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Lingua Portuguesa » [ SISTEMA DE ENSINO | SI Aveda Pest Keay, 2295 ~ Tl: (18132986900 ‘CEP 14095 210 Lapis - Rio Proto SP "wan satenaenecombe 4 a] rio Sum Capitulo 01¢a |INGuaGEM E SuaS MUItIplaS FuNCOES 7 Introduc3o 1, Fungées da linguagem RESUMO. Capitulo 02° DISSERtaGAo 1. Orientagdes basicas 7 7 10 12 12 Capitulo 03 PLANEJAMENTO E ESTRUTURA DO TEXTO (1) 16 1. Planejamento dissertativo 2. Introduco Capitulo 04 * PLANEJAMENTO E ESTRUTURA DO TEXTO (II) 1, Desenvolvimento — argumentacéo 2. Conclusdo 3. Textos de apoio ~ A coleténea Comentérios Identificando os argumentos Capitulo 05 *1INGuaGEM DISSERtat IVa Linguagem Coesio textual Tépico frasal Coeréncia Interdependéncia coesdio-coeréncia (Os métodos indutivo e dedutivo Sea eNE CAPITULO 06 + tlpoS DE tEMaS 1. Delimitacao do tema 2. Tipos de temas Capitulo 07 * OUTRAS MODALIDADES DE TEXTO 1. Carta argumentativa 2. Descri¢éo 3. Narraco Capitulo 08 + INtERtEXtual IDaDE Capitulo 09* aNAIISE Do RaSCuNHo 1. Falhas frequentes na elaboracao de um texto dissertativo 2. Principais defeitos 3. Principais virtudes e cuidados 4, Roteiro para andlise do rascunho 16 17 21 24 25 26 29 29 33 33 34 39 a 44 46 49 49 49 65 6s 67 69 80 83 83 83 87 87 EXERCIClo S pRo po StoS © 8 GaBaRito 374 Produgio e interpretagio de texto Introduggo livro produgdo e Interpretagdo de textos constitui um referencial tedrico e pratico que, aliado aos Cadernos de Atividades, persegue © objetivo de desenvolver as competénci leitora e escritora. Jé se tornou senso comum dizer que “quem néo Ié no escreve”; contu- do, apartada da pratica, a leitura pura e sim- plesmente nao produz bons redatores. Nesse sentido, para criar textos que atinjam os pro- pésitos almejados exigidos por cada género, 0 leitor deve fazer do exercicio da escrita uma tarefa constante, didria. Os contetidos tedricos e os exercicios propos- tos neste livro baseiam-se nas matrizes de re- feréncia dos principais processos seletivos do pals, assim como o ENEM. As propostas de re- dacdo encontram-se agrupadas nos capitulos 6 € 9 dos exercicios propostos, e as questées de interpretagao de texto esto distribuidas a0 longo dos demais capitulos. 1. Fungées da linguagem Todo uso concreto e particular que determi- nado falante faz da lingua é chamado de ato de fala. Em todo ato de fala é obrigatéria a atuagdo combinada dos seguintes elementos da comunicagao: * emissor - 0 que comunica algo a al- guém; * receptor — aquele com quem o emissor se comunica; ‘*-mensagem — tudo o que foi transmitido do emissor ao receptor; ‘© cédigo - a convengio social que permi- te ao receptor entender a mensagem; * canal—o meio fisico que conduz a men- sagem do receptor; * contexto ~ 0 assunto da mensagem. Para a maior parte dos falantes, 0 uso da lin- guagem é automético, por isso raramente se percebe que o modo de organizagao da men- sagem esta diretamente ligado a funcao que se deseja dar a ela, ou seja, ligada a inten- ‘640, 2 finalidade para a qual ela foi elaborada, Portugués Capitulo 01+ A LINGUAGEM E SUAS MULTIPLAS FUNGOES aw Sempre que nos comunicamos, temos uma intengo, uma finalidade, dai o fato de cer- tas expresses e combinacdes de vocabuld- rio serem perfeitamente adequadas a certas situagdes e absolutamente inoportunas em outras. Essa intencdo determina as funges da linguagem. Toda mensagem tem uma finalida- de: ela pode servir para transmitir um contetido intelectual, exprimir (ou ocul- tar) emogdes e desejos, para hostilizar ou atrair pessoas, incentivar ou inibir con- tatos e ainda, bem simplesmente, para evitar o silencio, Por isso se diz que uma ‘mensagem tem muitas fungdes, muitos significados. LOPES, Edward. Fundamentos dalinguistica contempordinea, So Paulo: Cults, 2007. Fragment. Alinguagem desempenha fungées diferen- tes, de acordo com a énfase dada a cada um dos componentes do ato de fala. Sendo as- sim, sero seis as fungdes da linguagem, j4 que sao seis os elementos que compéem esse ato. A. Fungaio emotiva ou expressiva Ea funco que ocorre quando 0 destaque é dado ao emissor. Suas principais caracteristi- cas si = verbos e pronomes em primeira pes- soa; = presenca comum de ponto de excla- macdo e interjeicées; = expressdo de estados de alma do emis- sor (subjetividade e pessoalidade); = presenca predominante em textos liri- cos. 0 ato de fala é utilizado para exprimir 0 es- tado de espirito, as emogdes, as opinides do emissor. Ao contrario do que acontece na fungdo referencial (marcadamente objetiva), encontramos aqui uma clara subjetividade. A comunicagio centra-se no emissor. Recorre a frases de tipo exclamativo. Portugués Exemplo Meus oito anos ‘Oh! que saudades que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infincia querida Que os anos nao trazem mais! Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueiras A sombra das bananeiras, Debaixo dos laranjais! [...] ABREU, Casimir de. As primaveras. Sio Paulo: Martins Fontes, 2002. Fragmento. B. Funcéio conativa ou apelativa Ea funcdo que ocorre quando o destaque é dado 20 receptor. Suas principais caracteristicas sa = verbos no imperativo; = _verbos e pronomes na segunda ou ter- ceira pessoas; ~ tentativa de convencer o receptor a ter um determinado comportamento; = presenca predominante em textos de publicidade e propaganda A linguagem é utilizada para agir sobre o re- ceptor, para tentar modificar a sua atitude ou comportamento. Assume geralmente a forma de ordens, pedidos ou conselhos. Por centrar- -se no receptor, utiliza formas verbais no im- perativo, bem como o recurso do vocativo. Exemplo feratura para todos tem nova campanha Disgonivel em: . Acesso em: 10 set, 2011, C. Fungo referencial E a funcdo que ocorre quando o destaque é dado ao referente, ou seja, ao contexto, ao as- sunto. Suas principais caracteristicas so: coe Produgio e interpretagéo de texto = objetividade; — clareza; = a finalidade é traduzir a realidade, tal como ela é; — presenca predominante em textos jor- nalisticos e cientificos 0 objetivo primeiro do ato de fala (a intencao do emissor) é transmitir informacao sobre al- gum aspecto da realidade, exterior ou interior. E, de certo modo, a funcao priméria da lingua- gem, aquela em que pensamos imediatamente, quando falamos em comunicacao. 0 ato comu- nicativo centra-se predominantemente sobre 0 contexto. Utiliza frases de tipo declarativo. Exemplo Deputados do Rio aprovam projeto de lei que cria programa para combater bullying ‘A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro aprovou um projeto de lei que cria um programa de “prevengio e conscienti- zaco” sobre bullying nas escola De acordo com o projeto, ha dez me- tas que envolvem prevengao ¢ auxilio a vitimas de agressores. A proposta também inclui o combate ao cyberbullying, que feito via Internet. texto segue para sangio do gover- nador . Disponivel em: . Acesso em: 27 set. 2011. Adaptado, D. Funcao fatica E a funcio que ocorre quando o destaque é dado ao canal. Exemplos tipicos da funcdo fé- tica so os cumprimentos didrios - Oil, Tudo bem?, Boa tarde etc. -, as primeiras palavras de quem atende ao telefone - Ald!, Pronto! etc. ~, as conversas de elevador etc. Em todas essas situagdes, 0 interesse do emissor, a0 transmitir a mensagem, foi o de testar 0 canal, que vai ter o mesmo valor de um aceno com a mo, com a cabeca ou com os olhos. A fi- nalidade Ultima é a de estabelecer, manter ou prolongar 0 contato com o receptor. Nesse caso, a linguagem é utilizada para testar © funcionamento do canal e manter o contato entre o emissor e o receptor. Essa funcdo é mais evidente nas conversas telefénicas e natural- mente preocupa-se sobretudo com o canal. Produgio e interpretagio de texto Exemplo Sinal fechado O14, como vai? Eu vou indo e voc’, tudo bem? Tudo bem eu vou indo comrendo Pegar meu lugar no futuro, e voes? Tudo bem, eu vou indo em busca De um sono tranquilo, quem sabe. Quanto tempo... pois 6. Quanto tempo... [-.] VIOLA, Paulinho da. Sina fechado. Disponivel lem: , Acesso em: 10 set. 2011. E. Funcdo metalinguistica E a funcdo que ocorre quando o destaque é dado ao cédigo. Numa situagdo em que um linguista define a lingua, observa-se que, para conceituar um termo do cédigo, ele usou 0 préprio cédigo, ou seja, definiu "Iingua" usan- do a prépria lingua. Também ocorre metalin- guagem quando o poeta, num texto qual- quer, reflete sobre a criacdo poética; quando um cineasta cria um filme tematizando 0 préprio cinema; quando um programa de te- levisdo enfoca o papel da televisdo no grupo social; quando um desenhista de quadrinhos elabora quadrinhos sobre o préprio meio de comunicacao etc. Em todas as situagGes cita- das, percebe-se o uso do cédigo para explicar © proprio cédigo. O exemplo mais definitivo desse tipo de funcao séo as aulas de gramati- ca, 05 livros de gramatica e os dicionérios da lingua Exemplo Metalinguagem 1m substantivo feminino Rubrica: lingufstica Linguagem (natural ou formalizada) que serve para descrever ou falar sobre uma outra lin- guagem, natural ou artificial (As linguas natu- rais podem ser us. como sua prépria metalin- guagem.| Dicondrioeletrénico Houaiss do lingue portuguesa 3.0 F. Fungo poética E a funcio que ocorre quando o destaque & dado a prépria mensagem e a sua elaboracao. Portugués A preocupacao do emissor € com a melhor forma de passar essa mensagem, selecionan- do, escolhendo, sugerindo sons e imagens por meio da linguagem utlizada. As figuras de es- tilo sdo um dos recursos de que o emissor se utiliza quando coloca em evidéncia a funcao pottica. Os textos literdrios, em prosa ou em verso, so os melhores exemplos de presenca predominante dessa funcao, Por vezes a linguagem é utilizada fundamental- mente para produzir prazer estético. Os recur- sos linguisticos sao dispostos de forma a cons- truir um objeto artistico, capaz de, pela sua configuraco, gerar, quer no emissor, quer no receptor, uma sensacdo de prazer semelhante a0 que se obtém com a musica ou a pintura. E mais evidente na poesia, mas esta também presente na prosa literaria e até no discurso oral, ou mesmo no discurso publicitario. Exemplo (1 Alem, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos labios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graiina, e mais longos que seu talhe de palmeira. favo da jati ndo era doce como seu sortiso; nem a baunilha recendia no bos- que como seu halito perfumado. [...] ALENCAR, José de. Iracema, Porto Alegre: L&PM, 2002. Fragmento. G. Intengao comunicativa E importante esclarecer que as seis funcdes no se excluem, ou seja, dificilmente teremos num texto apenas uma das fungdes. 0 que ocorre € que hé 0 predominio de uma das fungGes sobre as outras: esse predominio esté ligado & intengao da mensagem, & finalidade que o emissor da a ela. Ter clara a finalidade que se deseja alcangar ao produzir um texto fard, portanto, com que sua linguagem assuma uma ou mais funcdes. Se nao estiver clara a intencdo do texto, o resulta- do pode ser confuso para quem Ié e até mesmo para quem o produz. Esse trabalho de defini¢ao de finalidades pode ser chamado de projeto de texto e deve responder a questdes fundamen- tais, tais como, qual é 0 meu propésito? ou que Portugués estou querendo dizer?, a quem devo atingir?, ‘ou com quem estou me comunicando? Numa situago de avalia¢ao, por exemplo, se © emissor estiver redigindo uma resposta de matemitica, 0 uso de figuras de linguagem e de qualquer outro aparato linguistico néo é cabivel, j4 que deve predominar a funcéo referencial, pois a finalidade da resposta do emissor deve mostrar 0 dominio que ele tem do contetido, de forma clara e precisa. J4 na elaboraao de um poema para o ser amado, a funcdo emotiva predomina e 0 coragdo, com todos os seus exageros e floreios, falaré mais alto. Um cargo politico depende, por exemplo, do bom uso da fungao conativa, pois influen- ciar 0 comportamento do eleitor, trazendo-o EXERCiCloS RESoIVIDoS leia o texto a seguir para responder & ques- tao 1. O navio negreiro Negras mulheres, suspendendo ds tetas Magras eriangas, cujas bocas pretas Rega o sangue das mies: ‘Outras mogas, mas nuas e espantadas, No turbilhio de espectos aaa, Em énsia e magoa E ri-se a orquestra irdnica, estridente. E da ronda fantastica a serpente Faz doudas espirais .. Se 0 velho arqueja, se no chao resvala, Ouvem-se gritos... o chicote esta. E voam mais e mais... Presa nos elos de uma sé cadeia, Armultidio faminta cambaleia, E chora e danga ali! Um de raiva delira, outro enlouguece, Outro, que martirios embrut Cantando, geme e ri! No entanto 0 capitio manda a manobra E apis, fitando o eéu que se desdobra ‘Tao puro sobre o mar, coe 10 Produgio e interpretagéo de texto para o seu lado é a meta do candidato, daf os discursos serem predominantemente apelati- vos ou conativos. Os atos comunicativos tém sempre uma deter- minada intencionalidade, que pode ser mais ‘ou menos consciente. Sao essas diferentes in- tengdes que temos em mente quando falamos em funges da linguagem. RESuMo Elemento da comunicacao Fungo da linguagem. Emissor Emotiva Receptor Conativa Canal Fatica Cédigo Metalinguistica Contexto Referencial Mensagem Poética Diz do fumo entre os densos nevoeitos: "Vibrai rjo 0 chicote, marinheiros! Fazei-os mais dangar'..." Castro Alves, Onavio negrero.Fragmento 01. Ibmec-Sp Além da funcao poética, qual outra funcao da linguagem prevalece no poema de Castro Al- ves? a, metalinguistica b. referencial «. apelativa d. fatic e. emotiva a Resolucao Além da fungo pottica, predomina no texto de Castro Alves a fungio referencial, ja que 0 autor descreve as condigdes desumanas em que viajavam os negros num navio que realiza- va 0 trafico no Brasil do século 19. Resposta B Produgio e interpretagio de texto 02. (puC-Sp) Com esta histéria eu vou me sen- sibilizar, e bem sei que cada dia é um dia roubado da morte, Eu ndo sou um in- telectual, escrevo com 0 corpo. E 0 que escrevo é uma névoa timida. As palavras do sons transfundidos de sombras que se entrecruzam desiguais, estalactites, renda, miisica transfigurada de érgio. Mal ouso clamar palavras a essa rede vibrante e rica, mérbida e obscura tendo como contratom © baixo grosso da dor, Alegro com brio. ‘Tentarei tirar ouro do carvao. Sei que es- tou adiando a histéria e que brinco de bola sem bola. O fato é um ato? Juro que este livro é feito sem palavras. E uma fotogra- fia muda, Este livro é um siléncio. Este livro é uma pergunta, Clarice Lispector A obra de Clarice Lispector, além de se apre- sentar introspectiva, marcada pela sondagem de fluxo de consciéncia (mondlogo interior), reflete, também, uma preocupacdo com a es- critura do texto literério. Observe o trecho em questo e aponte os ele- mentos que comprovam tal preocupacdo. n Portugués Resolucéo Nesse fragmento de Clarice Lispector, além da apreensao introspectiva, hé também a preocupacao constante com a propria escri tura do texto literdrio, usando-se a funcio metalinguistica A discuss3o ou abordagem da tessitura narra- tiva aparece em passagens como: "As palavras so sons transfundidos de sombras que se en- trecruzam desiguais, estalactites, renda, mu- sica transfigurada de érgio. Mal ouso clamar palavras a essa rede vibrante e rica (...)", "Sei que estou adiando a historia e que brinco de bola sem bola. O fato é um ato? Juro que este livro feito sem palavras (...)" e "Eu nao sou um intelectual, escrevo com o corpo. E 0 que escrevo é uma névoa umida". Portugués Ten eaiscairte cl > | 1, orientagdes basicas Dissertar consiste no ato de expor de modo sistematico, oralmente ou por escrito, algum assunto relevante. E importante fazer a distin- Go entre a dissertag3o informativa — aquela cujo teor baseia-se apenas na exposicio de informagées — e a dissertacdo argumentativa, cujo cardter consiste na defesa de um posi- cionamento a respeito de determinado tema, utilizando procedimentos argumentativos es- truturados de maneira convincente. Varios capitulos deste livro. so dedicados ao estudo da dissertagio, particularmente ao texto dissertativo-argumentativo. Tal énfase se justifica pelo fato de essa modalidade de redagdo ser pedida em quase todos os pro- cessos seletivos, ainda que alguns apresentem também propostas para narrativa ou mesmo. carta argumentativa, modalidades de que tra- taremos mais a frente, neste curso. Em geral, o texto dissertativo-argumenta solicitado pelos principais processos seletivos pretende avaliar, além da competéncia linguis- ttica escrita do candidato, seu repertorio cultu- ral, sua vis8o de mundo, exigindo, desse modo, um posicionamento consistente em relaco a0 tema apresentado. As observagies a seguir so muitos oportunas, dada sua importancia no contexto da disserta- 0 escolar, além de serem fruto de inimeras interrogagdes entre vestibulandos, durante o ano letivo. A. Titulo Caso seja pedido nas instrucées da prova, o ti- tulo nao pode ser esquecido. Deve ser criado apenas antes de se passar a redacao a limpo, e nao antes de escrever 0 texto. Ele deve ser ins- pirado no contetido do texto endono tema. Se possivel, que seja curto, indireto (metaférico}, sem forma verbal e centralizado na folha. B. Epigrafe Tem valor apenas decorativo, o que caracteriza um risco desnecessario, Mas caso vocé resol- coe 2 Produgio e interpretagéo de texto va fazer uso dela, escreva-a no canto superior esquerdo da folha, finalizando com a indicagao do autor da frase usada como epigrafe. C. Espagos O ideal é “pular” uma linha entre o titulo ¢ 0 Inicio do texto. Se nao houver titulo, deve-se comecar a escrever jé na primeira linha, © tradicional espaco no inicio dos paragrafos deve ser respeitado, com as linhas sendo ocu- padas inteiramente. A ultima linha do pargra- fo poderé ou néo ser totalmente preenchida, i que isso depende da finalizacdo de cada pardgrafo. D. Letra Preferentemente a cursiva, mas a chamada ‘de forma” é normalmente aceita pelas bancas dos processos seletivos; nesse caso, devern-se finguir maidsculas de mindsculas. € indis- pensavel, claro, que seja legivel. E. Dimensdes + Da redago - 0 tamanho da redacao poderd estar indicado nas instrucdes da prova e deve ser obedecido, mas a maioria dos vestibulares mais impor- tantes nao o tem determinado; nesse caso, convém que o texto oscile entre 22 e 28 linhas, mais ou menos, jé que esse tamanho é suficiente para com- Portar boa discussao tematica. Dos pardgrafos ~ A extensio de qual- quer pardgrafo depende essencial- mente do que se quer analisar nele, independentemente de se tratar de pardgrafo introdutorio, argumentativo ‘ou conclusivo, £ bom, no entanto, que a diferenca de tamanho de um pard- grafo qualquer para outro no seja téo grande que venha a chamar a atencdo do avaliador. Quanto a quantidade de- les, depende também de tudo o que se quer dizer sobre o tema discutido, mas, ‘em geral, 0s textos séo construidos em torno de quatro a seis pardgrafos. Produgio e interpretagio de texto * Dos periodos - Os periodos devem ter limitagéo de tamanho, pois é notério que periodos muito longos facilitam erros de concordancia, de pontuagio, raciocinios labirinticos, falhas de clare- za (ambiguidade) e falta de ritmo. Um periodo com mais de quatro linhas jé apresenta riscos. F. Emprego da primeira pessoa ‘Ao menos em se tratando dos vestibulares mais concorridos, praticamente ja ndo se faz restrico quanto a0 uso da primeira pessoa, devendo-se, no entanto, evitar-se o emprego da primeira pessoa do singular, dado o carater extremamente individual que esse uso assu- me. ‘Apesar dessa descontraggo de muitas bancas universitarias, professores t8m aconselhado seus alunos a evitarem o emprego da primeira pessoa, tendo em vista o teor da dissertacao: assemelhado ao trabalho jornalistico ou mes- mo ao trabalho cientifico. G. Recurso visual Proibido. Nao se pode usar sinais matemati- cos, por exemplo, nem maiisculas alegorizan- tes, palavras sublinhadas ou grifadas ou mes- mo sinais de pontuacao no oficiais, como ?! ou III, além de desenhos ou esquemas. H. Linguagem ‘A linguagem ideal para a dissertago é a cha- mada jornalistica: objetiva, clara, didatica, in- formativa, isto é, aquela em que predomina a fungo referencial. O uso de giria, estran- geirismo, sigla, abreviatura, numeral deve ser evitado, embora haja circunstdncias em que 0 ‘emprego é possivel, dependendo do suporte ‘em que 0 texto vai circular e 0 tipo de inter- locutor, B Portugués A leitura regular de determinadas secdes de jornais didrios e de revistas semanais, confor- me a orientago de seu professor, é absoluta- mente indispensavel. I. Adequacao ao género O aluno deve estar atento ao género textual proposto para a execugdo da prova. Conforme jdsalientamos, predominaotextodissertativo~ -argumentativo, semelhante ao género artigo de opiniao. Ultimamente, alguns vestibulares tém solicitado outros géneros, como narrativa, carta argumentativa, comentario baseado na interpretacao de gréficos e tabelas, resumo e outros. J. Adequagao ao tema ‘Todas as ideias veiculadas no texto devem con- vergir para o desenvolvimento do tema e ser pertinentes a ele, portanto é de fundamental importancia compreendé-lo antes de comecar a esquematizar 0 projeto de texto. Vale dizer que a “fuga ao tema proposto” é penalizada com nota zero, ‘Atengo: ndo se deve confundir tema com ti- tulo. O primeiro é fornecido pela prova, 0 se- gundo é criado pelo aluno. K. Estrutura: introdugao/ desenvolvimento/conclusao 0 texto dissertativo estrutura-se em, basica- mente, trés partes: introdugo - em que se apresenta ao leitor o tema e a posi¢ao defen- dida pelo autor acerca da questo (tese); de- senvolvimento ~ nessa parte do texto, 0 autor desenvolve o tema, defendendo, por meio de argumentaco sélida e raciocinio Iégico, seu posicionamento (tese); conclusdo ~ 0 fecha- mento do texto pode sintetizar as principais ideias discutidas, confirmando a tese, ou apre- sentar proposta de solugdo para o tema em debate. Portugués EXERCiCloS RESoIVIDoS O texto a seguir serve de referéncia para as questdes 1e 2 Um arriscado esporte nacional Os leigos sempre se medicaram por conta propria, jé que de médico e louco to- dos temos um pouco, mas esse problema jamais adquiriu contornos to preocupan- tes no Brasil como atualmente. Qualquer farmécia conta hoje com um arsenal de ar- ‘mas de guerra para combater doengas de fazer inveja & propria indiistria de material bélico nacional. Cerca de 40% das vendas realizadas pelas farmacias nas metrépoles brasileiras destinam-se a pessoas que se automedicam, A indiistria farmacéutica de menor porte e importincia retira 80% de seu faturamento da venda “livre” de seus produtos, isto é, das vendas realizadas sem receita médica. Diante desse quadro, o médico tem © dever de alertar a populago para os pe- rigos ocultos em cada remédio, sem que, necessariamente, faca junto com essas ad- verténcias uma sugestdo para que os entu- siastas da automedicaco passem a gastar mais com consultas médicas. Acredito que a maioria das pessoas se automedica por sugestio de amigos, Icitura, fascinagdo pelo mundo maravilhoso das drogas “no- vas” ou simplesmente para tentar manter a juventude. Qualquer que seja a causa, os resultados podem ser danosos. mum, por exemplo, que um sim- ples resfriado ou uma gripe banal leve um brasileiro a ingerir doses insuficientes ou inadequadas de antibisticos fortissimos, reservados para infecgdes graves ¢ com in- dicagdo precisa. Quem age assim esta en- sinando bactérias a se tornarem resistentes a antibisticos. Um dia, quando realmente precisar de remédio, este ndo funcionara. E coe us Produgio e interpretagéo de texto quem nao conhece aquele tipo de gripado que chega a uma farmécia e pede ao rapaz. do baledo que Ihe aplique uma “bomba” na veia, para cortar a gripe pela raiz? Com isso, podera receber na corrente sanguinea solugdes de glicose, célcio, vitamina C, produtos aromaticos ~ tudo sem saber dos riscos que corre pela entrada sibita destes produtos na sua circulagdo. Dr Geraldo Medeiros Veo, 18 dex. 1985. 01. puC-pR Analise as seguintes assergGes e assinale a al- ternativa correta 1. 0 titulo ndo expressa o tema do texto. Il, 0 titulo, além de expressar o tema tra- tado, é sugestivo, atraente Il Levando em conta as caracteristicas predominantes, 0 texto lido se identifi- ca como artigo de opiniao. IV. Considerando que o texto foi publicado em uma revista, ele pertence ao grupo das reportagens. a. Ile ll s8o verdadeiras. b, Il e IV sdo verdadeiras. c. le IV séo verdadeiras. d, |e Ill so verdadeiras. e. Apenas | é verdadeira. Resoluao 0 titulo do artigo é expressivo, constitui um recurso intencional para atrair a atenc3o do leitor e remete metaforicamente ao tema do texto. Nao é uma reportagem por nao se re- ferir a um fato pontual, mas sim a algo que vem ocorrendo e que gerou a declaracdo da opinido do articulista. Resposta D Produgio e interpretagio de texto Portugués 02. Indique 0 que for falso sobre o texto de Geraldo Medeiros. b, Apesar de tratar de um tema sério, 0 texto apresenta um certo tom de hu- mor. Os dados estatisticos apresentados no primeiro pardgrafo so argumentos convincentes que o autor utiliza para defesa de seu ponto de vista. . O fato de o autor assinar seu nome pre- cedido do titulo de doutor (Dr.) é uma forma de dar credibilidade tanto & po- sigo defendida como aos argumentos apresentados. A automedicacao ¢ 0 tema central do ‘texto. No segundo pardgrafo, o uso do verbo acreditar, para introduzir as causas da automedicagdo, anulou a forca argu- mentativa do enunciado, o que acabou desqualificando todo o texto. 