Você está na página 1de 291
DO CC AENTO PESQUISA QUALITATIVA EM SAUDE 11.8 EDICAO bigs Be chs, =< SALIDIEM DEBATE TIMUCOS EDITANES bE 2006 a 2008 Se Ty Dia: Una Constructo Coletta, Rogério Carvatho Santos uss Faces da Mentunha: Estudles sobie Medicina Chinesue Ac ne Perplexadae na Universidade: Vieencias nos Cursos de Saide, Eymond Mocrae vo cata 80 Natcimenec Simon Tuto de Saiude Coletva, Gastdo Wagner de Sousa Campos, Maria Cacia de Souza Minayo, Brumond Ir. & Yara Maria de Carvalho (orgs) . * Marco Akerman, arc, Brive Ante ¢ Ciéncia’ Fundamentos Hermentutices da Medicina Homegpinca, Paulo Rosenbaum A Conserucao da Medicina Inuegrarit; um Desafio para o Campo da Sauide, Nelson Filice de Barros A Satide ¢ o Dilema da Intersetorialidade, Wiz Odorico Monteito de Andrade Othatres Socioantropoligicos Sobre os Advecides Crdnicos, Ana Maria Canesqui (orp) Na Roca do Radio: 0 Radulista ¢ as Poltticas Puibtivas, Ana Luisa Zanibon) Gomes SUS: Pacto Federative e Gestdo Publica, Vanka Uathosa do Nascimento Memirias de um Médico Sanitarsta que Virow Professor Enquanto Fscrevia Sobre. « Gastio Wagner de Sousa Camp. Satide da Familia, Saude da Crianca: a Resposta de Sobral, Anamaria Cavalcante Silva O Projeto Terapéutico e a Mudanya nos Modes de Produar Saude. Gustavo Nunes de Oliveira As Dimensbes da Saude: Inquério Populacional em Campinas, SP, Masilisa Berti de Azevedo Bastox, Chestes Lie Gah César, Luana Carandina & Moisés Goldbautn (ots) ; Avaliar para Compreender: Uma Experiéncia na Gestda de Programa Social com Jowens em Osasco, SP, huan Carlos Anes Fernandez, Marisa Campos & Dulce elena Cazzuni (orgs.) ; ; Elica nas Pesquisas em Ciencias Humanas ¢ Soviais na Saxide, lara Coelho Zito Gnerriero, Maria Lusiga Sandoval Sch & Fabio Zicker (orgs.) SERIF “LINHA DE FRENTE” Ciencias Sociais ¢ Sailde no Brasil, Ana M Fn Canesqui f Econdmica em Sauide, Leila Sancho ; ; romeo ia Sate ¢ Gestdo Local, Juan Carlos Aneiros Femandez & Rosilda Mendes (orgs) JAS DEMAIS OARAS DA COLFCAG “SAUDE Fa DEBATE ACHAM-SE NO FINAL BO LINBO. MARIA GECILIA DE SOUZA MINAYO WRCUOEEL 1 | | | DEDALUS - Acervo - EE : ! [ 10200013785 Oo DESAF 10 DO CONHECIMENTO Pesquisa Qualitativa em Satide DECIMA PRIMEIRA EDICAO TT COLR Oc ENFERMAGEM BIBLIOTECA “WANDA DE AGUIAR © 2004, de Maria Ceeflia de Souza Minayo. © 2006, desta edicio, de Aderaldo & Rothschild Editores Lida. Rua Jodo Moura, 433 05412-001 Sao Paulo, Brasil Tel./Fax: (55 11)3083-7419 (55. 11)30609273 (atendimento ao Leitor) lerereler@hucitec.com.br www.hucitec.com.br Depdsito Legal efetuado Assistente editorial Martana NADA Dados de Catalogacao na Publicagao (CIP) (Sandra Regina Vitzel Domingues) M615 Minayo, Maria Cecilia de Souza O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em satide./Maria Cecilia de Souza Minayo. = 11. ed. - 5a0 Paulo: Hucitec, 2008 . 407 p,; 21 cm. - (Satide em Debate; 46) Referéncias: p. 393 ISBN 85-271-0181-5 1. Pesquisas Sociais - Metodologia 2. Satide Publica - Pesquisa I. Titulo II. Série CDD 614,072 rc ER, indice para catdlogo sistematico: 1. Pesquiss Sociais: Metodologia 614.072 2. Pesquisas: Sauide Publica 614.072 Parte I CONCEITOS BASICOS SOBRE METODOLOGIA E SOBRE ABORDAGENS QUALITATIVAS. Na SOCIEDADE OCIDENTAL, a ciéncia € a forma hegemo- nica de construgdo do conhecimento, embora seja considera- da por muitos criticos como um novo mito da atualidade por causa de sua pretensio de ser 0 tinico motor e critério de verdade. Particularmente nado concordo com os que absolu- tizam o sentido e 9 valor da ciéncia, pois a humanidade sem- pre, desde que existe 0 Homo sapiens, criou formas de explicar os fenémenos que cercam a vida e a morte e o Sugar dos in- dividuos na organizacao social, assim como os mecanismos de poder, de controle ¢ de reproducaio, Desde tempos ime- moriais, as religides, a filosofia, os mitos, a poesia e a arte tem sido instrumentos poderosos de conhecimento, desvendan- do légicas profundas do inconsciente coletivo, da vida co- tidiana e do destino humano, O que a ciéncia possui de dife- rencial em relacao as outras modalidades de saber? Mencionarei duas razdes da hegemonia contemporanea da ciéncia como forma de conhecimento. Uma externa, que se acelerou a partir da modemidade, e diz respeito a seu po- der de dar respostas técnicas e tecnoldgicas aos problemas postos pelo desenvolvimento social e humano. Embora esse ponto seja discutivel, uma vez que problemas cruciais como n i Sons abba oatin ts divest caaleee 5; conceitos basicos i i tinuam a desafiar a, i violéncia con oe reza,, miséria, forme ¢ s sasidélstertie, Sees sem ‘que g ciéncia tenba rn on a respostas € propostas efetivas. A sas ee aii abe, jentistas terem. $} a iste no fato de os cientists wicancdita ee linguagem universal, fundamentacs ac ia - d écnicas para a compreensio ¢0.™ 1 ie ae s relacées € das repre. sas, dos fendmenos, dos proc é sentacdes. Regras univ guagem comum divu atualizacao e criticas perm. 36 metodologia ¢ abordagen: qoatitativa: essos, dai ersais e padroes rigidos permitindo uma lin. Igada e conhecida no mundo inteiro, anentes fizeram da ciéncia a “cren. ca’ mais respeitavel a partir da modemidade. A a da cén. Gia, que se tormou um fator produtivo de elevada poténa: na contemporaneidade, levou o fildsofo Popper (1973) a dar énfase em suas andlises a ldgica interna da Comunidad Cientifica, utilizando pata isso a expressdo 0 terceiro mundo uma espécie de classe ou casta, com sua economia e légica préprias, embora permeado por conflitos e contradi¢Ges come qualquer outa criacao e instituicao humana. © certo é que o campo Gentifico tem suas regras para conferir o grau de Gen- tificidade ao que € produzido e reproduzido dentro e fon dele. Suas atividades caminham sempre em. duas diregdes — numa, elabora suas teorias, métodos, principios e estabele- ce resultados, Noutra, inventa, ratifica seu caminho, aban- dona Certas vias e orienta-se por novas rotas, Ao se envered2! fide es s cientistas aceitam: as condices inst soriedade peculiar do uae outer de historiddade all vida, Iverso em que decidiram investir Ao introduzit o lei discutir com: ele ee ss trabatho, pretend que asseguram. a cientificidade das pera eee Apresento alguns conceitas im ® atividades de pes . a pOrtantes para cuem entra ™ & ie hanna metodologia e abordagens qualitativas: conceitos bisicos 37 qutirei: (1) a especificidade das ciéncias sociais no universo cientifico; (2) 0 conceito de metodologia de pesquisa; (3) 0 conceito de pesquisa social; (4) o conceito de método quali- ative em contraposi¢do a método quantitativo; (5) as con- tradigdes € OS CONSensos na combinacac de métodos quanti- tativos € qualitativos. a8 So ) prs at idade je do ide ¢ nto ¢ 5 $0" capt eri metodotogla de pesquisa social e em saude 43 dade que éa vida dos seres humanos em sociedade, ainda que de forma incompleta, imperfeita ¢ insatisfatoria, O acer- yo dessas Ciéncias contempla o conjunto das expressdes hu- manas constantes nas estruturas, nos processos, nas telacdes, nos sujeitos, nos significados e nas representagdes. As regula- ridades desse conjunto de elementos se expressam nas abor- dagens quantitativas, fazendo a juncao das dimensdes de ex- tensividade e de intensividade inerentes a todos os processos que dizem respeito aos seres vivos e, principalmente, aos se- res humanos. Como lembra Kant em sua Matemdtica Transcen- dental, a quantidade é, em si mesma, uma qualidade do obje- to, assim como a qualidade é um dos elementos da quantidade. Por exemplo, quando se fala de Saude ou Doenga, obser- va-se que essas duas categorias trazem_uma_catga_historica, cultural, politica e ideolégica que nao pode ser contida ape- nas numa formula numérica ou num dado estatistico, embo- qa os estados de ordem quantitativa apresentem um quadro de magnitude e de tendéncias que as abordagens historicas ¢ socioantropolégicas nao informam. Ambas as abordagens sao importantes € 0 ideal no campo da pesquisa em satide é que sejam wabalhadas de forma que se complementem sistemati- camente. Gurvitch (1955) lembra que a realidade tem cama- das que interagem e a grande tarefa do pesquisador é com- preender e apreender, além do visivel, do “morfoldgico ¢ do ecoldgico”, os outros niveis que se interconectam e tormam o social tia complexo. Neste livro, porém, qualitativo das ciéncias sodiais e da metot construir teoricamente © significado de 9 escopo ¢ especifico: tratar do carater dologia aprapriada para Satide e de Doenga. Conceito de Metodologia do que o proprio conceito de metodolo- assunto controverso. 14 como € caso da maior Comeco dizen gia, foco da discussao, jd ¢ em sim, quem o iguale a métodos € técnicas, aatotogta de pearls social ¢ ent Rane eriranoe produvidos pe quem oO COTA UE THO LAM pe Ay operat jonalizayae, comp vielectealy franceses UE rabalhand ein quem separe Leonia € TERRES Coin, Mertens (1969) © ba OF gine ‘niet yw teston vit isadores. HA eparandaro ¢ parte dos vans forage de pesqu ala piste olga. Tae a maior dow qeorlas das doncias. Hd far o clentinta amen ane Thomas conalclentnt C48€3 pis cad inc] nirdveds, ‘deve a o i ( f nchiy 1 Oat. a a @ apropeinada quads & exorthe gin “ SA Tt orblcna de investigate. Thine van tiltinwo grupo que tent enh Denvin (1973) um dos mag brithantes pensadores, Portante, disecutit Aretoxtologia € em. trar num forte debate ‘de idéias, de opades & de prancas Durante 68 ultiavay Winte anos venhe tentando eaintribed, para supente as posturas. TruiAssimto frequentes, cde Uratar ‘e- paradamentt questie epustennhWends ¢ faemmententos operanvona, una ver que considera 0 concerto de Metadotogia de fot abrangente ¢ concomitante: Ta) como a divcunste opiteme Jogica sobre 0 *eaminho do pensamento’? que 6 tema we 6 abjeto de investigagte requet: {h) comme a aprosentagae aie: anada ¢ fustificada dos métados, das focnivas ¢ ai Insirencens aperatives que devem set utilizados para as raseas relative ay indagagdes cla investigacta; {e) ¢ come O Que deromine “i atividade do pesquisador’, O8 Sepa. AWA MUA pessoal ©) pecifica na forma de articular teona, métatas, achades eye rimentais, observacionals ou de qualdaet Sato TPS Vsperitke de respasta As indagacdes cienuficas. : A metodologia ocupa Ingar central no interion da socks gia do conbecimenta, uma ver que ela tax parte lates’ Je visdo social de mundo. weiculada na tearia, Tim Tace dia ciake ca. por exemplo, o metodo ¢ 0 praprid Provessa de descrve! vimento das voisas, Lenin comenta que 0 mitade nse < ¢ forma exterior, ¢ 8 propria alma da contedide por eke NE telacio entre pensamenta e existendia ¢ vieeversa (L893 fF 148}, A metodologia constint a “caminko do pemaarcre™ segundo Habermas (1987); © constitai ama “praca eH? Meigs escolhe 0. Filio, m dos logia é e, rdticas, Conti by: le tratar se peracionai, ade fom, epistemo tema ouo ta¢ao ade. struments elativas a minei “ai ssoal € & idos expe espectfico a sociolo rinseca d3 da dialét:: desenvol > ndo &# pele fata’ (1955; P amento" -a teri mMetodologia de pesquisa social e em sadde a5 pensada”, na expressio de Bourdieu em Esquisse d'une Thé de ia Pratique (1972). Isso quer dizer, trocando cm idee que é diferente pensar a metodologia de uma ae a inspiracdo funcionalista, ou marista, ou fencaeioloaled . que utilize a abordagem sistémica, Por sua vez, é oeene pensar o desenho e a metodologia de uma pesqutsa unidlac, plinar ou a que tem cardter interdisciplinar e se fundamenta na filosofia da complexidade. Neste estudo, portanto, teoria e metodologia caminham juntas e vinculadas. Por sua vez, constitui_© instrumental necessari samenit6 Tebrico como a teificacao da realidade empirica, por- que no primeiro caso hé um menosprezo pela dinamica dos fatos. E no