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pitts ESTADO DA PARAIBA PODER JUDICIARIO UNAL DE JUSTICA GAB. DES. MANOEL SOARES MONTEIRO AcCORDAO APELAGAO GiVEL N.” 200.2004.050.718-4/001 RELATOR P/ 0 ACORDAO: Des. MANOEL SOARES MONTEIRO APELANTE: Marllene Alves de Albuquerque ADVOGADOS: logo Gyrilio Neto e outro APELADA: Telemar Norte Leste S/A ADVOGADOS: Cac César Vieira 2 outros AGAO DECLARATORIA DE INEXIGIBILIDADE C/C REPETICAO DO INDEBITO — Improcedéncia do pedido - Prejudiciat 12 decadéncia arglida em contra-razes ~ Rejeigao - inapiicebilicade do art. 26, do CDC - Suplica pela reforma da sentenca - ‘Acolhimento em parte das razies - llegalidade de cobranca Devol entretanto. de forma simpies das _quantias indevidamente pagas - Presenga de engano justifcével & ‘ovérsia uridica - Provimento parcial da insurreicao. - A decadéncia trimestral previs' no art, 28, ao Congo de ‘ansumidor 80 se aplica aos casos de nuidade de fual, mas sim, a0 direito de reclamar pelos vicios ntes cu de facil canstatagao ne fornecimente do serviga ou ce produto - Atarifa é 0 prego publice estabelecido pela administracao, por ato do executive, unilateralmente, em remuneragdo das ilidades © servicos industriais que Serdo prestados diretamente ‘ou por dolegatérios @ concessiondrios, sempre em carater facultativo ao usuario final. Na falta de lei ou de previséo contratual exorassa, 0 consumidor nao € obrigado @ pagar a assinatura cobrada peia concessiondria em affonta as nonmas da Let 8.078/90. “(.,) A devolugao em dobro prevista no art. 42, § 3°, do Cédigo de Defesa do Consumidor néo é pertinente quando 0 objeto da cobranca esta sujelto 4 controversia judicial. (..)” (REsp 606.360/PR, Rel. Ministto CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO. 3° TURMA, julg. em 20.10.2005, DJ 01.02 2006 p. 531) Provimento pa jal de apelo. istos, reiatados e discutidos estes autos, antes identificados’ ___ ACORDA, a Egrégia Primeira Camara Civel do Tribuna! de Justiga a Paraiba, A UNANIMIDADE, EM REJEITAR A PREJUDICIAL E, POR MAIORIA, DAR PROVIMENTO PARCIAL AO APELC em desarmonia com varbcer da douta ee Procuradoria de Justica, a Marilene Alves de Albuquerque aivizou Agae deciaratéria de igde do indi a Telemar Norte Leste S/A. alegands 3221-8340, pagando mensaimerte inclusive a assinatura dasica legal em Relatorio nexigibilidade c’c ref ert resume, que é possuidora da linha teletoni 25 suas faturas com todos 98 valores cobrad: sua opinigo. Pugnou, 20 fim, pela devolugéo, em dobre, do que por ela for indevidamente page, além da condenagéo 20 pagemento das custes @ honorarios aavocaticios. [A promovida, em sua contestagio, sustentou, preliminarmente, 2 incompeténcia absoluta do Juizo Estadual, eis quo, segundo ela, 0 foro nébil para conhecer € julgar a presente age sera o da Justiga Federal, po: haver interesse da Unido, nos termos do ant 109 | da Consttuigac Federal. Levantou, ainaa, a preiiminar de inépcia de iniial No mérito, alegou que 0 atual sistema de cobranca (taxa de assinatura + numero de pulsos jranqueados) remonta o ano de 1968. conforme se Verifiea na Resolugao Contel n° 43, de 16/12/1966, expedida pelo Conseino Nacional de Telecomunicagdes, que passou @ conceder franauia_mensal correspondents a 90 (roverts) pulsos, cote que fora recentemente majorada para 100 (cem) pulsos, nos casos de assinatura de uso residencial (Ato n° 9.447, de 19/06/2000), expedide pela ANATEL ‘A contestante ainda ressaltou que, mesmo gue sate dos corsumidores nao utllzem todos os pulsos que compdem a franquia. 