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LAS aparigdes do belo Embora polémicas ¢ mesmo contaditérias, as iis sobre ‘anafureza da arte quc tiveram seu nascimento na obra de Plato rmarcaram a historia da estéica ocidental, mantendo-se vivas até hoje. Note-s, antes de tudo, quo a concepedo que Platio tha das artes em nada se assernelha 20 modo como passamos a =< conesber a arte especialmente a partir do Renascimento/As atividades priticas artesamais, todos 0s resultados de trebalhos realizados com as mios eram vistos, pelos aregos, como infriores « colocados em oposigSo aos produtos dointclecio, aos frutos do pensamento, de natureza mais nobre e transeendenty” Verm dai =) _ Uma das razées para a sobrovalorizagfo platénica da filosofia D) em relagao as ares, pois estas eram vistas por ele como téchne, saber fazer, saber construir, quo corregponderia go termo inglés ‘raft, turn paradigma similar ao da produgéo de méveis ou da construgo de navos, por exemplo, De qualquer mod, Plato fio primcio a desenvolver uma teoria das artes inserida no contexto mais amplo de ums filosofia do belo que reinou sobcrana por séculos, continuando até hoje a insprar muitos autores. HA dois concetos bisicos em sua teria: ‘© conetito de mimese, de um lad, ¢ 0 do entusiasmo eriador, de ‘outro. Interessante observar que, enquanto 0 primeio & mais facilmenteaplicivel as ares visuais,o segundo se plica mais is € 26 LUCIA SANTAELLA, artes verbais ¢ misica, As conseqiéneias que Plato extraiu de ambos, no entanto, foram similares. > _Existe uma kitura padronizada ¢ simplificadora da teoria platénica que areduz a oposigdes biniias muito nitidasedespidas de ambigiidade. Assim sondo, de sua concep¢io da realidade verdadeira como um universo abstrata e ideal de formas e idéias deriva a concepeio da realidade ou aparéncia sensivel como ‘mitagdo (mimese) ou cépia imperfeita do ideal. A orientagio ‘eminentemente visual de seu entendimento da arte, que restringia suas formas de realizagao basicamente 4 pintura e escultura, 0 leyou a concober a arto como imitagio da imitagio, quer dizer, aparéacia de segunda ordem ¢, conseqdentemente, duplamente ‘afastada do idoal ¢ da verdads, Ora, esse eonceito de mimese,- por mais que possamos dele discordar, é, sem qualquer sombra ‘dedivide, um conceit originario,o primeiro a detectare discutir © problema fundamental do qual nenhuma forma de arte pode escapar: © probloma da sua duplicidade, que veio reveber, a0 longo dos sécules, as mais variadas denominagées, entre elas representacio, expresio, iusto, semblarts, simula ee, todas elas, no entanto, nfo pasando dc deslocamentos ou variagtes em tormo de um mesmo tema, o da mimese, levantado por Plato. ( segundo conjunto de quesides, mais relativo are pottica ¢ secundariamente & misica, nao chegando propriamente a se constituir num conceito to redondo quanto o de mimese, deriva _- das relagées da arte com quem a produz e quem a recebe: a inspiragdo na porta dc entrada c o despertar das emosdes € paixdes na porsa de saida da poesia, Alimentado pela positividade do comedimento,virtude dominant: na cultura grega, Pltio foi levado a eaxergar como fontes de perigo, de um lado, o toque de loucura 2 irracionalidade do entusiasmo presente no talento especial dos poetas, de outro lado, as comogbes do impacto ‘mocional da arte poxtica sobre @ receptor. Em fungo disso, a late verbal foi vista por ele como antagénica as formas de onheeimento, 203 raciocinios discursivos propiciados. pela Filosofia, Em sintese, para Plat, a poesia nfo produz cognigo, ‘estando muito mais do lado das presses inracionais pola quais © ser humano pode ser subjugado do