segundo, concretiza-se uma reducio da verdade & dimensao dos acontecimentos localizados, A excessiva teor- zagao e a improvisagao de instrumentos para abordar a reali- dade, provenientes de uma perspectiva pouco heuristica, pro- duzem divagacées abstratas, impressionistas e pouco precisas em relacio ao objeto de estudo. Se teoria, método ¢ técnicas sao indispensdveis para a in- vestigagao social, a capacidade criadora ea experiéncia do pes- quisador também jogam papel importante Elas podem fela- tivizar o instrumental técnico e superd-lo peta arte. O que se denomina “criatividade do pesquisador™ € algo dificil de se definir, uma vez que esta expressdo se tefere ao campo da histdsia-pessoal ¢ da_experiéncia subjetiva. Este termo € aqui “usado no mesmo sentido em que Wright Mills (1972; 1974) ¢ Denzin (1973) denominam *imaginagao” ¢ outros autores falam de “intuisao”. Essa ‘criativ lade do pesquisador” cor respon fd ..a sua capacidade | pessoal de anilise e de sintese tedrica, a.sua memona intelectual, a ivel de cc nento com 0 objeto, a sua capacida- légica ea seus interesses, Fazel do coro.com, , PO eee logis de tease sortal € em sade a tudiosos (Weber, 1965; Gadamer, 199, ro “ bn al, 1969; Granger 1967; Gurvitch, 1955, frros); entendo. que S80 se pode dtr. ‘ ra. pois todo © proceso de construc, dar sa-citncl8 ei uma dialética de subjetivaciy » sesrica SAE 2 que aqui considero “criatividade de de obits ferencia os resultados das investigacoes, o que pac do quando varios trabalham tém os me, pode dagacées. cetos @ as mesthas indaga . ros cmrtendo sobre metodologia enquanto sistemAtia d em da realidade € assunto para Pesquisadores Conruns que se exercitant ern ‘sells Tespectivos campos de conhecimen. to. Os géntos ndo precisam desses dispositivos, pois alraves, sam parametros estabelecidos ¢ projetam. em poucas linha, roves insights, Modificando paradigmas cm seus campos cien- Wficos:{Kuhn, 1962). Conceito de Pesquisa Social Entrar no campo da Pesquisa Social ¢ penetrar'num mut do polémi¢o onde h4 questdes nfo resolvidas‘e onde o deba- te tem sido perene ¢ nio conclusiva. O tema mais problema tico € 0 da'sua prdpria cientificidade que deve ser pensado como uma idéia reguladora de alta abstracdo € nio como s j nénimo de modelos ¢ narmas a'serem seguidos, Entendo qu deve existir uma unidade no mundo da ciéncia quando s« dit Sue qualquer producio cientifica s6 pode ser reconhecidt Suando contém teoria, métodos ¢ técnicas de abordagem: t rine teGrico deve conter-conceitos, categorias. tes siveis «chiens bona Esses so elementos indispe ieie un ses le auto-regulagio do pracesso de on er tratada de fire entendo que a unidade cientifica . dew de conhecimem incluindo ‘a diversidade ¢ oe ‘©, NO interior das quais tode.0 arcabor eorico se transform 4 aa | a ein especificidade ¢ adequac™ | ee a EE tae viene Capitulo 3 om | DIGOES E CONSENSOS NA COMBINACAQ CO METODOS QUANTITATIVOS E QUALITATIVOS Discussao critica sobre métodos quantitativo ¢ qualitativo OCONHECIMENTO CIENTIFICO se produz pela busca de ar, ticulacdo entre teoria e realidade empfrica. O método tem uma funcdo fundamental: tornar plausivel a abordagem da reali: dade a partir das perguntas feitas pelo investigador. No campo da satide coletiva, os métodos freqiiemtemente usados Para es- tudos das populacdes humanas 840 08 quantitativos (mais fre- quenles por meio da ey pidemiologia) e qualitativos (mais utili- zados pelas ciéncias ; Frequentemente, adi Utativos ¢ quatitative i coletiva tem-se desenvolyi ae Sicdo, muitas vezes j seu desenvolvimen i > lente é edades mals ve oe odias ea nS © qualidades Wittinvees eae tutabae todos 08 fend menos, como lembra Kan Coe tanto i elite, predominam estudos aes (1980). No tata to social, deixando 4 sombra aie ie ordem quan- cionalidade. tOes de significado Jivro trato sobretudo & © Método qualitati a Q elaboro nenhuma discussio aptofundada sabre; do quantitativo e reconheco sua imponind. eae ¢ magnitude dos fendmenos, Abene are Aan B ze 5. as me apos: - as que vem sendo feitas a essa eon = _ s motivos: a forma de legitima nadir ric c n ico cient is fgvantificacao; a atividade intelectual fade aaueid tornou hegemSnica na producio de dados para se n as politicas publicas em todo o Ocdente desde a ACAO TVOS a de ar. uerra Mundial; ao recusarem qualquer anilise con- i da realidade Por medo do risco da ideologiza- 2 reali. estigadores deixam a porta aberta para a manipula- — dos pelo poder ¢, em conseqiiéncia, consagram 0 sata eg. téo bem definido por Théodore Roszak: ais fre. utile grande segredo da tecnocracia do social € sua capa- >posta de nos convencer do silogismo seguinte: que as btia: Ssidades vitais do ser humano, contrariamente a tudo ( ign. nos foi ensinado pelos grandes sibios, sao de cara- mente técnico, ou seja, que as exigencias de nossa @ sdo suscetiveis de ser plenamente determinadas na andlise formal, conduzida pot especialistas qua- ; que essas exigéncias podem ser traduzidas em - ie mas sociais e econdmicos € assim satisfeitas ¢ que, se “problema nao tem solugdo técnica ele € apenas um a : jroblema, uma ilusao, uma ficcao nascida de qual- aa ten déncia cultural regressiv (1970, p. 24). iene aennete sitativos € qualitatiy:,, de metodos quan 2 cousentos trad : 36 comtradigoe siodoe'a antitatives tem 0 ‘objetivo de trazey © uso do ra lores e rendenicas observiveis ou produyiy A luz dados, Indica cio com aplicabilidade pray. en it see 1 dizer de Kant em sua Ag. 5 ycla-se, ca Sua natureea diferen -referi lano da ae 0), por se teferir a0 pl co semsatica Tract (1260) uae fendmenos: Nas ciéncias tensividade € das regular dagem quantitativa estd pro. soclais contemporaneas, a abordag es i roducio do positivismo clasgj. fundamente marcada pela rep! do social opera de acordo com Co, segundo 6 uals (4). © mun ia & a observaca leis causais hltimas; {b) 0 alicerce da ciéncla € a Observacao sensorial; (ce) a tealidade consiste em estruturas e instituicdes ientificdvels-enquanto dados brutos por um lado, crengas.¢ valotes, pot outro; (d) éstas duas ordens sao cortelacionadas para fornecer generalizacdes ¢ regularidades; (e) © que € real ‘so o8 dados estatisticos sobre os fatos, considerados dados ‘objetivos, portanto valores ¢.crencas sio realidades subjetivas que $6 podem ser compreendidas a partir de andlises quanti- ficdveis (Hughes, 1983) As testricSes ao quantitativismo voltado para interpreta- sto de informacées sociais nao se referem as técnicas que uti- Niza, uma vez que essas sao instrumentos de trabalho indis- pensdvels. Dirige-se ao reducionismo na avaliacao da realidade social. Adomo & Horkheimer (1979) chegam a dizer que o método Positivista empitico ameaca fetichizar seus assuntos cota 5/'mesmo um fetiche, na medida em que reduz a objetividade ao metodo € nao atinge © conteiido. Além das " eriticas filoséficas citadas em Hughes (1983), os leGricos d a Sociologia compreensiva acrescentam as intes: dagens quantitativas sactificam os signi Dados dre, a onae Dilthey; 1956: Weber, 1949; Schutz, 1963); (6) elas oat da Crenga ingénua-de que as distorgdes na abordagers ee ldade Podem ser evitadas pela codificacao; {c} os da tea. quanutativos quando se aplicam ao emptrico tendem tos Plificar @ complexa vida social limitando-a aos fendme, < podem ser enumerados {Park & Burgess, 1991 yi ene = au Nerpren. § que uy. ho ind realidad eT quee assuntos reduza Jém dis ricos di as abor n, 1947: parte da 1@ todas a sift os qué gest coutadlgdes € conse! nace de métados quanutatives © qualitativos $7 mente, O8 quantitativistas trabatham a ceituosamente, Prloristica e precon- tomando como familia nos que Diliar os fendm iT ar, - observa, sem evar em conta os sentides que os falos € as coisas 12M para Os sujelt i Seaenty jeltos que os vivem (Harrison, 1947; O que é 0 método " . que se aplica ao eudtuemene ee cualiatio 0 sentacdes, das crencas, das perce See ee ' ‘epcdes e das opinides, produ- tos das interpretagdes que os humanos fazem a respeito de como vivem, constroem seus artefatos e a si mesmos, sentem e pensam. Embora ja tenham sido usadas para estudos de aglomerados de grandes dimensdes (IBGE, 1976; Parga Nina etal, 1985), as abordagens qualitativas se conformam me- lhor a investigacdes de grupos e segmentos delimitados ¢ fo- calizados, de histérias sociais sob a dtica dos atores, de rela- des ¢ para andlises de discursos e de documentos. Esse tipo de método que tem fundamento teérico, além! de permitir desvelar processos sociais ainda pouco conheci-| dos referentes a grupos particulares, propicia a construcao de} novas abordagens, revisdo e criagao de novos conceitos € a tegorias durante a investigacao. Caracteriza-se pela empiria e pela sistematizagao progressiva de conhecimento até a com-, preensio da légica interna do grupo ou do processo em estu-; do. Por isso, é também utilizado para a elaboracao de novas. hip6teses, construsdo de indicadores qualitativos, variaveis @ tipologias. | Na compara¢ao com as abordagens quantitativas, enten- do que cada um dos dois tipos de método tem seu papel, seu lugar e sua adequacao. No entanto, ambos podem conduzir a resultados importantes sobre a realidade social, nao haven- do sentido de atribuir prioridade de um sobre 0 Outro. Para falar filosoficamente sobre o tema, é importante (ra- ver atona a Feflexio de Granger em seu artigo sobre “Modéles Qualitatifs, Modéles Quantitatife dans la Connaissance Scien- tifique”. (1982). O autor chama atencdo para 0 que parece ieee ee ee ant tedrico-me nayo, 18% ercado, G & Corbin tagdo as io & cial de cor por vate forte em nuradic6es € consent eo sos de métodos quantitativos ¢ qualltativos 63 Possibilidades de combinacio: métodos quantitativos & ‘aia attioe Sobre a combinacia de m a funcionalista, tenta romper Sala mesmo plistas, criando abordagens mais complenas, icagGes sim- Malinowski (1975) dizendo que é preciso: . COMO propde . Fait que € preciso: (a) documentar estatisticamente, “mediante evidéncia concreta”, tudo 6 pode ser mensurado no ‘arcabouco da sociedade’; (0) cum plementat 08 registros quantitativos pela observacio da ae neira como leterminados costumes, regras ou excecdes sd0 vividas no codiano Pelos nativos pois esses so fendémenos socioldgicos”; (©) estar atento ao “corpo e sangue da vida real pois eles compdem o esqueleto das construcdes abstratas", compreender os imponderdveis da vida real”; (d) ouvir € buscar compreender o “ponto de vista, as opinides e a ex- pressdes dos nativos’, isto é, ter em conta as maneiras t{picas do pensar e sentir que correspondem as instituigdes ¢ @ cultu- ta de uma-comunidade (1975, pp. 54-60). A proposta antropolégica de Malinowski, com maior ou menor perfeicdo, pode ser praticada, como evidenciam varios ttabathos que utilizam a estratégia de triangulacao de méto- dos, dentre os quais os de Minayo & Cruz Neto (1999); Mi- nayo et al (2003); Minayo & Minayo-Gomez (2003); Minayo, Assis & Souza (2005). A questo das relac6es entre quantitati- vo e qualitativo, porém, secundada pelo problema epistemo- légico da objetividade ¢ da subjetividade nao pode ser assu- mida de forma simplista como uma opgio pessoal do cientista ao abordar a tealidade. Ela tem que ver como © carater do objeto especifico de conhecimento aqui tratado: com 0 en- tendimento de que nos fendmenos sociais ha possibilidade de se analisarem regularidades, freqiiéncias, mas também re lagdes, histérias, representacoes, pontos de vista € Jégica in- tema dos sujeitos em a¢a0- ibe isastt ae * AD at ai quanti e qualitatives | - mire cles a Carta de-Onary, js definem a sag. i mentos " internacionais de ry ce es eo quel ge sociedades fA010 80. fn en proves naa ve pata assegurar 38 