1s Resolucéo Ainda que se possa discutir se 0 uso de “Acre- dito” seja adequado a um texto como este (0 autor poderia ter dito simplesmente “A maio- ria das pessoas se automedica (...)"), isso ndo desqualifica o texto inteiro. Resposta c Portugués Capit ulo 03 * PLANEJAMENTO E ESTRUTURA DO TEXTO (1) > | 1, Planejamento dissertativo Para o sucesso de nossas agées na vida, precisa- mos, quase sempre, planejé-las e, quanto mais importante for a jornada de que participamos, mais cuidadosamente devemos preparar as tapas a serem percorridas, j4 que desse com- portamento depende totalmente, ou em gran- de parte, a conquista de nossos objetivos. Se for um trabalho que realizamos varias ve- zes, seré mais conveniente ainda que o nosso planejamento atinja 0 estdgio de método, de rotina, 0 que nos levard a mais perfeico em menos tempo. A produso de um texto é algo meticuloso e depende de aces inter-relacionadas e sequen- tes, mas ndo mecénicas, visto que reproduzem pensamentos de diferentes autores acerca de determinado tema. O planejamento do texto a ser produzido deve ser calcado numa sequéncia rigorosa, seja qual for a modalidade e o tema. Construindo a dissertagao A. Lendo a coletanea, identificando 0 tema e anotando ideias O contato com o(s) texto(s) de apoio é um mo- mento importante na produgéo de um texto dissertativo, pois é por meio dele que temos a oportunidade de ampliacao das informacées acerca do tema a ser abordado. Da coleténea, podemos extrair algumaideia que, transforma- da em argumento, pode vir a ser a “cerejinha do bolo” do texto que estamos construindo, ja que esse conjunto de textos, normalmente, apresenta boa qualidade, até porque, geral- mente, foi produzido por profissional da rea, com um tempo disponivel, com 0 qual nao contamos no momento da prova. Além disso, 6 possivel anexar uma ideia propria a alguma dos) texto(s) de apoio, desenvolvendo um raciocinio que nao atingiriamos sem a leitura prévia da coletanea. B. Anexando alguma ideia prépria Aproveitar ideia(s) da coleténea & muito im- portante, mas ndo podemos abrir mao de uma 16 Produgio e interpretagdo de texto ‘ou outra ideia prépria, 0 que dard ao texto a chamada “marca de autoria’, ou seja, o regis- tro do nosso pensamento, visio de mundo, posi¢do pessoal diante do assunto discutido. Esse aspecto ¢ valorizado por qualquer banca ‘examinadora de qualquer vestibular. C. Produzindo a introdugao Momento dos mais importantes na produgio do texto dissertativo, pois a introdugao deve conter a tese. Veremos, em aula posterior, que a tese contém a posi¢ao do autor diante do tema e, por isso mesmo, direciona a discus- so. Se a discussdo estiver de acordo com tal direcionamento, um dos aspectos indispensé- veis da dissertagio jé estard garantido: a coe- réncia entre argumentacao e tese. D. Selecionando ideias Dentre as ideias anotadas durante a leitura da coletanea, selecione algumas - duas ou trés — que sejam coerentes com sua tese, tomando 0. cuidado de examinar se elas sdo pertinentes e relevantes em relacdo ao tema. E. Construindo a argumentago ‘A argumentacao fundamenta-se na ordenacao das ideias numa sequéncia ldgica, de forma a construir um raciocinio eficaz, por meio do qual as ideias vo se sucedendo com naturali- dade. Nesse sentido, a selecdo de argumentos deve ser esquematizada apés a leitura da co- letanea e a certeza da compreensdo do tema a ser desenvolvido. Cada argumento deve ocupar um paragrafo, o que é suficiente para expor 0 seu pensamento de modo pleno, sem medo de escrever demais, mas evitando, claro, banalidades, obviedades, repetigées. € funda- mental que os pardgrafos estejam conectados entre si. F. Produzindo a conclusao Neste ultimo paragrafo, vocé deve confirmar a defesa da tese, realizada por meio da argu- mentacdo. Mais uma vez, tome cuidado para que 0 fecho do seu texto seja coerente com 0 desenvolvimento. Producao e interpretacdo de texto G. Analise do rascunho Este momento é a Ultima oportunidade para melhorar o texto, “limpando-o” das possiveis incorregdes. Devido & importéncia dessa eta- pa, haverd aulas dedicadas ao trabalho com o rascunho, portanto voltaremos a tratar dessa pratica mais detalhadamente. 2. Introdugdo Dissertar é expor ideias a respeito de um de- terminado assunto. Especificamente, 0 texto dissertativo-argumentativo tem o objetivo de discutir pontos de vista, analisando seus va rios aspectos, apresentando argumentos que justifiquem e convengam o leitor da validade do ponto de vista defendido pelo autor. Nesse sentido, informaco e capacidade critica cons- tituem 0 suporte essencial para quem pre- tende convencer por meio da palavra escrita, questionando a realidade social do mundo e dos semelhantes. Sdo trés as partes estruturais de uma disser- taco: introdugdo, desenvolvimento e conclu- so. Dessas partes, a Unica que pode ser divi dida, tradicional e classicamente, em mais de um paragrafo, é 0 desenvolvimento. Cada uma dessas partes serd estudada, com detalhes, a partir de agora Formada pelo primeiro pardgrafo, a introdu- 40 determina 0 tom do texto, o encaminha- mento do desenvolvimento e sua estrutura basica. Independente do estilo que apresente, a introdugdo define, direta ou indiretamente, © tema a ser abordado e apresenta uma tese, ou seja, um ponto de vista que seré defendido em rela¢3o ao tema proposto. A. Tipos de introdugao I. Declaragao inicial Corresponde a qualquer frase que emite uma afirmagao sobre um fato, em tom neutro. Exemplo. Em plena Rua Marechal Floriano, no Centro, ainda existe um palacete neocléssico com jar- dim, lago e cisnes de verdade. E 0 Palacio Ita- maraty. 7 Portugués I. Diviséo. Baseia-se na presenca de dois ou mais termos a serem discutidos. Exemplos * A férmula da estabilidade democratica europeia estd no equilibrio em torno de duas grandes forcas politicas: de um lado os social-democratas e de outro, os liberais. 6 trés homens conseguem mudar fun- damentalmente a histéria: os estadis- tas, os militares e os historiadores. IIL. Citago Apresentaco da opinigo de alguém de desta- que sobre o assunto do texto. A intencgo pode ser ilustrativa ou de valorizagao do texto. Exemplo “H8 muita gente complicando o presidente, inclusive 0 préprio presidente.”, costuma dizer um governador. Trata-se de uma inconfidéncia que permeia as confidéncias da maioria dos governadores. IV. Aluso histérica Apresentaciio de um fato passado que se re- laciona, de alguma forma, a um fato presente, servindo de ponto de reflexdo entre eles, seja pelas semelhancas, seja pelas diferencas. Exemplos * Hé trinta anos a ideia de um negro no banco da frente do énibus assustava boa parte dos americanos. Hé trinta anos, um negro na escola dos brancos assustava boa parte dos pais. Os sustos passaram, 0 racismo americano aca- bou-se e 0 pastor Jesse Jackson bate com forca na porta do ultimo baluarte do poder: a Casa Branca. “Quem joga bola é menino, menina brinca com boneca”. “Mulher que pra- tica esportes se masculiniza!” Durante séculos pensamentos desse tipo afasta- ram as mulheres dos esportes. V. Definicao Geralmente, precede os textos cientificos, de- senvolvendo-se pela explicitagéo dos termos coe Portugués que a compéem ou pelas consequéncias ad- vindas do conhecimento cientifico, Exemplo ‘+ Hipétese é uma coisa que nao é, mas a gente diz que é, para ver como seria se fosse VL. Proposigao Seguindo o modelo das epopeias cléssicas, em que 0 poeta declarava seu objetivo maior ao fazer determinada obra, 0 autor explicita seus objetivos, dando ao desenvolvimento o mes- mo tom diddtico que esse tipo de introdugao condiciona, Exemplo O que se vai tentar é justamente entender os motivos que levam as pessoas a eliminarem de suas mentes recordacées desse tipo, em con- digdes tio trauméticas que nada Ihes sobra ‘como ponte para essas lembrancas. VIL. Interrogagao © questionamento pode ser real ou dialético: no primeiro caso, o desenvolvimento do texto pode apresentar uma resposta direta ou mais de uma resposta; no segundo caso, é um recur- so meramente retérico, em que o texto se de- senvolve pela andlise do motivo da pergunta. Exemplo © Brasil conseguird erradicar o analfabetismo funcional que aumenta a cada ano? VIII. Convite Basela-se numa proposta ao leitor para que participe de algo apresentado no texto, numa flagrante seduco. Exemplo Quer se sentir seguro, ter 0 sucesso pretendi- do? Faga parte desse time de vencedores des- dea escolha da profissao! IX. Suspense Fundamenta-se na suposi¢go de que alguma informagao negada e acrescida a certa passa- gem do tempo faz aumentar a curiosidade do leitor diante do exposto. Exemplo Amaioria nao acreditava mesmo. Fotos em re- vistas inglesas em grande quantidade mostra- coe 18 Produgio e interpretagéo de texto vam 0 que era muito dificil admitir: nenhuma mae de familia iria usar aquilo em publico. B. Outras formas de introduggo |, Comparagao social e geografica Em paises capitalistas, o trabalho é tanto meio de opressdo quanto de libertacdo: para os as- salariados, é a sintese das injusticas sociais; para o empresério, 6 0 mais bem-acabado exemplo da livre iniciativa. Dessa contradicao nasce a angiistia do lucro. II. Contestagéo de uma ideia ou de uma situagdo “O trabalho enobrece o homem”” Por trés des- sa maxima, esconde-se a divisdo do trabalho que avilta, usurpa, desgasta, sem enobrecer. Faltam a ele a realizacdo, a estabilidade e a valorizagao. Ill, Enumeragéo de informacées Escolha profissional: eis o grande problema Remunerago, satisfacdo social, status so elementos que dela devem fazer parte. Nem sempre o fazem. E, nesse caso, o fracasso é a luz do fim do tunel. IV, Caracterizagao de espacos ou aspectos © som ensurdecedor de teares, a atmosfera saturada de usinas, a monotonia de escrit6rios eo estafante servico doméstico ~ s8o essas as varias caras da servidlo que se esconde sob 0 nome de trabalho. V. Narrago de um fato 4h30 da manhd. Marmita pronta, ele encami- nha-se para a obra, onde ¢ servente de pedrei- ro. Sabe que sé vai sair as 6 da tarde. Comple- tamente exausto. Essa é a rotina de milhdes de brasileiros. Ea tal da mao de obra desqualifica- da que qualifica o Brasil VI. Apresentacao de dados estatisticos Quando se divulgou o perigo relacionado a aids, havia grupos de risco. Hoje, hd situagdes de risco e, nessas situacdes, o percentual de uma mulher a cada dois homens, segundo dados mais recentes, assusta todas as cons- ciéncias. Produgio e interpretagio de texto EXERCiCloS RESoIVIDoS Leia o texto a seguir para responder as ques- tées 1e2 O maidiseulo e 0 minisculo (1) E lastimavel quando alguém sim- plifica em demasia as realidades compl xas: perde a proporgdo dos fatos e se poe a fazer afirmagdes desprovidas de qualquer fundamento, Enquanto essas simplifica- Ges permanecem nos limites estritos do idiossineratico, parece nfo haver maiores problemas, afinal cada um aeredita naquilo que bem Ihe apraz. Contudo, quando essas simplificagdes ultrapassam tais limites e comegam a sustentar agdes com repercus- sto para além do idiossineratico, a situago se torna, no minimo, preocupante. (2) Eo que tem ocorrido ultima- mente com certa discusso em tomo da lingua. Nessa drea, hd, sem divvida, ques- tes maidsculas a serem enfrentadas. O Brasil precisa desencadear um amplo de- bate com vista & elaborago de uma nova politica lingufstica para si, superando os efeitos deletérios de uma situagdo ainda muito mal resolvida entre nés. (3) Essa nova politica devera, en- tre outros aspectos, reconhecer o carater multilingue do pais (0 fato de o portugués set hegemdnico nao deve nos cegar para as muitas linguas indigenas, europeias e asidticas que aqui se falam, multiplici- dade que constitui parte significativa do patriménio cultural brasileiro). Ao mes- mo tempo, deverd reconhecer a grande e rica diversidade do portugués falado aqui, vencendo de vez 0 mito da lingua dmica e homogénea. (4) Sera preciso incluir, nessa nova politica, um combate sistematico a todos os preconceitos linguisticos que afetam is € que constituem pesado fator de exclusao social. E incluit ainda, um incentivo permanente a pesqui sa cientifica da complexa realidade lin- guistica nacional e & ampla divulgagao de seus resultados, estimulando com isso, por exemplo, um registro mais adequado, em gramaticas ¢ diciondrios, da norma-padrao real, bem como das demais variedades do y Portugués portugués, viabilizando uma comparagao sistematica de todas elas, como forma de subsidiar 0 acesso escolar (hoje tio preca- rizado) ao padrao oral e escrito. (5) Apesar de termos esas tarefas maidsculas 3 frente, foi uma questio minis- cula que, a partir de uma grosseira simplifi- cago dos fatos, acabou por tomar corpo em prejuizo de todo o resto: a presenga de pala- vras da lingua inglesa em nosso cotidiano. (6) Uma observagao cuidadosa e ho- nesta dos fatos nos mostra que, propor- cionalmente ao tamanho do nosso Iéxico (composto por cerca de 500 mil palavras), esses estrangeirismos ndo passam de uma insignificante gota-d’agua (algumas pou- cas dezenas) num imenso oceano. (7) Mostra-nos ainda mais (e aqui um dado fundamental): muitos deles, pelas proprias agdes dos falantes, estiio jé em pleno refluxo (a maioria terd, como em qualquer outra época da histéria da lingua, vida efémera), Carls Alberto Faraco.Fotha des. Poulo. 13 mat, 200. 01. uespi Em todo 0 texto, 0 autor optou por usar a 12 pessoa do plural: "nds". Com esse recurso, ele pretendeu: a. aproximar o texto dos padrdes linguisti- cos da fala informal b. incluir-se entre os destinatdrios de sua argumentago. «. facilitar a compreensio dos sentidos do vocabulério usado. d. tornar seu texto mais compativel com a lingua culta, e. destacar os usos do atual portugués brasileiro. Resolugao ‘Ao incluir-se entre os destinatarios de seu tex- to, usando a primeira pessoa do plural, 0 autor conseguiu imprimir maior forca argumenta- tiva, jd que ele, também, é falante da lingua portuguesa Resposta B Portugués 02. uespi A oposi¢go que o autor estabelece entre “questdes mailisculas e questées mindsculas” se inicia, no texto, pelo segmento: “Sera preciso incluir, nessa nova politi- a b. “Ao mesmo tempo, devera reconhe- cer. “Apesar de termos essas tarefas maitis- culas a frente...” d. “Uma observagao cuidadosa e honesta dos fatos nos mostra que...” “Mostra-nos ainda mais (e aqui um dado fundamental...)” coe 20 Produgio e interpretagéo de texto Resolugio A expresso “apesar de” introduz a oposi- Go entre as tarefas maiisculas (aquelas maio- res) e as minuisculas (insignificantes). Resposta c Produgio e interpretagio de texto 1. Desenvolvimento — argumentacao O desenvolvimento é a parte maior e mais im- portante do texto, porque contém as ideias ou 05 argumentos que fundamentam a tese. Do desenvolvimento depende a profundidade, a coeréncia e a coesdo do texto. £ importante que se faca uma escolha prévia das ideias a serem desenvolvidas, dividindo-as em paré- grafos. A principio, cada uma das ideias ex- ploradas corresponde a um pardgrafo. Entre 0s pardgrafos, deve haver uma concatenacéo de ideias, sendo para isso bem utilizados os elementos de coesio, os chamados “conecto- res". Importante ressaltar que é praticamente im- possivel opinar sobre 0 que no se conhece. A leitura de bons textos é um dos recursos que permite seguranca maior no momento de dissertar sobre algum assunto. Debater e pesquisar so atitudes que favorecem o senso critico, essencial no desenvolvimento de um texto dissertativo. Os pardgrafos que formam o desenvolvimento podem ser desenvolvidos de varias formas. A. Hipotese A hipstese antecipa uma previsdo, apontando para provaveis resultados. Sendo assim, os ar- gumentos desse tipo so, em geral, determina- dos por uma condicdo virtual de concretizagio. B. Alusao histdrica ‘Trata-se de um bom recurso para tornar con- vincente a exemplificacao. Neste caso, é fun- damental que se tenha conhecimento bastante para que se legitime a fonte histdrica. Cultura geral corrobora essa abordagem. Esse tipo de procedimeno enriquece o debate se resgatarmos, por exemplo, a expansdo ma- ritima e 0 surgimento das primeiras compa- nhias de navegaco para ilustrar a argumenta- ‘G40, caso 0 tema seja relativo & mundializacao. Numa discussio sobre a problematica social da terra, no Brasil, fica mais facil 0 leitor en- ulo 04+ PLANEJAMENTO E ESTRUTURA DO TEXTO (II) 2 Portugués tender o porqué de o Brasil ser 0 paratso do lalifundio, se 0 autor recorrer a sistematica de distribuigdo de terras, implementada pelos portugueses, no Periodo Colonial. Esses so apenas alguns exemplos. C. Interrogaco E um recurso a ser usado com cuidado e sem ‘exageros. Toda sucessdo de interrogacdes deve apresentar questionamento e reflexio. Ndo se podem apresentar dividas que nao sejam es- clarecidas ao longo do texto, o que invalidaria a eficiéncia do recurso. D, Definigao Muitos temas permitem esse tipo de desen- volvimento e, para que seja bem feito, é ne- cessdrio que se tenha seguranca em relago ao contetido. Nao basta simplesmente ideia principal, mas é preciso desdobré-la a0 maximo, esclarecendo na totalidade 0 concei- to ou a definigéo. E, Refutacdo Este é um dos mais enriquecedores tipos de desenvolvimento. Neste procedimento, ques- tiona-se praticamente tudo: valores, conc tos, juizos. Dominar o assunto e ter habilidade no uso da linguagem e dos mecanismos da lin- gua séo determinantes na inten¢o persuasiva do texto. F. Comparagao Confrontar situacdes distintas, apontando os elementos de semelhanca e estabelecendo uma analogia, é um recurso expressivo que favorece a elucidago de pontos de vista, for- talecendo-os ao mesmo tempo. G. Causa e consequéncia (Os porqu@s de uma determinada situacdo e as suas consequéncias estruturam uma das mais convincentes formas de desenvolver o texto dissertativo. Apontar os motivos e as decor- réncias de um mesmo fator ¢ altamente per- coe Portugués suasivo, exigindo, porém, uma linguagem ade- quada e dominio do assunto abordado. H. Bilateralidade Abordar um outro aspecto de uma discussao & um recurso que permite a comparacao de dois lados de uma mesma questo, caracterizando-~ -se ai a bilateralidade. Dessa forma, ndo se corre 0 risco de radicalizar um Unico ponto de vista. O recurso da bilateralidade geralmente & utilizado quando 0 tema proposto apresenta pontos favordveis e desfavoraveis. |. Oposigao O uso desse tipo de técnica prova a capacidade de abordar um assunto de forma dialética, ou seja, explorando com o mesmo interesse dois polos da discussio. Nesse caso, para chegar a um posicionamento, mais um paragrafo ou simplesmente a conclusao fecharia o texto de forma completa, com a confirmagao ou a refu- taco de um dos pontos de vista apresentados, J, llustragdo narrativa e descritiva A narracdo de um fato ou a descricéo de uma cena, relacionados a discussio do tema, é um procedimento exemplificativo bastante eficaz, desde que 0 aluno nao se exceda nesse tipo de passagem, comprometendo o desenvolvimen- to do texto dissertativo. K. Exemplificagao € a melhor estratégia argumentativa para tor- nar o texto dissertativo convincente, pois ilus- tra e fundamenta as ideias apresentadas. L. Cifras e dados estatisticos Cifras e dados préximos do real ou reais so um bom recurso persuasivo, sendo de funda- mental importéncia a garantia da fonte, ainda que citada aproximadamente. Nenhuma das formas exclui a outra. Podem-se mesclar diferentes tipos numa mesma estru- tura dissertativa, desde que o tema permita e que nao se confunda o desenvolvimento dele com excesso de técnicas. M. Citago Citar uma frase de alguém, por exemplo, seja filos6fica, politica, literdria, ou de qualquer ou- coe 22 Produgio e interpretagéo de texto tro tipo, causa impressao positiva no leitor, j& que reflete erudi¢ao ou, no minimo, informa- cdo e meméria. A citagdo pode aparecer em qualquer parte do texto, seja como reforco argumentativo, seja como ilustragao conclusiva, apesar de mais co- mumentemente compor a introduc0, poden- do, até mesmo, ser a tese. Poderd ser feita formal ou informalmente. Exemplos Formal Por mais pobre que o ser humano seja, materialmente falando, ndo the bas- ta apenas ar, gua e alimento para viver dignamente, como, alids, jé disseram os Tits, na musica "Comida": “a gente nao quer sé comida, a gente quer comida, di- verso e arte”, No entanto, a ignorante elite brasileira teima em no perceber isso e continua nas mesmas priticas seculares de, egoisticamente, acumular riquezas através de praticas legais ou ilegais, se preciso for, facilmente atingindo as raias da desumanidade até Joo Francisco 0’ Alembezi, exaluno COC = Tema: A miséri cultural e a material Informal come, alids, j4 disseram os Titis, na misica "Comida", ao afirmarem que as pessoas, além da comida, também querem € precisam de divertimento e arte, ou seja, de cultura. No entanto, a ignorante elite brasileira. N. Contra-argumentagaio © contra-argumento, na dissertacio, deve ser entendido como ressalva a tese defendi- da; logo, ndo se deve exagerar em seu uso. recurso da contra-argumentacao valoriza 0 debate temético, por amplié-lo e por revelar (© dominio que o autor tem sobre 0 assunto, a ponto de abordar lados opostos do mesmo problema E preciso, todavia, reconhecer que a utilizacdio dessa técnica oferece riscos, pois se ndo forem tomados certos cuidados, como uma adequa- da articulacdo quanto a contextualizacao da ressalva, ela pode passar a impressio de in- coeréncia, contradigao, 0 que ¢ imperdodvel Produgio e interpretagio de texto num trabalho de defesa de uma tese. £ conve- niente, ainda, que, para minimizar essa possi- bilidade, o contra-argumento seja utilizado no segundo pardgrafo, logo apés a apresentacao da tese, a fim de que se evite a presenca dele misturada aos outros argumentos, como se fosse uma presenca aleatéria, nao planejada, como fruto de uma distragdo. Exemplo (Introdugio) A vida humana é algo sagrado e, em principio, deve ter 0 seu ci- clo completado naturalmente, seja em que condiges forem. Essa verdade determina que sejamos contrérios a determinados procedimentos que possam atentar con- tra a vida, como a pritica do aborto, por exemplo, principalmente em paises de po- pulagio de baixo nivel cultural, ou seja, de pouco entendimento social (Contra-argumentagio) No entan- to, quando se trata de um feto anencefili- £0, a questdo deve ter outra consideragao, por causa das consequéneias negativas, como traumas vividos pela gestante e toda sua familia, durante uma gravidez desse tipo, conforme histirias que ouvimos ou Jemos na imprensa e mesmo em livros di- diticos da area neurol6gica. (Argumentagio) Porém, mesmo essa situagdo exige andlise cuidados acurados ¢ especiais por parte de profis- sionais médicos e da justiga, para que se~ jam evitadas burlas, engodos (...) Marta 0. J, dos Santos, exaluna COC Observe que, no texto abaixo, propositada- mente, 0 autor misturou varios contra-argu- mentos aos argumentos. tema Mudangas provocadas pela informati- zacio: a sociedade sera pior ou melhor com elas? © génio inventivo do homem tem ctiado muito, sobretudo nos tltimos anos, tanto coisas boas quanto ruins. Dentre as primeiras destaca-se 0 computador, sur- gido ha apenas algumas décadas, mas ja estabelecido como um dos icones da vida moderna, alias, com justiga. E preciso reconhecer que as pessoas avessas a esse tipo de equipamento tém ra- 23 Portugués zo quando lembram o desemprego provo- cado por essa e por tantas outras maquinas em raziio da maior agilidade e precisio pro- dutiva delas, em comparagdo ao homem. Cite-se, também, que esse proceso no il tem um agravante, no sentido de que quase inexistem sistemas de reciclagem de mio de obra, por parte do poder publico. Mas é possivel salientar que o mercado da informatica tem absorvido razodvel contin- gente de trabalhadores. Talvez, esse desemprego provocado pelo computador nao seja assim tao relevan- te se considerarmos a importincia que a formatizagai representa dentro da produgao técnica ¢ industrial, no sé agilizando-a, mas aperfeigoando a qualidade, gragas preciso alcangada, resultando dai bens de consumo com funcionamento mais confidvel E bom lembrar, ainda, que esse aperfeigoamento técnico tem propicia- do condigdes de igualdade qualitativa no mercado internacional, entre produtos ori- ginirios de paises pobres ¢ de paises do primeiro mundo. Reconheca-se, entretanto, que, infe- lizmente, essa igualdade nao tem ocorrido entre os individuos, pois, se informagio & poder, 0 abismo social entre pessoas ten- de a aumentar, j4 que s6 tm tido acesso as informages computadorizadas, inclu- sive via Internet, as classes sociais com algum poder aquisitivo e alguma cultura, numa relagio de causa e consequéncia, entre essas duas condi¢des. Os mais po- bres ficam na dependéncia de que, um dia, indiretamente, venham a sentir al- guma mudanga para melhor, como resul- tado dos extraordindrios progressos hu- manos previstos no breve futuro, gragas as pesquisas cientificas, & evolugdo da medicina, a0 aprimoramento do ensino proporcionado pela informatizacao, Des- de, & claro, que essas conquistas sejam democratizadas. Urge, todavia, uma legislagao puniti- va para o mau uso do sistema computado- rizado, feito através de sites ou insergdes pornograficas, pedofilas; desrespeito a individualidade, invasio de privacidade, ou, ainda, utilizago comercial indevida do sistema. Portugués Em que pese isso, a Internet, através do e-mail, resgatou um pouco o contato entre pessoas que se encontram a distan- cia umas das outras, em contrapartida, & visto com ressalvas 0 comportamento dos interautas fandticos que tém se isolado socialmente, por passarem longos per dos “mergulhados” na Rede Mas 0 que parece mesmo uma verda- de definitiva quanto a informatizagao da sociedade modema é que ela jé se fixou para sempre entre nés, tanto que, apesar de ainda ser usada apenas por um pequeno percentual de pessoas no mundo, a orga~ nizagio de governos de empresas ja ndo pode mais prescindir dela, que, certamen- te, mudara o perfil da humanidade e, no geral, para melhor. Paco Reguera, A informatica passoda a limp. O. Dois procedimentos especiais Relembrando os pilares tedricos do que seja dissertagdo, sabe-se que: + dissertacdo 6 exposigio, discussdo ou interpretacio de uma determinada ideia; dissertagdo pressupde exame critico do assunto, l6gica, raciocinio, clareza, coe- réncia, objetividade na exposicao; dissertagio nao permite progressio temporal, como na narracdo, nem abordagem de caracterizacdo, como na descrigao; toda dissertacdo é uma demonstrago, dai anecessidade de que o assunto seja realmente bem conhecido e que exista habilidade de expresséo; toda dissertago tem como regra de ouro a coer€ncia, fundada no raciocinio légico e na linguagem clara e concisa; toda dissertaco é formada de unidades minimas chamadas pardgrafos, conten- do o desenvolvimento do tema dado, Abordaremos dois procedimentos dos mais utilizados com detalhes. Isso nao significa que 0s outros nao sejam importantes, haja vista que também aparecem com bastante frequ- @ncia nos exames vestibulares. Considerando- se, porém, a forca desses dois tipos de pro- cedimentos e a incidéncia maciga deles em coe 4 Produgio e interpretagéo de texto exames vestibulares, justifica-se a abordagem mais detalhada deles. 