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Tratado de ELETROACUPUNTURA | perspectivas cientificas, teoria e pratica ! | | Sohaku R. C. Bastos © numen DR MILTON NAHON, médico. Vereador/RJ e Presedente da Federagao Israelita do RJ. O Dr. Sohaku Bastos trouxe para o brasil, de forma pioneira, técnicas de eletroacupuntura, Cel N raat MTEL lee Dr. ANTONIO CARLOS SILVA OLIVEIRA, médico. Presidente da Sociedade de Homeopatia do Rio de Janeiro (SOHER\J). RT Colo M lice) Ta ee oe Sec Cod os interessados encontrardéo subsidios para, compreendendo antecipaedamente a_ arte classica chinesa da acupuntura, conseguirem To 1k] eke el LOLOL to Pa RONALDO AZEM, médico. Acupunturista do Hospital Miguel Couto e Gerente do Programa de Medicina Alternativa da SMS/RJ. A eletroacupuntura é o legado que a evolugao tecnolégica, através da inteligéncia humana, vem dar a essa antiga ciéncia... O Tratado de Eletroacupuntura do Dr. Sohaku Bastos possui Co ET e-Coe (Me ULL Ue [-am-x LA ee) adogao, visando a_ orientagdo dos atendimentos médicos de acupuntura no Trata-se de uma obra de félego, meritéria, versando sobre um assunto de extrema relevancia. E, por isso tudo, acho que o autor merece ser plenamente parabenizado por sua producao tao portentosa. HELION POVOA Reet ee a ecu cas Professor pesquisador da Universidade de Harvard, EUA, Poe! ETM Oe [ce In eo Le} brasileiros sobre a eletroacupuntura, que motivou trabalho de tal magnitude, sendo uma das poucas obras do mundo a abordar o tema da Eletroacupuntura Médica, incitando a pesquisa nesta drea. KIJIRO IMAIZUMI ‘Médico, ja falecido, Presidente da Sociedade eee steer Me (Mb ARSTol eV ORR NY rine oN Mele celal eco Legal com 0 espirito, no encontro do Oriente com o Ocidente. SEBASTIAO ABREU PERLINGEIRO Médico, Coordenador Nacional das Unidades Préprias do INAMPS Membro do Comité Brasileiro de Energia Nuclear. (COBREN). NUMEN Editora ISBN 85-7260-0004-3 Tratado de Eletroacupuntura Perspectivas Cientificas, Teoria e Pratica Sohaku R. C, Bastos Agradecimentos Nao poderia deixar de agradecer primeiramente aqueles que participaram como colaboradores na elaboragao dessa obra: Dr. Francisco A. O. Pereira, médico clinico e acupunturista que vem dedicando esforgos as pesquisas ¢ a compilagao de trabalhos cientificos do exterior sobre acupuntura, além de ser professor e diretor de cursos de formagao e pés-graduagao em acupuntura médica, com formagao, também, em fisioterapia e reabilitagao fisica, desenvol- vendo projetos especificos nessa rea; Dra. Roseane M. Debatin, médica pe- diatra, alergista, imunologista e acupunturista, professora e pesquisadora de acupuntura em pediatria na ABACO. Agradeco aos meus familiares do Brasil e do Japao, que sempre me apoiaram durante minha formagao profissional nesses dois paises e Maria Elisa Sobrino Porto Bastos, pela incans4vel ajuda e preciosa companhia nos momentos mais dificeis, assim como 4 compreensio dos meus filhos. Agradecido fico, também, aos meus professores Dr. Kijiro Imaizumi, Dr. Ryuho Okuyama e Dr. Yuji Yuwata, pelas orientagGes técnicas e prestigiosos incentivos, sem os quais este trabalho, qui¢4, fosse impossivel. E, finalmente, a todos que direta ou indiretamegte contribuiram para a concretizagéo de um trabalho que, embora modesto, destina-se aqueles que, possuidores destes conhecimentos cientificos e habilitados para sua utilizagdo, possam reverté-los em favor da humanidade. 9 I- Helion Pévoa Filho, 9 o II (in memoriam) - Kijiro Imaizumi, 11 go - Francisco A. O. Pereira, 13 ai acai nos de Acao da Eletroacupuntura, 107 cupuntura, Dor ¢ Substancias Endégenas, 107 gia Ki e a Polaridade Yin-Yang, 131 _ OHomem e os Cinco Movimentos, 134 Teoria dos Cinco Movimentos em Medicina, 136 ) CORPO ENERGETICO Canais ou Meridianos Energéticos, 139 Relagdo da Grande ¢ da Pequena Circulagao Energética, 150 Os Pontos Cutineos, 152 Conceitos de Orgios e Visceras ¢ suas Integragdes em Medicina Oriental, 167 ‘Os Canais Principais ¢ seus Pontos, 171 Conceito de Etiopatogenia em Acupuntura, 237 ; Os Oito Principios de Diagnéstico em Acupuntura Clissica, 244 Introdugdo A Semiologia e Exploracao Clinica da Medicina Oriental, 247 Acupuntura Milenar ¢ Acupuntura Cientifica, 266 Pratica da Acupuntura Classica e da Eletroacupuntura, 271 TECNICAS TERAPEUTICAS Acupuntura Classica e Moxabustao (mecanica), 273 Introdugao a Eletroacupuntura, 273 Eletroacupuntura Sistémica, 296 Eletroacupuntura Local, Regional e Projecional, 365 Eletroacupuntura em Analgesia Profunda (cirurgias), 346 Eletroestimulacao Transcuténea, 370 Eletroacupuntura Auricular (EAA), 382 ELETRODIAGNOSTICO Avaliagao da Eletropermeabilidade Cuténea (Método Ryodoraku), 391 Avaliagao Bioeletrénica (Método deVoll, Mora ¢ Vegatest), 395 Eletrotermosensibilidade (Método Akabane), 397 Perspectivas Cientifica’ para 0 Diagnéstico Pulsolégico segundo a Medicina Oriental - Anélise Eletropulsogrifica (Método Morita-Fugita), 401 TRATAMENTOS PELA ELETROACUPUNTURA Doenga, Satide ¢ Terapéutica, 407 Doengas do Aparelho Masculo-esquelético, 413 Doengas do Sistema Nervoso, 415 Doengas do Aparelho Cardiovascular, 418 Doengas do Aparelho Respirat6rio ¢ Otorrinolaringolégicas, 420 Doengas do Aparelho Digestivo, 422 Doengas do Aparelho Génito-urinério, 425 Doengas Gineco-obstétricas, 427 Doengas Psiquicas, 429 Planejamento Terapéutico por Eletroacupuntura e Cuidados durante a Aplicagio, 449 Consideracées Finais, 457 Posficio - Sebastiéo Abreu Perlingeiro, 463 Referéncias de Pesquisas sobre Eletroacupuntura, 471 Bibliografia, 474 indice, 477 2 Cursos de Eletroacupuntura ¢ Institutos de Ensino e Pesquisa, 491 Prefacio I A pratica corrente da medicina se baseia no modelo newtoniano da verdade, vé o mundo como um mecanismo intrincado. O médico considera entéo 0 corpo como uma grande maquina controlada pelo cérebro e sistema nervoso periférico. Jé o modelo einsteniano da medicina energética vibracional, vé o ser humano como uma rede de campos complexos de energia que se contactam com 0 sistema fisico/celular. Este tipo de medicina usa formas especializadas de energia para afetar positivamente os sistemas energéticos alterados nos proces- sos patolégicos. O reconhecimento de que toda a matéria é energia (Einstein) forma a base da compreensao de como seres humanos podem considerar-se sistemas energéticos dinamicos. O ponto de vista mecanistico newtoniano da vida, nao obstante, é apenas uma aproximagao da realidade. Um approach farmacolégico ou cirirgico é incom- pleto pois ignora as forgas vitais que animam a existéncia através de nossa biomaquindria completa. Assim, os homens, diferentemente