0 servigo esta ‘ormanentemente & sua disposigdo, visto que 0 terminal telef6nico funcnana de forma iva e passiva, realizando e recebendo chamadas. Assim, concluiu pele legalidade da cobranga da assinatura de uso residencial, razdo pela quat requereu a improcedéneia dos pedidos da promovente. Em sentenga exarada as fis. 91/93, a Exma. Juize de prmeiro greu julgou improcedente o pedido Inconformada, a promovente apelou, almejando a total reforma ca ‘sentenga, com a conseqitente procedéneia da demanda (fs. 98/108). Devidamente intimada, a recorrida ofertou contra-razSes, arguinco 2 prejuticial de decadéncia trimestral. bam como pugnando pela manuteng3 Oc julgade (fis. 113/126). Instada a se manifestar. a douta Procuradoria de Justia, em parecer (fls. 134/137), apinau pelo desprovimento co apelo. Eo relat6rie Voto ~ Des. Manoel Soares Monteiro: ‘Quanto @ decadéncis trimestral arglida, nao desfruta ce razdo a a0elada, posto que art. 26, do Cédigo de Defesa co Consumidor indicace por aquela camo suporte legal, nao se aplica aos casos de nulidade de cldusula contratual ou repetig&o do indébito, mas sim. ao direito de reclamar pelos vicios aparentes ou de faci! constatagao no femecimento do servico Cu: de produto, motivo pelo qual. também rejeita esta prefacial lele No mais, em se tratando de concessio de service nib clo. a tanta & 2 remuneragae enigivel pele prestacdo de servos svamente utlizados rico de 83 ca Lai Geral das Teiecomunicagdes assim “art 83 Paragrato tinico. Concesséo de servigo de telecomunicagdes @ 2 delegaéo de sua prestaco, mediante contrato, por prazo determinado, no regime piblico, sujeitando-se a concessionéria 20s riscos empresariais. remunerando-se peia cobranga de tarifas dos usuarios ou por outras receitas attemativas e respondendo diretamente peles obrigagdes ¢ pelos prejulzos que causar"{gritei) Muito embora esteja claro que tarifa ¢ remuneracdo por servico cfativamente presiadc, a apelala procede 4 cubranga de forma ilegal e abusiva da asematura mensal. isto porque a recorrente, na qualidade de consumidora, ja procedeu 20 pagamento das tarfas de habiltacdo, prego que {he possibiitou a fruigéo imediata € plena do Servico de Telefonia fixa Comutada, ‘A Resolucdo n® 85/1998, da ANATEL — Agéncia Nacional ce 2comunicagbes, assim se pronuncia: ‘An 2 Pars fins deste Re definigées: Jamento, apican-se as sguintes XXI~ Tarifa ou Prego da Assinatura: valor de trato sucessivo pago pelo Assinante a Prestadora, durante tode orestagac dc servigo, nos fermos do contrato de prestagao de servico, dando- Ihe direito & fruieao continua do servico; Xi — Tarifa ou Preco_de Habilitacao: yalor_devido_pelo ‘Assinante, no inicio da prestagao de servico, que Ihe possibilia a fruigao imediata e plena do STFC "(gfe Cra, 5 consumidor, no momento da habilitacdo. 14 promoven < pagamente da tarifa que ine garante fruic&o plena e imediata, inclusive por néo haver dverenga entre “ruigde piena e mediata’ e “ruioao continua’. haja vista se tratar de servigo gue nao se exaure mas que se ini ia com a habilitago da linha telefonica. © Minisiério das Comunicagées, através da Norma n.° 06/97, assim define a tarifa de habiltacao: 2.1 ~ Tarifa de Habiltagdo: valor pago pelo assinante para exercer_o dirsito de haver. em_carater_permanente_e individualizado, a prestacao_de Servico Publico Telefonico conforme as condigdes previstas em contrata de tomada de assinatura fimado com a concessionéria de servica " (grfe! Como se pode perceber, a tarifa de habilitagdo é a contraprestagéo paga pelo consumidor, para usufruir o servigo publico de tolecomunicagao, em carater permanente e individualizado, logo, foge 2 logica © 20 CDC a