condictes, fae conan OF incom wer sausdavels (MITAVO: 2000). Ae ras ats 3 s pod ines coredives. enunciam que este expressarem tal test. 08 de gua vida © expressat na eco. tema far parte 62 CHE aa experiencia subjetiva ¢ iio : ica, 10 . ; : pom’. . oe enominado $etor sade (Minayo, 20032, 20036). side parva arena polttica € viven: jscussto da saride para i: great a 2 1999) tern por fundamento a corvicto de que is ‘ um bem social companithado. Em consequéncia, sua manutencao, © pro 1 bora tenham consciéncia de que, thas so- maleate Somer porn os direitos sio diferen- temente distribuidos & apropriados de forma heterogénea-e gonflituosa. Por isso, os problemas atinentes to Ambito da ‘sade precisam: sercompreendidos por meio de categorias clas- sificatérias que contemplem as diversidades € as diferencas. ‘Dessas categorias, as mais estruturantes sao: classes © segmen- tas de classes, género, idade e-etnia, expressando condicdes de vida‘e de trabalho, em espacos e tempos sociodemograti- cos ¢ culturais especificos. Vivénicias desiguais constroen for mas diversas de pensar, sentir-e agit peculiates a respeito dx satde ¢ da doenca: nao ha-saide nem construcao social da saude em abstrato ¢ fora da sociedade que as-geram, como hi Miuito tembraram Lévi-Strauss (1963); Marcel Mauss (7950) ¢ Boltanski (1979}, imate a singulazidade cultural dos hos atinentes @ satide & & doenga-que exigem pesquisa qualitativa poderiam ser aqui descti dos sobre explicagdie ‘eligi tas, COMO Provam exit ou sobre a monalid igiosas a tespeito damorte em gers! exemple (Minajo, oan no Nordeste brasiteiro, pel ‘ } sobre a gestacdave-o parte tas per mogio s40de responsabilidade coletivae © 3 TOTTEALLEORE Fedak hoe sorted Convemon de métouoy quantiuativos » quills 64 4 : . a \ Tertaa oe do Masxleo (Sertenshaw, 1987); sole causas ¢ ® ae ongens das doencay em tbos neozelanderay em Marcel Mauss ens ay (iota) eo mais Tecentemente, em Sfez (1997) que pesquisou . Mian a fendmene @ que denomina CONCEPEIO & Tepresentagae de . te samidle perfelta” 008 classes abastaday das sociedades ameri= Neila sup, “Ny CaN JPONKA eC eUFOPeias POs-Industel le ( tty das especiticldades eltadas acima seria im Me metedos quantitativos, Da ponto de vista conceltual, Pportanto, faz parte de uma a.com ty visto complexa da cléncla incorporar, teoticamente e na prat- % Vig & ga, a evidénela empirica de que side ¢ doenca nao se redu- bits vem a uma experiencia omaniea, blolégica ¢ extema aos sujel- le tos. ‘Tais reflexdes se escudam nos fundamentos da teoria de jaly. A compreensio Possivel por meio de cla Ge ue ay Weber (1974) sobre a significado subjetivo da acho sacial ireitos Slo dig Assim, a compreensdo particular ¢ Entersubjetiva de determi- ma her nada situacdo produz comportamentos que por sua vez se desdobram, transformando a experiencia “numa profecia au- . to-realizavel” (Thomas, 1970, p. 246), Tais premissas reafir- ce categoria mam, nas experiéncias de satile e tee. a ‘aie relagio enue fatos, eficdcia de idéias (Weber, 1974) e intencionalida- Classes e wm de (Schutz, 1964), Por sua vez, o reconhecimento de que o ssando cond: —_setor satide trabalha, a9 mesmo tempo, com problemas cole- s sociodemg: —_tivos ¢ determinagdes bioldgico-socials (Latour, 1994) ou bio- xis constrom —_Idgico-social-ambientais (Waltners-Toews, 2001, Forget & Le- ares a respon’ — bel, 2001) nao diminui a responsabilidade do investigador de stnicio soalé entender que todos os problemas se materializam na realida- de antropoldgica. Daf que as exigéncias epistemoldgicas para a pesquisa qualitativa ¢ para a8 abordagens quantitativas € qualitativas sao’ fundamentais. ? A combinacao de métodos, no entanto, constitui-se como lade cult desafio porque, na pratica cientifica contemporanea, aborda- exigem Bens quantitativas ¢ qualitativas passaram 4 significar nao ape- nas duas formas “profissionalmente distintas” de apreender , morte € (epidemiologia) e compreender (antropologia) o real, mas duas modalidades de investigaglo com campos tedricos pré- cc a quantilatives 2 qualita. gs erode freqiiemtemente antagonicos, Geralmeg: pes, definitados & iologicas pimam pelo reificacio da jas epidemiologic awe é tes PRETENSES hase a crenga positivista na “verdade dog cnet can aries bases quantiativas, freqaentemente confundindg eewrdade’ apenas com 0 significado: EXPIeS80. PelOs sujeitas a ‘Hiwoncameme, pode-se observar que as relagdes enire fologia e ciéncias sociais vém se construindo sa comy. vena com, pelo menos, wés modelos de explicacdo das doen. «ax 0 onganicista, 0 socal 2-0 ecossistémico. g Q primeiro confere existéncia independente A satide ¢ en. fermidade, cujo modelo mais radical era oda teoria microbia- “1m que se-vangloniava de poder superar todas as ideologias poliucas e interpretagdes sociais que minavam.o campo da Gentificidade da medicina (Nunes, 1985). Sua versio contem- poranea se evidencia nas areas Tals avancadas das pesquisas & Ndi Pelog qi Tela ii indo ng GIO das doe a Satie e Ona mi a8 ideo) 10 cam po ero con das Pesqisy 1 a Utopia g PLOCessas 5. a COM cond ser enconm do Golera ey Ureddona na be pidemiolog: mo e ao bulb ral, surgu o » pensament sua histom trutural, Ss pidemioloy f ua discus* vigor na a 2), Essa edo ma jologie t tho, FE caaneaelages © COLMEORDH Te nodes quantiativos e Atalltatvos 67 a arn Va slevesse anbretude 4 falta de consistencta dy sev areabouco MALO Male politico que cientifleo, Mand paren a ceiticas sobre a idela de toulizagio da idee i veh ale social atid na produgio da saade/enfermidade, a . galeragees: atuais poem em foro a tragilidade epistemoloy fea da epistemmiotogia socal por se apolar nas bases do pensamnens yo RATNISTA maecanicista, Vatlos auton, qquestionam a media: to constuida entre a visio positivista da epidemiotogia des- ctitiva ¢ & deterarinismo também positivista. (Pereira, 2000; Medronhe, 2002) do mardsmo althussetiano, Na reatidade, a epatemiologia social enquanto proposta histdrica recente nilo se desprendcu das cormentes. tedricas fundamentadas na filoso- fia da conscitnicia (Ou seja, da observagio exterior dos fendme- nos}. Sua abordagem, ora assumiu a questio social como ce nano de produgde das doengas, ora como deteminante sem mediagdes, das situagdes, dos comportamentos e€ dos sujeitos. Da mesma forma que a epidemiologia positivista, a ept- denviatogia social pouco levou em conta as questdes da: sub- jetivdade & us processos microssociologicos do mundo da vir da, esses Ultimos, complesificadores das expressdes de sade e doenca no terreno da pritica. Se é verdade que os proble- mas sociais se expressam nas condigdes de satide, ¢ porque 6 social esta simultaneamente na propria producio fisiopato- fogica e epidemiologica, permeando € modlificando suas ma- nitestagdes endo apenas thes dando continéncia. Por isso, ressaltando as dificuldades de conceituacao, Almeida Filho diz que “sera sempre redundante qualquer referencia a uma epi demiologia social” (1989. p. 5). © terceiro madelo. vem se desenvalvendo, sobretudo a partir da teoria quadrangular de Lalonde (1956) sobre as fa- tores que interterem na sade, da Carta de Otawa (MS, 1995) & tem sua expresso atual na denominada abenfagem ecossiste- mica de anile, Esse tipo de enfoque ¢ influenciado por varios movimentos dentre as quais 0 ambientalista ¢ 0 feminista, que tentam combinar a epidemiologia das enfermidades com * * gee FS inatieos € quali tauses de snétodos quanti e-consetie pinam-ou influenciam ax condioet sociais ae a pasar ambientais. Sen fur. saa ocourericia € (aun rtado.de forma muito. mais comply. damento,embora ee iaglem e multicausais das ener. xa remonta as Teal, 2001; Forget & Lebel, 2001; Minayo, sdades (Waliners- modelo, 0s fatores sao vistos :de forrna _ 2002} Bene Se chads Nos processos saciossanits. see daw pinch gb nortcalorerstooe npr ses 6-05 samento sist€mico, para 0 qual toda -a:com. we ‘rece ‘vivos precisa ser fevada em conta na pro. fiche da satide humans; (2) a8 questdes-de género devern ser evidenciadas nas investigacGes © acdes:transformadoras; (3).a eqiidade éum principio basico da promogaa da Salide, © (4}.a partidpacao e a responsabilizacio social -dos diferentes atores. tornados em. seus contextos tém de Ser incorporadas como pare integrante da construcdo de uma vida saudavel. Do ponto dewista disciptinar, as corremtes explicativas dos Processos de adoecimento baseiam- Tes: Ciencias biolégicas, sociais € estatisticas (incluinda-se as '.éncias matematicas ¢.4 demografia) (Pereira, 2000). Entre- tanto; a €nfase disciplinar Sempre recaiu nas céncias bioldgi- chen ‘iainlione Inicalmente, 0 s1atus de Cientificidade da shleroby ai ore 7 dado Pela. destticao anatomofisiolégica, Patasitologica derathada na-mediacio do “com a Sofisticacao.da ry contradigdes € consensos de métodos quantitativos € qualitatives 69 a ke Numa compilacdo de referencias denomi: sis dae Cony, rics da Epidemiologia, Almeida Filho (19 ash ae Bases Histé- 209) de construgio dessa disci } detalhia 0 proces- 01; ym eis ciplina, numa escalad ioe Mi antitativismo e a abordage: eaicae? fa Tuo ag (Sice de be aca apropriacao da Aslititticn bolaieaci (a) ela remonta a fe SOCiOggg jevantamentos de Estatistica Méd: Sntanto, AE NAS peat, k Bagg, Hs teen » continua, a Praticas de tom Yitzg” &M due o di mn hegemoniray 88 abu tac Os qu tang “Dans ica gl Hones Tal de rOpoldgicx' 180 cada ve, ‘écnicas bis | fide e enle 10 dos pit propos por seria sua mati marist aes, aol 5 rental? da area® pritica’ as a5 un “1 Wa 8 LE re conuadigées. ¢ consensos de métodos quantitativos ¢ qualitativas. 71. pe arene lett reer ie an a 0 i i : dial tais como eram feitas, asrandliees da epldernlologia‘s0- Ao terminar esta critica e a bem da verdade, é preciso dizer que o mal-estar em relagia ao reducionisme e ao fetichismo do método também € telatado e assumido por epidemiolo- gistas que buscam a incorporacdo das ciéncias socials em seus quadros reflexivos ¢ analfticos, como ¢ zelatado na introdu- gio de dois recentes ¢ importantes livros brasileiros que ser- vem de base a formacao de uma nova escola de epidemiolo- pistas. Ambos os textos colocam a incorporacdo das ciéncias. sociais que Wabalham com relagdes e significados na aborda- gem epiderniolégica como uma condicdo essencial para seu desenvolvimento no século XXI (Medronho et al., 2002; Pe- reira, 2000). Por sua parte, a introducdo das Ciéncias Sociais no campo de construcao da Satide Publica em geral se fez de forma cau- datdria, por causa da hegemonia historica da medicina na area das ciéncias da sauide. Embora a reflexio sobre a interferéncia dos aspectos econdmicos, politicos e sociais sobre a saude seja antiga e tenha florescido na metade do século XIX, a ra- cionalidade médica sempre predominou nas tentativas de for- malizagao teérica da Area. Os termos referentes ao social nun- ca Mereceram aprofundamento conceitual, Foi ja no século XX, conta Nunes (1985), que socidlogos, antropdlogos € psicélogos foram chamados, como profissio- nais, a integrar o campo de sade. Num primeito momento, dominou, nas abordagens, 0 viés condutivista € funcionalis- ta, respondendo a demanda do campo médico que sempre buscou ter acesso a chaves de compreensao dos cédigos dife- rentes com os quais os leigos concettuam € vivenciam 08 pro- cessos de satide e doenca, acessam aos servigos ¢ representam os tratamentos. O objetivo das primeiras articulacdes foi prag- matic; administrar normas de comportamento saudaveis 40s leigos. os é dos quaniiiativos © qualita. a pp cn OEE COTS io, 29s-cientistas sociais foi pedig’, Fi . moment ndadas das *varigy, ue ilies mais aprotu : Nieto. ae , aio dong ‘Ora, essa tem sido a forma maig pen ei cao