Ambos contam com a viabilidade de excluir © que 6 linguistico do que nfo @ e ambos aderem A fixago da homogeneidade do sistema linguistico. Assim para os teéricos dessa tendéncia, que concebem a linguagem como meio objetivo para a comunicacéo, hé um cédigo que deve ser dominado pelos falantes para que essa comunicagio se processe. © uso do cédigo é um ato social, isto 6, sempre envolve Pessous, pelo menos duas, senfio ndo haveré comunicagiio e, para (ue essa comunicacao realmente se realize, @ necessario que os envolvides no ato manipulem os sinais do cédigo de forma comum, Preestabelecida, (Fobé, mimeo) Dessa forma, existem regras que devem ser perseguidas pelo falante-cuvinte para que se estabelesa a comunicagio. Essas regras Ser80 resgatadas pela gramatica que concretizo mais A frente como Sendo do tipo 2 79 TERCEIRA TENDENC! INTERACAQ VERBAL LINGUAGEM COMO PROCESSO DE Entende essa tendéncia que a verdadeira substincia da linguagem nfo é constituida por um sistema abstrato de formas linguisticas, nem pela enunciagio monolégica isolada, nem pelo ato psicofisiolégico de sua produgéo, mas pelo fenémeno social da interagio verbal, realizada ‘através da enunciagio ou das enunciagées. A interagdo verbal constitui, assim, a realidade fundamental da linguagem. © diélogo, no sentido estrito do termo, néo constitui, é claro, senfio uma das formas, é verdade que das mais importantes, da interac verbal, mas pode-se compreender a palavra didlogo num sentido amplo, isto é, néo apenas como comunicagao em voz alta, de pessoas colocadas face a face, mas toda comunicacio verbal de qualquer tipo, Qualquer enunciagao, por mais significativa e completa que seja, constitui apenas uma fracdo de uma corrente de comunicacio verbal ininterrupta (concernente A vida colidiana, a literatura, a politica etc...), mas essa comunicacao verbal ininterrupta constitui, por sua vez, apenas um momento na evolucao continua, em todas as diregdes, de um grupo social determinado. (Bakhtin, 1986:123) A comunicacao verbal s6 pode ser explicada ¢ compreendida nas relagdes da interaciio concreta e na siluacio extralinguistica, nao soa situagdo imediata, mas também, através dela, © contexto social mais amplo. A comunicagao verbal entrelagase, pois, aos outros tipos de comunicag&e e cresce com eles no terreno comum da situacio de produc. Nao se isola, assim, @ comunicagio verbal de uma comunicagao global em perpétua evolugao. Aabordagem dada por essa tendéncia nfo separa a enunciagao de seu curso histérico, colocando a enunciacao como realidade da linguagem e como estrutura s6cio-ideol6gica. Nesse sentido, as quatro proposigdes abaixo, apresentadas por Bakhtin, adequam-se a concepeio de lingua adotada por essa tendéncia: 1- A lingua como sistema estivel de formas normativamente idénticas é apenas uma abstracdo cientifica que s6 pode servir a certos fins tedricos e préticos particulares, Essa abstragao nao dé conta de maneira adequada da realidade conereta da lingua; 2 A lingua constitui um processo em evolugao ininterrupta, x0 que se realiza através da interagio verbal social dos locutores: 3 - A criatividade da lingua ndo coincide com a criatividade grtistica nem com qualquer outra criatividade ideolégica especitica. yas, 20 mesmo tempo, a criatividade da lingua nfo pode ser compreendida independentemente dos contetdos e valores jdcolégicos que a ela se ligam. 