das maquinas, sao maiores que a soma dos elementos quimicos combinados, j4 que dependentes de uma forga vital sutil que cria uma ogganizagao estrutural nica de componen- tes moleculares. Ao invés de sé tratar com drogas convencionais, esta medicina intenta a terapéutica através de pura energia. Dai, a meu ver, ha perfeita comunhao entre as duas medicinas que jamais se poderiam dissociar como sée acontecer. Isto confirma que nao existe medicina convencional nem alternativa €, sim, apenas uma, que deveria tratar 0 homem como um todo. Vemos, destarte, inimeras especialidades usando total ou parcialmente pro- cessos energéticos: a kirliangrafia, a homeopatia, o shiatsu, a acupuntura, a terapia com esséncias de florais etc. Algumas delas possuem respaldo cientifico como exige a alopatia, como a acupuntura, em que se demonstrou recentemente que a injegdo de isétopo fadioativo num ponto de acupuntura levou a difusio do mesmo através dos classicos meridianos. Ora, fazer um prefacio a um livro do Dr. Sohaku Bastos, prezado colega e amigo, € dessas honras que ninguém pode recusar. Ao mesmo tempo, nao posso julgar essa obra adequadamente pois me faltam conhecimentos para tanto. De - qualquer modo, pode-se verificar que se trata de uma obra de fdlego, meritéria, be versando sobre um assunto de extrema relevancia. E, por isto tudo, acho que 0 autor merece ser plenamente parabenizado por sua produgao portentosa. Rio de Janeiro, 25 de setembro de 1992 Prof. Dr. Helion Povoa Filho ‘Membro titular da Academina Nacional de Medicina Professor e pesquisador da Universidade de Harvard, entre outros titulos Prefdcio II (in memoriam) Somente nos ltimos trinta anos nasceu o inmeresse pela pesquisa em acupun- tura no Japao sob controle cientifico. Este fato nao se deve a uma simples curiosidade, mas sobretudo a necessidade de se desenvolver critérios cientificos para uma pratica milenar que vem beneficiando milhdes de pacientes, nao sé no Oriente, mas também no Ocidente. As pesquisas cientificas em acupuntura surgiram em conseqiiéncia de uma confluéncia de causas intrinsecas e extrinsecas. As causas extrinsecas despontaram no final do século passado, devido ao grande interesse de alguns médicos ocidentais pelas condutas médicas antigas do Oriente, assim como pelos bons resultados que obtiveram com seus pa- cientes. Nos tiltimos anos o publico leigo tem valorizado estes métodos tra- dicionais de medicina oriental, nado por ignorancia, mas indiretamente por um possivel descontentamento com uma medicina massificada internacionalmente € que abusa do uso de farmacos, alguns deles de alta iatrogenicidade. Posso afirmar, sem hesitar, que a medicina atual inclina-se a uma configuragdo nado personalizada e de certa forma desumanizada pelos mecanismos sociais que alijam os pacientes da participagdo nas decisdes ligadas aos interesses que Ihes dizem respeito. As causas intrinsecas surgiram da necessidade de explicag6es cientificamente convincentes para os fendmenos somaticos e psiquicos provocados pelo em- prego das terapias orientais, principalmente a acupuntura, que foi alvo de maior atengao. Tanto na Europa como na China e no Japao, o problema fundamental consiste em conciliar 0 pensamento cientifico atual com os conceitos te- Tapéuticos respaldados na antiga filosofia do Oriente, que teve inicio na China. Este desafio nao se resume simplesmente em “traduzir” em jargio cientifico antigos conceitos médicos, mas em desenvolver uma pratica eficiente, promis- ‘sora ¢ sintonizada com as pesquisas cientificas que se sucedem incessantemente ‘em todo o mundo, fazendo com que o acupunturista, zeloso por sua profissao, se mantenha permanentemente atento para nao se desatualizar. Por estes mo- tivos, qualquer que seja o incentivo a pesquisa em acupuntura, € pouco, em vista dos novos horizontes que se nos apresentam, e é por estas razdes que obras cientificas como esta, que tenho o privilégio de prefaciar, merecem, no mfnimo, © nosso aplauso. Quando recebi a carta-convite para fazer o prefacio do livro do Dr. Sohaku Bastos eu me senti ao mesmo tempo lisonjeado e surpreso. Lisonjeado porque nao é todos os dias que se recebe um convite desta importincia, e surpreso porque nao imaginava o grau de interesse dos brasileiros pela eletroacupuntura, © que motivou um trabalho de tal magnitude, sendo uma das poucas obras no mundo a abordar o tema da eletroacupuntura € a incitagao a pesquisa nesta drea. Como ex-professor do autor e incentivador do seu trabalho no Brasil, permito- me desenvolver um sentimento de responsabilidade sobre este trabalho. A eletroacupuntura, técnica terapéutica de natureza fisica, que implementa a fuso da conhecida acupuntura com as correntes eletroterdpicas, pode ser uma pre- ciosa senda para o engrandecimento da acupuntura como ciéncia, nos moldes da ciéncia moderna, pois nao se ocupa unicamente do aperfeigoamento das multiplicidades de recursos estimuloterdpicos, mas também do estudo das intimeras reagGes que ocorrem no organismo humano tanto de origem energética como neuroquimica. Seu objetivo € promover a homeostase orginica assim como 0 tratamento e controle de diversas enfermidades. Gostaria, para finalizar, de agradecer a gentileza do Dr. Sohaku Bastos, além de me sentir honrado em redigir essas linhas para os colegas brasileiros. Em nome da Sociedade Japonesa de Eletroacupuntura Médica, que ora represento, desejo parabenizar o Dr. Bastos por este primeiro manual* de Eletroacupuntura Médica. Tokyo, 7 de maio de 1979 Presidente da Sociedade Japonesa de de Eletroacupuntura Médica Professor emérito do Instituto de Neurologia de Tokyo * Omanual de eletroacupuntura médica escrito em 1979 foi base para o presente trabalho, O universo é um paradoxo. Aquilo de que necessitamos para compreendé-lo € a imaginagdo. Precisamos descobrir . uma nova visdo do mundo. Richard P. Feynman ‘ _ Sou um médico de formacao um tanto as avessas. O, inicio de minha formagéo _académica foi na area tecnolégica, passando pelas Ifnguas e pela musica, para egar, por fim, a drea de satide. Diversos fatores me estimularam a seguir nesta drea profissional. Dentre eles, ta de uma vocago impulsionada pelo preceito budista da compaixao, \patia com sofrimento alheio, mesclada com o desejo do bem-estar universal, caracteristico de um aquariano. _ Outro fator importante foi uma certa frustagéo como paciente, por nao en- trar no atendimento médico disponivel a atitude explicitada na definigao de de Miguel Torga, nome literdrio do poeta e médico portugués Adolfo nascido em 1907, que diz: Anamnese é 0 relato dos padecimentos feito