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A INDEPENDÊNCIA POLÍTICA DO BRASIL

1. Como os autores caracterizam o processo de Independência no âmbito das transf


ormações que varreram as Américas entre 1776 e 1822?
O movimento das independências está inserido no contexto da Queda do Antigo Regi
me e da formação do Estado Nacional. A desintegração do Antigo Regime provém da
crise do colonialismo mercantilista – fundamentado no domínio político para gara
ntir o comércio exclusivo e em uma mão-de-obra com trabalho compulsório. O desen
volvimento do industrialismo é incompatível com o comércio exclusivo, com a escr
avidão e com a dominação política, ao se desenvolver desemboca a crise de separa
ção do absolutismo.
O mesmo pensamento ilustrado, que inspira reformas na metrópole, estimula a rebe
ldia e insurreição na colônia. Reforma e revolução aparecem, portanto, como vert
entes do mesmo processo de reajustamento e ruptura na passagem para o capitalism
o moderno.
Alguns pontos passam a ser debatidos, como o trabalho livre, o fim dos monopólio
s existentes entre metrópole e colônia (essencial para a independência das Améri
cas) intitulado livre-cambismo, a instauração de governos representativos, a afi
rmação da opinião pública e o princípio de soberania dos povos acompanhado dos d
ireitos civis.
Três possibilidades se abrem no processo de independência:
* a emancipação sob forma republicana de governo e a abolição da escravidão – ca
so das colônias espanholas em sua maioria;
*a mesma forma republicana, mas mantendo-se a escravidão – caso estadunidense e
* a libertação da colônia seguida da manutenção da monarquia e da conservação da
escravidão – caso brasileiro. Assim, pode-se caracterizar a independência brasi
leira como um movimento de caráter ambíguo, que foi liberal ao romper com a domi
nação colonial e, ao mesmo tempo, extremamente conservador, mantendo a escravidã
o e a integridade da escala social, assim como o poder econômico e político das
elites.
2. Diferencie colonos de colonizadores e estes de colonizados. Identifique, quan
do possível, os interesses de cada parte no processo de Independência do Brasil
e das Américas.
Os colonizadores eram representantes da metrópole na colônia, enquanto os coloni
zados eram os indivíduos que habitavam o “Novo Mundo” antes da chegada dos europ
eus juntamente com os escravos africanos trazidos por aqueles. Além dessas duas
classes , encontramos também os chamados colonos na estrutura social do Antigo S
istema Colonial. Compostos tanto por grande parte da elite local (grande donos d
e engenhos), quanto por profissionais liberais, comerciantes entre outros, dizia
m-se estes representantes dos interesses da colônia; os “homens bons” eram consi
derados o povo brasileiro ignorando-se que erma apenas a camada social que repre
sentava a elite- aristocracia rural.
No processo de independência, esta última classe social, a dos colonos, assume u
m papel importante de caráter reacionário. Reagem ao ímpeto recolonizador das Co
rtes de Lisboa.
Com a vinda da família real portuguesa para o Brasil e a abertura dos portos a “
nações amigas”, a aristocracia rural assimila os seus interesses aos do Estado m
etropolitano agora instalado na colônia.
No entanto, a partir da Revolução Liberal de 1820 observa-se o ponto de atrito d
ireto entre colonizadores e colonos. O liberalismo das cortes implicava a reconq
uista da hegemonia perdida pela burguesia portuguesa junto aos mercados do Brasi
l, controlando o comércio internacional do Brasil mais de perto. Tentativas de r
evogação dos tratados de comércio com a Inglaterra (1810/1817), por parte das Co
rtes, procuravam combater os avanços do livre-cambismo dar continuidade ao proce
sso de colonização, assim a recolonização parecia inevitável. Atitudes como esta
s, feriam a autonomia de comercialização (escolha de parceiros) dos colonos. O s
enhoriato rural e escravista busca equilibrar a situação através de uma monarqui
a constitucional com apoio dos altos estamentos burocráticos e do Príncipe.
A radicalização das cortes ao retirar os deputados brasileiros do grupo de seus
membros foi o estopim do processo de ruptura de bom-relacionamento de colonos e
colonizadores a partir de 1807. A preservação da autonomia pressupunha, agora, s
eparação, já que o projeto de monarquia rural dos brasileiros nas cortes havia f
racassado.