disciplinar-enue 8 area da epidemigig. a nde as ciéncias socials. Até hoje, Tutte do que giaeda “ paises subdesenvolvides com financiamento de € poner is ionais conserva 0 mesmo patadigma. we gpectia ressaftaraqui que, também nas ciéncias sociais, g _ fogica tecnicista tem predominado. Ela se irradiow dos tstg, dos Unidos, sobretudo a partir da‘Segunda Guerra Mundial, e.tomou-se hegerndmica, Assim a confusdo ‘entre cientificids, “dee quamtificacao nao constitul privilégio da area da tpide- miologia, come jd foi referido amteriormente No caso brasileiro, a:presenca dos cientistas Sociais no cam. po da sade ¢ relativamente recente, de tal modo que a ‘hist. Sia de sua insercao sistematica tem POUCcO mais que trinta anos * (Nunes, 1985; Canesqui, 1998; Nunes, 1999; 2003; 2005; Mi. an aa Luz, ee ‘A-maioria, nos anos 1970-¢ 1980, se. ty a linha académica mais geral na saciologia nacional Sidcan tn pels peciaaeae de anilises Macrossociais, ins. neal @:partir dedadus Secundarios ¢ docu. Meumas 5¢ destacam pelas contribuicées enistemalé. - ALVES. & §, ® Rabel, Sbeal- (1998) Ajo se Oe (1999): Kraut 2994); Duane y Alves & Minaye : Bus (2001 Deslandes aoe 1994) Carrara { 199g 1: Roan. sake ) € 1980, s ‘a Nacional, sSOciais, ins. rios e dow. epistemolé- cas do seta. 1980; rares 0 e realize tudos én rricto sensi. lizada pot » Pats, ape njunto da contribut ; & Rabelo 8); Duarte 96); Rodi e ccntragligb3, € CODSeNSOS de Metodos quantitativs e qualitativos 73 pa mesma forma que na epidemi que 80 do seculo XX, og clentistns age i icine de sctor sadde no Brasil, na maioria, piSduseem ¢ avaeno 8 oe J al im saber cuja matree se cestringia as teorias marxistas, no seu viés positi ural de inspiracd postive ¢ esirut piracdo althusseriana. A partir da metade dos attos 1980 houve uma inflexdo dos investimentos te6ri- go-voncettuals € metodologicos em outras abordagens com- preensivas & dialéticas das determinagdes e do lugar da inter- subjetividade. Em relagéo ao manasmo, a forte influéncia de Althusser foi substituida pelo pensamento de Gramsci (1981), cuja elaboracdo ledrica se mostrava muito mais aberta em re- lagde ao campo das idéias, da subjetividade e da historia. Desde entio, vao se configurando algumas tendéncias: (1) crise ou 0 abandono dos marcos referenciais baseados nas ditas meta- nastativas ou das macroteorias, (2) aumento da produgao cien- tifica de base compreensiva, diferenciando-se da tendéncia cada vez mais acelerada da epidemiologia para reverenciar 0s po- deres das técnicas estatisticas; (3) expressivas tentativas de producdo de estudos interdisciplinares, transdisciplinares por tiangulacao de métodos quantitativos € qualitativos nas abor- dagens dos problemas de saude. ‘Chamo atencao para dois tipos de questionamento que freqaentemente tém sido feitos aos cientistas sociais pelos outros profissionais € pesquisadores sobre estudos qualitati- vos na area de satide. De um lado, existe uma critica contun- dente em relacio a baixa potencialidade de aplicagao pratica dos conhecimentos gerados. Esse questionamento, geralmen- te. evidencia uma dificuldade de muitos profissionais da area social em ultrapassar o formato das anilises de alto nivel de abstracio tedrica, pouco propositivas. distantes de problemas imediatos e ausentes de uma perspectiva de agao que 0 cam- po da satide demanda. Ora, a drea da sade, mesmo propor” Gonando um campo expressivo para 0 investimento em pes- quisas basicas. clama por uma relacao mais comprometida com as pgondades soctais. : rite ti Nene so maginasto Sociolégica (197) ) S tilts em 39 ox ciennstas € @ realidade. Nela, 0 autos fa, as rebaces ae cientistas sociais deveria ser 0 de evideaciar ao PoP emporaneos, a significancia da dindmica day. yas es que vivern @ 0 sentido de sua participacia: eepeci. aise da ciéricia, diz Mills, é dada pela sua Capatids. de de-transtormar os grandes problemas sociais que o Povo we em quesides publicas em favor de mudancas SOS, oo. Jaborando para que os cidadios informados sejam capaze, de sair de seus limites individuais para se sentirem pane de ume hisiévia 3 qual sua biografia est estreitamente Vines da As mesmas teses so endossadas Por Outros Tenomades autores Como Adomo & Horkheimer (1991), dois expoentes da chamada Sociologia Critica Alema. - a. _. ration QUEANITIVOS © Gath, x 4 4 amnion ouvir'a sabedoria de \, tica a d W, comacligoes @ Consensoe de metodoy quantintivos & qualiiativen 79 ela, ot a Ag possibilidades de contsibulctio da interngio entre lene 0 de sit tia @ métados para andlises de problemas de sande prover, dina, widen justamente, de suas diferencas. Por um lado, se fundamen: = ticipa 4, tam na busca de compreensdo em profturdidade dow valores, pra- ale 40 en: ticas, logicas de agdo, crencas, babitos ¢ autudes de grupos & inis ua “Apacs individuos sobre a satide, a doenca, as terapeuticas, ax politi. que g cas, 08 programas ¢ demals acdes protagonjzadas pelos servi = Soqj. mn cos de sade. E, por outto lado, baselam-se na leleurs da expli- Sejam capa cacao em extensdo de como cases sujeitos, agregados em um Ntirem Pane? nivel populacional, tornam-se expostos ou vulnerdvels a even: aMente vin & tos OU processos que poem em risco sua satide, como adoe- ros Fenom, cem, como e@ com qual magnitude demandany tratamento ¢ lois, expe atengdo, Mais que pares de oposicgées, ow métodos quantita: Mey tivas e qualitativos traduzem, cada qual 4 sua maneira, as artl- culagdes entre o singular, o individual e 0. coletiva presentes nos processos cle satide-doenca. A Interacio dialdgica entre ambos os aportes (¢ ndo por justaposigdo ou subordinagio las a produg, LO a0 contrig, ? AO empirism de um desses campos) constitui avanco inegdvel para a com: i ane transfor. preensdo dos problemas de satide. do sistema d Para a pratica interdisciplinar, o exercicio tedrico discipli- de realizara nar 6 tio fundamental quanto o didlogo entre a8 diferentes oradas teoria reas. Contudo, a articulacdo entre diferentes campos de sa- fundo a quan ber sé é possfvel se passar por traducdes das distintas logicas Sgicos, em Git e critérios de cientificidade, de uma hermenéutica do modus fe segunda o: operandi de cada metodologia eda arquitewira dos conceilos yeria caber Ep que cada teoria de referéncia apresenta. Sem esse didloga des de coms fundamentos de cada uma das ciéncias, os praticantes das di- fun sbuici ferentes tradicdes cientificas estarao restritos ao infruufero | on el debate dos Jimites desse ou daquele conceite, das condigoes asionam ol de sua operacionalizacao ou da justaposicio de meétodos ¢ edo ques” técnicas. ais difundi | O exercicio de triangulacdo de métodos nao ¢ facil ¢ nem gnificado?? ; simples. Os que decidem realizd-lo precisam aprofundar, con- que as de : comitantemente, conceltos disciplinares, de tal forma que tn- fandamen® dos os que sao essenciais para 4 investigacio possain ser con- : i : a eT A ; . CF UST mam mmanatindne antes wane « fill cae _ ns Jox Qqoaedtathros © qualities, re : te POF TazGES episte, oe cee 6 preciso saudar os pescuiss, exe 0 NORE parreiras € amplianda Gomteirgs . gorer gee C822 abvir mio do rigore da competing, Gn onestaacneN um Em ética rOXi- no é ipo, nea Iti- se correntes de pensamento 107 Marxismo e algumas de suas correntes Toda a obra de Marx é-coerente com o principio bisico de sua metodologia de investigacao cientffica: tem a marca da totalidade. Por isso mesmo, uma das polémicas sobre a con- tribuicéo de seu trabalho para as Ciéncias Saciais se deve ao fato da dificuldade de catalogé-la, pois ela é, a0 mesmo tem- po, Filosofia, Histéria, Economia, Sociologia e Antropologia. § esse cardter de abrangéncia, que tenta, de uma perspectiva hist6rica, cercar 0 objeto ¢ de conhecimento por mei da com- preesao. de todas as. suas “mediacoes e correlacées, consti- lade da dialética mar- versatilidade da obra aaa Goldmann (1980) considera “de Marx, ao fato de ele ter conseguido levantar as mais impor- tantes questdes tedricas para andlise da sociedade capitalista, vinculando-as 4 utilidade e as necessidades humanas. Constitui uma tarefa gigantesca e profunda a aproxima- Gao do pensamento de Mar e dos marxistas que, fiéis a ele, tentaram refletir sobre o ser humano, : ciedade e o in duc, Como o escopo especifico deste texto é a discussao das correntes de pensamento e metodologias que tém influido nas anilises e nas praticas do setor satide, é por esse veio que o marxismo seri abordado. Dar-se-4 énfase a dialética das re- ilacoes entre O individuo e a sociedade, entre as idéias e a base tealidade e a sua compreensao pela ciéncia, como também as correntes que enfatizam o sujeito hist6rico ade classes. E de todas as correntes internas, faz-se uma por aquela que articula condicdes gerais de producao e ducdo a problematica da subjetividade humana. da perspectiva marxista, os principios que explicam 0 pro- de desenvolvimento social podem ser sintetizados nas spressGes materialismo histérico e materialismo dialético. No marxismno, 0 materialism: correntes de pensamento 107 ribuinte do Marxismo e algumas de suas correntes © de Vinte toda a obra de «Mane € coerente com 9 principio bésico de Orque e514 a metodologia de investigacao cientifica: tem a marca da canadens, putlidade: Por isso mesmo, uma das polémicas sobre a con- eitOs © suq Sigio « ‘de seu trabalho para as Cigncias Sociais se deve ao dades ine. fo 43 dificuldade de catalogé-la, pois ela é, ao mesmo tem- dem abrir Filosofia, Histéria, Economia, Sociologia e Antropologia. aie = fase cardter de pence que tenta, de uma perspectiva - Em pistérica, cercar o objeto de conhecimento por meio da com- | América preensao de todas as suas mediacées e correlacoes, c © aproxi- (lindo a riqueza, a novidade e a propriedade da dialética mar- , como é gaa Coldmann (1980) considera essa versatilidade da obra 1 eMam, ao fato de ele ter conseguido levantar as mais impor- ° grupo, tantes quest6es teGricas para andlise da sociedade capitalista, nS COM- vinculando-as a utilidade e as necessidades humanas. nudanca Constitui uma tarefa gigantesca e profunda a aproxima- sse ulti- do do pensamento de Marx e dos marxistas que, fiéis a ele, aticas ¢ tentaram refletir sobre 0 ser hu mano, a sociedade e o indivi- modelo duo. Como o escopo especifico deste texto é a discussio das a Satide comentes de pensamento e metodologias que tém influido de pes- nas andlises e nas praticas do setor satide, € por esse veio que blemas 0 marxismo serd abordado. Dar-se-d énfase dialética das re- COM lacées entre o individuo e a sociedade, entre as idéias e a base s basi- material, entre a realidade e a sua compreensao pela ciéncia, lo res- como tambéri ag correntes que enfatizam o sujeito hist6rico HOS: ealutade classes” E de todas as correrites internas, faz-se uma ae A opcio por aquela que articula condigdes gerais de produgio € aide, reproducao 4 problematica da subjetividade humana. 