4- As leis da evolugio linguistica nZo siio de mancira alguma as leis. da psicologia individual, mas também nio podem ser divoreiadas das atividades dos falantes. A: leis da evolucio Jinguistica so essencialmente leis sociolgicas; 5 - A estrutura da enuneiagic é uma estrutura puramente social. A enunciaco como tal s6 se efetiva entre falantes, O ato de fala individual (no sentido estrito do termo “individual’) € uma contradietio in adjecto.” (Bakhtin, 1986:127) Essa tendéncia percebe @ linguagem como produto historico: social @, diferentemente da anterior, realga que 2 fala, como fendmeno social, est4 sempre ligada as estruturas sociais. AS DIFERENTES CONCEPCOES DE LINGUAGEM EM RELAGAO AO ENSINO DAS LINGUAS Quando um estucante aprende uma determinada lingua esta implicito que ha uma concepgéo de linguagem susientando as acdes do professor e/ou do manual didatico adotado, Se esse enfoque da lingua for indevido, a gramética baseada a abordagem sera impropria ¢ de pouco valor para o estudante, oferecerThe categorias que nfo pode mancjar ¢ proposigées que nao pode interpretar ou aplicar. No pior dos casos, representara incorretamente os fatos da lingua (Halliday, 1974). As gramaticas cabem, pois, dar uma compreensao e fun- Cionamento da lingua, descrevendo-0 cv modo mais eficiente. As Sramaticas devem possibilitar uma aprendizagem do significado da lingua para aqueles que a utilizam. Assim, 6 importantissimo que se faca uma anélise das teorias Subjacentes as gramaticas utilizadas como base para o ensino das linguas, além da forma como se estrutura o ensino baseado nessas Sramaticas 81 1-GRAMATICA DO TIPO 1 (ligada aos principios da primeira tendéncia: linguagem como expressio do pensamento) Derivada da primeira tendéneia, essa gramatica designa u1 conjunto de regras a ser seguido por aqueles que querem falar escrever corretamente, Hari (1986) cita Soares Barbosa como ascendente de todos autores dessa chamada "gramatica tradicional" que seguem seu principios basicos, assim expostos: "A gramatica da lingua nacional 9 primeiro estudo indispensavel a todo homem bem criado, 0 qui ainda que nao aspire a outra literatura, deve ter ao menos a de fala © escrever corretamente sua lingua: (...) Esta arte deve compreende as razdes das préticas do uso, e mostrar os prineipios gerais de tod linguagem no exercicio das faculdades da alma, ¢ formar assim un légica pratica que, ao mesmo tempo que ensina a falar bem propria lingus, ensina a bem discorrer. As linguas sao uns métod analiticos que Deus deu ao homem para desenvolver su faculdades. Elas si 0 primeiro exemplo das regras de analise, di combinacao ¢ do método, que as ciéncias mais exatas seguem em sue as operacées." (Gramatica Filoséfica) Como a lingua é concebida como produto aeabado, enquant sistema estdvel, ha regras ¢ normas constituidas a priori que deve ser seguidas. E como se tivesse um depdsito com pacotes prontos serem usados por qualquer falante de determinada lingua. Nesse sentido, a lingua @ coneebida como uma tnica va riedade, denominada padréio, que deve ser seguida por todos o: cidadaos falantes dessa lingua. Outras formas de falar e escrever que se afastem des variedade padrio so consideradas erradas, nao-lingwa. Embora dé enfase & oralidade, = gramatica gerada des: tendéncia tem na escrita 0 instrumento necessdrio para a d terminagio de suas regras. Ao escolher a escrila como base, elege textos de escritores consugrados pela literatura, uma vez que quel demonstrar os bons usos da lingua. Uma gramiitica assim concebida exclui qualquer variedade di lingua-oral ou escrita, Trata-a como vicio de linguagem e como t deve ser corrigida, tendo em vista a variedade padrao. A variagd linguistiea ¢ vista como desvio, aquilo que foge A norma considerado erro, O falar & 0 escrever corretamente tem que seguil portanto, os cfinones ditades pelas regras gramaticais qu! determinam a linguagem correta, ‘A gramatica para essa tendéncia é concebida como definitiva ¢ xplorada nas aulas de forma fragmentada e arbitréria, visto que os tople os gramaticais sio apresentados como fragmentos que nao passuem Telagao entre si e sua seriago, nfo apresentande nenhum Byterio que determine as razSes para que esse ou aquele assunto Gevam vir antes ou depois. Como a linguagem € concebida como expressio do pen- samento, aquele que nao se expressa dentro dos padrdes impostos pela gramatica é tido, ao nivel do senso comum, como pessoa que Inio sabe ou no 6 capaz de pensar. 