1. Causa e consequéncia Observe os trés enunciados abaixo. a. E cada vez menor o ntimero de pessoas que leem de modb livre e critico. b, Os meios de comunicagéo de massa es- to substituindo 0 espaco da leitura na vida das pessoas. ¢. As pessoas tém tido sérias dificuldades em produzir textos inteligentes e bem escritos. Nos itens dados, ha um fato, uma causa e uma consequéncia. Pela leitura dos trés enunciados, percebe-se que 0 fato, o elemento em pauta, € 0 item a. Por qué? Porque é a constataco de um fato, a constatagdo de uma realidade. O fato é este: € cada vez menor o ntimero de pessoas que leem de modo livre e critico. Tendo isso claro, busca-se a causa desse fato. Para tanto, basta que se pergunte o porqué da sua ocorréncia. Assim: por que é cada vez me- nor 0 niimero de pessoas que leem de modo livre e critico? A resposta é: porque os m de comunicagao de massa esto substituindo © espaco da leitura na vida das pessoas. Este é © motivo, a razo, a causa que leva as pessoas a lerem criticamente cada vez menos. Estabelecida a causa, busca-se a consequén- cia, j4 que tudo 0 que ocorre no mundo traz consequéncias, boas ou més. O raciocinio a ser feito é 0 seguinte: se tal fato ocorre, o que acontece, ento, com as pessoas? Lendo 0s enunciados dados, seria assim o proceso: Se & cada vez menor o ntimero de pessoas que lem de modo livre e critico, entdo 0 que acontece com as pessoas? A resposta imediata : a pessoas tém tido sérias dificuldades em produzir textos inteligentes e bem escrito. Colocando o conjunto em harmonia, com a re- lado de causa e consequéncia bem clara, pode ficar assim, por exemplo: £ cada vez menor 0 niimero de pessoas que lem de modo livre e critico, porque os meios de comunicagéo de massa esto substituindo 0 espaco da leitura na vida das pessoas. Em decorréncia disso (ou por isso, em consequéncia disso etc.), elas tem tido sérias dificuldades em produzir textos in- teligentes e bem escritos. Produgio e interpretagio de texto No texto sugerido, a palavra porque ¢ o ele- mento que introduz a ideia de causa, e a ex- pressio em decorréncia disso introduz a ideia de consequéncia, Il. Exemplificago Este processo contribui para dar clareza e in- tensidade ao texto argumentativo. 0 exemplo concretiza as ideias, materializa os conceitos, vivifica os valores diante do leitor. Apresen- tando tudo isso de modo claro e conciso, leva quem Ié a uma compreensdo imediata do que se pretende. Sob esse aspecto, 0 processo de ‘exemplificaco assume dupla funcdo: acres- centa elementos de persuasio e esclarece o raciocinio, resolvendo possiveis problemas de clareza que possam ocorrer na apresentacao puramente tedrica das ideias. Observe como o texto a seguir fica mais rico, claro e forte com o uso dos exemplos. Fragmento da carta do chefe Seatle, distribui- do pela ONU, em resposta & proposta feita pelo presidente dos Estados Unidos a tribo indige- na, em 1854, para comprar grande parte de suas terras, oferecendo, em contrapartida, a concessao de uma outra “reserva”. O texto tem sido considerado, através dos tempos, como um dos mais belos e profundos pronunciamen- tos jé feitos sobre a defesa do meio ambiente, (1 Como é que se pode comprar ou vender 0 céu, 0 calor da terra? Essa ideia nos parece estranha, Se ndo possuimos 0 frescor do ar e 0 brilho da 4gua, como & possivel compré-los? Cada pedago dessa terra é sagrado pata meu povo. Cada ramo brilhante de um pinheiro, cada punhado de areia das praias, a penumbra na floresta densa, cada clareira ¢ inseto a zumbir sdo sagrados na meméria e experiéneia de meu povo. A seiva que percorre 0 corpo das arvores carrega consigo as lembrangas do homem vermelho. Os mortos do homem branco esque- cem sua terra de origem quando vao cami- nhar entre as estrelas. Nossos mottos ja- mais esquecem esta terra, pois ela é a mae do homem vermelho, Somos parte da terra e ela faz parte de nds. As flores perfuma- das so nossas irmas: 0 cervo, 0 cavalo, a grande Aguia so nossos irmaos. Os picos 25 Portugués radiosos, os sulcos timidos nas campinas, © calor do corpo do potro, ¢ o homem — todos pertencem & mesma familia, Portanto, quando o Grande Chefe em Washington manda dizer que deseja comprar nossa terra, pede muito de nés. Grande Chefe diz que nos reservar um lugar onde possamos viver satisfeitos. Ele serd nosso pai e nés seremos seus filhos. Portanto, nés vamos considerar sua ofer- ta de comprar nossas terras. Mas isso nao serd facil, Esta terra é sagrada para nés. lol Disponivel em: chttp://www.ecoterrabrasil ‘com.br>, Acesso em: 15 set. 2011 2. Conclusao A conclusdo ¢ a parte final do texto. Para ela convergem todas as ideias anteriormente de- senvolvidas, constituindo-se numa espécie de sintese da introdugao e do desenvolvimento. E 0 ultimo pardgrafo, tendo como fungao princi- pal encerrar a discussdo ou a exposi¢do desen- volvida, sendo considerada o fecho do assunto abordado. Pode ser elaborada uma sintese do que foi dis- cutido, pode ser sugerida uma perspectiva de soluco, pode ser retomado o posicionamento da tese, ou, ainda, podem ser somadas todas essas possibilidades. Hé casos em que a conclusao recupera a ideia da tese: 6 a chamada conclusao fechada. Em outras ocasides, a conclusio levanta uma hi- pétese, projeta um pensamento ou faz uma proposta, incentivando a reflexiio de quem Ié: 6a chamada conclusao aberta. Pelo que foi exposto, pode-se dizer que ha dois tipos basicos de conclusio: 0 resumo ¢ a su- gestdo. Ou, como querem alguns, a retomada da tese e a sintese. Independente da nomen- clatura utilizada, a presenca da coeréncia e da coesdo deve nortear mais uma vez esse mo- mento do texto. Retomar a tese é reafirmar um posiciona- mento, reforcando a ideia central, Nao é a re- peticao da tese, e sim a sua comprovacao em fung3o dos argumentos utilizados. Elaborar uma sintese significa unir os enfo- ques dados ao assunto discutido, de forma a resumir a discussdo. Feita a sintese, em geral coe Portugués levanta-se uma projecdo hipotética sobre o problema. Resumindo: hd varias formas de se concluir um texto: fazendo uma sintese das ideias ex- postas; explicitando um posicionamento e/ ou questionamento, desde que coe- rente com o desenvolvimento; extraindo uma deducao ou demons- trando uma consequéncia dos argu- mentos expostos; levantando uma hipdtese ou uma su- gestdo que sejam coerentes com as afirmacées feitas durante o texto. observacao ‘As formas nao séo excludentes: na mesma re- dagao, pode aparecer mais de uma delas. Cuidados a serem observados * No use a conclusio como meio cate- quético ou doutrinador: o tom de ape- lo, de doutrinagao, leva frequentemen- te ao lugar-comum, beirando o exagero e 0 pieguismo. Nao apresente nenhum aspecto novo do problema na conclusao: se é conclu- so, deve encerrar o que jé foi desen- volvido e nao abrir caminho para nova discussao. Nao conclua inexpressivamente, indi- ciando, em geral, uma falsa humildade, no intuito de comover ou despertar emogiio em quem vai corrigir. O exces- so de humildade muitas vezes diminui 0 valor do proprio trabalho, influindo negativamente no resultado final. ‘A passagem do desenvolvimento para a con- cluso tem tudo a ver com o estilo de cada um, porém hd algumas palavras ou expressdes que podem criar a ponte necesséria e coerente en- tre esses dois momentos. £ 0 caso das conjun- Bes conclusivas (portanto, logo, por isso etc.), das expressdes que indicam sintese (em sin- tese, em resumo, em suma etc.), das formas verbais com contetido de finaliza¢o (conclui— -se, deduz-se etc.) e das formas gerundivas de contetido conclusive (resumindo, concluindo, sintetizando etc,). 26 Producdo e interpretacio de texto 3. textos de apoio —a coleténea Muitos vestibulares hoje, em vez de apenas indicar o tema para a dissertacao, apresentam varios fragmentos de textos, de fontes varia- das, sobre um determinado assunto. Cada tex- to é uma abordagem diferente do mesmo tema e mostram-se pontos de vista e argumentos, exemplos, dados estatisticos, hipsteses etc. © candidato deve ler a coletanea e dela fazer uso em sua dissertaco. Mas, como deve ser esse uso? O proprio exame orienta. A. Orientacao geral Para cada tema, vocé encontraré uma coleté- nea de textos sobre o assunto. Esses textos fo- ram tirados de fontes diversas e apresentam fa- tos, dados, argumentos e opinides relacionados com o tema, Eles ndo representam a opiniao da banca examinadora: sao textos como aqueles a que vocé estd exposto na sua vida didria de leitor de jornais, revistas ou livros, e que vocé deve saber ler e comentar. Consulte a coletinea e utilize-a segundo as instrugées especificas da- das para o seu tema. Nao a copie. obs. alguns exames atualmente apresentam apenas um tema, com coletdnea tinica tam- bém, para ser desenvolvido sob trés formas, a escolha do candidato. Dessa orientacgo, alguns dados importantes podem ser inferidos. 1. O que é a coletanea? E um conjunto de informagdes, de pontos de referéncia, de subsidios, enfim, apresentando diferentes posigées diante do tema. Il, O que muda na abordagem, com a pre- senga da coleténea? Abre-se um novo campo de trabalho: além do que 0 candidato conhece, & necessario que faca uso dos elementos que esto sendo apre- sentados. I. Qual deve ser a atitude do candidato diante dessa nova proposta de traba- tho? O candidato precisa ler os textos, entender, re- laciona-los entre sie também com as préprias ideias. Em sintese: precisa fazer um exercicio de leitura, andlise e interpretacao e, em segui- da, estabelecer relagdes légicas. Produgdo e interpretagiio de texto IV. Orientagées gerais para a leitura da co- leténea de textos Ler atentamente os fragmentos dados. Analisar cada um deles, criticamente. Compreender cada um deles na totali dade Identificar 0 tipo de contribuicéo que cada fragmento agrega ao tema, ou seja, perceber se o fragmento traz ponto de vista; traz argumento pré ou contra; traz dados estatisticos; traz exemplos; traz hipéteses; traz dados histéricos etc. Estabelecer algumas relagdes possiveis entre os fragmentos dados, tais como semelhangas; diferencas; complementaridade; causa e consequéncia; exemplificagao; justificativas histéricas ete. Feito isso, o préximo passo é dado em direcéo ao aproveitamento dos textos na elabora¢aio da dissertagao. Vamos ver agora como se dé a transicao da leitura dos fragmentos para o aproveitamento deles na dissertagao pretendida Relembrando o primeiro momento do uso da coletanea. * Leitura dos fragmentos. Anilise dos fragmentos. Compreensao dos fragmentos. Identificagdo do tipo de contribuicao que cada um dos fragmentos agrega ao tema, num reconhecimento da fungdo de cada um deles. Estabelecimento das possiveis rela- des entre os fragmentos e o tema, seja por semelhanca ou diferenca, complementaridade, causa e conse- quéncia etc. 27 Portugués B. Aproveitamento dos fragmentos * Selecdo dos fragmentos a serem utiliza- dos. (Lembre-se: nao é necessdrio usar todos eles.) * Identificago do modo como cada um dos fragmentos selecionados ser apro- veitado na dissertacao. E 0 momento de escolher os elementos e fa- zer algum uso deles. Como isso pode aconte- cer? Seguem algumas possibilidades que nao esgotam o assunto. Selecionar algum ponto de vista e/ou algum argumento e concordar com ele, explicando, justificando os motivos da concordancia Selecionar algum ponto de vista e¢/ ou algum argumento e discordar dele, explicando, justificando os motivos da discordancia Selecionar algum fato-exemplo e anali- sA-lo, interpreta-lo em ligacdo estreita com a abordagem que esta fazendo do tema. Selecionar dados estatisticos e utilizar como argumento pré ou contra, depen- dendo do ponto de vista da abordagem do tema. Selecionar dados histéricos apresen- tados e utilizé-los como fundamentos para uma situaco presente. Selecionar citagdes e utilizé-las como argumento de autoridade para um po- sicionamento diante do tema Selecionar fatos apresentados e utilizé- los como refutagdo de um posiciona- mento perante o tema Selecionar os vrios dados de varios fragmentos e aponté-los como exemplo de um posicionamento ante o tema. O que deve ficar bem claro é 0 fato de que ndo se pode ignorar a coleténea, fazendo uso ape- nas dos dados conhecidos por quem vai ela- borar a dissertagdo. Uma simples colagem de textos nao vai atender ao principio que funda- menta o uso da coletanea: ¢ vital um posicio- namento, deixando clara a capacidade de ler, entender e relacionar elementos dados com a realidade e com a vivéncia de quem escreve. Portugués Na coletnea a seguir, sdo apresentados alguns textos que mostram dados, fatos e opinides a respeito da leitura. Vamos seguir os passos co- mentados até agora: leitura, selecdo de aspec- tos relevantes e utilizacao. a. Hipétese: a leitura poética como recria- sao Se a comunhao poética se realiza de verdade, quero dizer, se 0 poema ainda ‘guarda intactos seus poderes de revelagao e se o leitor penetra efetivamente em seu Ambito, produz-se uma recriagio, (...) 0 leitor recria o instante e eria-se a si mes- mo. © poema é uma obra sempre inaca~ bada, sempre disposta a ser completada ¢ vivida por num novo leitor. Octavio Paz b, Ponto de vista Ler é uma forma de felicidade. Jorge Luiz Borges Dado estatistico Quase um tergo da populagio brasi- leira ndo sabe ler. No Nordeste, os analfa- betos chegam a 51% da populagdo, Folha de S.Poulo d, Ponto de vista + argumentos sobre lei- tura como recriagéo Nosso desejo & que voce possa néo apenas desenvolver a andlise ¢ o entendi- ‘mento dos textos, mas também desenvol- ver o gosto de ler. A alegria de desvendar 0s textos. De conviver com seus mistérios. De descobrir as suas relagdes. De cons- truir sentidos/significados, dentro do con- junto de possibilidades apresentadas pelos textos. Ler criadoramente, com l6gica. Ler lucidamente, com imaginagio. Cada um se tomnando, desse modo, um pouco autor do texto, na medida em que realiza possibilidades que eram apenas sugeridas © que, também, desperta ¢ desenvolve a capacidade de criar os préprios textos. Ler e escrever, Escrever ¢ ler. S.Anténio / . Amaral e. Dados estatisticos Pesquisa do jornal Washington Post revela que 40% dos estudantes secunda- ristas americanos nao sabiam o que era nem tinham lido ~ a Declaragao da In- Além disso, no sabiam em 28 Produgio e interpretagéo de texto que Estado estavam. Pesquisa realizada no Japao mostra que apenas 10% dos estu- dantes entendem integralmente os textos que lem na escola. Folho des. Poulo f, Ponto de vista + argumentos + fatos- -exemplos: a relagéo entre leitura do mundo e leitura da palavra A leitura do mundo precede a leitura da palavra, dai que a posterior leitura des- a no possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realida- de se relacionam dinamicamente. A com- preensio do texto, a ser alcangada por sua leitura critica, implica a percepgai das relagdes entre o texto e o contexto. (...) Continuando neste esforgo de reler momentos fundamentais de experiéncias de minha infancia, de minha adolescén- cia, de minha mocidade, em que a com- preensio critica da importancia do ato de ler se veio em mim constituindo, através da sua pritica, retomo ao tempo em que, como aluno do chamado curso ginasial, me experimentei na percepgio critica dos textos que lia em classe, com a colabo- agdo, até hoje recordada, do meu enta professor de lingua portuguesa. (...) Os alunos nao tinham que memorizar me- canicamente a descrigo do objeto, mas compreender a sua significago profun- da, S6 apreendendo-a, seriam capazes de saber, por isso, memorizé-la. Paulo Freire g-Ponto de vista + argumentos + fatos- -exemplos contra a leitura Liberdade Ai que prazer Nao cumprir um dever, Ter um livro para ler E nao o fazer! Ler é magada, ‘studar & nada, O sol doira ‘Sem literatura. O rio corre, bem ou mal Sem edigdo original, Ea brisa, essa De tio naturalmente matinal, Como tem tempo no tem pressa. Livros so papéis pintados com tinta, Produgio e interpretagio de texto Estudar ¢ uma coisa Em que esta indistinta A distingdo entre nada e coisa nenhu- [ma. Quanto é melhor, quando ha bruma, Esperar por D. Sebastido, Quer ele venha ou nao! Grande é a poesia, a bondade e as [dangas Mas 0 melhor do mundo so as crian- ‘ica, 0 luar e o sol, Que peca s6 quando Em vez de O mais que tudo isto E Jesus Cristo, Que nao sabia nada de finangas Nem consta que tivesse biblioteca. Fermando Pessoa Comentarios Os fragmentos apresentados em B, D, Fe G mostram tomadas de posicdo em relagdo a lei tura. Com exceco de B, em todos os outros ha pontos de vista e argumentos. De Fdefendem aleitura; G, critica-a Identificando os argumentos * D associa lucidez a gosto de ler: ler criadoramente, com légica. Ler lucida- mente, com imaginagdo. Dessa forma, apresenta o argumento de que se deve ver a leitura no sé como recriagio do texto lido, mas também como uma ati- vidade que desperta e desenvolve a ca- pacidade de escrever: ler e escrever in- terdependentes é a ideia que fica mais evidente, F apresenta uma argumentagao sobre a necessidade de "ler" o mundo como um pressuposto para se ler a palavra. Aponta, dessa forma, a relagdo din mica entre a realidade e a linguagem, entre a pratica de ler e a percepcdo critica dos textos. Ha 0 uso de vivéncia pessoal para exemplo das afirmagdes do autor, G é um poema que, de forma até bem simples, mostra superioridade da vida 29 Portugués e da natureza sobre a leitura, apontan- do até mesmo exemplos irénicos. © fragmento a é uma hipétese cujo argumento funda-se na leitura poética como recriacdo do poema e do préprio leitor, enquanto individuo, no ato de ler. O ato de ler, aqui, 6 encarado como uma ferramenta de autoconhecimen- to. * Os fragmentos C e E deixam claro, com 05 dados estatisticos, 0 analfabetismo no Brasil, além de apontar os proble- mas de leitura em estudantes de outros paises. Antes de selecionar os argumentos a serem utilizados em seu texto, o candidato deve ter bem claro 0 ponto de vista que vai adotar, 2 opinigo que vai guiar 0 texto, 0 posicionamen- to que vai defender em relagdo ao tema. Se 0 candidato optar por concordar com a importancia da leitura em geral, pode usar as ideias dos fragmentos a, B, D e F, selecionan- do-as como desejar. Também pode contestar 0s argumentos apontados em G e usar os da- dos estatisticos para uma discussio sobre as questdes do analfabetismo e do fato de nao se compreender o que se Ié, elementos contidos emCeE. Se 0 candidato discorda da importéncia da lei tura, G aponta uma série de argumentos pas- siveis de uso, além da possibilidade de contes- tacdo dos fragmentos a, B, De F. Se 0 candidato concordar em parte e discordar em parte, uma postura possivel é mostrar que “leitura” do mundo e leitura da palavra ndo se excluem, como se vé em G, no texto de Fer- nando Pessoa, mas complementam-se, como se |é em F, nas palavras de Paulo Freire. Outros caminhos de abordagem sao: a ques- to politica da importancia da leitura x o anal- fabetismo e 0 nao saber ler; a questo filoséfi- ca sobre ler nao apenas as paginas dos livros, mas “ler” a vida para compreendé-la ou pre- ferir “ler” a vida em vez da leitura dos livros; a questo especifica da leitura da poesia e/ou da relacdo entre 0 gosto e o entendimento do que se Ié, das relagdes entre ler e recriar, ler e criar etc. Portugués EXERCiCloS RESoIVIDoS Produgio e interpretagéo de texto leia o texto seguinte para responder & ques- tio 1. No ano 2000, os lideres mundiais acordaram um conjunto de metas para es- timular avangos visando 4 concretizacao, até 2015, do que estava previsto no trata- do Educagdo para Todos (ou EFA, na si- gla em inglés), proposto durante o siltimo Forum Mundial sobre a Educagio, promo- vido pela Unesco. Entretanto, pesquisas recentes mostram que, a meio caminho de 2015, os govenos ainda esto deixando de atender as criangas e aos adultos anal- fabetos, Hoje, ainda existem 774 milhdes de adultos desprovidos do grau mais rudi- mentar de alfabetizagdo, e 72 milhdes de criangas estdo fora da escola, Para ajudar a sustentar suas familias, muitas precisam trabalhar, frequentemente em condigdes desesperadoramente perigosas ¢ insalu- bres: segundo a Organizacio Mundial do Trabalho, 111 milhdes de criangas trabalham em “atividades de risco". As criangas portadoras de deficiéncias, as de comunidades étnicas minoritérias e as que sio doentes de aids ou soropositivas enffentam ainda outros obstaculos para chegar a escola A Campanha Global pela Educagao (ou GCE, na sigla em inglés) divulgou no ano passado um relatério em que atribui "notas" de A a F a todos os governos, se~ ‘gundo seu desempenho até hoje no tocan- te a educacio, Os governos que obtiveram as melhores "notas” incluem os da Leténia e do Uruguai, enquanto o fundo da classe & ocupado por Haiti, Somélia e Guiné- -Bissau. Os paises mais ricos também fo- ram avaliados quanto ao cumprimento da promessa com relagdo ao EFA. Enquan- to a Noruega e a Holanda ocupam 0 topo do ranking, os paises do G8 sao os piores quando se trata de dar o financiamento prometido para a educago, e os EUA sto © tltimo colocado em sua "classe do G8" ‘Mas as evidéncias também indicam que muito pode ser realizado quando os coe 30 governos priorizam a politica educacio- nal, Nos ultimos 18 anos, varios paises em desenvolvimento conseguiram avan- 0s importantes na amplia¢do do Ensino Fundamental, entre os quais se destacam Costa Rica, Cuba, México, Sri Lanka e Tailindia. E avangos notaveis tém sido conseguidos em alguns dos contextos mais dificeis: milhdes de criangas passa- ram a frequentar a escola em paises como Quénia, Camardes, Botsuana e Burundi, nos quais, nos tltimos anos, os governos eliminaram as mensalidades escolares. 0 Brasil faz parte dos 20 primeiros paises do ranking mundial, gragas aos es- forgos feitos aqui, sobretudo por meio da pressdo de organizagdes sociais e da so- ciedade civil. Com 2015 chegando cada vez. mais perto, a GCE leva adiante sua campanha de presso global e espera que os movimentos sociais brasileiros e os Ii- deres dos governos continuem a dar um bom exemplo ea defender a causa do bem global nessa questo de importincia tio vital Acteditamos que as histérias de éxi- tos vao inspirar outros lideres de paises em desenvolvimento a redobrar seus es- forgos. Também estamos convencidos de que mostrar 0 que pode ser conseguido com a vontade politica certa, respaldada por recursos, pode envergonhar os doado- res, levando-os a cumprir suas promessas. O ano de 2008 foi o 60° desde a Declara- go dos Direitos Humanos, da ONU. Va- mos nos assegurar de que a gerago que vai nascer a partit desse ano possa final- mente crescer coma luz ¢ a esperanga que a educagao traz a vida de cada um. Kallash Satyarthi, Disponivel em: AAcesso em: 3 de2, 2009, Adaptado. 01. uFpE A fim de construir sua argumentago, a autora do texto recorre a algumas estratégias, dentre as quais se evidencia: Produgio e interpretagio de texto Ja presenca de afirmagées respaldadas em dados empiricos. (_)a referéncia a instituigdes ou a entida- des de renome. ) a apresentacdo de opinides de auto dades, em discurso direto. (_) odepoimento de lideres com experién- cias significativas ) a divulgagdo de dados numéricos, obti- dos em pesquisas. Resolugao A autora nao apresenta opiniio de autorida- des em discurso direto nem o depoimento de lideres para construir sua argumentagao. Resposta V-V-F-F-V leia o texto a seguir para responder a ques- to 2. Astroteologia Aparentemente, foi 0 filésofo grego Epicuro que sugeriu, jé em torno de 270 a.C., que existem inameros mundos espa- Ihados pelo cosmo, alguns como 0 nosso € outros completamente diferentes, muitos deles com criaturas e plantas. Desde entio, ideias sobre a pluralida- de dos mundos tém ocupado uma fragio significativa do debate entre cigncia e reli- gido, Em um exemplo dramético, o monge Giordano Bruno foi queimado vivo pela Inquisiggo Romana em 1600 por pregar, dentre outras coisas, que cada estrela é um Sol e que cada Sol tem seus planetas, Religides mais conservadoras negam a possibilidade de vida extraterrestre, es- pecialmente se for inteligente. No caso do ctistianismo, Deus é 0 criador e a criagio é deserita na Biblia, endo vemos qualquer mengio de outros mundos e gentes. Pelo contrario, os homens so as criaturas es- colhidas e, portanto, privilegiadas. Todos 6 animais e plantas terrestres esto aqui pata nos servir. Ser inteligente ¢ uma dé- diva que nos pe no topo da piramide da vida. 31 Portugués © que ocorreria se travissemos con- tato com outra civilizagao inteligente’ Deixando de lado as inimeras dificulda- des de um contato dessa natureza ~ da ra- ridade da vida aos desafios tecnoligicos de viagens interestelares ~ tudo depende do nivel de inteligéncia dos membros des- sa civilizagao. Se so eles que vém até aqui, nao ha divida de que sio muito mais desenvolvi- dos do que nds. Ndo necessariamente mais inteligentes, mas com mais tempo para desenvolver suas tecnologias. Afinal, esta- ‘mos ainda na infancia da era tecnolégica: a primeira locomotiva a vapor foi inventada hd menos de 200 anos (em 1814). Tal qual a reagdo dos nativos das Américas quando viram as armas de fogo dos europeus, o que sio capazes de fazer nos pareceria magica. Claro, ao abrirmos a possibilidade de que vida extraterrestre inteligente exista, a probabilidade de que sejam mais intel tes do que nés é alta, De qualquer forma, mais inteligentes ou mais avangados tecno- logicamente, nossa reaco ao travar contato com tais seres seria um misto de adorago ¢ terror, Se fossem muito mais avangados do que nés, a ponto de haverem desenvol- vido tecnologias que os liberassem de seus corpos, esses seres teriam uma existéncia apenas espiritual. A essa altura, seria dificil distingui-los de deuses. Por mais de 40 anos, cientistas vas- culham os céus com seus radiotelescépios tentando ouvir sinais de civilizagées inte- ligentes. (..) Infelizmente, até agora nada foi encontrado, Muitos cientistas acham essa busca uma imensa perda de tempo de dinheiro. As chances de que algo sig ficativo venha a ser encontrado so extre- mamente remotas, Em quais frequéncias os ETs es- tariam enviando os seus sinais? E como decifré-los? Por outro lado, os que defen- dem a busea afirmam que um resultado positivo mudaria profundamente a nossa civilizagdo, A confirmacao da existéncia de outra forma de vida inteligente no uni- Portugués verso provocaria uma revolugdo, Alguns até afirmam que seria a maior noticia ja anunciada de todos os tempos. Eu concor- do, Nao estariamos mais sés. Se os ETs fossem mais avangados e pacificos, pode- riam nos ajudar a lidar com nossos proble- ‘mas sociais, como a fome, 0 racismo ¢ os confrontos religiosos. Talvez. nos ajudas- sem a resolver desafios cientificos. Nesse caso, qudo diferentes seriam dos deuses que tantos acreditam existir? Nao ¢ a toa que inimeras seitas modemas dirigem suas preces as estrelas e nao aos altares. Produgio e interpretagéo de texto Resolugio De acordo com o autor, se houver Ets, eles fa- talmente sero mais desenvolvidos e inteligen- tes do que nds, podendo, talvez, ajudar-nos a resolver problemas cientificos e sociais. Resposta D Marcelo Gleiser. Folha de S. Paulo, 01 mar. 2009. 