3. Explique o que foram as pretensões de Dom João VI e Dom Pedro I de reunificaç
ão do Império Português por meio de mecanismos dinásticos;
Com a independência do Brasil, o sonho português de ter novamente sua mais impor
tante colônia não acabou. De modo representativo, Dom João VI ainda manteve o di
reito de ser chamado de Imperador do Brasil. De fato, Dom Pedro I era o imperado
r, assim como também era o herdeiro legítimo do trono português, de modo que, qu
ando seu pai morreu, ele tivera o direito aos dois tronos, o que poderia signifi
car uma reunificação do Império Português. O medo dessa eminente recolonização l
evou a elite brasileira a pressionar Dom Pedro a abdicar o trono português em fa
vor de sua filha, e a necessidade da intervenção em Portugal a fim de fazer vale
r esse direito, entre outros fatores, levou também Dom Pedro I a abdicar de seu
trono no Brasil em favor de seu filho.
4. Compare a Independência do Brasil à de outros países e argumente em torno da
idéia de que ela foi conservadora;
Tendo em vista as independências dos outros países americanos e as característic
as que assumiram, a brasileira foi de fato muito conservadora, no sentido de man
ter sua rígida dominação política por parte da elite e dar continuidade à estrut
ura social colonial, apesar da ideologia liberal estar atuante no momento de lib
ertação dos laços monopolizadores e controladores da metrópole – contra as restr
ições às opções de parceiros comerciais e a favor do livre-cambismo. Em relação
ao Governo, o Brasil foi o único país que manteve o seu modelo político monárqu
ico após a independência. Esse caráter conservador pode ser entendido se pensarm
os na questão de coesão da unidade territorial em contraponto à tendência de fra
gmentação das colônias espanholas. . Não seria interessante para o Brasil, na vi
são da elite que conduziu o processo de independência, que se liberasse para as
províncias a escolha de adotar ou não a escravidão, porque isso acarretaria na j
ustaposição de províncias escravistas e abolicionistas causando uma diferenciaçã
o entre elas e, com isso, perda de parte da unidade política A manutenção da uni
dade territorial pode ainda ser relacionada com a questão da manutenção da escra
vidão em pleno processo de ruptura com ordem colonial, através dos ideais de lib
erais. A libertação dos escravos foi sequer discutida, a fim de não passarem às
ruas, em forma de revolução, tais idéias, visto que a aristocracia escravocrata
estava à frente do processo de independência, ficando as coisas como estavam, em
relação à mão-de-obra, por mais de meio século.
Além disso, o processo de independência e ruptura com os moldes do Antigo Regime
trazia à tona alguns princípios liberais a serem debatidos e implantados na nov
a ordem política. Entre eles o trabalho livre, que retrata a diferenciação socia
l do Brasil em relação às outras colônias pela não abolição da escravatura e a n
ão-completa representação dos governos da população. A opinião pública, no Brasi
l, não incluía o interesse dos escravos, ao contrário de muitas colônias espanho
las que aboliram a escravidão, em especial o Haiti - cujo processo de independên
cia foi levado a cabo, sob forma de independência, pelos negros. Outro ponto não
abrangido completamente pela independência do Brasil foi o princípio da soberan
ia dos povos. Enquanto as províncias espanholas de pequena dimensão possuíam uma
identidade cultural, o Brasil sempre teve um povo heterogêneo culturalmente dev
ido a sua vastidão territorial.
O princípio que insere a independência brasileira no contexto da ruptura do Anti
go Regime e do processo de formação dos Estados Nacionais, juntamente com as col
ônias espanholas, é o livre-cambismo e sua necessidade de quebra de monopólios e
xistentes entre a metrópole a colônia – fim do pato colonial, essencial para a i
ndependência das colônias.
5. Contextualize a situação portuguesa na política internacional européia.
O conjunto da exploração colonial estimula o conjunto das economias cêntricas. N
o entanto, as vantagens de exploração de uma colônia não se localizam respectiva
mente na metrópole – caso dos países ibéricos. Estes foram pioneiros na coloniza
ção, mas ingressaram em uma fase de declínio a partis do século XVII, especialme
nte Portugal, que tinha estreitas relações com a INGLATERRA para quem remetia gr
ande parte do lucro com a colônia, por mecanismos de tratados e alianças, consol
idando uma dependência econômica e futuramente política–. Desse modo, os recurso
s arrecadados com as atividades produtoras, extrativistas do Brasil eram remetid
as à Inglaterra - “colonialismo informal”.
