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aL a | ay capituo 1 (0 DIREITO A CIDADE \Vivemos em uma época em que os ideals dos direitos huma- nos passaram para o primeira plano tanto politica quanto eti- camente. De politica na promocio, defe Sac articulacdo de sua importancia na construgao de um mundo methor. Na maior parte, os conceitos em vigencia sio individu. Iistase baseados na propriedade, e, como tais, em nada contes- tama logica de mercado hegemdnica liberal eneoliberal. Afinal vivemos em um mundo no qual os direitos de propriedade pr vada e a taxa de lucro se sobrepdem a todas as outras nogoes, de direitos em que se possa pensar. Contudo, hd ocasives em. {que o ideal dos direitos humanos assume uma forma coletiva, ‘como quando 0s direitos de trabalhadores, mulheres, gays € ‘minorias adquire maior importancia (um legado do {6 antigo movimento trabalhista norte.americano e, por exemplo, do Movimento pelos Direitos Civ nos Estados Unidos da década de 1960, que foi coletivo e de ressonincia global). Houve _momentos em que essas lutas pelos direitos coletivos aleanga ram resultados importantes, ‘Agul, pretendo explorat outro tipo de direito coletive - 0 ‘drelto 3 cidade no contexto da retomada do interesse pelas Ideas de Hensi Lefebvre sobre o tema, ¢ a emergencia de todos, 05 tipos de movimentos socials no mundo inteiro, que agora ‘omecaram a relvindicar esse dreito. Como podemos, portan: to, defini esse direito? - ‘DAMID HARVEY cidade, ecreveucerta vero famoso socidlogo urbane Robert Park, 6 [-Jatemtativamascoerentee em termes geri, mas bem sce. Aida de retazero mundoem qu vive, ede faa deacordo com seus mal profundosdeseos Form, va eldade € 0 mundo cra: o pelo homem, segues que também & 0 mundo em que ele xs ‘ondenado a viver Asim, indietamenteesem nenbuma cons ciénca bem defini da natures de su ae, 0 ra aca omer rerio a mesmo Se Park esté certo, a questdo do tipo de cidade que quere- mos nao pode se separada da questo do tipo de pessoas que ‘queremos ser, que tipo de relacoes soca buscamos, que rela 684s com a natureza nos satsfazem mals, que estilo de vida | wide pelos 2 bihoes de pestoas que vivem com menor de | 2 hates po dha. Ese mene “meade na base da pichmide”, emt haat nen cule emgnesatas, aque o yande cage {al pretend te aces pon ao de regen em praieexae 2. yma Mah Dap Mit, Lamar ere ‘dhe Se at, hae WB tre Uniery Pees 0. ee cre ans Co aoe mon mr mn) Pr Palo ererntcinpeirenreeparea SS Speer en ela Fete ron ovehcpasosraoepepmnianrnpoed perenne a pepo Pinar pep mene neterr eee SS ‘em escala geogsifica cada vez maior, mas a0 prego de processos. Frlecepgm ore erap ame nprom appari yo 2 ‘any oy Poy Capa iia nd he Mating of Dotopment. Nowa othe, 300 CK rl, The Forte at te Botan of ie Pram Ft " ami Yada honey TP, ova Yr, Paso Pee DAVID HARVEY Periodicamente so termina em rebelides, como em 1871, em Paris, uando os desapropriados se uniram para relvindicayg ‘dade que haviam perdido, Os movimentos sociais urbanos de 1968, de Pars € Bangcoe & Cidade do MExico e Chicago, tam, bbém procutaram definie um modo de vida urbana diferente “daquele que thes vinha sendo imposto pelos empreitetos capi. talstas e pelo Estado, Se, como parece provavel, a dficuldades fiseais da conjuntura ata aumentarem e estiver chegando a9 fim a até agora bem-sucedida fase neoliberal, pos-modernsta e consumista de absorga0 capitalista do excedente por melo da uanizagio, se uma erise de malor amplitude jf assoma no horizonte, ha uma pergunta que precisamos fazer: onde et nos 5068 ou, ainda mals dramaticamente, nossa versio da Comuna? or analogia s transformagoes no sistema fiscal, aresposta politica tende a sr muito mais complexa em nossa época, ex tamente porque o processo urbana hoje tem aleance global ¢ vem enfrentando todo tipo de fisuras,insegurancase desen- volvimentos geogificos diferentes, Porm, como ouvimos em tuma cangio de Leonard Cohen, esas fssurass20 “aqullo que ddeixaa luz entrar. Os sna de revolt esto por toda parte (a Inguietagao na China e na India é roc, a Africa € varida or guerrascivis, a América Latina esta em plena ebuliio, ‘movimentos autonomos surgem por toda parte ¢ até nos Estados Uns 0s indicios politico sugerem que a maioria da populagdo est dizendo “Basta!” no que diz respeito as acinto sas desigualdades) A qualquer momento, eses forts indicios {de revolta podem se tornar contagiosos. Aa contrério do ss ‘ma fiscal, porém, no hi lgagdes esteitas entre os movimen tos sociais de oposigao urbanos e perlurbanos, que si > ‘CIDADES REBELDES. a agregandoss, ‘ fiveito& cidade -, quais deveriam ser suas