02. uERJ Todo texto argumentativo é construido com base na apresentacdo e defesa de pontos de vista. A premissa do autor a favor de pesquisas in- terplanetarias apoia-se, sobretudo, na possibi- lidade de: a. incentivar o interesse por outras civili- races. b, livrar os seres humanos dos confrontos religiosos. ¢. encorajar os cientistas na busca de no- vos desafios. transformacées. coe conduzir a humanidade a profundas 32 Produgio e interpretagio de texto 1. linguagem A. Caracteristicas principais * Utilizagao de palavras que fazem parte do dominio de conhecimento de quem escreve, palavras préprias, palavras cujos significados séo real e inteira- mente conhecidos. A ndo observancia desse principio leva a cri Gao de textos absurdos, como 0 que se Ié a seguir. Podemos abordar um tema que, creio eu, todos pensam e dissertam sobre o pré- prio, A juventude e a velhice. A meu ver, cria-se uma certa antagonia de desejos e interesses entre essas duas fases etdrias. Go) No exemplo dado, além de outros problemas, por desconhecimento, foi utilizado o termo antagonia no lugar de antagonismo. Além di So, a expresso mais usual faixas etérias e no fases etarias. + Respeito a forma do texto, escrevendo com coesio e clareza, de modo que os elos estejam correta e logicamente uti- lizados Importante lembrar que a coesdo ¢ um dos elementos responséveis pela coeréncia, ja que © uso correto de elementos coesivos determi nna o caminho discursivo do texto e encaminha ‘0 ponto de vista de quem cria o texto. B. Trés principais impropriedades 1. Ambiguidade corre ambiguidade quando o que se escreve pode ser entendido com mais de um sentido, tornando confusa a ideia que esta sendo ex- pressa. Veja o exemplo, Moradores reivindicam centro de satide com criatividade. A forma da frase dada permite, pelo menos, dois sentidos evidentes a serem percebidos: + sentido 1-0 centro de satide deve ter idade; 33 Portugués Capit ulo 05 « LINGUAGEM DISSERTATIVA aw * sentido 2 - a forma de os moradores reivindicarem apresenta criatividade. Nesse caso, o simples deslocamento da expres- so “com criatividade” ou o acréscimo de uma ‘ou outra palavra podem eliminar o problema, 18 que, na localizagio em que esté, tal expres- so pode ligar-se tanto a moradores como a centro de saiide. Se o desejado for o sentido 1, pode-se dizer assim: Moradores reivindicam centro de satide que tenha criatividade, que presente criatividade, que se destaque pela criatividade. J8 no caso de enfocar o sentido 2, ‘simples deslocamento da expressao resolve: ‘Moradores reivindicam, com criatividade, cen- tro de sade. Ul, Redundancia Este problema decorre do excesso de palavras, de seu uso repetitivo e desnecessério, em rela- ‘G80 20 que se deseja expressar. Textos redun- dantes podem tornar-se caéticos, levando a extrapolacdes que prejudicam a comunicacao imediata e objetiva que a dissertacdo deve ter. Veja o exemplo. Tenho duas maos ¢ © sentimento do mundo. Tive que refazer 0 mundo s6 para mim, mas ao mesmo tempo, tenho que vi- ver num mundo que é de todo mundo. A repetigao desnecesséria da palavra “mundo” torna esse pequeno texto cansativo. O proble- ma resolve-se eliminando as repeti¢des, com as adaptacdes necessarias, sem alterar o sen- tido original da mensagem. Uma possibilidade seria esta: Tenho duas maos e o sentimento do ‘mundo que tive de refazer apenas para mim, embora tenha que viver, ao mesmo tempo, compartilhando-o com todos. Ill. Clichés Clichés sdo os famosos chavées, as frases fei- tas, os lugares-comuns. Eles revelam uma lin- guagem desgastada e nao sio adequados ao texto dissertativo, j4 que expressam os pre- conceitos, as “verdades absolutas’, “inques- tiondveis", do senso comum. Veja o exemplo. Portugués Em quase todos os paises latino-americanos, quem se mete em politica com certeza tem um lado voltado para a corrupgao, seja ele conhe- cido ou néo. No exemplo dado, é facil perceber a gene- ralizagao da ideia, 0 que a invalida como ar- gumento, j4 que sé se pode generalizar com valores quantificdveis e demonstraveis expe- rimentalmente, como no caso das ciéncias exatas. Quaisquer generalizagdes em termos de julgamento moral, social ou psicolégico sao sempre parciais e ndo correspondem a um pa- dro tido como unico ou como modelo. C. Presenga de pressupostos e subentendidos Pressupostos e subentendidos so elementos que fazem parte da oralidade, pois englobam expressdes do tipo aquela casa, ele, aqui, ali, ontem etc. Tais elementos, numa situago de fala, expressam-se por meio de gestos, de en- tonacao, de recursos que dependem da pre- senca do interlocutor, do ser com quem se conversa, No texto dissertativo, a situacdo é outra. pri meiro, porque se trata de linguagem escrita, 0 que implica a auséncia do interlocutor. Segun- do, porque esta linguagem é formal, ou seja, deve primar pelo respeito as normas gramati- ais, usando-se a norma culta da lingua. Veja o exemplo. Considero (1) © homem um ser ra- ional e cheio de imaginagao. Por isso, se vocé (2) pensar bem perceberé que isso (3) 0 diferencia dos outros seres vivos, in- capazes do raciocinio e do devaneio. Comentando cada um dos elementos assina- lados: (1) Tal afirmacao nao precisa de primeira pessoa do singular, jd que se refere a qualidades humanas reconhecidas co- letivamente. (2) Nesse caso, 0 uso deve ser de um inter- locutor indeterminado ou pluralizado, segundo sua escola. (3) Substituindo 0 pronome demonstrati- vo, elimina-se do texto a marca de co- loquialidade evidente, tornando-o mais formal e adequado ao tipo de texto coe 34 Produgio e interpretagéo de texto O texto poderia assumir duas formas: Forma a - © homem é um ser racional e tam- bém cheio de imaginacao. Por isso, pensando- -se bem, vai-se perceber que essas caracte- risticas 0 diferenciam dos outros seres vivos, incapazes do raciocinio e do devaneio. Forma B - Sabemos que o homem é um ser ra- cional e também capaz de desenvolver a ima- ginagdo. Por isso, se pensarmos bem, perce- beremos que tais caracteristicas o diferenciam dos outros seres vivos, incapazes do raciocinio e do devaneio. 2. Coesdo textual Consideremos, primeiramente, as definigdes a seguir. De acordo com Ingedore Koch, coesio é 0 “Fendmeno que diz respeito a0 modo como os elementos linguisticos presentes na superficie textual se encon- ‘tram interligados, por meio de recursos também linguisticos, formando sequén- cias veiculadoras de sentido.” KOCH, |G. V. 0 texto ea construsio dos sentidos. ‘So Paulo: Context, 1997. Fragmento. Para os professores Plato e Fiorin, coesio & “Ligagdo, a relagdo, a conexio entre as palavras, expressdes ou frases do texto.” FIORIN, José Lule; SAVIOLL, Francisco Plato. Para entender o texto. 17. ed Bo Paulo: Atica, 2007. Fragmento. Segundo Antonio Sudrez Abreu, coesio é 0 “Encadeamento semantico que produz a textualidade; trata-se de uma maneira de recuperar, em uma sentenga B, ‘um termo presente em uma sentenga A.” ABREU, Antonio Suarez. A arte de argumentar. 12 6. Seo Paulo: Atelié Editorial, 2009. Fragmento, A. Mecanismos de coesdo ‘A coesio pode ser observada tanto em enun- ciados mais simples quanto naqueles mais complexos. Observe os exemplos a seguir. + Mulheres de trés geragées enfrentam 0 preconceito e revelam suas experiéncias. * Elas resolveram falar. Quebrando o muro de siléncio, oito dezenas de mu- Iheres decidiram contar como aconte- ceu o fato que marcou suas vidas. Produgio e interpretagio de texto * Do alto de sua ignoréncia, os seres hu- ‘manos costumam achar que dominam a terra e todos os outros seres vivos. Nesses exemplos, temos os pronomes suas e que retomando mulheres de trés gerages e © fato, respectivamente; os pronomes elas e sua antecipam oito dezenas de mulheres e os seres humanos, respectivamente. Veja, agora, a coeso num periodo mais com- plexo. Os amigos que me restam so da data mais recente; todos os amigos foram estu- dar a geologia dos campos-santos. Quanto as amigas, algumas datam de quinze anos, outras de menos, ¢ quase todas creem na mocidade, Duas ou trés fariam crer nela aos outros, mas a lingua que falam obriga muita vez a consultar os dicionarios, ¢ tal frequéncia é cansativa. Machado de Assis, Dom Cosmurro. No primeiro periodo, temos o pronome que remetendo @ amigos, que é 0 sujeito dos verbos restam e so, dai a concordancia, em pessoa e numero, entre eles. Do mes- mo modo, amigos é 0 sujeito de foram, na oracéo seguinte; todos e os se relacionam a amigos. J4 no segundo periodo, em que o au- tor discorre sobre as amigas, 0s pronomes al- gumas, outras, todas remetem a amigas; os numerais duas, trés também remetem a ami #85, que, por sua vez, € 0 sujeito de datam, creem, fariam, falam; nela retoma a expres- so na mocidade, evitando sua repetica que representa a lingua. E, para retomar mui ta vez, 0 autor usou a expresso sinénima tal frequéncia Esses fatos representam mecanismos de coe- so, assinalando relagdes entre os vocdbulos do texto. Outros mecanismos marcam a rela- Gao de sentido entre os enunciados. Assim, 0s vocabulos mas (mas a lingua que falam) ee (e quase todos creem na mocidade, e tal frequéncia é cansativa) assinalam relagdo de contraste ou de oposi¢ao e de adi¢ao de ar- gumentos ou ideias, respectivamente. Dessa maneira, por meio dos elementos de coesdo, © texto vai sendo “tecido”, vai sendo cons- truido. 35 Portugués B. Organizagao dos instrumentos de coesdo 1, Coesdo gramatical Feita por meio das concordancias nominais e verbais, da ordem dos vocabulos, dos conecto- res, dos pronomes pessoais de terceira pessoa (retos obliquos), pronomes possessivos, de- monstrativos, indefinidos, interrogativos, re- lativos, diversos tipos de numerais, advérbios (aqui, ali, 4, ai), artigos definidos, de expres- sées de valor temporal Il, Tipos de coesao gramatical Coesdo frésica ~ Estabelece uma ligac3o sig- nificativa entre os componentes da frase, com base na concordéncia entre o nome e seus de- terminantes, entre 0 sujeito e o verbo, entre © sujeito e seus predicadores, na ordem dos vocébulos na oracéo, na regéncia nominal verbal. Veja os exemplos a seguir. * Florianépolis tem praias para todos os gostos, desertas, agitadas, com ondas, sem ondas, rusticas, sofisticadas. Também em relacdo & regéncia ver- bal, a coesdo pode ficar prejudicada se no forem tomados alguns cuida- dos. Hd verbos que mudam de sentido conforme a regéncia, isto é, conforme a relacdo que estabelecem com o seu complemento. Por exemplo, 0 verbo assistir € usado com a preposi¢do a quando significa ser espectador, estar presente, presenciar. Uma confirmacao disso é, por exemplo, a frase A cidade inteira assistiu ao desfile das escolas de samba. Entretanto, na linguagem coloquial, este verbo é usado sem a preposicao. Por isso, com frequéncia, temos frases como: Ainda nao assisti o filme que foi premiado no festi- val. Ou A peca que assisti ontem foi muito bem ‘montada (ao invés de a que assist. No sentido de acompanhar, ajudar, prestar assisténcia, socorrer, usa-se com preposi¢go ou ndo. Observe: O médico assistiu ao doente durante toda a noite. Os Anjos do Asfalto assis- tiram as vitimas do acidente. coe Portugués Produgio e interpretagéo de texto Coesio interfrasica — Indica os varios tipos de relacdo semantica existente entre as frases de um texto. Essas relagdes sdo expressas pelos conectores ou operadores discursivos. E ne- cessario, portanto, usar 0 conector adequado a relagdo que queremos expressar. Observe os exemplos. a.As baleias que acabam de chegar ao Brasil sairam da Antértida hd pouco ‘mais de um més. No banco de Abrothos, uma faixa com cerca de 500 quilémetros de agua rasa e célida, entre o Espirito Santo e a Bahia, as baleias encontram as condigées ideais para acasalar, pa- rir e amamentar. As primeiras a chegar so as mes, que ainda amamentam os filhotes nascidos hd um ano. Elas tém pressa, porque é dificil conciliar ama- ‘mentagio e viagem, jé que um filhote tem necessidade de mamar cerca de 100 litros de leite por dia para atingir a ‘média ideal de aumento de peso: 35 qui- los por semana. Depois, vém os machos, as fémeas sem filhote e, por ultimo, as grdvidas. Ao todo, so cerca de 1.000 baleias que chegam a Abrothos todos os anos. Jé foram dezenas de milhares na época do descobrimento, quando es- tacionavam em varios pontos da costa brasileira. Em 1576, Pero de Magalhaes Géndavo registrou ter visto centenas de- Jas na baia de Guanabara. b. Como suas glandulas mamérias so in- ternas, ela espirra o leite na égua ¢. Ao longo dos meses, porém, a miisica vai sofrendo pequenas mudangas, até que, depois de cinco anos, é completa- mente diferente da original. d. A baleia vem devagar, afunda a cabe- ¢0, ergue 0 corpanzil em forma de arco e desaparece um instante. Sua cauda, entéo, ressurge gloriosa sobre a égua como se fosse uma enorme borboleta ‘molhada. A coreografia dura segundos, porém tao grande é a baleia que parece um balé em céimera lenta. e. Tao grande quanto as baleias é a sua discri¢dio. Nunca um ser humano pre- senciou uma cépula de jubartes, mas sabe-se que seu intercurso é muito ré- pido, dura apenas alguns segundos. coe 36 4.A jubarte é engenhosa na hora de se alimentar. Como sua comida costuma ficar na superficie, ela mergulha e nada em volta dos peixes, soltando bolhas de agua. Ao subir, as bolhas concentram 0 alimento num circulo. Em seguida, a baleia abocanha tudo, elimina a dgua pelo canto da boca e usa a lingua como uma canaleta a fim de jogar o que inte- ressa goela adentro. g. Vérias publicagdes estrangeiras foram traduzidas, embora muitas vezes valha @ pena comprar a versio original. h. Como guia de Paris, 0 livro é um em- buste. Nao espere, portanto, descobrir, através dele, 0 horério de funciona- mento dos museus. A autora faz uma lista dos lugares onde o turista pode comprar roupas, éculos, sapatos, dis- cos, livros; no entanto, ndo fornece as faixas de preco das lojas. Se jé no é possivel espantar a chico- tadas os vendilhGes do templo, a solu- gio é integrd-los & paisagem da fé.(...) As criticas vém ndo sé dos vendilhdes ameacados de ficar de fora, mas tam- bém das pessoas que frequentam o in- terior do templo para exercer a mais legitima de suas fungées, a oragao. Na verdade, muitos habitantes de Apa- recida estdo entre a cruz ea caixa regis- tradora. Vivem a dtvida de preservar a pureza da Casa de Deus ou apoiar um empreendimento que pode trazer be- nesses materiais. k. A Igreja e a prefeitura estimam que 0 shopping deve gerar pelo menos 1.000 empregos. Aparentemente boa, a infraestrutura da Basilica se transforma em po em outubro, por exemplo, quando num nico fim de semana surgem 300 mil fiéis. m. 0 shopping da fé também contard com um centro de eventos com palco gira- trio. Conectores presentes nos exemplos dados = e(exemplos a,d,f) : liga termos ou argu- mentos; Produgio e interpretagio de texto porque (exemplo a), j& que (exemplo a), como (exemplos b, f): introduzem uma explicago ou justificativa; para (exemplos a, i), a fim de (exemplo f): ndicam uma finalidade; porém (exemplos c, d), mas (e) , em- bora (g), no entanto (h): indicam uma contraposi¢ao; como (exemplo d), to ... que (exemplo d), to ... quanto (exemplo e): indicam uma comparaco; portanto (h): evidencia uma concluséo; depois (a) , por ultimo (a), quando (a), J (a), a0 longo dos meses (c), depois de cinco anos (c), em seguida (f), até que (c): servem para explicar a ordem dos fatos, para encadear os aconteci- mentos; entéo (d): operador que serve para dar continuidade ao texto; se (exemplo i): indica uma forma de condicionar uma proposi¢ao a outra; no sé... mas também (exemplo serve para mostrar uma soma de argu- mentos; na verdade (exemplo j): expressa uma generalizagio, uma amplificacao; ‘ou (exemplo j): apresenta uma disjun- Go argumentativa, uma alternativa; por exemplo (exemplo m): serve para especificar 0 que foi dito antes; também (exemplo n): operador para reforgar mais um argumento apresen- tado. Ainda dentro da coesao interfrasica, existe 0 processo de justaposi¢ao, em que a coesao se dé em funcao da sequéncia do texto, da ordem ‘em que as informacées, as proposicées, os ar- gumentos vao sendo apresentados. Quando isso acontece, ainda que os operadores nao tenham sido explicitados, eles sdo depreendi- dos da relagao que esté implicita entre as par- tes da frase. O trecho que segue é um exemplo de justaposicao. L-] Foi em cabarés e mesas de bar que Di Cavalcanti fez amigos, conquistou mulhe- res, foi apresentado a medalhdes das artes e da politica, Nos anos 20, trocou o Rio 37 Portugués por longas temporadas em So Paulo; em seguida foi para Paris. Acabou conhecen- do Picasso, Matisse e Braque nos cafés de Montparnasse. Di Cavalcanti era irreve- rente demais e calculista de menos em re- lagdo aos famosos e poderosos. Quando se invitava com alguém, ndo media palavras. ‘Teve um inimigo na vida. O também pin- tor Céndido Portinari. A briga entre ambos comegou nos anos 40. Jamais se reconci- liaram, Portinari ndo tocava publicamente no nome de Di. [...] Veja, 17 set. 1997. Hé, nesse trecho, apenas uma coeséo interfré- sica explicitada: trata-se da orago “Quando se irritava com alguém, ndo media palavras’. Os demais possiveis conectores so indicados por ponto e ponto e virgula. Coesao temporal — A coesdio temporal é asse- gurada pelo emprego adequado dos tempos verbais, obedecendo a uma sequéncia plausi- vel, a0 uso de advérbios que ajudam a situar 0 leitor no tempo (so, de certa forma, os conec- tores temporais). Veja o exemplo. A dita Era da Televisio 6, relativa- mente, nova. Embora os prineipios té- nicos de base sobre os quais repousa a transmissGo televisual j4 estivessem em experimentagdo entre 1908 e 1914, nos Estados Unidos, no decorrer de pesquisas sobre a amplificagdo eletrénica, somente na década de vinte chegou-se ao tubo ca- tédico, principal pega do aparelho de tevé. Apés varias experiéncias por sociedades eletrénicas, tiveram inicio, em 1939, as transmissées regulares entre Nova lorque e Chicago — mas quase no havia apare- thos particulares. A guerra impés um hiato as experiéncias. A ascenso vertiginosa do novo veiculo deu-se apés 1945. No Bra- sil, a despeito de algumas experiéncias pioneiras de laboratério (Roquete Pinto chegou a interessar-se pela transmissio da imagem), a tevé s6 foi mesmo implan- tada em setembro de 1950, com a inau- guragdo do Canal 3 (TV Tupi), por Assis Chateaubriand. Nesse mesmo ano, nos Estados Unidos, jé havia cerca de cem es- tages, servindo a doze milhdes de apare- thos. Existem hoje mais de 50 canais em funcionamento, em todo o terri Portugués sileiro, perto de 4 milhdes de aparelhos receptores. [dados de 1971]. Muniz Sodré, A comunicasdo do grotesco. Temos, neste pardgrafo, a apresentacao da tra- jetdria da televisio no Brasil, e o que contribui para a clareza dessa trajetéria é a sequéncia coerente das datas: entre 1908 e 1914, na década de vinte, em 1939, apés varias expe- riéncias por sociedades eletrénicas, época da guerra, apés 1945, em setembro de 1950, nes- se mesmo ano, hoje. Coesio referencial — Neste tipo de coesao, um componente da superficie textual faz referén- cia a outro componente, que, é claro, jé ocor- reu antes. Para essa referéncia sao largamente empregados os pronomes pessoais de terceira pessoa (retos e obliquos), pronomes posses- sivos, demonstrativos, indefinidos, interroga- tivos, relativos, diversos tipos de numerais, advérbios (aqui, ali, li, ai, artigos. Observe os exemplos. * Durante o periodo da amamentacao, a mie ensina os segredos da sobrevivén- cia ao filhote e é arremedada por ele. A baleiona salta, o filhote a imita, Ela bate a cauda, ele também o faz. ela, a: retormam 0 termo baleiona, que, por sua vez, substitui o vocdbulo mae; ele —retoma o termo filhote ele também 0 faz: 0 retoma as ages de saltar e bater que a mie pratica Madre Teresa de Calcuté, que em 1979 ganhou o Prémio Nobel da Paz por seu trabalho com os destituidos do mun- do, estava triste na semana passada. Perdera uma amiga, a princesa Diana. Além disso, seus problemas de sade agravaram-se. Instalada em uma ca- deira de rodas, ela mantinha-se, como sempre, na ativa. Jé que nao podia ir a Londres, pretendia participar, no sdba- do, de um ato em meméria da princesa, em Calcutd, onde morava hé quase se- tenta anos. Na noite de sexta-feira, seu médico foi chamado as pressas. Nao adiantou. Aos 87 anos, Madre Teresa perdeu a batalha entre seu organismo debilitado e fragil e sua vontade de fer- coe 38 Produgio e interpretagéo de texto 10 € morreu vitima de ataque cardiaco. O Papa Jodo Paulo II declarou-se “sen- tido e entristecido’. Madre Teresa e 0 papa tinham grande afinidade. que, seu, seus, ela e sua referem-se a Madre Teresa; princesa retoma a expressio princesa Diana; papa retoma a expressdo Papa Jodo Paulo Il; onde refere-se a cidade de Calcuta. Ha, ainda, outros elementos de coesio, como além disso e j4 que, que introduzem, respec- tivamente, um acréscimo ao que ja fora dito e uma justificativa Coesdo lexical - Neste tipo de coesio, usamos termos que retomam vocdbulos ou expressdes que jé ocorreram, porque existem entre eles tragos seménticos semelhantes, até mesmo opostos. Dentro da coesio lexical, podemos distinguir a reiteracao e a substituigdo. Por reiteragao entendemos a repetigio de ex- presses linguisticas; neste caso, existe identi- dade de tracos semanticos. Este recurso é, em geral, bastante usado nas propagandas, com 0 objetivo de fazer 0 ouvinte/leitor reter o nome eas qualidades do que é anunciado, A substituigdo é mais ampla, pois pode se efe- tuar por meio da sinonimia, da antonimia, da hiperonimia, da hiponimia. Sinonimia — E a selecdo de expressdes linguis- ticas com tragos semanticos semelhantes. + Pelo jeito, sé Clinton insiste no isola- ‘mento de Cuba. Jodo Paulo I! decidiu visitar em janeiro a ilha da Fantasia. Os termos destacados tém o mesmo referen- te. Entretanto, é preciso esclarecer que, neste caso, hd um julgamento de valor na substitui- do de Cuba por ilha da Fantasia, numa alusdo a lugar onde ndo ha seriedade. * Ags 26 anos, 0 zagueiro Jiinior Baiano deu uma grande virada em sua carrei- ra. Conhecido por suas inconsequen- tes “tesouras voadoras’, ele passou a agir de maneira mais sensata, atitude que jé 0 levou até a Selecéio Brasileira. Produgio e interpretagio de texto Patricia, a esposa, e os filhos Patricia Caroline e Patrick so as maiores ale- grias desse baiano, nascido na cidade de Feira de Santana. “Eles séo a minha razao de viver e lutar por coisas boas’, comenta o zagueiro. Na galeria de ido- los, Jinior Baiano coloca trés craques: Leandro, Mozer e Aldair. “Eles sabem tudo de bola”, diz o jogador. 0 zagueiro da Selegao s6 questiona se um dia teré o mesmo prestigio deles. Deixando para trds a fase de desajustado e brigao, 0 zagueiro rubro-negro agora orienta os mais jovens e aposta nesta nova gera- Go do Flamengo. Este tipo de procedimento é muito Util para evitar as constantes repetigées que tornam um texto cansativo e pouco atraente. Observe quantas diferentes maneiras foram emprega- das para fazer alusdo 8 mesma pessoa. Den- tro desse pardgrafo, observamos ainda outros mecanismos de coesdo ja vistos anteriormen- te: sua, ele, 0, que retomam o jogador Junior Baiano, e deles, que retoma os trés craques. antonimia - E a selec3o de expressées linguis- ticas com tragos semanticos opostos. * Gelada no inverno, a praia de Garopa- ba oferece no veréio uma das mais be- las paisagens catarinenses. Hiperonimia e hiponimia — Essas substituicdes ‘ocorrem quando um termo mais geral ~ 0 hi- perénimo-~ ¢ substituldo por um termo menos geral - 0 hipdnimo, ou vice-versa. Os exemplos ajudam a entender melhor. * Tao grande quanto as baleias é a sua discrigéo. Nunca um ser humano pre- senciou uma cépula de jubartes, mas sabe-se que seu intercurso é muito répi- do, dura apenas alguns segundos. Em Abrolhos, as jubartes fazem a maior esbérnia, Elas se retinem em grupos de trés a oito animais, sempre com uma linica fémea no comando. € ela, por exemplo, que determina a velocidade e a diregao a seguir. Dentre as 79 espécies de cetdiceos, as jubartes so as tnicas que cantam — tanto que sdo conhecidas também por “baleias cantoras”. 