que das forgas do intelecto, 36 esias capazes de conduzi-lo para a ascese ao mundo das verdades ideais. <— ‘AS APARIGOES DO BELO 27 Se ficarmos presos apenas 20 dilogo Jor ao Livro X da Republica (Patio 1966), que #4005 textos mais citados, quando se discute a teoria da arte de Plat, nfo podomos escapar de uma visdo estritamente dicottmica ¢ negativista da arte © da pocsia conforma quo esta acima exposta. Quando outros textos platdnicos slo levados em consideragio, especialmente Fedro, o Sofistae 0 Simpésto, contudo,algumas ambigiidades e muitas sgradagdes conceituais comegam a emergir juntamente com a ‘mais inspiredora dente todas as teorias do belo, enfin, quase tudo daquilo que fez de Plato ofandador da estéticaflosfiea e continua a fazer dels uma fonte do consulta improsoindivel para > compreensio das grandes questdes levantadas pela arte, De acordo com Hofstadter © Kuhns (1976: 3-5), quatro temas perais podem ser extras dos esritos platnices sobre as ates: I)a ‘dei geral de art, téchre, jo principio esté na medida; 2) os bjetivas edeficiéncias do eoneeto de mimese; 3)-0 conccito de inspiraglo, entusiasmo, loueura ou obsessio, como condigdes necessirias & ciagdo: 4) 0 conccito de loucura erdtica € sia cconexdo com a visio do Bolo. <= ‘A medida € um conczto extensivo em Plato, abragando 03 principios do bem ¢ da beleza. Saber fazer prossupée 0 conhecimento dos fins almejados ¢ dos melhores meios para atingi-los. No cerne desse conhosimento esté a nogdo de medida tuindo tanto o poeta que sabe que tamanho exato uma fala deve ter e 0 pintor que sabe em que proporso uma figura deve aparecer, quanto 0 cidadio que sabe que distribuigdes $0 Apropriadas para as fungbes na sociedade > Entre as artes, a superior € aquela de um produtor divino,o DDemiurgo, que compos ouniversoimitando as ideas verdadeias cas formas imutaveis. Scguindo.o Demiurgo,o legslador também Coneebe a comunidades humana de acordo com as Idsias do Bem, da Justga eda Verda. Em treciro lugar na hierarqua, esto 05 poetas e os artistas que também visam aos ideais, mas, Aiferentemente do Demiurgo, eles podem falar no conbecimento sensivel. Quando o artista, por outro lado, é guiado pela visio da educagao que 0 fildsofo possui, sua imitapao sera verdadeira (cikastika), em oposigao & falsa imitagdo (famtastiha), © as LOCA SANTAELLA, jlgamento do flbo edo verdadero dependeno das finalidades, ‘morais da polis Hi algo no fazer artstico que transcende as régras € 0 saber fazer, algo que vai aim da féche. Ea inspiragdo, O pocta traz.emsio soprodo divino. Nessa medida, a concepefo platénica da loucura nao ¢ meramente negativa, Ha nela algo de nobre enaltecedor e & dela que advém a complexa ogo do belo em Platao. So quatro os tipos de loucura: a proftica, a iniciatéria, a pottica e a erotica, Esta witima lova os homens a entrever a beleza eterna do mundo habitado pelos deuses, O.desejo inatingive do amanic conduz:sua alma 4 contemplagao da forma imutavel do belo. Enguanto a loucura postica liga o poeta & sua ‘musa, a loucura erotica liga individuo 4 forma de divindade que ihe € prépria, com sua forma especial de beleza, esta também uma sombra ou imitagao do belo ctemo. Finalizando, portanto. tudo que ¢ humano¢ imitatvo, submetendo-se a um principio de ulgamento que & geral-¢ coktivo bascado nas necessidades da comunidad. Sio essas necessidades que também eontrolam 25 inspiragdes divinas da arte. ‘Quando se passa de Platio para Aristételes, a tendéncia ‘mais imodiata& pensar que, enquanto ateoria da arte do primero std espalhada por sua obra, a.de Aristoteles esta concentrada © sistomatizada numa obraespecifica, 2 Poerica (Aristteles 1940) Essa