5, tem Na perspectiva marxista, OS principios que explicam 0 pro- re t0- cesso de desenvolvimento social podem ser sintetizados nas senos expresses materialismo histérico e materialismo dialético. tema No marxismo, o materialismo histérico represen'a.o cam” do Teal na efervescéncia di tho te6rico que_a era reer nena comentes de perisamento a dialética refere-se ao mi jedade_Pot ser conhecendo-a como prose dinamismo, provisoriedade e tran, “estratégia de aprecnsae. e decompre. oe frica dos individuos em socied, ius we agmmentos sociais), de tealizacio dy as e das tentativas de articulagao entte sujenig histéricos. O materialismo histonco, como ea dialética, como estratégia metodolégica, 10 profundamente vinculados, pois, como lembra Lenin A965) o método é a propria alma do conteudo. Esse imbn. Ueehia 6 tio profunde que autores como Lowy ( 1986), pre- ferem usar indistintamente expressoes como dialética marxis. ta, materialismo dialético, materialismo historico € filosofia da praxis (esta ultima expressao é uma denominagao gramsciana) para se referirem ao marxismo. Diz Lowy: “todos esses termos apontam para elementos do método marxista”. Mas “o histo- rismo ¢ o centro, o elemento motor, a dimensio dialética e revolucionina do método” (1986, p. 26). Lowy (1986), Goldmann (1980), Bottomore & Rubel (1988), Adam Schaff (1967) insistem em mostrar que a di- mensdo matenialista nado constitui, em si, a maior novidade do manasmo. O préprio Marx, tomando a histéria como cen- to, tem um didlogo com os que denomina “materialistas vul- gares’, contrapondo-os. aos “ideGlogos alemaes” e criticando a ambos: ensio da pr (nos grupos. ¢ tica das ideologi e objeto, ambos caminho teérico, Para os materialistas vulgares a producao real da vida aparece como nao histérica, ao passo que o histérico € eee 4 vida comum supraterrestre (1973, p. 27)[-.1 tei fa. hegeliana da historia é a ultima conseqiéncia, a ieee mais Pura, de toda a historiogra- seaiee ee Pretende ver, ndo os interesses reais nem velinente a ‘©S, mas Os pensamentos puros que inevita- parecem, como uma série de pensamentos que ain maces aN paras 2 areca cart: aes OF rains arta Las ewe fece-par yc, dito denaigerancmmmdiad some atee —_—— correntes de pensamento | 109 ram Uns AOS OULFOS até sere 1m engolidos pel: la aulo- Mét Od, devon rocess gonsciencla (1984, p. 5). € Wang. omMpre. m exame do prefacio da Contribuiga Econo- a he : _ io a Critica da iedade o paltica (1973) evidencia que © termo material em Marx é a Gi. sd simplesmente para designar as condicdes pnimarias da Sujeito da humana. Suas expressdes: vida matenal, condicdes mate coma puis de existencia, forgas materiais de produgao, transformacdo das oe - aes materiais de produgio estao relacionadas com uma a in piston fia. Visam a promover uma interpretacao centifica ri. das transformagoes sociais que baixam do céu para a terra, . Pre. ito €, das idéias como fonte, para o ser humano, a natureza e narxis- a sociedade como geradores. Nesse sentido, sua historiogra- me fia é uma ‘sociologia histérica’, conforme a expressao usada Ee por Goldmann (1980). Também Bottomore & Rubel comen- ‘i Os tam sobre a especificidade do “materialismo” em Marc isto- ica e ‘A énfase que ele [Marx] dava a estrutura econémica na its sociedade nao era novidade. Sua contribuicio pessoal el nessa esfera foi o contexto dentro do qual discutiu a €- ica; © contexto do desenvolvimento his- relacao primaria entre a di- trutura econém térico do trabalho humano como eus semelhantes. lade cen- homem-natureza e entre oS homens € 5 vul- O trabalho de Marx conforme ele mesmo disse, antes de nda tudo era uma nova historiografia. € seu interesse domi- nante era 4 transformagao histonica (1988, p- 34). ida Sao dois os conceitos fundamentais que resumem © Ma- De terialismo dialético, conceitos que possuem um alto grau de dugio € Formagio Social. (a) uma estrutura se compreende: = abstracao: Modo de Prod ras regionais (0 Por Modo de Producao wy instancias) €cO- ia, ra, global formada por estrutu ™ nomicas, juridico-politicas e ideologicas: (b) uma estrutura existe sempre uma estrutura regional que do- a de qualquer jnstancia se da global, na qual ; mina as demais. 1584 dominand: ue ee A correntes de pensamento 0 | 6, utura global, Ji 110 do a priori {c) uma esti : gl a quat ae nyseordearnente € econdmico que determina as outras (Figg, an a ge sempre > nivel to de Prosurcao 8& configura como um concei. é e vanti, 1978): ines e como modelo tedrico de aproximagio da da “ to absitato Heda associa o de Formacdo Social, que se refe. 0 ( Hidade Ao Jacdes sociais concretag n; ae dimensoes dinamicas das relag’ it at i e dada.* . . ” soviedale 8 Social se constitul numa unidade complexa de ab : aed das virias instancias de organizacao social que cat aa enbem, conter varios modos de producao simul. uc eee que se observa na realidade histérica), entre os quais ec um é dominante € determina os outros (Fioravante, 1978). 4 ae formacio social de um espaco cultural concreto deve ser enten. dia! dida como a realidade que se forma processualmente na his. do t6ria: refere-se tanto a dimens6es macro como microssodais | op O estudo de uma formacao social deve incluir a anilise das mudancas e transformacées assim como das permanéncias que du se fixam nas estruturas. i l O conceito de Formagée Social diz respeito ao movimento: i; va (a) das forcas produtivas e das relacées sociais de producio; ! (b) das classes sociais bisicas e dos segmentos especificos, em di conflitos, convergéncias e conuradicées; (c) da divisio do ua i sa balho; (d) das formas de producio, citculagao e consumode | = 4 bens; (e) da populacéo e dos movimentos populacionais; (f) i s do Estado; (g) do desenvolvimento da Sociedade Civil; (h) * é das relacdes nacionais e internacionais de comércio; (i) das! 9 formas de consciéncia real possivel dos diferentes BTUpos so- ciats; (j) edos modos de vida, tema que Marx vincula ao “modo. k de producao" e as “condigdes gerais de producdo* ‘ Marx apropriou-se do conceito de dialética tal como utili- 4 ame oe hd uma profunda discordancia do mansismo interpretado pot sgnifcativac one ee mecanIsista que nega a historia come consirucdo humana eek Hielto social a nado set como “efeito ilusdrio de estruturas idewlogicas Jahan, 1967 MASPEO. 1965, Anulise crtwa da teoria marsista, Rio de ance ree soe ng a ny pegel € o transformou. Mas o termo € Muito mais oo obal, na qua em da flosofia grega, trazendo um utTas (Fora, pif caacio pergunta sobre as coisas, sete dinamico D UM conce;, aimed ae Esse conceito vai tomando fatos da vida e oximagio g, ogres da historia? varias conoiacdes , WUE Se Tefe, cs imeira tese da dialéti Aen d ica € a da es ' \cretas numa , (i numana: nada existe totalmente fe a hii to, ndo hd nem idéias, nem instinicne ose . uto. Portan Has, Nem instituics aplea de aso as estaticas. Toda vida humana ¢ oie ‘al que as, wransformacées, sendo perecivel ¢ padenae’ é lo ser Jo simulta da ; lta. av gnusda. Diferentemente dos positivistas que bus cavam tre Os quais javei i cone invaridveis da estrutura social para conserva-la, a légica : atica introduz na compteensio da tealidade o principio e ser enten- _ dica ente na his- joconflito € da contracisao como algo permanente e que crossociais. ica 0 inacabado, © imperfeito e a tansformacao. andlise das nada se constroi fora da histonia e nem a historia € pro- néncias que guto das idéias, dizem Marx & Engels, no texto que escreve- am wbre a Sagrada Familia (1967). Ela nao ¢ uma unidade 1ovimento- varia ou estdtica da realidade, mas uma totalidade dinamica producio; de relagdes que explicam e sao explicadas pelo modo de pro- cificos, em ducdo concreto. Isto €, 08 fendmenos econdmicos € sociais ao do tra- do produtos da agao € da intera¢io, da producdo e da repto- duo da sodedade pelos individuos. “Nao é a historia que nsumo de ionais; (f) seserve dos seres humanos para alcancar seus fins. Ahist6na Civil: (h) éapenas a atividade dos seres humanos perseguindo seus io: (i) das objetivos” (1967, p. 361). TUPOS sO- Em relacdo 4 primeira tese que se assenta sobre 0 princi- ao “modo pio da especificidade histdrica, aqui 8 dé Tealce ao pensamento de Goldmann, um dos mais importantes imtérpretes da obra ymo utili- de Man sobre o sentido da ago humana e da cultura. Esse autor tem uma contribuicgao metodologica fundamental quan- ro humane Para uma andtise mais d thada do conc de cic, ver em MS cas" a matig 8 F Deslandes Camps Ferre ee +e Fane veso Focruz, onde, nugi capfuilo sobre “THermentulicd £ Dialesica” tala os virios sentides histéricos do terme. —— “ae i ———— le correntes de pensamento uf oes, a0 mesmo tempo, situa- em investiga . doer Pe adas Goldmann comesa por situar em pé das ¢ context rocidade duas disciplinas que per sem. ikem juntas: a histériae asociologia. ag ato social a histérico” diz ele (1980, p- 17). Aconselha n- um jais, portanto, como caminho metodoldgico, que i a as correntes sociolégicas abstratas e bus- ae dendla dos fatos historicos "que deve ser uma so- roma histriea euma histéria socioldgica” (1980, p. 18). O feaduieato de tal ciéncia s6cio-histérica, segundo eae 60 fato de que os seres humanos nao sio apenas ie le investigacdo, mas pessoas que constroem seu mundo, suas estruturas, suas ideologias € se enredam nelas. Diz Goldmann, qriticando 0s cientistas sociais formalistas e positivistas que se fundamentam no fetiche do método: A deformacao cientifica maior nao comeca quando se tenta aplicar ao estudo das comunidades métodos das Géncias fisico-quimicas, mas quando se considera essa co- munidade apenas um objeto de estudo (1980, p. 22). Para Goldmann, a vida social constitui o tinico valor co- mum que retine os homens de todos os tempos e de todos os lugares. Por isso, insiste em diferenciar 0 que chama a “nova historiografia ou sociologia marxista” que tem como objeto, tanto em relacao ao passado como ao presente, (a) a compre- ensao das atitudes fundamentais dos individuos e dos gru- Pos em face dos valores, da comunidade e do universo; (b) a compreensao das transformacées do sujeito da acdo no seu Telacionamento dialético com 0 mundo, fazendo em si a sin. tese entre o passado e o presente; (c) e, em conseqiténcia, a Compreensio das agaes humanas de todos os pos e de to- dos os lugares que tiveram impacto na existéncia e na estrutu- ta de determinado gru PO No passado, no presente e Projecdo para o futuro. , em sua correntes de pensamento 13 coldmann (1980) engloba na sua definicéo de objeto a ni) fendmenos em seus nfveis coletivos, individuais (fico. Por isso, supera € faz a sintese da historiografia icional que dé énfase A acio dos govemantes e lfderes e gaque leva em conta as determinacées do modo de produ- go e 0 papel da coletividade, do povo, quase sempre deixa- do de lado na visdo positivista dos acontecimentos. Na perspectiva da dialética marxista de autores como Gold- mann (1980) e Lowy (1985), tudo o que ultrapassa o indivi- dyo para atingir a vida social constitui acontecimento histé- fico. Ambos lembram que Marx considerava a historia do mundo também do ponto de vista dos que a fazem sem tera ibilidade de prever as chances de seu sucesso, referindo- se ao valor que dava ao movimento operario e aos trabalha- dores. Contrariando o pensamento de outros autores tam- bém intérpretes de Mar, como Althusser, Goldmann valoriza as teorias de base compreensiva € a antropologia: “O que bus- camos na compreensao das formas historicamente diferentes de viver em comum € a significagao humana, impossivel de ser compreendida fora da estrutura social” (1980, p. 24). Por- que, na sua ética sobre a dialética, a consciéncia se concebe, desde a origem, como um produto social da necessidade e da acdo humana sobre a natureza, em relacao aos outros seres humanos e dentro de determinadas condicdes de producao. Coldmann reconhece € recupera dialeticamente o mérito da fenomenologia 2° Jembrar a importancia dos significados atribuidos pelos atores sociais a seus atos € a0s acontecimen- tos que consideram relevantes, isto é, as motivacées, aos ob- jetivos perseguidos e aos fins vividos em comunidade. Mas, embora a valorize. Goldmann distingue a fenomenologia em rxismo, riticando a sua postura apenas descti- telagao ao mal tiva e compreensiva dos fenémenes. Para ele, as Ciencias So- ais tem de abranger, a0 mesmo tempo, a compreensao dos es sobre os fatos € as coisas e os fatores sociais inevitd- sio gerados nessa