obrigacde de pagar tarifa complementar para garantir a continuidade do servigo, até aorque todos os servicos prestados pela promovida sao tarifados © pagos pelo usuario. ‘A cobranga da tanita basica, assinatura mensat ou ‘ominagao atribuita gpla eroresa apelame, nos moldes atualmente oanga 0 consumidor 3 pagar garante lucro certo a recorrente. Ressalte-se que apesar da assinatura mensel conceder a0 consumidor a franquia de 100 (cem) pulsos, esta “gratuidade” consiste em sofisma inicialmente, € entendimento dominante de que franquia, servigo gratuito, ndo pode causar qualquer énus para 0 consumidor, pois do contréno seria cléusuia abusive De cutro lado. nos dias atuais, o valor de 100 (cem) puisos equivale a aproximadamente RS 12.54 (doze reais € cingilenta e quatro centavos), muilo aquém do codrado pela isto sem falar do fato de que 03 pulsos nao sdo necessariaments Com a cobranga legal da referda tarifa, a apelada vem umulando um lucro excessive, por receber um valor sem a devida contraprestagao, © gue toma @ relagao demasiacamente vantajosa para 2la, desequillbrando © contrato de adesdo firmado entre os ltigantes ‘Outro ponto que deve ser ievado em consideragdo é 0 desrespeito ‘808 preceitos da legislacao consumerista, bem assim, a desvantagem exagerada a que & submetide o consumidor. tendo em vista que 0s art. 22, 39, 46 © 51, todos do CDC assim se pronunciam: ‘An. 22, Os Orgaos pibficos, por si cu suas empresas concessionénas, permissionérias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, s20 oongados a fornecer servigos adequados eficientes, seguros 2, quando essenciais, continuos. Paragrafo tinico. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, as obrigagdes referidas neste artigo, serdo as pessoas juridicas compelidas a cumpr-las © a reparar os danos causados, na forma prevista neste artigo.” ‘Ait 38. & vedaao aa furnecedor de produtos © se-vicos. dertre outras préticas abusivas: } = condicionar © fornecimente de produto ou de servico ao Tomecimento de outro produto ou servigo, bem como sem justa causa, a fimites quantitativos: Y= exigir do consurt yr vantagem manitestamente excessiva; ‘Art, 48. Os contratos que requlam as relagdes de consumo nao obrigardo os consumidores, se nao ihe for dada a oportunidade de tomar cenhecimento pravio de seu conteddo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo e difcultar a compres de seu sentido e alcance. sac “Art, 51. So nulas de pieno direits, entre outras. as cléusulas contratuais relativas ao fornecimento de procutos @ servicos que. 1V ~ estabelecam obrigagdes consideradas iniquas, abusivas, que cologsiem © consumidor em desvantagem exagerada. ou sejam incompativeis com a boa-fé ou a egilidade; X — penmitars ao tomeceder. direla ou indiretamente, vanacSo do ego de maneira uniiate-= Ast ; =F Iii — se mosira excessivamente onerosa pars 0 consumidor, considlerando-s@ a natureza © cantelido do contrato, 0 interesse das partes e outras circunstancias peculiares ao caso. Como se pods verticar. 4 iegisiagéo veda a orética das cobrangas #egeis promovidas pela TELEMAR, pois traz enorme desvantagem ao consumidor. nor A protego des diretos @ interesses do individuc, hoje, S80 amplamente protegidos, pelo menos & 0 que esié escrito no art. 83 co Codigo ce Deiesa do Consumidor “art, 83 — Para defesa dos direitos e interesses protegidos por esse Codigo séo admissiveis todas as espécies de acoes ‘capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela.” Nao reste qualquer divida, portanto, que tal prética adotada pela recornda € abusiva, fogo, nia de leno direito, dando ensejo 20 desequilibrio scondmco-financeiro do contrato estabelecido entre os itigantes. dai porque, @ egal a cobranga de assinatura mens por desvirtuar a concengao de orece publica © For Bestar-se de todos 08 principios que sustentam a relagdo de consumo De ouva banda, entendo que a resiituicio valores, indevidamente cobrados pela Telemar Norte Leste S/A deva se dar de forma simples: Prescreve 0 pardgrafo Unico, do art. 42, do Codigo de Defesa do Consumidor. “Art, 42. (01 Paragrafo Gnico. 