conclusio, embora muito comum, é-enganosa. Se pretendemos extra a teria da arte aristotélica s6 da Poétic, ficaremos com uma visio parcial e tendeneiosa, Sem neear & valor antoldgico dessa obra, 0 pape! por ela desempenhado no todo da filosofia da arte de Aristteles¢ um papel especializado, pois a Poéiica lida apenas com um tipo de ééchne, um tipo de art imitativa, a poesia e, dentro desta, o teatro e, dentro deste, a tragétia. Embora esta seja, de fato, a forma de arte privilegiada por Anstételes, a Podtioa s6 & capaz de nos fomecer um retrato ‘ncompleto das concepgdes de are, da beleza, do bem atistico © da relagao entre arte ¢ natureza deseavolvidas por Aristbjeles ‘em passagens que aparecem tamo na Metafisiea e na Etica ‘quanto na Retérica c na Politica (Aristbteles 1964), passagens esta, als, que amplificam e nos ajudam a compreender melhor a prépria Poética (of Hofstadter ¢ Kuhns 1976: 78-138), c. Nor AAS APARIGOES DO BELO 29 Para Aristételes a arte é, antes de tudo, resultado dé uma habilidade especial para fazer. nfo o fazer maquina, rpettivo ‘mas aquele capazde transfigurar 0s materiais a ponto de aleangar tum poder reyelatéro. Aarteseré tanto mais bem realizada quanto mais a perfeigio de sua forma, na seguranga do méodo, for capaz do atingir a unidadesatisfat6ria de um todo eficaz © auto- Sustentado. 0 belo, portant, é 0 fruto ou resultado do dominio que 0 artista tem da téchne, de quéo habilmente cle ¢ capaz. de utilizar os meios da composigio, tendo em vista a simetria, hharmonia ¢ complctuds. Séo cssas Condigocs da téchrie que esto pressupostas na Podtica, na qual, seguindo seu método de definigéo que procede de acordo com a andlise de um assunto segundo sua divisio em ginero ¢ especie, Aristteles buscou chegar a uma completa definigdo de seu objeto, a arte pottica tragica De acordo com Dickicet ali (1977: 6), a Pogiica no exibe a justeza de estrutura, 0 rigor dos argumentos 6 «exposico que siotipicos de ontras obras aistotélicas, porquccs manuseritos que deram origem a essa obra vieram muito provavelmente de urna série de noias de pakstras a partir das ‘quai cle pretondiaescrevor um tratado completo. De todo modo, 0 primeiro estudo minucioso dos principiosestraturais das cbras do arto, o primero tratado sistematico a lidar com a arte posta ‘como um fazer gemuino do qual se origina um todo organico, iden matriz:na concepeio da cbra de arte que tem perdurado por mais de vinteséeulos 0 ‘conccito bisico no entendimento aristotclico da arte & também o de mimese, mas entendida dentro de pressupostos € finalidades bastante diversas das platGnicas. Segundo Eva Schaper (1968: 57-67), 2 mimese, para Aristételes, deriva de uma necessiria relagio de adequagd0 que deve haver entre arte © vida, arte e natureza. O que a arte imita, assim, é a atividade proditiva da natureza. Aqui, a mimese no ¢ mais imitago como ‘6pia de algo previo, ndo é a produgdo da semelhanga, num sto de fidelidade a um original qualquer que seja, mas €ctiagio ou ‘Potesis. 4 imitagéo postica visa & eriagao de algo novo, por isso ‘mesmo, sa arte pode ser mimética, que significa deslocar 0 conceito de mimese do sentido de cépia para o de representapao € transformagio, Representagdo, portanio, nfo quer dizer 30 LUCIA SANTAELLA repre mas sim apreserta algo como sfosse rel O endo das exigéncias estruturais ¢ dos prineipios formais das obras postcas advem, desse modo, da novessidade de difereneiar a Prastrugao postica, que & mimética, de outras espécies de € cognitivas, por exempl: ‘muta coisas, idéias ou conccites. Ela mostra trabatha e assim o faz através da construg0 de fSuas proprias criagdes, dai seu poder