compreensao, indepen- piston agen! yeis que geram € pensarmert( arores socials € das significa. nm das intengoes eeoutrns palavras, a andlise S0cio. entero “pes auribuar™ © encia ¢ da forga criadora dos 0 POE Te dar conta tre as consciéncias individuais e a neues ‘¢ da relacao eM ; sealidade objetiva. ese da dialetica marxista diz respeilo ao 9) A segunda ip da enisténcia humana e, em conseqién. principio da sali navel entre histéria dos fatos econémi- ° das idéias. O principio da fotalidade pode ser satises macrossociais, como instrumento in- eee ‘dos contextos especificos, para identificacao dos ede invaridncia das transformacdes concomitantes, para ai yeensi0 das diferencas numa unidade de estudo pecu- come tales. liar, Portanto, no processO de pesquisa de cane dialético, buscase reter a explicacao do particular no geral ¢ vice-versa, Joja (1965) chama atencao, repetindo Lénin (1965), parao fato de que o particular nao existe senao quando se vincula ao geral e 0 géral 86 existe no particular e’por meio dele. Por. tanto, o principio metodoldgico da totalidade conduz a que, ‘ha investigacdo e na andlise dos fatos, se deva: corners AE Apreender os fenémenos em sua auto-relacao e hete- ro-relacdo, em suas relacGes com a multiplicidade de seus proprios angulos e de seus aspectos intercondicionados, em seu movimento e desenvolvimento, em sua multipli- cidade € condicionamentos fecfprocos por outros fené- menos ou grupos de fenémenos (Joja, 1964, p. 53). Isso significa: (1) compreender as semelhaneas ¢ as diferen- Ss numa unidade ou totalidade parcial dos fatos, fenomenos 5 aia (2) entender as conexdes organicas, isto é, os mo- top ie eee entre as varias instancias da realidade iment Sponatitalao da totalidade parcial; (3) desven- fas e gon lade Parcial em analise, as determinacées especi- Belais e as condicdes e efeitos de sua manifestacao. — i | i i | a * correntes de pensamento sspectiva totalizadora tal como b Pensada pelo marxis- og heuristica € exige a Compreensio de relacbes reais. ta) 9 tempo que se observa a realidade objetiva como iin 9 coerente; (2) compreendem-se ¢ anali jo 1040, formando correlacgSes concretas cohen uth gades que contém determinacdes e condicionamentos - us jirmando-se a complexidade e as diferenciacées Geis om todos 08 fenémenos, fatos e processos. Essa Postura meto- dolégica € assim referida por Mar ¢ Engels: ns ‘ E preciso que, em cada caso particular, a observacio empirica coloque necessariamente em relevo — empirica- mente e sem qualquer especulacio ou mistificacio — a : conexdo entre estrutura social, politica e producdo (1984, | p38). O principio da totatidade nao € sinénimo de fechamento, de certezas absolutas e de verdades estabelecidas. Para a dia- Iética, nao ha ponto de partida definitivo @ pnori Goldmann, citando Pascal, lembra que “a uluma coisa que se encontra a0 fazer uma obra é a compreensao do que se deve colocar em pri- Stes meiro lugar, pois nunca se pode chegar a uma totalidade que ne ! nao seja, ela mesma, elemento ou parte” (1967, p. nn). Essa é - a proposta da abordagem dialética, cuja fundamentagio éo0 i pensamento vivo e o cardter inacabado tanto da hse come da ciéncia, levando a que 0 conhecimento da realidade se} uma perpétua oscilagéo entre 0 todo eas partes que devem se esclarecer mutuamente” (Goldmann, 1967, p. 4). i" (3) O terceiro principio da dialética ¢ 0 da unido dos contrd- rios, no interior das totalidades dinamicas e& vivas. Esse prin- c{pio contrapoe 0 método dialético a qualquer visio ae P quefsta ou positivista da hist6ria da sociedade. Para defini-lo, " Goldmann recorre mais uma vez 20 Pensée 73.° de Pascal, j4 citado em epigrafe no inicio deste livto: ento de pensar correnté as coisas causadas € quando suas aquisicées forem expedientes para a agao pra- ica cujas experiéncias virdo, por sua vez, enriquecer 0 co- pensamento ea de cones uma forca sempre nova (1967, _ hecimento € the fornecer nl p. 237). hece a possibilidade de marxismo recon! na praxis que © 30 subjetiva € objetiva do ser nea aides emancpae quanto estrutura & tans} formacao da Cons. cao da opr Os wransformacoes das idéias sobre 3 tela ceil formagio da realidade, no pensamento dialético, a a ari 2 0 subjetivo. A abordagem dialética consi. oe da mesma totalidade 0 objeto € 0 sujeito, Autores es Pakice qriticam a fenomenologia que coloca © subjetivo oe como um absoluto, na construgao da realidade, Comen- Herge essa teoria Hilosdfica mitifica o mundo das sensacées como sé ele fosse objetivo € pudesse proclamar a exsléncia independente da consciéncia. Critica também, e em conse- qiéncia, o método fenomenolégico que pretende partir dos dados imediatos da experiénda vivida sem analisar sua estru- tura e condicionamentos (1967). Goldmann estabelece vanos questionamentos sobre essa separacao tedrica dizendo que: O conhecimento em socialogia se encontra no duplo plano do sujeito que conhece e do objeto estudado pois até os comportamentos exteriores sig comportamentos de seres conscientes que julgam e escolhem, com maior ou menor liberdade, sua maneira de agir (1980, p. 98). Tanto Lukacs como Goldmann nao compartilham com o raconalismo 4 moda do século XVIII e XIX e vigente ainda na atualidade, pata quem a razao é a unica instancia de co- ahecimento adequado e em que sensacOes, sentimentos, €x- periéncia vivida, idéia e imaginagao seriam elementos desti- nados 4 papéis subordinados ou mesmo enganadores, na hierarquia do material especifico Para estudos das ciéncias Sociais. As concepcées tedricas desses autores (Lukics, 1967: | ; | ! | 793843 a ma «2 A eee So a : nova (1967, sibilidade de > € a destryj. 40 da cons. fe a Tealida. to dialético, tica consi. ito. Autores © subjetivo de. Comen- $ sensacGes a existéncia em conse- partir dos. r Sua estru- lece varios endo que: no duplo dado pois tamentos om maior P. 98). m com o le ainda ia de co- ntos, ex- os dlesti- ores, na ciéncias $, 1967; oo’ comentes de pensamento 12 ann, 1980) ndo admitem og ' den | OS &xageros da sy Golo, assim como dos subjetivismos, pols aa elacdo de interconexdes entre fatores objetivos ¢ ne t yur % ~ mvos eerere istancia material ¢ espirituay €m sua unidade Faia. Lukacs lembra que os conhecimentog Produzidos do mundo Social ¢, por é enas aproximagées da dinamica medida em que repre. ao Hs smo, 840 sempre relativos. Na “am uma aproximacao efetiva da Tealidade objetiva que ite independentemente da consciéncia, Porém, sio sem- oe absolutos: Oaardter ao mesmo tempo absoluto e relativo da cons- céncia forma unidade indivistvel, Na medida em que as déncias sociais escamoteiam a dialética do sentido abso- luto ¢ relativo do conhecimento, amputando-o de apro- ximacao, suprime-se a margem de liberdade filos6fica da atividade social (1967, p. 235). Essa mesma percepcdo complexa da realidade, é refletida por Lenin quando sugere que: “O que dificulta a compreen- sio 6 0 pensamento porque ele separa e mantém em distingao os momentos de um objeto interligado na realidade” (1965, 1 215) , a entre inducao e deducdc. Na Logica dialética inducao e dedugdo sio obrigatoriamente complementares. Nao se pode conhecer uma coisa, um fendmeno ou um processo a nao ser decompondo-os, para a seguir recompé-los, reconstrui-los fe-agrupar suas partes. Andlise e sintese sao insepariveis, me Para se realizar uma sintese com éxito € preciso analisar. or tanto, “sempre que a inducdo parte do essencial ela se core funde com a deducdo, pois a andlise dedutiva oa he Cunstancias e apresenta o fendmeno em sua simp! “s Fsse Ssencialidade conceitual” lembra Joja (1965. P69) | - autor reflete sobre a impropriedade dos terngs a in to to dutivo, quando se fala da Wogica dialética: “Na orde! paamento pres de Pe ; on o essencial por meio do oe por He teh aprenden vel. Mas o geral “e rs iza no ocimmel gcessivel € TNT gels refere-se a absurdo que ¢ 5 ont F iF 9 se inducio no fosse raciocg. particule (190 do com du 6, igualmente dedusae" 0 vio necessariamente em Par como Em lugar de se destacar uma delas, tra. ndlise incipal, € preciso saber utiliz4-las onde tando-a nee % sera possivel quando se tenha em vis. contre seer um par ¢ se completam reciprocamente ta que elas a7! (1952, p. 230) Q.uso do método dialético nao € simples, ° que pode ser comprovado pelo fato de a maioria dos investigadores que usd-lo como parametro, fazerem andlises simplificadas : ee aaenistas freqientemente em contundente retomo ao positivismo, E 0 que Sartre, em Questiio de Método (1980), ai. tica de forma veemente, sobretudo em seus debates com Al. thusser (1963; 1967) em seus classicos escritos; Induct « deduc O marxismo aborda o processo histérico com esque- mas universalizantes e totalizadores. Mas em nenhum caso, nos trabalhos de Marx, esta perspectiva pretende impedir ou tomar indtil a apreciacao do processo como totalidade singular. Marx mostra os fatos no pormenor e no conjun- to. Se ele subordina fatos anedoticos a totalidade, é por. que, através deles, pretende descobri-la. Assim o manis- mo vivo é heuristico: com relacdo a pesquisa concreta, seus Principios e seu saber anteriores aparecem como regula- dores (1980, p. 27), Sartre adverte a seus leitores contra as doutrinas dogmiti- Cas € © pensamento especulativo. No mesmo sentido que Thiollent (1982) comenta que muitos marxistas, na sua ativi- correntes de pensamento 123 dade intelectual, transformaram o processo de conhecimento em mera procura de fatos e situacdes empiricas capazes de provar as verdades contidas nos esquemas abstratos de deter- minacoes gerais. Portanto, a aplicagio do método dialético nao. depende apenas de conhecimento técnico, mas de uma postura intelectual e de uma visdo social da tealidade. } Aplicag6es do marxismo ao campo da satide = Quando se abordam as questées de satide e da doenca, assim como da medicina e das instituigdes médicas, do ponto de vista marxista, as andlises precisam se fundameniar histori- camente. O campo da medicina e da satde coletiva constituem- se de instandas de poder econdmico, politico e ideoldgico. Na sociedade contemporanea, altamente tecnificada, a ciéncia ea tecnologia desenvolvidas na area se transformaram em moto- res potentes de desenvolvimento e espacos de disputas de poder e de interesses econdémicos. Saide e Daenca, portanto, precisam ser tratadas como processos fundamentados na base material de sua producio, além de se levar em conta as carac- teristicas bioldgicas e culturais em que se manifestam. Como nas anidlises de todos os. processes socials, nO trato das questées de sade e doenca e das instituigGes do campo, as abordagens marxistas partem de varias leituras ¢ radicées. =>. Nos estudos até os anos 50 ¢ 60 do século XX, Garcfa (1983) Pas divide entre as que enfatizam 0 desenvolvimento das for- cas produtivas e as que acentuam a dinamica histérica das b telacdes de producao. No primeiro caso, estio 0S trabalhos de Stern (1927), Si- gerist (1960), por exemplo. Esses autores. ainda que pionei- ros americanos na leitura da satide sob 0 enfoque marxista, em que pese sua imensa colaboracao, reconhecida em estudo por Nunes (1999), nao conseguiram romper as barreiras do positivismo. Seus escritos veiculam uma visio desenvolvimen- tista da tecnologia propria da medicina oficial e uma crenga cn carers PEs nee P {nio, pelos clentistas lo setor, das son 18 spilidade de ecg que se pode fazer de suas an4}j, ons na possi™", monte. A crit ¢ desenvolvimentista da medig, — j lit doen na visio seen cles de desigualdades sociais oo , gem evar eM C10 TC edacao da fora de trabalho ¢ dg rn de superesplonnclos tos médicos em relagdo as condicdes ge. a ica eficicia dos alias Suas obras ressaltam também uma apr ; rais da producdo Ga