39 Portugués 3. tépico frasal pardgrafo é uma unidade de com- posigdo constituida por um ou mais de um periodo, em que se desenvolve alguma ideia central, ou nuclear, a que se agregam outras, secundarias, intimamente relacio- nadas pelo sentido e logicamente decor- rentes dela. thon M, Garcia As principais caracteristicas do parégrafo disser- tativo so: existéncia de uma ideia-nUcleo alia- da a ideias secundarias e evidéncia de um pro- cesso completo de raciocinio, embora curto. O pardgrafo dissertativo, ao ser desenvolvido, deve ser organizado em torno de frases ba- sicas, que tém funcdes especificas e diferen- ciadas. O nticleo de cada pardgrafo recebe 0 nome de tépico frasal. Pode-se definir tépico frasal como sendo a frase que seré desenvol- vida e explicitada por meio de frases de de- senvolvimento e frases de conclusio. A frase de desenvolvimento responde & pergunta por qué? feita no tépico frasal, ampliando a ideia principal por meio de evidéncias, exemplos, juizos, justificativas etc. A frase de concluséo fecha a ideia do pardgrafo, sendo muitas vezes iniciada por expresses do tipo “é preciso’, “8 necessario” etc. Observe o exemplo a seguir. tépico frasal - Viver em cidades tornou-se um grande desafio, Frase de desenvolvimento — Em qualquer lu- gar e a qualquer hora, seja quem for, as pes- soas so vitimas das mais variadas formas de violéncia Frase de conclusao ~ £ preciso que comunida- de e governo tornem-se aliados na criagdo de medidas para mudar essa situagdo. O pardgrafo, no caso do exemplo acima, é 2 uniao dos trés elementos, ficando desta forma: Viver em cidades tornou-se um grande de- safio. Em qualquer lugar e a qualquer hora, seja quem for, as pessoas so vitimas das mais variadas formas de violéncia. E preciso que comunidade e governo tornem-se alia- dos na criagdo de medidas para mudar essa situagio. coe Portugués Pode-se afirmar, portanto, que a organizacéo de um pardgrafo dissertativo assemelha-se & estrutura de um texto dissertativo, com as se- guintes partes: * introdugo - apresentaco do tépico frasal; * desenvolvimento - fundamentagdo da ideia-nuicleo; + conclusao ~ reafirmacao da ideia-ni- cleo. Obs. 1 — Nem sempre aparece a conclusdo no pardgrafo, 0 que nao implica prejuizo para 0 desenvolvimento do texto como um todo. & como se todos os argumentos fossem apre- sentados primeiro para depois ser feita uma conclusao ampla no Ultimo pardgrafo, fechan- do cada argumento e encerrando formalmen- te o desenvolvimento do tema dado. Obs. 2~A troca de pardgrafos ndo implica uma mudanga de assunto, que deve ser 0 mesmo em toda a extensio da dissertacdo: 0 que de- termina a mudanga é 0 novo enfoque dado ao tema que estd sendo desenvolvido Todo pardgrafo ¢ formado por periodos. Ten- do isso em vista, leia 0 texto a seguir sobre a estruturagao do periodo e sua ligagdo com a coesao textual. A. Periodo Periodo é a unidade linguistica composta por uma ou mais oragdes. Tem como caracteristi- cas basicas: 01. a apresentaco de um sentido ou signi- ficado completo; 02. encerrar-se por meio de certos sinais de pontuacio. Uma das propriedades da lingua é expressar enunciados articulados. Essa articulacdo é evidenciada internamente pela verificagio de uma qualidade comunicativa das informa- Ges contidas no periods. Isto é, um perfodo 6 bem articulado quando revela informagdes de sentido completo, uma ideia acabada. Esse atributo pode ser exibido em termos de um periodo constituido por uma Unica ora¢o ~ periodo simples ~ ou constituido por mais de uma oraco ~ periodo composto. coe 40 Produgio e interpretagéo de texto Exemplos 01, Sab ha medo do brinquedo. [periodo simples} 02. Sabrina tinha medo do brinquedo, ape- sar de leva-lo consigo todo o tempo. [perfodo composto] Nao ha uma forma definida para a constituigZo de periodos, pois se trata de uma liberdade do falante de elaborar seu discurso da maneira como quiser ou como julgar ser compreen- dido na situago discursiva. Porém, a lingua falada, mais frequentemente, organiza-se em perfodos simples, ao passo que a lingua escrita costuma apresentar maior elaboracao sintati- €@, 0 que faz notarmos a presenca maior de perfodos compostos. Um dos aspectos mais notaveis dessa complexidade sintatica nos pe- riodos compostos é 0 uso dos varios recursos de coesao. Isso pode ser visualizado no exerci- cio de transformagao de alguns periodos sim- ples em periodo composto fazendo uso dos chamados conectivos (elementos linguisticos que marcam a coesio textual). Exemplo 01. Eu tenho um gatinho muito preguico- so. Todo dia ele procura a minha cama para dormir. Minha mde néo gosta do meu gatinho. Entdo, eu o escondo para a minha me ndo ver que ele esté dor- mindo comigo. 02. Eu tenho um gatinho muito preguigo- 50, que todo dia procura a minha cama para dormir. Como a minha mae néo gosta dele, eu o escondo e, assim, ela ndo vé que 0 gatinho esté dormindo comigo. a Note que no exemplo (1) temos um pardgrafo formado por quatro periodos. J4 no exemplo (2), 0 pardgrafo esté organizado em apenas dois periodos. Isso é possivel articulando as informagées por meio de alguns conectivos (que, como, assim) e eliminando os elementos redundantes (o gatinho, minha mae = ele, ela). Finalmente, os periodos so definidos mate- rialmente no registro escrito por meio de uma marca da pontuagao, das quais se excluem a virgula e 0 ponto e virgula. O recurso da pon- Produgio e interpretagio de texto tuagdo é uma forma de reproduzir na escrita uma longa pausa percebida na lingua falada. Periodo. Disponivel em: . Acesso em: 12 ago. 2011. B. Pardgrafo Segundo 0 Novo diciondrio Aurélio, © parigrafo é uma “unidade de texto eseri- to geralmente assinalado pela mudanga de linha ¢ pelo recolhido, cuja fungdo ¢ a de indicar serem as frases nele contidas o de- senvolvimento de uma ideia, estando mais intimamente relacionadas entre si do que comas demais frases do texto”. Assim, cada parigrafo pode ser construido como se fosse um mierotexto, ou seja, contendo também introdugdo, desenvolvimento ¢ conclusio. Nesse caso, tem-se um parigrafo-padrio. Delimitado 0 assunto ¢ estabeleci- do o objetivo do parigrafo, © enunciador terd condigdes de abri-lo, introduzindo 0 assunto através de uma frase-nicleo ou tépico frasal. [..] O desenvolvimento do parigrafo se constitui no desdobramen- to da frase-nécleo ou t6pico frasal, nos seus aspectos mais relevantes, podendo ser fundamentado por meio de exemplos, enumeragGes, dados estatisticos, citagdes, testemunhos, paralelos, contrastes, cau- sas, consequéncias, definigdes, analogias, tempo e espago, entre outros. Por outro lado, as relagdes légicas entre as frases ou a transigo de um periodo para outro sdo estabelecidas com emprego de de- terminadas marcas linguisticas que as introduzem ou so percebidas semanti mente por meio da interpretagdo de ideias relacionadas. Esses elementos linguisticos 10 0s nexos oracionais, também conheci- dos como articuladores ou conectores. Na estruturagdo do parigrafo, devem ser evitados os vicios de raciocinio decor- rentes de uma inadequada organizagdo das ideias. Uma falsa analogia ou generalizagao, por exemplo, apesar de, As vezes, intencio- nal, toma o pardgrafo falacioso, conduzindo © receptor ao erro, No entanto, se qualquer vicio de raciocinio, intencional ou fruto da impericia do enunciador, for descoberto na relagdo que se estabelece entre as ideias, podera levar o receptor a rebelar-se contra o texto, rejeitando-o de imediato. [..] 4 Portugués Quando se trata desse parigrafo-pa- dro, deve apresentar também uma con- clusio, [...]. Em outras palavras: deve-se reorganizar, de maneira resumida, 0 que foi tratado no desenvolvimento, selecionando ‘uma fiase que feche o pardgrafo. Reitera- ‘mos, nesse caso, a observancia do emprego correto dos nexos que estabelecem a transi- Go entre as partes do pardgrafo. [...] © parigrafo, além de tomar possivel ao enunciador a tarefa de isolar e ajustar as ideias, permite também ao receptor acom- panhar os seus distintos estdgios, o que fa- cilita a leitura e a compreensio do texto. [..] Destacamos, finalmente, que, na didé- tica da escrita, tratamos aqui de um pard- grafo ideal. A construgo do pardgrafo real, no entanto, vai depender de outros fatores. como 0 conhecimento de mundo, o estilo do enunciador ete., ndo devendo subordi- nar-se a regras excessivamente rigidas. Délelo Barros da Siva, professor da UFSM-RS. Adaptado. 4. Coeréncia No nosso dia a dia, sio comuns comentérios do tipo “Isso nao tem coeréncia’, “Esta atitude 6 incoerente” etc. O que parece levar as pes- soas a esse tipo de comentarios 6, possivel- mente, o fato de perceberem que, por algum motivo, elas no conseguem entender uma determinada frase ou um texto. Pode-se dizer, por isso, que coeréncia liga-se 4 compreensio, 8 possibilidade de interpretac3o do que se diz ou escreve. Tudo, seja uma frase, um texto, uma obra literdria, uma conversa, um discurso politico, uma cang3o ete. precisa ter sentido, precisa ter coeréncia A coeréncia depende de uma série de fatores, dentre os quais vale ressaltar: * oconhecimento do mundo eo grau em que esse conhecimento deve ser ou & compartilhado pelos interlocutores; * 0 dominio das regras que norteiam a lingua —isso possibilitard as varias com- binagdes dos elementos linguisticos; * 05 préprios interlocutores, consideran- do a situagdo em que se encontram, as suas intengdes de comunicacdo, suas crengas, a fun¢do comunicativa do texto. Portugués Por isso, quando se diz que um texto é incoe- rente, é necessério esclarecer os motivos que nos levaram a afirmar isso. Ele pode ser in- coerente em uma determinada situagao, por- que quem 0 produziu nao soube adequé-lo a0 receptor, nao valorizou suficientemente a questo da comunicabilidade, no obedeceu 0 cédigo linguistico, enfim, ndo levou em conta 0 fato de que a coeréncia esta direta- mente ligada & possibilidade de se estabele- cer um sentido para o texto. A. Tipos de coeréncia 1. Coeréncia semantica Refere-se a relaco entre os significados dos ele- mentos das frases em sequéncia; a incoeréncia aparece quando esses sentidos nao combinam, ou quando so contraditorios. Observe 0 exemplo a seguir. ouvem-se vozes exaltadas para onde acor- reram muitos fotégrafos e telegrafistas para registrarem o fato. © uso do vocébulo telegrafista é inadequado esse contexto, pois o fato que causa espan- to seré documentado por fotdgrafos e, talvez, Por cronistas, que, depois, poderao escrever uma crénica sobre ele, mas certamente tele- grafistas nao so espectadores comuns nessas circunstancias. Ao lado deste, hd um outro problema, de ordem sintatica: trata-se do em- prego de para onde, que teria vozes exaltadas como referente, o que néo ¢ possivel, porque esse referente nao contém ideia de lugar, im- plicita no pronome relativo onde. Cabe ainda uma observacdo quanto ao tempo verbal de ouvem-se e acorreram, presente e pretérito perfeito, respectivamente. Seria mais adequa- do os dois verbos estarem no mesmo tempo. Ainda dentro deste tipo de coer€ncia, lembra- ‘mos que 0 pouco dominio do sentido dos vo- cdbulos e das restrigdes combinatérias pode também gerar frases com problemas de com- preensiio, como as que seguem. Ojardim que circula a casa estava maltratado. (circunda) Entramos em um eirculo de mudangas. (ciclo) rei quis obter as luxdrias que sua posi¢éio oferecia. (mordomias, luxos) coe 2 Produgio e interpretagéo de texto sendo este 0 dominador comum das mu- dangas. (denominador) Il. Coer€ncia sintatica Refere-se aos meios sintaticos usados para expressar a coeréncia semantica: conectivos, pronomes etc. Ex.: Entdo as pessoas que tém condigées procu- ram mesmo 0 ensino particular. Onde ha méto- dos, equipamentos e até professores melhores. A coeréncia desse perfodo poderia ser recupe- rada se duas alteragSes fossem feitas. A primei ra seria a troca do relativo onde, especifico de lugar, para no qual ou em que (ensino particu- lar, no qual/em que ha métodos ...), e a segun- da seria a substituico do ponto por virgula, de maneira que a oracdo relativa ndo ocorresse ‘como uma oragio completa e independente da anterior. Teriamos a seguinte oragdo, sem problemas de compreensdo: Entdio as pessoas que tém condigées procuram mesmo o ensino particular, no qual hé equipamentos e até pro- fessores melhores. Il. Coeréncia estilistica Este tipo de coeréncia ndo chega, na verdade, a perturbar a possibilidade de interpretacdo de um texto; 6 uma nocdo relacionada a mis- tura de registros linguisticos. E desejavel que quem escreve ou 18 mantenha-se num estilo relativamente uniforme. Entretanto, a alter- nancia de registros pode ser, por outro lado, um recurso estilistico. Leia este trecho, extraido de uma aula gravada. isso ai é um conceitozinho um pou- co maior, é que nés sabemos que os clo- retos, por decoreba, aquele negécio que eu falei, os cloretos de prata, chumbo séo insolivveis, todos os outros cloretos so sohiveis. Agora pergunto: aquilo lé nado é uma cascata muito grande? Quando a gente agora esté por dentro do assunto? O que 0 cara quer dizer com soliveis, muito soliveis, pouco soltiveis? Apenas um con- ceito relative. AgCl é considerado insol vel porque o que fica de AgCl é um trogo tao irrisério que a gente nao considera Entendeu qual é a jogada? O que tem na solugdo daqueles ions nao vai atrapalhar ninguém. Vocé pode comer quilos desse trogo que a prata nao vai te perturbar: Produgio e interpretagio de texto Nessa exposicao, 0 professor emprega uma grande variagao de registro, movendo-se todo © tempo entre o formal, para explicar 0 con- ceito de solubilidade, e o informal, servindo-- -se de girias (troco, cascata, estar por dentro, jogada, decoreba, cara), talvez com o objeti- vo de tornar a explicagio menos pesada e a ‘exposi¢do mais interessante para os alunos, aproximando-se deles ao usar essa maneira de falar. Portanto, nessa passagem, a mistura de registros, sem causar incoeréncia, pode ter uma causa objetiva. IV. Coer€ncia pragmatica Refere-se ao texto visto como uma sequéncia de atos de fala. Para haver coeréncia nessa se- quéncia, é preciso que os atos de fala se reali- zem de forma apropriada, isto é, cada interlo- cutor, na sua vez de falar, deve conjugar o seu discurso ao do seu ouvinte. Quando uma pes- soa faz uma pergunta a outra, a resposta pode se manifestar por meio de uma afirmacio, de outra pergunta, de uma promessa, de uma ne- gagio. Qualquer uma dessas sequéncias seria considerada coerente. Por outro lado, se o in- terlocutor nao responder, virar as costas e sair andando, comegar a cantar, ou mesmo falar algo totalmente desconectado do tema da per- gunta, essas sequéncias seriam consideradas incoerentes. Observe o exemplo a seguir. a: Voce pode me dizer onde fica a Rua Ali- ce? B: 0 dnibus esta muito atrasado hoje. B. Texto e coeréncia Cada tipo de texto tem sua estrutura propria, or isso os mecanismos de coeréncia e de ‘coesdo também se manifestardio de forma dife- rente em cada um deles, conforme se trate de um texto narrativo, descritive ou dissertativo- -argumentativo, No texto narrativo, a coeréncia existe em fungo, sobretudo, da ordenacgo temporal. Tomemos como exemplo 0 conhecido conto “Circuito fechado”, de Ricardo Ramos, em que no ha elementos coesivos. No entanto, hé coeréncia em func3o de uma sequéncia tem- poral percebida no s6 pela ordem em que fo- ram colocados os substantivos, mas também B Portugués pela escolha de vocabulos de campos semanti- os relacionados & rotina de um publicitario. Circuito fechado Chinelos, vaso, descarga, Pia, sabone- te. Agua. Escova, creme dental, 4gua, espu- ma, creme de barbear, pincel, espuma, gile- te, Agua, cortina, sabonete, gua fria, gua quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calga, meias, sapatos, gravata, paleté. Carteira, niqueis, documentos, caneta, chaves, lengo, rel6gio, mago de cigarros, caixa de fésforos. Jornal. Mesa, cadeiras, xicara e pires, prato, bule, talheres, guardanapo. Quadros. Pasta, car- ro. Cigarro, fésforo. Mesa e poltrona, ca- deira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo com lépis, canetas, bloco de notas, es- ppatula, pastas, caixas de entrada, de saida, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fOsforo, Bandeja, xicara pequena, Cigarro ¢ fosforo, Papéis, telefone, relatérios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhe- tes, telefone, papéis. Relégio. Mesa, cava- lete, cinzeiros, cadeiras, esbogos de antin- cios, fotos, cigarto, fésforo, bloco de papel, caneta, projetor de filmes, xicara, cartaz, lapis, cigarro, fosforo, quadro-negro, giz, papel. Mictério, pia, égua, Taxi, Mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xicara. Mago de ci- garros, caixa de fosforos. Escova de dentes, pasta, gua. Mesa e poltrona, papéis, tele- fone, revista, copo de papel, cigarro, fosfo- 10, telefone intemo, externo, papéis, prova de anincio, caneta e papel, rel6gio, papel, pasta, cigarro, fésforo, papel e caneta, tele- fone, caneta e papel, telefone, papéis, fo- Iheto, xicara, jomal, cigarro, fésforo, papel caneta. Caro. Mago de cigarros, caixa de fosforos, Paleté, gravata. Poltrona, copo, revista, Quadros. Mesa, cadei talheres, copos, guardanapos. Xicaras garro e fésforo. Poltrona, livro. Cigarro e fosforo. Televisor, poltrona. Cigarto e fés- foro, Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calga, cueca, pijama, chinelos. Vaso, des- carga, pia, agua, escova, creme dental, espuma, gua. Chinelos. Coberta, cama, travessciro, RAMOS, Ricardo. Os melhores contos. ‘io Paulo: Global, 1998. Portugués No texto descritivo, a coeréncia se estabele- ce, sobretudo, em funcao de uma ordenacao espacial. Quem descreve procura percorrer os detalhes daquilo que descreve, seja uma pessoa, seja um cenario, seja um objeto, obe- decendo a uma sequéncia, com a finalidade de auxiliar o leitor/ouvinte a compor o todo a partir dessas informacées parciais. No trecho seguinte, extraldo de Vidas secas, temos uma série de atos que, se alterada, prejudica a coe- réncia do texto, (Sinhé. Vitéria) Agachou-se, atigou 6 fogo, apanhou uma brasa com a colher, acendeu 0 cachimbo, pés-se a chupar 0 canudo de taquari cheio de sarro. Jogou Jonge uma cusparada, que passou por cima dda janela e foi cair no terreiro, Preparou-se para cuspir novamente. Por uma extrava- ¢gante associagao, relacionou esse ato com a lembranga da cama, Se 0 cuspo alcangas- se o terreiro, a cama seria comprada antes do fim do ano. Encheu a boca de saliva, inclinou-se — ¢ no conseguiu o que espe- ava, Fez varias tentativas, inutilmente. O resultado foi secar a garganta, Ergueu-se desapontada. Besteira, aquilo nao valia. ‘Aproximou-se do canto onde o pote se erguia numa forquilha de trés pontas, ‘bebeu um caneco de agua. Agua salobra. RAMOS, Graciliano. Vidos secas. 100. ed Rio de Janeiro: Record, 2006. Fragmento. No texto dissertativo-argumentativo, é muito importante para a coeréncia a ordenacdo légi- @@ das ideias. As possibilidades de correlacio- nar os argumentos decorrem dos operadores légico-discursivos empregados. Hé conectores especificos para se expressar as diferentes ar- ticulagdes sintaticas - causa, finalidade, con- clusdo, condigo etc. ~ e eles devem ser usa- dos adequadamente, de acordo com a relagio que se quer exprimir ao desenvolver uma ar- gumentagao. £ ainda muito importante, com respeito & coesdo, uma combinago cuidosa dos tempos verbais empregados. Observe 0 texto a seguir. Depois que um rolo compressor pas sou pelo cinema brasileiro, alijando-o intempestivamente do mercado, & bom saber que existem formulas ao alcance coe 44 Produgio e interpretagéo de texto de diretores, produtores, roteiristas e ar- tistas para retomar o didlogo. O mercado consumidor tem folego, mas tende, por distorcéo natural, a se voltar para o filme estrangeiro. Precisa de boa sacudida que 0 faca retomar 0 caminho de casa, desde que, evidentemente, o produto da casa sa- tisfaga suas expectativas. Temos, neste pardgrafo, os conectores mas {ideia adversativa) e desde que (condicSo), que no podem ser substituidos por conec- tores de outro sentido, sob pena de alterar © que se quer expressar. As expressées é bom saber e evidentemente tém a finalida- de de introduzir e reforcar os argumentos. Finalmente, lembramos que 0 uso do conec- tor desde que pede o emprego do verbo no modo subjuntivo, tempo presente, o que foi feito pelo autor do texto (desde que... satis- faga). © mesmo se verifica na frase anterior: Precisa de boa sacudida que o faca... € im- portante, pois, escolher os conectores ade- quados, quando o objetivo ¢ argumentar de maneira coerente e coesa 5. Interdependéncia coesdo-coeréncia Vamos lembrar o significado de coeséo com uma imagem bem simples. Imagine que o seu texto seja uma parede. Nessa situacdo, cada tijolo seria uma frase, pois o conjunto das fra- ses forma o texto, assim como o conjunto dos tijolos forma a parede. Sabemos, porém, que 05 tijolos no podem ficar apenas uns sobre ‘9s outros ou ao lado dos outros: isso levaria a uma parede fragil e nem um pouco segura Sendo assim, é necessério que se coloque al- guma coisa entre eles para que se fixe e se unam de forma segura: a argamassa. No caso do texto, ocorre o mesmo processo: se as frases ficarem soltas, o texto seré facil- mente desmontével. € preciso unir as frases, da mesma forma como se unem os tijolos. a argamassa usada no texto sao os elementos de coesio. Alguns cuidados so necessérios na coloca¢o dessa argamassa na parede: ela tem de ser adequada, na medida certa e no local certo. ‘A mesma coisa deve acontecer com os ele- Produgiio e interpretaséo de texto Portugués mentos de coesdo: eles tém de ser adequa- _ exemplo, em que se vela alguém, é imperti- dos a ideia que se deseja transmitir, no local nente e sintoma de incoeréncia contextual ena forma exata que o raciocinio exige. Se a__alguém contar uma piada de papagaio, pro- ideia a ser transmitida for a ideia de causa,o —_ vocando risos e quebrando o tom lutuoso do elemento que deve ser usado so as conjun- momento. des causais: porque, visto que, j4 que, pois etc. Qualquer outra que seja utilizada modi: fica toda a ideia, gerando, muitas vezes, até incoeréncia Na vida didria, sio inimeras as situagdes em que se percebe a incoeréncia. E é a partir do entendimento de incoeréncia que se chega ao que é coeréncia: coeréncia é adequacao, E 0 que seria incoeréncia? Seria exatamente —_ harmonia, seja com o contexto, seja com os a inadequacao, o erro de contextualizacéo _falantes ou leitores, seja com a forma de lin- de algum fato, evento ou termo. Se alguém — guagem etc. Pode-se afirmar também que o disser que percebia “a palidez do Sol sobre que ¢ incoerente num dado contexto nao 0 é as aguas do Amazonas”, 0 que se vé € uma __em outro. Se uma mulher se veste de longo e incoeréncia no uso da imagem: o sol tropical _vai a praia, isso ¢ incoerente. Numa noite de pode ser acusado de muitas coisas, mas de _gala, no 0 é. Nessa noite de gala, o incoeren- palidez, jamais. Num contexto de morte, por __ te seria usar um biquini. Elementos de coesao mais usuais, segundo a area semantica prioridade, relevancia - em primeiro lugar, antes de mais nada, primeiramente, acima de tudo, precipuamente, mormente, principalmente, primordialmente, sobretudo tempo (frequéncia, duracdo, ordem, sucesso, anterioridade, posterioridade) — ento, enfim, logo, depois, imediatamente, logo apés, a principio, pouco antes, pouco depois, anteriormen- te, posteriormente, em seguida, afinal, por fim, finalmente, agora, atualmente, hoje, frequen- temente, constantemente, as vezes, eventualmente, por vezes, ocasionalmente, sempre, ra ramente, ndo raro, ao mesmo tempo, simultaneamente, nesse interim, nesse meio tempo, enquanto isso e as conjungdes temporais. Semelhanca, comparacao, conformidade — igualmente, da mesma forma, assim também, do mesmo modo, similarmente, semelhantemente, analogamente, por analogia, de maneira idén- tica, de conformidade com, de acordo com, segundo, conforme, sob 0 mesmo ponto de vista e as conjungdes comparativas a digo, continuagao — além disso, (a)demais, outrossim, ainda mais, ainda por cima, por outro lado, também e as conjunsées aditivas (e, nem, ndo sé... mas também etc.) Davida — talvez, provavelmente, possivelmente, quicd, quem sabe, é provavel, nao é certo, se éque. Certeza, énfase - decerto, por certo, certamente, indubitavelmente, inquestionavelmente, sem duvida, inegavelmente, com toda a certeza Surpresa, imprevisto — inesperadamente, inopinadamente, de sibito, imprevistamente, sur- preendentemente lustracdo, esclarecimento — por exemplo, isto é, quer dizer, em outras palavras, ou por outra, a saber. propésito, intencao, finalidade - com o fim de, a fim de, com o propésito de. “65 coe Portugués Produsiio e interpretasao de texto lugar, proximidade, distancia — perto de, préximo a ou de, junto a ou de, dentro, fora, mais adiante, além, acold, outros advérbios de lugar, algumas outras preposicdes e os pronomes demonstrativos. Resumo, recapitulacao, concluso — em suma, em sintese, em conclusdo, enfim, em resumo, portanto. Causa e consequéncia ~ dai, por consequéncia, por conseguinte, como resultado, por isso, por causa de, em virtude de, assim, de fato, com efeito e as conjungées causais, conclusivas e explicativas. Contraste, oposicao, restri¢ao, ressalva— pelo contrario, em contraste com, salvo, exceto, me- nos e as conjuncdes adversativas e concessivas. Referéncia em geral — os pronomes demonstrativos este (o mais préximo), aquele (o mais distante), esse (posi¢ao intermediéria: 0 que esta perto