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SONETOS
Os tristes inocentes
A triste me abraam,
E soltam de agonia intil choro.
Ao suspiro exaltado,
Final suspiro da fortuna extinta,
Os Amores acodem.
Mostra a prole de Ins, e tua, Vnus,
Igual consternao, e igual beleza:
Uns dos outros os cndidos meninos
S nas asas diferem,
(Que jazem pelo campo em mil pedaos
Carcases de marfim, virotes de ouro)
Sbito voam dois do coro alado;
Este, raivoso, a demandar vingana
No tribunal de Jove,
Aquele a conduzir o infausto anncio
Ao descuido da amante.
Nas cem tubas da Fama o gro desastre
Ir pelo universo:
Ho-de chorar-te, Ins, na Hircnia os tigres,
No torrado serto da Lbia fera
As serpes, os lees ho-de chorar-te.
Do Mondego, que atnito recua,
Do sentido Mondego as alvas filhas
Em tropel doloroso
Das urnas de cristal eis vm surgindo;
Eis, atentas no horror do caso infando,
Terrveis maldies dos lbios vibram
Aos monstros infernais, que vo fugindo
J c'roam de cipreste a malfadada,
E, arrepelando as ntidas madeixas,
Lhe urdem saudosas, lgubres endechas
Tu, Eco, as decoraste;
E cortadas dos ais, assim ressoam
Nos cncavos penedos, que magoam:
Toldam-se os ares
Murcham-se as flores;
Morrei, Amores,
Que Ins morreu.
Msero esposo,
Desata o pranto,
Que o teu encanto
J no seu.
Contra a cruenta
Raiva ferina,
Taa divina
No lhe valeu.
Da dor e espanto
No carro de ouro
O nmen louro
Desfaleceu.
Aves sinistras
Aqui piaram,
Lobos uivaram,
O cho tremeu.
Toldam-se os ares
Murcham-se as flores;
Morrei, Amores,
Que Ins morreu.
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