medicina em detrimento das possibil;. talid iegitimacio ad ea ony ou tradicionais da populacao, sepa" dades migicorre'B s do mesmo perfodo que se centraram que | Dentre os ae aieas como o elemento dinamico ¢ es. no nas relacdes ec nan: al em relacdo ao tema da satide, desta. nova sencial da oe (1983), na Franca, com sua obra A Medicina do N Capit fie livro ressalta o fato de a questdo da saude ¢ da lo XX biden das diferentes classes sociais no capitalismo estar mar. histo! cada pela l6gica do lucto, da producio e da reproducio do doen sistema. Seu mazco de andlise segue as teorias Teprodutivistas da tv e estruturalistas de andlise que tiveram grande destaque na funde Franca dos anos 70 do século XX, para explicar, sobretudo, ag cae politicas sociais de educacdo e satide (Bourdieu, 1970). Seu; M wabalho reflete ainda o ambiente de contestacdo da intelec- bre o tualidade francesa que se expressou do Movimento Social de do: (¢ maio de 1968. Embora elabore uma critica Tadical ao econo- corre: micismo na satide, Polack cai nas tramas do estruturalismo. giao; Minimiza ov omite as contradicdes que permitem as classes sao d abalhadoras encontrar Tespostas histéricas e ser Protagonis- basta ta, mesmo dentro das Situacdes de declarada dominacio. de wu Na América Latina, a abordagem marxista da satide se de. dinar senvolveu ao mesmo tempo que eclodiu um amplo movi- las qu mento social pela universalizacao do direito a satide a partir {0s p da década de 1960, numa contestacdo ao sentido de progres- u So que a industrializacao dependente acarretou Para os paises hist, Periféricos, A modernizacao Capitalista traduziu-se na inter- Ve su, nacionalizagio acelerada do capital, na industrializacio e na Ptibli urbanizacao também aceleradas, em fortes migracoes do cart dee, er corentes de pensamento s cidades € numa dinai 25 setor, dag, 1a eigualdades ota SM ampliacso das trade suas andli. * @o 50 papel, 0 avan da medic, ene um movimento COnttibuKces da biom bes socials, ‘ gaits Melot saude e conjugado con eae Na interior do Soe poe ew adeaies pr cane sols ms mbém uma spangertes © vagbes brasil ara a situacao de morbimas $ possibili. Bi ade das P pl , i eiras, Nesse esforso, ps T- cdo. ro labor tedrico & a militanda Politica dos eine centraram 5 gee desenvolverant part passu, tanto no setor saide coma mico e es. movimiento social, visando @ uma nova leitura e a um Gide aes. rova postu dos profissionais, técnicos e intelectuais da ie Medicina do Nunes (1985) refere que a partir da década de 70 do sécu- satide e da jo XX crescem nA América Latina as andlises do materiatismo ) estar mar- isrico € dialético para explicar o fendmeno da saude e da ‘odusdo do goenca 8 situacdes focais. Em geral, os estudos dessa déca- rodutivistas -— Qgtiveram como premissa a posicao de classe como elemento lestaque na ‘ gndamental na explicacao da distribuigao da satide eda doen- bretudo, as pe dos tipos de patologias prevalentes. 1970). Seu Muitas andlises foram produzidas, numa visdo ciftica so- da intelec- bre o$ equivocos positivistas € desenvolvimentistas, mostran- o Social de _ do; (a) que 0 avanco centifico e tecnalégico da medicina ndo | ao econo- corespondeu as melhorias de sadde das sociedades da re- uturalismo. iio; (b) que a distribuigio dos servicos perpetuavam a inver- sio das necessidades ante o poder econdmico; (c) que nao n as classes protagonis- husuva ter uma leitura fenomenolégica das situacdes de sati- ninacao. de, uma vez que a pritica e © saber médicos fazem parte da aride se de- dintmica das formacaes socioecondmicas € € NO interior de- nplo movi: las que a eclosio de enfermidades e a acessibilidade aos servi- ide a partir (03 precisam ser explicadas . de progres: Uma revisao dos estudos sob o enfoque do materialism ra os palses hisérico faz parte da pesquisa de Nunes {1985} (Ue descre- se nia inter ve sua abrangencia: questdes de gatide e sociedade, oes. izagio ¢ Ma Publica, planejamento ¢ administracto: concepcoes Oe Or jes do cam dee doenca, anélises institucionais, andlise de processos . : oes ul re correntes de pensamento 125 po para as cidades e mi cionals desigualdades uma dindmica de ampliaglo das uradl- sociais. Sem negar o papel, o avanco € as contribuicdes da biome- dicina, iniciou-se um ptéprio setor satide € movimento intelectual no intertor do conjugado com movimentos sociais ¢ politicos, buscando explicagoes histéricas € sociolégicas mais abrangentes e mats adequadas para a situagao de morbimor- talidade das populacdes brasileiras. Nesse esforco, ndo se pode separar 0 labor teotico e a militancia politica dos sanitaristas que se desenvolveram no movimento sodal, pan passu, tanto no setor satide como yisando a uma nova leitura e a uma nova postura dos profissionais, técnicos e Intelectuais da drea. Nunes (1985) refere que a partir da década de 70 do sécu- lo XX crescem na América Latina as andlises do materialismo : historico € dialético para explicar o fenémeno da satide e da doenca nas situacdes locais. Em geral, os estudos dessa déca- da Gveram como premissa 4 posicio de classe como elemento y P fundamental na explicacae da distribuigao da satide e da doen- ae dos tipos de patologias prevalentes ‘Muitas andlises foram produzidas, numa visio critica so- bre-os equlvocos positivistas & desenvolvimentistas, mostran- do: (a) que 0 avanco Gentifico ¢ tecnolégico da medicina nao correspondéu as melh ‘orias de sadde das saciedades da re- pido; (b) que a distribuicdo dos servicos perpetuavam a inver- ‘io das necessidades ante o poder econdmico; (c) que nao bastava ter uma Jeitura fenomenolégica das situages de sati- de, uma vez que a pritica e o saber médicos fazem paste da dinamica das formacoes socioeconémicas ¢ é na interior de- a las que a eclosio de enfermidades e a acessibilidade aos servi cos precisam ser explicadas. Uma revisio dos estudos sob 0 enfoque do materialismo hist6rico faz parte da pesquisa de Nunes (1985), que descre- ve sua abrangéncia: qu estdes de satide e sociedade, politicas publicas, planejamento e administracdo, concepcdes de sat- de e doenca, andlises institucionais, andlise de pracessos de pensammento Dentre os autores 840 re. ca (1975); Donnangelo (1976); a 1975); Laurell (1978; 1983; 1986; pellini ( Garefa (1981; 1983); Cordeiro Nunes (1976; 1983; 1985, correntes dé ‘ggi); Tam ue vih & Granda (1 ; He cia @ Teixeira (1985); 980)5 tiga); Goncalves (1979) ey a suaia de yn, inala que € ta Nunes (1985) es marxista, que 0 campo de estudos esoba one e abre para as ciéncias politicas € para outras sobre a sal educagio, nutric4o, servico so. reas de ciéncias eon en a — desta vez com cial junto om ces que a vis20 positivista ndo abrangia. Essa outras Peek a varios fatores: (a) andlises da deterioracio ee ators de vida de contingentes imensos das popula. oes aglomeradas nas cidades, passando a exigir respostas mais i adequadas que as dadas pela definicao unicausal-bioldgica das doencas; (b) crescente consciéncia da prépria sociedade {sobretudo dos estratos urbanos da classe trabalhadora) de que a acessibilidade a satide é um bem inegocidvel; (c) e cres- cimento de movimentos sociais, definindo e reivindicando que a provisio de satide é dever do Estado e direito dos c- dadaos. No Brasil e na América Latina, o objeto tradicional de teo- Tias, concep¢ées e praticas, denominado Satide Publica iniciou uma trajetoria de wansformacées historicas tornando-se tema de questionamentos, andlises e Propostas de movimentos so- Giats, polfticos, sindicais e comunitarios. Uma das mudaneas efetivadas foi a troca do termo publico por coletivo, para desig- nar a area, visando a chamar a sociedade Para a transformacio de uma rea que era praticamente dominada pela corporacao médica e mais exclufa que inclufa a populacio. Tomada como campo estratégico para formulacao teérica, politica e para a atuacao prdtica, a Saude Coletiva incorporou definitivamente in maa Socials no estudo dos fendmenos da saude eda ou-se também um dominio corporativo mate- 2 sinatra pre: enw ball Pel camen cao mi outras gia) pa de pos tos so influe: emerge seu pe Nacior Direit, Ya cor | conentes de pensamento 127 e sializado na criagio da Abrasco (Associagho Brasileira de Sau- ee de Coletiva) em 1979. a ‘Teixeira especifica 0 que considera “mudanga qualitativa” ses do enfoque da Satide Coletiva: “A possibilidade de constitui- a cao de um corpo espectfico de conhecimento sobre a saude a. coletiva encontra-se dado precisamente pela adocio do mé- Abe todo historico-estrutural” (1985, p. 90), vinculando os novos ramos do pensamento da satide a uma linha marxista especi- fica, Também Cordeiso expressa assim a nova visio: ‘A doenca em sua expresso normativa da vida, como fenomeno individual e em sua expressio coletiva, epide- miolégica, onde adquire significado no conjunto das re- presentacdes sociais e nas reivindicagées pollticas, esta estruturada em uma totalidade social, Como forma adap- tativa da vida, resultante das relacdes dos grupos socials entre si e com a natureza, mediadas pelo processo de tra- balho e doenga tem uma historicidade das relagdes sociais _ economicas, politicas e ideolégicas — que s¢ tealizam nas sociedades concretas (1984, p. OL). Pelo fato de a drea de Satide ser um campo que necessa- riamente junta a teoria e a pratica de forma imediata, a posi- ¢io marxista em seu vies histérico-estrutural, em relacao as outras correntes de pensamento (positivismo € fenomenolo- gia) passou a tomar, no Brasi}, nos anos 1970 € 1980, o cardter de posicao ideolégica e politica, repercutindo nos movimen- tos sociais e sendo fertilizada por eles €, a0 Mesmo teMpo, influenciando questdes telativas 20 direito ¢ outros temas emergentes, O campo emergente da Savide Coletiva manifestou oO seu peso iedrico, politico e ideoldgico na Vill Conferéncia Nacional de Satide em 1986 e, posteriormente, no capitulo dos Direitos Sodais na Constituigao Cidada de 1988 (Escorel, 1998). Do ponte de vista tedrico e metodolégico, a Sutide Coleti- va como objeto de estudo ainda esté em construcdo e, NOS comentes de pensamento os, vem expressando extremo vigor. Vai lon. ‘ ie go “eaixa-preta” utilizada por Laure} do se referia a dificuldade do pensamento de ‘apreender as relacdes € correlagoes do tema. No abranger oD investimento precisa Sef feito, porque junto entant cenda das investigacdes € dos temas da drea, ver EA 0 de fragmentaco de abordagens e de foruns de estabelecimento de alguns consensos tedrico-metodolégicos, ‘Como objeto de intervencio, o tema Satide Coletiva nas- ceu no contexto das correntes de pensamento marxistas ¢ es. truturalistas, fazendo parte de um movimento social muito mais amplo. No capitulo em que desenvolvo as questdes de combinagao de métodos, faco a critica da apropriacao do marxismo mecanicsta, influenciado pelo pensamento de Al- thusser (1965; 1967), que dominou, sobretudo, a corrente chamada “Epidemiologia Social”, no Brasil e na América Lati- na, Hoje, novas abordagens teéricas e metodoldgicas € novas disciplinas vém contribuindo para dar maior abrangéncia e aprofundamento a conceituagao de saiide e de doenca e para a adequacao de um sistema de satide que atenda as. necessi- dades e aspiragGes da populacao, Como Preocupacao metodolégica, o subsistema que deu maior énfase a abordagem hist6rico-estrutural é o de Satide ° Trabalhador. Seu eixo bdsico é 0 conceito Processo de Traba- wenger eto seer uabalhadores. Os estudos Grainne re moreicage oes dores se muloplicaram, e ox tk los a praxis dos trabalha- revisan de MihepesGonee ‘ eae estao assinalados na lises bibliogrifiee como 4 ate Aes (1995) e em outras and- Sido © subsistema que mais int am ee Talvea por ig tos marxistas