pelo doente a cordialidade inquisidora do médico (grifo nosso). ge disso, a distancia entre 0 paciente e o médico vem cada vez mais se ntuando. Agora, ha pouco, vi na televisio um noticiario sobre a introdugao 0 Brasil do diagndstico por computador e me veio 4 fantasia a cena futuristica anamnese feita pelo microcomputador domiciliarem linha com o computador znosticador central, ou talvez, 0 exame fisico executado por rob6s, com os os introduzidos diretamente no computador médico. hoje em dia, os médicos pouco tocam ou conversam com seus pacientes, ce que em breve sequer, precisarao vé-los. Nao se justifica uma postura idica de arrogincia e prepoténcia como se fosse 0 médico dono de todo o ecimento ou senhor da vida e da morte. Tampouco é 0 corpo humano uma ~ lina que, de vez em quando, emperra. Nosso paciente é um ser complexo ser compreendido, quando busca nosso auxilio, para além dos e dos quadros sindrémicos. Devemo-nos perguntar: quem é este que cura € que papel desempenha sua doenga em sua vida. Isto talvez Ihes tempo, dinheiro e sofrimentos desnecessdrios. Lembremos que a vida é um processo dinamico por exceléncia e que a estabilidade absoluta s6 se encontra na morte. Essa frustagao como paciente foi o que me levou a procurar a acupuntura como opgao terapéutica. No decorrer do tratamento, duas coisas me chamaram a atengdo: primeiramente, a atitude do terapeuta que procurava saber realmente quem eu era, qual era minha postura existencial, qual o papel que os distarbios apresentados desempenhavam em minha vida e quais os meus habitos e atitudes que me levaram a tais distirbios; em segundo lugar, como um método tao simples, barato e seguro podia fazer com que me sentisse bem. Deste encontro nasceram em mim uma grande paixao pela filosofia oriental, a curiosidade cientifica pela pratica da medicina energética do Oriente e uma longa amizade com o Dr. Sohaku Bastos, idealizador desta obra, com quem tenho tido o prazer de colaborar profissionalmente nos dltimos quinze anos. Decidi, entéo, dedicar minha vida ao estudo e a pratica da acupuntura e, para tanto, frequentava a clinica dirigida por Dr. Sohaku como aprendiz, no mais estrito sentido artesanal do termo, enquanto cursava a faculdade de fisioterapia e depois a de medicina, para um embasamento na drea de satide, uma vez que nao havia cursos de formagao em acupuntura. Logo saltaram-me aos olhos semelhangas e discrepancias entre os dois sis- temas médicos. A investigagao clinica segue aos mesmos passos: anamnese, exame fisico, propedéutica armada, diagndstico, progndstico e indicagao te- rapéutica. Como se observa, a interpretagao dos dados, assim como as in- dicagGes terapéuticas, naturalmente, diferem. No entanto, a abordagem oriental, apesar de milenar, supreendentemente apresenta algumas caracteristicas que lhe conferem extrema modemidade, dentre as quais destacamos: — ser centrada no paciente em vez de na doenga =. reconhecer uma fungao energética da fisiologia corpérea — possuir uma terapéutica de baixo custo, de relativa simplicidade para 0 aprendizado quando comparada a certas praticas da medicina ocidental moderna, de baixo risco iatrogénico e que estimula 0 organismo ao retorno a seu funcionamento normal — apresentar uma caracteristica essencialmente preventiva por poder atuar muito precocemente nos desvios dos pardmetros fisioldgicos, mesmo antes que sintomas caracteristicos de doengas sejam evidentes No entanto, a linguagem simbdlica e um tanto hermética empregada para conceitué-la constitui um grande obstaculo para sua compreensio e aceitagao pelo médico ocidental, por nao se correlacionar com seus conhecimentos. Isto se dé porque os preceitos basicos da acupuntura classica foram desenvolvidos ne €poca em que nfo se dispunha dos conhecimentos cientificos modernos da area biomédica. _ Assim, como explicar a agao da acupuntura ou a pertinéncia do diagndstico _ de pulso, por exemplo, a luz dos conhecimentos médicos atuais? A reagéo do j meio médicose caracterizava, entao, pela nega¢do da acupuntura, atribuindo-lhe 0s seguintes qualificativos: sugestio, placebo, charlatanismo etc. A verdade era, do ponto de vista do paciente, que funcionava para muitas de ‘suas queixas que nao haviam encontrado solugées satisfatérias através de outras modalidades terapéuticas. Isto se dava porque, por um lado, a abordagem -holistica da medicina oriental fazia com que o paciente se sentisse bem atendido, _ €, por outro lado, a capacidade que tem a acupuntura de atuar simultaneamente _ sobre miltiplos sistemas, inclusive sobre o emocional do paciente, fazendo com _ que este se sinta mais sauddvel e menos vulnerdvel 4 doengas. Assim, sua j procura vem gradativamente aumentando. _ Associado a isso, a longa existéncia e grande difusdo da acupuntura no " Ocidente fez com que muitos médicos e diversos pesquisadores da area bio- médica se voltassem para seu estudo experimental. _ Amaior preocupagao, portanto, no presente trabalho, foia de, além de fornecer a visio classica da acupuntura, apresentar também uma visdo atualizada e cientifica da pratica acupuntural, procurando tornd-la mais compreensivel aos profissionais da area de satide. Para tanto, racionalizamos as indicages terapéuticas, tanto na parte de tra- _tamento de diversas afecgGes, quanto na de analgesia, descrevemos alguns dos possiveis mecanismos de agdo da acupuntura em termos bioquimicos, re- xoldgicos, e de bioeletricidade, assim como seu embasamento teérico-ex- ; ital, e, por fim, procuramos descrever métodos diagnésticos objetivos itravés da avaliagao energética desenvolvida por aparelhagem idealizada, tanto 0 Oriente quanto Ocidente. __ Dentre estes apresentamos os seguintes métodos: Sistema Ryodoraku, Método ‘de Akabane, Anilise do Espectro Pulsogrifico, Eletroacupuntura de Voll (E. A. V.), test. Contudo nos depararmos, na tentativa de objetivar o diagnéstico zético, com o elemento subjetivo infiltrando-se na avaliagao. Dentre os $ supra-citados, alguns, notadamente o Vegatest, sio extremamente is 4 atitude mental, nao do examinando, mas do examinador. Bem, diria , ld se vai nossa objetividade por Agua abaixo... E verdade. Mas isso mio estes métodos, pelo contrario, a luz da fisica,moderna confere-lhes dade e respaldo cientifico dignos de uma semente para um novo médico. Na visio da fisica quantica, a dualidade mente-matéria, dualismo que se _ firmou no Ocidente a partir de Descartes com a separagao mente-corpo, inexiste. Um dos primeiros fisicos a sugerir que consciéncia modifica a onda quantica e, desse modo, altera o mundo fisico, foi Eugene Wigner, Prémio Nobel de 1967. Diz ele em Symmetries and Reflections (Indiana University Press Bloomington, 1967): .. 