2-GRAMATICA DO TIPO 2 - (Ligada aos prineipios da 2* tendéncia: Linguagem como meio objetivo para a comunicagiio) A gramitiea é concebida como um conjunto de regras que 0 Gentista da linguagem encontra nos dados que analisa, a luz de determinada teoria e método. So as regras utilizadas pelos falantes de determinada lingua na construgao real de enunciados. Para esse tipo de gramitica, a lingua equivale a um cons- trutor’ te6rico, necessariamente abstrato e que, por isso néo prevé variagées no sistema. (Possenti, 1984:53) Isso nfo quer dizer, entretanto, que essa gramitica des- considere as variagdes linguisticas, pelo contrario, néo apresenta nenhum preconceito contra qualquer tipo de lingua ou contra qualquer variedade linguistica. Esse tipo de gramética baseado na oralidade, utilizandose como base para sua andlise uma concepeao de lingua como um sistema independente de fatores extralinguisticos, exclui totalmente © papel da histéria ¢ das reais relacdes entre os falantes, (Possenti, 1984) Tanto a graméatica estrutural quanto a gerativo-transfor- macional enquadram-se nesta segunda tendéncia. A gramatica estrutural tem a concepgao de linguagem como meio de comunicacdo, nao implicando, todavia, 0 aspecto da interlocugiio. Descreve a lingua em uso de uma certa comunidade e €M certa época, introduzindo progressivamente a nocio de nivel de lingua: formal, familiar, ete. Da énfase aos aspectos morfolégicos e fonolégicos da lingua, dando tratamento insuficiente a sintaxe, uma vez que descreve somente as estruturas superficiais da oracdo. un es de impress aa pala "vonstator, uma ver que Posseatl tame, em suid, come construte, 83 Ja a gramética gerativotransformacional 86 consider enunciados ideais aqueles produzidos por um falante ideal, qu pertence a uma comunidade linguistica ideal (Possenti, 1984) Estabelece que somente pode haver comunicagao entre alguér se houver 0 mesmo conhecimento subjacente da lingua. Por isso, fornece as regras que permitem construir sistematicamente oragé complexas e gerar um niimero infinito de construcées gramaticais, Admite a existéncia de universais linguisticos e analogias entre linguas a nivel de estrutura profunda, permitindo a caracterizaca de nogoes de gramaticalidade e agramaticalidade das linguas Embora com enfoques diferentes, as correntes linguisticas q sustentam esse tipo de gramatica tem em comum o fato d abstrairem a linguagem do seu contexto histérico-social e propore uma homogeneidade do sistema linguistico. 3 -GRAMATICA DO TIPO 5 - (Ligada aos principios da terceira tendéncia que concebe a lingua como um conjunto de variedades linguisticas que permeia 0 processo de interacio verbal) Embora possa haver discussio a respeito de uma denominacat de "gramatica” a caracterizacaio que faco nesse item, entendo que perfeitamente possivel fazélo, se se considerar a lingua como um: conjunto das variedades linguisticas utilizadas por determinad comunidade; 0 conjunto das regras que o falante de fato aprendeu das quais langa mo ao falar construir-se-d em uma "gramatica’, Dai ter denominado essa seco de "gramiticas do tipo 3", aquelas que tem como compreens&o que as variedades Linguistica nao determinam diferencas do tipo bem/mal, bom/ruim, ma! simplesmente formas coexistentes. As variedades nfo sio, des: forma, erros, mas diferencas. Para esses tipos de gramitica, nao existe o erro linguistico. que ha séo inadequagdes de linguagem, que consistem nao no uso d uma variedade, ao invés de outra, mas no uso de uma variedade invés de outra numa situacéio em que as regras sociais ndo abona aquela regra da fala, Todas as variedades siio consideradas boas e corretas funcionam sempre de acordo com regras rigidas, impostas pela préprias comunidades que as falam. Isto implica que os falant atribuam valores as formas linguisticas, valorizando, eles préprios, as vezes, uma determinada forma. Assim, para essas gramiéticas néo existe nenhuma