stricto sensu, & tai "bém ous ini os conceh declinio do sie eal imbém o que mais ressentiu 0 € as mudancas no mundo do tra- balho, do emprego e da ocupacio. O paradigma ancorado wa gltimos (i a justeza (1983). qwan no concei | ito de proceso de trabalho (principalmente de card- comrentes de pentamento lao ter industrial) vem demandando mudangas conceituais e de abrangéncia de objetos para dar conta dos problemas trazi- dos pela globalizacao, pelas novas formas de Producdo e por uma série de outros fatores. Dentre eles, 6 fundamental des- tacar a predominancia contemporinea dos trabalhadores do setor de servicos e seus problemas especificos, em detrimen- to do setor industrial a partir do qual foi construido o Ppa- : ' radigma marxista de sauide e trabalho (Minayo-Gomez & La- : - i caz, 2005) i As contribuicdes das correntes marxistas mais complexas, ! que incorporam © sujeito, avancaram muito nos anos atuais, deixando para tras os referenciais estruturalistas e mecanicis- ' i tas (Minayo, 1998). Os primeitos serviram muito para infor- f mar as anidlises polfticas e os segundos, foram suplantados ag pela obsolescéncia das andlises que produzia, fundamenta- ~ das, preferencialmente, nos pressupostos althusserianos. Em * Althusser o sujeifo era considerado apenas como “efeito ilu- s6rio das estruturas ideoldgicas” (Anderson, 1984, p. 44) como =<“ ypode ser constatado no uecho de uma de suas obras: A estrutura das relacées de producio determina os lu- gares e as funcGes que sdo assumidas pelos agentes de produ¢do que no sio mais do que ocupantes destas fun- gGes. Os verdadeiros “sujeitos” nao sdo seus ocupantes e funciondrios. Contra todas as evidéncias do “dado” da antropologia ingénua, nao sao os “individuos concretos*, d i os “homens reais” mas a definicao e a distribuicao destes lugares e destas funcées. Os verdadeiros “sujeitos” sao, Pois, estes definidores e estes distribuidores: as relacdes de producao (Althusser, 1967, p. 157). A intreducao do referencial gramsciano para anilises de satide ocorrida nos anos 80 do século XX fez o pensamento marxista na 4rea evoluir e ampliar seu quadro de referéncia, sobretudo em estudos de politica e de educacao em satide. 0 = rae TT i j corentes de pensamento ; tririo do althusseriano, de cramscis 20 ae como forma de do. yadro (eric ideologico 130 apenas ficand: a es mpo nheclmento, identificando o di. ambém de fo roricidade das visdes diferencia. ‘o, a concreao & 4 al) constituinda um “ponto de indo (Gramsci. voBhi p. 123) € superando-se as di. , ecine objetivas e relacdes intersubjetivas, tem havido varias tentativas, mas ainda sao s do setor satide na construcdo de um referencial que supere a5 dicotomias enue as estruturas obje- vas ¢ as relacoes intersubjetivas. Isso exige uma visao com. es da realidade ¢ um real aprofundamento teorico. No entanto, a pouca producao existente evidencia multiplas pos. sibilidades que extrapolam os aspectos meramente técnicos e onémicos ¢ se articulam sobretudo em tomo de um envela- camento de perspectivas, sobretudo de interdisciplinaridade. Para a finalidade deste livro que trata da quest4o qualita. tiva da vida soaal, ressalto que a significacaio da acao do sujei- to historico em Marx leva em conta o fato de que os seres humanos nao so drbitros totalmente livres de seus atos. Pelo Contcario, a leitura de seu Pensamento deixa claro que o pro- duto da atividade prévia (os contextos sociais, mesmo de va- lores, crencas e altitudes) representa limitacées sobre o leque de opcdes do presente. No entanto, ainda quando a realida- 2 i ae Por sot € estruturas anteriores, os foritilera Ae cia pa ee le sat nelas a sua marca trans- a importancia da cal = nore Se conjugam com: (a) de das relagoes dadas e » aie meets entre a objetivida- 0 catdter de amplitude das visGes ‘ i ee ron tempo, a reciproca aculturacio ui ete Seag mesmo classes, inter e intragrupos, eg eee ee Ceme aos fendmenos sociais inclui d Sea prseaeen. % (€) a relacio intra e interc Ser nalde ese dae mecanismos econdmicos e sit Permeada por estruturas € Polfticos formais, mas também Arquimedes cotomias entre Em resumo, uuenos os avanco! 2 pels com pro dete cess de pro gin. suje met con dia te! vidi cate levi ana dife ses, iia quisa qualitativa visam a fazer mMediacao entre os marcos te6- éo tico-metodolégicos a realidade empirica. Sao eles: roteiro de Dre. entrevista, rotelro para ‘observacdo Participante e roteiro para discussao de grupos focais. a Rotciro de entrevista — Por ‘Toteiro se entende uma lista de temas que desdobram os indicadores qualitativos de uma ac investigacda. Essa lista deve ter, como substrato, um conjun- to de conceitos que constituem todas as faces do objeto de investigacao e visar, na sua forma de elaboracio, a operacio- nalizagéo da abordagem empirica do ponto de vista dos en- trevistados. No formato final de sua elaboracao, © roteiro deve apresentar-se na simplicidade de alguns tépicos que guiam uma conversa com finalidade (Minayo, 2004) sob as se~ guintes condicGes: (a) cada questio que se levanta, faca parte do delineamento do objeto e que todas se encaminhem para Ihe dar forma e contetido; (b) permita ampliar e aprofundar a comunicagao e nao cerceé-la; (c) contribua para emergir a vi- Sao, os juizos e as relevancias a respeito dos fatos e das re- 1 i eR — loracdo de cam menos € &=P! e wucto dos ine 190 oon Iagbes que compoer 9 Jocutores. ‘ Um roteiro difere abjeto, do ponto de vista dos Ute, do Instrumento ents EN auan, eses € quest6es bastante ¢, este ultimo pape as referencias do Pesquisa das cujo Pon caracteristicas. Visa a compreen. d ae ae sore sociais previstos como sujeitos/objeig irecgieto © contém,poucas quest6es, Por vezes, num p : de pesquisa pode surgir a necessidade de elaboracig de um questiondno fechado para se captar aspectos gerais cons, derados relevantes de um problema de investigacao, visandg a iluminar a compreensdo do objeto e a estabelecer Telacdese generalizacaes. Na abordagem qualitativa, nada impede, pelo contrdrio se estimula, essa combinacao de métodos. No en, tanto, nenhum soteiro substitui ou deve ser substituido Por questtonarios, pols ambos correspondem a ldgicas especifi. cas e diferencadas de aproximacdo do objeto Roteiro, portanto, é sempre um guia, nunca um obstdculo, nao devendo prever todas as situacGes e condicées de uaba. tho de campo. E dentro dessa visio que deve ser elaborado ¢ usado, facilitando a emergéncia de temas novos durante o uabalho de campo, Provocados por seu questionamento. Des de prepa, pe et — aparentemente mais sim. Beds iaveatit s haeee exige quanto a lista de temas por desticae stone "© instrumento da entrevista aberta éa reve, aO mesmo tempo abrangente, pelo en- tevistador, do objeto da investigaca i dor, esigacao, orientando os ru fala do interlocutor. Esse tipo de inst Se suficiente do Pesquisador, OS e1 ica insmumenne fea eutdade mM sua ExPosicio. Nesse Caso, O capacid, alate Memoria do investigador, tes- concatenar fatos m; no E ‘as, sobretudo, entrevistado Para que licite, d. © Profunda Possivel, sey. pan de a de ouvir € condugi Thais abrangente ¢ + Rote lidade de dores con vempler devern fu da do p esté em ¢ to da int permita questoes tura de rado de’ —A auma c qualitat po: vo que é 0 doencai cas do exteme sem te que al! siveis « tagdes as relz indisy Tealid dame ment to se buan de vi dos | S durante o hamento, le Mais sim. e temas por aberta éa te, pelo en- S$ Tumos da preparacao a entrevis- branger ni- sse Caso, 0 gador, tes- sobretudo, da forma vista. construe dos tnerumentos ¢ exploragio de campo 19 » Roteiro pan entrevista semti-estruturada — Para essa moda- lidade de abordagem, o roveiro deve desdobrar os varios indica- dores considerados essenciais € suficientes em tépicos que con- remplem a abrangéncla das informacoes esperad; devem funclonar apenas como lembretes, devendo, na medi- da do possivel, ser memorizados Pelo investigador quando estd em campo. Servindo de orientagio e gua para o andamen- to da interlocucao, o roteiro deve ser construfdo de forma que permita flexibilidade nas conversas ¢ a absorver novos temas questdes trazidas pelo interlocutor como sendo de sua estru- tura de relevancia. Na sua elaboracio, o roteiro semi-estrutu- rado deve levar em consideracio as Seguintes questdes: — A forma de colocacaio de um item na lista deve induzir a uma conversa sobre a experiéncia. Numa entrevista de cunho qualitativo, ndo se perguntam por conceitos ou por idéias do tipo: vocé acha imiportante a educacao para valores? Ou entao: o que ¢ 0 programa agente de sande? Para voce, 0 que é satide ou doenca? Essa forma de indagacio induz a respostas dicotomi- cas do tipo sim ou n§o ou, entio, exige definicdes abstratas e extemas as vivéncias dos entrevistados: € como se eles estives- sem respondendo a um teste escolar, Ao contrério, deseja-se que a linguagem do roteiro provoque as varias narrativas pos- siveis das vivéncias que 9 enuevistador vai avaliar; as interpre- tagdes que © entrevistado emite sobre elas e sua visio sobre as relacdes sociais envolvidas nessa acao. , — O guia de entrevista deve conter apenas alguns itens indispensaveis para o delineamento do objeto em relacao a realidade empirica, facilitando abertura, ampliacao e aprofun- damento da comunicacio (Minayo, 2004). — Cada questao do roteiro deve fazer parte do delinea- mento do objeto, de forma que todos_9s {dpicos. em conjun- to se encaminhem para dar-lhe forma e contetido e conti- buam para enfatizar.as.relevancias previstas no projeto (ponto de vista do investigador) e as dos informantes (ponto de vista dos entrevistados) (Minayo, 2004). las. Os topicos a _ statistica. E, sim, ela SEA oe rome, mentee € exptoracdo de MPO jo dos inst > - quisadores costumam fazer UM Présteste gq, mitando os pré-testes de questigns ntemente, contribuindo para ee Mais ios questiondrios, nos casos de investip,, precisas dos Pee aS de métodos. No caso de adota-lo, gées por triangulas: ualitativa consiste na realizacdo dy pré-teste em pesdulss ntertocutores-chave, © que contribyj entrevistas com ae precisa a lista de temas e aspectos para tomnat ae durante 0 trabalho de campo. Mesmo to. Sw tio esses cuidados iniciais, o roteiro de dnvestiga. do qualitativa pode e deve ser modificado durante o Proceso interativo, quando o investigador percebe que determinados temas, no previstos, estdo sendo colocados por seus interlo. cutores, apresentando-se como de elevada significancia para eles, Uma pergunta que freqientemente surge sobre 0 uso do roleiro em campo ¢ quanto a centificidade desse tipo de tra. balho que ndo segue as regularidades de respostas, como no caso dos questiondrios. A resposta € que o investigador que trabalha com abordagem qualitativa nunca pode esquecer-se de que ndo estuda um somatério de depoimentos. Isso signi- fica que a praxis compreensiva pode até utilizar critérios nu- méricos (numero de entrevistas), mas ndo necessariamente serd este 0 definidor de relevancias, muitas vezes esclarecidas Pela fala de apenas um ou de poucos interlocutores, Nesses casos, a unidade de significacdo nao é composta pela soma das respostas de cada individuo Para formar uma relevancia se constréi por significados que confor- mam uma l6gica prdpri nul n ‘epria_do grupo ou. mesmo, suas muilti- ee Acs Portanto, as modificagdes do roteiro em campo am set devidamente acompanhadas, constituindo-se 192 Alguns ae forma t i nente do pesquisad: ae quisador. realzacan eee oie focal ~ a constnucao do roteiro Para a em. dig imprescindiveia ous tem pelo menos duas con- ficientemente Provocador para bate i éntusiasmado e Participativo; e promover —>eE, condicd tende

Você também pode gostar