exigéncias? ih resposta a essa pergunta é bem simples: maior controle democritico sobre a producao ¢ 0 uso do excedente. Uma vez fue 0 processo de utbanizacio € um dos principais canals de to, oditeito a cidade se configura pelo estabelecimento do con- trole democrtico sobre a utilzagio dos excedentes na urban zacio. Ter um produto excedente nao ¢ algo ruim em si mes: mmo: na verdade, em muitas situagbes € crucial para a boa sobrevivéncia, Ao Tongo da historia do capitalism, parte do valor excedente crlado tem sido tributada pelo Estado e, nas fases socal emocratas, ssa proporcao aumentou signiicaiva- mente, colocando grande parte do excedente sob controle esta tal, Nos ultimos trinta anos, todo o proleto neoliberal orientou- se para a privatizagao do controle sobre o excedente, Os dados para todos os paises da Organizagao para Cooperagio € Desenvolvimento Econdmico (OCDE) mostram, porém, que a parcela da produgio bruta que fica com o Estado manteve-se ‘mals ou menos constante desde a década de 1970. Assim, a maior ealizagao da investida neoliberal consistiu em impedir 27 Onaniagionortcamericana de rentagio manta deca via. ‘upo, gue duu apenas de 196) 21973, leou conto pebleamente a farina intaio deta ao lng ea go -_ ‘bara naRveY que a parcel do Fstado aumentasse do modo como oxortey ny década de 1940, Outta resposta consist em cH non se mas de vernanga que integarn os inteteses do Estado e dy, ‘onporac tes, pela aplicagto do poder do dinheito,asegutam que ewe controle sabre o devembolto do excedente por meio CHDADES REBELDES tem der exgucsdoe aba acta wacom 5 pete So Po ee eipeno adrian de ena © i ue reponabliase psa, CASE sie nove et i Pl eric devas re sano cata eda ean Nao Siena a erat ee even eas ops pcs? ra errpds canon pra wes, no sci, gve Um Movi ann urnte de oposao a tudo so vena a ocore. de fest gue ests em andarento um grande € conhecimento fiversiicado niimiero de lutas € movimentos socials urbanos {00 sentido mais amplo do termo, isto €, aquele que também inclu os movimentos nas zonas rurais). Fm muitas partes do ‘mundo, io abundantes as inovagdes urbanas acerca da susten tabilidade ambiental, da incorporagdo cultural dos imigrantes do desenho urbana dos espacos habitacionals publicos. Contudo, eas ainda precisam se concentrar no objetivo tinico de adquirie maior controle sobre 0s usos do excedente (para io falar das condligBes em que se dé sua producio). Um pas- so rumo 3 unificagao dessasIutas ~ alnda que de maneita algu- ‘mao timo — consistria em concentear ‘mente nesses momentos de destruicao crlativa nos quais a ‘conomia de acumulagao de riquezas se transforme violenta- ‘mente na economia de espoliagao e ali proclame, em nome dos ‘Spoliados, seu direito 3 cidade ~ seu direito a mudar o mun- do, a mudara vida ea reinventar a cidade de acordo com seus ‘mals profundos desejos. Esse dircito coletivo, tanto como Palavra de ordem quanto como ideal politico, nos remete & ‘lara e inequivoca- _actipulesima questo be saber quem & que contiola a comers, ‘interna entse wrbanizasto € roux € wo excedentes King talver Lebetrve extivesse cera, hs mats de quarenta anvn, fsistv em que a revolucao de nonsa época tem de ser uten, = ons no verb nad, capiruLo 2 AS RAIZES URBANAS DAS CRISES CAPITALISTAS tim um artigo pblicado nwo New York Ties de 5 de fevereto de 2011, intitulado "Housing, Bubbles Are Few and Far Vetween” ths bothas imobiléras sto poucas e esparsas), Robert Sills, tconomista que tultos consideram 0 malor especalista em ques tes imobiirias dos Fstador Unidos, tendo em vista seu papel ra criagio do indice Case Shiller, que aufere os prego do merca- {do imebiléio, renovou a conflanga de todos ao afirmar que a recente botha imobilirla era “urn acontecimento raro, que nO 4 4 reper por multas décadas", A “enorme botha imo: haria® do comeco da década de 2010 "nao € comparével a renhum ciclo nacional ou internacional semelhante em toda a historia, As bothas anteriores foram menotes ¢ mals regionals” 0s énicos paralelos vel, disse ele, foram as bothas relat vvasao prego da tera, que ocorteram nos Estados Unidos em fins da década de 1830 e a0 longo da década de 1850! Como pretendo mostrar, essa € uma leitura espantosamente Inexata e perigosa da histérla capitalista, O fato de ter passado {Go despercebida aponta para uum grave ponto cego no pens ‘mento econdmico contemporaneo. Infelizmente, também se tata de um ponto cego da economia politica marxista O colap- 30 no setor imobillrio nos Estados Unidos, entre 2007 ¢ 2010 tpl Sl Hosing abies ae Fw ad ar ete New ok

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