variedade poa ou ruim em si mesma, © que hi siio Tinguas © variedades que jerecem maior atenco do que outras, segundo necessidades ¢ feicdes historicamente explicaveis, (Possenti, 1986) O contexto extra-linguistico é tido como fundamental, uma vez que So na interrelagdo a linguagem se estabelece, isto 6, ligada a Quiros fatos sociais. As linguas, assim, ndo so sistemas que pairam icima dos que falam e nao sao isentas de valores atribuidos pelos que falam, (Possenti, 1986) ‘A linguagem vista como proceso interativo permite, portant, ‘0 uso de diferentes gramaticas, em conformidade com o propésito do ¢ do contexto em que se estabelece, da interlocu 0 ENSINO DE LINGUA A PARTIR DAS CONCEPCOES DE LINGUAGEM. Baseando-se nas concepgdes de linguagens anteriormente descritas, o ensino de lingua portuguesa pode configurar-se num dos tipos abaixo descritos, conforme terminologia de Halliday (1974). TIPO 1 - ENSINO TRADICIONAL OU PRESCRITIVO © ensino prescritive, apoiado na concepeao de linguagem aescrita na primeira tendéncia, tem como finalidade ensinar os alunos a substituirem seus padres de atividades lingu considerados errados por outros considerados corretos. Este ensino significa sclecionar os padrdes em qualquer nivel, Que silo apontados por alguns membros da comunidade linguistica, © usar priticas padronizadas de ensino para persuadir o aluno a se conformar aqueles padroes. (Halliday, 1974) Através do ensino prescritivo, induzse o estudante a substitu’ Sua linguagem por outra "melhor" elaborada, por constituirse a forma gramaticalmente correta. AS experiéncias dos alunos sio desconsideradas nesse tipo de ensino, visto que, a priori, séo tidas como incorretas. tieas 85 A lingua escrita tem predominio sobre a li exemplos utilizados como padrao de corre¢io sin retiradas literatura classica tida como modelo do "bem" escrever. A corregio dos aspectos formais da linguagem escrita é um d abjetivos basicos desse tipo de ensino. Dessa maneira, 0 aluno impedido de utilizar na lingua escrita os padrées aceitaveis da lingu falada. gua falada eo, Destacam-se no ensino moldado nessas _caracteristica: segundo Brito (1972, - O apeyo aos candnes gramaticais, estruturados segundo o: moldes da tradigdo classica; A repetig&o, anos a fio, dos mesmos enunciados, regras exemplos dos modelos selecionados como "corretos" ¢ "bons"; - A auséncia quase total das atividades de leitura e produgio (p. 20) texto: Além de prescrever 6 assim nfo ¢ assado, o ensino tradicional, mesmo antes que os alos dominem a variedade considerad padrdo, j4 comeca a trabalhar a metalinguagem de andlise dess variedade, com exercicios de descricao gramatical, estudo de regras, detinicdes, ete. A maior parte do tempo nas aulas de lingua nesses moldes gasta para o aluno aprender a metalinguagem de andlise da lingua, passando, assim, as aulas a serem de definigdes, classificacdes dos fatos gramaticais, completamente independentes de excreicio de linguagem, que raras vezes ou nenhuma vez acontece. Em aulas cujo foco ¢ 0 ensino prescritivo, tudo é transformado em exercicios sobre a lingua, aquela que ndo 6 conhecida do aluno, que ¢ inerte, estando a disposicao para dissecagdo ¢ classifiencéo. Nesse sentido, as aulas de lingua apresentam-se como wi conjunto de atividades desvinculadas umas das outras © que apen se somam e se acumulam. Anos a fio, é dada uma repetigio d mesmos tOpicos gramaticais, considerados essenciais para o be falar eo bem escrever. Tépicos como classe de palavras bem como funcoes sintaticas dos elementos da frase so dados desde o primeiro até o segundo grau A gramatica 6 dada, portant, para se cumprir um program previamente estabelecido sem se levar em conta as dificuldades ov nfo dos alunos no emprego que fazem efetivamente da linguagem, hessa Ou naquela ocasiao, num processo de interacao verbal. 