transfigurador. As obras znio slo replicas ou copia, mas fiegdes reveladoras, produtos da imaginagao critiva onentada para o fazer, imaginagde produliva ‘A ate esta voliada para os prineipios formativos que operam na hatureza ¢ na vida, imita-0s € 05 encama em estruturas feitas pelo homem, Na jungio da réchne, sabedoria na operagdo com fs meios, com a poiests, capacidade criadora, © pocta € capaz de revelar pocticamentc verdades concemnentes @ natureza € & vida que ndo apareeeriam sem a sua intervengao. A arte, sob esse ponto de vista, tem muito pouco ou nada a ver com a cxigéncia de correspondncia a qualquer modclo precstabelecido, mas sim com o estabelecimento de representagdes convincentes, internamente procedentes, quer dizer, verossimihantes, E cis na verossimilhanga, mais um dos conceitos originados em Aristteles, indispensvel i teoriae critica de arte ¢ literatura até 105 nossos dias, ‘Analisaro modo, 4 mancira como os resultados acima podem Ser atingidos, foi o objetivo da Poética que comega com uma classificagio das artes mimeéticas até chegar & forma tragica, a privilegiada por Aristotcles porque, nla, o objeto da imitag0 sto as ages humanas arquetipicas, Quando estas sio colocadas sob tama uz relevadora, 3 arte atinge seu mais alto obctivo: 0 eeito cation através do quale fecepte pass por uma experiencia Embora aparentemente oposta a filosofia da arte platénica, fatisottie empresto dela muitos de cus cnet, ene les specialmente 0 de téchne © o de mimese. Ti e Anais, toa ae uma forma d cine, exjo cree depends de uma série de requisitos. Mas a0 invés de colocar cro os eluisos nas forcas misteriosas que emanam do divino, ele os troune para a habildadese peers especias do artista pata configura, através da forga de sua imaginagdo, estruturas AS APARIQOES DO BELO ” criadoras, potests. Também para Aristételes, toda arte é mimética Diferentemente de Platdo, contudo, a arte nfo & copia seril de ‘uma realidade que a transcende, mas mantém com a natureza, especialmente a humana, uma relagdo de correspondéncia e complementaridade eriativa e reveladora, O exemplo mais claro da distinga0 radical, na compreensio da mimese, que separa Aristoteles de Plato esta na consideragdo aristotélica da misica ‘como a mais mimética de todas as artes. Uma vez que a miisica rnjo tem poderes para copiar a aparéncia do mundo exterior, fica Ai claro 0 conceito de mimese como construpio representativa {que mio esta voltada para um objeto ou aparéncia, mas, para a apresentagio de uma forma reveladora, no caso da musica, a forma emocional des sentimentos humanos. A maior diferenga entre Platio e Aristoteles reside nas consequéncias que cada um deles extraiu de sua filosofia para a apreciagio e avaliagio da arte. Se, para Platio, a arte pode ser fonte de ilusdo ¢ levar ao engano por alimentar as paixdes, para Anstoteles, a arte ¢ valiosa porque reparadora das deficiéncias dda natureza, especialmente as humanas, trazendo com isso uma contribuicdo moral inestimavel. Rejeitando 0 idealismo metafisioo de seu antecessor. Aristételes depreciou 0 papel que a beleza ¢ 0 amor erético desempenham na discussao da arte. Tratando a ‘beleza como uma propriedade objetiva da obra de arte e mesmo da natureza, em lugar da busca inspirada do Belo que Platio ‘considerava como um dos fins tiltimos da arte, deslocou sua énfase para os beneficios morais que a arte pode trazer; Finalmente, embora distinta das formas de cognigdo proprias da flosofiae do conhecimento racional, a arte nao deve ser, segundo Aristoteles, identificada com a desrazdo. Nao ha, para ele, uma dicotomia rigida entre o racional e o irracional, mas um jogo de forgas