da pessoa com quem se fala); os pro- nomes pessoais; repetides da mesma palavra, de um sinénimo, perifrase ou variante sua; os pronomes adjetivos ultimo, penuiltimo, antepentiltimo, anterior, posterior; os numerais ordi- nais (primeiro, segundo etc.). GARCIA, Othon M. Comunicagdo em prosa moderna. Rio de Janeiro: FGV, 2011. Fragmento, 6. Os métodos indutivo e dedutivo asas, s6 0 fazem porque tém alma. E os peixes, que usam recursos préprios para percorrer os A. Método indutivo caminhos das dguas, como os demais, pos- Indugdo é um processo mental por suem alma. Portanto, todos os seres vivos que intermédio do qual, partindo de dados se movem por seus prdprios meios sao anima- particulares, suficientemente constatados, __dos, ou seja, possuidores de uma alma. infere-se uma verdade geral ou universal, . . nao contida nas partes examinadas. Por- B. Método dedutivo tanto, o objetivo dos argumentos € levar © método dedutivo € um método a conclusdes cujo contetido é muito mais cientifico que considera que a conclusio amplo do que o das premissas nas quais esté implicita nas premissas. Por conse- se basearam. guinte, supde que as conclusdes seguem Exemplo necessariamente as premissas: se 0 racio- cinio dedutivo for valido e as premissas forem verdadeiras, a conclusio nfo pode ser mais nada sendo verdadeira. O mé todo dedutivo infere os fatos observados baseando-se na lei geral (ao contrario do indutivo, no qual se formulam leis a partir de fatos observados). Disponivel em: . Acesso em: 21 set. 2011. Ocorvo | é negro O corvo 2 é negro O corvo 3 énegro O corvo "n” é negro (todo) corvo & negro LAKATOS, Eva M.; MARCONI, Marina A. Metodologia cientfica. S80 Paulo: Atlas, 1991 Veja outro exemplo. Exemplo As feras, que se movem na floresta com seus __ Todos os bipedes usam dois pés para se move- préprios meios, tem alma. Os insetos, que se rem sobre a terra. Os homens, as aves, alguns deslocam por sua vontade, séo dotados de _ simios usam dois pés para se moverem, por- alma. As aves, que cortam os ares com suas __ tanto sao bipedes. coe 46 Produgio e interpretagio de texto EXERCiCloS RESoIVIDoS Os fragmentos de texto a seguir so de auto- ria de Joaquim Nabuco, abolicionista, politico, fundador da Academia Brasileira de Letras e um dos mais ilustres homens piblicos do Bra- sil, Ele era também escritor e mestre da arte da diplomacia. Festejaram-se, em 2009, os 160 anos de seu nascimento. a, Haverd indiferenga mais criminosa do que a indiferenga com quea classe tinica que dirige os destinos deste pais, desde que ele se fundou, tem assistido ao cres- cimento desamparado da nossa popula G40, promiscuidade de nosso povo, & miséria que se espalha por todo 0 pais, 4 degradagdo dos nossos costumes, sé se preocupando dos seus interesses de classe, de manter o jugo férreo dos seus monopélios desumanos e atentatérios da civilizagdo universal. . Ja existe, felizmente, em nosso pais, uma consciéncia nacional — em forma- G0, é certo — que vai introduzindo o elemento da dignidade humana em no: sa legislagdo, ¢ para a qual a escravidio, apesar de hereditaria, é uma verdadeira mancha de Caim que o Brasil traz na fronte, Essa consciéneia, que esta tem- perando a nossa alma, e ha de por fim humanizé-la, resulta da mistura de duas correntes diversas: 0 arrependimento dos descendentes de senhores e a afi- nidade de sofrimento dos herdeitos de escravos. O trabalho sem a instrugdo téenica e sem a educago moral do operdrio nao pode abrir um horizonte & nagao brasil 01. Ibmec-Sp A coesao textual constréi-se, também, através da anéfora, isto 6, da retomada de elementos anteriormente expressos. Em todas as opcdes, as palavras sublinhadas retomam um elemen- to expresso no texto, exceto em tem assistido ao crescimento de- samparado da nossa populaco” 47 Portugués . “Haverd indiferenca mais criminosa do que a indiferenca com que a classe uni- ca que dirige os destinos deste pais...” “.. e para a qual a escravidéo, apesar de hereditéria, é uma verdadeira man- cha de Caim” |. “o jugo férreo dos seus monopélios de- sumanos...” "e ha de por fim humanizé-la, © e Resolugao © pronome possessivo “nossa” refere-se dire- tamente ao substantive “populacdo”, nao re- tomando nenhum termo anterior. Resposta A leia 0 texto a seguir para responder & ques- tao 2. A linguistica se ocupa de muitos aspectos da linguagem e de seu uso; um aspecto do uso da linguagem de que a lin- guistica ndo se ocupa é a distingdo entre o verto” e 0 “errado” na lingua. © ensino do portugués muitas vezes difunde a crenga de que existe uma ma- neira “eerta” de usar a lingua, e que essa & a tinica maneira aceitavel, todas as outras so “erradas”, devem ser evitadas. Isso & reforgado por colunas em jornais, gramé- ticas escolares, livros de “nao erre mais” © a pressio social de todo momento, Essa atitude, com suas pemiciosas consequén- cias, tem sido objeto de eritica por parte de linguistas ¢ professores, mas continua muito presente na escola e na vida. ‘Nao hé a menor base linguistica para a distingdo entre “certo” ¢ “errado” — 0 linguista se interessa pela lingua como ela 6, € no como ela deveria ser. Imagine-se um historiador que descobre que determi- nado povo antigo praticava sacrificios hu- manos. Ele, pessoalmente, pode desapro- var esse costume, mas nem por isso tem o direito de afirmar que os sacrificios no ocorriam —um fato & um fato, e pr Portugués respeitado. No entanto, quantas vezes no nos dizem que a palavra chipanzé “nao existe” (porque 0 “certo” seria chimpan- 26)? Dizer isso & desrespeitar o fato de que milhdes de pessoas dizem "chipanzé". Um linguista parte sempre dos fatos, ea cada passo verifica suas teorias em confronto com eles: se muitos falantes di- zem chipanzé, entdo ele precisa registrar esse fato, e levi-lo em conta em sua des- crigao ¢ teorizagao. E se todo mundo diz ‘me dé ele ai, essa & uma estrutura legitima da lingua falada do Brasil, e precisa figu- rar na descrigdo A oposigao entre “certo” e “errado” muitas vezes corresponde, no fundo, a opo- essa, sim, legitima — entre lingua falada e lingua escrita. E fato (e, portanto, temos de respeitar) que a gente ndo escreve como fala, E se & um fato, deve figurar em algum ponto de uma gramatica comple- ta da lingua, Mas se é errado escrever me dé ele ai em uma carta formal de pedido de emprego, é igualmente errado sentar na mesa do bar e dizer dé-me esse copo. Cada variedade da lingua é apropriada em seu contexto proprio, e os falantes sabem isso muito bem, tanto é que empregam com toda a seguranca a variedade adequada & situagdo do momento: ninguém fala como escreve, € ninguém escreve como fala. Isso, jd que é um fato, merece ser des- crito e eventualmente ensinado. Mas note- -se a diferenga: nio se trata de dizer que me dé ele ai é “errado”, mas que & uma forma coloquial, usada na fala. Diga-se, de passagem, que as formas faladas sio usadas em uma variedade muito maior de situagées, em ocasides muito mais nu- merosas, por um nimero muito maior de falantes do que as formas escritas. Assim, elas so as representantes mais genuinas da lingua do Brasil. [...] Diz-se, as vezes, que os linguistas sio permissivistas para quem “tudo vale, desde que haja comunicagao.” Nao é ver- dade. Por exemplo, praticamente ninguém questiona a conveniéncia de se ensinar 0 uso do portugués padrdo escrito, desde que limitado aos contextos em que ele & socialmente aceito. O portugués padrio é, queiramos ou nao, a nossa lingua erudita, @, no que pese seu cardter exclusivamente escrito, esté af para ficar. O que se defende coe Produgio e interpretagéo de texto 48 € 0 respeito aos fatos: a lingua falada tam- bém existe constitui um objeto de estudo interessante ¢ importante. Um linguista, portanto, no deve fa- zer julgamentos de valor a respeito de seu objeto de estudo — para ele, qualquer va- iedade da lingua tem interesse, desde que realmente exista e seja usada (ou tena sido usada) por uma comunidade, Uma pessoa que niio consegue se libertar da sensagdo de que certas formas da lingua so “feias”, “er er radas” ou de alguma maneira desagradiveis deveria procurar outra profissdo que ndo a de linguista ou professor de linguas. PERINI, Mério A. Princpios de lnguistico descritiva: introduso a0 pensamento gromatical. S80 Paul: Pardboia, 2006p. 21-23. Adaptado 02. uFpE Oentendimento da coeréncia de um texto de- corre, em muito, das relaces de sentido esta- belecidas ao longo de seu percurso. No texto, por exemplo, concorrem para a sua coeréncia )a reiteracio promovida pela repeti¢ao de palavras como: ‘lingua’, ‘fala, ‘escri- ta’, ‘uso’, entre outras. Ja associagaio seméntica entre expres- sdes do tipo ‘linguista’, ‘professor de lingua’ e ‘ensino’; ‘portugués padrao' e ‘lingua erudita’. (_ ) a oposicao entre os conceitos de ‘certo’ e ‘errado’, de ‘lingua falada’ e de ‘lingua escrita’ {_) as retomadas pronominais, que promo- ver a continuidade das referéncias fei tas, como em: “Cada variedade da lingua 6 apropriada em seu contexto préprio, e 0s falantes saber isso muito bem’. (Jas relacées de hiperonimia responsd- veis por nexos de equivaléncia seman ca entre duas ou mais expressdes, como em: “Diz-se, as vezes, que os linguistas so permissivistas para quem ‘tudo vale’, desde que haja comunicagao”. Resolugéo Na frase destacada entre aspas nao hd rela- Ges de hiperonimia, ou seja, palavras de sen- tido mais genérico em relagdo a outras. Resposta V-V-V-V-F Produgio e interpretagio de texto 1. Delimitag3o do tema Temas muito amplos exigem que se faga uma delimitagio, isto &, que se estabelecam os li- mites da abordagem, situando o tema em ‘campos mais concretos e definidos. Delimitar, portanto, é definir o(s) aspecto(s) particular(es) do tema a ser(em) focalizados) no texto. Essa delimitacdo esta diretamente li- gada ao objetivo que ¢ fixado e que comanda ‘onascimento e o desenvolvimento do texto. Dessas duas atividades - delimitagao e fixa- 0 do objetivo ~ derivam as posturas que o autor do texto vai ter em fungao do tema: uma postura imparcial, de quem analisa, constata, observa, relata; uma postura de contestaco, de dentincia, de protesto; ou ainda uma pos- tura de afirmagio, de demonstraco de uma tese sobre um determinado tema. ‘Algumas vantagens dessas atividades so: * ter um referencial, um ponto de con- vergéncia, ou seja, a partir da delimi- taco e do objetivo, fica mais facil a concentracéo e a unidade das ideias expostas: quem vai escrever passa a ter um foco principal, e o texto seré construido a fim de comprové-lo ou desenvolvé-lo; * evitar a criagdo de um texto superficial, dispersivo e incompleto, ou seja, deli- mitando 0 campo e definindo 0 obje- tivo, diminui sensivelmente o risco de perder-se em explanacées intiteis, pre- judicando o resultado final. E evidente que essas duas posturas podem ser tomadas apenas mentalmente, mas, para que se tornem quase automaticas e familiares, ¢ interessante que, no inicio, seja redigido tanto © texto ligado & delimitago como o objetivo pretendido com a redaco. Observe o exemplo a seguir. tema — Liberdade pessoal e integraao no gru- po. Delimitagao - A liberdade individual como condigao indispensével para uma integracdo consciente no grupo. 9 Portugués el Pane cara aw objetivo - Afirmar a liberdade individual como condigo indispensavel para que o homem se integre solidariamente no grupo, sem anula- so do préprio eu. Percebe-se, no exemplo dado, que: + amelhor forma para redigir a delimita- 0 € construir uma frase nominal cur- ta, porém clara o bastante para que o pensamento se organize em torno des- se referencial; * 0 objetivo deve ser expresso em perio- do curto, com uso preferencial da for- ma do infinitivo verbal. Esses dois procedimentos determinargo, tam- bém, a forma como a linguagem sera utilizada no texto, pois cada tipo de postura e cada ob- jetivo proposto exigir3o uma forma linguistica diferente para que seja cumprida na integra 2 fungo do texto: tornar-se claro e convincente para o leitor. Com os dois elementos basicos jé claramen- te identificados - delimitagao e finalidade do texto — fica muito mais facil fazer a selecdo de ideias, sem perder de vista o fato de que o eri- tério fundamental a ser utilizado deve levar em conta a coeréncia com a delimitago e com 0 objetivo, sem deixar de levar em con- ta 05 limites pessoais, isto é, conhecimento, tempo disponivel e extensao estabelecida para 6 texto (estes dois tiltimos jd bem conhecidos pelos vestibulandos). 2. tipos de temas A. Temas sociais Ha alguns anos, uma respeitada ins- tituigdo de ensino fez uma pesquisa entre os alunos que iam prestar o exame classi- ficatério para a universidade, Seguem os resultados, Questdes sociais, como o desempre- go, a pobreza e a violéncia se constituem no maior motivo de preocupagao e de in- teresse dos participantes. Responderam interessarem-se muito por esses temas mais de 70% dos alunos. Outros temas preferidos pela maioria Portugués pular brasileira e o meio ambiente, respec- tivamente com 52% e 51% das citagdes. ‘Os temas que despertam menos inte- resse sio politica intemacional (cerca de 15%), moda (20%), economia (cerca de 25%), atividades culturais (aproximada- mente 30%) e politica nacional (30%). Apesar do alto interesse por temas sociais, a maioria absoluta disse nao parti- cipar de atividades promovidas por sindi- catos, partidos politicos, movimentos so- ciais e grémios estudantis. Apenas cerca de 8% afirmaram que se envolvem, as ve- zes, com partidos ou movimentos sociais e somente em tomo de 3% participam de sindicatos e associagdes. Clubes e igrejas sio também pouco frequentados. Em tor- no de 35% dos pesquisados vao igreja com frequéncia e cerca de 25%, ao clube. Disponivel em: chttp://enadegabarito.inep ‘gov.br/web/guest/todas>. Adaptado. Api ra vista, parece haver uma contradi- Bo: 0 interesse por temas sociais e a absoluta aus€ncia de participacao social. E por que se- ria uma contradi¢ao? Para descobrir com mais profundidade, é importante saber o que séo questies sociais, 0 que séo os temas socials Definindo-os com clareza, fica muito mais facil saber os cuidados que se devem ter a0 abordé-los, especialmente numa situagao de vestibular. 1. Grupos de textos Ha uma série de textos a seguir, intitulados grupos, sendo cada um deles ligado a um determinado assunto. Séo not criticos, opinides, enfim, textos mentando direta ou indiretamente 0 mesmo assunto. Antes de se definir 0 que seriam os temas sociais, é muito importante que os textos falem por si. Ao final da leitura, tudo ficaré muito mais facil de ser determinado, definido e delimitado, Grupo | - Medicina Texto 1 - Governo financia cursos para formar médicos familiares Texto 2 - Um projeto para resgatar 0 médico de familia coe 50 Produgio e interpretagéo de texto texto 1 Governo financia cursos para formar médicos familiares Os cursos de Medicina terdo ajuda financeira do governo para mudar seus curriculos e formar médicos voltados para 6 trabalho preventivo e a sauide da fami lia, O dinheiro poderd ser utilizado na contratagdo de consultores, realizagio de oficinas, requalificagdo de professores & compra de material de ensino, informou o ministro da Sade, Para se ter uma ideia, 75% da populagdo brasileira & atendida pelo SUS. O governo frisa que a medida nao & uma imposigdo, apenas uma ajuda para as instituigdes que queiram adequar 0 curriculo 4 nova realidade do mercado de trabalho. O ministro sugere a adogao da iniciativa aos cursos que valorizem a humanizagio do atendimento, uma das principais queixas no SUS, e tenham uma grande preocupagdo com a ética profissional. Sao frequentes as criticas aos cur- riculos dos cursos de Medicina, em re- lado as especializagdes precoces. Os alunos formados absorvem apenas uma parte do conhecimento que deveriam ter ao final da graduagao. E, pelo novo mo- delo de saiide publica, 0 governo ne sita de mais clinicos gerais. Disponivel em: . Adaptado. texto 2 Um projeto para resgatar 0 médico de fami Governo libera financiamento para cursos de Medicina adequarem os curriculos Sandra Sato BRASILIA — Os cursos de Medici- na terdo ajuda financeira do goveno para mudar seus curriculos e formar médicos voltados para o trabalho preventive ¢ a saide da familia Produgio e interpretagio de texto © dinheiro poderd ser utilizado na contratago de consultores, realizagio de oficinas, requalificagdo de professores compra de material de ensino, informou 0 ministro da Satide, para quem os cursos de Medicina ndo acompanham a evolugo no ema Unico de Satide (SUS) ocorrida nos iiltimos dez anos, O ministro ressalta que hoje 75% da populagdo brasileira é atendida pelo SUS. Em 1995, existiam apenas 328 equi- pes de satide da familia, formadas por um médico, uma enfermeira, um auxiliar de enfermagem e seis agentes. Passados sete anos, existem 14,200 equipes. “Nao é uma imposigao, mas ajudare- ‘mos 0s cursos que queiram adequar 0 cul riculo a nova realidade do mercado de tra- balho”, explicou o ministro, comentando que a populagio esta envelhecendo. Ele sugere aos cursos que valorizem a humani- zagao do atendimento, uma das principai queixas no SUS, ¢ tenham uma grande preocupagdo com a ética profissional Anova politica de sade requer pro- jionais com uma visdo mais abrangente. O secretario de Politicas de Saude do ministro da Satie, afirma que os alunos formados absorvem apenas uma parte do conhecimento que deveriam ter ao final da raduagio. E, pelo novo modelo de sade publica, 0 governo necesita de mais cli- nicos gerais Disponivel em: . Adaptado. fis Grupo Il - turismo sexual Texto 1 - Turista sexual no entraré no Brasil Texto 2 - Governo quer reducéo do turismo sexual Texto 3 - Maior parte das jovens vitimas de abuso acaba na prostituigo texto1 Turista sexual ndo entraré no Brasil © governo vai negar o visto de en- trada no Brasil quando suspeitar que a pessoa procura turismo sexual. Essa pr: tica € uma das maiores fomentadoras da SI Portugués prostituigo infantil em todo o mundo. O turismo sexual mistura-se com 0 trifico de menores ¢ 0 trabalho escravo. O trifico de pessoas constitui hoje a terceira maior economia ilegal do mundo, movimentan- do USS 9 bilhdes por ano, Impedir a entrada no Brasil dos turis- tas sexuais é uma das medidas do pacote de agdes do Ministério da Justiga e Dir tos Humanos, que integram o Programa Nacional de Prevengo ¢ Combate ao Tra- fico de Seres Humanos. A ideia é comba- ter o problema primeiro admitindo a sua existéncia e, depois, montando um banco de informagées. Paralelamente, 0 govemo vai lutar pela tipificagdo do trafico de seres huma- nos no cédigo penal brasileiro ministro da Justiga classificou de “medieval” 0 trifico de mulheres e ho- mossexuais brasileiros para o exterior: “No século 21, ndo se podem admitir praticas do século 16”. Para ajudar no combate ao trafico de pessoas, sera cria- do um Disque Denincia com 0 objetivo de receber informagdes exclusivas sobre © assunto, Disponivel em: .Adaptado. texto 2 Governo quer redugio do turismo sexual Embaixadas brasileiras vio ser orienta- das a recusar vistos em casos suspeitos Biagio Talento SALVADOR ~ As embaixadas bra- sileiras no exterior vao ser orientadas a negar vistos para turistas que se dirigem a0 Brasil atraidos pelo turismo sexual. A medida faz parte do pacote de ages do Ministério da Justiga e Direitos Huma- nos que integram o Programa Nacional de Prevengiio e Combate ao Trifico de Seres Humanos, langado ontem na capital baia- na pelo ministro da Justiga Aloysio Nunes Ferreira e a secretaria nacional de Justiga, Elizabeth Sussekind, Portugués (Os dois se reuniram com representan- tes de varias Organizagdes Nao Governa- ‘mentais que combatem o trafico de meni- nas, o trabalho escravo e a discriminagao de homossexuais, além do secretirio esta- dual de Justiga, Heraldo Rocha, para pedir a adesio ao programa, “O trifico de pes- soas constitui hoje a terceira maior econo- mia ilegal do mundo”, revelou Elizabeth, informando que esse comércio movimen- ta US$ 9 bilhdes por ano. “0 inicio desse trabalho & exatamen- te admitir a existéncia desse problema e combaté-lo com a ajuda de entidades e ér- gos envolvidos, montando um banco de informagGes e lutando pela tipificagao do trdfico de seres humanos no cédigo penal brasileiro”, disse a secretéria, insistindo na coibigdo ao turismo sexual, que é um dos maiores fomentadores da prostituigo infantil em todo o mundo. Ministério da Justia e 0 Itamarati esto ampliando o mi- mero de acordos intemnacionais para com- bater todas as modalidades de crimes. O ministro Ferreira classificou de “medieval” o tréfico de mulheres & ho- mossexuais brasileiros para o exterior, Iembrando que no século 21 ndo se podem admitir praticas do século 16, “Hoje o tra- fico que no passado era feito nos navios negreiros & realizado nos Boeings 737”, comparou. Para os préximos dias, serd anunciada a criagdo de um Disque Denin- cia para receber informagdes. exclusivas sobre 0 trifico de pessoas. Os recursos iniciais destinados ao programa chegam a USS 400 mil. Disponivel em: , Adaptado, texto 3 Maior parte das jovens vitimas de abuso acaba na prostituigio A gravidade da questo que envolve © abuso sexual entre criangas adoles- centes & evidenciada quando se conhe- cem os poucos dados sobre a incidéncia do problema, De acordo com a pesquisa Meninas de Salvador, cerca de 64,8% das adolescentes entre 12 € 17 anos explo- radas sexualmente usam a prostituigao ‘como uma alternativa de sobrevivéncia, A coe 52 Produgio e interpretagéo de texto pesquisa revela ainda que 66% das ado- lescentes entrevistadas tm entre 16 e 17 anos, sendo 43% delas negras. ‘As equipes do Cedeca constataram ainda que 89% das vitimas de abuso sexual atendidas na entidade so do sexo femini- no. A maior parte dos crimes € cometida por pessoas bem proximas & vitima, Em 43% dos casos, o abusador é vizinho ou conhecido da familia siléncio das vitimas ¢ familiares € a omissio da sociedade em relagdo & questio representam os maiores obsticu- los para 0 combate da exploragao sexual entre os menores, Resultados — Com a Campanha con- tra a Exploragdo Sexual Infantojuvenil, busca-se justamente mobilizar baianos e turistas sobre o cardter criminoso da prati- ca de sexo com criangas e adolescentes. Foi criado 0 Servigo Publico Esta~ dual de Deniincias — SOS Crianga e duas Varas Criminais Especializadas da Infan- cia ¢ da Juventude, que tém facilitado a apuragdo ¢ o julgamento dos crimes. Além disso, houve a intervengdo na construgao de politicas publicas, que visam ao com- bate a exploragdo sexual dos menores ¢ & garantia do cumprimento do Estatuto da Crianga e do Adolescente. Disponivel em: , Adaptado. Grupo Ill - Vi Texto 1 - Violéncia leva jovens a deixar o Brasil léncia e juventude Texto 2 — Brasil lidera ranking de mortes vio- lentas de jovens Texto 3 — Assassinato de jovens dobra em 20 anos texto 1 Violéncia leva jovens a deixar Brasil © Brasil perdeu o posto de pais com © melhor futebol do mundo para assumir um outro: aqui se matam mais jovens do que em paises em guerra civil declarada, como Irlanda e Israel, Levantamento feito em 19 paises, mostra que o Brasil é disparado o primei- ro no ranking em mortes violentas de jo- vens. Produgio e interpretagio de texto Resultado: De cada 20 jovens, um deixou o Brasil ou foi morto. Movimento que levou a uma redugio de 5,1% desse segmento populacional. A médio e longo prazo, as consequéncias sio desde o des- balanceamento nas relagdes sexuais — vio “sobrar” mulheres — a um desperdicio de formacao de pessoas com bom nivel de escolaridade. Os dados so alarmantes. O México, pais em segundo lugar no ranking, esta bem atrés do Brasil. O indice mexicano de 39,7 mortes para cada 100 mil habitan- tes masculinos, Mais de 1,34 milhdo de jovens entre 14 e 25 anos deixaram o pais nos tiltimos dez anos, 0 que corresponde a quase todo o contingente de emigrantes dos primeiros cinco anos da década, que, segundo o Ins- tituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE), foi de 1,67 mithdo de pessoas. Disponivel em: . Adaptado. texto2 Brasil lidera ranking de mortes vio- lentas de jovens Estatisticas nacionais superam as de paises em guerra civil, como Israel ¢ Irlanda Mauro Mug A Secretaria Municipal do Desenvol- vimento, Trabalho e Solidariedade divul- gou levantamento com dados de 19 paises no qual o Brasil é disparado o primeiro no ranking em mortes violentas de jovens. “A quantidade de jovens que morrem por homicidio no Brasil por ano & bem maior do que em pafses como Crodcia, Eslovénia, Irlanda do Norte e Israel, que enfrentam guerras civis”, destacou o se- eretétio do Trabalho, Mareio Pochmann. © México, pais em segundo lugar no ranking divulgado ontem, esté bem atras do Brasil. O indice mexicano é de 39,7 mortes para cada 100 mil habitantes masculinos, Em 1999, 116.778 jovens morreram no pais por causas nio naturais (suicidios, homicidios e acidentes de trnsito). Desse total, $1,4% foram vitimas de homicidios. 