0 reconhecimento de que os objetos fisicos e os valores espirituais possuem um certo tipo de realidade muito semelhante tem contributdo, em certa medida, para minha paz mental ... de qualquer modo, é 0 tinico ponto de vista conhecido que é concilidvel com a mecdnica quantica. Podemos no mesmo sentido, ainda citar Bernard d’Espagnat, quando afirma que a doutrina de que 0 mundo é formado por objetos cuja existéncia é independente da consciéncia humana mostra-se em conflito com a me- canica quantica e com dados experimentais" (grito nosso). Mas, perguntaria o leitor desavisado, "O que a fisica quantica tem a ver com a medicina?" A resposta é: tudo! A fisica quantica descreve uma realidade inatingivel pelo senso comum, mas comprovavel experimentalmente. Ou seja, oO universo € realmente assim, embora nao possamos percebé-lo em nosso estado habitual de consciéncia. No entanto, podemos percebé-lo em estados alterados de consciéncia, quer espontaneamente quer induzido intencionalmente através de técnicas adequadas. E o mais interessante disso tudo é que esta visao da realidade é perfeitamente compativel com os conceitos basicos da filosofia oriental. Qual nao foi npssa surpresa ao ver como © Ocidente e 0 Oriente, por caminhos inteiramente independentes e, até mesmo opostos, descrevem o universo de maneira semelhante! Dentro deste contexto, fendmenos parapsicolégicos deixam de ser "para" adquirem um novo status, tornando-se perfeitamente possiveis, previs: embasados cientificamente. Para um aprofundamento neste campo remetemos 0 leitor aos trabalhos de Frijof Capra, O Tao da Fisica e 0 O Ponto de Mutagdo (Editora Cultrix). Este iltimo trata ainda da quest4o dos paradigmas vigentes por serem os fatores limitadores para se encontrar solugGes para os aparentemente insoliveis pro- blemas com que se defronta a sociedade moderna em varias areas, como a medicina e a economia. O que nos remete ao conceito bem conhecido de qualquer cientista que diz que, para podermos progredir em ciéncia € muito mais importante conseguirmos formular perguntas pertinentes do que encontrar as suas respostas. _ Gostariamos ainda de indicar duas outras obras ao leitor que queira se aprofundar na concepgao do universo dentro da visao da fisica quantica e da interagdo psique-natureza. No primeiro caso, recomendamos a leitura de Es- _ pago-tempo e Além, de Bob Toben e Fred Alan Wolf (Editora Cultrix), que,em _ Sua original concepgao, combinando ilustragdes com conceitos sucintos, nos leva a criar imagens do universo segundo a visao da fisica quantica. E no segundo, indicamos o trabalho de C. G. Jung e W. Pauli, The Interpretation of Nature and the Psyche (Boligen series LI, Pantheon Books), este, um livro mais técnico. Aqui, Jung desenvolve sua teoria da sincronicidade, principio nao causal relacionando eventos. Este principio diz que causa e efeito nao sao a Gnica maneira de relacionar eventos, que podem também se relacionar de forma nao _ causal, através da sincronicidade, ou seja, de uma coincidéncia significativa _ entre eventos que podem ser psiquicos ou internos,*e externos. _ Em contraste com essa visio, 0 modelo biomédico reducionista vigente no Ocidente teve seus primérdios no século XVII com os trabalhos de William y sobre a circulagdo sangiiinea. No século XVIII, surge a Homeopatia, _ com Hahnemann, como reagio a esta abordagem mecanicista. Mas € no século _ XIX que nasce a medicina moderna cientifica com os trabalhos de Claude Bernard sobre processos fisiolégicos. Por outro lado, a biologia celular como base da ciéncia médica, atribui, a partir de Rudolf Virchow, a origem das ‘doencas a mudangas estruturais a nivel celular. Louis Pasteur, por sua vez, _ estabelecia o nexo bactéria-doenga. ; _ Adiscussio sobre a génese das doengas atribuida a um tnico fator (Pasteur) _ 0u Varios fatores (Bernard), pela perda do equilibrio interno, segue até hoje. Mas _ foi com os postulados de Koch, conjunto de critérios necessdrios para provar ue certo microorganismo é causador de uma doenga especifica, que 0 conceito de diagnéstico etiolégico se firmou. Detal forma o paradigma biomédico é dominante no Ocidente, que hoje vemos oderna psiquiatria procurar tratar as doengas psicolégicas apenas por meios uma vez que neste modelo os mecanismos biolégicos séo con- mais importantes que os eventos mentais, possuindo estes um status ). Ou seja, doenga mesmo é aquilo que se pode ver numa lamina, num 0 ou numa anilise quimica. 0 intuito de promover a busca por um modelo médico, gostariamos de \ir as principais criticas que se tém feito ao modelo vigente de atendimento ibilidade de servigos para muitos pacientes ia de simpatia e solicitude no atendimento — alta incidéncia de impericia ou negligéncia — manipulagao do direcionamento das pesquisas por interesse econdmico — excessivo intervencionismo e énfase em procedimentos complexos em detrimento de medidas preventivas e profilaticas como saneamento nutrigéo adequada como evidenciam a alta incidéncia de doengas infec- tocontagiosas no terceiro mundo como a tuberculose, a lepra, a malaria e, recentemente, o retorno do colera; — abordagem centrada na doenga em vez de no paciente, com 0 excessivo emprego da terapéutica de alto risco iatrogénico no lugar de outras mais seguras e que estimulem 0 organismo a recuperar-se e manter-se saudavel — crescimento acentuado no primeiro mundo das chamadas doengas da civilizagao como cancer, cardiopatias e diabetes; — ignorar 0 fato de que a reagao psicolégica do paciente ao médico é parte importante de qualquer terapia, com a honrosa excegao da medicina psicossomatica; — ter como objetivo o total exterminio de qualquer doenga; — negagao da morte; — negagao da dor; — desconsiderar pacientes que apresentem queixas que nao se encaixem em quadros sindrémicos conhecidos Prosseguindo com esta visdo critica da medicina ocidental moderna, gos- tariamos de citar F, Capra: Evitar as questées filosdficas e existenciais que sdo suscitadas com relagdo a toda e qualquer enfermidade seria um aspecto caracteristico da medicina contempordnea ... a questdo "O que é a satide ?" geralmente ndo é formulada nas escolas médicas, nem se discutem atitudes e estilos de vida sauddveis ... Esta concepgdo impede freqiientemente os médicos de verem os aspectos benéficos e 0 significativo potencial da doenga. A doenga é vista como um inimigo a ser derrotado e os pesquisadores perseguem o ideal utépico de eliminar, finalmente, todas as doengas através da aplicagdo de pes- quisa