86 ‘TIPO 2 - ENSINO DESCRITIVO © ensino descritivo, tendo como suporte a segunda tendéncia, preocupa-se com 0 modo como a linguagem funciona. A lingua que o Fjuno domina desempenha papel fundamental, uma vez que nao ha jnodelo privilegiado de lingua ou variagdes lingufsticas. Todas as Yariedades, em prineipio, possuem igual valor. © objetivo desse tipo de ensino é que os alunos aprendam aiguma coisa sobre a natureza da linguagem, usando, sem Thes ser hecessario Compreender porque e como as funcdes que dela se espera ou, na verdade, quais sfio essas fungdes. (Halliday, 1974) © ensino baseado nesses principios pressupde que o aluno internalizaré regras linguisticas diferentes daquelas que usa, a partir do momento que estiver exposto as nogdes sobre o que a linguagem faz e como faz, Esse ensino consiste, pois, em mostrar ao aluno como a lingua funciona, mediante a ordenago e os acréscimos relatives ao seu uso da lingua materna (Halliday, op. cit) Como a gramatica da lingua nessa perspectiva preocupa-se em. descrever e revelar relagdes que se estabelecem entre os elementos do sistema linguistico, nos seus mais diversos niveis (fonolégico, morfo-semantico e sintético), a maneira como se organizam os elementos dentro do sistema vai ser 0 objetivo do ensino que se utilizaré dos exercicios estruturais para treinar as estruturas linguisticas. Os exercicios estruturais véo ser, pois, ponta de langa da melodologia construfda com base nos principios acima descritos, visundo a automatizacio de estruturas da lingua para sua utilizacdo, quando necessaria, na situagdo de comunicacao. © objetivo é que 0 aluno adquira habitos linguistics que sio reagdcs aprendidas e que se repetem em cireunstancias semelhantes. Esse tipo de ensino enfoca, sobretudo, 0 saber fazer, Através da repetico, © aluno ird absorvendo formas que comporso seu ‘niverso linguistico, ficando munido de estruturas que © auxiliem No aperfeigoamento da capacidade de uso de um meio de comunicagio. E bom lembrar, aqui, que os exercicios estruturais que os livros . Usa se a mecanizacio para essa Aidaticos trazem o sio para "corrigi Conecao. Portanto, os "pattern: sdo da lingua padr 0. 87 ‘TIPO 5 - ENSINO PRODUTIVO 1 © ensino produtivo, diferentemente dos outros dois tipos j apresentados, niio tem por objetivo alterar padrdes que o aluno ji adquiriu, mas aumentar os recursos que possui ¢ fazer isto de mod tal que © aluno tenha a seu dispor, para uso adequado, a maiot escala possivel de potencialidades de sua Mingus, em todas as ersas situagbes em que tem necessidade delas. (Halliday, 1974) Apoiado nos principios da terceira tendéncia, ao aluno é dada oportunidade de aprender diferentes variedades da lingu adequadas a diferentes situagdes. O ensino tem por objetivo, portanto, colocar o aluno em situagGes efetivas de uso da lingua. E amplitude ¢ 0 uso de diferentes variedades o foco desse ensino. Como no se elege uma variedade como boa ou correta, ess tipo de ensino mostra aquilo que é adequado e/ou eficiente pa determinado propésito. Assim, a linguagem 6 vista como producdo, fruto do trabalh coletivo de individuos © das circunstancias. Os alunos sie considerades como falantes da lingua ensinada em constante trabalho de producao. As_gramaticas da Imgua siio entendidas, portanto, como conhecimento produzido coletivamente a partir de um trabalho, linguistico realizado nas situagSes coneretas de interagdo verbal, um, conhecimento da lingua construido pelo seu uso efelivo. ] 88 pIBLIOGRAFIA BAKHTIN, Mikhail. Marxismo ¢ filosofia da Linguagem. Sao Paulo: Hucitec, 1986. pENVENISTE, Emile. Problemas de Linguistica Geral. Cumpinas: Pontes, 1988. BRAGA, Maria Lucia Santaclla. Producio de Linguagem e Ideologia. Sao Paulo: Cortez, 1980, CASTILHO Ataliba T. de. Variagao Linguistica. Norma Culta e Ensino de Lingua Materna, mimco. CHAUI, Marilene de Souza. Ideologia e Educacao. mimeo, Unicamp. CITWLLI, Adilson. Linguagem e Persuasao. Sio Paulo: Atica, 1988. COSERIU, Eugenio. 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