O declínio português no século VXII é inversamente proporcional á necessidade, p
or parte dos portugueses, da colônia brasileira. Visto que a concessão de vantag
ens comerciais com o Brasil era a grande moeda de troca de Portugal nas negociaç
ões de alianças com outros países.
Portugal procura, no final do século XVII, modernizar-se para superar o atraso e
m relação aos outros países europeus. No entanto, o esquema reformista é inviabi
lizado pela invasão das tropas napoleônicas.
Portugal, diante da tensão derivada do expansionismo de Napoleão e do conservado
rismo da Santa Aliança, procura inicialmente manter-se neutro. Uma aproximação c
om os franceses colocaria em risco a colônia, devido à supremacia naval inglesa.
Enquanto que uma aliança com a Inglaterra colocaria em risco a metrópole, devid
o à supremacia continental francesa.
A existência de Portugal passa a depender cada vez mais da existência das colôni
as a a partir da restauração de 1640. Visto que era com as vantagens de exploraç
ão colonial do que os portugueses lançavam mão para atuar no sistema internacion
al. Em 1807, não há como preservar a neutralidade e Portugal se alinha com a Ing
laterra, passando a viver sob ameaça francesa.
Na última metade do século XVIII, Portugal vivencia um declínio na sua arrecadaç
ão tributária da colônia. De 1795-1808, Portugal procura uma maior independizaça
õ econômica da Inglaterra com a introdução de novas culturas na colônia e com um
a maior fiscalização da economia colonial por parte dos portugueses. No entanto,
com as invasões napoleônicas o estado se vê obrigado a migrar para a colônia co
m todo o seu aparelho burocrático administrativo - contribuindo para o movimento
de independência da colônia brasileira pro trazer para cá as instituições organ
izadas, a imprensa, etc.
O reconhecimento desta ainda consolida a idéia da dependência portuguesa da Ingl
aterra, que mediou os tratados de reconhecimento por parte dos portugueses do Es
tado brasileiro. Portugal, depois da perda de suas vantagens econômicas com a re
lação colonial, assiste a um fortalecimento cada vez maior da posição da Inglate
rra no sistema internacional.
O processo de independência brasileira não aconteceu isolado do contexto mundial
temporal, e apesar de suas peculiaridades, deve ser entendido também tendo em v
ista a situação histórica mundial, em especial a inserção de Portugal na polític
a internacional européia. Em primeiro lugar, a crise do Antigo Regime deve ser c
ompreendida tanto em relação à ascensão industrial que acaba por tornar ultrapas
sado a pratica econômica do absolutismo, o mercantilismo, quanto às idéias liber
ais também aplicadas em sentido de necessidade de o Governo dever ser o represen
tante dos interesses do povo. A descolonização das Américas está intimamente lig
ada a essa crise em dois principais pontos: a contextualização dessas idéias com
a situação de dependência da metrópole, que seria então ilegítima; com a pressã
o internacional (principalmente inglesa) de maior liberalismo em relação ao comé
rcio, a fim de romper os monopólios.
No contexto europeu no inicio do século XIX, pressionada a tomar partido na disp
uta entre a grande potencia continental, a França de Napoleão, e a grande potenc
ia marítima, da qual era enormemente dependente, a Inglaterra, a corte portugues
a acaba por migrar para a colônia em fins de 1807. Precisou então montar lá o no
vo aparato Estatal, assim como abrir os portos ao comércio internacional (“às na
ções amigas”, em especial à Inglaterra). Com a derrota de Napoleão, a elevação d
a colônia a Reino Unido a Portugal (e Algarves), e com a Revolução do Porto, Dom
João VI foi pressionado a uma opção: Portugal ou Brasil. Ele foi a Portugal e a
conselhou seu filho, futuro príncipe regente, a proclamar a independência antes
que “algum aventureiro o faça”. Questões dinásticas poderiam, no futuro, forçar
a volta da antiga situação. É necessário ressaltar a importância que da colônia
à metrópole, sendo entendida como fundamental a manutenção da cada vez mais frac
a economia portuguesa - fato notado inclusive no medo inglês de Portugal não pag
ar sua dívida, e na sua transferência indireta ao Brasil -, tendo em vista tanto
as riquezas dela extraídas quanto a sua função de moeda de troca (cessão de van
tagens, sobretudo à Inglaterra, por alianças). Assim, questões políticas, o dese
jo pelos portugueses de voltar a recolonizar o Brasil, acabam por forçar o proce
sso emancipatório, sendo marcos a proclamação da independência em 1822 e a criaç
ão da constituição em 1824.

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