biomédica. Um tal limitado ponto de vista desconsidera os sutis aspectos psicoldgicos e espirituais da doenga e impede que os pes- quisadores médicos tomem consciéncia, como assinalou Dubos, de que "libertar-se completamente da doenga e da necessidade de esforgar-se na busca do equiltbrio é quase totalmente incompativel com o processo da vida . Embora 0 modelo biomédico distingua os sintomas da doenca, cada doenca numa acepgdo mais ampla, pode ser vista como sintoma de uma enfermidade mais subjacente, cujas origens raramente sdo investigadas, Tal conduta exigiria que a satide precdria fosse considerada dentro do amplo contexto da condi¢ado humana, reconhecendo-se que qualquer enfermidade, ou distirbio comportamental, de um determinado individuo 56 pode ser compreendida em relagdo a rede de interagdes em que essa pessoa estd inserida. m sentido mais abrangente, podemos dizer algo semelhante sobre a relagao as doengas que marcaram uma época e 0 momento histérico-cultural de civilizagao. Nao é uma coincidéncia significativa qhe a Aids, em que um ‘principais meios de transmissao é a via sexual, tenha surgido em nossa izacao justamente apdés um periodo de liberagdo sexual? Nao seria também nificativo que nossa idéia de progresso caminha num sentido utépico e lizado de conforto, como auséncia total de esforgos, assim como num cente afastamento da natureza, inclusive em sentido asséptico, consistindo que em um horror 4 contaminagao, e que a Aids nos atinge justamente 380 sistema de defesa? idéia da impossibilidade da eliminagdo definitiva das doengas nos leva a achado curioso na avaliagao bioenergética, inclusive na pulsografia ele- ica. Este fato é que nunca as leituras atestem um estado de perfeito equilibrio jientes, apresentando alguma alteracdo, conquanto estes se apresentem, quer outros parametros, perfeitamente saudaveis. Poder-se-ia dizer que s flutuagSes nas leituras nao representaria qualquer alteragdo na sade do nte, mas que seriam devidas a imprecisGes dos aparelhos. No entanto, a ria das Estruturas Dissipativas (Theory of Dissipative Strutures) do quimico allya Prigogine, Prémio Nobel em 1977 por este trabalho, apoia os achados gdes bioenergéticas. As estruturas dissipativas sio aquelas que, con- do a segunda lei de Newton, nao caminham em diregdo a entropia valida para 0 universo como um todo, mas podendo ser invertida mente, consumindo energia deste ambiente, para manter um certo nivel jidade estrutural e funcional. Isso é proprio das estruturas bioldgicas. stica fundamental destas estruturas € que, quanto maior o fluxo necessdrio para manté-las e quanto mais complexo o nivel estrutural tanto maior sera sua susceptibilidade a se desorganizarem devido externas. Esta aparente fragilidade é a chave para o conhecimento engao da vida. Ao responder coerentemente a perturbagéo, uma dissipativa, como 0 corpo humano, pode passar a um nivel de maior dade funcional como resultado de um aprimoramento organizacional. Paradoxalmente, a perturbagao (doenga) parece ser necessdria para uma melhor organizagao (satide) da estrutura dissipativa (corpo humano). Sempre adoeceremos, de uma maneira ou de outra em maior ou menor grau. E preciso que nossa medicina reconhega e que mude sua énfase intervencionista para terapéuticas que promovam a capacidade do organismo manter-se saudavel e de recuperar-se prontamente. Atualmente, vemos como expoentes desta abordagem a acupuntura, a medicina psicossomiatica e a abordagem quantica, que trabalha na restauracéo e na manutengao do campo neutrinico de nosso organismo. Nao queremos dizer com isso que devemos deixar que nosso paciente morra na tentativa de recuperar-se. Cabe ao médico avaliar o momento e a adequagio terapéutica, pois haverd situagGes em que seré necessério auxiliar diretamente © organismo a lidar com os fatores desagregadores. Mas lembremo-nos que a vida e a satide sio processos dinamicos sujeitos a marchas e contra-marchas e que os organismos vivos mantém-se vivos e sauddveis ao responderem con- tinuamente as solicitagGes do meio externo e interno na manutengao de sua fisiologia. Nao nos esquecamos, por fim, que também morremos. Morrer é tao fisiolégico quanto nascer. Se todos concordamos que todos os seres tém 0 direito de viver com dignidade, também devemos conceder-nos o direito de morrer condigna- mente. Rio de Janeiro, 17 de margo de 1993. Dr. Francisco A. O. Pereira Diretor do curso de Pos-Graduacao em Acupuntura (IS!) Presidente da Sociedade Brasileira de Eletroacupuntura (SOBEA) Introdugao Este livro é fruto da nossa experiéncia de 20 anos em acupuntura. Nosso trabalho iniciou-se no Japao, sob a orientagao do Dr. Kijiro Imaizumi, presidente da Sociedade Japonesa de Eletroacupuntura Médica e foi influenciado também pela eletroacupuntura do método Ryodoraku, sob a orientagéo do Dr. Y. Nakatani e do Prof. Y. Sasagawa. Versa sobre assuntos que interessam nao apenas aos médicos e académicos de medicina mas, a todos os profissionais da frea de satide. Sua finalidade é contribuir para o melhor conhecimento da eletroacupuntura e seu alcance terapéutico. O primeiro trabalho em Portugués sobre o tema foi o “Manual de Eletroacupuntura”, m*1979, distribuido estrita- mente a titulo de orientagdo para nossos cursos de acupuntura, quando langamos pioneiramente este método no Brasil. Nos iiltimos anos, foi importante o desenvolvimento das pesquisas na area da neurofisiologia, eletrofisiologia e, especialmente, no estudo dos mecanismos essenciais de regulagdo do sistema neuro-imuno-endécrino. Jé em 1965, a Teoria do Porto do Controle da Dor proposta por Melzack e Wall, passando pelas pesquisas de Pomeranz e Goldstein, sobre as endorfinas e receptores opidides do sistema serotoninérgico e de outras pesquisas mais recentes, abria um elenco de perspectivas para a elucidagao e confirmagao da eletroacupuntura na ativagao do sistema supressor da dor. Por outro lado, o estudo da eletricidade em terapia, com o desenvolvimento tecnolégico de aparelhos eletroestimu- ladores computadorizados, veio enriquecer o interesse pela eletroacupuntura, nao apenas aplicada a dor crénica, mas para produzir analgesia profunda em determinadas condutas cirdrgicas. Entretanto, é importante nao limitarmos o emprego da eletroacupuntura a sua ago analgésica, pois, seu campo de atuagao terapéutica € muito mais amplo como veremos. A capacidade de o organismo responder a estimulos nociceptivos néo pode ser ainda totalmente mensurado, mas a qualidade de respostas via reflexo nervoso é indiscutivel. As respostas bioelétricas, as quais denominamos de teagdo tréfica ou de