complementares entre os poderes imaginativos e construtivos da arte ¢ as faculdades intelectivas da filosofia, " AAs obras de Plato ¢ Anistoteles foram fontes hegeménicas de inspiragao para os filésofos que os seguiram por muitos séculos, 's6 tendo essa hegemonia entrado em crise com o advento da filosofia moderna, a partir do racionalismo cartesiano ¢ 40 empiricismo de Locke. Antes que isso ocorresse, NO entanto, dependendo da filiago ou inclinagdo ontolégica do filésofo, sua visio da arte penderia para o idealismo platénico ou para 0 32 LUCIA SANTAELLA, realismo aristotilico. Passando uma vista répida sobre alguns desse filbsofos, quo trouneram contribuigdes para a losofia da arte, hé que ser mencionado, artes de tudo, um texto de font discutivel. provavelmcnte do século Ta.C., que viriainfluenciar srandementeo apogeu da esética no ordente¢euja autora tem sido coaferida a Longino (Id C). Tratase do ensaio Sobre o ‘Sublime (ef. Longino 1965, ver também Coleman 1974: 121-2) Duas qustdes, prnepalmente com referéacia & teraura, <8 levantadas nese tratado: 1) qual €a qualidade que faz uma obra ser grande ou sublime? 2) Comoa qualidade pode ser proxi? Hi recursos retiricos qu fazom alorarosentimento do sublime, mas cle também depends de uma disposigao da alma, una habitidade para absorver “grandes concapgées” ¢ alimentar paixies fortes cimpetuosss. Auavés de suas ables retiicas, ‘artista traz 4tona sentimentes de éxiase na afinidado da alma ‘com o supra-sensivel. 0 estran ¢o grandoso, em oposig5o a0 prosaico, contribuem para o efit esttica: “O que & itl e necessiio parce casciro, mas o que Eestanho é maravilhoso”, de onde decorre sublime como “eco da grande alma. a nota «que soa da grande ment” Em Potin (por volta de 205-270 dC), iremos encontrar uma mctafsica do belo que touxe influéneias, de umn modo ou de outo, para a filosofia erst eo Renassimento italiano, de um lado, o neo platonismo da escola de Cambridge, no sézulo XVI, 0 romantjsmo alerto do séeulo XIX, de outro. Ao mesmo tempo que/Plotino (cf. 1957) levou a filesofia plaidnica as suas conseqiencias logicas, eletambém a temperou com um miticismo ‘quase iracional. Accitou a dstngdo platnica bisica entre as essénciasimutéveis reals, objeto da intelgincia, © a8 coisas particulares © mativcis, obetos dos seatidos. Da perfeigfo do Uno, que transcende toda exisénca, emana a divnaineligincia da qual podzmos participar, dela advindo uma tereciracvindade, 2 alma do mundo, que se manisfesia em nossa almas e cia 0 mundo sensvel. Essa sucessvas emanayées, cxcuto a maria, tendem a retorar para a origem de onde pariram, A beleea fsic, etlo, sea ruto da unificagdo da multiplicidade informe dla atria soba forga de algum carter esenctal. "Na natures, isso sera produzido pela alma do mundo, na ate pela alma do ‘mundo manifesta na alma humana,” Mais bela do que qualquer AS APARIGOES DO BELO 3 beleza fisica, contudo, & a qualidade essencial apreendida e ppossuida pela inteligéacia, pois “o fundamento da possibilidade dd toda unidade, de toda beleza, € Uno” (Carrit 1931: 43-44). Foi com Piotino, na sua concopeo da natureza simbélica de todos os produtos humanos, retomada pela filosofia alem& do séeulo XIX, queo carater simbélico da arte recsbeu sua primeira formulagio, Nao apenas 0 belo & um simbolo da harmonia ‘césmica, mas esta s0 pode ser sugerida através de metaforas de nnatureza poética. Sua visio lirica das emanagdes do belo assomelha-se 20s efiivies de urna cascata etérea:“O Bem irradia a belera de si mesmo e é a fonte da beleas, enquanto a beleza,, ‘em si mesma, & segunda na ordem das emanagaes", A beleza ‘daquilo que € produzido pelo homer ¢ urna