53 Portugués Dezenove anos antes, estatisticas registra ram 16,908 mortes — 25,6% por homici- dio. A secretaria constatou também que & medida que aumentaram as mortes provo- cadas por assassinatos entre jovens, houve uma redugo das mortes por suicidio e por acidentes de transito no pais. Forga de trabalho — “A cada dois jovens que morrem atualmente de forma violenta, um é vitima de homicidio”, disse © secretirio do Trabalho, “A maioria das vitimas pertence as camadas mais pobres da sociedade. Além de ter tantas vitimas da violéncia, o pais perde forga de trabalho.” O secretirio entende que é justamen- te entre os 15 ¢ 24 anos que se tomam as decisdes que vio dar dirego ao futuro de cada individuo. “Nesse momento tinico & crucial que a sociedade oferega as opor- tunidades necessérias para que 0 jovem possa olhar 0 horizonte e escolher os ca- minhos que deve seguir. Mas isso nao bas- ta se 0 govemo nao criar uma politica de ampliagdo de empregos para os jovens.” Disponivel em: .Adaptado. texto 3 Assassinato de jovens dobra em 20 anos Um em cada dois bras entre 15 e 24 anos é vitima de homi- cidio. Estado do Rio lidera ranking nacional © mimero de homicidios de jovens no Brasil supera o de paises que vivem em estado de guerra, como Israel, Crodcia, Eslovénia ¢ Irlanda do Norte. A revelagio esta na pesquisa Violéncia ¢ Emigragio Intemacional da Juventude, divulgada on- tem pelo secretario de Trabalho da prefei- tura de Sdo Paulo, Marcio Pochmann, estudo analisou 0 efeito da vio- léncia juvenil nas duas iiltimas décadas do século passado. Mostra que, em 1980, ocorreram 16.908 mortes por causas nio naturais. Dessas, 25,6% foram homicidios. Dezenove anos depois, os dados toraram- -se mais alarmantes. Houve 116.778 jo- vens mortos por causas externas © 51,4% Portugués deles foram assassinados. Isso significa que um em cada dois brasileiros mortos nesse limite de idade & vitima de homi- cidio. O estado do Rio ¢ 0 campedo da mortalidade juvenil: 108 em cada 100 mil jovens morreram de forma violenta. No inicio da década de 1980, a regidio ‘metropolitana do Rio ocupava o primeiro lugar no ranking da violéncia contra a ju- ventude. Quase vinte anos depois, perdeu 0 triste posto para a Grande Vitéria (ES). Na capital capixaba, 67% dos jovens mor- tos por causas no naturais foram assas- sinados. Em Brasilia, onde a qualidade de vida era a marca da cidade, as estatisticas fazem soar o alarme, Em 1980, 0 entomo da capital federal marcava 15 homicidios de jovens em 100 mil habitantes dessa fai- xa etiria. No final dos anos 1990, 0 coefi- ciente multiplicou-se por trés. ‘A Grande Sao Paulo, poténcia eco- némica, era, em 1999, a quarta regio mais perigosa do territério nacional para cidaddos que estavam ingressando na vida adulta e no mercado de trabalho, No mes- mo ano, entre os principais municfpios brasileiros, Natal revelou-se uma ilha de az, com o menor coeficiente de mortali- dade juvenil ‘A pesquisa revela que a mortalidade juvenil crescente, especialmente aquela provocada pela violéncia, contribui para a emigracdo internacional, Entre 1991 e 2000, foram para o exterior 149,6 mil jo- vens entre 15 ¢ 24 anos, 0 equivalente a 4,7% da populaco dessa faixa etéria no inicio da década passada, “A combinagio da violéncia com a falta de perspectivas faz com que 0 nosso potencial produtivo deixe o pais, desper- digando 0 que temos de melhor”, disse Pochmann, “O impacto & muito negati- vo, Perdemos os mais preparados para 0 exterior e temos ainda um desequilibrio na relago homem-mulher, uma vez que a grande maioria dos jovens mortos & do sexo masculino”, Disponivel em: , Adaatado. coe 54 Produgio e interpretagéo de texto Grupo IV - Sequestro Texto 1 -Seis em cada 10 sequestrados sofrem de estresse pés-traumatico Texto 2 ~ Estresse pés-traumético atinge 60% das vitimas de violéncia Texto 3 - Trauma no é a tinica causa texto 1 Seis em cada 10 sequestrados sofrem de estresse pés-traumatico Seis em cada 10 pessoas vitimas de crimes e situagdes de violéncia desen- volvem uma doenga chamada estresse pés-traumdtico, Sem tratamento, 50% continuam a softer os efeitos do estres- se. O sequestro & um dos traumas que acompanham a pessoa por anos a fio, E no hi tratamento para isso. Vitimas de crimes violentos, como assaltos e seques- tros, costumam apresentar um tipo de choque nervoso que inclui outras pato- logias como depressio, ansiedade, fobia e transtornos do panico, Voltar para casa ter uma vida normal & 0 maior desafio dos sequestrado: No estresse pés-traumatico, a pessoa relembra a situago em flashes ou durante © sono. Por isso, os pacientes costumam apresentar insOnia, ittitabilidade e dificul- dades de concentragao, além de se assus- tarem facilmente. O oposto também pode acontecer. Muitos pacientes bloqueiam a situago e afirmam nao se lembrar de nada, Também podem se fechar e se isolar das pessoas. 0 estresse pés-traumatico ndo & 0 ‘inico efeito que a violéncia esta gerando. Com © aumento dos casos de sequestro, a classe média esta mandando blindar 0 seu carro, O medo generalizado aumentou a procuta por seguranga. Pequenos ¢ mé- dios empresitios, profissionais liberais © até donas de casa, com 0 objetivo de pro- teger a familia, partiram para a blindagem de seus earros. Disponivel em: , Adaptado. Produgio e interpretagio de texto texto2 Estresse pés-traumitico atinge 60% das vitimas de violéncia De acordo com a academia ameris na de especialistas no assunto, aproxima damente 30% dos pacientes sofrem com a doenga por anos a fio sem tratamento. O sequestro esté entre os principais traumas. Voltar para casa e ter uma vida nor- mal, Depois de 53 dias de cativeiro, esse pode ser © infcio de uma nova batalha para publicitirio Washington Olivetto, de 30 anos. Segundo especialistas, viti- mas de crimes violentos, como assaltos e sequestros, costumam apresentar um tipo de choque nervoso que inclui outras pato- logias como depressao, ansiedade, fobia transtomos do panico De acordo com a Academia Ame- ricana de Especialistas em Estresse Pés- Traumético, entidade voltada para a pes- quisa desse que se tomou um dos males do mundo modemo, seis em cada 10 pessoas vitimas de crimes ¢ situagdes de violencia desenvolvem a patologia. Sem tratamen- to, 50% continuam a soffer os efeitos do estresse, © nimero é até 30% maior do que © relacionado as pessoas que passam por outras situagdes que podem acarretar a doenga, como sobreviver a um desas tre ou perder o filho em um acidente de carro, Os primeiros sinais do estresse pé: traumitico costumam aparecer de trés a seis meses aps a situagdo ter ocorrido. ‘Mas isso nao significa que a pessoa nao possa desenvolver a doenga no futuro, No estresse pés-traumatico, a pessoa relembra a situagdo em flashes ou durante © sono. Por isso, os pacientes costumam apresentar ins6nia, irritabilidade e dificul- dades de concentragao. Também é comum que essas pessoas se assustem com facili- dade e tenham sobressaltos. Mas 0 contré- rio também pode indicar a doenca. Muitos pacientes bloqueiam a situagao e afirmam no se lembrar de nada, Também podem se fechar e se isolar das pessoas. Segundo os médicos, o tratamento para esse tipo de estresse inclui terapia 55 Portugués € até medicamentos, principalmente uma nova classe de antidepressivos, como os inibidores seletivos de recaptagio de sero- tonina, Falar sobre o assunto e contar com © apoio da familia também é fundamental para o sucesso do tratamento, Disponivel em: . Adaptado, texto 3 ‘Trauma nio é a tinica causa Ser vitima de um sequestro é, sem divida, uma situagdo traumitica, que pode deixar marcas para o resto da vida. Mas, segundo os médicos, 0 trauma nao € 0 tinico fator que leva ao estresse pos -traumitico. De acordo com o psiquiatra Tito Paes de Barros Neto, do Hospital das Clinicas, a predisposigao genética para a doenga ¢ a estrutura emocional da vitima também so pontos fundamentais que in- fluenciam no aparecimento do problema. psiquiatra lembra o caso do publi- citario Luis Sales, que ficou em poder dos sequestradores por 65 dias. “Eu acompa- hei a histéria ¢ lembro que ele, enquan- to estava no cativeiro, pediu éculos para leitura, biblia, livros e ainda fazia exer- cicios fisicos. © medo da morte paralisa a vitima. © comportamento de Sales foi admiravel.” De acordo com ele, esse relato mos- tra que a reagio as situagdes de violéncia geram diferentes tipos de comportamento, podendo a pessoa se manter fria e sob con- trole ou entrar em desespero e panico. “Este tipo de reago depende da historia de vida e da experiéncia de cada um”, explica. As vitimas diretas e indiretas (fami- liares, amigos e testemunhas) da violencia apresentam risco de desenvolver algum transtorno emocional em torno de 60%, por isso, ¢ fundamental que a pessoa pro- cure ajuda médica assim que notar os se- guintes sinais: reviver o trauma por meio de pensamentos e sonhos, evitar qualquer coisa que lembre a situagao e estado afeti- vo alterado, O diagnéstico precoce é fun- damental para evitar problemas mentais futuros. Disponivel em: . Adaptado, Portugués Il, Principais cuidados na abordagem de temas sociais 1. Informac3o sobre o assunto é imprescindi- vel para um bom texto. 2. Reflexio e anilise dos problemas em geral sto medidas prudentes para exercitar 0 senso critico 3. Revelar um senso critico consciente, sem 0 arrebatamento dos fanaticos e sem a resigna- do dos martires. 4. Nao radicalizar nenhum ponto de vista: res- ponsabilidades séo partilhadas e no exclusi- vas de apenas um segmento social ou funcio- nal. 5. Vocabulétio voltado para a critica sem gros- seria e sem exagero, elementos tipicos de es- tados emocionais alterados. 6. Propostas de alteragao e de mudangas vol- tadas para a realidade, sem solugées simplis- tas, infantis ou utdpicas. 7. Nao generalizar os conceitos: nada é sem- pre igual para todos. A generalizagdo é fonte de preconceitos e a presenca deles é sintoma de pouco senso critico. 8. Utilizar a0 maximo os dados atuais e os da- dos do passado para uma comparacio ¢ con- fronto: a tradi¢ao e a modernidade tornam o texto bastante forte, se bem utilizados esses pardmetros. 9. Nao particularizar situagBes sociais: se so sociais, atingem um grupo, e sempre bem maior do que um grupo de amigos. Sendo as- im, os exemplos e as referéncias devem ser, ao maximo, conhecidos via midia 10. Adotar uma postura critica sensata, sem cair no cliché de dono da verdade e salvador da sociedade: nenhum grupo social sobrevive e evolui por causa de um Unico individuo, mas pela aco do grupo, B. Temas filosdficos Em primeiro lugar, seria incoerente falar de temas filoséficos sem que se tivesse uma nocd do que seja filosofia e como surgiu. Esses dados informativos jd induzirao o lei- tor a entender a que se referem os “temas filoséficos”. coe 56 Produgio e interpretagéo de texto 1. O que é a filosofia? O que & filosofia? Esta é uma ques to notoriamente dificil. Uma das formas mais fiiceis de responder é dizer que a fi- losofia é aquilo que os filésofos fazem, indicando de seguida os textos de Pla- tao, Aristoteles, Descartes, Hume, Kant, Russell, Wittgenstein, Sartre e de outros fil6sofos famosos. Contudo, ¢ improvvel que esta resposta possa ser realmente itil se leitor esta a comegar agora o seu estu- do da filosofia, uma vez que, nesse caso, nfo teri provavelmente lido nada desses autores. Mas mesmo que ja tenha lido al- guma coisa, pode mesmo assim ser dificil dizer o que tém em comum, se & que exis- te realmente uma caracteristica relevan- te partilhada por todos. Outra forma de abordar a questo é indicar que a palavra «filosofiay deriva da palavra grega que ignifica «amor da sabedoria». Contudo, isto é muito vago e ainda nos ajuda menos do que dizer apenas que a filosofia é aqui- lo que os filésofos fazem. Precisamos por isso de alguns comentarios gerais sobre o que éa filosofia, ‘A filosofia 6 uma atividade: ¢ uma forma de pensar acerca de certas questes. Assua caracteristica mais marcante & 0 uso de argumentos légicos. A atividade dos filésofos é tipicamente, argumentativa: ou inventam argumentos, ou criticam os argumentos de outras pessoas ou fazem as duas coisas. Os filésofos também anali- sam ¢ clarificam conceitos. A palavra «fi- losofian é muitas vezes usada num sentido muito mais lato do que este, para referir ‘uma perspectiva geral da vida ou para re- ferir algumas formas de misticismo. Nao irei usar a palavra neste sentido lato: 0 meu objetivo é langar alguma luz. sobre algumas das reas centrais de discussio da tradig&io que comegou com os gregos an- tigos e que tem prosperado no século XX, sobretudo na Europa e na América, Que tipo de coisas discutem os filé- sofos desta tradigao? Muitas vezes, exa- minam crengas que quase toda a gente aceita acriticamente a maior parte do tem- po. Ocupam-se de questées relacionadas com © que podemos chamar vagamente o sentido da vida»: questées acerea da Produgio e interpretagio de texto religido, do bem e do mal, da politica, da natureza do mundo exterior, da mente, da cigncia, da arte e de muitos outros assun- tos. Por exemplo, muitas pessoas vive as suas vidas sem questionarem as suas cren- as fundamentais, tais como a crenga de que no se deve matar. Mas por que razio no se deve matar? Que justificagao existe para dizer que no se deve matar? Nao se deve matar em nenhuma circunstincia? E, afinal, que quer dizer a palavra «dever»? Estas so questdes filosdficas. Ao exami- narmos as nossas crengas, muitas delas revelam fundamentos firmes; mas algu- mas nao. O estudo da filosofia nao sé nos ajuda a pensar claramente sobre os nossos preconceitos, como ajuda a clarificar de forma precisa aquilo em que acreditamos. ‘Ao longo desse proceso desenvolve-se uma capacidade para argumentar de forma coerente sobre um vasto leque de temas — uma capacidade muito util que pode ser aplicada em muitas reas. Desde o tempo de Sécrates que surgi- ram muitos filésofos importantes. Jé referi alguns no primeiro pardgrafo, Um livro de introdugdo a filosofia poderia abordar 0 tema historicamente, analisando as con- tribuigdes desses grandes filésofos por ordem cronolégica. Mas nao é isso que fa- rei neste livro. Ao invés, abordarei o tema por tépicos: uma abordagem centrada em torno de questies filoséficas particulares endo na historia, A historia da filosofia 6, em si mesma, um assunto fascinante e importante; muitos dos textos filoséficos classicos sio também grandes obras de li- teratura: os didlogos socriticos de Plato, as Meditagdes de Descartes, a Investiga- do sobre o Entendimento Humano de Da- vid Hume, ¢ Assim Falava Zaratustra, de Nietzsche, para citar s6 alguns exemplos, sio todas magnificos exemplos de boa prosa, sejam quais forem os padrées que usemos. Apesar de o estudo da histéria da filosofia ser muito importante, o meu ob- jetivo neste livro é oferecer ao leitor ins- ‘trumentos para pensar por si proprio sobre temas filoséficos, em vez de ser apenas capaz de explicar 0 que algumas grandes figuras do passado pensaram acerca desses temas, Esses temas no interessam apenas 57 Portugués aos filésofos: emergem naturalmente das circunstincias humanas; muitas pessoas que nunca abriram um livro de filosofia pensam espontaneamente nesses temas. Qualquer estudo sério da filosofia terd de envolver uma mistura de estudos historicos e tematicos, uma vez que se no conhecermos os argumentos ¢ os erros dos filsofos anteriores no podemos ter a esperanga de contribuir substancialmen- te para 0 avango da filosofia. Sem algum conhecimento da historia, os filésofos nunca progrediriam: continuariam a fazer ‘os mesmos erros, sem saber que jé tinham sido feitos. E muitos filésofos desenvol- vem as suas proprias teorias ao verem 0 que esti errado no trabalho dos filésofos anteriores. Contudo, num pequeno livro como este, & impossivel fazer justiga as complexidades da obra de filsofos in viduais. As leituras complementares, su- geridas no fim de cada capitulo, ajudam a colocar num contexto histérico mais vasto 6s assuntos aqui discutidos Defende-se por vezes que no vale a pena estudar filosofia uma vez que tudo 0 que os filésofos fazem € discutir sofisti camente o significado das palavras; nunca parecem atingir quaisquer conclusGes de qualquer importincia e a sua contribui do para a sociedade é virtualmente nula, Continuam a discutir acerca dos mesmos problemas que cativaram a atengdo dos gregos. Parece que a filosofia ndo muda nada; a filosofia deixa tudo tal e qual. Qual é afinal a importancia de es- tudar filosofia? Comecar a questionar as bases fundamentais da nossa vida pode até ser perigoso: podemos acabar por nos sen- tir incapazes de fazer que quer que seja, paralisados por fazer demasiadas pergun- tas. Na verdade, a caricatura do filésofo & geralmente a de alguém que é brilhante a lidar com pensamentos altamente abstrac- tos no conforto de um sofa, numa sala de Oxford ou Cambridge, mas ineapaz, de Ii: dar com as coisas praticas da vida: alguém que consegue explicar as mais complica- das passagens da filosofia de Hegel, mas que nao consegue cozer um ovo. Uma razdo importante para estudar filosofia ¢ 0 fato de esta lidar com ques- Portugués ‘Ges fundamentais acerca do sentido da nossa existéncia. A maior parte das pes- soas, num ou noutro momento da sua vida, ja se interrogou a respeito de ques- tdes filoséficas. Por que razdo estamos aqui? H4 alguma demonstracdo da exis- téncia de Deus? As nossas vidas tém al- gum propésito? O que faz com que al- ‘gumas ages sejam moralmente boas ou mas? Poderemos alguma ver ter justifica- ‘do para violar a lei? Poder a nossa vida ser apenas um sonho? E a mente diferente cdo corpo, ou seremos apenas seres fisicos? Como progride a ciéncia? O que é a arte? E assim por diante. WARBURTON, Nigel. Elementos bésicos de flosofia Trad. Desidério Murcho. Gradiva, 1998. Fragmento, Il, Origem da filosofia Na histéria do pensamento ocidental, a filoso- fia nasce na Grécia por volta do século VI (ou Vil) a.C. Por meio de longo processo histérico, surge promovendo a passagem do saber miti- ¢o a0 pensamento racional, sem, entretanto, romper bruscamente com todos os conheci- mentos do passado. Durante muito tempo, os primeiros filésofos gregos compartilhavam de diversas crencas miticas, enquanto desenvol- viam o conhecimento racional que caracteriza- ria a filosofia Se considerarmos filosofia a atividade racional voltada a discussdo e & explicago intelectua- lizada das coisas que nos circundam, tem-se © século VI como a data mais provavel de sua origem. Nessa época temos a instituicdo da moeda, do calendério e da escrita alfabética e a florescente navegacao, que favoreceu o in- tenso contato com outras culturas. Esses acon- tecimentos propiciaram o processo de desdo- bramento do pensamento poético-mitico em filoséfico. De acordo com a tradicao histérica, a fase inaugural da filosofia grega ¢ conhecida como periodo pré-socrtico. Esse periodo abrange 0 conjunto das reflexdes filoséficas desenvolvi- das desde Tales de Mileto (623-546 a.C.) até Sécrates (468-399 a.C.). Ja datamos 0 inicio da filosofia, mas o que é filosofia? A filosofia é um modo de pensar, é uma pos- tura diante do mundo. A filosofia no é um coe 58 Produgio e interpretagéo de texto conjunto de conhecimentos prontos, um sis- tema acabado, fechado em si mesmo. Ela 6, antes de tudo, uma pratica de vida que pro- cura pensar os acontecimentos além de sua pura aparéncia. Assim, ela pode se voltar para qualquer objeto. Pode pensar a ciéncia, seus valores, seus métodos, seus mitos; pode pen- sar a religido; pode pensar a arte; pode pensar © préprio homem em sua vida cotidiana. Até mesmo uma histéria em quadrinhos ou uma cangao popular podem ser objeto da reflexao filoséfica. A filosofia parte do que existe, critica, coloca em diivida, faz perguntas importunas, abre a porta das possibilidades, faz-nos entrever ou- tros mundos e outros modos de compreender avida. A filosofia incomoda porque questiona o modo de ser das pessoas, das culturas, do mundo. Questiona as praticas politica, cientifica, técni- a, ética, econémica, cultural e artistica. N3o hd area que ela no indague. E, nesse sentido, a filosofia é “perigosa”, “subversiva”, pois vira a ordem estabelecida de cabeca para baixo. Talvez a divulgagdo da imagem do filésofo como sendo uma pessoa “desligada” do mun- do seja exatamente a defesa da sociedade contra o “perigo” que ela representa. O trabalho do filésofo ¢ refletir sobre a reali- dade, qualquer que seja ela, redescobrindo seus significados mais profundos. Filésofos diferentes tém posturas diversas com relagdo a imagem institucional de sabedoria e compreensdo. Embora com motivacées dife- rentes, deram a sua importante contribuicéo para o alargamento das fronteiras. A filosofia quer encontrar o significado mais profundo dos fenémenos. Nao basta saber como funcionam, mas 0 que significam na or- dem geral do mundo humano. A filosofia emite juizos de valor ao julgar cada fato, cada aco em relacao ao todo. Assim, filosofar é uma pratica que parte da teoria e resulta em outras teorias. Desse modo, embora os sistemas filosdficos possam chegar a conclusées diversas, depen- dendo das premissas de partida e da situacao hist6rica dos préprios pensadores, 0 processo do filosofar sera sempre marcado pela refle- x80 rigorosa, radical e de conjunto. Produgio e interpretagio de texto De posse das informagées dadas, fica mais fé- cil agora entender o que seria um tema filosé- fico. Para fazer a ponte entre a imaginacio e a realidade, é bom ler o texto a seguir. Nele es- to inseridas pistas do que é, afinal, um “tema filoséfico”. Visivel queda na qualidade humana Por Benedit Ismael Camargo Dutra De ano para ano, com raras excegdes, as estatisticas apresentam apenas dados negatives. A criminalidade aumentou. O desemprego aumentou. O numero de adolescentes sem preparo educacional au- mentou, Também aumentou 0 nimero de doentes sem que surgisse cura para os que jd estavam com a sade abalada, Enfim, a qualidade de vida declina continuamente sem que haja um sério esforgo na busca das causas. Culpados. Buscam-se culpados de- sesperadamente. Culpa & da Asia e da Russia. Culpa é dos juros escorchantes. Culpa é da globalizagio, Afinal, onde esta o culpado? Todos sfo culpados. Nao ha mais inocentes. Todos s4o culpados por permi- tirem a continua e progressiva perda de qualidade humana sem que tivessem es- bogado reagdes, a comecar dentro de cada lar, no seio de cada familia, © ser humano enveredou por um caminho de desprezo por todos os valo- res que fazem parte do ciclo evolutivo da vida, agarrando-se cada vez mais tGo-so- mente ao dinheiro e ao poder terreno que dele emana, que predomina sobre tudo 0 mais no ceme de seus pensamentos cada ver. mais restrtos. Entdo ndo ha o que estranhar no caos atual. O que pensam os individuos ¢ as massas? Pensamentos negativos de des- contentamento e falta de esperanga que ndo auxiliam a construir nada de bom, mas que interferem destrutivamente, rou- bando a paz. a serenidade Os seres humanos nao mais se enten- dem porque a confianga miitua desaparece quando todos querem levar vantagem mé- xima em tudo o que fazem. Comega dentro de casa entre o marido e a mulher, entre os pais e 0s filhos. Dai se estende para a rua, 59 Portugués para o trabalho, para as profissGes, tanto na esfera privada como na estatal. No afi de sé levar vantagem, todos se vio esquecendo da qualidade que ver- dadeiros seres humanos devem almejar. Na falta de algo melhor, a indiistria do entrete- nimento se abastece dessa ca6tica matéria- -prima como base para produzir mais de- sencantamento e apatia para com a vida. Num pais como o Brasil, numa cida- de como Sao Paulo, muitas mulheres esto sentadas pelas ruas, sem tefo, sem nada, mas com os filhos mamando a peito des- nudo ali mesmo no chdo. O que se podera esperar dessa geragdo? O que essas mies tam a oferecer aos seus filhos como con- tribuigdo para a sua qualidade humana? Enquanto nio houver um esforgo geral de toda a nagdo para promover uma real melhoria da qualidade humana da po- pulacdo, jamais poderemos alcangar uma melhoria na qualidade de vida, e a vida na terra sera como vagar a esmo num labirin- to escuro, sem beleza e sem saida. E por ai que se devem procurar as culpas ¢ as solugdes. 'S6 com o surgimento de um ser hu- mano qualitativamente melhor & que po- der surgir melhora em tudo. De outra for- ma, 0 que nos aguarda é uma progressiva c acclerada deterioragdo em todos esses ja péssimos indices de estatistica econdmica e social Disponivel em: Comentérios sobre 0 texto O autor anuncia uma critica aos problemas so- ciais e, em seguida, particulariza a responsabi- lidade por esses problemas. Isso acontece no terceiro parégrafo. Quando ele diz que “todos so culpados por permitirem a continua e pro- gressiva perda de qualidade humana sem que tivessem esbogado reacdes a comecar dentro de cada lar, no seio de cada familia”, faz uma particularizagao no universo social e parte para © campo do individual, do ser humano tomado como um fim em si, ndo apenas como parte de um grupo. E 0 que significa a expressdo “qua- lidade humana’, Todo 0 quarto pardgrafo encerra criticas a0 ser humano como individuo, como elemento Portugués independente, com evidente questionamento sobre os valores que norteiam as acdes desse individuo em questao. A separacao entre individuos e o grupo fica explicita no inicio do quinto pardgrafo: O que pensam os individuos e as massas? Nesse mo- mento, jé se pode dizer que o que o ser huma- no € interfere diretamente no tipo de socieda- de que ele constréi, j4 que uma sociedade é a convivéncia de individuos, unidos em prol de um bem comum, sem perder as caracteristicas que tornam um individuo diferente do outro. No sexto pardgrafo, continuando o enfoque no individuo, o autor generaliza e aponta motivos de ordem psicolégica e moral que fazem com que as aces sejam 0 que séo e produzam a sociedade que produzem, ou seja, 0 caos. A desconfianga, a ganancia pela vantagem e a falta de respeito que nascem em cada familia so transportadas para a esfera do grupo. sétimo pardgrafo reforca 0 caos que se ins- taura jé que o individuo esqueceu-se de cres- cer, de evoluir, de respeitar valores fundados no respeito. oitavo pardgrafo particulariza uma situagao que é do ser humano em qualquer grupo so- cial caético, em um ponto geogréfico - Sdo Paulo — com exemplos apontando para a ma- nutengao desse caos social, provocado pelo caos individual. pentiltimo pardgrafo inicia a concluséo do pensamento do autor, em que o social é cha- mado a ajudar o individual, j4 que, se 0 ho- mem tornar-se melhor, o grupo em que ele atua serd, com certeza, melhor. A frase que abre o Ultimo pardgrafo indicia 0 fundamento do que seja um texto filoséfico — 6 com o surgimento de um ser humano qua- litativamente melhor é que poderé surgir me- Ihora em tudo. Desse homem melhor, surgiré a sociedade melhor. O que se viu, no final do texto, em relaco ao homem qualitativamente melhor, é o funda- mento de um tema filosdfico. Em temas filosé- ficos, expressam-se preocupacdes existenciais que, quando resolvidas, tornam o ser humano mais seguro e mais conhecedor de si, promo- vendo uma nova visdo de mundo e favorecen- do atitudes diferentes. Refletir sobre a vida, sobre os sentimentos, sobre si mesmo, for- 60 Producdo e interpretacio de texto mando uma escala de valores a ser observada, so atitudes filoséficas, cuja interferéncia no mundo social se dé individuo a individuo. Temas de cunho filos6fico so desenvolvidos, na maioria das vezes, com base em elemen- tos universais, como respeito, solidariedade, crescimento, cosmoviséo, que podem assumir roupagens diferentes em épocas diferentes, mas que constituem em preocupagées desde que o homem comegou a raciocinar. As gran- des questdes ainda no foram respondidas e, passo a passo, filosofar sobre elas faz parte do ser humano: Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Por que estamos aqui? C. Temas polémicos Leia atentamente o significado da palavra po- lémica, relacionando-a com a palavra contro- vérsia. polémica s.f. (1846-1853 cf. AHPort) 1 dis- cusso, disputa em torno de questéo que suscita muitas divergéncias; controvérsia 2 fig. debate de ideias © ETIM gr. polemiké (sc. tékhné) ‘(arte) da guerra, (ciéncia) do combate’, pelo fr. polemique (1578) adj. ‘guerrero’, (1584) ‘relativo a disputa por escrito’(1619) subst. ‘discuss, controvérsia por escrito’; ver polem(o)-; fhist. 