Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Eles realizam uma cena da qual eles supem que seja o que ns, em
casa, estamos querendo ver. Parecem se sentir investidos na funo de
carpideiras oficiais: quando a gente olha, eles devem dar evaso s
emoes (raiva, desespero, dio) que ns, mais comedidos, nas salas e
nos botecos do pas, reprimiramos comportadamente.
Pelo que sinto e pelo que ouo ao redor de mim, eles esto errados. O
espetculo que eles nos oferecem inspira um horror que rivaliza com o
que produzido pela morte de Isabella.
Resta que eles supem nossa cumplicidade, contam com ela. Gritam seu
dio na nossa frente para que, todos juntos, constituamos um grande
sujeito coletivo que eles representariam: "ns", que no matamos
Isabella; "ns", que amamos e respeitamos as crianas -em suma: "ns",
que somos diferentes dos assassinos; "ns", que, portanto, vamos
linchar os "culpados".
O mesmo vale para os alemes que saram para saquear os comrcios dos
judeus na Noite de Cristal, ou para os russos ou poloneses que faziam
isso pela Europa Oriental afora, cada vez que desse: queriam sobretudo
afirmar sua diferena.