regeneracao, podem ser, quig4, a explicagao para algumas dividas a respeito dos bons resultados da eletroacupuntura em diversas enfer- midades e, inclusive, na manutengdo da homeostase orginica. Oleitor de livros sobre acupuntura deve achar estranho a ordem dos diversos capitulos deste livro. Nao é nada ortodoxo em se tratando de acupuntura, iniciar | este assunto com o estudo de neurofisiologia, passando por temas de biofisica, bioquimica, eletroterapia, para se chegar a teoria classica da acupuntura. Ez 2 Introdugdo_ Todos os capftulos deste livro foram ordenados para que o leitor possa acompanhat de forma racional e em ordem crescente de informag6es, os diversos t6picos abordados. Ressalte-se que a teoria classica da acupuntura foi superficialmente abordada € propositalmente separada da teoria cientifica, primeiro porque diversas obras versam profundamente sobre o assunto, ¢ além disso, porque entendemos que a pratica da eletroacupuntura, nem sempre se respalda somente nas teorias classicas chinesas, mas também em teorias da eletroterapia, ou ainda, no sincretismo do conhecimento cientifico com aqueles empiricos, ou até mesmo, na analogia de condutas classicas com procedimentos investigatérios. Este livro, portanto, € um mergulho mais profundo no campo da eletroterapia em acupuntura, todo ele respaldado na pratica didria e prolongada, nao apenas nossa e da Sociedade Brasileira de Eletroacupuntura (SOBEA), mas de diversos pesquisadores e profissionais da area de satide que trabalham em centros integrados e multidisciplinares. As atividades destes grupos nao se restringem somente a atendimentos ambulatoriais, mas também consistem em pesquisas com ensaios clinicos e laboratoriais, com estado duplo-cego, como as que so realizadas pela Sociedade Japonesa de Eletroacupuntura Médica. Consideramos que nao é adequada a utilizagdo de procedimentos terapéuticos com acupuntura como se estivéssemos no Oriente de dois séculos atras, sem levar em conta os avangos cientificos e mesmo a situagio cultural de trabalhar- mos com pacientes ocidentais. Deve ser lembrado também que a acupuntura é muito mais divulgada no Oriente do que no Ocidente e que I este tratamento é procurado rotineiramente, com mais precocidade e profilaticamente o que nao ocorre aqui, onde o paciente, na maioria das vezes, nunca se submeteu a esta terapéutica e, em muitos casos, a procura como tiltimo recurso. A acupuntura cientifica atual difere em parte da acupuntura classica da antiga China, pois nao se baseia unicamente em conceitos filos6ficos e em condutas fundamentadas em teorias que, por vezes, criam certas barreiras 4 compreensio daqueles que tiveram formagao cientifica no Ocidente. De qualquer modo 0 que € empirico nao tarda em sofrer uma explicagdo, uma justificativa ou en- quadramento na metodologia cientifica. No caso da acupuntura podemos facil- mente identificar na eletrofisiologia, por exemplo, um campo fértil para pesquisa. Essa, na verdade, tem ocorrido simultaneamente em varios paises tanto no Oriente quanto no Ocidente. Os principais centros de pesquisas em acupuntura no Ocidente sao: o Instituto de Psiconeurologia de Leningrado, na issia, a Universidade de Columbia, a Fundagao de Pesquisas de Doengas do Coragio de Nova Iorque, o Departamento de Anestesiologia do Hospital Ple- bisteriano de Nova Iorque, nos Estados Unidos, a Associagao Francesa de aon lt Acupuntura, a Sociedade de Acupuntura da Alemanha e principalmente o Instituto de Acupuntura Ludwig Boltzmann de Viena, Austria, entre outros. No Oriente, a Associagao de Medicina Oriental da Coréia, a Faculdade de Medicina de Pequim ¢ o Instituto de Medi Tradicional de Shanxi na China, o Instituto _ de Controle da Dor de Kyoto, o Departamento de Neurocirurgia da Universidade Nagasaki, o Departamento de Anestesiologia da Escola de Medicina da e de Gifu, o Departamento de Medicina Interna do Hospital de a Escola de Medicina da Universidade de Kurume, a Escola de dicina Oriental Koho de Téquio, o Centro de Pesquisas em Medicina Oriental Instituto Kitasato de Téquio, todos no Japao, entre’ muitos outros que mos também citar. a despeito disso, ainda encontramos no Ocidente atividades Pratica da acupuntura divulgando esteredtipos como “acupuntura ", “acupuntura chinesa”, “técnica coreana” ou “acupuntura francesa”, mente por ser um marketing eficiente até mesmo para os mais que Mmuitas vezes, se deixam envolver pela curiosidade ou por 0 se pretende nesta obra, em hipétese alguma, subestimar a experiéncia ‘sino-japonesa com a acupuntura classica, mas enriquecé-la e, principal- adapta-la 4 realidade biomédica do Ocidente, promovendo-a a padroes nos de aceitac¢ao do mundo cientifico internacional. Isto nos levaré a con- ‘que o aprendizado moderno de acupuntura deverd se respaldar em teorias fi convincentes, e no apenas em conceitos cristalizados que nao sstimulam 0 raciocinio tao necessirio a investigagao cientifica. Nao precisamos de “receitas prontas”, mas de fdlego para nao perdermos a capacidade de lesenvolver 0 pensamento criativo indispensdvel para a ciéncia. iimente agradecemos Aqueles que, despojados de preconceitos e com 0 ito cientifico de investigacdo, venham a contribuir com criticas, comen- ios Ou mesmo colaboracao direta para o enriquecimento dos conhecimentos desenvolvimento de uma acupuntura verdadeiramente cientifica. gicas da Eletroacupuntura Bioeletricidade e Energia Ki Bioeletricidade Conceito de Energia Tréfica e Energia Vital Pi rincipios Basicos de Eletricidade Semer oO f./.s_|.os).ovg | a de Neurofisiologia na nervoso é tinico em sua grande complexidade de controle sobre 0 A todo momento est4 recebendo milhares de informagGes pro- de diferentes Grgios sensoriais, intggrando-as para determinar a ser executada pelo organismo. nagao é transmitida ao sistema nervoso central, principalmente, sob a impulsos nervosos, através de uma sucesso de neurGnios, e essa missio do impulso de um neurdnio a outro é denominada de sinapse. Esses isos podem sofrer alteragdes durante seu trajeto, adaptando-se as neces- organismo naquele momento. Tais alteragdes podem ser: * bloqueio da transmissao de um neur6nio a outro * alteragdo de um impulso isolado em impulsos repetitivos * integragao com impulsos de outros neurdnios para determinar um outro padrao de impulso mais complexo. o € a unidade funcional do sistema nervoso, que consiste de um ir e dois tipos de prolongamentos, que sao: Tamificages curtas que partem do corpo e permitem ao neur6nio fazer sinapse com varios outros neur6nios vizinhos; filamento tinico de grande comprimento, por onde a informagéo € conduzida de uma parte a outra do sistema nervoso. Os nervos __ periféricos sao constituidos por varios grupos de ax6nios; 28 Bases Fisiolégicas da Eletroacupuntura A maioria dos ax6nios é envolvida por uma camada lipidica, a mielina, que altera a velocidade do impulso nervoso. A velocidade do impulso é maior onde a mielina é mais espessa e menor onde a mesma é mais fina, ou nao existe. A velocidade de condugao varia de 12 a 120 m/s. Origem do Impulso Nervoso A base da condugio neuronal é eletroquimica e depende da passagem de fons através da membrana semipermedvel (sddio, potdssio e cloro). Esta passagem de fons é determinada: * pela difusio do ion; * através de uma bomba que transporta os fons contra seu gradiente de concentragao; Desta maneira, temos wma disposicgao de fons dentro e fora da membrana, que faz com que o interior da membrana seja negativo em relagdo ao exterior em torno de 70 milivolts. Quando ocorre uma estimulag4o quimica ou elétrica suficientemente forte para alterar a permeabilidade da membrana semiper- me4vel, a distribuigdo das trocas idnicas se altera. O interior do ax6nio torna-se positivamente carregado em relagao ao exterior, entre 40 e 50 milivolts. Esta alteragao do estado elétrico é conhecida como despolarizagao e resulta numa “cascata” que percorre o axOnio em toda a sua extensdo, gerando o impulso. Se 0 estimulo for muito fraco, nao ocorrerd despolarizagao; portanto, 0 ax6nio da uma resposta do tipo “tudo ou nada”. A atividade elétrica cessa por um breve periodo, tornando a membrana impermedvel aos fons; 0 axGnio entdo se en- contra num estado refratario. Oestudo histolégico do sistema nervoso demonstra que existem tipos variados de neurénios. Fisiologicamente, os diversos tipos de neurénios desempenham fungdes diferentes; por isso, a capacidade de resposta & estimulagdo pelas sinapses varia de acordo com o tipo de neur6nio. dade elétrica, para ser continua de um neur6nio para outro, necessita enga de uma substancia quimica que é liberada pelo processo de des- ¢4o no nivel terminal de um nervo ativo. Esta substancia transmissora eurotl jissora atravessa um espago estreito até um local receptor no ‘ou no dendrito do neurdnio, levando a despolarizagao do outro neurénio dando continuidade ao impulso nervoso. As terminagGes do nervo sao conhecidas como botées. Existem diversos neurotransmissores entes partes do sistema nervoso central, como acetilcolina, nora- dopamina, serotonina, substancia P e as encefalinas (met-encefalina, lina). O espago cruzado pelo transmissor é a sinapse, que é limitada dos dois neurénios envolvidos. No caso do transmissor, ela é como membrana ou terminal pré-sinaptico; no caso do receptor, +4++—--+44+ Exctatiig toot tt 30. Bases Fisiolégicas da Eletroacupuntura Existem dois tipos de sinapses quanto ao seu efeito sobre 0 receptor: excitatéria na qual o potencial de agéo de um neur6nio se propaga pela vizinhanga; inibitéria © efeito da substancia transmissora causa hiperpolarizagao e resisténcia 4 geracdo de um potencial de agao na célula nervosa vizinha; O processo de condugao ou de inibigdo do impulso pode sofrer a interferéncia de outros prolongamentos de neurdnios, formando um sistema complexo de atividade inibitéria e excitatéria, que provavelmente esté relacionado com a modulagao da dor e de outros efeitos sobre o sistema nervoso aut6nomo, por vias ainda nao totalmente compreendidas. Fadiga da Transmissdo Sindptica Quando as sinapses excitatérias so repetitivamente estimuladas numa fre- qiéncia alta, acabam por exaurir as reservas de substancias transmissoras nos terminais sindpticos, cessando o impulso. A fadiga € uma caracteristica impor- tante da funcao sindptica, pois, quando as areas do sistema nervoso se tornam Superexcitadas, ela as faz perder essa excitabilidade depois de certo tempo. Eo que ocorre, por exemplo, numa crise epiléptica, onde 0 excesso de excitagao do sistema nervoso se esgota apés algum tempo, cessando a crise. Vias de Transmissao para o Cérebro A informagao gerada pelos estimulos chega ao cérebro, passando pelos nervos periféricos, ascende pela medula através de vias especificas, atravessa 0 bulbo, cérebro médio e télamo; daf ocorre a distribuigéo para o cértex cerebral. Os neurdnios periféricos, que recebem o estimulo original, fazem sinapse no corno dorsal da medula, sendo chamados neurdnios de 1* ordem. Os neurdnios de 2* ordem sobem ao longo da medula e chegam ao télamo. Alguns neur6nios de 2* ordem sao responsaveis pela condugio rapida da dor, enquanto outros cor- respondem, na verdade, a uma série de neurGnios interconectados que acabam por chegar aos centros do bulbo, mesencéfalo e talamo, sendo responsaveis pela condugao lenta da dor mais persistente, surda e difusa (Figura 4). As Vias Medulares A transmissao *ipida da dor, do tipo aguda, é efetuada pelos neur6nios do grupo A delta, que fazem sinapse no corno dorsal da medula, e o impulso segue através do feixe espinotalamico lateral que ascende até terminar no tdlamo (grupo de ax6nios que vai da medula ao télamo). e espinotalamico possui um componente anterior ¢ lateral e carreia goes de neurdnios relacionados com sensag6es de calor, frio ¢ dor. Ir o lenta da dor é executada através das fibras nio-mielinizadas, ou que sao mais numerosas nos nervos periféricos do que as fibras A delta em uma via diferente e menos direta para 0 cérebro. Essas fibras, a0 medula, fazem conexao com diversos pontos da mesma, conhecidos mo sistema multissin4ptico ascendente (MAS). A velocidade deste sistema € ¢ origina a dor surda do tipo mais persistente do que a gerada através do ixe espinotalamico. Nicieostalimicos _, Nicleos talimicos lateral e posterior | almane Nicteo vertroposterir do talamo, , Mendes SON Lomnince Hegeinet wong Fibras espinotectas, 40 nerve = Fibrasespinovestibulares Nicleos graclo ©Fomagso rst evento dotronce cerebral Fibras espinorreticulares: Fibras da coluna posterior (Via senstiva de conducio rapida) \. ‘Sistema ascendente mutissinaptico ee (via de conduc rapide) (via ascendente lenta) Trato de Lissaver Raiz dorsal Giinglo da raiz dorsal’ ‘Substincia gelatinosa’ Fevxe espinocerebelar posterior espinotalimico lateral © espinotectal a A condugato rapida e lenta da dor através das vias medulares e cerebrais, 32. Bases Fisi da Eletoacupuntura Os impulsos nervosos dolorosos, apés passarem pelo MAS, fazem conexao “nos ntcleos talamicos responsaveis pela sensacao fisica da dor. As fibras que se irradiam do télamo atingem amplamente a regiéo do cértex cerebral (res- ponsdvel pela localizagao topografica da fonte do estimulo ou da