1846-1853 polémicas, 1858 polémica © SIN/VAR ver sinonimia de debate © PAR polemica (fl. polemicar) controvérsia sf. (1553 AResE fo 28v) 1 discus- so, disputa, polémica referente a acdo, pro- posta ou questo sobre a qual muitos diver- gem 2 p.ext. contestacao; impugnacio © sem c. incontestavelmente © ETIM lat. controvér- sia, ae ‘embate, choque de opostos’; ver con- tra- e ver(t/s)-; fhist. 1553 cétrouersia, c1539 controversia © SIN/VAR ver sinonimia de de- bate e desinteligéncia © ANT acordo; ver tb. antonimia de desinteligéncia Da leitura dos significados, deve ter ficado uma palavra: discussdo. £ essa a tonica dos temas po- lémicos: 0 campo da discusséo. Sao temas que, Produgio e interpretagio de texto mal aparecem numa conversa, dao margem a controvérsias, como se fosse uma verdadeira guerra. Muitas vezes, para se evitar polémica, no se toca em determinado assunto. E muito comum o brasileiro dizer: eu ndo discuto fute- bol, religido nem politica. Sdo temas polémicos: chegam até mesmo a provocar danos irrepard- veis em relagBes humanas. Isso para nao citar 0 dano que causa em nagées e continentes. Por serem polémicos, por serem controversos, por admitirem intimeras facetas, esses temas podem ser muito perigosos em sua aborda- gem. Um candidato a universidade deve tomar alguns cuidados para que nao perca a oportu- nidade por um excesso, as vezes, de energia ou impeto. principai polémicos + Amaioria dos temas polémicos admite, com igual intensidade, abordagem po- sitiva ou negativa. Sendo assim, antes de assumir qualquer postura, 0 candi- dato deve ter bem clara a tese que vai defender. + Em hipétese alguma, deve haver radi- alismo: a visio unilateral prejudica a compreensao geral, levando a precon- ceitos e a discriminagées. * Toda postura diante de um tema po- lamico caracteriza-se, geralmente, por uma paixio e uma energia bastante evidentes: 0 controle com a linguagem, deixando que ela seja mensageira des- sa paixdo e energia, mas jamais de um fanatismo ou de uma postura violenta. Indignago no pode jamais confundir— -se com agressao e violéncia + Mesmo diante de um tema polémico, © candidato deve manter uma postura de equilibrio, tentando analisar a ques- to sob outros pontos de vista, para que nao caia na armadilha de parecer 0 dono da verdade, sobretudo para quem vai avaliar o texto. cuidados_na abordagem de temas * Bom senso e maturidade, evidentemen- te adequada a faixa etéria dos candida- tos, séo dois bons aliados numa aborda- gem satisfatéria de temas polémicos. * Informagio e cultura geral trazem da- dos importantes para que se observem 61 Portugués fatos e acontecimentos sob uma ética, muitas vezes, inovadora, deixando um trago de originalidade no texto. Leia a seguir textos que podem ser considera- dos polémicos. € uma boa forma de despertar © senso critico maduro que faz o ser humano analisar e discutir fatos sob diversos aspectos, preservando-se de inumeros erros e danos Para si mesmo e para seus semelhantes. texto 1 — Deve-se dar esmola? Em jantar com amigos ontem, 0 as- sunto surgiu: deve-se ou nao dar esmola? Aqui onde moramos o namero de familias sem-teto é cada vez maior e fica dificil nio lamentar tanta miséria, principalmen- te diante das criangas. Mas também sa- bemos que muitos adultos, que as vezes se fingem de pais, obrigam os meninos a vender, ficam com o dinheiro, gastam em bebida e quase nada dio a eles Em outros casos, 0 dinheiro dado pelas nossas consciéncias culpadas ¢ tal — meninos de rua j4 me confessaram ga- nhar mais que RS 30 por dia, 0 que da ‘um “salério” mensal maior que alguns professores ganham por ai — que fica di- ficil oferecer outra forma de vida a essas pessoas, que ndo toa ndo querem trocar a rua por abrigos e acabam gerando mais filhos para ter mais chances de ganhar esmola, Ha também os que fazem mala- barismos ou vendem balas, logo a esmola seria uma espécie de retribuigdo ao seu esforgo, ao fato de que — aparentemen- te — nao optaram pelo crime, ainda que os produtos sejam em geral piratas e 0 comércio de rua prejudique a loja ao lado que paga seus impostos ou até o camel6 que € cadastrado pela prefeitura, utra opinido & a de que se deve dar comida em vez de dinheito, ¢ por isso vemos tantas familias as portas dos su- permercados. Mesmo assim no estamos ajudando a perpetuar a situagao? Enquan- to isso, 0 poder piblico se exime de fazer sua parte. © que vocé acha? PIZA, Daniel. Deve-se dar esmola? Disponivel em: ‘. Acesso em: 18 set. 2011 Portugués texto 2— 0 que motivou o 11 de Setembro? “Os EUA humilharam o Oriente Médio. Deixaram atras de si muita amargura e raiva, caldo cultural para a vinganga ¢ o terrorismo” Alguém precisa ser desumano para no condenar os ataques de 11 de setem- bro contra as Torres Gémeas e 0 Pentigo- no por parte da al-Qaeda e cruel a0 nao ‘mostrar solidariedade para com as mais de trés mil vitimas do ato terrorista, Dito isto, precisamos ir mais fun- do na questio © nos perguntar: por que aconteceu este atentado minuciosamente premeditado? As coisas nao acontecem simplesmente porque alguns tresloucados se enchem de ddio e cometem tais crimes contra seus desafetos politicos. Deve ha- ver causas mais profundas que a persistir continuardo a alimentar o terrorismo. Se olharmos a histéria de mais de um século, nos damos conta de que 0 Oci- dente como um todo, e particularmente os EUA, humilharam os paises mugulmanos do Oriente Médio. Controlaram os gover- nos, tomaram-lhe o petréleo e montaram imensas bases militares. Deixaram atrés de si muita amargura e raiva, caldo cultu- ral para a vinganga e o terrorismo, O tertivel do terrorismo é que ele ocupa ‘asmentes, Nas guerras e guerilhas pr. c ocupar 0 espago fisico para efetivamente triunfar. No terror nao. Basta ocuparas men- tes, distorcer o imaginério e introjetar medo. (Os norte-americanos ocuparam fisicamente © Afeganistio dos talibas e o Iraque. Mas os talibas ocuparam psicologicamente as ‘mentes dos norte-americanos. Infelizmente, se realizou a profecia de Bin Laden, feita a 8 de outubro de 2002: “Os EUA nunca mais terfio seguranca, nunca mais terio paz”. Hoje, o pais é refém do medo difuso, Para nfo deixar a impressio de que seja antinorte-americano, transcre- vo aqui parte da adverténcia do bispo de Melbourne Beach na Flérida, Robert Bowman, que antes fora piloto de ca- {gas militares ¢ realizara 101 misses de combate na guerra no Vietnd. Enderegou ‘uma carta aberta ao entdo presidente Bill Clinton, que ordenara 0 bombardeio de coe OA Produgio e interpretagéo de texto Nairobi e Dar es-Salam, onde as embaixa- das norte-americanas haviam sido ataca- das pelo terrorismo. Seu conteiido se apli- ca também a Bush, que levou a guerra ao ‘Afeganistao e ao Iraque e continuada por Obama, A carta ainda atual foi publicada no catélico National Catholic Reporter de 2 de outubro de 1998 sob 0 titulo: “Por que os EUA so odiados?”(Why the US is hated?) tem esse teor: “O Senhor disse que somos alvo de alaques porque defendemos a democracia, a liberdade e os direitos humanos, Um ab- surdo! Somos alvo de terroristas porque, em boa parte do mundo, nosso governo dete de a ditadura, a escravidao ¢ a exploragao humana. Somos alvos de terroristas porque nos odeiam. E nos odeiam porque nosso governo faz coisas odiosas. Em quantos paises agentes de nosso governo destitui ram lideres escolhidos pelo povo trocando— 0s por ditaduras militares fantoches, que quetiam vender seu povo para sociedades multinacionais norte-americanas! Fizemos isso no Ira, no Chile ¢ no Vietnd, na Nicarégua ¢ no resto das repit- blicas “das bananas” da América Latina Pais apés pais, nosso govemo se opés & de- mocracia, sufocou a liberdade e violou os direitos do ser humano, Essa &a causa pela qual nos odeiam em todo o mundo. Essa é a razao de sermos alvos dos terroristas Em vez, de enviar nossos filhos e fi- Ihas pelo mundo inteiro para matar érabes ¢, assim, termos o petrdleo que ha sob sua terra, deveriamos envid-los para recons- truir sua infraestrutura, beneficié-los com gua potavel ¢ alimentar as criangas em perigo de morer de fome, Essa é a verda- de, senhor presidente. Isso € 0 que o povo norte-americano deve compreender.” ‘A resposta acertada nao foi combater terror com terror & la Bush, mas com solida- riedade, Membros das vitimas das Torres G&- ‘meas foram ao A feganistdo para fundar asso- ciagdes de ajuda e permitir que 0 povo saisse da miséria, E por essa humanidade que se anulam as causas que levam ao terrorismo BOFF, Leonardo. O que motivou o 11 de setembro? Disponivel em: . Acesso em 18 set, 2011. Produgio e interpretagio de texto EXERCiCloS RESoIVIDoS leia o texto para responder a questo 1. As tecnologias contemporaneas tém © seu investimento maior no alto grau de informagao agregada ao produto. Sao tec~ nologias que privilegiam o conhecimento. Trata-se, mesmo, de um processo global: hoje, & necessirio que o operirio seja ca- paz de compreender 0 que faz ¢, assim, possa contribuir para 0 aperfeigoamento do processo e do produto, Esta énfase, por sinal, ndo existe ape- nas na produgio, Do outro lado da linha, © lado do consumidor ~ coletivamente caracterizado como “mercado”, mas que preferimos identificar como cidadio — também hé um novo tipo de exigéncia. A produgao, cada dia mais sofisticada, exige um individuo mais educado, mais prepa- rado para o consumo da inovagio, quer do ponto de vista de sua assimilagdo, quer do ponto de vista econdmico, Fecha-se, assim, 0 circulo que abriga em seu inte- rior todos esses conceitos de qualidade, produtividade, ciéncia, tecnologia e mo- demidade inico fio capaz de costurar esse circulo é 0 da educagio, Tanto 0 operirio qualifieado para a nova tarefa industrial quanto o especialista de nivel superior capaz de inovar e desenvolver tecnologia, quanto © cidadio/consumidor habilitado intelectual e economicamente ao consumo sb surgirao no Brasil (ou em qualquer ou- tro pais nas mesmas condigGes) apés um longo periodo de macigos ¢ permanentes investimentos em educagao. Vanessa Guimaries Pinto 63 Portugués 01. tbmec-Sp Segundo 0 texto, o perfil ideal do operério pressupde: a. a possibilidade de interven¢ao no pro- cesso produtivo. b. a destreza na producio. ¢.0 alto grau de conhecimento tecnolé- gico d. a consciéncia da importéncia do produ- to para 0 consumidor. e. a competitividade no desenvolvimento tecnoldgico. Resolucéo De acordo com a autora, a possibilidade de operdrio intervir no processo produtivo seria a situago ideal Resposta A Portugués leia o texto seguinte para responder a ques- tho 2. Vocé sabe como funciona o governo? As eleigdes seriam mais efetivas se todos conhecessem bem o funcionamento da administragdo. Mas nio é 130 facil co- nhecer os meandros dos governos. Primei- ro, porque a maioria no tem tempo para se informar e adquirir conhecimento sobre todas as partes que compdem a adminis- tragdo publica. Segundo, pela dificuldade Sbvia de explicar assunto io complexo para grupos menos escolarizados. E, ter- ceiro, pela profusdo de especialidades que se transforma em obstaculo para quem {quer ter uma visio mais sistémica do Es- tado. Sdo economistas, cientistas politi- cos ¢ administradores que muitas vezes apresentam diagnésticos dispares sobre os problemas e dialogam pouco entre si Ll O senso comum diz que maior pro- blema da politica brasileira esté na corrup- cdo. E uma visio equivocada. Muito mais do que a roubalheira, 0 que mais aflige nosso sistema politico é o amadorismo ‘© despreparo de boa parte dos eleitos. O resultado é a ineficiéneia, que também fa- ‘vorece os corruptos e espertalhdes, muitos deles localizados no “outro lado do bal- co”: nas empresas, nos sindicatos ¢ nas associagGes civis. ‘0 pouco conhecimento dos politicos acerca de administragao é tanto maior no Poder Legislativo e nos niveis subnacio- nais, particularmente nos lugares menos desenvolvidos. Uma forma de combater esse mal seria os partidos politicos darem cursos a todos os seus candidatos e filia- dos sobre politicas publicas.[...] ‘Tio importante quanto 0 aperfeigoa- mento dos politicos & a pedagogia eleitoral dos cidadios. Parto da premissa que a rea- lizagao de eleigdes regulares, livres e com- petitivas, como tem ocorrido no Brasil, jé é uma forma de instrugdo cidada. Dai con- luo que os eleitores hoje sio melhores do coe Produgio e interpretagéo de texto que no passado. Contudo, o voto serd sem- pre mais efetivo quanto mais informado for 6 eleitor. E 0 que mais falta ser conhecido pela sociedade é o funcionamento efetivo da administragao, inclusive para abandonar a postura meramente demandante em prol da pressio qualificada por mudangas nas politicas publicas. [..]. ABRUCIO, Fernando, Voc® sabe come funciona o governo? poco. Séo Paulo, 9 ago. 2010. p. 4. Adaptado. 02. uEG-Go O autor defende a seguinte ideia: a. A corrupgao, especialmente aquela que favorece politicos ligados a empre- sas, sindicados e associagdes civis, 6 0 maior problema da politica brasileira e deve ser combatida por meio da cons- cientizacao dos eleitores. ‘A participagao regular em eleigdes Ii vres e competitivas em nada contribui para a melhoria dos eleitores, pois 0 que importa é 0 conhecimento do fun- cionamento da administracao e o nivel de informacao dos cidadéos. ¢. 0 conhecimento sobre 0 funcionamen- to da administracao publica é necessé- rio tanto para os politicos que ocupam cargos eletivos quanto para o eleitor, j8 que isso melhoraria 0 voto e tornaria as eleigdes mais efetivas. d. A presenca de profissionais de dreas di- ferentes, como economistas, cientistas politicos, administradores, enriquece 0 debate politico e ajuda tanto o eleitor quanto 0 ocupante de cargo eletivo a ter uma visio mais sistémica do Esta- do. Resolucao Segundo o autor, politicos e eleitores deveriam conhecer 0 funcionamento da administraco publica, o que tornaria o process democrati- co mais eficaz e verdadeiro. Resposta c Produgio e interpretagio de texto Portugués Capit ulo 07 * OUTRAS MODALIDADES DE TEXTO aw 1. Carta argumentativa Varios vestibulares apresentam ao candidato a possibilidade de optar por uma carta, Em todos os casos mais recentes, a abordagem é dissertativa, portanto a carta deverd ser fun- damentada em evidéncias, juizos, exemplos, tal qual uma dissertagao, permitindo 0 uso da primeira pessoa. Nao importa 0 assunto proposto: qualquer que seja, 0 encaminhamento ser sempre em direcdo da defesa de ponto de vista a ser ex- posto de forma dissertativa, com a estrutura canénica de tese, argumentago e conclusao. * A carta precisa ter a indicacao do local onde foi produzida ~ o nome da cida- de — e a data, com o més escrito por extenso. B. Propostas comentadas * Exemplo1 Suponha que vocé nao tenha podido prestar exames vestibulares em de- zembro, ou que os prestou, mas nao foi aprovado(a); suponha ainda que, em fevereiro, lendo nos jornais a lista de aprovados, vocé tenha descoberto que um niimero muito grande de vagas da Unicamp no foi preenchido; suponha finalmente que, preocupado nao sé com 0 fato de perder um ano, mas, so- bretudo, com o desperdicio represen- tado pela manutengo de vagas ociosas em uma universidade publica, vocé te- nha decidido escrever uma carta ao rei- tor da Unicamp, sugerindo a realizag3o de novos vestibulares e argumentando a favor de tal proposta. Exemplo 2 Uma polémica reportagem sobre o can- tor Cazuza, publicada na revista Veja Se o tema dado apresentar como destinatario uma autoridade ou uma instituigo, 0 candi- dato deverd utilizar 0 pronome de tratamento adequado. Se for dirigida a um amigo, a lin- guagem pode caracterizar-se pela simplicidade devido ao grau de intimidade entre remetente e destinatario. Por ser sigilosa a redacdo num vestibular, 0 candidato ndo deve assinar a carta, usando qualquer outro artificio, como escrever ape- nas as iniciais do nome. . A. Observagées preliminares * Acarta sempre apresenta uma questo central: um pedido, uma comunica- 0, uma declaracdo etc. Para que essa questo seja apresentada, é necessdrio situar 0 interlocutor ~ aquele a quem a carta se dirige ~ na situac3o particular que motivou a existéncia da carta: * Situar o interlocutor na questdo é, em geral, um momento de narracdo, pois quem escreve vai expor a questo mo- tivadora da carta. * Feita a exposicao do problema, & ne- cessério argumentar, apresentar os motivos que fundamentam o pedido, a declaragio etc., que é 0 tépico béasico da carta, o porqué de ela existir. Eo mo- mento da dissertagao * Alinguagem deve ser adequada ao per- fil do interlocutor. 5 ("Cazuza: uma vitima da aids agoniza em praca publica”), provocou manifes- tages apaixonadas de muitos leitores. Centenas de cartas foram enviadas & redagio da revista, comentando a re- portagem. Duas dessas cartas, que manifestam pontos de vista radicalmente opostos, so transcritas a seguir. I. Considero hiperimportante a re- portagem sobre © Cazuza, Talvez ela contribua para que as pe: © resp as sintam: m 0 problema da aids. Torna- imprescindivel continuar a tratar as pessoas contaminadas como seres huma- nos. M.CM, S80 Paulo, Veja, ano 22, n2 18. coe Portugués I. Recebam minha solidariedade pelo “desagravo” que esquisitas figuras promoveram contra a revista Veja, no Rio de Janeiro*, por documentar verdades sobre o irracional, abusado e indecoroso Cazuza. De triste memoria, este aidético insultou familias, ofendeu seguidamente o piblico em seus shows ¢ até desrespeitou © simbolo maximo da nacionalidade — a nossa bandeira. Que os signatarios do de- sagravo — lido em noite de gala e noticiado pela TV Globo — vio todos para os diabos ¢, a0 ordindrio Cazuza, que o inferno o re- cceba, em breve e ardentemente ‘AJ, $30 Paul, Veja, ano 22, n. 18 * Referéncia a um manifesto de solidariedade a0 cantor, assinado por artistas e amigos. Esse manifesto protestava contra a revista, que teria dado um tom sensacionalista a matéria em sua chamada de capa, Escreva uma carta ao editor da revista Veja co- mentando uma das duas cartas acima e argu- mentando contra os pontos de vista de quem aescreveu. ~ Nao se esquesa de indicar a carta que vocé escolheu para comentar. = Ao assinar sua carta, use apenas as ini- ciais do seu nome. Comentarios O exemplo 1 apresenta uma proposta em que o interlocutor é 0 reitor da Unicamp, e a carta deve apresentar motivos que fundamentem a realizacdo de novos vestibulares, j4 que vocé no péde prestar ou nao foi aprovado no ulti- mo exame feito pela instituiggo. Nessa propos- ta, hd um argumento ja no enunciado: 0 nui- mero de vagas da Universidade nao teria sido preenchido no primeiro vestibular, decorrendo disso 0 desperdicio representado pela manu- tencdo de vagas ociosas em uma universidade publica. Ateng3o ao pronome de tratamento {no caso, Vossa Magnificéncia) e & comple- mentago de outros argumentos que, aliados a0 que jé estd no enunciado, fundamentem a defesa de seu ponto de vista JA no exemplo 2, a proposta apresenta textos a serem lidos e discutidos pelo candidato. 0 assunto 6 polémico ~ aids ~e os dois fragmen- coe Produgio e interpretagéo de texto tos apresentados tém enfoques diferentes © primeiro generaliza o problema e faz um apelo de solidariedade aos doentes, numa linguagem objetiva; 0 segundo particulariza © problema e ataca Cazuza e as pessoas que © defendem, sem apresentar elementos ob- Jetivos argumentativos, com varias palavras expressées carregadas de subjetividade, o que remete a julzos de valor indicadores de preconceito contra a aids e os portadores do virus. O que se pede é que o candidato escolha um dos textos e escreva uma carta ao editor da revista Veja, comentando a carta escolhida € argumentando contra os pontos de vista de seu autor. O pronome de tratamento, no caso, pode ser Vossa Senhoria, e a linguagem deve ser necessariamente formal para um texto cla- roe conciso. Nos dois casos dados, trata-se de expor um ponto de vista para um interlocutor especi co, persuadindo-o com argumentos suficien- temente fortes para que se realize a proposta na integra. Estruturar 0 texto sob a forma de carta finaliza 0 procedimento de elaboracao do texto. C. Principais pronomes de tratamento Vossa Alteza ~ principe, rei. Vossa Eminéncia ~ cardeal. Vossa Exceléncia - arcebispo, bispo, deputa- do (federal e estadual), embaixador, general, governador de Estado, juiz, ministro, prefeito, presidente da Republica, secretario de Estado, senador, vereador. Vossa Magnificéncia ~ reitor. Vossa Majestade — rainha, rei Vossa Reverendissima — sacerdotes em geral. Vossa Santidade - papa, Vossa Senhoria - chefe de seco, diretor de repartico publica, funcionario publico (abaixo de ministro), major, oficiais até coronel, tenen- te, tenente-coronel. Obs. - Nao se esqueca de que pronomes de tratamento exigem verbo na terceira pessoa. Produgio e interpretagio de texto D. Orientagées para elaboracio I. Informar a respeito de onde e de quan- do tal carta esta sendo escrita — cidade e data. . Chamamento do interlocutor (atengdo ao pronome de tratamento) Autoapresentacdo do remetente: ocan- didato deve apresentar-se e apresentar © motivo da correspondéncia - quem & © candidato e por que escreve para a pessoa. Essa autoapresentacio, com 0 motivo, é a introducdo e deve ser feita logo no primeiro pardgrafo. /. Apresentacao dos argumentos que fun- damentam o ponto de vista de quem escreve, com utilizagdo da coletanea de textos, se houver, e de elementos fornecidos pelo enunciado. € 0 desen- volvimento da carta e deve ter quantos pardgrafos forem necessérios para bom desenvolvimento da argumenta- Go. Finalizagio do texto, com as despedi- das, explicitando que a carta chegou a0 fim. Sempre ¢ interessante uma reafir- macao dos propésitos da carta nesse momento. £ a conclusao do seu texto. Como, geralmente, 0 interlocutor nao é conhecido de quem escreve, é preciso que haja um minimo de distanciamen- to e de formalidade, seja no contetido, seja na linguagem, com a obediéncia a0s principios da norma culta. VIL. Esquema * Informagao de onde e quando se escre- ve a carta, * Chamamento do interlocutor. VI obs. ~ Esses dois itens fazem parte da estru- tura canénica da carta. * Autoapresentacdo do remetente e apresentacao do assunto da carta, + Argumentago causas/exemplos. * Despedida e reafirmacao da finalidade da carta ‘obs, ~ Esses trés itens formam a estrutura ca- nénica da dissertacdo: introdugdo, desenvol- vimento e conclusao. 67 Portugués 2. Descrigao A descri¢do & a reprodugdo verbal de um ob- jeto, uma pessoa, um lugar mediante a indica- go de aspectos caracteristicos, de pormeno- res individualizados. Na descricdo, 0 emissor provoca na mente do receptor uma impressao sensivel, procura fazer com que o leitor “veja” nna sua mente um objeto material ou um pro- cesso espiritual. Nao se trata de enumerar uma série de elementos, mas de captar os tragos capazes de transmitir uma impressao auténtica. Descrever é mais que fotografar, ¢ pintar, € criar. Descrever é dar ilusdo da vida pela imagem sensivel do pormenor material. Por isso, impde-se 0 uso de vocabulério espe- cifico, exato. Ha mensagens descritivas que fornecem es- timulos para a visualizagéo de uma realidade fixa, parada - descrigdo estatica. Neste caso, predominam os chamados verbos de ligacdo: ser, estar, parecer, permanecer, ficar e alguns que possam funcionar como tal. Por outro lado, ha mensagens descritivas que excitam a visualizagio de uma realidade em movimen- to — descri¢do dindmica. Neste caso, predo- minam os nomes que denotam agées, movi- mentos, processos (por exemplo: queda veloz, vento, chuva, corrida, pulo...) e os verbos que denotam aco, movimento (por exemplo: pu- lar, ventar, correr, chover...) Leia, a seguir, exemplos de descricdo. A. Descricao estatica [...] na semiescuriddo do quarto, com a lampada elétrica apagada, a mortiga ¢ azulada luz da noite 1a de fora reflete pa- lidamente 0 branco-preto-branco-preto do teclado do piano, Uma miniscula e fragil estrela de reflexo disputa também, luz, a atengdio do siléncio, o senhor da noite, ¢ sai do metal da cama e outra, mais ousada em seu ténue brilho, sai do espelho oval, acima da pia. Ha mais um brilho, mais hu- milde ainda que os demais, sai do tinteiro de niquel sobre a mesa, onde, apesar da visio prejudicada, percebem-se folhas de papel em desordem, de mistura com cane- tas ¢ lapis pretos. © tampo da mesa nada reflete pelo verniz antigo ¢ opaco. A um canto de sua superficie, uma quase invi-

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