0 consumidor cabrado em quantie sadevida tor dlreito & repetigao do indébito, por valor igual ao dobro dc que pagou em excesso, acrescido de correcao monetéria © juros legals, salvo hipdtese de engano justficével.” [A sango civil acima explicitada, portanto, demanda a existéncia de trés pressupostos objetivos (cabranga ce divida, exrajudicialitade da cobranga qualidade de consumo ca divida cobrada) e um subjetivo (engane injustificavel) Pols bam, tratando-se de fetura expedida para a cobranga de divice slefénica. indiscutivelmente se encontrar presentes 0s sequisitos objetivos ja pssinalados. Todavia, © mesmo nao pode ser cite cuanto @ caracterizacdo, in casu, do pressuposto subjetiva Com efeito, como & facil perceber, ndo se est@ diante de uma cobranga que revele a méxfé ou culpa da operadora. Muito pelo contrano, a exigencia ‘sa mensalidade perdura ha anos, com base em contrato de concesso, que s6 agora, sem unanimidace. ressalte-se, vém tendo a sua ilegalidade decretada pelo Judiciénio Segundo entendimento do Superior Tribunal de Justiga, devolugao em dobro prevista no art. 42, § 3°, do Codigo de Defesa do Consumidor nao 6 pertinente quando o objeto da cobranca esté sujeito @ controversia judicial (.)” (REsp 606.260/PR. Ral. Ministto CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO. TERCEIRA TURMA, DJ 01.02.2006, p. 531), Por teis razoes, DOU PROVIMENTO PARCIAL AO APELO, para, juigando procedente em parte 0 pedido formulado na inicial, declarar a legalidade da cobranga da “assinatura de uso residencial", devendo a recorrica se abster de efetuar a mencionada cobranga, sob pena de mutta didria de sia (cem reais), = bem como condend-la a cevolver, de forma simples, os valores efetivamenté’ pagos nos 5 (cinco) anos anteriores ao aluizamento da aresente acdo, tudo corrigido monetariamente pelo !NPC ¢ acrescido de juros de 1% (um por cento) ao més, partir da citaggo, além des custas e honorérios de advogado, os quais fixo em 10% (dez por cento) do valor da condenagaa Nao havendo, entretanto, a apelante decaido de parte minima do pedido mas sim, de poreao considerével de sua pretensdo, os honorarios advocaticios € as Cespesas orocessuais deverdo ser reciproca @ proporcionalmente disirouldes entre eas, pelo que, fxo como de sua responsabilidade a varcela coraspondente 2 40% (quarenia por cento} das despesas processuais e vorba de sucuimbéncia, observando-se, no entanto, os termos do art. 12, da Le: n? 1 060/60 por ser aquela beneficiaria da justica gratuita come voto. Por votago indiscrepante, rejeitou-se 2 prejudicial e, por maioria, deu-se provimento parcial ao apelo, contra 0 voto do Relator. Fariciparam do juloamerto, Exmos. Des. José Di Lorenzo Serpa @ José Fer sien de Reletor peta o Avorado, o: Ramos Jiinior (Juiz Convocada) Presente a Exma. Ura Maria das Gragas Azevedo Sentos, representante da Procuracoria de Justica Sala de Sessdeg da Fgrégia 1° Camara Civel do Tribunal de Justiga do Estado da Paraiba, 203 09 dias dd més de novkmbro do ano 2006. A, bi Des. MANOEL SOARES MONTEIRO Relator p/o Acordao

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