lesao) e a regiao do sistema limbico (emogao e memoria). O individuo, através destas regides, serd capazde localizar o estimulo doloroso, senti-lo em seu corpo, julgar a qualidade do estimulo, fazer comparagées, lembrangas e reagir emocional- mente a ele (Figura 5). Reflexologia Hipécrates fundamentou sua terapéutica baseado na evolug’o espontinea de algumas enfermidades. “A natureza cura as enfermidades”, dizia ele. Isto significa que o enfermo possui em si os recursos que lhe permitem combater a enfermidade. A agio direta sobre os centros nervosos é uma aplicacao recente de praticas que eram executadas pelos chineses ha centenas de anos € que, com a evolugio da ciéncia, principalmente no campo da fisiologia e da eletrofisiologia, vieram a ser utilizadas, pelo menos em parte, no emprego da reflexologia. E através do nivel mesencefalico inferior, 0 controlador do SNA, que nossas fungdes or- ganicas operam de maneira ordenada € automatica. Antes de abordarmos o tema da reflexoterapia, seria interessante recordarmos a correlagao embriolégica da pele e do sistema nervoso, levando-nos 4 com- preensao de que varios sistemas do corpo, ao se formarem, mantém suas relagGes primitivas, que sao evidentes desde ‘os primeiros estégios da multiplicagdo celular. Teoria Embriolégica Durante o desenvolvimento embrionario, 0 zigoto passa por diversas etapas, . vor volta da 3* semana, surge o embriao trilaminar, constituido de trés folhetos germinativos que darao origem a todos os 6rgaos e sistemas do corpo: mesoder- ope Ectoderma Mesoderma Figura 6 Reflexologia 33 ma € ectoderma. A figura 6 demonstra a origem e os derivados dos a dos derivados dos trés folhetos derma cartilagem, osso, tecido conjuntivo, misculos estriado e liso, coragao, sangue, linfae vasos linfaticos, rins, gonadas (testiculos € ovarios) e vias genitais, membranas serosas (pericardio, pleura e periténio), bago e cértex adrenal; revestimento epitelial de: aparelhos digestivo e respiratorio, vias urinarias, cavidade timpanica, antro timpanico e trompa audi- tiva. Parénquima das tonsilas, tiredide, paratiredides, timo, fi- gado e pancreas; © sistema nervoso central (encéfalo e medula espinhal), sistema nervoso periférico, epitélio sensitivo do olho, ouvido, nariz, epiderme e faneros (pelos e unhas), glandulas mamirias, neuro- hip6fise, glandulas subcutaneas e esmalte dentdrio. Podemos perceber que pele e sistema nervoso caminham juntos, atuando ambos sincronicamente no equilibrio do organismo, observagao sem divida correta feita pelos chineses hd milénios, ao descobrir que estimulos cutaneos poderiam produzir efeitos terapéuticos indiscutiveis em nivel somatico vegetativo. No entanto, ind- meras vezes, esbarramos em diversas dividas. Por exemplo: como © ponto B60 pode provocar analgesia em diversos tipos de dor? Quais as integragGes e de que area do sistema nervoso central parte a resposta para tais estimulos cuténeos? Sabemos de diversas teorias e especulagées cientificas, sem entretanto Serem estas conclusivas. | tentativa de buscarmos mais explicagdes sobre por que pontos distantes e emente sem relacdo, ao serem estimulados, levariam a alteragGes reflexas TegiGes e Orgaos igualmente distantes, tentaremos discutir neste capitulo a m do sistema nervoso e suas respectivas areas neurocutaneas e dermétomos. stema nervoso desenvolve-se a partir de um espessamento do ectoderma neural) por volta do 18° dia de gestag4o (figura 7a). A partir da placa al forma-se 0 tubo neural (que dara origem ao encéfalo e 4 medula) e a (que origina grande parte do sistema nervoso periférico que é de nervos cranianos, espinhais e ganglios auténomos) (figura 7b). 34 Bases Fisioldgicas do Eletroacupuntura placa 7a notocérdica intraembrionério Figura 7a Corte transversal de um embriéo de 18 dias, mostrando a placa neural e 0 inicio do desenvol- vimento do sulco neural. Figura 7b fonocto, dose dalle ete aee menses A, Be C sao cortes transversais deste embrido, ilustrando a formagio do tubo neural e a sua separacdo do ectoderma da superticie. No embriao, a medula estende-se por todo o comprimento do canal vertebral € 0s nervos espinhais atravessam os orificios intervertebrais em set nivel de origem. Devido ao fato de a coluna vertebral ¢ a dura-mater crescerem mais rapidamente que a medula, esta relagdo nao persiste. Em conseqiiéncia, a terminagdo caudal da medyla vai se situando em niveis cada vez mais altos. Aos seis meses, situa-se ao nivel da 1* vértebra sacra; em recém-nascidos, ao nivel da 3* vértebra lombar e no adulto, ao nivel da borda inferior da 1* vértebra lombar. ee u Figura 8 A- Feto com 8 semaras; 8 - Feto com 24 semanas, C - Recém-nascido; D- Adulto e Inervagao Cutadnea dos Membros itomo € definido como 4rea da pele suprida por um tnico nervo ‘seu ganglio da raiz dorsal. Os nervos periféricos crescem dos plexos ros (braquial e lombossacro) para dentro dos brotamentos dos mesmos 5* semana. Os nervos espinhais distribuem-se em faixas segmentares n ambas as superficies dorsal e ventral dos brotamentos dos membros da que os membros se alongam, a distribuigdo cuténea dos nervos § migra acompanhando o crescimento. As fibras nervosas aut6nomas 1 Nos membros junto com os nervos espinhais, o que poderia explicar ea dor referida é estere da: ela se refere a uma zona da pele que um mesmo segmento embriondrio que o da viscera que origina a dor. NOS que, a0 mesmo tempo em que os membros estao se desenvolvendo, is estdo se formando. _ Formagao reticular e hipotalamo Nervo espinal misto Fibra nervosa auténoma: Viscera abaixo ilustra as alteragGes de posigao no desenvolvimento dos 36 Bases Fisiolégicas da Eletroacupunturc A figura abaixo ilustra o desenvolvimento do padrao dermatémico dos mem- bros numa visao ventral: Linhas axiais ventrais Figura 11 Ae D - inicio da 5* semana mostrando 0 arranjo segmentar primitive do dermatomo Be E - final da 5* semana Ce F - padrao de dermatomos no adulto. O padrao primitive desapareceu, mas a sequénci dos dermatomos ainda pode ser reconhecida. Vejamos um exemplo: o diafragma emigra da regio do pescogo durante « desenvolvimento embrionirio até a sua localizagao abdominal no feto, levandc sua ii », que € 0 nervo trénico. Um tergo das fibras do nervo frénico sac ) ¢ entram na medula cervical em um nivel situado entre o: HO mesmo lugar por onde penetram as fibras aferentes do vértice do ombro. Da mesma forma, © coragao e€ 0 nervi cubital (ulnar) t@m a mesma origem segmentar. Vias aferentes que vio atingir 0 terceiro, quarto @ quinto segmentos cervicais da medula

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