imitagio da Beleza & ‘do Bem puros. Em relagéo & beleza do que écriado, obelo natural € incompleto. Dai as artes tentarem aperfeiged+to e enobrect-lo, ‘© que as coloca no meio do caminho entro 0 Belo puro © as belezas relativamente obscuras da matureza, e do que decorre que @ arte ¢ um simbolo duple: da realidade inferior, que cla c,€ da realidad dltima, que ela espelha (Hofstadter e Kuhns 1976: 140-1), Em Santo Agostinho (354-430), a filosofia de Pletinoreceben > sua tradugao erst. O desafio a scr cafientado nessa tradueo lestava em encontrar as justificativas religiosas para a questto do belo, o grande problema advindo da gratificapdo sensériaimediata que a arte produz; Mesmo que a harmonia divina esteja refletida, ‘na natureza e na arte, 0s objetos perceptives atracm os sentidos para as coisas terrenas, conturbancio a contemplago do eterno, © imutavel, Vem dai que, para Agostinho, quanto menos senséria, for aarte, mais ela espera a ordem divina. A misica é, assim, Superior & pintura, mas so as palavras da escritura que esto. ‘mais adaptadas aos poderes da compreeastiobumana, Em sinese: na medida em que a arte concorda com as verdades da fé © reflteas harmonias do poder criadordivino, ela est justificada. ‘Num ivro primeiramente publicado.em 1956, traduzido para ‘inglés em 1988, Umberto Foo defendeu a tse de que o sistema, filosbfico de Santo Tomis de Aquino (por volta de 1225-1274) inclu uma teoria estética coerente. Segundo Eco (p. 6), 03: ‘dives apossaram-e de vrostsmas, probleme e soles do mundo elissico, usando-os no contexto de uma sensibilidade + 34 LLOCIA SANTAELLA nova e diferente, Desse mexo, eles s6 estavam dispostos a fecober a belera na sua aparigdo come realidad> puramente intelgvel, como harmonia moral cu esplenor metafsco, mas, ao mesmo tempo, nfo consogiam doscartar totalmente a beleza Sensvel simplesmente porque um valor mais alto, especialmente to nivel toorco, era confor & beoza do eepnito, De fat, a tensio entre 0 tedrieo e 0 pritico, que se expressou no pensamento medival,gerou uma tentativa de coneiiagodosses dois lados irreprimiveis da beleza, na concepg20 que eles desenvalveram da experéncia estética, Santo Tomas néo formulou tuma teria ettica espeifea e homogénea rum corpo explicto de escritos, nos diz Eco (p. 19), mas ha um papel fundamental desempenhado pola beleza no seu pensamento, como restauradora de uma ordem e cxuilibrio que emerge através da Sintese do eventos casas e contradiges empiricas < Ele entendia a beleza como uma propriedade transcendental - © constante do ser/Ser é aguilo que pod> ser visto como belo/ ‘Todos os sere ectém as eondigdes constants da beleza, uma vse queo univer, como obra de sou erador, énocassaramente beta umn enorme Sinfonia de beta. O mun de Aquinas, Boo. \ explica (p. 47), era uma hicrarquia de cxistentes reais que aulquiria cu valor inva atreves da partpapto exzbolsida dentro de limites estaveis € definidos. Todo belo é bom, ¢ tudo aque 6 bom o 6 por esta asociado nama perio detnida com tin certo ato de exist. O belo eo bom esto fundades na forma, aque ¢arazao porque algo esa em ao, ou tem atvalidace, send ‘bom por si mesmo. ‘Num lindo ensaio sobre “Beleza e Imitagzo", Jacques Maritain (1882-1973) compos Peis Set Santo Tomas numa orquestragio podtiea que merece ser cuvids (apt Rader 1965 2654) Ola #0 sein quae seg, ma seria no contesinei os agin pear ow de omer rin tnperabvdale erp ello devi noche. Se > train dit alo lo ples de er doo aig ie, tom dest areca, é bel. A ba 6 execinent © ob dt ‘lekgncie, poo concen po wri da pv, 6 ert, ‘pcrmcl aber pr nite or (.)"0 bebe elon wo

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